Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 8 de novembro de 2022
MUNDO GRANDE, NO FIM
***
Até o Fim
Elis Regina
Ouça Até o Fim
Amor, não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim, eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar
Amor
É como a rosa num jardim
A gente cuida,a gente olha,
A gente deixa o sol bater pra crescer, pra crescer
A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar
Amor não tem que se acabar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem
Não tem que se apagar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem que se acabar
compositores: Gilberto Gil
I Love MPB: Elis Regina (2004) - Elis Regina
Gravadora:
Ano: 2004
Faixa: 14
***
IMPERADOR HIPERBÓLICO
when you do lie down, as well as when you get up, to let that word dominate the conversation (Deut. 6:7).
"Deitado eternamente em berço esplêndido"
***
Wikipédia
Ângulo hiperbólico – Wikipédia, a enciclopédia livre
Deitado eternamente em berço esplêndido / Ao som do mar e à luz do céu profundo, / Fulguras, ó Brasil, florão da América, / Iluminado ao sol do Novo Mundo!
*
A hipérbole é uma figura de linguagem muito comum utilizada para passar uma ideia de intensidade por meio de expressões exageradas intencionalmente. Seu uso é muito frequente em obras artísticas, como em músicas, poesias e filmes, já que é, também, muito vista na linguagem informal.
***
***
Jackson do pandeiro ao vivo e em preto e branco!
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Mundo Grande
Carlos Drummond de Andrade
Ouça Mundo Grande
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.
Ouça Mundo Grande
Composição: Carlos Drummond de Andrade.
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Nas entrelinhas: Lula inicia montagem de sua base no Congresso
Publicado em 08/11/2022 - 07:23 Luiz Carlos Azedo
Carnaval, Comunicação, Congresso, Economia, Eleições, Ética, Governo, Justiça, Memória, Militares, Partidos, Política, Política, Saúde
Lira e Pacheco são importantes para a construção da base parlamentar no novo governo e as medidas dos primeiros 100 dias de governo. O Orçamento de 2023 é uma bomba de efeito retardado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Brasília com um a agenda carregada, na qual constam reuniões com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber. Do ponto de vista prático, isso significa que está operando a transição de governo junto aos demais Poderes, o que deve esvaziar ainda mais o poder do presidente Jair Bolsonaro nos dois meses que lhe restam de mandato. Indagado sobre as tensões políticas pós-eleitorais, um ministro do Supremo que dialoga com os dois lados minimizou a importância dos protestos realizados por bolsonaristas no fim de semana: “Lula já assumiu o vértice do sistema de poder”, ou seja, a alta burocracia federal já o pera a transição político-administrativa como deve ser.
O presidente Jair Bolsonaro, a propósito, continua sem agenda relevante e digerindo o resultado das eleições. Suas declarações são de líder da oposição. Até hoje não reconheceu formalmente a derrota nem cumprimentou o presidente eleito. Em seu pronunciamento após a eleição, deixou claro que considera seu grande legado a formação de uma direita organizada no Brasil. É a primeira vez que um político na Presidência da República se assume como um líder de direita. Líderes da antiga UDN, por exemplo, que eram a expressão da direita golpista durante a guerra-fria, jamais assumiram essa condição. Todos se diziam liberais, como Eduardo Gomes, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto.
Os encontros com Lira e Pacheco são importantes para a construção da base parlamentar no novo governo e a viabilidade das medidas dos primeiros 100 dias de governo. O Orçamento de 2023 é uma bomba de efeito retardado, porque não prevê recursos para o Auxílio Brasil e para as políticas públicas. Por exemplo, verbas para a campanha de vacinação contra a Covid-19, que já dá sinais de que está voltando. Essa negociação é crucial, mas depende também de decisões sobre a equipe econômica do novo governo. A incorporação dos economistas André Lara Resende, Persio Arida e Guilherme Melo na equipe de transição descontentou os economistas do PT, que tinham expectativa de que o ex-senador Aloizio Mercadante fosse anunciado para comandar a política econômica do novo governo.
Governabilidade
A conversa de Lula com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, coordenador da equipe de transição e responsável pela incorporação dos economistas do Plano Real, ontem, pode ter resultado na indicação do futuro ministro da Fazenda (ou da Economia, se for mantida a nomenclatura atual). É preciso pôr fim às especulações no mercado, que estão provocando instabilidade no câmbio e nas ações da Bovespa. Por exemplo, no caso da Petrobras, havia uma quase certeza no mercado financeiro de que a empresa seria privatizada, caso Bolsonaro fosse eleito. Essa possibilidade está descartada, mas ainda permanecem grandes dúvidas quanto à política de preços e as prioridades de investimentos da petroleira.
