Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 10 de março de 2025
Ode Aos Ratos
"Cinquenta e três mil réis... Sessenta arrendondando... Quantas vezes já não tem pensado nisso...? Já lhe sai como um clichê."
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'Cinquenta e três mil réis... Uma de cinquenta (uma cédula verde, grande, com um brilho velho e graxento). Uma pequenina de dois mil réis (já quase não aparecem dessas notas...).' Dyonelio Machado OS RATOS editora ática 2002
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O trecho citado pertence ao romance Os Ratos (1935), de Dyonelio Machado, uma obra fundamental do modernismo brasileiro e da literatura regionalista do sul do Brasil. O romance acompanha a angústia do protagonista, Naziazeno Barbosa, um homem de classe média baixa que precisa conseguir cinquenta e três mil réis para pagar uma dívida urgente.
A passagem destaca a obsessão do personagem com o valor da dívida, evidenciada pela repetição do número e pela descrição detalhada das cédulas, que revelam sua preocupação com o dinheiro e sua escassez. O uso do termo "clichê" sugere que esse pensamento já se tornou automático para ele, refletindo sua aflição psicológica.
A obra é notável por sua abordagem introspectiva e pela crítica social, mostrando a desigualdade econômica e a pressão do sistema sobre indivíduos comuns.
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'Amigo da Onça!' Você sabe a origem dessa expressão popular? O PP explica
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Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
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Com Açúcar, Com Afeto
Maria Bethânia
Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Ainda quiz me aborrecer? Qual o quê!
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você.
Composição: Chico Buarque.
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Um pra lá, outro pra cá
Série Ana Maria Machado
Autor: Ana Maria Machado
Ilustração: Elisabeth Teixeira
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"Um rufar - um pequeno rufar - por sobre a esfera do chiado, no forro... Ratos... são ratos! (...) São os ratos!... (...) A casa esta cheia de ratos... (...) Os ratos vão roer - já roeram! - todo o dinheiro!..." pp. 137-138 OS RATOS Dyonelio Machado editor ática 2002
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Essa passagem de Os Ratos representa um dos momentos de maior tensão psicológica na narrativa. O protagonista, Naziazeno Barbosa, já exausto e angustiado pela busca do dinheiro para pagar sua dívida, começa a ter alucinações ou, pelo menos, interpreta a presença dos ratos como um símbolo de sua ruína iminente.
A repetição da palavra ratos e a construção frenética da frase sugerem um estado de paranoia crescente. Os ratos não são apenas uma presença física; eles se tornam uma metáfora para a corrosão de sua dignidade, do sistema opressor que devora os mais fracos e da angústia sufocante da pobreza. Quando Naziazeno pensa que "os ratos vão roer – já roeram! – todo o dinheiro!", a imagem evoca a destruição não apenas do dinheiro em si, mas da sua esperança, da sua estabilidade e da sua sanidade.
O trecho evidencia como Dyonelio Machado usa o fluxo de consciência para intensificar a opressão psicológica do protagonista. O medo e o desespero de Naziazeno atingem um ponto máximo, tornando a metáfora dos ratos um dos símbolos centrais da obra.
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"Cinquenta e três mil réis... Sessenta arrendondando... Quantas vezes já não tem pensado nisso...? Já lhe sai como um clichê."
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No trecho mencionado de Os Ratos, de Dyonelio Machado, o protagonista Naziazeno Barbosa reflete sobre a quantia de cinquenta e três mil réis, composta por uma cédula de cinquenta mil réis e uma de dois mil réis. Essas cédulas eram utilizadas no Brasil no início do século XX.
Cédula de 50.000 réis:
A cédula de cinquenta mil réis era uma das de maior valor na época. Ela apresentava dimensões maiores e, frequentemente, uma cor verde predominante. A efígie de figuras históricas ou alegóricas era comum nessas cédulas.
Cédula de 2.000 réis:
A cédula de dois mil réis era de menor valor e tamanho. Com o tempo, essas notas tornaram-se menos comuns, como indicado no trecho do livro.
Essas cédulas refletem o contexto econômico e social do Brasil no período em que a narrativa se passa, destacando a importância das quantias mencionadas na trama.
Fontes
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As águas que saem das bicas, de todas as bicas, são da mesma água, porque todas vêm da mesma fonte, e serão carreadas para o mesmo mar para então voltar à mesma fonte sem passar por outras bicas.
Mudam-se os projetos e as concepções das bicas mas as fontes não enganam não.
Ode Aos Ratos
Chico Buarque
Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão
Vão aos magotes
A dar com um pau
Levando o terror
Do parking ao living
Do shopping center ao léu
Do cano de esgoto
Pro topo do arranha-céu
Rato de rua
Aborígene do lodo
Fuça gelada
Couraça de sabão
Quase risonho
Profanador de tumba
Sobrevivente
À chacina e à lei do cão
Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão
Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato
Composição: Chico Buarque / Têtes Raides.
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A letra de Ode aos Ratos, de Chico Buarque, apresenta uma metáfora densa e crítica, utilizando a figura dos ratos para retratar aspectos sombrios da sociedade urbana. Assim como em Os Ratos, de Dyonelio Machado, a presença desses animais simboliza não apenas a miséria material, mas também a degradação humana e a sobrevivência em meio à hostilidade do ambiente social.
Na canção, Chico descreve os ratos como criaturas frenéticas, proliferando-se nas cidades, transitando entre os esgotos e os espaços luxuosos da metrópole (do parking ao living, do shopping center ao léu). Isso sugere que a desigualdade e a precariedade não são isoladas, mas atravessam toda a estrutura social.
O trecho "Ó meu semelhante, filho de Deus, meu irmão" traz uma virada irônica e reflexiva: o rato não é apenas uma praga, mas também um espelho do próprio ser humano, vítima e agente da degradação. A repetição e o ritmo acelerado nos versos finais reforçam essa ideia de um ciclo incessante de destruição e sobrevivência.
A relação entre essa música e Os Ratos pode ser vista na forma como ambos os textos abordam o tema da opressão social e da luta desesperada pela subsistência. Chico, assim como Dyonelio, usa a imagem dos ratos para representar um sistema que corrói tudo – desde a esperança até as estruturas físicas da cidade.
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