Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 12 de novembro de 2022
CARTAS MAGNAS E MINÚSCULAS
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Carta de Amor
Maria Bethânia
Ouça Carta de Amor
Não mexe comigo
Que eu não ando só
Eu não ando só
Que eu não ando só
Não mexe não
Não mexe comigo
Que eu não ando só
Eu não ando só
Que eu não ando só
Eu tenho Zumbi, Besouro
O chefe dos tupis, sou tupinambá
Tenho os erês, caboclo boiadeiro, mãos de cura
Morubichabas, cocares, arco-íris
Zarabatanas, curares, flechas e altares
A velocidade da luz, o escuro da mata escura
O breu, o silêncio, a espera
Eu tenho Jesus, Maria e José
Todos os pajés em minha companhia
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou
Não mexe comigo
Que eu não ando só
Que eu não ando só
Que eu não ando só
Não mexe não
Não mexe comigo
Que eu não ando só
Eu não ando só
Eu não ando só
Não misturo, não me dobro
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpo
Garante meu sangue e minha garganta
O veneno do mal não acha passagem
E em meu coração, Maria acende sua luz
E me aponta o caminho
Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã
Giro o mundo, viro, reviro
Tô no Recôncavo, tô em Fez
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma
Traço o Cruzeiro do Sul com a tocha da fogueira de João Menino
Rezo com as três Marias, vou além
Me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas
Durmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos vulcões
Corpo vivo de Xangô
Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva
Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva
Medo não me alcança
No deserto me acho
Faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo
Meus pés recebem bálsamos
Unguentos suaves das mãos de Maria
Irmã de Marta e Lázaro, no oásis de Bethânia
Pensou que eu ando só? Atente ao tempo
Não começa, nem termina, é nunca, é sempre
É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra
Fulmina o injusto, deixa nua a justiça
Eu não provo do teu fel
Eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não
Eu não provo do teu fel
Eu não piso no teu chão
Pra onde você for, não leva o meu nome não
Não leva o meu nome não
Onde vai, valente?
Você secou
Seus olhos insones secaram
Não veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira
Seus ouvidos se fecharam a qualquer música, a qualquer som
Nem o bem, nem o mal pensam em ti
Ninguém te escolhe
Você pisa na terra, mas não a sente, apenas pisa
Apenas vaga sobre o planeta
E já nem ouve as teclas do teu piano
Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona
Não tem alma
Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo
O que é teu já tá guardado
Não sou eu que vou lhe dar
Não sou eu que vou lhe dar
Não sou eu que vou lhe dar
O que é teu já tá guardado
Não sou eu que vou lhe dar
Não sou eu que vou lhe dar
Não sou eu
Eu posso engolir você
Só pra cuspir depois
Minha fome é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe
Até o sem fim dos versos, versos, versos
Que brotam no poeta em toda poesia
Sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi
Se choro, quando choro, e minha lágrima cai
É pra regar o capim que alimenta a vida
Chorando eu refaço as nascentes que você secou
Se desejo
O meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio
Vivo de cara pra o vento na chuva
E quero me molhar
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peito
Sou como a haste fina
Que qualquer brisa verga
Mas nenhuma espada corta
Não mexe comigo
Que eu não ando só
Que eu não ando só
Eu não ando só
Não mexe não
Não mexe comigo
Que eu não ando só
Eu não ando só
Eu não ando só
Não mexe comigo
Ouça Carta de Amor
Composição: Maria Bethânia / Paulinho Pinheiro.
https://www.letras.mus.br/maria-bethania/carta-de-amor/
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'- Penso que a mecânica newtoniana não pode ser aperfeiçoada sob nenhum aspecto.'
- Esses peixes - disse Barton - são como os átomos. Quando não estamos completamente familiarizados com eles, tanto quanto os índios estão familiarizados com o vento, o tempo e as condições de vida dos peixes, poucas esperanças temos de vir a compreendê-los e capturá-los.