Pelo acordado durante o fim de semana, Lula deve se reunir com a equipe de transiçao para definir uma solução para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, na tentativa de acomodar a extensão do Auxílio Brasil de R$ 600 para 2023. As conversas de Lula com Pacheco (PSD-MG) e Lira (PP-AL) são fundamentais para a governabilidade do novo governo. No caso de Pacheco, a relação é fundamental para o êxito do governo Lula, porque é uma Casa revisora e que sempre cumpriu um papel relevante no sentido de garantir a governabilidade. Além disso, Pacheco é o mais importante representante do PSD no Congresso, legenda que já negocia, por meio de seu presidente, Gilberto Kassab, sua participação no governo. Partido de centro-direita , a legenda tem 11 senadores e 42 deputados.
Uma conversa estratégica é com Arthur Lira, que controla o Orçamento da União. Seu partido foi a viga mestra da base de sustentação do governo, sob comando do presidente da legenda, Ciro Nogueira, o ministro da Casa Civil e responsável pelo diálogo entre o atual governo e os integrantes da equipe de transição de Lula. O caminho crítico da relação entre Lula e Lira é a eleição para a Presidência da Câmara, chave para os dois primeiros anos de mandato de Lula. Hoje, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, deve revelar se a legenda do presidente Jair Bolsonaro lançará candidato a presidente da Câmara ou apoiará Lira.
Outro elemento complicador na relação com o Congresso é a posição do MDB, cujo presidente, Baleia Rossi (SP), foi adversário de Lira na sucessão de Rodrigo Maia, em 2020. O Renan Calheiros, por cacique da legenda e adversário de Lira, já critica Lula, porque estaria cedendo demais às exigências do Centrão. Com 42 deputados e dez senadores, o MDB saiu muito fortalecido da eleição. Sua candidata, Simone Tebet, foi decisiva para a eleição de Lula e deve integrar o novo governo. O MDB discute com o PSDB o Cidadania e o Podemos a formação de uma frente parlamentar no Congresso e, talvez, uma federação das quatro legendas.
Para aprovar a tal PEC da Transição, Lula precisará contar com o apoio de 219 deputados e 14 senadores que não foram reeleitos.
Compartilhe:
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Até quando as autoridades assistirão passivamente o golpismo bolsonarista?
https://www.youtube.com/watch?v=1cDbVxLDgfc
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A cara da direita no pós-eleição
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O Assunto
28:51
28:51
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No primeiro pronunciamento que fez após perder as eleições presidenciais, Jair Bolsonaro disse: "A direita surgiu de verdade em nosso país". Para o professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, o presidente se referia a uma extrema direita organizada – os mesmos grupos que bloquearam rodovias pelo país e pediram intervenção federal após a vitória de Lula.
"Para ele, [ a extrema direita] é a única que existe", diz. "Não só Bolsonaro, mas o bolsonarismo fez uma operação ideológica muito bem-sucedida durante o governo dele que foi identificar conservadorismo com extrema direita."
O presidente Jair Bolsonaro durante seu primeiro pronunciamento após perder a eleição para Lula — Foto: Eraldo Peres/AP
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O presidente Jair Bolsonaro durante seu primeiro pronunciamento após perder a eleição para Lula — Foto: Eraldo Peres/AP
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Em entrevista a Renata Lo Prete, Marcos Nobre explica ainda a situação dos campos ideológicos da direita no país após as eleições – divididos entre eixos democráticos e antidemocráticos.
"Conservadorismo não tem nada a ver com extrema direita. Ser conservador é ser de direita democrata."
Moderar as pautas radicais impostas extrema direita, afirma Nobre, é uma “emergência democrática” que a suposta frente-ampla armada em torno de Lula não será capaz de fazer sozinha: “É fundamental que surja também uma direita democrática”.
Ouça a entrevista completa no podcast O Assunto.
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Como governo Trump, atos golpistas de Bolsonaro foram plantados muito antes das eleições, analisa professor da FGV
Bolsonaro vai 'infernizar a vida do país até o último dia' para negociar garantias após deixar o poder, analisa Maria Cristina Fernandes
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UOL TAB
Marcos Nobre: 'Todo mundo tem medo do partido digital bolsonarista' - 29/10/2022 - UOL TAB
https://tab.uol.com.br/colunas/daniela-pinheiro/2022/10/29/marcos-nobre-todo-mundo-tem-medo-do-partido-digital-bolsonarista.htm
Marcos Nobre, presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento)
Imagem: Jardiel Carvalho/UOL
Daniela Pinheiro
Colunista do UOL
29/10/2022 04h00
Este texto é parte da versão online da newsletter de Daniela Pinheiro, enviada ontem (28). Na newsletter completa, Daniela fala sobre o ensaísta mineiro Silviano Santiago, que levou o Prêmio Camões, o bate-boca do técnico português do Corinthians com um jornalista e mais. Quer receber o conteúdo completo na semana que vem, por e-mail, com a coluna principal e informações extras? Clique aqui e cadastre-se.
