Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 15 de março de 2025
ESTAMOS EM UM CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?
Mundo Em Comutação (MEC)
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‘Fui um presidente marcado para ser deposto’, diz Sarney
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Folha de S.Paulo
15 de mar. de 2025
Em 15 de março de 1985, com a hospitalização de Tancredo Neves, cabeça da chapa eleita dois meses antes no Colégio Eleitoral, coube ao vice, José Sarney, assumir a Presidência. Ele imaginava que Tancredo ocuparia o posto alguns dias depois, mas, passadas sete cirurgias, o amigo mineiro morreu em 21 de abril.
Com um ministério todo escolhido por Tancredo, Sarney deveria conduzir a transição da ditadura militar para a democracia. “Fui um presidente marcado para ser deposto, como muitos outros da história do Brasil”, afirmou.
Na entrevista, ele lembra a Constituição de 1988 e a relação com os militares durante seu mandato, analisa as razões para que o Plano Cruzado tivesse um desfecho negativo e critica a falta de lideranças no Brasil de hoje.
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sábado, 15 de março de 2025
Entrevista | José Sarney: 'Fui um presidente marcado para ser deposto'
Naief Haddad / Folha de S. Paulo
Político maranhense lembra a chegada improvável ao poder há 40 anos e as dificuldades para conduzir a transição democrática
José Sarney tem as mãos levemente trêmulas e a voz frágil. Ao lado do enfermeiro, o ex-presidente de 94 anos caminha com dificuldade. Os fios do bigode, aparado com esmero, estão completamente brancos.
Por outro lado, seu raciocínio se mantém afiado assim como o espírito conciliatório. Na sala da sua casa em Brasília, decorada com pinturas de artistas como Cândido Portinari e Burle Marx, ou na ampla varanda, de onde se vê o lago Paranoá, Sarney recebe com frequência amigos dos mais variados espectros políticos, do presidente Lula (PT) ao ex-presidente Michel Temer (MDB).
No momento em que a reportagem chegou para entrevistá-lo, no final da tarde do último dia 7, Sarney falava por telefone com Julio María Sanguinetti, ex-presidente do Uruguai. Sanguinetti disse a ele que pretendia ir ao evento de homenagem ao político maranhense neste sábado, dia 15, em Brasília.
Em 15 de março de 1985, com a hospitalização de Tancredo Neves, cabeça da chapa eleita dois meses antes no Colégio Eleitoral, coube ao vice, Sarney, assumir a Presidência. Ele imaginava que Tancredo ocuparia o posto alguns dias depois, mas, passadas sete cirurgias, o amigo mineiro morreu em 21 de abril.
Com um ministério todo escolhido por Tancredo, Sarney deveria conduzir a transição da ditadura militar para a democracia. "Fui um presidente marcado para ser deposto, como muitos outros da história do Brasil", afirmou.
Na entrevista, ele diz se arrepender das críticas feitas a Juscelino Kubitschek, lembra a depressão que teve nos anos 1980 e comenta as acusações de favorecer deputados para que aprovassem seu mandato de cinco anos. Também se recorda da relação com os militares, analisa as razões para que o Plano Cruzado tivesse um desfecho negativo e critica a falta de lideranças no Brasil de hoje.
Como está a saúde do sr.?
Estou muito bem. Graças a Deus, estou sobrevivendo bem.
Em 1984 e 1985, houve muita resistência para que o sr. integrasse a chapa com o Tancredo?
Quase nenhuma resistência. O Aureliano [Chaves, vice de João Figueiredo, com quem rompeu] quase me impôs como candidato a vice-presidente, ele disse que sem o Sarney não havia Aliança Democrática.
Depois que renunciei ao PDS [partido que apoiava a ditadura], achava que não teria nenhuma presença na política nacional. Mas, a partir daí, o Ulysses ficou insistindo comigo para que eu aceitasse apoiar o Tancredo. Fizemos, então, um grupo: eu, Aureliano, Marco Maciel.
Aureliano teve um peso grande nessa decisão?
