quarta-feira, 5 de março de 2025

POLÍTICA E PAIXÃO

RETORNO ----------
------------- "QUANDO A FOLIA ACABA, O QUE RESTA?" — Jogar fora! — responde de pronto o porteiro, soltando um riso da própria graça: "Hahahahaha." A distração, acrescentaria Naziazeno Barbosa, de Os Ratos, do psiquiatra gaúcho Dionélio Machado, ao médico que o flagra no baile de carnaval. "Depois do carnaval, a alegria vai embora e os problemas voltam à tona, mas há um tipo de felicidade que dura para sempre. Descubra qual é na pág. 16." (Folha Universal) _________________________________________________________________________________________________________ ----------- ---------- Música | Ultimo Regresso com Getulio Cavalcanti e Bloco da saudade ------------ Último Regresso Bloco da Saudade --------- ------------- Falam tanto que meu bloco está Dando adeus pra nunca mais sair E depois que ele desfilar Do seu povo vai se despedir Do regresso de não mais voltar Suas pastoras vão pedir Não deixem não, que o bloco campeão Guarde no peito a dor de não cantar Um bloco a mais é um sonho que se faz Nos pastoris da vida singular É lindo ver o dia amanhecer Com violões e pastorinhas mil Dizendo bem, que o Recife tem O carnaval melhor do meu Brasil Composição: Getúlio Cavalcanti. -----------
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------------ POLITICA E PAIXAO AUTOR: Affonso Romano de Sant'Anna EDITORA : Rocco| ----------- Um livro de política, paixão e poesia. De política, a que está nas ruas, mais que nos palanques, bem mais que nos gabinetes palacianos. De paixão, a que está na praça, no corpo, no texto. Da poesia, a que está nos becos, nas bocas, no gesto. O texto político do poeta Affonso Romano de Sant’Anna chegou aos jornais refletindo uma nova sensibilidade para entender-se a história destes nossos dias. Sensibilidade que o brasileiro gerou não sem dores. O texto poético do político Affonso Romano de Sant’Anna transmite sangue e vida, humor e amor. E traz novos temas à tona, com seu discurso político/poético/ apaixonado. O corpo, o negro, a mulher, as minorias sociais, a vida e a morte, a busca de sociedade além dos já gastos conceitos de esquerda e direita. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- Política E Paixão Capa comum – 1 janeiro 1984 Edição Português por Affonso Romano De Sant'anna (Autor) Editora ‏ : ‎ Rocco; 2ª edição (1 janeiro 1984) Idioma ‏ : ‎ Português Capa comum ‏ : ‎ 192 páginas _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- Do interesse à paixão na política: uma trajetória filosófica de alexis de tocqueville Paula Gabriela Mendes Lima Editora: Appris Editora Ano: 2020 ISBN: 9786555232349 O livro Do interesse à paixão na política lança um novo olhar sobre o pensamento de Alexis de Tocqueville ao realizar uma leitura filosófica do seu pensamento, considerando o percurso cronológico das suas obras publicadas. Essa leitura parte de uma investigação sobre o que propulsiona a ação dos homens democráticos modernos na esfera pública, fazendo-os atuar também fora da esfera privada. Trata-se de indivíduos que vivem exclusivamente para si, conforme a sua razão, e que visam prioritariamente a busca do seu bem-estar material. Eles tendem a viver isolados, mas há algo que os motiva a agir para a união do corpo político. A aposta desta obra é que, no percurso de suas reflexões filosóficas, Tocqueville apresenta as categorias políticas do interesse e da paixão como esse algo. Elas são descritas como categorias fundamentais para a conservação e o funcionamento da democracia moderna e são importantes chaves de compreensão do pensamento tocquevilliano. Não são elementos constitutivos da democracia, mas são princípios de ação operacionais para o estado social democrático, especialmente por darem alicerce para a união do corpo político em uma época em que elementos como Deus e a natureza não dão conta da justificação da ação na esfera pública e não se apresentam como um argumento político viável para a união de uma sociedade. Este livro visa a contribuir para a apreensão da linguagem política do início do século XIX que influencia as teorias políticas e as filosofias políticas produzidas da atualidade. é, na verdade, uma tentativa de compreensão da nossa modernidade política. _________________________________________________________________________________________________________ -------