"O oposto de uma afirmação correta é uma afimação falsa. Mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda." Uma frase de Niels Bohr, frequentemente repetida.
CONTRAPONTO
A PARTE E O TODO
HEISENBERG
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3
O Estado
Todas as sociedades são, de alguma forma, politicamente
organizadas, mesmo as mais primitivas. Ou seja, para não perdermos de
vista nosso conceito de Política, em toda sociedade há mecanismos
estabelecidos, através dos quais as decisões públicas são formuladas e
efetivadas. Na linguagem comum, diríamos que toda sociedade tem
alguma espécie de governo, embora, histórica e geograficamente, a
estrutura e o funcionamento desses governos variem muito. Em relação a
alguns deles, seria necessário abandonar as nossas noções preconcebidas
sobre o assunto para reconhecermos sua existência, pois têm muito pouco
a ver com o que chamamos hoje de governo. Mas o fato é que não se pode
prescindir de um mínimo de organização política. Uma coletividade sem
ela não seria humana, mas animalesca.
A constatação de que há sempre um “governo”, contudo, não basta
para que pensemos adequadamente sobre a questão, pois é preciso que
ampliemos nossa perspectiva, até mesmo para que compreendamos a ação
do próprio governo. Talvez o caminho mais fácil seja utilizarmos um
pouco de imaginação histórica. Quer dizer, vamos arquitetar situações
que podem não ter ocorrido como as descreveremos, e com certeza não
ocorreram mesmo, porque estaremos tendo uma visão necessariamente
muito simplificada de processos históricos bastante complexos.
Entretanto, não se trata de falsear a história, mas apenas de usar o
recurso da esquematização para que certos aspectos do assunto sejam
entendidos de modo mais fácil.
Suponhamos então uma sociedade primitiva, nos primórdios da
história, que nos servirá de modelo. Chamemos esta sociedade pelo nome
de “Ugh-Ugh” — um som que aprendemos, pelas histórias em quadrinhos
e pelo cinema, a identificar com homens muito primitivos. Nos primeiros
tempos de Ugh-Ugh, os homens não se distinguiam muito dos outros
animais, pois sua tecnologia era extremamente precária. Contudo, a
inteligência, o uso da palavra e das mãos e outras vantagens biológicas já
marcavam Ugh-Ugh como uma coletividade muito diferente de um grupo
de macacos superiores,
É justo presumir que os primeiros líderes de Ugh-Ugh eram
simplesmente os mais fortes, que impunham sua vontade aos demais.
Como, apesar disso, mesmo os membros mais fortes não podem enfrentar
todos os membros em conjunto, o que aconteceu foi que os mais fortes
trocavam seus privilégios por alguma forma de serventia para a
comunidade: liderando o combate contra inimigos humanos e animais,
tomando a frente em caçadas e assim por diante.
Mas, com o correr do tempo e a chegada de avanços tecnológicos, ser
apenas o mais forte passou a não bastar. Por exemplo, se um ugh-ughiano
de inteligência e habilidade superiores inventou a primeira arma (vamos
dizer, uma lança primitiva ou um machado de pedra), é evidente que a
força física já era contrabalançada por algo que a aumentava
consideravelmente, além de introduzir uma noção espacial nova na
experiência humana: a arma tornava o braço mais longo, fato
incompreensível e intimidador para os animais selvagens e ameaçador
para o próprio homem. Assim, a tecnologia teve, desde o começo, um
papel muito importante. O controle da tecnologia passou a propiciar o
exercício de um papel dominante nas decisões coletivas — a tecnologia se
igualou ao poder. Quem tinha machado ou lança tinha poder.