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'Medo de usar vermelho na hora de votar é uma vitória do bolsonarismo'
Nos últimos quatro anos, as análises do filósofo e cientista político Marcos Nobre, presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), funcionaram como sinaleiras, emitindo luzes vermelhas e amarelas a respeito do governo de Jair Bolsonaro — seus impactos e consequências no sistema político e na sociedade brasileira — a quem quisesse ouvir. Uns o fizeram, muitos não.
Logo depois das eleições de 2018, ele já alertava para a necessidade da formação de uma frente ampla de partidos progressistas para enfrentar a ascensão da extrema-direita no país. Enquanto a esquerda festiva, os intelectuais da cerveja artesanal, o pessoal da ciranda e das notas de repúdio gastavam saliva desmerecendo a capacidade política de Bolsonaro, repetindo que era burro e despreparado, que iria cair por sua incompetência atávica, Nobre insistia em ressaltar a estratégia acidental, a constância imponderável e a capilaridade perturbadora das façanhas do capitão.
Nas últimas semanas, ele não se furtou em tentar desvendar também à imprensa estrangeira o que se passou e o que deve acontecer no Brasil a partir de segunda-feira (31), quando já se saberá quem será o próximo presidente do país. Conversei com Nobre sobre a esquerda e a direita, partidos digitais, Carluxo, as lições de 2018 e 2022, o que acontece com o país se Lula ou Bolsonaro vencer, discussões no Zap e mais. A conversa foi condensada e editada para melhor compreensão.
Daniela Pinheiro: Sua agenda de entrevistas para jornais estrangeiros está lotada. O que os gringos não entendem sobre as eleições brasileiras?
Marcos Nobre: Que o que se passa aqui não é uma polarização. Estou há um mês e meio falando isso todo dia. Outro dia falei para o jornalista do Washington Post: "Presta atenção, vocês já erraram no Trump, não vão repetir aqui!". Polarização é o que existe quando forças opostas disputam o poder aceitando as regras do jogo democrático. Aqui é divisão, é algo mais profundo. É quando essas regras não são mais suficientes para resolver as disputas e os conflitos que aparecem na democracia. E aí, tudo é possível.
E o que eles não entendem?
MN: As instituições democráticas americanas têm mais de 200 anos. A ideia de uma ameaça que acabe com elas nem sequer passa pela cabeça deles. É diferente aqui. Sabemos que aqui as instituições são frágeis, não têm longevidade ou solidez comparadas às dos Estados Unidos. Temos uma cultura política democrática muito pouco enraizada. Esse negócio de democracia demora para se enraizar de verdade.
Outro dia, um português ficou estarrecido por eu ter perguntado ao ministro Gilmar Mendes numa entrevista se as instituições estavam funcionando. Ele disse que só de haver tal pergunta já era prova de que não estavam.
MN: Exato. E essa é a vitória do bolsonarismo. É acordar todo dia, dizer para si mesmo ou ouvir de alguém que as instituições estão funcionando e achar que elas estão. Tem muito de pensamento mágico nisso. Não nos organizamos para enfrentar a extrema-direita, apesar de tudo indicar que deveríamos tê-lo feito. Não aprofundamos a democracia nas instituições e na sociedade. Então, nos sentimos despreparados. E, quando não há ferramentas para lidar com isso, o pensamento mágico ganha terreno.
Como foi isso?
MN: Se eu passar quatro anos falando que o Bolsonaro está fraco, acuado, acabado, ele se torna isso. Na minha cabeça apenas, claro. Isso é a contrapartida da própria impotência da sociedade e das instituições contra uma ameaça de quilate. O pensamento mágico tem essa função. Não foi feito só pelas pessoas, em geral.
Foi fermentado na academia, por gente da universidade, que ficou falando o tempo todo para as pessoas que elas não se preocupassem porque ele tinha os dias contados, que ia se autodestruir, que era incompetente, burro, que não era perigo. Isso foi dito e repetido por gente que sabia o que estava acontecendo. Isso me revolta, sabe? É legitimar a impotência geral da sociedade. Porque a verdade é o contrário. Bolsonaro acuado é exatamente uma característica do político antissistema. Ele é excluído e oprimido pelo sistema e por isso precisa reagir contra tudo. E assim cresce. Essa lição não se aprendeu. E há novas agora em 2022 urgentes de serem absorvidas. Até porque, quando uma ameaça é neutralizada ou afastada, as pessoas passam a achar que não aconteceu nada, que zerou, que agora vai. Não é assim. Esse é o outro lado do pensamento mágico."
Marcos Nobre, cientista político
Essa cegueira alheia sobre os riscos de Bolsonaro era arrogância?
