sábado, 28 de julho de 2018

NA MESMA MOEDA


A NARRATIVA DE FICÇÃO

Estudos Literários

"A narrativa está presente em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, não há em parte alguma, povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm suas narrativas, e frequentemente estas narrativas são apreciadas em comum por homens de cultura diferente, e mesmo oposta: a narrativa ridiculariza a boa e a má literatura: internacional, trans-histórica, transcultural, a narrativa está aí, como a vida." (Barthes, 1971, p. 19-20)

‘Narrar é expor, por meio da fala ou da escrita, um acontecimento ou uma sucessão de acontecimentos, mais ou menos encadeados, reais ou imaginários. Assim temos a narrativa poética, a narrativa objetiva (acontecimentos reais) e a narrativa de ficção (acontecimentos imaginários). No caso da narrativa de ficção, usamos o termo "narração", como designativo da prosa de ficção. Neste caso, a narração é uma invenção, uma criação humana e, como tal, exige arte, técnica, e imaginação. Enfim, a narração consiste no relato de acontecimentos ou fatos que envolvem: um narrador que a conte, personagens que vivencie os fatos narrados, um espaço em que se ambiente a história, uma trama (conflitos), ação e o transcorrer do tempo em que a ação se desenvolve.

A Mentira Artística
O filho chega tarde a casa e o pai corre severo para ele:
— O que houve?
O filho expõe (narra) um conjunto de fatos, de acontecimentos que lhe servirão de desculpas. O objetivo dessa narrativa é o convencimento do pai. De modo que o filho procura os acontecimentos que motivaram o atraso (narrativa objetiva), ou os inventa (narrativa ficcional). Daí, não é sem razão dizer-se que: "o primeiro filho mentiroso descobriu a arte da narrativa", que agrada mais e convence mais porque vai além dos fatos, além da realidade. "A mentira artística chama-se ficção".

A Narrativa de Ficção ou Narração
A narrativa de ficção é construída, elaborada de modo a emocionar, impressionar as pessoas como se fossem reais. Quando você lê um romance, novela ou conto, por exemplo, sabe que aquela história foi inventada por alguém e está sendo vivida de mentira por personagens fictícios. No entanto, você chora ou ri, torce pelo herói, prende a respiração no momento de suspense, fica satisfeito quando tudo acaba bem. A história foi narrada de modo a ser vivida por você. Suas emoções não deixam de existir só porque aquilo é ficção, é invenção. No "mundo da ficção" a realidade interna é mais ampla que a realidade externa, concreta, que conhecemos. Através da ficção podemos, por exemplo, nos transportar para um mundo futuro, no qual certas situações que hoje podem nos parecer absurdas, são perfeitamente aceitas como verdadeiras.

Os contos de fadas, as fábulas, os desenhos animados, as narrativas fantásticas, em que tudo pode acontecer, também, nos remetem a outra realidade, bem mais ampla da que vivemos. Nestes casos, os textos narrativos, apresentam uma lógica interna que acabamos aceitando como verdade. É o que alguns teóricos chamam de “suspensão voluntária da descrença”, para exemplificar essa suspensão, cito dois exemplos:

Em a Metamorfose, o tcheco Franz Kafka inicia a narrativa com o personagem Gregor Samsa transformado em um inseto (metáfora da condição humana em um mundo adverso, desumano):
“Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa viu-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça, e ao erguer um pouco sua cabeça viu o seu ventre marrom, abaulado divididos em saliências arqueadas (...).”

Já Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, dá voz a um defunto que narra logo no primeiro capítulo o seu óbito:
"Algum tempo hesitei se deveria começar estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor [...]."

Para o leitor prosseguir na leitura dessas narrativas é necessário que ele suspenda temporária e voluntariamente a sua descrença e aceite, como um fato da realidade, uma personagem transformada em um inseto horroroso e um defunto que resolve contar suas memórias.

Toda narrativa de ficção transmite uma determinada visão da vida. É por essa razão que as narrativas de ficção ou a ficção nos tocam tão de perto. ®Sérgio.
Tópicos Relacionados: 
A Verossimilhança.
A Ficção.  
O Autor e o Narrador.  
A Personagem na Narrativa.  

Algumas informações foram extraídas e adaptadas ao texto de: Massaud Moisés, A Criação Literária.’
Ricardo Sérgio




sábado, 28 de julho de 2018
Pablo Ortellado: Autoengano
- Folha de S. Paulo

Petistas difundiram narrativa para cooptar militantes na defesa do legado lulista

Na última semana, descobrimos que Lula deve empurrar sua candidatura até o último momento e deve concorrer com um programa muito parecido com o que praticou nos anos 2000. Essa estratégia é fruto de uma armadilha retórica na qual o PT se emaranhou.

Desde que foram forçados a retomar a mobilização, para se contrapor aos protestos que pediam o impeachment, os petistas difundiram uma narrativa, a narrativa do golpe, uma estratégia discursiva para assustar a militância de esquerda e cooptá-la na defesa do legado lulista.

A narrativa tenta interpretar todo o processo político recente como uma orquestração conservadora contra os avanços sociais dos governos de esquerda.