De outro lado, avanços tecnológicos em outras áreas que não a de
armamentos, relacionados, por exemplo, com a produção mais eficiente de
alimentos e agasalhos, também introduziram grandes novidades em UghUgh. Se, no começo, os ugh-ughianos dependiam dos frutos que
pudessem colher nos matos e dos animais selvagens que conseguissem
capturar, sua situação era bastante precária. O misterioso poder estava
mais concentrado na natureza, pois lanças, pedras e machados de pouco
adiantavam contra a escassez eventual de caça ou de plantas
comestíveis.
(Aqui, apenas de forma ilustrativa, pode-se muito bem imaginar o
surgimento de uma religião primitiva em Ugh-Ugh. Se, num dia qualquer, o
nascimento de uma rara criança loura coincidiu com uma mudança
favorável nas condições de caça ou colheita, não é impossível que, desse
dia em diante, as crianças louras, nascidas sob circunstâncias
semelhantes, passassem a ter uma importância política considerável em
Ugh-Ugh, bem como as tais circunstâncias de seu nascimento, que
poderiam começar a ser reproduzidas ou imitadas artificialmente — uma
espécie de fixação de ritos religiosos, cuja origem termina por se perder no
tempo. Isto é uma digressão, mas é útil, pois, além do fato de que a
religião sempre esteve ligada à Política, mostra também como coisas
incompreensíveis na aparência podem ter tido origens perfeitamente
compreensíveis.)
O início do cultivo intencional e organizado de plantas comestíveis
e do pastoreio de animais são, por conseguinte, avanços importantíssimos
para Ugh-Ugh. A coletividade se torna mais forte, mais apta a resistir a
crises naturais, mais capaz de sobreviver e aumentar sua população,
mais qualificada para fortalecer sua cultura, através da experiência dos
velhos, que antes não existiam (e as tais crianças louras de que falamos
podem vir a ter sua importância diminuída, ou então conservada mas
agora sem sentido visível para a comunidade, simplesmente como uma
tradição que adquiriu vida própria).
O poder não é só o das armas, é muito mais dos que detêm a
tecnologia do cultivo e do pastoreio. Não é impossível até mesmo que UghUgh se veja obrigada a enfrentar vizinhos predatórios que, não sabendo
eles mesmos criar gado ou plantar, resolvam, pela força, pilhar o
patrimônio ugh-ughiano — o que, aliás, pode muito bem estar na raiz do
surgimento da profissão militar que, existindo mesmo tais vizinhos, tende
a assumir grande importância em Ugh-Ugh.
Por seu turno, os avanços tecnológicos vão gerar o que se costuma
chamar de divisão social do trabalho. Enquanto os ugh-ughianos se
limitavam a colher frutas silvestres e matar os animais que tivessem a
infelicidade de encontrar um ugh-ughiano armado pela frente, o trabalho
da comunidade e, provavelmente, a propriedade eram de todos,
conseqüência mesmo da simplicidade das tarefas desempenhadas pela
coletividade. Com o cultivo e o pastoreio, a divisão já começa a assinalarse, acrescida de novos progressos tecnológicos. Por exemplo, muitas das
plantas domesticadas (o trigo e o milho, para citar duas, eram em sua
origem espécies rudes de grama que, por uma seleção genética aos
trancos e barrancos, acabaram transformando-se no que são hoje)
dependiam, para seu consumo, de preparação. É necessário não só que
se colha o trigo, mas que se selecionem e se debulhem as espigas, que se
faça farinha e que, ao fogo, se produza o pão.
Todas essas são novas atividades, que gradualmente se distribuirão
por diversos setores da coletividade, bem como as atividades geradas pelo
pastoreio, tais como o manejo do gado, a matança, o uso das peles, a
preservação da carne, o aproveitamento do leite e assim por diante. Muitas
atividades requererão, por assim dizer, equipes, com a tendência a se
formarem grupos especiais e a se constituir alguma via — muitas vezes
esotérica — para a transmissão do conhecimento especializado às novas
gerações.
