Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos.
As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
No jogo se perde ou se ganha Caminho que leva, que traz
Não vou, não vou pra Brasília Nem eu nem minha família
O princípio da igualdade material é prestigiados por ações afirmativas. No entanto, utilizar, para qualquer outro fim, a diferença estabelecida com o objetivo de superar a discriminação ofende o mesmo princípio da igualdade, que veda tratamento discriminatório fundado em circunstâncias que estão fora do controle das pessoas, como a raça, o sexo, a cor da pele ou qualquer outra diferenciação arbitrariamente considerada. Precedente do CEDAW. [ADI 5.617, rel. min. Edson Fachin, j. 15-3-2018, P, DJE de 3-10-2018.]
Billy Blanco
(8 de maio de 1924, Belém - 8 de julho de
2011, Rio de Janeiro)
Billy
Blanco - "A Banca Do Distinto" - A Bossa De Billy Blanco
Dóris
Monteiro
Não fala com pobre, não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor
Pra que esse orgulho
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal
Elis
Regina. Banca do Distinto.
Museu
da Canção
“Este blog visa resgatar e/ou preservar pérolas da
MPB. Buscamos enriquecer as informações com o histórico das canções e algumas
informações que possam agradar aqueles que buscam aumentar sus conhecimentos
sobre a fantástica música brasileira, bem como seus compositores e intérpretes.
terça-feira, 20 de novembro de 2012”
A Banca do Distinto
Wanderléa
Elza
Soares
Dolores
Duran
“Esta é uma composição de Billy Blanco(1924-2011)
que nasceu de um fato inusitado porém marcante. A inspiração veio a partir de
um relato de preconceito feito por Dolores Duran ao compositor.
Conta Billy Blanco que, por volta de meados dos anos 50, no auge do Beco das
Garrafas em Copacabana, Dolores Duran cantava numa daquelas boates. Tinha um
homem que sempre ia aos shows da Dolores porque gostava muito da voz dela,
porém odiava negro ou afro-descendente, o caso de Dolores Duran.
O “doutor” ia ao show toda noite, sentava-se na primeira fileira de mesas, mas
sempre de costas para o palco. Não dirigia um única palavra a ela porque não
falava com negros. Sequer a olhava! Quando queria pedir uma música, dirigia-se
ao garçon - Alberico Campana, hoje dono da Plataforma no Rio de Janeiro - e
dizia, acenando com um bilhetinho na mão: “Manda a neguinha cantar essa música
aqui!”
Todo final da noite, pelo fato de ser solteiro, o tal sujeito sempre comprava o
jantar e levava para casa, como não carregava embrulhos - que segundo ele era
serviço de negro - pedia ao garçon que levasse até o seu automóvel.
Dolores, profissonal e pacientemente atendia os pedidos do “doutor”. Nessa
época, ela e Billy Blanco - segundo ele - mantinham um “affair”.
Um dia, muito aborrecida com a grossura do
sujeitinho, Dolores contou a história ao Billy que, imediatamente compôs o
samba “A BANCA DO DISTINTO”. E aí…, na noite seguinte Dolores Duran cantou o
samba para o “doutor”.
Em 1959 a música foi gravada na voz de Isaurinha
Garcia. Posteriormente várias outras gravações vieram, como as de Elza
Soares,Neusa Maria, Dóris Monteiro, Elis Regina e Jair Rodrigues.”
A BANCA DO DISTINTO
(Billy Blanco)
Não fala com pobre
Não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Prá quê tanta pose, doutor
Prá quê esse orgulho
A bruxa que é cega
Que carrega a gente
E a vida estanca
O infarto lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim
Põe o homem no alto
E retira a escada
Mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde
Ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro
Maior é o tombo do côco
Afinal, tomo mundo é igual
Quando o tombo termina
Com terra por cima
E na horizontal.
A
Banca do Distinto
Isaurinha
Garcia
Não fala com pobre, Não dá mão a preto, Não carrega
embrulho, Pra que tanta pose "Doutor" ? Pra que esse orgulho ? A
bruxa, que é cega, Esbarra na gente, E a vida estanca, Um enfarto lhe pega
"Doutor" ! E acaba essa banca ! A vaidade é assim, Põe o bobo no
alto, E retira a escada, Mas fica por perto, Esperando sentada, Mais cedo ou
mais tarde Ele acaba no chão. Quanto mais alto é o coqueiro, Maior é o tombo,
do coco, afinal, Todo mundo é igual, Quando o tombo termina, Com terra por
cima, E, na horizontal !
A
Banca Do Distinto
Teresa
Cristina
A
Canção Contada
A banca do distinto
Billy Blanco
“Originalmente lançada em julho de 1959, no compacto
duplo “Dolores Duran no Michel de São Paulo” (não gravado ao vivo, apesar do
título) (ouça adiante!). Vinte anos depois do lançamento (e da morte
prematura de Dolores), a Copacabana lançou um LP duplo em que revestiu suas
antigas gravações com novo acompanhamento, orquestrado e dirigido por Élcio
Álvares, dentro de uma série chamada “Galeria dos imortais” (que não passou
desse volume!). A crítica e o público gostaram do resultado, mas a ideia não
pegou.