---------- terça-feira, 4 de março de 2025 Mas que calor, ô ô ô ô ô ô - Alvaro Costa e Silva Folha de S. Paulo Quanto maiores as dificuldades, mais a brincadeira se reinventa O Carnaval é uma festa móvel e onívora que se renova a cada fevereiro ou março, apesar daqueles que não gostam dele (e têm o direito de não gostar), das pessoas que o atacam preconceituosamente e de quem o proíbe, como o prefeito de Porto Alegre. No processo de modernização permanente é inevitável um olhar ao passado para rever as tradições. O que não significa abraçar os saudosistas, gente para as quais o melhor não volta: as marchinhas do Nássara, os sambas do Império Serrano, os blocos de sujos, o Baile do Havaí no Iate Clube de Botafogo (onde, diz a lenda, a certa hora ouvia-se a ordem: "Todo mundo nu pulando na piscina!"). Depois das fanfarras, com instrumentos de sopro e percussão, no Rio ressuscitaram os Gorilas de Saco, já habituais nas zonas norte e oeste e, daqui a pouco, na zona sul, que sempre chega atrasada. Animal noturno e assustador, bicho-papão da criançada, é rival dos Clóvis, os bate-bolas surgidos nos anos 1930, com roupa bufante, máscara e bola de borracha. Imagine o calor que sente o Clóvis dentro da fantasia. Com o Gorila, o sufoco é ainda maior. A caracterização da figura exige, além da máscara, um casaco e uma calça, nos quais são feitos furos para acomodar milhares de tiras de sacolas plásticas. Pobre e louco Gorila, em busca de diversão na cidade que em fevereiro registrou 44ºC, a mais alta temperatura desde 2014, e em que a sensação térmica bate recordes. Não veio nem uma chuvinha para animar a avenida. "Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô/ Mas que calor, ô ô ô ô ô ô". O de 2025 será lembrado como o Carnaval da ferveção, e não pelo entusiasmo, que está mais ou menos igual ao de anos anteriores. Com a crise do clima – algo que não existe, segundo o zap da titia –, o folião fez o inimaginável para se oxigenar. Não deixou de cantar e brincar, mas o cansaço e a ressaca bateram mais cedo. Até entre a turma que não pula, apenas observa os outros pularem, notei uma mudança no visual. Estavam todos de camiseta regata. Pode ser de mau gosto, mas refresca. ________________________________________________________________________________________________________ ----------
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------------ segunda-feira, 3 de março de 2025 Conversa de carnaval – Fernando Gabeira O Globo Apesar de tantas mudanças, das análises sociais da folia, da comercialização e tudo o mais, a chama ainda está acesa Apesar de ter quase meio século, a teoria do querido Roberto DaMatta ainda é uma insuperável explicação do carnaval brasileiro. É uma análise mostrando a quebra da hierarquia social que funciona magicamente até Quarta-Feira de Cinzas. As teses de Darwin sobre a evolução das espécies, sobre a sobrevivência dos mais aptos por meio das dificuldades diante dos obstáculos também é inquestionável. No entanto há espaço para avaliar não apenas o carnaval, como também a teoria de Darwin sob outro ângulo: o impulso para namorar, acasalar, a escolha sexual. Uma das figuras que desafiam a visão clássica de Darwin é o pavão. Com suas longas caudas radiais de azul iridescente, aqueles olhos em círculos de bronze, ele não pode ser considerado apenas sob a ótica da sobrevivência. Sua estrutura é incômoda para buscar alimentos e absolutamente ineficaz para escapar de predadores. No entanto o pavão maravilhoso sobrevive assim pois essa é sua