MN: Era pensamento mágico, mas o pensamento mágico também é arrogância. E também houve o erro brutal cometido pela direita: fazer o impeachment da Dilma. Aquilo destruiu todas as regras de convivência política básicas, amplificou a divisão e transformou a política em guerra. O que parecia ser uma estratégia política simples -- entregar a esquerda para as piranhas e tomar conta --, deu toda errada. Não só pela injustiça como pelo absurdo político, mas porque o sistema político brasileiro foi destruído.
Você mencionou a postura dos intelectuais, da academia. Não há como redimir a esquerda, imagino. A baixaria política pegando fogo na campanha, e Lula gravando vídeo com artistas cantando Lula-lá. Poderia comentar?
MN: Você poderia me fazer essa pergunta depois das eleições? Agora eu não posso falar. É lavação de roupa suja. Não vou fazer isso nesse momento.
No caso de uma derrota de Bolsonaro, você defende que o partido digital bolsonarista -- um canhão usado pelo governo e na campanha eleitoral -- será a força motora de uma oposição desleal e baixa nas redes. Do outro lado, o PT ainda vive no mundo analógico. Um dirigente petista me disse que grandes estratégias são boladas pelo Stuckinha, fotógrafo do presidente, e pela Janja, mulher dele, com Mercadante palpitando. Como é possível imaginar um enfrentamento da máquina digital bolsonarista assim?
MN: Há muitas camadas nisso. Uma outra lição não aprendida em 2018 foi que política que não for feita também de maneira digital está fora do mundo atual. E fazer política assim é muito diferente. Há partidos que nascem digitais -- como o que eu chamo de o partido digital bolsonarista -- e se apresentam de duas formas. Ou querem imitar plataformas em termo de organização, como o Facebook, ou estão reunidos em torno de um líder -- no caso, Bolsonaro -- e podem se apropriar do partido analógico que quiser, assim como fizeram no passado com o PSL e agora com o PL, tanto faz. Do outro lado, estão os partidos tradicionais em processo de digitalização. E sabe-se que esses não estão funcionando bem.
Por conta da enraizada mentalidade analógica do PT?
MN: Não adianta você querer apenas ter estratégia de digitalização de partido tradicional. É preciso criar, de fato, um partido digital -- que é algo absolutamente diferente e próprio. No entanto, fazer isso significa, do ponto de vista do partido tradicional, abrir mão de poder. E aí a coisa pega.
É deixar o moleque de moletom dar palpite do que fazer com toda imagem do Lula.
MN: É mais do que palpite. É jogar tudo na mão do moleque. Num partido tradicional, qualquer mudança na correlação de forças internas é encrenca. Ninguém quer. Aliás, quem está excluído da hierarquia quer, mas essas pessoas não conseguem mudar nada sozinhas. Então, existe, sim, uma competição desigual.
Há quem use o argumento do partido digital bolsonarista como um demérito. 'Ah, não conseguem nem fazer um partido de verdade?'
MN: É um erro. Eles não querem fazer um partido de verdade, esse é o ponto. Para que precisam se podem se apropriar de um já pronto? Nos Estados Unidos, seria difícil porque há apenas dois. Mas no Brasil? Há mais de trinta à disposição.
E, aparentemente, a combinação deu certo.
MN: Claro. Uma outra coisa que a eleição de 2022 mostra é que a combinação do partido tradicional com o partido digital bolsonarista é muito eficaz. Quando os interesses de ambos convergem, eles rumam para o mesmo caminho. Quando não, disputam entre si. Isso é novo. Veja o que aconteceu na eleição para o Senado no Distrito Federal. Damares Alves competia com Flávia Arruda. Ganhou o partido digital bolsonarista contra a forma tradicional. Durante o debate, Bolsonaro mencionou o Capitão Contar, e o cara foi para o segundo turno, talvez ele ganhe a eleição para o governo de Mato Grosso do Sul. E isso ia contra a aliança que o PL tinha feito com a Tereza Cristina, bolsonarista do PP, para apoiar outro candidato do Estado. Então, assim combinados, eles rumam na mesma direção, somam interesses, engrossam o caldo. Isso é poderoso.
Dito assim, fica claro que é praticamente impossível para o PT derrotar o partido digital bolsonarista.
MN: É outra questão para você me fazer depois das eleições.
A única certeza que se tem é de que em três dias haverá um país onde 50% da população odeia o presidente e as outras pessoas que votaram nele. Aconteceu algo parecido nos EUA, e recentemente uma pesquisa mostrou que 43% dos norte-americanos hoje acham que o país estará em guerra civil em dez anos.
