domingo, 13 de novembro de 2022

ESTREITA PASSAGEM

Para pavimentar o túnel e integrar os transeuntes à política da nova avenida Brasil, pelo novo governo e pela nova oposição. E deixar Bolsonaro entregue aos juízes e a André Janones. ***
*** (Paulinho) Se você quer dinheiro eu não tenho não Se você quer carinho eu tô de prontidão Se você quer carinho eu tô de prontidão Ô devagar miudinho, devagarinho Ô devagar miudinho, devagarinho 2X Ô devagar, ô devagar, ô devagar , ô devagar *** *** Miudinho Paulinho da Viola *** Ô devagar miudinho, devagarinho Ô devagar miudinho, devagarinho 2X Ô devagar, ô devagar, ô devagar , ô devagar (Paulinho) Se você quer dinheiro eu não tenho não Se você quer carinho eu tô de prontidão Se você quer carinho eu tô de prontidão Ô devagar miudinho, devagarinho Ô devagar miudinho, devagarinho 2X Ô devagar, ô devagar, ô devagar , ô devagar (Monarco) Se eu soubesse eu tinha me preparado penteava meu cabelo , tinha meu quarto arrumado penteava meu cabelo , tinha meu quarto arrumado (devagar... ) Ô devagar miudinho, devagarinho Ô devagar miudinho, devagarinho 2X Ô devagar, ô devagar, ô devagar , ô devagar (Leuci) Você meu bem esse se rebolando Dessa maneira está me tentando Dessa maneira está me matando (ô devagar... ) Ô devagar miudinho, devagarinho Ô devagar miudinho, devagarinho 2X Ô devagar, ô devagar, ô devagar , ô devagar (Raul) Eu canto samba má não por valentia É uma prova de amizade que eu tenho pela orgia É uma prova de amizade que eu tenho pela orgia (devagar... ) compositores: Monarco,Raul Marques,Bucy Moreira álbum Paulinho Da Viola - Paulinho da Viola Gravadora: EMI Ano: 2015 Faixa: 12 https://www.kboing.com.br/paulinho-da-viola/miudinho/ ************************************************************ ou chora se a luz fenece ***
*** “Daquelas promessas (...) algumas não podiam ser objetivamente cumpridas e eram desde o início ilusões; outras eram, mais que promessas, esperanças mal respondidas; e outras, por fim, acabaram por se chocar com obstáculos imprevistos. Todas são situações a partir das quais não se pode falar precisamente de ‘degeneração’ da democracia, mas sim de (...) inevitável contaminação da teoria quando forçada a submeter-se às exigências da prática”. ***
*** Pedro S. Malan* - Definindo agora contornos do futuro O Estado de S. Paulo Dívida, tributação, gasto público, eficiência e equidade terão de estar no centro do debate público sobre crescimento pelos cruciais anos à frente. Qualquer governo tem suas cotas de acertos e desacertos. O de Lula não será exceção. O discurso eleitoral eloquente permite-se proferir certezas e promessas de solução para problemas de todo tipo. No entanto, vencidas as eleições, ele deve dar lugar ao pragmatismo responsável a que estão obrigados aqueles que, no exercício do governo, têm de lidar com recursos escassos, conflitos de interesse e com as incertezas, riscos e consequências das decisões a tomar. Quarenta anos atrás, a convite de uma Espanha recém-democratizada, Norberto Bobbio escreveu sobre as transformações da democracia, analisando promessas não cumpridas e contrastes entre a democracia ideal e a democracia real: “Daquelas promessas (...) algumas não podiam ser objetivamente cumpridas e eram desde o início ilusões; outras eram, mais que promessas, esperanças mal respondidas; e outras, por fim, acabaram por se chocar com obstáculos imprevistos. Todas são situações a partir das quais não se pode falar precisamente de ‘degeneração’ da democracia, mas sim de (...) inevitável contaminação da teoria quando forçada a submeter-se às exigências da prática”. Esse processo está em curso no Brasil desde a Constituição de 1988 – longo período, dos quais os últimos quatro anos nos reservaram um teste especialmente duro. Somos hoje um país profundamente dividido, como parece saber Lula, que afirmou na noite de sua vitória eleitoral: “Vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis”. A esperança é de que possamos avançar na busca de maior maturidade político-institucional e de debate público de nível – menos ideologizado, mais informado e mais voltado para a busca das convergências possíveis. Estou convencido de que é não apenas possível, mas também desejável, expressar confiança no futuro – mas sem messianismos salvacionistas. Afirmar a importância da vontade política – mas sem voluntarismos ingênuos. Há desafios não triviais a enfrentar neste conturbado espaço entre o mundo existente e outro mundo que se afirma ser possível. É fundamental no Brasil de hoje, por exemplo, empreender esforço sério para aprofundar o entendimento coletivo sobre a relação entre gasto público, carga tributária e estoque da dívida pública. Porque uma sociedade moderna deve julgar determinada carga tributária em função da quantidade e da qualidade dos serviços públicos prestados em contrapartida. Porque deve compreender o impacto do nível e da composição do gasto público e da carga tributária sobre a eficiência da economia, a redução da pobreza e a melhoria das condições de vida da população. E a relação entre o nível, a composição e a trajetória da dívida pública e as perspectivas de solvência do setor público, o espaço aberto ao investimento privado e as expectativas quanto à redução dos juros reais. Por isso, é indispensável que os governos (nos três níveis), políticos e eleitores compreendam e aceitem a existência de restrições à tendência natural do Estado à expansão de suas incumbências, que com frequência resulta da pressão da própria sociedade. O Estado apenas redistribui recursos que por ele transitam, que lhe vêm de tributação (sobre a geração atual), de endividamento (que corresponde a tributação sobre gerações futuras), da venda de ativos de que disponha, do imposto inflacionário e/ou do uso sub-reptício de poupanças compulsórias para subsídios a setores específicos. Como já escrevi neste espaço, é lamentável que haja pouca discussão entre nós sobre como fazer do governo um provedor de serviços eficientes. Aqueles que desejam um papel mais amplo do setor público estariam fortalecendo sua posição caso se dedicassem a tornar o setor público mais eficaz. É preciso acreditar que isso não seria impopular. Essa é minha esperança e também minha expectativa. Já tivemos governos que acreditaram que a aceleração do crescimento poderia ser assegurada por uma política dita “keynesiana” de caráter duradouro – tanto pró-cíclica quanto anticíclica. Nessa visão, gasto público é vida, é investimento e sempre tem efeito multiplicador em termos de geração de renda adicional e estímulos tanto à demanda quanto à oferta (que a expansão da demanda necessariamente geraria). Afinal, por que alguém preferiria sofrer as agruras da “austeridade” quando poderia, livremente, escolher maior crescimento, renda e emprego? No processo de tentar valer a pura “força da vontade política” em condições adversas, governos podem tornar a situação ainda mais insustentável, como bem sabemos. Será fundamental, já em 1.º de janeiro de 2023, sinalizar com clareza, de maneira crível, que existe um sistema de regras que assegurem a sustentabilidade da trajetória de finanças públicas no Brasil para o triênio 2024-2026 – e adiante. Dívida, tributação, gasto público, eficiência e equidade são, portanto, temas inter-relacionados, que terão de estar no centro do debate público (econômico, político e social) sobre crescimento no Brasil pelos cruciais anos à frente. *Economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC. ************************************************************************* *** Shakespeare - Justiça e Normas *** sem regras feita de normas. ************************************************
*** Poesia | António Forte Salvado - Circuito da Poesia do Castelo Branco *** A Poesia Difícil, estreita passagem, força quente perscrutada, corpo de névoa, de imagem, com sulcos de tatuagem, voz absoluta escutada... Destino de aranha, tece com fios vários da vida alegria se amanhece ou chora se a luz fenece pela noite perseguida. Intimidade exterior, pureza de impuras formas, conhecimento e amor, água límpida, estertor, sem regras feita de normas. in Difícil Passagem (1962) - António Salvado https://geopedrados.blogspot.com/2022/02/antonio-salvado-faz-hoje-86-anos.html ********************************************************************************* Um verdadeiro amor nunca fenece *** *** Música | Maria Bethânia - Coração Vulgar *** Deixa desilusão pra quem não sabe amar E quem não sabe amar há de sofrer Porque não poderá compreender Que o amor que morre é uma ilusão E uma ilusão deve morrer O amor que morre é uma ilusão E uma ilusão deve morrer Um verdadeiro amor nunca fenece E pouca gente ainda o conhece Meu bem, se o teu amor morreu É porque ninguém o entendeu [Maria Bethânia diz: Lindo!] Deixa o teu coração viver em paz O teu pecado é querer amar demais Morre... [Maria Bethânia diz: É lindo, né, Pierre? Não existe! "Fenece" é a palavra mais bonita que te no mundo] Composição: PAULO CESAR BAPTISTA DE FARIA. https://www.letras.mus.br/maria-bethania/1548531/ ****************************************************** Poesia | Joaquim Cardozo - Circuito da Poesia do Recife *** *********************************************************************************** Quem me navega é o mar *** Música | Paulinho da Viola - Timoneiro *** *** Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar E quanto mais remo mais rezo Pra nunca mais se acabar Essa viagem que faz O mar em torno do mar Meu velho um dia falou Com seu jeito de avisar: Olha, o mar não tem cabelos Que a gente possa agarrar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar Timoneiro nunca fui Que eu não sou de velejar O leme da minha vida Deus é quem faz governar E quando alguém me pergunta Como se faz pra nadar Explico que eu não navego Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar A rede do meu destino Parece a de um pescador Quando retorna vazia Vem carregada de dor Vivo num redemoinho Deus bem sabe o que ele faz A onda que me carrega Ela mesma é quem me traz Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar Ouça Timoneiro Composição: Hermínio Bello de Carvalho / Paulinho da Viola. *********************************************************************************** Dando um xeque-mate em três movimentos capturando uma peça ***
*** Xadrez - tenta dar mate...! Play online chessDaily puzzle: 8 7 6 5 4 3 2 1 a b c d e f g h White to move, mate in 3 https://geopedrados.blogspot.com/2022/02/antonio-salvado-faz-hoje-86-anos.html https://pt.wikihow.com/Dar-um-Xeque%E2%80%90mate-em-3-Movimentos-no-Xadrez *******************************************************************************
*** A política norte-americana e nossos vizinhos sul-americanos — Argentina, Chile, Venezuela e Colômbia — são pontos de referência para as análises comparativas com a política brasileira, mas vale a pena um olhar em direção à experiência francesa. O primeiro mandato de Mitterrand serve de parâmetro para compreender o tamanho do dilema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse terceiro mandato. A reação do mercado ao seu discurso de quarta-feira e à indefinição sobre o futuro ministro da Fazenda não pode ser vista apenas como uma chantagem barata dos grandes grupos econômicos ou mera especulação de espertalhões que operam na Bovespa. Há muito mais coisas envolvidas. Uma delas é encontrar um meio termo entre a agenda econômica liberal e o nacional-desenvolvimentismo da esquerda, para que o novo governo enfrente o problema das desigualdades, mas não jogue a criança fora com a água da bacia. *** domingo, 13 de novembro de 2022 Luiz Carlos Azedo - O legado de Mitterand e o dilema de Lula Correio Braziliense François-Maurice-Marie Mitterrand (1916-1996) nasceu em Jarnac e estudou direito e letras na Universidade de Paris. Durante a II Guerra Mundial, foi integrante da Resistência Francesa, movimento de oposição ao nazismo. Deputado de 1946 a 1958, no ano seguinte elegeu-se senador. Em 1965, como candidato único dos partidos de esquerda, obteve 44,8% dos votos no segundo turno das eleições presidenciais, vencida por Charles de Gaulle. Secretário do Partido Socialista desde 1971, disputou novamente a Presidência em 1974 e foi derrotado por Valéry Giscard d'Estaing. Entretanto, o derrotou nas eleições de 1981 e se tornou primeiro socialista a chegar à Presidência da França. Mitterrand entusiasmou os eleitores oferecendo a possibilidade de rompimento com o capitalismo. Destacou-se por tomar medidas estatizantes e fazer reformas sociais, mas, em consequência da crise econômica mundial, não conseguiu reduzir o desemprego e controlar a alta dos preços. O mercado reagiu fortemente a sua política e descobriu-se, então, que o poderoso Estado nacional francês já não controlava a economia. Para evitar a fuga de capitais, Mitterand foi obrigado a recuar, combater a inflação e priorizar a integração com a Comunidade Econômica Europeia, que daria origem à União Europeia, sua grande bandeira na política externa. Mesmo assim, dois anos depois de sua eleição, os conservadores venceram as eleições legislativas, o que obrigou Mitterrand a governar com o gaullista Jacques Chirac como primeiro-ministro. Não obstante, em 1988, foi eleito para um segundo mandato, marcado pela mudança de três primeiros-ministros e pelo crescimento da extrema-direita. Ao final de dois mandatos à frente do país, crises econômicas sucessivas, medidas de austeridade, o fracasso dos programas de nacionalização e o alinhamento da França a uma Europa liberal e de moeda única, o eleitorado popular absorveu esses acontecimentos como uma renúncia e, até mesmo, uma traição à