Teve um peso muito grande, me obrigou a aceitar. Para que eu não fosse candidato só do Aureliano, o Tancredo mandou me chamar a Minas Gerais e disse que, se eu não aceitasse, ele não renunciaria ao Governo de Minas [para se candidatar à Presidência no Colégio Eleitoral].
Ele sabia que eu tinha uma grande influência no PDS e, realmente, com os nossos delegados do PDS, nós ganhamos a eleição do Tancredo. Sem a nossa participação, ele não teria número para ser eleito pelo Colégio Eleitoral.
Em "Sarney - a Biografia", a jornalista Regina Echeverria conta que o sr. estava se tratando de uma depressão nessa época.
Tive uma depressão, mas superei esse problema rapidamente. Essa é a pior doença que tem no mundo porque é uma doença da alma, não é do corpo.
Qual é a memória mais forte que o sr. tem do Tancredo?
Fui amigo do Tancredo desde o Rio de Janeiro, quando eu era deputado federal [na segunda metade dos anos 1950]. Sem muita intimidade, mas com um nível de aproximação razoável.
Eu participava da UDN como vice-líder do Carlos Lacerda. O Afonso Arinos foi quem lançou o meu nome para vice-liderança. Tinha uma ligação com todos aqueles homens mais importantes da UDN, como Adauto Lúcio Cardoso, Aliomar Baleeiro e Bilac Pinto.
O sr. era oposição ao Tancredo nessa época?
Sim, o Tancredo era do PSD, e eu, da UDN.
A UDN fazia uma oposição muito grande ao Juscelino Kubitscheck [também PSD], e eu fui muito injusto com ele. Bem depois, o Juscelino foi cassado, no período em que eu era governador do Maranhão. Ele foi ao Maranhão, e eu ofereci um almoço para ele. Juscelino me disse que entrava pelo fundo do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. O então governador de Minas não queria que ele entrasse pela porta da frente para não comprometê-lo com a "revolução" [ditadura militar]. Eles chamavam de "revolução".
O sr. falou sobre o Tancredo da década de 1950. E o Tancredo dos anos 1980?
Depois que eu deixei a presidência [do PDS], o Tancredo me visitou para pedir que eu o apoiasse e depois me chamou a Minas Gerais. Mas, nesse período, eu tinha maior relação com o Ulysses, que fez uma catequese muito grande comigo. Eu digo que o Ulysses me namorou dois meses para essa posição [risos].
Qual foi o principal desafio nesses primeiros momentos na Presidência?
Eu não queria assumir a Presidência, queria esperar o Tancredo [que estava hospitalizado]. Houve a necessidade de assumir porque todos achavam, inclusive Ulysses e Tancredo, que, depois de uma luta tão grande para chegar àquele momento, se nós tivéssemos qualquer dúvida sobre quem assumiria, corríamos um risco grande de ter problema. Walter Pires, que era ministro do Exército…
Do Figueiredo, não é?
Do Figueiredo. Quando Leônidas Pires Gonçalves, Ulysses e Fernando Henrique estiveram com ele para comunicar que eu assumiria a Presidência, Walter Pires disse que iria imediatamente para os quartéis para evitar minha posse. Figueiredo achava que deveria ser o Ulysses. Naquele instante, nós corríamos o perigo de ter uma volta da assunção dos militares.
Meu primeiro desafio era o de legitimar-me como presidente da República. Durante todo o tempo, tive que fazer um processo de engenharia política que assegurasse a transição democrática. Fui um presidente marcado para ser deposto, como muitos outros da história do Brasil.
Ulysses dizia que não podíamos deixar que tivesse qualquer problema porque já estávamos no processo da transição, que se completaria com a assunção de um civil à Presidência. Não podíamos dar margem para que os militares pudessem retomar o poder.
Foi difícil lidar com os militares?
Não, foi muito fácil porque eu tive o Leônidas Pires Gonçalves, o melhor ministro do Exército que nós já tivemos. Logo que assumi, eu reuni o ministro do Exército e os generais e disse que iria governar com duas diretrizes.