MN: No Brasil não aconteceu e nem deve acontecer guerra civil. Isso não está no horizonte. É diferente nos Estados Unidos, onde, por baixo, a população tem 50 milhões de armas. Aqui, digamos, há 2 milhões. Quando não se tem uma guerra clássica, há duas soluções: a primeira é o fechamento autoritário. Uma metade põe suas regras para a outra, e acabou. Ele vai seguir à risca o manual do populista de extrema-direita. Hoje, já se tem uma grande vitória do bolsonarismo, que é o medo que as pessoas têm de falar, de vestir vermelho na hora de votar. Quando sete entre dez pessoas no Brasil têm medo de expressar a própria opinião em público, isso mostra uma vitória do bolsonarismo, concorda? E a outra solução é que um governo progressista dê alguma perspectiva de futuro para quem votou no Bolsonaro, por exemplo, e então se consiga recompor esse pacto de convivência política isolando a extrema-direita, reconstruindo a direita democrática. A Hungria demorou dez anos tentando e perdeu. Então, não temos tempo. Se eles ficam duas eleições, acabou.
E o canhão digital de oposição continuará disparando para matar no pântano das redes sociais.
MN: Todo mundo morre de medo do partido bolsonarista digital porque ele destrói as pessoas.
Todo mundo que levantou a cabeça contra Bolsonaro foi decapitado. A única pessoa que sobreviveu ao partido digital bolsonarista foi Sergio Moro, que voltou rastejando, pedindo perdão. Ele foi eleito senador, esteve com Bolsonaro no debate, formulou perguntas, implorou perdão e o teve. E as tantas que destruiu? Witzel, Joyce, Frota, Janaína, o Weintraub! O cara foi ministro da Educação dele. Não se elegeu. Estamos falando de um mecanismo muito eficaz."
Marcos Nobre
Carluxo é um gênio?
MN: Não é só o Carluxo. O Tércio Arnaud (que também integra o chamado gabinete do ódio, afastou-se e voltou depois de derrotado nas últimas eleições na Paraíba) sabe lidar muito bem com as redes. Fora todas as conexões internacionais deles, que estão unidas na formação real de uma internacional autoritária. Isso é um fato. Olha o que aconteceu com a Índia, o peso de um país daquele tamanho nesse plano. Com os Estados Unidos também sob ameaça, a eleição brasileira é de uma importância crucial. Seria mais um bastião democrático relevante a cair no autoritarismo eleitoral.
Como a política afetou a sua vida pessoal nos últimos quatro anos? Perdeu amigos, saiu dos grupos de Zap da família?
MN: Não mudou muito o que eu penso desde 2018. Ali, eu já falava que ele ia mirar uma base de apoio de 40%, que tinha um partido digital poderoso, que a esquerda não ia conseguir derrotá-lo sozinha, que parassem de chamá-lo de burro. Passaram quatro anos jogando pedra na minha cabeça, dizendo que esse negócio de frente ampla era desnecessário, que o Lula ia voltar e resolver tudo. Era solitário. Virei um estranho em todos os lugares: na direita, na esquerda, no centro.
Rompeu com algum amigo ou parente por conta da política?
MN: Quando chega no ponto da ruptura, eu paro. Eu sempre recuo. Temos que preservar o afeto. Não necessariamente o futuro porque esse ficou comprometido, mas o afeto passado, o que tal pessoa foi na sua história, a democracia compartilhada. Mas, sem dúvida, a proximidade desaparece.
E aí só conseguimos conversar bobajadas sobre se vai chover ou não.
MN: Nem isso. Até porque se você disser "Olha, o tempo não está bom" é capaz de acharem que isso quer dizer alguma coisa. A política invadiu todos os aspectos da vida. Espero que possamos conviver de novo como antes, mas é difícil.
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Para Bolsonaro, extrema direita é a única que existe, avalia Marcos Nobre
Em entrevista a Renata Lo Prete, Marcos Nobre explica ainda a situação dos campos ideológicos da direita no país após as eleições – divididos entre democrática e antidemocrática.
07/11/2022 05h00 Atualizado há um dia
No primeiro pronunciamento que fez após perder as eleições presidenciais, Jair Bolsonaro disse: "A direita surgiu de verdade em nosso país". Para o professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, o presidente se referia a uma extrema direita organizada – os mesmos grupos que bloquearam rodovias pelo país e pediram intervenção federal após a vitória de Lula.
"Para ele, [ a extrema direita] é a única que existe", diz. "Não só Bolsonaro, mas o bolsonarismo fez uma operação ideológica muito bem-sucedida durante o governo dele que foi identificar conservadorismo com extrema direita."
O presidente Jair Bolsonaro durante seu primeiro pronunciamento após perder a eleição para Lula — Foto: Eraldo Peres/AP
O presidente Jair Bolsonaro durante seu primeiro pronunciamento após perder a eleição para Lula — Foto: Eraldo Peres/AP
Em entrevista a Renata Lo Prete, Marcos Nobre explica ainda a situação dos campos ideológicos da direita no país após as eleições – divididos entre eixos democráticos e antidemocráticos.