população mais necessitada. Mitterrand fora forçado a abandonar o programa socialista e se render ao projeto liberal de Helmut Kohl, eleito primeiro-ministro alemão em 1982. No processo de modernização que promoveu entre 1980 e 1995, os capitalistas, principalmente quem aplicou seu dinheiro em ações, se deram muito bem, obrigado. O valor médio das ações francesas atingiu em 1995 um nível sete vezes mais alto do que em 1980. Enquanto isso, o salário anual do operário francês subiu pouco mais de 5% nesse mesmo período. Houve uma quase estagnação salarial no meio operário nos 15 anos de presidência de Mitterrand. Acerto de contas Em contrapartida, o sistema de proteção social, a educação nacional e os transportes geridos pelo setor público francês se mantiveram e se modernizaram. Mitterrand conseguiu abolir a pena de morte; nacionalizar cinco grupos industriais e 39 bancos; estabelecer a aposentadoria aos 60 anos; descriminalizar a homossexualidade; promover o fim do monopólio estatal da radiodifusão; inaugurar o Musée d'Orsay, o Instituto do Mundo Árabe, a pirâmide do Louvre e a pedra fundamental da Biblioteca Nacional da França; reforçar a relação franco-alemã; consolidar a Comunidade Europeia; e criar a União Europeia com a assinatura do Tratado de Maastricht, em 1992. Várias medidas sociais foram ratificadas, como a que pôs fim ao registo de homossexuais e retirou a homossexualidade da lista de perturbações mentais. O governo também introduziu a passagem da maioria sexual para 15 anos para todos, abolindo a distinção introduzida em 1942 — e confirmada em 1945 — na idade do consentimento entre relações homossexuais e heterossexuais. O estilo de vida homossexual deixou de ser uma cláusula de cancelamento de um arrendamento residencial. O legado de Mitterand é polêmico. Motiva um acerto de contas entre a esquerda herdeira de Maio de 68, que aposta na sociedade civil, no multiculturalismo e nos mecanismos de mercado (gauche sociétale), e a esquerda estatista (gauche étatique), baseada nas doutrinas da Frente Popular (1936-1937), na intervenção estatal, no jacobinismo centralista e na aliança entre comunistas e socialistas, defendida e praticada por Mitterrand. Enquanto se digladiava, o mundo mudou e a esquerda se tornou culturalmente minoritária. Ao deslocar o debate da questão social para a questão identitária, os intelectuais de esquerda já não conseguem mais mobilizar a sociedade, enquanto os trabalhadores abandonam os sindicatos e buscam refúgio no populismo de extrema-direita. A política norte-americana e nossos vizinhos sul-americanos — Argentina, Chile, Venezuela e Colômbia — são pontos de referência para as análises comparativas com a política brasileira, mas vale a pena um olhar em direção à experiência francesa. O primeiro mandato de Mitterrand serve de parâmetro para compreender o tamanho do dilema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse terceiro mandato. A reação do mercado ao seu discurso de quarta-feira e à indefinição sobre o futuro ministro da Fazenda não pode ser vista apenas como uma chantagem barata dos grandes grupos econômicos ou mera especulação de espertalhões que operam na Bovespa. Há muito mais coisas envolvidas. Uma delas é encontrar um meio termo entre a agenda econômica liberal e o nacional-desenvolvimentismo da esquerda, para que o novo governo enfrente o problema das desigualdades, mas não jogue a criança fora com a água da bacia. ****************************************************************************************** Virou a maior confusão *** *** Coração Vulgar/Momento De Franqueza/O Velorio Do Heitor (Ao Vivo) Paulinho Da Viola *** Morre mais um amor num coração vulgar Deixa desilusão pra quem não sabe amar E quem não sabe amar tem que sofrer Porque não poderá compreender Que o amor que morre é uma ilusão E uma ilusão deve morrer [2x] Um verdadeiro amor nunca fenece E pouca gente ainda o conhece Meu bem, se o teu amor morreu É porque ninguém o entendeu Deixa o teu coração viver em paz O teu pecado foi querer amar demais Morre mais um amor num coração vulgar Deixa desilusão pra quem não sabe amar Um samba sem querer cantei errado Não era amor sem fim mas sim amor já terminado E nele cometi mais um pecado Quando na realidade esqueci de ter te amado E veja só num momento de fraqueza Sem usar minha franqueza menti pra te agradar Se eu pudesse não mudava o verso antigo Não seria só amigo mas voltava a te adorar [2x] Havia um certo respeito no velório do Heitor Muita gente concordava q Que apesar de catimbeiro era bom trabalhador