Segundo ela, a Lava Jato não teria desvelado um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras, mas seria apenas uma armação sem fundamento para perseguir o PT.

Dilma Rousseff não teria sofrido um impeachment porque seu partido se enredou em corrupção e um movimento de massas se levantou contra ele, nem porque perdeu completamente o controle do Congresso por pura incapacidade política, nem por ter cometido erros grosseiros de condução da política econômica, nem por ter traído seu programa eleitoral tão logo reeleita.

O que aconteceu, segundo a narrativa, foi que as elites não teriam tolerado o avanço social dos programas petistas e forjaram uma coalizão com o Judiciário, a oposição e a imprensa para derrubar Dilma e impedir novos governos de esquerda.

Às vezes, a narrativa faz parecer que programas como o Fies, o Bolsa Família e o Luz para Todos foram tão revolucionários que teriam ameaçado o status quo. Outras vezes, ela faz parecer que nossa elite é tão reacionária que não toleraria mesmo programas moderados e ambivalentes.

De qualquer maneira, a corrupção com a qual o PT se envolveu e os graves erros do governo Dilma são jogados para debaixo do tapete e toda a responsabilidade pelo fracasso passa a ser da oposição.

A crença na narrativa é ambígua. Por um lado, como se acreditassem nela, rebaixam as expectativas, fazendo crer que o que tivemos com Lula é tudo o que é possível fazer —qualquer proposta mais ousada, as elites simplesmente não autorizariam.

Por outro lado, como se não acreditassem tanto nela, rejeitam uma ruptura institucional, optando por jogar o jogo eleitoral supostamente viciado, inclusive buscando o apoio de políticos “golpistas”.

Embaraçado pela própria narrativa, o PT, com Lula ou sem Lula, deve reeditar um programa gasto e limitado, projetando um horizonte de mudanças muito aquém da urgência social imposta pela desigualdade brasileira.
Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.




Significado de Narrativa

O que é Narrativa:

“Narrativa é uma exposição de fatos, uma narração, um conto ou uma história. As notícias de jornal, história em quadrinhos, romances, contos e novelas, são, entre outras, formas de se contar uma história, ou seja, são narrativas.
As narrativas são expressas por diversas linguagens: pela palavra (linguagem verbal: oral e escrita), pela imagem (linguagem visual), pela representação (linguagem teatral) etc.
Elementos da Narrativa
A narrativa é uma sequencia de fatos interligados que ocorrem ao longo de certo tempo e possui elementos básicos na sua composição:
Fato – corresponde à ação que vai ser narrada (o que)
Tempo – em que linha temporal aconteceu o fato (quando)
Lugar – descrição de onde aconteceu o fato (onde)
Personagens – participantes ou observadores da ação (com quem)
Causa – razão pela qual aconteceu o fato (por que)
Modo – de que forma aconteceu o fato (como)
Consequência – resultado do desenrolar da ação
A narrativa se desenvolve em torno de um enredo, nome que se dá a sequencia dos fatos. A partir do enredo chega-se ao tema, que é o motivo central do texto. O enredo apresenta situações de conflitos ou ações, que são divididos em quatro partes:
Apresentação – vários elementos como as personagens, cenário, e tempo, são apresentados pelo narrador, para enquadrar o leitor relativamente aos fatos.
Desenvolvimento - aqui o conflito tem origem, havendo o confronto entre os personagens.
Clímax - é o expoente máximo do conflito, existindo uma enorme carga dramática e onde alguns fatos importantes atingem sua maior dramaticidade.
Desfecho – é a parte final da narrativa que revela o resultado do clímax, sendo que o conflito pode ou não ter sido resolvido.
Os personagens de uma narrativa podem ser descritos do ponto de vista físico e psicológico, exercendo diversos papéis:
Protagonista – é o personagem principal de uma narrativa, tem o papel mais importante no desenrolar da ação.
Antagonista - aquele que se opõe ao protagonista, sendo o seu inimigo. Muitas vezes só é revelado como antagonista durante o clímax.
Personagem secundária - apesar de ter um papel menos importante que o protagonista, é também importante para o desenvolvimento da ação.
Figurante - tem como função ajudar a descrever um ambiente ou espaço do qual faz parte. O seu papel não tem influência na ação.
Narrativa Literária
A narrativa literária pode ser apresentada na forma de prosa e verso. Quanto ao conteúdo, estão agrupadas em três gêneros: narrativo, lírico e dramático.
Em toda narrativa, há um narrador, que conta o que acontece. Não deve ser confundido com o autor do texto. O narrador pode ser um personagem que participa da ação. Nesse caso trata-se de um narrador em primeira pessoa. Quando ele não participa da história, mas apenas relata o que fazem os personagens, trata-se de um narrador em terceira pessoa.
Entre as formas de narrativas em prosa, destacam-se:
Romance – aborda uma narrativa de ficção, longa, com vários personagens que vivem diferentes conflitos e cujos destinos se cruzam, através de um enredo narrado numa sequência temporal. Um romance pode contar diferentes tipos de histórias: romance policial, romance histórico, romance de aventuras etc. Ex.: Morte na Praia, de Agatha Christie,
Novela – é uma narrativa menos abrangente que o romance, composta de uma série de unidades encadeadas, mas articulada em torno de um personagem central. Ex.: O Alienista, de Machado de Assis, Vidas Secas, de Graciliano Ramos etc.
Conto – é uma narrativa mais curta, compacta e com poucos personagens. Concentra-se em torno de um só personagem, onde só existe um conflito num espaço de tempo reduzido.
Crônica – possui um texto mais informal, que relata acontecimentos do dia a dia, onde várias vezes o cronista sutilmente denuncia algum problema de ordem social.
Fábula – é uma pequena narrativa que expressa uma mensagem de fundo moral. As personagens das fábulas são, geralmente, animais que representam tipos humanos. Ex.: A Cigarra e a Formiga e A Lebre e a Tartaruga, de La Fontaine.
Narrativa de aventura
A narrativa de aventura é aquela que descreve ações desenvolvidas por um personagem representado por um valente herói, que vive as mais surpreendentes situações. O aventureiro enfrenta desafios e se envolve em diversas aventuras para escapar do perigo. A ação é um elemento principal numa narrativa de aventura. Ex.: As Viagens de Gulliver, de Jonatham Sift, Odisseia e A Ilíada, de Homero etc.”
Data de atualização: 16/09/2014. O significado de Narrativa está na categoria: Geral