Extraído de Samuel Machado Filho”
Billy
Blanco
A
Banca do Distinto
A7+
Violão e guitarra
Intro: A7+ D/E A7+ G7+ A7+ G#m7
C#7/9 F#m7 E7+ D7+ D/E
D/EBm7E7/9
Não fala com pobre, não dá mão a preto
A7+
Não carrega embrulho
Bm7
Pra que tanta pose, doutor
E7/9A7+
Pra que esse orgulho
Bb/C C7/9Bm7E7/9
A bruxa que é cega esbarra na gente
A7+
E a vida estanca
Bm7
O enfarte lhe pega, doutor
E7/9A7+
E acaba essa banca
Eb7/9D7+G#5+/7
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
G7/13
E retira a escada
F#5+/7Bm7/9
Mas fica por perto esperando sentada
F7/9E7/9F#/G#
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
A7+D7+D#°A7+
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
F#7/13F#5+/7 Bm7/9
Todo mundo é igual quando a vida termina
E7/9A7+
Com terra em cima e na horizontal
Neusa
Maria / Wanderléa - A Banca do Distinto
Música
A Banca do Distinto
Artista
Wanderléa
Álbum
Nova Estação
Leila
Pinheiro - A Banca Do Distinto
Música
A Banda do Distinto
Artista
Billy Blanco
Álbum
A Bossa de Billy Blanco
A
Banca do Distinto – Jair Rodrigues
Billy
Blanco sofreu uma parada cardíaca numa sexta (Reprodução/Folha)
“O compositor Billy Blanco morreu às 8h10 desta
sexta-feira, 8, aos 87 anos, vítima de uma parada cardíaca. Ele estava
internado no Hospital Pan-Americano, na Tijuca, Zona Norte do Rio, desde
outubro do ano passado, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral).
Nascido em Belém (PA), o compositor decidiu estudar arquitetura
em São Paulo, em 1946. Lá, iniciou sua carreira de compositor. Depois se mudou
para o Rio, onde a carreira ganhou novo impulso.
Blanco compôs músicas como “Estatutos de Gafieira”,
“Viva meu Samba” e “Sinfonia do Rio de Janeiro”.”
Billy
Blanco - Canto Chorado
“Este vídeo é uma homenagem à um dos grandes ícones
da Música Popular Brasileiro - BILLY BLANCO.
This video is a tribute to one of the great icons of
Brazilian Popular Music - BILLY BLANCO
Música extraida do CD "Informal" gravado
ao vivo em 1998. Music extracted from the CD "Informal" recorded live
in 1998.
Canto
Chorado
O que dá pra rir dá pra chorar Questão só de peso e
medida Problema de hora e lugar Mas tudo são coisas da vida O que dá pra rir dá
pra chorar
No jogo se perde ou se ganha Caminho que leva, que
traz Trazendo, alegria tamanha Levando, levou minha paz Tem gente que ri da
desgraça Duvido que ria da sua Se alguém escorrega onde passa Tem riso do povo
na rua
Alegre é lugar de chegada É triste com gente
partindo Tem sempre o adeus da amada O riso chorado mais lindo Eu posso cantar
meu lamento Também sei chorar de alegria As velas no mar querem vento No porto
é melhor calmaria
Só mesmo a palavra "sofrência" Que em
dicionário não tem Mistura de dor, paciência Que é riso e que é pranto também
Define o Nordeste que canta O canto chorado da vida Reclamam no Sul chuva tanta
Errou de lugar na caída
O que dá pra rir dá pra chorar Questão só de peso e
medida Problema de hora e lugar Mas tudo são coisas da vida O que dá pra rir dá
pra chorar”
Trecho
de "Não vou pra Brasília", de Billy Blanco
Autor: Billy Blanco Intérprete: Os Cariocas Ano:
1957
Trecho da letra:
Eu não sou índio nem nada Não tenho orelha furada
Nem uso argola pendurada no nariz Não uso tanga de pena E a minha pele é morena
Do sol da praia onde nasci e me criei feliz
Não vou, não vou pra Brasília Nem eu nem minha
família Mesmo que seja pra ficar cheio da grana A vida não se compara Mesmo
difícil e tão cara Quero ser pobre sem deixar Copacabana
"Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões..."
Conceito
de Língua
Denomina-se língua ao sistema linguístico empregado por uma determinada
comunidade para a comunicação entre seus membros. Os membros desta comunidade
conhecem as regras e os elementos que formam o sistema anteriormente
mencionado, e mediante estes recursos finitos que possuem, é possível criar uma
vastíssima (por não dizer infinita) quantidade de mensagens.
