domingo, 1 de novembro de 2020

“Ao rei, tudo, menos a honra”.

 

 


 

 

A privataria da saúde não toma jeito

 



 

Costuraram no escurinho de Brasília um avanço sobre as Unidades Básicas de Saúde do SUS, conseguiram um decreto, que gerou gritaria e acabou sendo retirado

A turma da privataria da saúde desprezou um velho conselho de Tancredo Neves e deu-se mal: “Esperteza quando é muita come o dono”.

Costuraram no escurinho de Brasília um avanço sobre as Unidades Básicas de Saúde do SUS, conseguiram um decreto, provocaram uma gritaria, tomaram um momentâneo contravapor de Bolsonaro e avacalharam o general Eduardo Pazuello. Seu ministério disse que a ideia veio da ekipekonômika. Já o doutor Guedes disse inicialmente que ela veio do ministério do general.

Em 2019, essa turma produziu em segredo um projeto que virava de cabeça para baixo a legislação que rege os planos de saúde. Tinha 89 artigos, nenhum a favor da clientela. A peça havia sido produzida num escritório de advocacia por um consórcio de entidades, seguradoras e operadoras, e a consulta ao seu texto era sigilosa. Divulgada, a armação explodiu e ficou sem pai nem mãe. Covardemente, ninguém saiu em sua defesa, nem os autores.

De lá para cá, veio uma pandemia e roubalheiras público-privadas com a saúde foram expostas em Rio, Amazonas, Pará, Brasília e Santa Catarina. Três secretários de Saúde passaram pela cadeia, e dois governadores estão com o mandato a perigo.

Individualmente, entre os çábios da privataria médica há renomados profissionais, ou respeitados gestores. Coletivamente, eles se misturam com larápios e operadores do escurinho de Brasília, incapazes de botar a cara na vitrine. Se praticassem esse tipo de promiscuidade no tratamento de seus pacientes privados, a medicina brasileira já teria migrado para Miami.

 


A menina Rachel Clemens Coelho se recusa a

cumprimentar o presidente Figueiredo
(Foto: Guinaldo Nicolaevsky)

http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/04/mulher-que-quando-crianca-negou-se-dar-mao-figueiredo-morre-em-bh.html

Figueiredo, general de vitrine

Está chegando às livrarias “Me esqueçam: Figueiredo — A biografia de uma presidência”, de Bernardo Braga Pasqualette. Conta o governo do general João Baptista Figueiredo, o último governante do ciclo que foi de 1964 a 1985.

Estourado e vulgar (um lorde nos dias de hoje) deixou a Presidência pedindo para ser esquecido. Conseguiu, mas os tempos estranhos do século XXI pediam que seu caso fosse contado e Pasqualette ralou, entrevistando centenas de sobreviventes do ocaso da ditadura. Figueiredo foi um personagem trágico. É visto como o último presidente da ditadura, mas assinou a anistia de 1979, respeitou as regras do jogo e deixou o palácio por uma porta lateral para não passar a faixa a José Sarney, que assumiu por conta da doença de Tancredo Neves. Seria seu grande momento. Foi o retrato de um temperamental desorientado.

Sua administração foi errática e ruinosa, mas a ele também se deve o fecho da transição para um regime democrático.

Figueiredo era um general de vitrine, tríplice coroado nas escolas militares, fazia o gênero do cavalariano desbocado e atlético. Ali havia um cardiopata inseguro e dissimulado. Muita medalha e pouco mérito. Ele passou mais tempo no palácio do que em comandos de tropa e viveu parte da Segunda Guerra como instrutor da cavalaria na escola de Realengo.

 

 

 

 

GEISEL PASSA A FAIXA PRESIDENCIAL A fIGUEIREDO

https://folhapress.folha.com.br/foto/696533

 

Faixas

Ao tempo do general Figueiredo, o governo tinha mania de condecorações. Ela voltou, com mais um penduricalho: as faixas. Este adereço monárquico exige bons modos e elegância. Quando o uso de faixas era coisa de miss em concurso de beleza, as moças vestiam-nas como rainhas.