maneira de agradar à pavoa, de acasalar. Tanto o pavão quanto a música — ou mesmo a arte, vistos sob o prisma da pura sobrevivência material — são perda de energia. Mas os pássaros cantam nos bosques e na floresta também para seduzir suas fêmeas. Alguns autores — como Geoffrey Miller no livro “The Mating Mind” — acham que a escolha sexual moldou a evolução da mente humana. Como se ela tivesse se formado com o mesmo software da cauda do pavão, contando piadas, compondo sonatas, usando dezenas de ornamentos sexuais para impressionar os potenciais parceiros. Do ponto de vista estritamente darwiniano, tudo isso seria inútil. Acho que o carnaval também faz parte dessa evolução humana, a partir das escolhas sexuais. Não vou muito além das memórias de juventude. Houve um tempo que tínhamos o hábito de jogar confete. Era tática de sedução. Tanto que, apesar de ter desaparecido, sobrevive na linguagem popular como um ato destinado a agradar: jogar confete significa também elogiar. O mais importante foi a aparição do lança-perfume. Embora tenham na História funções religiosas e de purificação, os perfumes foram capturados por uma indústria gigantesca, cujo objetivo é vender sedução. Temos substâncias químicas em nossos corpos, os feromônios, que influenciam o comportamento do outro, sobretudo na atração sexual. A indústria é tão sofisticada que inclui os feromônios sintéticos em algumas fragrâncias, precisamente com o objetivo de seduzir o parceiro. O lança-perfume era uma extensão do nosso braço e se dirigia precisamente à sedução. O uso se perdeu um pouco, quando começaram a usá-lo como droga. Mas ainda sobrevive em sua pureza original na canção de Rita Lee: Lança, menina, lança todo esse perfume/ Desbaratina, não dá para ficar imune/ Ao teu amor que tem cheiro de coisa maluca. A inversão de regras e hierarquias continua sendo uma realidade do carnaval. Aglomerações como blocos e desfiles de escolas de samba talvez tenham transformado um pouco esse impulso para o namoro e a sedução. Outro dia, li nos jornais, num camarote em fase de decoração no Sambódromo do Rio, para indignação dos repórteres e possivelmente dos visitantes, havia um casal fazendo amor. O que dizer disso?Apesar de tantas mudanças, das análises sociais do carnaval, da comercialização e tudo o mais, a chama ainda está acesa. Lua de São Jorge, Lua deslumbrante/ Azul verdejante/ Cauda de pavão. Como na canção de Caetano, a beleza do encontro da luz com a cauda de pavão estará sempre nos lembrando que a batalha é bem maior que só pela sobrevivência. _________________________________________________________________________________________________________ -----------
----------- terça-feira, 4 de março de 2025 Poesia | A Colombina baunilha - Marcelo Mário de Melo Com olhos de adereço chuva fina de confete caracóis de serpentina respingos de frevo e festa a Colombina aflorou arrastando pelos olhos a gestos de enleio e dança um Pierrot solitário. Mas as flechas e o sinete nas trilhas do encantamento vieram pelo aroma que brotou da Colombina: sumos de suor sorvete mulher cheirando a baunilha. Ao fim do reino de Momo no silêncio dos clarins restou um Pierrot rendido cheirando fios de lembrança. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------- Os Ratos Dyonélio Machado153 Páginas ------------ Sinopse Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao “pega” com o leiteiro. Por detrás das cercas, mudos, com a mulher e um que outro filho espantado já de pé àquela hora, ouvem. Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo silêncio. Noutras ocasiões, quando era apenas a “briga” com a mulher, esta, como um último desaforo de vítima, dizia-lhe: “Olha, que os vizinhos estão ouvindo”. Depois, à hora da saída, eram aquelas caras curiosas às janelas, com os olhos fitos nele, enquanto ele cumprimentava. O leiteiro diz-lhe aquelas coisas, despenca-se pela escadinha que vai do portão até à rua, toma as rédeas do burro e sai a galope, fustigando o animal, furioso, sem olhar para nada. Naziazeno ainda fica um instante ali sozinho. (A mulher havia entrado.) Um ou outro olhar de criança fuzila através das frestas das cercas. As sombras têm uma frescura que cheira a ervas úmidas. A luz é doirada e anda ainda por longe, na copa das árvores, no meio da estrada avermelhada. Naziazeno encaminha-se então para dentro de casa. Vai até ao quarto. A mulher ouve-lhe os passos, o barulho de abrir e fechar um que outro móvel. Por fim, ele aparece no pequeno comedouro, o chapéu na mão. Senta-se à mesa, esperando. Ela lhe traz o alimento. https://www.redalyc.org/journal/5606/560662197032/html/ _________________________________________________________________________________________________________ ----------- ------------ Os Ratos, de Dyonélio Machado, é um dos nove livros exigidos no Vestibular da Fuvest de 2025. Para ajudar os estudantes a perceber detalhes importantes da história, o Jornal da USP traz, neste vídeo, as explicações do professor Augusto Massi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Clique no player para conferir. ----------
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----------- Lei Murilo Mendes: Adauto Venturi expõe esculturas em espaços públicos ----------- Portal de Notícias PJF | Lei Murilo Mendes: Adauto Venturi expõe esculturas em espaços públicos | FUNALFA - 7/5/2014 ----------- O conceito de levar a arte onde o povo está é levado ao extremo no projeto “Desnudamento de Ícones”, do artista plástico Adauto Venturi. Com financiamento da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, mantida pela Prefeitura de Juiz de Fora e gerenciada pela Funalfa, a ação tem como objetivo promover a exposição, em logradouros públicos, de seis esculturas, que fazem releituras de grandes obras da história da arte ocidental. Duas das peças - “Existe em você a motivação para vencer?” e “Vitruviano por Venturi” - já estão instaladas nos trevos do Alto dos Passos e de acesso ao Independência Shopping. As demais esculturas serão colocadas nos próximos meses, até dezembro. Para o encerramento do projeto, o artista programa o lançamento de um catálogo e uma exposição com os protótipos das esculturas. Mais que embelezar a cidade, a proposta é ocupar o espaço urbano com obras de arte, de modo a despertar no cidadão comum o interesse pelas artes plásticas e pela cultura em geral. Conforme Adauto, “levar as obras para lugares públicos é fazer com que o público/transeunte se depare com a arte quando menos espera, em um momento de trabalho, relaxamento ou lazer. É criar condição para que este tipo de interferência seja assimilada, mesmo que inconscientemente. O público pode educar o olhar e acostumar-se a um ambiente com artes.” Entre os locais que devem receber as novas peças, estão a Praça Jarbas de Lery Santos (São Mateus) e os trevos do Parque da Lajinha (Teixeiras) e da Praça Antônio Carlos (Centro). As peças são produzidas em aço carbono e aço cortén SAC 300, e algumas têm interferências de resina cristal e fibra de vidro, materiais apropriados para exposições externas, em decorrência da durabilidade e resistência a intempéries. O tamanho das esculturas varia de 2m50 a 3m50 de altura, e o peso, de 150 a 200 quilos. As obras escolhidas por Adauto como referências são: “Tiradentes supliciado” (Pedro Américo/acervo Museu Mariano Procópio), “Abaporu” (Tarsila do Amaral), “Vitória de Samotrácia” (190 a.C.), “Homem Vitruviano” (Leonardo da Vinci), “Atlas” (escultura grega) e “Libertação” (baixo relevo existente sob o busto de princesa Isabel/acervo Museu Mariano Procópio). _______________________________________ Selo Prefeitura de Juiz de Fora Portal do Turismo da Prefeitura de Juiz de ForaPortal de Serviços da Prefeitura de Juiz de ForaMenu InfortransSistema de coleta de lixo de Juiz de ForaFale conosco da Prefeitura de Juiz de ForaDesenvolve JF Portal de Notícias NOTÍCIAS: FUNALFAJUIZ DE FORA - 7/5/2014 - 12:11 Lei Murilo Mendes: Adauto Venturi expõe esculturas em espaços públicos * Mais informações com a Assessoria de Comunicação da Funalfa pelo telefone 3690-7044. _________________________________________________________________________________________________________ ---------- ---------- Os Ratos- Dyonélio Machado- #OuçaCultura | #ListenCulture ----------- Ouça Cultura - Audio livros, resumos e mais... 7 de set. de 2024 Áudio livros - OuçaCultura ALÔ GALERA QUE VAI PRESTAR VESTIBULAR, ESSA É PRA VOCÊS !!! Em "Os Ratos", Dyonélio Machado nos transporta para um universo denso e inquietante, explorando os meandros da condição humana e da opressão social. Este romance, uma obra-prima do realismo psicológico, mergulha na vida de um homem atormentado pela sensação de estar preso em uma realidade cruel e desumana. Narrado com a intensidade e a profundidade que só um audiolivro pode proporcionar, "Os Ratos" oferece uma experiência imersiva através da voz envolvente do narrador, que dá vida a cada nuance dos personagens e da trama. A história gira em torno de um protagonista que se vê consumido pela sensação de inadequação e desesperança, refletindo sobre a própria existência e a sociedade ao seu redor. #OuçaCultura | #ListenCulture Pessoas mencionadas 1 pessoa Dyonélio Machado _________________________________________________________________________________________________________ -----------
------------- Os Ratos – Dyonélio Machado Os Ratos teve sua primeira edição em 1935, destinado, desde o início, a tornar-se um clássico da Segunda geração modernista. Os Ratos: um relato psicológico, revolvendo a mente atormentada de um pobre homem; e que se alarga porque, de certa forma, reflete toda uma angústia coletiva, angústia presente em uma camada social que sobrevive à mercê de agiotagem, empréstimos, penhores e outros subterfúgios utilizados pelos homens para poder conseguir o dinheiro, que lhes permitirá sobreviver mais um dia, um único e mísero dia. Mas no horizonte há uma estreita realidade, uma malha cheia de fios sempre crescente, sempre torturante que pode ser resumida na certeza de se ter transferido para o dia seguinte a mesma necessidade: a angústia do pagamento de outras dívidas. A obra pode ser definida como um drama urbano e envolve a vida de um reles funcionário público de baixo escalão, com pequenos rendimentos, pequena família, pequena vida e problemas a serem resolvidos. Acrescenta-se ao quadro a capacidade de condensar toda a ação do volume em um único dia. Seguindo o traçado do Sol no horizonte, o dia tem seu início com a colaboração do problema, ao meio-dia intensifica-se, levando o leitor a conhecer e se aprofundar no desespero do protagonista, para, no final, tornar-se mais um problema 'resolvido', mas com a pequena e mesquinha solução de somente transferir para mais tarde a resolução definitiva. Um retrato duro do famoso 'jeitinho brasileiro' de solucionar problemas. A narrativa é feita em 3ª pessoa, cuja vantagem é trazer a onisciência para que o leitor possa adentrar ao máximo na problemática, sem encontrar barreiras de espécie alguma. O personagem principal é Naziazeno, pequeno funcionário público, casado com Adelaide, com um filho ainda bebê e que, por isso mesmo, necessita de leite. O problema surge a partir do momento em que o leiteiro se recusa a continuar o fornecimento se Naziazeno não liquidar a conta atrasada. Como o leiteiro exerce uma espécie de domínio sobre o personagem, uma vez que a ele é dada a capacidade de escolher entre entregar ou não o leite, cabe a ele também o papel de coagir o já acuado personagem. O primeiro capítulo apresenta a situação de desespero que daí para frente aumenta a cada passo que é dado no romance, culminando com um clima de angústia e de desespero para se conseguir o dinheiro necessário para o pagamento da dívida. Em um primeiro instante, a tendência de Naziazeno é desvalorizar o leite. Naziazeno