A primeira: todo comandante tinha o dever de zelar pelos seus subordinados. Eu era o comandante em chefe, quem zelaria pelos meus subordinados era eu. Não queria ordem do dia com mensagens subliminares. Queria que eles levassem [eventuais insatisfações] ao ministro do Exército e eu, como presidente, era quem os defenderia. Os militares estavam com muito medo de revanchismo [dos civis].
Um dos momentos mais difíceis durante a construção da transição foi a Lei da Anistia, e nós anistiamos os dois lados.
E a outra diretriz: a transição seria feita com os militares, e não contra os militares.
Houve algum momento nos seus cinco anos na Presidência que achou que a transição corria risco?
Tivemos muitos períodos dessa natureza. Infelizmente eu não posso revelar todos porque muitas das pessoas que foram participantes desse tempo já morreram. Isso seria uma motivação para tratar dos mortos, o que eu não desejaria fazer.
Durante seu mandato, foi promulgada a Constituição. Quase 40 anos depois, como a avalia?
Foi a Constituição possível, mas que tem sido capaz de atravessar todas as nossas dificuldades. Entre as mais graves, os dois impeachments [Collor e Dilma] e o 8 de Janeiro.
Eu dizia ao Ulysses que nós precisávamos fazer a Constituição porque ela seria a estrutura do nosso projeto democrático. E saiu essa Constituição, que pode não ter sido a melhor, mas foi a possível.
A democracia esteve sob ameaça no 8 de Janeiro?
Eu tinha certeza que jamais as Forças Armadas do Brasil se engajariam em um processo daquela natureza.
Na época da Constituição, o sr. foi acusado de favorecer parlamentares com recursos públicos para votar pelo seu mandato de cinco anos.
Isso era fake news, como se diz hoje. Eles falavam que eu tinha concedido algumas emissoras de TV por meio do Antônio Carlos Magalhães, que era o ministro das Comunicações. Mas, depois de mim, eles fizeram três, quatro vezes mais concessões de TV.
Eu estava abdicando de um ano do meu mandato. Cometi um erro, que foi seguir o presidente [Eurico Gaspar] Dutra. Ele tinha seis anos de mandato e, quando houve a Constituição de 1946, abdicou de um e passou a ter cinco anos. Com isso, todo mundo ficou muito satisfeito.
No meu caso, foi diferente. Eu tinha seis anos de mandato, abdiquei de um e todos acharam que eu queria mais um ano de mandato. Queriam que eu perdesse mais um ano de mandato, e não aceitei.
Não estávamos preparados para ter uma sucessão presidencial naquele momento. Eles [os parlamentares] não sabiam, mas eu sabia que teríamos problemas institucionais.
Qual tipo de problema?
Tínhamos muitos candidatos à Presidência e, naquele tempo, as Forças Armadas não aceitavam.
Por que o Plano Cruzado começou bem, mas acabou não dando certo?
Primeiro porque não teve o apoio que deveria ter internamente. O Cruzado foi uma decisão corajosa, heroica porque eu abandonei a fórmula clássica do FMI de fazer a recessão para ter uma nova conceituação. Eu não tinha poder político para aguentar uma recessão. Eu seria inevitavelmente deposto.
Mas o Cruzado não foi apenas um plano econômico, foi também político porque possibilitou que nós fizéssemos as bancadas da Câmara e do Senado, além dos governadores, que asseguraram a transição democrática. Com isso, nós conseguimos aprovar a Constituinte, o que era muito difícil.
O que o sr. pensa sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais dezenas de pessoas?
Tenho por norma, como é do meu feitio, nem censurar meus antecessores nem meus sucessores. Esse assunto está sendo julgado. Agora a depredação dos três Poderes foi uma coisa terrível. A Justiça pode e deve punir.
Como vê o terceiro mandato do presidente Lula?
Ninguém governa o tempo que governa. Muitas vezes, a gente governa em tempo de fartura, às vezes, de escassez, de problemas externos. Lula vive as circunstâncias desse tempo que ele está governando. Não são as mesmas em que ele governou no primeiro e no segundo mandatos.