"Na polarização das opções por candidatos, neste momento, mais da metade dos eleitores ficará fora da decisão eleitoral." José de Souza Martins: Nosso binarismo ideológico
MOURÃO
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
“...Não será a última, pois Mourão não consegue
conter a língua nos limites geográficos de sua boca.” Josias de Souza
'Não aceito resultado diferente da minha eleição',
afirma Bolsonaro
Presidenciável ainda disse que pediu para seu vice
ficar 'quieto' porque estava 'atrapalhando"
28.set.2018 às 18h35Atualizado: 28.set.2018 às 22h38
Guilherme Seto
"É questão de tempo pra gente tomar o
poder", diz Dirceu
28 SET2018
12h39
José
Dirceu: “O problema do Bolsonaro é do PSDB e DEM. Sem Lula, temos Ciro e Haddad”
Ex-ministro de Lula viaja de ônibus pelo país, para
lançar livro escrito enquanto estava preso, e diz que não pretende participar
do Governo se o PT ganhar a eleição. “A elite que reze para que eu fique bem
longe”
EL PAÍS
ELEIÇÕES 2018
MARINA ROSSI
Twitter
Recife 26 SET 2018 - 18:30 BRT
“Prazer, sou Zé Dirceu. Desculpe o atraso”.
Assim o homem que já foi o mais poderoso do Governo Lula, condenado a mais de
30 anos de prisão, chegou, atrasado mais de uma hora, para a entrevista
concedida ao EL PAÍS dentro de um ônibus leito em Jaboatão dos Guararapes,
Região Metropolitana do Recife. É nesse ônibus que José Dirceu (Passa Quatro,
1946), ex-ministro-chefe da Casa Civil, está viajando desde o início de
setembro para divulgar seu livro Zé Dirceu – Memórias volume
1 (editora Geração). Assessores, o editor, a mulher, a filha de sete anos
e a sogra acompanhavam a viagem do petista naquela semana, que incluiu Sergipe,
Maceió, Pernambuco e Paraíba. A expectativa é visitar todos os Estados do país
até o final de novembro.
O primeiro volume do livro – que vendeu 25.000
exemplares e está na segunda impressão – foi escrito durante os quase dois anos
e meio em que o fundador do PT esteve detido, no total, entre os processos no
âmbito do mensalão e da Lava Jato (leia mais no quadro
abaixo). Enquanto esteve preso, era conhecido por sua disciplina militar. Assim
que chegou ao Complexo da Papuda pela primeira vez, em 2013, quis entender das
regras locais, para não violar nenhuma. Realizava diariamente uma rotina de
exercícios e evitava entrar em qualquer discussão. "Na cadeia, todo mundo
sabe o limite de discussão sobre religião, futebol, política, todo mundo
conversa até um certo ponto", diz, com propriedade.
Preso três vezes - uma pelo mensalão, condenação
pela qual recebeu indulto, e duas pela Lava Jato - o ex-ministro afirma estar
“sempre preparado para o pior”, embora acredite que não voltará à cadeia
novamente. Bem humorado, bronzeado e com alguns quilos a mais desde que deixou
a prisão pela última vez, em junho deste ano, falou sem parar por mais de uma
hora. “O que dei de entrevista até agora, se juntar tudo dá um livro de 500
páginas”, afirmou, no dia seguinte ao lançamento de seu livro no Recife. O
evento encheu o auditório do Sindicato dos Bancários com militantes, que o
chamam de “comandante”.
O segundo volume do livro já está em fase de
produção com detalhes que ele vem anotando durante a viagem. Luiz Fernando
Emediato, dono da Editora Geração, que o está acompanhando na caravana, diz que
a expectativa com as vendas é alta. “O piso dele são 300.000 exemplares”.
Pergunta. Durante essa caravana de lançamento
do livro, o senhor sofreu algum episódio de hostilidade?
Resposta. Nenhum. Nem em restaurante, nem em
estrada, nem em posto de gasolina.
P. E qual leitura o senhor faz desse momento de
tanto ódio? O PT tem algum papel nisso?
R. O apoio que Lula tem e o crescimento do PT
interligam a memória do legado do Lula com as consequências do golpe. O cidadão
lembra do Lula. A família dele, onde antes
trabalhavam quatro pessoas, o filho estava na faculdade, a mulher havia comprado
uma moto, a filha abriu um micronegócio e agora só tem um trabalhando. E o
golpe, a Lava Jato e antes disso, eles não terem reconhecido o resultado da
eleição, terem participado do Governo Temer, isso custou muito caro para
eles.
P. Eles quem?
R. O PSDB principalmente, que é o partido mais
rejeitado hoje, vai ser um desastre eleitoral, o Temer, o DEM, que também está
caminhando para ter um péssimo resultado eleitoral. De certa maneira, há um
sentimento de que houve uma injustiça com Lula, que o Lula é perseguido. E
quando se diz que alguém é perseguido, você não entra mais no mérito de por que
a pessoa está respondendo por um suposto crime, você parte do princípio que ele
é perseguido. Como não há provas concretas contra o Lula, o senso comum diz que
não tem provas. Então acho que eles perderam. Historicamente acho que é a maior
derrota que a direita já teve no Brasil.