"Conservadorismo não tem nada a ver com extrema direita. Ser conservador é ser de direita democrata."
Moderar as pautas radicais impostas extrema direita, afirma Nobre, é uma “emergência democrática” que a suposta frente-ampla armada em torno de Lula não será capaz de fazer sozinha: “É fundamental que surja também uma direita democrática”.
Ouça a entrevista completa no podcast O Assunto.
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segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Celso Rocha de Barros - Jair se mostrou no fim
Folha de S. Paulo
Presidente tentou golpe de estado e incentivou golpistas com silêncio
Jair Bolsonaro não deixou que a derrota na eleição presidencial abalasse sua rotina.
Na semana passada, tentou um golpe de estado e se absteve de trabalhar, como em qualquer outra semana dos últimos quatro anos.
Bolsonaro não reconheceu a legitimidade da eleição. Incentivados pelo silêncio do presidente, seus seguidores estão tentando dar um golpe ocupando estradas e protestando em frente aos quartéis, pedindo aos militares que, como em 1964, desertem, roubem as armas da República e as usem em favor de sua facção política preferida.
Só me resta agradecer você, Jair. Se você não tivesse continuado sendo golpista semana passada, a operação para fingir que você nunca fez nada demais nos últimos quatro anos já estaria em curso.
Em todos os momentos em que o establishment tentou fingir que você era um democrata, Jair, você foi nosso melhor aliado para provar que não.
A propósito, se a esquerda tivesse perdido e estivesse protestando contra as operações da Polícia Rodoviária Federal no dia da eleição —essa, sim, uma tentativa de fraude eleitoral— pode apostar que todo mundo que está "tentando entender" os golpistas nas estradas estaria escrevendo: "Olha só, no final das contas a esquerda é que era golpista".
Você já pensou os nomes de quem estaria escrevendo isso, não? Aposto que acertou.
Me deprime muito saber que nem todo mundo que atentou contra a democracia –já não digo nem nos últimos quatro anos, mas pelo menos nos últimos 15 dias– será punido.
Mas, enfim, tudo sempre dá meio errado, inclusive as coisas ruins: e é possível que desta vez a tradição brasileira de acordão, anistia e impunidade não se confirme em alguns casos.
Amigo bolsonarista, você me desculpe, mas Alexandre de Moraes não roubou a eleição para a esquerda. Ele impediu o Jair de roubar a eleição. Já teve juiz roubando eleição, mas não foi essa nem foi para a esquerda.
O que a direita brasileira precisa responder nos próximos anos é o seguinte: vocês são Fábio Faria e Eduardo Bolsonaro tentando adiar as eleições na última semana? Vocês são Roberto Jefferson atirando na polícia? Vocês são Zambelli apontando arma pela rua?
Vocês são o diretor da Polícia Rodoviária Federal tentando impedir pobres de votarem no domingo e deixando os golpistas ocuparem as estradas na segunda? Vocês são o maluco pendurado na frente do caminhão em disparada? Vocês estão na frente dos quartéis tentando melar as eleições? Vocês são Jair Bolsonaro, o sujeito por trás disso tudo?
A essência do bolsonarismo ficou clara na semana passada. Você é isso?
Eu imagino que, para a imensa maioria dos eleitores de Bolsonaro, a resposta seja não.
A grande maioria deles é simplesmente gente de direita que vota no candidato de direita com mais chance de vencer a eleição, e, durante o processo, mais ou menos aceita seu discurso de campanha. Ninguém precisa deixar de ser de direita para largar a bagagem do bolsonarismo.
Por isso, é evidente o alívio com que muita gente, no mundo político, empresarial e até religioso, já se despediu de Bolsonaro.
Para muita gente que viveu o transe do bolsonarismo, a experiência de uma bad trip está acabando. Os irremediavelmente viciados estão na porta dos quartéis em busca de drogas mais pesadas.
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:24:00
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4 comentários:
Anônimo disse...
Aprendi que em português não se pode iniciar uma frase com pronome oblíquo igual a “Me deprime”, mudaram-se as regras? A pergunta tem a finalidade de me inteirar e não de corrigir, quem sou eu para corrigir um excelente jornalista.
7/11/22 17:32
Anônimo disse...
Aumentou a tolerância com este tipo de frase. Num português mais formal, muitos evitam escrever assim. Mas, falando ou escrevendo com menor formalidade, é aceitável ou até meio normal.
7/11/22 18:30
Anônimo disse...
Obrigado pelo esclarecimento, meu português é arcaico.
8/11/22 01:07
ADEMAR AMANCIO disse...
''Me deprime muito'',eu achei estranho apenas o ''muito'',rs.