É importante notar que esse processo de divisão social do trabalho
introduz conflitos de interesse na coletividade antes tão simples. Assim,
para um agricultor, o campo será um lugar para semear; para um criador
de gado, um lugar para transformar em pastagem. Quem se aproprie, para
si ou para seu grupo familiar, de um pedaço de terra defendido pela força,
poderá explorar o trabalho de quem não tenha conseguido terra
aproveitável. Quem produzir trigo poderá trocá-lo por carne ou vice-versa,
e o valor relativo desses bens, agora transformados em mercadorias, será
certamente arbitrado em processo que envolverá conflitos. Assim, o
interesse de cada um passa a não ser, necessariamente, como era antes,
o interesse de todos.
Na verdade, há dificuldade para estabelecer qual é o interesse de
toda Ugh-Ugh, pois o que convém a um de seus grupos ou subgrupos
internos não convirá a outro, ou convirá menos. Acrescente-se a isso
outro dado importante: a possibilidade de acumulação de excedentes, isto
é, de bens em quantidade superior à indispensável para o consumo de seu
produtor, o que irá marcar em profundidade o perfil socioeconômico de
Ugh-Ugh, através de inúmeras conseqüências facilmente inferíveis, tais
como a acumulação individual de riqueza e o desenvolvimento do comércio
— esta última uma atividade não-produtiva incogitável na comunidade
simples da antiga Ugh-Ugh e agora inescapável.
Os conflitos de interesse causam tensão. A tensão só pode ser
resolvida através da solução do conflito. O ideal seria que se conseguisse
implantar um sistema através do qual esses conflitos pudessem ser
resolvidos de maneira harmoniosa e pacífica, através de concessões que
beneficiassem todos os interessados. Mas a verdade é que os conflitos de
interesse se resolvem no confronto, com a vitória do que dispõe de
instrumentos mais eficazes para impor sua vontade — quaisquer que
sejam eles, combinados de qualquer forma.
Entre os muitos e variadíssimos caminhos que a evolução de UghUgh podia tomar, vamos imaginar que os conflitos de terras entre pastores
e agricultores chegassem a um ponto tão crítico que se declarasse uma
guerra civil, com a vitória dos pastores. Imediatamente, os pastores se
organizariam para manter sua hegemonia, e seus líderes seriam os líderes
de toda a sociedade. Os interesses prevalentes seriam os dos pastores, e
os conflitos seriam arbitrados também pelos pastores. Os costumes e os
valores tenderiam, com o tempo, a enobrecer a atividade do pastoreio e as
com ela relacionadas (como cavalgar, por exemplo) e a aviltar as atividades
de cultivo da terra. As atividades nobres poderiam ser proibidas aos
cultivadores de terras, o que, no caso de cavalgar, traria ainda a vantagem
adicional de não permitir que os dominados manipulassem uma arma de
combate poderosa, o próprio cavalo.
As religiões poderiam desenvolver mitos adequados à visão de
mundo dos pastores, com deuses semelhantes a bois ou deusespastores, ou ainda narrativas contendo um irmão agricultor e um irmão
pastor, aquele vil, este nobre — o que, aliás, de certa forma ocorre com a
história de Caim e Abel, pois Jeová recusa a oferenda do agricultor Caim
sem maiores explicações. Enfim, a gama de possibilidades é muito ampla,
como o estudo da história deixa patente.
Com a vitória, os pastores de Ugh-Ugh resolveram o conflito básico
de sua sociedade e, pelo menos por enquanto, se entronizaram
solidamente no poder, detendo o controle das decisões públicas. Com o
passar do tempo, esta situação pode não permanecer tão clara, pois os
sacerdotes (originados da classe dos pastores e responsáveis pela religião
dos pastores, mas não obstante um grupo com relativa autonomia), os
militares e outras tantas categorias assumem papéis que tornam obscura
a relação principal (dominantes-dominados).
De qualquer forma, a tendência dos vitoriosos é criar todo tipo de
mecanismo para se estabilizar no poder. E, desta maneira, a diferença
entre governantes e governados, estabelecida com a vitória dos pastores,
entra em processo de institucionalização.