Houve choro e ladainha na sala e no corredor E por ser considerado O seu desaparecimento muita tristeza causou Quem mais sentiu foi Nair Que só falava das virtudes do Heitor E pelos cantos da memória procurava Todo o tempo em que ao seu lado caminhou Os amigos mais chegados comentavam Que não houvera outro cara tão legal E muita gente concordou em ajudar Uma família que ficara num desamparo total Pode se dizer que aquele velório Transcorreu na maior tranquilidade Até o momento em que surgiu aquela dama de preto Trazendo flores e chorando de saudade Como ninguém conhecia a personagem Nair foi tomar satisfação E aí chamaram até o Osório Que é delegado porque o velório Virou a maior confusão Porque simplesmente o velório Virou a maior confusão compositores: PAULO CESAR BAPTISTA DE FARIA álbum Paulinho Da Viola (Ao Vivo) - Paulinho Da Viola Gravadora: RCA Records Label Ano: 1997 Faixa: 2 https://www.kboing.com.br/paulinho-da-viola/coracao-vulgarmomento-de-franquezao-velorio-do-heitor-ao-vivo/ ***********
*** domingo, 13 de novembro de 2022 Paulo Fábio Dantas Neto* - Frente, transição, futuro governo e a política: Lula segura as rédeas Durante essas semanas seguintes às eleições, quem realmente gosta de democracia e entende a importância da política na vida pública está matando saudades. Desfruta imagens e falas que vão além do alívio – algo já em si importante – e trazem esperança de que possamos voltar a ter no Brasil espaço para argumentos, diálogos e embates políticos civilizados em lugar de dogmas, berros e violência. Fantasmas que apavoravam a sociedade, ou se dissiparam (caso do perigo de golpe) ou migram para as margens das estradas e do noticiário político, caso das manifestações de inconformismo politicamente ativo em relação ao resultado eleitoral. Nuvens descarregam e o descarrego torna o ar menos abafado. Há quem chame isso de volta à normalidade. Apesar da sensação real de que matamos saudades, tenho dúvidas sobre se de fato estamos diante de algum tipo de retorno. Tendo mais a compreender esse momento como saída de um beco enlameado, pantanoso e como entrada numa avenida desconhecida. À medida em que, ao caminhar por ela, o país finque os pés no chão, poderá avaliar a qualidade do piso, sua textura em cada trecho, percebendo a firmeza e o alcance de cada passo. Enquanto vencedores podem arriscar saltos para desfrutar bônus da vitória, a realidade aconselha, a quem ganhou e a quem perdeu as eleições, pisar devagarinho, pois a nova avenida não é reta nem está toda pavimentada. Para os componentes do que se autodesignou “frente ampla”, os desafios são manter em dia os músculos e articulações dos pés e prestar atenção a curvas sinuosas, túneis e elevados, que modulam a velocidade. Na pista da política institucional, o piso é amigável. Atitude cooperativa predomina para além dos necessários acordos e negociações, próprios do jogo político. Há no ambiente uma consciência coletiva da elite política de que lhe foi dada nova oportunidade de agir como tal. O instinto sobrevivente, após quatro anos de incerteza radical, sugere aos atores políticos que a parte atual do jogo pode ser jogada de modo a beneficiar, inicialmente, a todos os que se dispuserem ao jogo dentro das regras, inclusive se forem da turma do capitão. Remete-se ao futuro as disputas decisivas. Se a futuro breve ou distante não se sabe (a política dirá), mas ao menos tem-se um prazo fixado pela democracia, isto é, no próximo encontro com as urnas tudo será reexaminado. Por ora, não convém a ninguém antecipar, para não travar a acumulação de capital político acessível a todos, enquanto dure a cooperação. Nessa, portanto, nada há de altruísmo. É interesse que, ao que parece, começa a ser mais bem compreendido. Desse modo, a visita do presidente eleito às cúpulas dos outros dois poderes da República apenas selou uma atitude antecedente de compromisso. Com os ministros do STF e com os presidentes do Senado e da Câmara Lula não precisou oferecer mais do que uma disposição de laissez-faire. Menos judicialização da política e abstenção em relação às disputas internas ao Legislativo bastam para assegurar bom tráfego. Quadro distinto há no túnel onde circula um eleitorado cindido quase ao meio, parte dele interditando a pista sem pavimento pela qual a frente ampla pede passagem. Suas motivações não são desejo de golpe, mas um imenso ceticismo em relação ao presidente eleito e ao seu ainda futuro governo. Ceticismo também em relação ao processo eleitoral findo, modo de repudiar o sistema político ao qual Bolsonaro, contra