levanta-se cedo, e cedo toma o bonde que o leva à repartição. Suas lembranças andam soltas: primeiro retoma as conversas de Horácio e Clementino, embora simples serventes, conhecem certos prazeres que a ele são vetados. Por suas lembranças ainda passa a doença do filho, diarréia, desnutrição. Não pagou o médico, porque é de hábito não pagar ninguém. Percorre com o olhar e fixa os olhos em um passageiro do bonde. Um mal-estar o invade ao reconhecer, nas mãos do outro, o leite. Naziazeno presta atenção nas conversas nos bancos vizinhos, e, ouve falar em jogo, corrida de cavalo, em que ele já havia depositado muita esperança, como todos aqueles que se apegam em dinheiro fácil para salvar suas vidas difíceis. Que esperança! Que tristeza quando não se realiza o grande sonho. Mas, a todo momento, sobrepõe aos seus pensamentos a figura superior e inquietude do leiteiro. Naziazeno procura acreditar que parcela da culpa cabe à mulher que não se impõe, porque é tímida, não grita, empalidece e sofre. A mulher não tem a força necessária para lutar, gritar, ir avante. É um ser submisso e infeliz. E o bonde continua. Houve uma brecada horrível por causa de duas crianças que estavam nos trilhos. Alguns comentários e risos distraem o protagonista por alguns instantes, mas o leiteiro o domina pouco depois, sempre lhe vindo à mente a frase Lhe dou mais um dia! São cinqüenta mil-réis. O bonde parou e Naziazeno sentiu quase uma atração que o levou para o mercado, onde gastou dois tostões em um café com leite, embora soubesse que era necessário prudência e economia em uma situação como a sua. O café acende seu ânimo, reaquecendo sua esperança. Monta mentalmente um pequeno plano: pedir emprestado ao diretor, que já o havia socorrido uma vez. Pensou em recorrer ao amigo Duque, que sempre tinha facilidade para safar-se de situações semelhantes. Mas a indecisão, o medo, a incerteza tomam conta de Naziazeno. Mentalmente, quase quixotescamente, constrói as imagens do que seria, mas o fracasso toma conta não só da realidade, mas da fantasia, do 'seria possível que'. Ao chegar na repartição, o drama recomeça ameaçador e prepotente. Seu trabalho é monótono e consiste em fazer levantamento de faturas. Algumas poucas contas para um serviço que não precisava estar em dia, e, por isso mesmo, Naziazeno mantinha-o atrasado cerca de dez meses. Os planos traçados por Naziazeno só ficam na concepção, porque as coisas não acontecem como ele havia planejado. O diretor da repartição nesse dia passa antes pela Secretaria. Procura o Duque, amigo que sempre lhe consegue cavar algum dinheiro, mas não o encontra. No café, encontra o Fraga e o Alcides, fitando a ambos com o olhar vago e triste. Alcides enverga um casaco muito feio e estranho, e explica o fato por ter pedido emprestado, pois fora roubado. Por ser amigo de um repórter, o roubo foi notícia do jornal da tarde. Para desespero do protagonista, o amigo Duque não foi ao café, agravando ainda mais seu estado psicológico, em que experimenta, mais uma vez, a sensação de amargura e de náusea. Já que o Duque não aparecera, ficou tentado a colocar em prática seu primeiro plano - ir ter com o diretor -, mas Alcides coloca em dúvida se o diretor irá atendê-lo. Naziazeno pensa em cavar o dinheiro de outro modo, mas sente-se imóvel, incapaz. Retornando à repartição, tenta obter empréstimo com o diretor, mas não consegue. Tem preguiça de articular outro plano para obter o dinheiro, só não lhe faltam planos de fuga ou idealizações. Tenta pensar no jogo do bicho, esperança de todo brasileiro endividado. Alcides sugere que ele cobre uma antiga dívida sua, bastando, para tanto, procurar a casa de Andrade, mas Naziazeno entorna tudo, ao aceitar passivamente as explicações do devedor. Ao sair, mergulha novamente na angústia que o acomete e na insegurança de poder conseguir o dinheiro. Procura o Mister Rees, indicado por Andrade como um possível pagante, mas ele se encontra no