Não é complicado entender o que vem a ser institucionalização.
Vamos supor que depois da vitória um dos pastores se haja tornado chefe
e, durante o tempo em que viveu, tenha gradualmente assumido uma
série de responsabilidades e tarefas importantes para seu povo. Com a
morte do chefe, o previsível é que se indique alguém para assumir mais ou
menos o mesmo papel. Ou seja, existe um papel social e político a ser
cumprido, independente da pessoa que o desempenhe.
A organização só se manterá se houver mais do que o chefe: se
houver a chefia. No momento em que a chefia passa a ter existência (mesmo
que abstrata, expressa em símbolos como o cetro e em atitudes como a
deferência da sociedade) independente do chefe, essa chefia se torna uma
instituição, há um processo de institucionalização. Com a
institucionalização da chefia, institucionaliza-se também o processo
sucessório e surgem inúmeras outras instituições, paralelas ou corolárias.
Para fazer uma comparação rápida com o Brasil de hoje, temos instituições
como a Presidência da República, o Congresso Nacional, as Forças
Armadas, os tribunais, a Constituição e assim por diante.
A esse conjunto de instituições dá-se o nome de Estado, seja no
Brasil ou em Ugh-Ugh. Na realidade, pode-se dizer que o Estado surge
em dois passos: a) o estabelecimento da diferença entre governantes e
governados; b) a institucionalização dessa diferença. Onde quer que
existam essas condições, existirá um Estado, quer ele tenha presidente,
rei ou chefe, leis escritas ou não, três Poderes ou não. E o funcionamento
desse Estado, das suas instituições e das que lhe são acessórias ou
paralelas, pode ser sempre compreendido à luz da história dessa
sociedade, de sua estrutura social e econômica, pois o Estado é sempre
lógico, ou seja, é a decorrência lógica de uma situação social concreta.
As instituições estão sempre compreendidas em um arcabouço
muito amplo, chamado ordem jurídica, quer dizer, um conjunto de normas
de aplicabilidade geral, que regem o funcionamento da sociedade. Em
Ugh-Ugh, mesmo muito tempo depois do estabelecimento de um Estado
complexo, é bem possível que as normas jurídicas, o que hoje chamamos
de leis, fossem não-escritas e misturadas com normas religiosas, morais e
outras. Isto ainda existe hoje em dia, mais o comum é que a ordem
jurídica seja mais ou menos distinta da ordem religiosa e da moral, com
implicações que seria excessivamente longo examinar aqui.
Deve ser sempre levado em conta que o exercício de imaginação
histórica que acabamos de fazer não pode ser compreendido de maneira
demasiadamente literal. Foi o resumo e a simplificação de processos que
se desenrolaram através de milênios, apenas um recurso para que se
compreenda que os fatos históricos não se dão ao acaso e que existe
racionalidade e funcionalidade em muitas coisas nas quais não
percebemos, de primeira, estes elementos.
Temos então que, com o surgimento de atividades e,
subseqüentemente, de interesses diversos numa sociedade antes
indiferenciada, declaram-se conflitos entre grupos de interesse. Esses
conflitos são resolvidos com o domínio de um grupo por outro,
estabelecendo-se uma diferença entre governantes e governados. Essa
diferença é institucionalizada, criando-se uma ordem jurídica. Assim está
formado, em seus traços essenciais, o Estado. Existe Estado, pois, em
toda sociedade política e juridicamente organizada. Pode-se dizer ainda
que o Estado é a organização política e jurídica da sociedade, que muitas
vezes, como aprenderemos, chega a confundir-se com essa mesma
sociedade.
*
1 Numa certa coletividade isolada e primitiva, os chefes são
sempre substituídos quando morre o ocupante do cargo, através de
uma longa série de combates de morte entre os pretendentes. Você
acha que existe Estado nessa comunidade?