Bolsonaro veste suas faixas com tamanha desatenção que elas podem acabar virando cachecóis. Em seu benefício, diga-se que nunca usou faixa com o paletó aberto, coisa que pelo menos um dos seus generais já fez.

 



"Você tem um amigo aqui" disse Lula ao ex-presidente, que contou ter ficado muito emocionado ao passar a faixa ao petistaLula caiu na real

"Fiz o que pude; vou descansar", diz FHC

WILSON SILVEIRA
ANDRÉ SOLIANI
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0201200350.htm

Com o PT a pão e água nas pesquisas para a eleição dos prefeitos de Rio, São Paulo e Belo Horizonte, Lula caiu na real.

Em junho ele se recusava a assinar manifestos que julgava poluídos por eventuais adesões como as de Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer.

Nas suas palavras: “Eu não tenho mais idade para ser maria vai com as outras. O PT já tem história neste país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas”.

Passaram-se quatro meses e a “metamorfose ambulante” mudou, anunciando que “podemos ter uma ampla coalizão contra o Bolsonaro em 2022”.

Graças a uma costura de Camilo Santana, o governador petista do Ceará, “Nosso Guia” restabeleceu a comunicação com Ciro Gomes, a quem ele e o comissariado petista maltratavam.

Quando os dois se estranhavam, Ciro Gomes disse, com razão, que “o PT se acha dono dos votos” e Lula “se acha o maioral”.


Veja as gafes em posses presidenciais

RECORDTV

 01/01/2011 - 14h10 (Atualizado em 24/11/2016 - 09h23)

“O general João Batista Figueiredo preferiu sair pelas portas dos fundos do que passar o poder para José Sarney. Em 2003, Fernando Henrique Cardoso se atrapalhou na hora de passar a faixa presidencial para Luís Inácio Lula da Silva.”

 

https://recordtv.r7.com/videos/veja-as-gafes-em-posses-presidenciais-24112016

 

 

 

 



O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC)Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

'A polícia vai mirar na cabecinha e... fogo', afirma Wilson Witzel

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/11/01/a-policia-vai-mirar-na-cabecinha-e-fogo-afirma-wilson-witzel.htm

 

Witzel saudita

O doutor Wilson Witzel (Harvard Fake’ 15) ameaça: “Se perceber que há perseguição política e cooptação das instituições contra mim e a minha família, pretendo pedir asilo político no Canadá”.

Ex-juiz, Witzel deve procurar um advogado ou pensar num outro tipo de fuga. É improvável que a embaixada do Canadá dê asilo político a um cidadão acusado de improbidade que tenha sido afastado do governo num processo público e irretocável.

Isso, fazendo-se de conta que o governador afastado do Estado do Rio defendia os direitos humanos quando dizia que “a polícia vai mirar na cabecinha e… fogo”.

O Canadá tem uma tradição humanitária e recebeu dezenas de milhares de refugiados, quase todos do andar de baixo. Talvez Witzel possa tentar a Arábia Saudita, que em 1979 asilou o balofo ugandense Idi Amin Dada, ou Marrocos, onde o larápio general congolês Mobutu terminou seus dias.

 

https://pbs.twimg.com/media/DuDV-DtW0AAHVTF?format=jpg&name=small

1968agora

@1968agora

 

·

10 de dez de 2018

O deputado Djalma Marinho (ARENA-RN) renunciou à presidência da Comissão porque foi voto vencido. "Ao Rei tudo, menos a honra", ele disse.

 

Paulo Sergio Furtado

@psfurtado2012

 

·

10 de dez de 2018

Em resposta a

@1968agora

e

@BlogdoNoblat

Dr Djalma era um homem de bem,nosso vizinho durante mais de 30 anos, amigo do meu pai, que inclusive foi colega de turma das suas filhas, Hebe e Tânia, na faculdade de direito. Todo patrimônio que fez, e não era grande, o fez como advogado brilhante. Honrado!