P. Dentro desse contexto, o senhor acha que
existe a possibilidade de o PT ganhar essas eleições e não levar?
R. Acho improvável que o Brasil caminhará para
um desastre total. Na comunidade internacional isso não vai ser aceito. E
dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos
tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição.
P. O senhor consegue imaginar o Brasil
governado por Bolsonaro?
R. Já passamos pelo Jânio Quadros, sabemos o
que é. Passamos pelo Temer. Tem governo mais irresponsável do que o dele?
P. O senhor acha que um Governo de Bolsonaro
seria igual ao de Temer?
R. Não. Bolsonaro é o Temer mais a regressão de
comportamento cultural e o autoritarismo não democrático. O Governo do
Bolsonaro com Paulo Guedes vai ser um arrasa quarteirão. Mas isso não dá
certo em lugar nenhum. A Argentina táaí e olha o resultado: privatizar
tudo, tirar o Estado, cortar gasto, dá no que deu. A Argentina era
mostrada como um modelo para nós há um ano atrás. O Brasil tem uma equação a
ser resolvida: O Estado de bem-estar social e a distribuição de renda não cabem
na estrutura tributária, bancária e financeira que existe no país. Porque ela
se apropria da renda e não se paga o imposto quem tem que pagar. E como se
gasta 400 milhões com os juros da dívida interna. Nós cobramos juros reais
maior que qualquer país da América Latina...
P. Mas a gente sempre cobrou esses juros, inclusive
durante o Governo do PT.
R. Mas isso tem que mudar.
P. Lula teve, ao longo dos oito anos de
Governo, alta aprovação, maioria no Congresso. Por que não foi feita uma
reforma tributária naquele momento?
"Eu fui cassado
antes de qualquer investigação. É um absurdo, é uma decisão política, para me
tirar do Governo, da vida política do país"
R. Porque nós não temos força para fazer isso,
nem hoje e nem amanhã.
P. Então isso não vai mudar.
R. Não, tem que acumular força. Eles
priorizaram a mobilização popular, deles, da classe média, durante o nosso
governo.
P. E por que as reformas não foram feitas pelo
Governo do PT?
R. Porque tentamos. Tentamos a reforma
tributária, tentamos a reforma política, o Lula tentou, a Dilma também.
Não fomos nós que não queríamos. Nós não tínhamos força. E Lula tinha que tomar
uma decisão: o que é prioritário? Fazer reforma política, resolver o problema
das Forças Armadas, resolver o problema da riqueza e da renda ou atacar a
pobreza e a miséria, fazer o Brasil crescer, ocupar um espaço na América
Latina, ocupar o espaço que o Brasil tem no mundo? Ele fez a segunda opção. Era
justo, era a opção dele. Muitos podiam ter a opinião de que era preciso fazer
as reformas mesmo que isso custasse para nós cair do Governo.
P. O que deu errado no segundo Governo Dilma?
R. Não deu errado. Eles derrubaram a Dilma
independentemente se ela estava certa ou errada, eles iam derrubar. E a
recessão, 70% dela é a crise política. Não aprovaram o ajuste dela e fizeram a
pauta bomba. Criaram uma crise política no país que ninguém comprava,
ninguém vendia e ninguém emprestava.
P. O senhor acha que existe a possibilidade de
um novo golpe militar?
R. Acho muito remoto. Não acredito.
P. Nem via um eventual governo de Bolsonaro?
R. Bolsonaro não ganha essa eleição.
P. Por quê?
R. Porque não tem maioria no país para as
ideias dele.
P. Em alguns cenários ele passa de 40% dos
votos no segundo turno.
R. Segundo turno sempre é assim. Não tem para
onde correr no Brasil. O eleitorado tem posição política. É mentira que o
eleitorado brasileiro não tem consciência política, que o povo é conservador.
Senão Lula não teria 45% dos votos.
P. O senhor participaria de um eventual governo
de Haddad?
R. Não.
P. Nem como “conselheiro”, que é como o PT vem
dizendo que é o papel de Lula frente à campanha?
R. Nada. Eu sou cidadão. Não posso ser votado e
não posso votar pelos próximos 82 anos [a suspensão dos direitos políticos faz
parte de sua pena por corrupção]. Só se a medicina me fizer viver por 200 anos.
Eu vou continuar fazer o que estou fazendo: escrevendo, estudando, fazendo
palestra, viajando pelo país.
P. O senhor dorme bem?
R. Durmo muito bem. Na cadeia, no começo, você
sempre tem dificuldade, né? A primeira coisa que você precisa fazer é endurecer
a lombar e fortalecer os músculos das costas, porque as camas são de ferro e
não pode ser de material que possa ser transformado em arma, né? Os colchões
são [aproxima o indicador do dedão, para dizer que são finos]. Preso sempre tem
um pouco de insônia, ansiedade, né? Mas aí ou você toma medicação ou você se
disciplina. Não [pode] dormir de dia...
P. O senhor não tomou nenhum remédio?
R. Nos primeiros dois meses, eu tomei um
indutor de sono. Depois nunca mais tomei nada.