2 Duas sociedades imperialistas, Takuc e Babuc, fazem freqüentes
guerras contra vizinhos mais fracos. Takuc mata todos os seus
inimigos vencidos, pois usa como escravos certas camadas de sua
própria sociedade. Babuc captura os vencidos e os escraviza.
Imagine uma “história” para cada uma dessas sociedades,
inclusive projetando seu futuro e descrevendo suas instituições.
3 Você acha que as instituições religiosas, de modo geral, surgem
antes ou depois das instituições políticas?
4 Você acha que, se Ugh-Ugh não tivesse o menor contato com
outros povos, hostis ou não, a profissão militar ugh-ughiana
terminaria por institucionalizar-se da mesma forma?
5 Você acredita que, sem absolutamente qualquer avanço
tecnológico, a propriedade privada surgiria em Ugh-Ugh de qualquer
maneira?
6 Invente uma Ugh-Ugh completa, em que os agricultores
tivessem triunfado sobre os pastores. Quanto mais detalhes,
melhor.
7 As nações indígenas de que você já ouviu falar são Estados?
8 Na Ugh-Ugh em que os pastores ganharam, é considerada uma
grande humilhação, para uma pessoa bem situada, estar em
contato direto com o chão, a terra. Isto explica por que os túmulos
das elites dominantes são sempre de pedra, muito acima do chão?
Isto explica por que os bichos que vivem em árvores são
reverenciados? Isto explica por que é um elogio chamar uma
pessoa de “pássaro” e um insulto chamá-la de “minhoca”? Isto
explica por que “morrer”, na língua ugh-ughiana, é a mesma
palavra que cair?
https://mpassosbr.files.wordpress.com/2013/03/joc3a3o-ubaldo-ribeiro-polc3adtica-quem-manda-porque-manda-como-manda.pdf
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Assunto sobre urnas “já acabou faz tempo”, diz Moraes sobre nova resposta da Defesa
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O POVO Online
10 de nov. de 2022
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, foi questionado sobre nova nota da Defesa, que alegou, sem provas, não "descartar fraudes".
https://www.youtube.com/watch?v=KcZiV-OEqKc
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Nota dos militares reforça o golpismo de Bolsonaro.
Marco Antonio Villa
https://www.youtube.com/watch?v=8CiF0gBWtc4
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CONSTITUIÇÃO DE 1988
Postado por Fabiana Dias em 21/02/2019 e atualizado pela última vez em 20/07/2020
Legislação máxima vigente no Brasil
A Constituição de 1988 é a atual Carta Magna do Brasil que serve de parâmetro para as demais legislações vigentes no país. Aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte, ela foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988, durante o governo do presidente José Sarney.
Conhecida com Constituição Cidadã, a Constituição da República Federativa do Brasil restabeleceu a democracia após 21 anos de Ditadura Militar no Brasil. A Constituição de 1988 foi elaborada pela Assembleia Nacional Constituinte presidida pelo deputado Ulysses Guimarães e composta por 559 parlamentares.
A Constituição de 1988 consolidou a transição de um regime autoritário para um democrático. Assim, restabeleceu a inviolabilidade de direitos e liberdades básicas e instituiu preceitos progressista, tais como a igualdade de gênero, a criminalização do racismo, a proibição da tortura e direitos sociais, como educação, trabalho e saúde.
História da Constituição de 1988
Desde 1964, o Brasil enfrentava o autoritarismo imposto pelo governo militar. A partir de 1967, o país passou a ser regido pela Constituição Brasileira de 1967, a qual estabelecia Atos Institucionais com a finalidade de atender aos interesses da Ditadura Militar no Brasil.
Na década de 1980, o país beirava o estado de exceção no qual as garantias individuais e sociais eram ignoradas e o direitos fundamentais eram restritos. A conjuntura da época fez crescer o anseio por uma nova Constituição que assegurasse os valores democráticos.