leis da lógica, ainda conseguiu aparecer como contraponto, depois de ter patrocinado, em favor da sua tentativa de reeleição, uma radical mobilização de recursos públicos por dentro desse sistema. Conforme pesquisa do Instituto Atlas (trago aqui informação da jornalista Raquel Landim, da CNN, ao entrevistar o responsável pelo instituto), entre os dias 4 e 8 de novembro 43% dos eleitores entrevistados disseram que Bolsonaro foi injustiçado na eleição e 38% que Lula não teve mais votos que Bolsonaro. Mesmo mantendo a devida distância desses números exatos, inclusive por não conhecer bem a metodologia empregada, creio ser impossível não prestar atenção na ordem de grandeza. Ela dá ideia sobre o tamanho do caminho a percorrer pelo campo democrático (não só pelo governo, como lembrou ontem a jornalista Maria Cristina Fernandes em sua coluna no jornal Valor Econômico) entre a vitória eleitoral da frente ampla, a montagem e atuação do novo governo e a fixação de um padrão de competição confiável entre ele e uma oposição democrática. Nenhuma das três condições é dispensável para afastar do nosso horizonte, ao menos a médio prazo, o protagonismo político de uma extrema-direita subversiva e agonística. Das três, por enquanto alcançou-se a primeira, a 30 de outubro. As duas outras (governo de frente ampla e oposição democrática) ainda são temas mais para prospecção. Mas o presidente eleito é uma personalidade política marcante e incontrolavelmente ostensiva. Por mais que tenha seus segredos imperscrutáveis e faça deles uso, como qualquer político, sua persona pública não abre mão de fazer revelações inesperadas, elas também armas para exercer protagonismo. A sua presença nos palcos procura por vezes neutralizar a obra da paciente dialética articulatória dos bastidores, caso essa obra ameace, de algum modo, a sua condição de vértice. E no cumprimento das ordens do instinto de sua pessoa termina fornecendo material a análises que, sem ele, seriam precoces. Foi exatamente o que ele fez nessa última semana, ao final de dois dias de alta exposição. Na quarta-feira cumpriu, como se governante já fosse, o importante ritual da separação harmônica dos poderes, colhendo os merecidos frutos do contraste gritante com o seu antecessor que ainda vaga pelo palácio. Nesse dia Lula guardou para si seus sentimentos, desejos e planos, respeitando a primazia das instituições sobre as pessoas. Depois fez do dia seguinte uma quinta-feira com ares de um pastiche da Lavagem do Bonfim. Sem confrontar o ritual sagrado cumprido na véspera, assumiu o apetite profano de políticos outsiders em romaria e se esbaldou em desabafos ao povo, inclusive com direito a lágrimas. Ao seu lado, fiéis escudeiros e/ou parceiros de primeiro turno e aliados chegados já no segundo. Esses últimos e parte dos primeiros foram levados de roldão ao encontro da patuscada, no embalo da retórica populista, como se fossem turistas desavisados, perplexos e receosos, mas também encantados com o sincretismo da festa. Na Bahia o rumo é uma basílica e a festa é em honra de um redentor. Mas no caso em tela, o que são a motivação e o rumo é discussão mundana, que vai longe e desautoriza a analogia. O eleitor médio adora tudo isso, daí a popularidade de Lula. A militância retira dessa performance o combustível do seu fervor. Já a dinâmica institucionalmente plural e laica da política democrática sofre com isso, daí a dificuldade de Lula adquirir, nesse âmbito, uma confiabilidade sustentável, o que o obriga a permanente exercício de seduções a granel. Por mais que sua retórica populista assopre, depois de morder, seus pares no mundo da elite política sabem que não estão livres de, na próxima esquina, receberem do hipnotizador de massas a pecha de picareta ou golpista. Acordos políticos com Lula tendem a ser intensos, para mostrar que envolvem cérebro e coração. E efêmeros, a não ser que os aliados, mesmo céticos, metabolizem seus interesses em forma de devoção e profissão de fé no líder. Fiz uma interpretação sumária, que não resistiria ao teste do que foi a performance um tanto frustrante de um líder populista meio fora de forma, que Lula exibiu na mais recente campanha. Para quem esperava dele o arrebatamento das massas num resgate de sua trajetória, é pedagógico resignar-se ao fato de que deve sua eleição à formação de uma frente ampla de última hora, formada por forças políticas, lideranças, pessoas e grupos movidos pelo medo da reeleição do seu oponente. Esse choque de realidade não impede, contudo, que se leve em conta outro fato