 

https://twitter.com/1968agora/status/1072188697297281024

 

 

 

Guedes x Marinho

O doutor Paulo Guedes sempre soube que a Febraban opera a serviço dos bancos, até porque já esteve naquele lado do balcão. Como ministro, atacou a guilda acusando-a de financiar “estudos que não têm nada a ver com a atividade de defesa das transações bancárias, financiando ministro gastador para ver se fura o teto, para ver se derruba o outro lado”.

A fala seria trivial, mas seu final ficou críptico. Pode-se deduzir que o “ministro gastador” é Rogério Marinho. Falta explicar o uso da palavra “financiando”.

Pelo nível das cotoveladas que os dois trocam, poderiam ouvir o conselho de Djalma Marinho, avô de Rogério, em 1968, quando o governo armava o bote do AI-5: “Ao rei, tudo, menos a honra”.

O futuro de Salles

A segurança de Ricardo Salles no ministério do Meio Ambiente tornou-se idêntica à de uma jazida em reserva indígena.

Quando o general da reserva Santos Cruz reclamou do “desrespeito geral, por despreparo, inconsequência e boçalidade” que envenenam o ar, não deu nome aos bois, mas passou sua boiada.

Elio Gaspari

O Globo / Folha de S. Paulo

domingo, 1 de novembro de 2020

 

https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/11/elio-gaspari-privataria-da-saude-nao.html

 

 

                                                                                       

 

https://reporterpopular.com.br/wp-content/uploads/2020/04/6c38e7d2-cfb8-4536-a1df-f70135bd4505-880x612.jpeg

“Defenda o SUS”, da frase abstrata à ação política

https://reporterpopular.com.br/defenda-o-sus/

 

http://s2.glbimg.com/NqWuCXnC8gFOnIDuSwTKOOY8DSk=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/04/14/em-setembro-de-1979-a-menina-rachel-clemens-coelho-entao-com-cinco-ano-recusou-se-a-cumprimentar-o-entao-presidente-joao-baptista-figueiredo-1979-1985-a-imagem-virou-simbolo-da-luta-contra-a-ditadura-1429018554080_300x4.jpg

A menina Rachel Clemens Coelho se recusa a
cumprimentar o presidente Figueiredo
(Foto: Guinaldo Nicolaevsky)

http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/04/mulher-que-quando-crianca-negou-se-dar-mao-figueiredo-morre-em-bh.html

 

 

 

 

Ao rei tudo. Menos a honra

Murilo Melo Filho

Os trabalhos legislativos corriam em Brasília, mornos e monótonos no fim daquela tarde de 3 de setembro de 1968, quando o deputado Marcio Moreira Alves, falando no ''pinga-fogo'', pronunciou um discurso que bem poderia ter ficado inédito, porque proferido para um plenário vazio e que constaria de um registro sem o menor destaque ou importância no Diário do Congresso. Dizia ele mais ou menos o seguinte:



- Com a proximidade do 7 de setembro, a ditadura certamente vai determinar que os colégios participem do desfile militar. Apelo para que os pais não permitam aos seus filhos marcharem ao lado dos carrascos que os agridem e os fuzilam nas ruas. E proponho às moças que não dancem com os cadetes no baile da Independência.



Por coincidência, justamente naquela semana estava sendo encenada, em São Paulo, a comédia grega Lisístrata, de Aristófanes, com a história das atenienses que fecharam as portas de suas casas para os maridos derrotados na volta de uma batalha. Interpretou-se o discurso como uma insinuação para que as brasileiras se fechassem (sic) aos oficiais, seus maridos, numa interpretação absurdamente sexual.



Os militares da linha ''dura'' estavam precisando de um pretexto e aquele era simplesmente ótimo. O discurso foi reproduzido em milhares de cópias mimeografadas e distribuídas em todos os quartéis e guarnições.