Mas acho que o Lula tem sido um excelente presidente. No primeiro e no segundo mandatos, foi extraordinário. No terceiro mandato, está indo bem também. Apenas está enfrentando problemas que não existiram durante os mandatos anteriores.
Por outro lado, a parte política está muito necessitada de lideranças. Os homens daquele tempo [antes de 1964], que exerceram lideranças fortes, que deram suporte aos presidentes, esses homens desapareceram.
Acho que isso foi resultado de uma decisão do movimento de 64, que extinguiu os partidos políticos e, assim, cortou a escola de formação dos líderes. Quando eu comecei, a liderança que tínhamos no Rio era do Otávio Mangabeira, depois do Carlos Lacerda, depois Aliomar Baleeiro, Adauto Lúcio Cardoso... Eram pessoas muito expressivas. Estou falando do meu caso [na UDN].
No PSD, o outro lado, também, Gustavo Capanema, Lúcio Bittencourt. As lideranças de hoje não inspiram uma autoridade capaz de impor à classe política decisões de acordo com o interesse público.
À esquerda e à direita?
Os quadros de esquerda são muito fracos. E os de direita são mais fracos ainda. Estamos numa fase de ausência muito grande de lideranças.
O que achou de "Ainda Estou Aqui"?
É uma obra de arte, com uma atuação extraordinária da Fernanda Torres. Ela conseguiu interpretar a alma da Eunice Paiva. Conheci o Rubens Paiva. Ele foi contemporâneo meu, um homem extremamente agradável. Não demonstrava nenhuma daquelas coisas pelas quais foi acusado. Foi um grande injustiçado naquele tempo.
Por fim, como o sr. quer ser lembrado?
Como o presidente que fez a transição democrática no Brasil, que conseguiu implantar um regime democrático duradouro, é o período mais longo da nossa história sem nenhum hiato [de autoritarismo].
E isso graças ao desempenho que tive na Presidência, de conciliador, de homem do diálogo, que sempre acreditou nas instituições democráticas. Em resumo, eu diria que a democracia não morreu nas minhas mãos e continua de maneira extraordinária, sendo a segunda democracia no mundo ocidental.
Veja momentos importantes da transição democrática
junho de 1984
Insatisfeito com decisões de João Figueiredo, o último presidente da ditadura, José Sarney deixa o PDS, partido de apoio ao regime. Ao lado de outros dissidentes do PDS, como Aureliano Chaves e Marco Maciel, Sarney forma a Frente Liberal, que decide apoiar a candidatura de Tancredo
agosto de 1984
Convenção do PMDB escolhe Tancredo Neves candidato à Presidência e Sarney, representante da Frente Liberal, como vice. Tancredo renuncia ao governo de Minas Gerais para concorrer ao cargo
15 de janeiro de 1985
No Colégio Eleitoral, a chapa Tancredo e Sarney recebe 480 votos, vencendo Paulo Maluf e Flávio Marcílio, ambos do PDS, que obtiveram 180 votos
14 de março de 1985
Na véspera da posse, Tancredo sente fortes dores abdominais e é hospitalizado. Formam-se duas correntes: uma quer que Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara dos Deputados, assuma; outra defende a saída prevista pela Constituição, a posse de Sarney, o vice-presidente
15 de março de 1985
Sarney toma posse interinamente. O general Figueiredo não passa a faixa presidencial para ele
21 de abril de 1985
Depois de sete cirurgias, Tancredo morre aos 75 anos em São Paulo. Sarney é efetivado no cargo de presidente
1º de fevereiro de 1987
Sob a liderança de Ulysses Guimarães, Assembléia Nacional Constituinte inicia suas atividades
5 de outubro de 1988
Constituição é promulgada
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sábado, 15 de março de 2025
Instituições precisam reaprender a ouvir – Pablo Ortellado
O Globo
Vemos críticas não ser consideradas porque são percebidas como acusação moral ilegítima
A polarização não é apenas a separação da sociedade em dois campos políticos antagônicos. Com ela, vêm também a desqualificação do adversário e insensibilidade às suas críticas. Quando instituições são hegemonizadas por um dos polos, seu caráter público é comprometido porque as autoridades que as controlam sentem que não precisam responder a críticas “desqualificadas”. Precisamos entender como opera esse mecanismo e atuar em sentido contrário, para garantir que sigam funcionando de modo republicano num mundo dividido.