incontestável, o de que ninguém, na política brasileira atual, senão ele, poderia reunir condições necessárias - embora não suficientes, como mencionei acima - para enfrentar e derrotar um incumbente que, por sua vez. reunia três condições que faziam dele o espectro de uma tempestade perfeita: mística antissistêmica, arsenal (legal e ilegal) de recursos materiais derivados da ocupação do cargo e disposição pessoal de não se deter diante de escrúpulos de qualquer natureza. Esse segundo fato, de ter sido a única alternativa ao caos, sinaliza um futuro ao protagonismo de Lula. Um futuro de consolidador da vitória do sistema contra a subversão. Esse é o preço que, em tese, Lula deve pagar por ter obtido o apoio eleitoral de uma minoria política e social decisiva, que lhe rendeu os votos que faltavam. Votos que sozinho com seus apoiadores primeiros ele não pôde obter, ao contrário do que previa sua tática original de frente de esquerda acenando ao centro. A dialética articulatória, fundada no entendimento e em concessões mútuas, com ânimo de conciliação, é a única gramática disponível a Lula, antes que ele tenha em mãos, efetivamente, os cordéis do poder governamental. Pode ser que a mantenha, por meses ou até o fim do mandato, em atenção aos condicionantes objetivos de sua apertada eleição. Pode ser que não. Até aqui há pistas de uma coisa, de outra e também de combinação ignorada entre a gramática da articulação e a de cooptação fisiológica. A frente ampla, por ter sido improvisada e não fruto de uma convergência programática dentro de uma estratégia política, implica, agora, em processos complexos de realinhamento ainda muito opacos. Enquanto dinâmica de partidos e lideranças que pretendem influir sobre o futuro governo, o rumo ou a falta de rumo dessa frente ainda é um quebra-cabeças de resolução ignorada. Certamente será tema em pauta na sequência dos artigos semanais. Hoje só arrisco, para concluir, uma hipótese, a partir do que transparece a mim sobre desígnios, provavelmente provisórios, do ator principal. A transparência relativa desses desígnios provém, como já dito, do fato de Lula, embora sendo mestre na dissimulação, ser, também, perito em oratória incontinente. Nunca esquecendo que ambas são recursos conscientes do ator, é possível interpretar, a partir do que não pode ser dissimulado, o que tem sido a sua tática. Para resumir, penso que se trata para ele, agora, de segurar as rédeas da política em suas mãos, como vértice indisputado. É possível que consiga. Votos, mesmo sem goleada, revigoram o animal político. Mas a fila da política anda e pode fugir ao seu controle, na eventualidade de um condicionamento da formação do governo pela transição coordenada por Geraldo Alckmin. As coisas, no meio político e empresarial, também na sociedade civil e na imprensa, começavam a parecer andar “bem demais”. Era tal o clima de busca de consenso que, de repente, se poderia chegar a ele sem a intervenção decisiva do protagonista. As virtudes do método dialético da articulação poderiam fazer com que ele, o método, relativizasse as diferenças substantivas sobre, por exemplo, política econômica, dando lugar a um script irrecusável pelo presidente. Até porque a percepção da gravidade da crise social e o profissionalismo da articulação política sobre economia jamais permitiriam à coordenação da transição o luxo de nublar a máxima prioridade presidencial para suas promessas explícitas de campanha, quase todas remetidas ao social. Em todas as arenas visitadas pela comissão respirava-se ar de conciliação entre responsabilidade social e responsabilidade fiscal. A adversativa “ou” caminhava para o armário. Mas eis que, numa quinta apoteótica, a mão visível do ator principal instala um contencioso em cima de uma não questão. Volta-se à reta final do primeiro turno e o que estava irresolvido, mas andando, parece voltar à estaca zero. Vozes petistas menos moderadas, viajando na maionese, exultaram quando souberam que Henrique Meireles teria dito que Lula dilmou. Será? As seguidas indicações de pessoas do governo Dilma para diversos núcleos temáticos da comissão de transição; o aval, ainda que contido, da presidente do PT à carta institucionalmente aloprada de Guido Mantega ao BID para reverter uma indicação do atual governo como se já houvesse um novo; as especulações em torno do nome de Fernando Haddad para o ministério da Fazenda, tudo isso e outras narrativas mais pareciam encontrar guarida e sentido nas palavras aguerridas do presidente eleito num discurso dito histórico, por essas