8/11/22 03:16
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Machado de Assis descartou sabiamente versos do hino nacional
Com tom extremamente laudatório, escritor caracteriza hiperbolicamente D. Pedro 2º como gigante do Brasil
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Machado de Assis descartou sabiamente versos do hino nacional - 22/09/2018 - Ilustrada - Folha
Com tom extremamente laudatório, escritor caracteriza hiperbolicamente D. Pedro 2º como gigante do Brasil
2:08 AM · 22 de set de 2018
https://twitter.com/folha/status/1043366288960245760
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Versão do hino nacional composta por Machado de Assis é encontrada na Biblioteca Pública de SC
Estrofes compostas pelo escritor foram publicadas em jornal de Florianópolis de 1867.
Por G1 SC
30/09/2018 09h30 Atualizado há 4 anos
Pesquisador descobre em SC versão do hino nacional composta por Machado de Assis
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Pesquisador descobre em SC versão do hino nacional composta por Machado de Assis
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Durante anos, a Biblioteca Pública de Santa Catarina guardou um segredo no seu acervo: uma versão desconhecida do hino nacional brasileiro. E ela foi composta por um dos maiores escritores do país, Machado de Assis.
A descoberta é do pesquisador paraense Felipe Rissato, que vasculhou o acervo do local. Em um anúncio no extinto "O mercantil", de 8 de dezembro de 1867, era relatado que naquele domingo aconteceria um espetáculo de gala num teatro da cidade de Desterro, antigo nome de Florianópolis.
Diz o anúncio que o hino nacional seria executado com uma "letra adaptada pelo distinto escritor brasileiro, Senhor Machado d'Assis.", na grafia antiga.
"Machado não era o grande Machado de Assis, mas ele já era um autor conhecido. Então eu acredito que não foi ele que ofereceu os versos, foi a companhia dramática que o solicitou", conta Rissato.
Para encontrar a letra da versão de Machado de Assis, o pesquisador teve que olhar outro jornal - "O Constitucional". Que, três dias depois do espetáculo, publicou as estrofes.
"Era comum os escritores publicarem nestes folhetins suas poesias, nestes jornais de circulação. Era um espaço de circulação da sua produção textual e literária", disse o bibliotecário Alzemi Machado.
O anúncio não diz onde aconteceu o espetáculo, mas é possível ter ocorrido no maior teatro de Desterro na época, o São Pedro de Alcântara. Ele foi demolido dois anos depois, em 1869. E com seus escombros foram embora os vestígios da apresentação.
Também não há nenhum registro de que Machado esteve em Desterro para assistir sua homenagem ao imperador.
Com a descoberta, esta é a quarta letra já feita para o hino nacional no período do Império. A letra machadiana tecia bajulações ao imperador Dom Pedro II.
Veja a letra:
Das florestas em que habito
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Enche o peito brasileiro
Doce luz, almo fervor
Ante o dia abençoado
Do grande Imperador
Das florestas em que habito
Solto um canto varoniil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Em firme o trono sentado
O colosso Imperial
Tem por base de grandeza
O coração nacional.
Das florestas em que habit
Solto um canto varonil:
Em honta e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Correm anos, e este dia
Surge na terra da Cruz:
Abre-se a alma do povo
Jorra do Céu nova luz.
Das florestas em que habito
Solto um canto varonil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2018/09/30/versao-do-hino-nacional-composta-por-machado-de-assis-e-encontrada-na-biblioteca-publica-de-sc.ghtml
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03/10/2018 - 11h20min
Descoberta letra do hino nacional escrita por Machado de Assis
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Foto: arquivo pessoal
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Os meios culturais e historiográficos brasileiros ainda repercutem a divulgação, no final de setembro, da descoberta no acervo da Biblioteca Pública de Santa Catarina, de uma versão inédita do hino nacional composta por pelo escritor Machado de Assis. Com sete estrofes, a obra foi escrita em 1867 para celebrar o aniversário do imperador Dom Pedro II.
O pesquisador Felipe Rissato, que reside em Belém do Pará, descreve a seguir, com mais detalhes, como foi o processo que resultou no achado da composição e o que ela representa para o país.
Agência AL – Como você chegou até a obra?
Rissato – Eu sou formado em publicidade, mas há três tenho como hobby pesquisar textos perdidos de Machado de Assis, tendo já encontrado neste período algumas coisas do autor, como poesias, mas também fotografias. Há três meses encontrei a sua última fotografia feita em vida até então, de janeiro de 1908. Ele viria a falecer no dia 29 setembro daquele ano. Há dois anos, pesquisando na hemeroteca da Biblioteca Nacional, encontrei no jornal “O Mercantil”, de 1º de dezembro de 1867, o anúncio de que seria feito um espetáculo na cidade de Desterro, como era conhecida Florianópolis na época, em homenagem a Dom Pedro II. O ato estava marcado para o dia seguinte, dia 2, que é a data natalícia de Dom Pedro II, e aconteceria com a exibição do retrato dele e, logo após, a companhia dramática entoaria o hino nacional. E esse hino teria a letra escrita pelo próprio Machado de Assis. Isso foi o que dizia o anúncio. No dia 8 o anúncio é repetido e o jornal em suas edições posteriores não falou mais nem sobre o espetáculo, nem sobre o hino. E ficou nisso. Então busquei alguns outros jornais de Santa Catarina da época, mas não encontrei nada, mas recentemente, pesquisando na Biblioteca Pública de Santa Catarina de forma on line, encontrei o hino nacional publicado no jornal “O Constitucional”.