Uma famosa história da infectologia serve de ilustração sobre esse ponto. Em meados do século XIX, a febre puerperal, após o parto, era amplamente disseminada e matava até 30% das pacientes que davam à luz nos hospitais. O médico húngaro Ignaz Semmelweis, que trabalhava em Viena, notou que o índice alto de mortalidade só existia na ala atendida por médicos profissionais, enquanto na ala das parteiras e doulas o índice era menor. Quando um cirurgião, colega de Semmelweis, morreu com os mesmos sintomas das parturientes depois de se cortar acidentalmente com o bisturi, ele teve uma intuição: os médicos carregavam partículas infecciosas dos cadáveres que manipulavam noutras alas do hospital para as mulheres em trabalho de parto.
Semmelweis ordenou então que todos os médicos lavassem as mãos com uma solução de cloro antes de atender as pacientes. Os resultados foram imediatos: a taxa de mortalidade caiu para menos de 2%. Foi uma das primeiras descobertas médicas baseadas no que mais tarde se tornaria a teoria dos germes. Mas, apesar das estatísticas mostrando a eficácia de lavar as mãos, a comunidade médica reagiu com hostilidade. Muitos médicos se recusaram a aceitar que eles próprios eram responsáveis pela morte das mulheres. O próprio diretor da maternidade se recusou a implementar permanentemente o protocolo de lavagem das mãos. Semmelweis terminou demitido e caiu em descrença. Aos 47 anos, foi internado à força num asilo psiquiátrico na Hungria, onde morreu em decorrência de maus-tratos.
O episódio é conhecido e discutido na filosofia da ciência. Para Thomas Kuhn, mostra como a ciência resiste à mudança de paradigmas. Para Karl Popper, evidencia as deficiências de uma ciência que não aceita a falseabilidade de crenças prévias. Na historiografia da medicina, porém, um elemento é destacado: os médicos da época de Semmelweis não aceitavam que matavam suas pacientes por não lavar as mãos. Não apenas rejeitaram a ideia, mas ficaram ofendidos e indignados com a sugestão de que eram os responsáveis pelas mortes. O argumento de Semmelweis não foi recebido como descoberta científica, mas como acusação moral e pessoal que tornou a comunidade médica completamente surda às críticas.
É fácil ver o paralelo com a política polarizada. Na polarização, também vemos críticas não ser consideradas porque são percebidas como acusação moral ilegítima.
Nas universidades, não levamos em consideração as críticas feitas pela direita de que há falta de pluralismo político nas ciências humanas e sociais. Não as escutamos porque as vemos como um ataque ilegítimo, vindo de atores desqualificados política e intelectualmente. Acontece o mesmo, de maneira invertida, com a polícia, que apenas despreza as críticas da esquerda a seus abusos de autoridade. Para a polícia, elas não vêm de pessoas de bem cuja preocupação precisa ser levada em conta. Vemos a mesma situação também na relação da Justiça brasileira com certos movimentos sociais de direita. Seus apelos, mesmos os razoáveis, nunca são ouvidos porque vêm de quem a Justiça entende atacar a democracia.
Universidade, polícia e Justiça não servem apenas a uma parte, mas à coletividade. No decorrer do tempo, o fosso que separa as instituições de seus críticos só se aprofunda, com as críticas se tornando cada vez mais passionais e indignadas, enquanto as posturas institucionais são cada vez mais consolidadas, num ciclo de reforço da parcialidade e alienação institucional.
Se queremos preservar o caráter republicano de nossas instituições, elas precisam reaprender a ouvir. Críticas incômodas não devem ser descartadas como ataques, mas analisadas com consideração e compromisso público. Olhem para a História e olhem para o exterior. Instituições que ignoram o que diz uma parte grande da sociedade não apenas traem sua função pública, mas pavimentam seu próprio colapso.