Embassado ou embaçado


"A forma correta de escrita da palavra é embaçado, com ç. A palavra embassado, com ss, está errada. O adjetivo embaçado indica, principalmente, alguma coisa está sem cor ou sem brilho, que está baça ou pálida. Pode indicar também uma pessoa perplexa ou confusa, bem como um som abafado. Embaçado é também o particípio do verbo embaçar. 
Exemplos com embaçado
O vidro da janela do carro está embaçado. (adjetivo) 
O espelho do banheiro ficou embaçado depois que tomei banho. (adjetivo) 
Estou tão cansada que estou com a visão embaçada. (adjetivo) 
O vapor tinha embaçado o vidro, mas eu já desembacei. (particípio) 
Embaçado é sinônimo de embaciado, baço, pálido, lívido, perplexo, pasmado, confuso e embaraçado, entre outros.
Origem de embaçado
O adjetivo embaçado é formado a partir do particípio do verbo embaçar, proveniente da palavra baço. Assim, embaçado e embaçar são palavras cognatas do substantivo baço, fazendo parte da sua família de palavras.
Todas as palavras cognatas de baço deverão ser escritas com ç, nunca com ss: baço, embaçado, embaçar, desembaçar,… 
Embaçado ou embaciado?
Embaçado e embaciado são adjetivos sinônimos. Embaçado é a forma mais usada no português falado no Brasil e embaciado é a forma mais usada no português falado em Portugal. 
Exemplos com embaciado
O vidro da janela do carro está embaciado. 
O espelho ficou embaciado depois que tomei banho.
Palavras relacionadas: embaçadoembaçar."



Sinônimo de embaraçado

“30 sinônimos de embaraçado para 4 sentidos da palavra embaraçado:
Sem se poder movimentar:
1 preso, tímido.
Pessoa sem experiência:
2 xucro.
Assustado:
3 azul, bloqueado.
4 arrevesado, atado, atracado, atrapalhado, atravancado, complicado, complicar, confundido, confuso, congestionado, difícil, emaranhado, embargado, encabulado, encalhado, encravado, engasgado, enleado, enrascado, estacado, estorvado, impedido, ininteligível, intricado, tolhido.
A palavra embaraçado aparece também nas seguintes entradas:
acabrunhado, torpe, acanhado, envergonhado, perturbado, apurado, intrincado, constrangido, complexo, melindroso, vergonhoso, inextricável, vedado, inapto, prejudicado, passado, chucro, comprometido, contraído, desconcertado, embaçado, pejado, pudico, avoado, atônito, mocó, sem graça”





O Espírito de Cornélio Pires — Cornélio Pires — F. C. Xavier / Waldo Vieira / Elias Barbosa


4


Na mesma moeda

1 O coronel Tutuca Sapecado,
A cada petitório de mendigo,
Falava: — “Deus é grande, meu amigo!”
Mas não dava um vintém de mel coado.

2 Se um doente gemendo afadigado
Vinha pedir perdão de juro antigo,
Louvava: — “Deus é grande! Deus consigo?”
E recebia o cobre assossegado.

3 Quando morreu ficou na caixa-forte
E gritava mudado pela morte:
— “Quero o auxílio do Céu! Que Deus me mande!”

4 Mas trancado no escuro, em agonia,
Só escutava alguém que lhe dizia:
— “Fique firme, Tutuca, Deus é grande!”




Referências

https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/444314
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/07/pablo-ortellado-autoengano.html?m=1
https://www.significados.com.br/narrativa/
https://www.sinonimos.com.br/embaracado/
http://bibliadocaminho.com/ocaminho/txavieriano/livros/Oec/Oec04.htm

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