segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Cacá Diegues - Gracias a la pelota

 

Maradona foi um permanente inquisidor da alma humana. Quase diria que se sacrificou por nós, latino-americanos

 

Nunca entenderemos tudo o que se passa no mundo.

 

 

Às vezes, temos necessidade de um choque radical para compreender melhor o que já estava diante de nossos olhos. Como o papel civilizatório de Diego Armando Maradona. Além do craque de bola que ele foi, a base moral de seu comportamento no mundo, Maradona foi um permanente inquisidor da alma humana. Quase diria que se sacrificou por nós, latino-americanos, devedores de tantos poderosos que sempre admiramos pelo mundo afora.

Não é que Maradona não desejasse ser conquistado, como o foi tantas vezes, como todos nós. Mas ele queria entender o mundo à sua volta e, para isso, precisava saber por que os homens poderosos amavam e eram amados pelo povo que cultivava Maradona. Nosso herói não era de esquerda, de centro ou de direita; mas se interessava pelas pessoas que professavam tais ideias. Não pelas ideias, mas pelo povo que elas conquistavam, do qual se aproximavam.

Se procurarmos na vasta coleção audiovisual em que o registramos, vamos encontrar cenas em que Maradona se declara a Fidel, de quem tinha uma tatuagem na perna esquerda, justamente a perna genial. Ou confissões de amor a dirigentes políticos como Carlos Menem, um neoliberal populista e popular, a quem ajudou a se eleger presidente da Argentina. E ainda oferecendo ao general Videla, comandante da ditadura mais sangrenta na história de seu país, o título mundial conquistado em Tóquio pela seleção juvenil.

A televisão argentina não se cansava de mostrar Maradona a cantar hinos peronistas, a defender os Kirchners, a se deixar usar pela máfia italiana quando jogava pelo Napoli, a fazer oposição contundente a Macri, a dedicar sua autobiografia ao xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum, cruel ditador árabe, a quem agradecia por “brindá-lo com seu apoio”. Maradona beijava o desconhecido, como beijou o Papa Francisco na bochecha, quando o conheceu, e o atacante Caniggia na boca mesmo, quando este fez, de uma assistência sua, o gol que desclassificou o Brasil na Copa de 1990.

Segundo Tostão, grande cronista de futebol, “Maradona era o maior craque do mundo numa época em que a ciência esportiva tentava fazer do futebol um jogo essencialmente científico, programado e previsível. Ele, com seu show de habilidades, inventividade, imprevisibilidade e efeitos especiais, foi uma resistência ao futebol pragmático”. Podemos dizer a mesma coisa de sua vida pessoal. Quando ele se junta a líderes formados por diferentes ideologias, não está aderindo às ideologias dos políticos. Nunca o vimos comentar, criticar ou elogiar essas ideologias. “Não sou comunista”, disse ele uma vez. “Mas tenho orgulho de ser amigo de Fidel.”

Por meio de seus amigos, de direita, de centro ou de esquerda, por meio da Camorra ou da Igreja, Maradona se aproximou sempre de quem o povo admirava ou simplesmente amava de algum modo, por alguma razão. A única vez em que respondeu à pergunta de repórter sobre as consequências de sua morte, ele disse que queria apenas que em sua lápide estivesse escrito: “Gracias a la pelota”.

Acho que o que ele queria mesmo era entender, por meio de quem o povo amava, o povo que o fez tão grande. Ele se manifestava pela sua genialidade no futebol, o que o aproximava de todos, do “pibe” do Boca aos senhores do mundo. Mas ele queria entender o que era a Humanidade, e essa curiosidade talvez o tenha matado. Nunca entenderemos tudo o que se passa no mundo.

Maradona deixa como legado maior de sua vida e obra os dois gols que fez em 1986, no México, contra a Inglaterra, se tornando pela primeira e única vez campeão mundial de futebol. O primeiro gol, ele fez com a mão esquerda (“la mano de Dios”), falta que só o juiz encantado por ele não viu. No segundo, que consagrou a Argentina campeã do mundo, gol classificado pela Fifa como o mais bonito de todas as Copas, ele driblou o meio de campo e a defesa inteira da Inglaterra, numa inacreditável linha quase reta. É como se estivéssemos recebendo de presente as duas mensagens geniais de Maradona: o politico hábil e o mito divino do futebol. O diabo e deus na terra do sol.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Fonte:

- O Globo

In:

https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/11/caca-diegues-gracias-la-pelota.html