Rio. Já são quase duas horas e o protagonista se descobre com fome. Procura o Restaurante dos Operários, inclusive na esperança de encontrar o Duque. Na falta do Duque, é até possível que recorra ao Dr. Otávio Conti. Procura saber onde é o escritório dele, mas não o encontra. Na volta, é abordado por Costa Miranda, mas só lhe pede emprestado o dinheiro para o almoço ou talvez a sorte no jogo. Joga na roleta, no número 28 e ganha cento e setenta e cinco mil-réis. Separa quinze e compra mais fichas, mas na tentativa de multiplicar o dinheiro, acaba novamente sem nada. O dia está terminando quando reencontra Alcides. Logo depois encontra o Duque, que reacende suas esperanças. Procuram casas de agiotas, mas não obtêm sucesso ou pelo avançado da hora, ou pelos agenciadores que pararam de trabalhar com dinheiro a juros. O certo é que as esperanças de Naziazeno aumentam ou diminuem conforme o clima, mas tendem a ficar cada vez menores. Por fim surge uma luz. Alcides tinha um anel penhorado com o agiota Martinez. Duque pensou em renovar a penhora com algum outro agiota se conseguisse levantá-lo. O pequeno grupo de amigos se junta e procura Mondina, que aceita 'emprestar! O dinheiro para reaverem o anel. Martinez, mesmo depois de encerrado o expediente, levanta a penhora. Mas por essa via Naziazeno também não conseguiu o dinheiro. Já é noite fechada, o comércio está inativo. Uma outra 'luz' surge, quando Duque se lembra de procurar Dupasquier, um comerciante de ouro. Consegue obter trezentos e cinqüenta mil-réis, Duque pensava em penhora, o comerciante pensava em venda. Como Dupasquier não trabalhava com esse tipo de negócio, voltaram todos ao ponto de partida. Das mãos vazias novamente, procuram um café para articular talvez o derradeiro plano. Outra parte da vida da cidade se inicia, a noite refrescou. Eram oito horas no relógio do café e o negócio caminha lentamente Naziazeno chega em casa pouco depois das nove. Carregava alguns embrulhos, trouxe do conserto o sapato da mulher, comprou um brinquedo para o filho, manteiga e um pedaço de queijo. O homem foi invadido por um pouco de paz. Jantou, tomou um copo de vinho, conversou com a mulher, sentou-se, contemplou os dois leõezinhos que havia trazido para o filho. Contaram o dinheiro para o pagamento do leiteiro, colocaram o pagamento embaixo da panela do leite. Naziazeno está cansado, mas sente dificuldades para dormir. Os incidentes do dia são por demais pesados para ele poder se livrar deles com facilidade. O silêncio é grande. Os dias são quentes, mas as noites esfriam muito, e Naziazeno pensa, pensa, remói o dia, e o sono não chega. Já está inquieto, com a cabeça ardendo e os olhos arranhados. Tanto tempo passa e ainda é uma hora. A noite parece um século e, no entanto, ele precisa dormir, precisa descansar, aproveitar o resto da noite. Acontece, em sua mente cansada, uma superposição de imagens e figuras, que ele tenta ordenar. Na confusão de imagens que surgem a partir da mente adormecida e da vigília, através da memória, Naziazeno recompõe o restante da cena do empréstimo, o bonde, a loja da Dolores, onde comprou os presentes, vai até a casa do sapateiro buscar os sapatos da mulher que haviam ido para o conserto...A obsessão é grande, as imagens não lhe saem da cabeça. Acumulam-se como cartas embaralhadas. E do subconsciente começam a aparecer uma legião de ratos que aumentam conforme passam as horas. Ratos que lhe devoram o dinheiro do leiteiro... Naziazeno está com sono, cansado, mas é preciso continuar, é preciso ser o guardião do dinheiro, até, talvez, o leiteiro chegar. Vagarosamente, contando os minutos, vai vendo chegar a madrugada e com ela os galos cantando, os ruídos da rua e ...o leiteiro chegando. Os Ratos - Dyonélio Machado.pdf Uploaded by: Maria Literária October 2019 PDF https://idoc.pub/documents/os-ratos-dyonelio-machadopdf-pon2jee82m40?utm_source=chatgpt.com

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