P. E fazia exercício para fortalecer a
lombar...
R. Todo preso faz exercício.
P. Eduardo Cunha [ex-deputado do MDB, que
liderou o impeachment e foi preso em 2016 no mesmo complexo
que Zé Dirceu, também no âmbito da Lava Jato] faz exercício? Como era a
convivência com ele?
R. Faz. Ele é muito disciplinado. Caminha
muito, faz serviços gerais, coletivos, sem nenhum problema, se precisar lavar,
ele lava, se tem que limpar as portas... porque como era um hospital [eles
ficaram presos no Complexo Médico Pinhais, no Paraná], nós fazíamos muita
limpeza, né? Por causa de risco de contaminação. Todos os presos têm muito
cuidado com a higiene. Ele passa metade do tempo cuidando dos processos dele, e
metade do tempo lendo a Bíblia, porque ele é evangélico, um estudioso da
Bíblia. A minha convivência com ele era muito simples, muito boa.
P. Algum preso tinha algum problema?
R. Não, porque na cadeia todo mundo sabe o
limite de discussão sobre religião, futebol, política, todo mundo conversa até
um certo ponto. Quando começa a discussão, os mais experientes já vão pra cela
deles e falam “isso aí vai acabar mal...”. Mas não houve nenhum incidente
grave.
P. O senhor pensa que pode voltar à prisão?
R. Legalmente não. Pelo que o Supremo determinou,
eu não posso ser preso por fundamento, por uma decisão de segunda instância.
Até porque é plausível, pela prescrição e pela dosimetria, que a minha pena de
30 anos e nove meses não se mantenha. Portanto eu já cumpri o regime fechado. E
o segundo processo [na Lava Jato, foi sentenciado em duas ações penais por
corrupção e lavagem de dinheiro: em uma, é acusado de receber propina da
Engevix, e na outra, por ter favorecido a contratação da empresa Apolo Tubulars
pela Petrobras], eu tenho que ser absolvido. Se você se der ao trabalho de ler
o processo, vai ver que eles me condenaram, mas ainda está em votação. O placar
estava em dois a um, foi pedido vista e se tiver o voto divergente fica para o
ano que vem. E isso é segundo instância, então em tese eu não posso ser preso.
Em tese. Terceira instância tem que julgar. Se cair a pena por prescrição e
dosimetria, eu já estou no outro regime, então já é uma outra situação.
P. Então o senhor não trabalha com essa
possibilidade?
R. Sempre trabalho, né? Estou sempre preparado
para o pior.
P. E o que significaria o senhor e Lula estarem
presos?
R. Já estivemos presos juntos. Não muda nada no
Brasil.
P. E para o PT? Não significa nada? As duas
principais cabeças do PT estarem presas não significa nada?
R. Estão presas mas não param de dirigir, de
comandar, de participar.
P. Não é simbólico?
"O problema do
Bolsonaro é do PSDB e do DEM. Eles que não tem alternativa. Nós, sem o Lula
temos Ciro e Haddad. Eles não tem"
R. O eleitor não diz isso.
P. Estou dizendo para o partido.
R. Se a condenação fosse justa... Eu quero que
alguém prove. Eu fui cassado antes de qualquer investigação. É um absurdo, é
uma decisão política, para me tirar do Governo, da vida política do país. Eu
fui condenado na Lava Jato, é um absurdo a condenação, me ligam a cinco
processos. Não tem uma prova que eu esteja ligado às licitações. Dos 45 milhões
de propina que a empresa pagou eu sou responsável por devolver 15? Eu não tenho
nenhuma ligação com aquilo. Ninguém prova que eu fiz qualquer intermediação,
tráfico de influência, participei de qualquer licitação. Cometi erros? Cometi.
Falei para o [juiz Sergio] Moro no depoimento.
P. Quais erros?
R. Que eu tinha que ter declarado empréstimo
que foi feito no Imposto de Renda. O Milton Pascowitch [empresário,
considerado pela Lava Jato um operador de propinas] fez duas reformas para mim
e eu não paguei. Aí tudo virou propina.
P. Quais outros erros o senhor cometeu?
R. No caso é esse. Não tive relação com a
Petrobras, não me meti em licitação, não peguei dinheiro...
P. O único erro que o senhor cometeu foi não
ter declarado o empréstimo no Imposto de Renda?
R. Eu falei pra ele [Moro]: se tivesse que ser
condenado, era pela Receita Federal e não criminal. E mais: Eles não acham um
diretor da Petrobras, um empresário que fale de mim. Os que falaram da Engevix
falaram na quarta vez porque a delação é totalmente fajuta. Porque no começo
eles falaram que nunca trataram da Petrobras comigo, que eu os levei para o
Peru para disputar licitações. Disseram que me pagaram 900.000 reais. Eu não
trabalhava para ganhar dinheiro, eu trabalhava para fazer política.
P. A estratégia de priorizar a defesa de Lula
até o último segundo, invés de anunciar um substituto foi acertada?