Os ministros do Exército, Aeronáutica e Marinha - Lyra Tavares, Márcio Melo e Rademaker - exigiram um processo contra o deputado, que o ministro da Justiça, Gama e Silva, transformou imediatamente num pedido de licença para cassação do seu mandato. Realizaram-se então muitas negociações entre o Palácio do Planalto e a Comissão de Constituição e Justiça, que tinha de dar seu parecer sobre o pedido de licença e que era presidida por Djalma Marinho, um corajoso deputado lá do Rio Grande do Norte.



Nesse ínterim, a polícia, que vinha espionando de perto todos os passos dos promotores do 30º Congresso Nacional dos Estudantes, marcado para o dia 14 de outubro em Ibiúna, conseguiu surpreender os seus organizadores e invadiu o recinto do conclave, prendendo em flagrante, numa detalhada operação, os principais líderes da UNE: José Dirceu, José Travassos e Vladimir Palmeira, além de dezenas dos 700 delegados presentes. Esgueirando-se por um portão nos fundos do sítio, Jean Marc van der Weide foi um dos únicos a escapar do cerco policial.



Enquanto isto, realizavam-se as negociações entre o Planalto e a CCJ. Duas sugestões foram aí feitas e recusadas:



1. A do senador Daniel Krieger, líder do governo no Senado, para uma punição intramuros do parlamentar, que sofreria uma espécie de advertência, interna corporis, em vez de uma cassação.



2. E a do deputado Djalma Marinho, que propunha o adiamento da decisão para março seguinte, após as férias legislativas, quando os parlamentares teriam oportunidade de consultar suas bases e regressar a Brasília com mais elementos que ensejassem uma solução do impasse. (Essa idéia foi inicialmente aceita pelo próprio marechal Costa e Silva, mas depois recusada pelo ministro Gama e Silva).



Com o fracasso de ambas as sugestões, o senador Krieger renunciou à liderança no Senado, refugiando-se em sua fazenda Lami, a 37km de Porto Alegre. O deputado Djalma Marinho, após recusar um dramático e comovente apelo do senador Dinarte Mariz, renunciou à presidência da Comissão, pronunciando um histórico discurso:



- Na minha sofrida vida pública, como representante de um pequeno estado, tenho mantido fidelidade à ordem democrática. Ao longo do tempo, mesmo na minha humildade, a ela ofereci a minha vassalagem, mas nunca o atendimento a exigências e concessões absurdas, como esta. Passada a tormenta e esclarecidos os homens, virá o tempo da reconstrução. Rejeitar este pedido é um ato de bravura moral, igual àquele oferecido por Pedro Calderón de La Barca: ''Ao rei tudo, menos a honra''.



Sem o seu presidente, a Comissão de Justiça já havia estrategicamente substituído vários deputados da Arena contrários à concessão da licença e deu parecer favorável a ela, por 17 votos contra 9. A votação no plenário foi marcada para o dia 12 de dezembro, acusando o seguinte resultado: 141 votos a favor da licença, 24 abstenções e 12 em branco. A maioria de 216 votos, estimulada pelo discurso de Djalma, recusou a sua concessão, num ato de ousada e surpreendente coragem.



Derrotado, o governo militar reagiu no dia seguinte, 13 de dezembro de 1968, há quase 36 anos, portanto, decretando o AI-5, com todo aquele cortejo de violências, seqüestros, torturas, cassações e prisões.



Uma densa e prolongada noite de trevas iria abater-se sobre o país, mas restaria para sempre aquele valente protesto e aquela sábia advertência de Djalma Marinho, meu conterrâneo e um exemplo para toda a sua geração, que foi inspirar-se no grande teatrólogo madrilenho do Século 17:



- Ao rei (Costa e Silva), tudo, menos a honra (minha).



 



Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em 21/04/2004

https://www.academia.org.br/artigos/ao-rei-tudo-menos-honra

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