Após o fim da Ditadura Militar o país entrou em processo de redemocratização e surgiu a necessidade da construção de uma nova Constituição com texto constitucional democrático. Em fevereiro de 1987, o deputado Ulysses Guimarães iniciou as sessões da Assembleia Nacional Constituinte, composta por 559 congressistas, para elaborar o novo documento.
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Congressistas na sessão de promulgação da Constituição em 5 de outubro de 1988. (Foto: Wikipédia)
Marcando o início da consolidação da democracia, após os anos de regime autoritário, a nova Constituição foi promulgada no dia 05 de outubro de 1988. O documento constitucional assegurou garantias aos direitos fundamentais, qualificou como inafiançável crimes como tortura e ações armadas contra o estado democrático e a ordem constitucional, criando mecanismos legais para impedir golpes de qualquer natureza.
Estrutura da Constituição de 1988
A Constituição de 1988 está dividida em nove títulos que abarcam 250 artigos, que por sua vez carregam todas as normas essenciais como direitos fundamentais, estrutura do Estado, competências de cada ente, além de regras de cunho formal relativas à organização básica do Estado. Os títulos da Constituição de 1988 são os seguintes:
Título I — Princípios Fundamentais: cita os fundamentos que constitui a República Federativa do Brasil;
Título II — Direitos e Garantias Fundamentais: classifica os direitos e garantias em cinco grupos básicos: Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Direitos Sociais, Nacionalidade, Direitos Políticos e Partidos Políticos;
Título III — Organização do Estado: define a organização político-administrativa a as atribuições dos entes da federação: União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
Título IV — Organização dos Poderes: elenca as atribuições de cada um dos poderes e define os processos legislativos, incluindo as emendas constitucionais;
Título V — Defesa do Estado e das Instituições Democráticas: trata sobre questões relativas à Segurança nacional, regulamentando a intervenção do Governo Federal;
Título VI — Tributação e Orçamento: estabelece as limitações tributárias do poder público, organizando e detalhando o sistema tributário;
Título VII — Ordem Econômica e Financeira: regulamenta a atividade econômica e financeira e o sistema financeiro nacional;
Título VIII — Ordem Social: discorre sobre o bom convívio e desenvolvimento social do cidadão, bem como, sobre os deveres do Estado, como: Saúde, Educação, Cultura e Esporte; Ciência e Tecnologia; Comunicação social; Meio ambiente; Família e populações indígenas;
Título IX — Disposições Constitucionais Gerais: aborda temáticas variadas não inseridas em outros títulos por se referir a assuntos mais específicos.
Características da Constituição de 1988
Elaborada por uma assembleia formada por congressistas conservadores e progressistas, a Constituição da República Federativa do Brasil reúne anseios democráticos, ideais progressistas, bem como velhos costumes centralizadores.
O documento é formal, escrito com um sistema ordenado de regras, analítico e rígido. Cumprindo papel preponderante no ordenamento jurídico brasileiro, a Constituição Federal só pode ser alterada com aprovação de emendas constitucionais, que servem para alterar ou modificar o texto e interpretação de alguma parte da Constituição.
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Capa da Constituição de 1988. (Foto: Wikipedia)
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Para alterar as garantias previstas na Constituição é necessário aprovar um Projeto de Emenda Constitucional (PEC). A aprovação envolve trâmites que vão desde o processo de apreciação no Congresso e Senado Nacional, até a escolha da sociedade, por meio de referendos, por exemplo.
Ao longo do tempo, a Constituição de 1988 passou por diversas emendas constitucionais. Em 2018, já haviam sido acrescentadas mais de 100 emendas. A quantidade de emendas constitucionais em 30 anos é considerada excessiva por alguns juristas, entretanto, outros concordam que as emendas são necessárias para que as leis possam ser atualizadas, se adequando às mudanças da sociedade.