R. Certíssima. Tá aí o acerto: Nós temos 20% de
votos. E vamos pra 30%. O Lula tem 40% do eleitorado, Haddad pode ter 30%. Nós
não podemos abrir mão de algo que é legítimo, legal que é o direito do Lula ser
candidato. O PT quer e a maioria da população quer. O ônus tem que ser com a
Justiça que fez essa infâmia de impedir Lula de ser candidato. Segundo, o PT
quer Lula como candidato, Lula quer ser candidato, por que nós vamos tirar?
Terceiro, do ponto de vista de estratégia eleitoral era o melhor
caminho: manter o eleitorado com Lula até o limite. Quem determinou o
limite foi a Justiça que deu dez dias de prazo pra nós. Nós cumprimos e o
Haddad assumiu. Não vejo que o Haddad vá perder ou ganhar por causa
disso.
P. O senhor não pretende participar de nenhuma
agenda de campanha de Haddad?
R. Não participo de campanha eleitoral.
P. Por quê?
R. Não é meu papel. Não preciso participar. Eu
ajudo o PT fazendo o que eu estou fazendo.
P. Não é o seu papel, mas o senhor está
trazendo bastante militante para os lançamentos, não?
R. Os militantes vêm me ver porque são 40 anos
juntos. Os jovens, pela minha postura na prisão, pela minha história no PT,
eles vêm porque querem me conhecer, querem falar comigo. Eu tenho 53 anos de
direção política. Fui o principal dirigente do PT por quase duas décadas depois
do Lula, então é natural que onde eu chego, pode ser que eu até tenha voto para
me eleger ao que eu quiser em São Paulo, mas não é meu objetivo.
P. Até porque, o senhor não pode se candidatar.
"[A elite] vai ter
que entregar os aneis. Não dá para tirar o Brasil da crise sem afetar a renda,
a propriedade e a riqueza da elite"
R. Mesmo que eu pudesse, não seria de novo
deputado. Eu quero fazer o que eu estou fazendo, estou muito bem assim. Tenho
72 anos, vamos supor que eu viva mais 15 anos, meu pai viveu até os 88 anos,
minha mãe morreu com 87. Vamos tomar a idade do meu pai. Eu tenho mais 15 anos
de vida. Tenho que organizar esses 15 anos da melhor maneira possível. Daqui a
cinco anos vai diminuindo a capacidade de trabalho, daqui a dez anos mais....
Eu quero aproveitar. Gostaria de viajar para o exterior. Tenho amigos em todos
os países. Mas eu estou impedido. Não legalmente, mas estou impedido pelo bom
senso.
P. Seu passaporte não está com o senhor?
R. Não. Foi recolhido, mas agora eu não tenho
mais essa cautelar porque o Supremo não me deu nenhuma medida cautelar. Mas o
bom senso indica que eu não devo fazer isso.
P. Por quê?
R. Porque eu não devo fazer. Por que eu quero
ir para o exterior?
P. O senhor acabou de falar que queria...
R. Mas isso é uma vontade minha. Não é uma
necessidade. Necessidade que eu tenho é fazer o que eu estou fazendo, que eu me
defenda aqui dentro. Eu estou me defendendo também, né?
P. Quando foi o momento em que o senhor
percebeu que seria preso?
R. Quando o Supremo aprovou o trânsito em
julgado parcial [em outubro de 2013], que é uma aberração, eu falei: vão nos
prender. Um mês depois eu estava preso [pelo caso do mensalão]. Saí para
passear, fui pra praia, porque sabia que era a última vez.
P. Pra onde o senhor foi?
R. Para Itacaré (BA). Eu voltei de Itacaré para
Vinhedo (SP) e depois entrei no outro dia [na prisão]. Agora em março [deste
ano] anunciaram três vezes que iam me prender. Então eu já estava esperando. Quando
chegou aquele 4 de agosto [de 2015, quando foi preso novamente, desta vez pela
Lava Jato], eu já estava esperando. Eu fiquei mais abatido porque a minha filha
foi denunciada e meu irmão foi preso. O processo da minha filha foi
arquivado depois. Mas aquilo era pressão psicológica para eu fazer delação. Nem
meu irmão delatou e nem eu. Meu irmão está cumprindo pena em Taubaté, condenado
por corrupção e lavagem de dinheiro.
P. O senhor se acha um perseguido político? Por
que queriam tanto te prender?
R. Em 2013, todo mundo sabe, porque eu era, de
certa forma, o sucessor natural do Lula. Eu não seria, na minha avaliação, mas
eu era [considerado]. Eu era a peça principal do PT e da esquerda, sem falsa
modéstia. Depois de 15 anos eu ainda sou uma das principais pessoas do PT e da
esquerda brasileira. Estou falando porque as pessoas dizem. Eu não estava
preocupado com isso, mas as pessoas falam.
P. O Mensalão nunca existiu?
R. O Mensalão, que é comprar deputado, não.
Marcos Valério falou para a Folhaque ele está fazendo delação e vai provar
que não houve mensalão.