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Sabatinas com os candidatos à Presidência da República - Estadão/FAAP | Ciro Gomes (PDT)
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Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP)
30 de set. de 2022
Conhecer as propostas e o que pensam os candidatos aos cargos públicos é essencial para uma escolha consciente na hora de votar. Por isso, a FAAP se juntou mais uma vez ao Estadão para realizar as sabatinas com os candidatos à Presidência da República.
A parceria entre a FAAP e o Estadão para a realização de sabatinas teve início em 2018 com os candidatos ao pleito daquele ano. Com grande repercussão na imprensa e redes sociais, contou com participação ativa dos professores, além de alunos do LabJor FAAP, que fizeram a cobertura do evento. Não deixe de seguir as nossas redes sociais para acompanhar todas as novidades.
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Mulher leva choque ao esbarrar guarda-chuva em fio de eletricidade solto | #SBTNews (15/03/25)
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SBT News
15 de mar. de 2025
Uma mulher de 56 anos levou uma descarga elétrica ao esbarrar o guarda-chuva em um cabo de energia caído em uma rua de Taguatinga (DF). O acidente foi registrado por volta das 6h50 da manhã desta sexta-feira (14). Imagens de câmeras de segurança registraram o momento exato em que a vítima caminhava pela calçada e, ao encostar o guarda-chuva no fio solto, recebeu o choque. Saiba todos os detalhes no SBT News.
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Mais de 200 anos: 3ª árvore mais antiga de SP cai após forte chuva | #SBTNews Manhã (13/03/25)
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SBT News
13 de mar. de 2025
A terceira árvore mais antiga de São Paulo, uma chichá de cerca de 200 anos, caiu devido à forte chuva que atingiu o centro da capital. O temporal causou estragos também na zona oeste e resultou na queda de outra árvore, que matou um homem. A chichá ficava no Largo do Arouche e era considerada um patrimônio histórico, tendo resistido ao crescimento da cidade por séculos. "Com cerca de 200 anos, ela é testemunha do crescimento da cidade e símbolo de resistência e memória urbana, acompanhando gerações que fazem parte da história neste local”, está escrito na placa instalada ao lado da árvore, com o aviso: “Cuide deste patrimônio vivo!”. Saiba todos os detalhes no SBT News Manhã.
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WW Especial - Estamos em choque de civilizações? - 09/03/2025
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CNN Brasil
Transmitido ao vivo em 9 de mar. de 2025 #CNNBrasil
CONFIRA A VERSÃO ESTENDIDA DO PROGRAMA: • WW Especial - Estamos em choque de ci...
Assista ao conteúdo extra do programa WW Especial deste domingo, 9 de março de 2025.
O tema do programa é: Estamos em choque de civilizações?
Participam deste programa Angelo Segrillo, professor de História Contemporânea da USP, Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM e Alberto Pfeifer, coordenador do grupo de Estratégia Internacional da USP. #CNNBrasil
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WW Especial - Estamos em choque de civilizações? - EXTRA
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CNN Brasil
Estreou em 9 de mar. de 2025 #CNNBrasil
Assista ao conteúdo extra do programa WW Especial deste domingo, 9 de março de 2025.
O tema do programa é: Estamos em choque de civilizações?
Participam deste programa Angelo Segrillo, professor de História Contemporânea da USP, Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM e Alberto Pfeifer, coordenador do grupo de Estratégia Internacional da USP. #CNNBrasil
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ESTAMOS EM UM CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?
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sábado, 15 de março de 2025
Americanos pagarão por ataque à ordem global - Fareed Zakaria
O Estado de S. Paulo
Trump vem desfazendo o sistema internacional; posição privilegiada americana também declinará
Reviravoltas nos EUA estão sendo notadas e resultarão em revolução na política global
Cingapura joga suas cartas geopolíticas com cuidado, ao tentar manter boas relações com os EUA em uma região dominada pela China. Então, vale a pena prestar atenção quando seu ministro da Defesa diz que a imagem de Washington “mudou de libertador para grande desestabilizador, para um senhorio buscando aluguéis”. Seu premiê, Lee Hsien Loong, resumiu o desafio que o mundo enfrenta: “Os EUA não estão mais dispostos a garantir a ordem global”.