Agência AL – Como é este hino machadiano?
Rissato – Basicamente, seguia a forma como eram feitos os hinos na época. Eram sete estrofes, com os estribilhos, que eram os refrões, intercalados com os demais versos.
Agência AL – Machado de Assis já era um escritor famoso na época em que escreveu o hino? Rissato – Ele já tinha várias obras publicadas, como o livro de poesias “Crisálidas”, traduções de peças teatrais de outros autores e algumas de sua própria autoria, que já haviam sido inclusive encenadas. Seu primeiro romance, chamado “Ressurreição”, só sairia, entretanto, em 1872, cinco anos após a criação do hino.
Agência AL – O que essa descoberta representa para a história do Brasil?
Rissato – Ela demonstra que o nosso maior escritor era também defensor da monarquia, como todos nós sabíamos pela leitura das suas crônicas. Com esse mesmo hino de 1867, ele foi agraciado com a Ordem da Rosa pelo próprio Dom Pedro II, uma condecoração importante para as pessoas civis.
Agência AL – O hino consiste então em uma homenagem a Dom Pedro II?
Rissato – Em 1855, quando tinha 16 anos de idade, Machado já havia publicado no jornal “A Marmota”, no dia do aniversário de Dom Pedro, um poema, um sonetinho em homenagem ao monarca. Em 1860, Dom Pedro viajou pelo norte e nordeste do país e quando retornou ao Rio de Janeiro foi feita uma litografia com efígie dele e da imperatriz Tereza Cristina, no qual no centro havia um poema composto também por Machado de Assis. Então este hino nacional foi, no caso, a terceira homenagem poética de Machado a Dom Pedro II.
O hino de Machado:
Das florestas em que habito
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Enche o peito brasileiro
Doce luz, almo fervor
Ante o dia abençoado
Do grande Imperador
Das florestas em que habito
Solto um canto varonil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Em firme o trono sentado
O colosso Imperial
Tem por base de grandeza
O coração nacional.
Das florestas em que habito
Solto um canto varonil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Correm anos, e este dia
Surge na terra da Cruz:
Abre-se a alma do povo
Jorra do Céu nova luz.
Das florestas em que habito
Solto um canto varonil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Alexandre Back
AGÊNCIA AL
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At the end, Chesterton gives his qualification for lying in bed:
…If you do lie in bed, be sure you do it without any reason or justification at all. I do not speak, of course, of the seriously sick. But if a healthy man lies in bed, let him do it without a rag of excuse; then he will get up a healthy man. If he does it for some secondary hygienic reason, if he has some scientific explanation, he may get up a hypochondriac.
On ‘On Lying in Bed’ by G.K. Chesterton
G.K. Chesterton, On Lying in Bed, from In Defense of Sanity, pp. 39-42. Read the essay online HERE.
https://recognizingchrist.com/2013/12/17/on-on-lying-in-bed-by-g-k-chesterton/
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Ouso dizer que quando me levantar desta cama me espera um gesto de terrível virtude. Para aqueles que estudam a grande arte de viver na cama, devo de forma enfática incluir uma palavra de cautela. Que serve também aqueles que podem trabalhar na cama (como os jornalistas) e até aqueles que não podem trabalhar na cama (como os arpoadores de baleias), e claro que a indulgência deve ser ocasional. Mas não e este o aviso de cuidado que quero dar. A palavra de cautela e esta: se você ficar na cama até tarde, faca isso sem nenhuma justificativa. não estou falando, e claro, para os enfermos. Mas se um homem saudável resolve ficar deitado, deve fazê-lo sem nenhuma desculpa; assim e só assim ele se levantara saudável. Se fizer isso com o álibi de alguma razão higiênica ou com alguma explicação cientifica, corre o risco de se levantar hipocondríaco.
Deitado na cama
G. K. Chesterton
Tradução de Octavio Marcondes
Retirado do livro ‘Os cem melhores contos de humor da Literatura Universal’.
Título original em inglês ‘On Lying in Bed’.
Ficar deitado na cama seria, tudo considerado, uma perfeita e suprema experiência se ao menos tivéssemos um lápis de cor longo o bastante para desenhar no teto.
https://www.sociedadechestertonbrasil.org/deitado-na-cama/
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