"Na cadeia todo
mundo sabe o limite de discussão sobre religião, futebol, política, todo mundo
conversa até um certo ponto"
P. E de onde surgiu essa teoria então?
R. De dois empréstimos feitos pela empresa de
Marcos Valério Publicidade repassados pelo PT pelo Banco Rural para pagar
dívidas de campanha e financiar campanha. Esses 53,4 milhões. Está provado que
o negócio da Visanet não existiu [o Fundo Visanet foi criado em 2001 para
promover a marca Visa e pertencia à Companhia Brasileira de Meios de Pagamento,
da qual o Banco do Brasil detinha 31,99%. No processo do mensalão, Henrique
Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, foi acusado de liberar
irregularmente mais de 70 milhões de reais do Fundo para a DNA, a agência de
Marcos Valério. Pizzolato fora condenado a 12 anos de prisão pelo
mensalão, mas fugiu do Brasil em 2013. Foi capturado em 2015 para cumprir
sua pena]. Todos os serviços que foram prestados, foi feito uma auditoria, e
foram recebidos. Isso foi uma invenção.
P. Isso tudo faz parte de um plano?
R. Da política. Não é só no Brasil que tem
isso. Como Jânio se elegeu presidente? Contra a corrupção. Como Collor se
elegeu presidente? Contra a corrupção. Como o golpe de 64 foi dado? Contra a
corrupção e a subversão, mas era a corrupção primeiro.
P. Bolsonaro pode ser eleger contra a
corrupção, então?
R. Não. Isso não pesa nada no voto dele. Nada.
45% dos eleitores estão conosco. Ele tem outros 45%, que é voto conservador, de
direita, que não acredita mais no PSDB, que não vê opção nos outros. Ou que
acredita nas ideias do Bolsonaro. Nas quatro ideias dele: Mulher é pra ficar em
casa lavando roupa, filha mulher é uma tragédia, tem que matar bandido... O
problema do Bolsonaro é do PSDB e do DEM. Eles que não têm alternativa. Nós,
sem o Lula, temos Ciro e Haddad. Eles não têm. Não têm credibilidade mais no
país. Nós temos. Nós não temos a elite do país e nem queremos ter.
P. Mas vai precisar dela para se eleger.
R. Se depender de mim... Eles que rezem para
que eu fique bem longe. Não vamos precisar dela não. Ela vai ter que entregar
os aneis. Não dá para tirar o Brasil da crise sem afetar a renda, a propriedade
e a riqueza da elite. E acabar com a concentração de renda via juros do capital
do sistema bancário e dos rentistas.
P. Por que agora vai ser possível fazer isso?
R. Porque antes tinha margem de manobra no
orçamento do país para você fazer políticas sociais. Agora não há nenhuma.
P. Ou vai ser isso, ou será um governo
paralisado, como foi o segundo mandato de Dilma?
R. Dilma fez um ótimo primeiro governo. Não fez
mais porque não deixaram ela governar. Ela tentou fazer um ajuste e não
deixaram.
P. E por que deixarão Haddad fazer?
P. Ele pode fazer muita coisa. Mas isso é ele
quem tem que responder, não sou eu. Não sou candidato. Onde você estava?
[pergunta para a filha de sete anos que entra correndo dentro do ônibus atrás
de um leão de pelúcia].
TRAJETÓRIA CRIMINAL
Outubro de 2012: condenado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) por corrupção ativa e formação de quadrilha no processo do
mensalão
Novembro de 2013: se entrega à Polícia Federal
depois de o STF expedir mandado de prisão contra 12 réus do mensalão
Julho de 2014: é absolvido pelo STF pelo crime
de formação de quadrilha
Outubro de 2014: é liberado pelo ministro Luís
Roberto Barroso, do STF, para cumprir o restante da pena de prisão em casa
Agosto de 2015: é preso preventivamente na 17ª
fase da Operação Lava Jato
Setembro de 2015: é indiciado pela PF pelos
crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção passiva e
lavagem de dinheiro
Julho de 2016: é indiciado novamente na Lava
Jato, desta vez por crimes de corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem
de dinheiro
Maio de 2016: é condenado pelo juiz federal
Sérgio Moro a 23 anos e três meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva,
recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro na operação Lava Jato
Novembro de 2016: o ministro do Supremo Luís
Roberto Barroso concede indulto pela pena do mensalão
Março de 2017: é condenado a 11 anos e três
meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela Lava Jato,
totalizando uma pena de 31 anos.
Maio de 2017: Supremo concede, por 3 votos a 2,
sua liberdade, argumentando que, por ele já ter sido condenado em dois
processos, "seria improvável que ele conseguisse interferir nas
investigações”. No dia seguinte o juiz Sérgio Moro determina sua soltura e o
uso de tornozeleira eletrônica.
Maio de 2018: o TRF4 nega, por unanimidade, seu
último recurso no tribunal. No dia seguinte, Dirceu se entrega.