Em poucas semanas, o governo Trump pôs em prática uma revolução na política externa americana, abandonando um antigo aliado democrático, a Ucrânia, cuja segurança os EUA prometeram defender desde a assinatura do Memorando de Budapeste, há 30 anos. Agora, Trump pede uma parte da riqueza mineral da Ucrânia, que seu governo descreve como “retribuição”, em troca de apoio.
Enquanto isso, Washington declarou uma guerra comercial contra seus vizinhos e parceiros de negócios mais próximos, Canadá e México, e exigiu que a Dinamarca venda a Groenlândia e o Panamá entregue o Canal do Panamá. Os EUA se movimentaram para deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS), que o país ajudou a fundar, tentaram encerrar a maioria de seus programas de ajuda externa, revertendo uma tradição de generosidade que remonta à 1.ª Guerra, e suas tarifas são violações claras das regras comerciais que Washington criou e defendeu por décadas.
DESCONFIANÇAS. Essas reviravoltas estão sendo notadas e resultarão em uma revolução na política externa em todo o mundo. Friedrich Merz, homem que provavelmente será o próximo chanceler da Alemanha, disse recentemente: “Nunca pensei que teria de dizer algo assim. Mas, depois das declarações de Donald Trump, está claro que os americanos – pelo menos esta parte dos americanos, este governo – são indiferentes em relação ao destino da Europa”.
A Alemanha estava no centro do sistema de segurança que os EUA construíram após a 2.ª Guerra. Para esse país começar a tremer, é porque a mudança é sísmica. Merz até aventou a ideia de a França e o Reino Unido estenderem seu guarda-chuva nuclear sobre a Alemanha, porque não está mais convencido de que os americanos defenderiam o país. Essa promessa dos EUA era a essência da Otan, mas ninguém na Europa está certo de que Trump a honrará.
Os habitantes de Taiwan assistiram nervosamente Trump voltar as costas à Ucrânia. Em vez de oferecer apoio contra as intenções predatórias do vizinho intimidador de Taiwan,
Trump repreendeu o governo taiwanês por não gastar o suficiente em sua própria defesa. Muitos na ilha agora temem que Trump possa fazer um acordo com Pequim que os deixe abandonados da mesma forma que a Ucrânia.
REAÇÃO. Todos esses movimentos dos EUA surtirão um efeito: começarão a engendrar um novo mundo multipolar. Inevitavelmente, grandes países, como Alemanha e Japão, cuidarão de sua própria segurança. Isso pode significar que, para o Japão, assim como para a Coreia do Sul, armas nucleares se tornarão uma opção atraente – uma apólice de seguro contra agressões.
Sob o guarda-chuva de segurança dos EUA, o mundo testemunhou uma proliferação nuclear notavelmente baixa. Isso pode mudar drasticamente. Cada país ponderará a respeito de maneiras de se livrar da dependência dos EUA.
À medida que buscarem independência em relação aos americanos, os países também poderão procurar alternativas ao domínio do dólar. Os europeus, que são na realidade os únicos capazes de montar uma alternativa, podem começar a emitir títulos da União Europeia, que seriam os concorrentes mais eficazes dos títulos do Tesouro dos EUA.
O “privilégio exorbitante” de os EUA serem donos da moeda em que as reservas mundiais estão depositadas – o que lhes permitiu acumular déficits enormes a baixo custo – pode se desgastar mais rapidamente do que poderíamos imaginar.
Todas essas mudanças são um presente para a Rússia e a China, cujo objetivo tem sido enfraquecer o poder e a presença dos EUA no mundo. Conforme um analista russo afirmou recentemente sobre a política de Trump para a Ucrânia: é como se fosse Natal, Chanuká, Páscoa e o aniversário de Putin – tudo no mesmo dia.