correias de transmissão. Por outro lado, reações políticas em contrário assumiram variadas formas. No plano partidário poucos exemplos. Profissionais da política em geral seguram-se numa hora dessas, quando há muito em jogo. Mas é digna de nota a clareza quanto ao mérito da discussão usada por Gilbert Kassab para, em entrevista à CNN, condenar polidamente a fala. E de curiosidade a ausência do MDB à primeira reunião dos partidos da base ampliada da transição, que o partido integra a convite direto da presidente do PT. Entre os chamados “economistas liberais” (profissionais ou intelectuais públicos que a turma das correias de transmissão ironiza como vozes do “mercado”, o inimigo secular, evocado pela fala de Lula) as reações variaram entre a crítica assertiva, sem meias palavras, de Elena Landau – a assessora do programa econômico de Simone Tebet – e a ironia moderada de Arminio Fraga simulando responder com paciência às indagações retóricas da fala de Lula. Por fim, no próprio PT houve leituras bombeiras de que “não foi bem assim” e palavras moderadoras consistentes, como a do senador Welington Dias. Essas manifestações de incômodo parecem longe de um caminho sem volta em relação ao governo Lula, mas refletem, em comum, a consciência sobre a falta de futuro da dicotomia falaciosa entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social no atual contexto de revisão conceitual desse tema em todo o mundo pós-pandemia e de convergência política democrática no Brasil. E expressam, de um ponto de vista racional, variados graus de apreensão quanto às palavras do presidente eleito, de quem esperam atitudes de um dirigente do sistema democrático e da política sólida das instituições. Penso que os temores de um lado e as celebrações do outro não se sustentam ainda em suficientes fatos. O mais que provável é que Lula volte do Egito carregado de acordos e promessas internacionais, antidistônicos para resolver a distonia que provocou. O discurso deverá ser ambíguo, como sempre. Aos críticos que quiser afagar dirá “não disse que não havia motivos para preocupação?” Aos que quiser manter à distância dirá que são provincianos, enquanto ele, Lula, está antenado com a ordem mundial. Lidar bem com a ambiguidade do mundo real e saber cultivá-la é, sem dúvida, uma virtude política. Pode ser praticada tanto na direção de construir consensos sempre parciais e nunca absolutos, fazendo da política um artesanato de várias mãos, construindo um centro diretor vertical a partir de circuitos horizontais; ou pode ser praticada na direção de ativar conflitos até o limiar da divisão, fazendo da ambiguidade do líder o único ponto de equilíbrio possível e consagrando a política como atividade dependente de estímulos que podem e até devem vir de baixo, desde que sejam triados pelo vértice. Essa última é a via da ambiguidade virtuosa de Lula e um mandamento que talvez deva ser observado por todos os brasileiros que ajudaram a elegê-lo é lembrar que não se pode eleger Lula e querer que ele seja outro. É assim e assim será. Qualquer projeto democrático que o inclua não deve incluir a hipótese de que um dia ele desça do palanque. Jamais descerá. Se descesse seria menos marcante que um chuchu. Se alguém, como esse colunista, se inquietar ou contrariar com isso, deve observar, durante os próximos quatro anos, um segundo mandamento das urnas, que é imaginar como estaríamos se o eleito tivesse sido o outro. O espirito de quem é democrata sincero ficará mais apaziguado. Mas ao mesmo tempo deve ficar atento a outro ponto da fala do presidente eleito naquela memorável quinta-feira: ele não só exumou o inimigo “mercado”, como o inimigo Bolsonaro, esse de carne e osso, repetindo, em palanque tardio, a pauta de uma campanha que deve dar por encerrada se quiser, de fato, agregar o país. Por mais apaziguados que estejamos com a ambiguidade de Lula, é insólito ouvir o eleito despolarizador do país tirar o capitão do atual ostracismo para convida-lo a se preparar melhor para a “próxima”. Bolsonaro pode virar, a médio prazo, assunto do Poder Judiciário e pé de página na política institucional. Sua irrelevância sistêmica é indispensável para desobstruir o túnel de insatisfeitos, onde ele atua e tem peso. Para pavimentar o túnel e integrar os transeuntes à política da nova avenida Brasil, pelo novo governo e pela nova oposição. E deixar Bolsonaro entregue aos juízes e a André Janones. *Cientista político e professor da UFBa. ***************************************************

Nenhum comentário:

Postar um comentário