 

 

 

 

Dico é um filho exemplar, Pelé é uma dádiva de Deus – Dona Celeste

In:

https://www.santosfc.com.br/as-frases-dos-suditos-do-rei/

 

Filho do poeta argentino Manuel Graña Etcheverry, Pedro nasceu em Buenos Aires e veio morar no Brasil em 1980.
Um ano antes, serviu o Exército argentino no quartel de
La Tablada, junto com Diego Maradona, que já jogava pelo Argentinos Juniors. “O comandante era sócio do time
e sempre liberava o Maradona. Ele foi ao quartel umas
três vezes, mas juramos a bandeira argentina lado a
lado”, conta o cenógrafo.

In:

https://www.terra.com.br/istoegente/171/reportagens/pedro_drummond.htm

 

Carlos Drummond de Andrade uma vez definiu Garrincha desta forma:

Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho8.

 

[...]

In:

https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2020/11/tratos-bola.html

 

 

Redação PragmatismoEditor(a)

ESQUERDA25/NOV/2020 ÀS 18:57COMENTÁRIOS

 

 

 

Texto de Eduardo Galeano sobre Maradona viraliza nas redes

 

 



 

Diego Armando Maradona em homenagem recebida na Índia em 2008 (Imagem: AFP)


 

 

"O mais humano dos deuses". Texto do escritor Eduardo Galeano sobre Maradona viraliza nas redes após morte do ídolo argentino

Diego Armando Maradona, o indomável jogador de 1,65 metro, famoso por suas jogadas dentro de campo e suas declarações fora, morreu por volta do meio-dia desta quarta-feira (25), apenas 25 dias depois de completar 60 anos.

Maradona sofreu com as drogas, passou por internações, tornou-se nome de igreja na Argentina, arrastou séquitos e desafetos, com genialidade e irresponsabilidade.

Na politica, não hesitou em dar apoio a quem quis. Assim, foi abraçar Fidel Castro e defender Hugo Chávez. Da mesma forma, prestou solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em sua obra Fechado por Motivo de Futebol, o escritor uruguaio Eduardo Galeano definiu Maradona como “o mais humano dos deuses”, uma “síntese ambulante das fraquezas humanas, ou ao menos masculinas”.

O texto de Eduardo Galeano viralizou no Brasil e em outros países da América Latina após a morte de Maradona. Confira abaixo:

(Por Eduardo Galeano)

“Nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares.

Esse ídolo generoso e solidário tinha sido capaz de cometer, em apenas cinco minutos os dois gols mais contraditórios de toda a história do futebol. Seus devotos o veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou.

Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável.

Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam.

Ele jamais conseguiu voltar para a anônima multidão de onde vinha.

A fama, que o havia salvo da miséria, tornou-o prisioneiro.

Maradona foi condenado a se achar Maradona e obrigado a ser a estrela de cada festa, o bebê de cada batismo, o morto de cada velório.

Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga.”

Fonte:

Redação Pragmatiso

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2020/11/texto-de-eduardo-galeano-sobre-maradona-viraliza-nas-redes.html

 

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade, “Quando É Dia de Futebol”

Atualizado em 24 de fevereiro de 2014

“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”.

Carlos Drummond de Andrade, em “Pelé 1.000”, Jornal do Brasil, 28/10/1969

 



companhiadasletras.com.br/

 

Craques nascidos em outubro  – Garrincha, Pelé e Maradona – são personagens do livro Quando É Dia de Futebol , que reúne poemas, crônicas e até cartas em que o poeta mineiro fala do “esporte bretão” – e agora é relançado pela Companhia das Letras, depois de um tempo fora de catálogo. O livro foi organizado por netos de CDA, Luis Mauricio e Pedro Augusto Graña Drummond. Eles vasculharam os arquivos do avô e bibliotecas para compilar os textos, que revelam um poeta bastante inteirado sobre o dia a dia do futebol. Drummond também era um torcedor apaixonado.
Escolheu o Vasco, porque foi o primeiro grande clube carioca a contratar jogadores negros.  Há textos sobre as Copas de 54, 58, 62, 66 (publicadas no Correio da Manhã). 70, 74, 78, 82 e 86 (publicadas no Jornal do Brasil). Garrincha e Pelé ganham capítulos especiais. 

 



Capa da edição lançada pela editora Record, em 2002

https://futpopclube.com/2010/10/29/quando-e-dia-de-futebol/

 

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