Para quem acha que já passou da hora de mudarmos um sistema internacional tão dependente dos EUA, você já pesou os custos e os benefícios? Os EUA passaram oito décadas construindo um sistema internacional com regras, normas e valores que produziram o período de paz e prosperidade global mais longo na história da humanidade.
Suas alianças são os maiores multiplicadores de força para sua influência no mundo. Os EUA têm sido os maiores beneficiários desse sistema, mesmo agora, décadas depois, ainda definindo agendas e dominando o mundo economicamente, tecnologicamente e militarmente.
À medida que essa ordem se desfaz, a posição privilegiada dos EUA também declinará, criando um mundo mais perigoso e empobrecido – e os EUA mais isolados, desconfiados e inseguros. O mundo pós-americano está agora à vista de todos.
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sábado, 15 de março de 2025
Seria o fim completo do liberalismo? - Marcus Pestana
Não se fala de outra coisa. Donald Trump é o assunto diário do momento. Nada mais gratificante para um líder famoso dos “engenheiros do caos”. Não importam verdade e mentira, consequências e danos, resistências e críticas. Desde que a imagem que se deseja construir seja fortalecida e a voracidade da bolha de seus seguidores devidamente abastecida e mobilizada, tudo se justifica. Valem bravatas estapafúrdias de péssimo gosto como a de transformar a Faixa de Gaza em resort ou ameaçar tomar a Groelândia e o Canal do Panamá. As tarifas de importação viraram ferramenta de chantagem.
A ideia de democracia é substituída por um governo movido a decretos, o que parece não incomodar a maioria republicana na Câmara dos Representantes e no Senado. E pela criação da imagem de um presidente plenipotenciário, onipresente e superpoderoso. Um verdadeiro xerife do mundo contemporâneo. Na mesa só duas opções: aderir ou receber a ira do neoimperialismo americano.
É ainda uma fase de acomodações. Na análise de líderes populistas iliberais que abusam de factoides exóticos e até de fake news, a atenção tem que estar concentrada nas ações concretas e não na retórica. Afinal, tarifas foram impostas e canceladas em 24 horas. Medidas sabidamente (inclusive por Trump) inconstitucionais foram revertidas na Justiça ou contraditadas por iniciativa de governadores de estados americanos.
Por outro lado, os EUA, apesar de serem a maior economia do mundo, não têm mais hegemonia absoluta e capacidade unilateral de dar as cartas. E ainda, determinadas medidas podem transformar-se em tremendo tiro no pé com a volta do cipó da aroeira da inflação, dos juros altos, da perda de competitividade e da queda do valor dos ativos americanos no lombo de quem mandou dar.
Ao final do século XX, encaramos uma realidade configurada pelo desmoronamento do socialismo real e pelo estrangulamento fiscal do Estado do Bem-Estar socialdemocrata. A globalização avançava, a hegemonia do liberalismo econômico e político parecia definitiva e a história teria encontrado o seu “fim”. O multilateralismo e a necessidade de uma governança global pareciam imperativos. Se bem que, no mundo da globalização avançada, o trânsito era livre para mercadorias e capitais, não para a força de trabalho.
A imigração em massa de populações pobres africanas, asiáticas e latino-americanas geraram resistências enormes, caldo de cultura propício para o surgimento de uma extrema-direita selvagem. A sociedade assiste à fragmentação de interesses e a polarização ideológica crescentes. Os partidos políticos perdem força e enfrentam a substituição parcial de seu papel pela participação direta individual ou em grupos nas crescentemente poderosas redes sociais.
Donald Trump, nestes dois meses, acionou sua metralhadora giratória contra tudo e todos. Não escaparam Canadá, México, Colômbia, Ucrânia, Brasil, China, Irã, Palestina. Tudo em nome do “América First”. As instituições multilaterais simbólicas do mundo pós-guerra foram confrontadas: OMS, OMC, Acordo de Paris, OTAN etc. Aonde chegaremos? Será o fim do liberalismo?
Muitos que apoiaram Trump já revelam seus temores e puseram as barbas de molho. Só o tempo poderá dizer até onde irão as estripulias e ousadia trumpistas. Só o tempo revelará completamente suas consequências.
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