Junho de 2018: é solto em Brasília, após passar
um mês preso no Complexo Penitenciário da Papuda. Condenado a 30 anos e 9 meses
de prisão no âmbito da Lava Jato, acabou sendo solto após decisão do STF que
considerou que há "plausibilidade jurídica" em um recurso da defesa
apresentado contra a condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, de
segunda instância.
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
José
de Souza Martins: Nosso binarismo ideológico
- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico
Os resultados das pesquisas eleitorais, nestes dias
finais da campanha, vão confirmando uma tendência histórica da política
brasileira: a do binarismo ideológico. A dispersão de votos pelas dezenas de
partidos encobre a tendência binária que sob eles resiste como reguladora
oculta da nossa mentalidade política.
Ainda estamos divididos entre os que foram
subjugados pelo mandonismo local e a dominação pessoal e os residualmente
esclarecidos que podem exercer a crítica dos projetos políticos na perspectiva
da esperança e do possível. A ideologia pendular PT x PSDB revitalizou o
binarismo e limitou gravemente nosso horizonte político.
No interior dos próprios partidos políticos essa
polaridade é visível. É o caso do Partido dos Trabalhadores. Está no
desencontro das opções eleitorais entre sua figura simbólica mais expressiva, a
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o partido. Nas consultas, os
números em favor de Lula são muito maiores do que os números em favor do PT.
Não só agora.
O PT vai bem quando os eleitores reconhecem a
convergência dos dois. Vai mal quando se separam, quando os eleitores que se
identificam com Lula não se identificam com os candidatos do partido. Dá certo
quando o partido pega carona no carisma de Lula. Ou seja, o PT dá certo quando
não é partido, quando é apenas agrupamento de acólitos do líder, mas não
agentes de afirmação de uma doutrina e de uma teoria de superação das
contradições sociais. As que afligem aqueles que esperam ter suas carências
devidamente consideradas pelo partido num ideário de desenvolvimento social
como condição do desenvolvimento econômico.
Isso tem acontecido também com outros partidos. Com
o próprio PSDB, como experiência partidária oposta à do PT. O partido deu certo
enquanto se manteve aglutinado em torno da personalidade referencial do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do que ele representa como teórico do
poder e do processo político brasileiro. Não deu certo quando quis dele se
distanciar, criando núcleos internos de poder divergente.
Em boa parte, isso ocorreu porque Fernando Henrique
Cardoso, radicalmente diferente de Lula, é um adversário do poder pessoal, tem
uma referência solidamente social-democrática de sua orientação política. O
partido se fragilizou quando começou a se fragmentar, especialmente em São
Paulo, quando deixou de reconhecer aquilo que FHC representava como pensador
das possibilidades do partido e do processo político.
Lula, ao contrário, é a orientação de si mesmo, de
modo competente alinhado com o imaginário popular do poder. Lula é
culturalmente bilíngue: ele compreende as manhas e debilidades do poder
político. Coisa que, em geral, os petistas não compreendem porque fragilizados
pela diversidade de doutrinas divergentes e até incoerentes do PT. Ao mesmo
tempo, Lula compreende a linguagem popular, as ocultações do silêncio dos
simples e da eloquência do não dito. Coisa que nenhum outro político brasileiro
sabe fazer. Mas conhecimento inútil para quem está preso.
Nesse sentido, mesmo que não o saiba, Bolsonaro é
uma versão superficial e equivocada de Lula. Porque quer falar a linguagem
popular das esquinas e da rua sem conhecê-la como linguagem de sobres
significados que é. Expressa a raiva da classe média, mas não conhece o que é
propriamente a língua do povo. Reafirmar estigmas depreciativos sobre a mulher,
ou sobre os que não fazem parte de uma imaginária classe média branca e intolerante,
comprova a distância enorme que há entre o candidato e essa fala peculiar e
difícil. Sem o saber, passou a falá-la quando foi esfaqueado e hospitalizado.
Mesmo que não saiba e não queira, a compaixão popular falou em seu nome a
língua que ele não conhece nem decifra.
Nela não conhece nem reconhece o bilinguismo do povo
brasileiro, a dupla linguagem a que fomos condenados desde nossas origens como
povo que falava sua própria língua, mas foi obrigado pelos poderes da dominação
colonial a falar a língua do conquistador, a língua da subjugação, a versão
superficial da língua do mando e portanto da compreensão superficial das
contradições e embates da vida. É a língua da inautenticidade, do ser que não
somos nem temos conseguido ser.
Na polarização das opções por candidatos, neste
momento, mais da metade dos eleitores ficará fora da decisão eleitoral. No voto
meramente residual da recusa e não da escolha, o voto contra o candidato que
não representa a opção do eleitor, mais de 50% dos eleitores têm seu direito de
voto negado. Deixarão de votar em seu candidato para votar em quem não
escolheram. Será o voto imposto pelo negativismo da circunstância, e não o voto
livre da maioria silenciada.
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da Academia
Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de "A Sociologia como
Aventura" (Contexto).
Língua
Caetano Veloso
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de
Luís de Camões