Principais conquistas da Constituição de 1988
A Constituição Brasileira é considerada uma das mais avançadas do mundo no que se refere a direitos e garantias fundamentais. A Carta Magna de 1988 restituiu a democracia e promoveu a cidadania, garantindo direitos individuais e sociais. Entre os principais avanços da Constituição de 1988, estão:
• Eleição direta para os cargos de presidente da República, governador do Estado e do Distrito Federal, prefeito, deputado federal, estadual e distrital, senador e vereador;
• Redução do mandato presidencial de cinco para quatro anos;
• Garantia de maior autonomia para os municípios;
• Liberdade de expressão e fim da censura aos meios de comunicação, filmes, peças de teatro e músicas, etc;
• Criação do SUS - Sistema Único de Saúde no país;
• Marco nos direitos dos índios com demarcação de terras indígenas e proteção do meio ambiente;
• Garantia de direitos trabalhistas, como seguro-desemprego, abono de férias, jornada semanal de 44 horas, direito à greve e a liberdade sindical;
• Igualdade de gêneros e fomento ao trabalho feminino, com reconhecimento de seus direitos individuais e sociais.
Constituições brasileiras
Antes da Constituição de 1988, o Brasil já havia sido regulamentado por outras seis constituições. A Constituição de 1988 é a sétima do país desde a sua independência em 1822 e a sexta, se considerado apenas o período do Brasil República. As constituições anteriores foram as seguintes:
• Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891)
• Constituição Brasileira de 1934
• Constituição Brasileira de 1937
• Constituição Brasileira de 1946
• Constituição Brasileira de 1967
Faça aqui o download do PDF da Constituição de 1988.
Artigos Relacionados
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/constituicao-de-1988
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Reinaldo: Fazendo picadinho da nota estúpida e errada dos militares
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Rádio BandNews FM
11 de nov. de 2022
https://www.youtube.com/watch?v=0DmPBLNuCts
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Molica: Militares não devem falar sobre política - Liberdade de Opinião
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CNN Brasil
11 de nov. de 2022
No Liberdade de Opinião desta sexta-feira (11), Fernando Molica analisa o pronunciamento das Forças Armadas sobre as manifestações que ocorreram pelo país após a eleição.
https://www.youtube.com/watch?v=9pstcFD1uQo
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Boris Casoy: Forças Armadas foram convidadas pelo TSE a participar de eleição - Liberdade de Opinião
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CNN Brasil
11 de nov. de 2022
No Liberdade de Opinião desta sexta-feira (11), Boris Casoy analisa o pronunciamento das Forças Armadas sobre as manifestações que ocorreram pelo país após a eleição.
https://www.youtube.com/watch?v=rGjE06IA60g
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Sonho de uma Noite de Verão (William Shakespeare) 🏴 | Tatiana Feltrin
tatianagfeltrin
21 de jun. de 2020
📚 Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare
Onde encontrar a peça:
- Edição da Nova Fronteira (Box): https://amzn.to/36zbNvx
- A midsummer night’s dream (Penguin): https://amzn.to/2CnI27r
Onde encontrar os livros de apoio apresentados:
- Shakespeare - A invenção do humano, de Harold Bloom (usado): https://amzn.to/3a6VFUt
- Shakespeare - The Invention on The Human (em inglês): https://amzn.to/2QAeiZh
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- Tudo sobre Shakespeare (Laurie Rozakis): https://amzn.to/2WUrHPx
https://www.youtube.com/watch?v=XZOC3P6q6sk
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Carcará
Maria Bethânia
Ouça Carcará
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Lá no sertão...
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará....
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando
Carcará...
Vai fazer sua caçada
Carcará...
Come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no bico inté matá
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
"Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia!! 17% de Alagoas!!!"
(Carcará...)
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come!!!
Ouça Carcará
Composição: João Do Vale / Jose Cândido.
https://www.letras.mus.br/maria-bethania/164683/
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