sábado, 13 de dezembro de 2025

DEMOCRACIA EM TRÊS REGISTROS

Gilson Peranzzetta e Mauro Senise | Último desejo | Noel Rosa 100 anos Biscoito Fino 28 de dez. de 2023 #canalbrasil #noelrosa #biscoitofino Vídeo oficial da faixa "Último desejo", do álbum "Noel Rosa 100 anos" Gravado ao vivo Teatro Sesc Ginástico (Rio de Janeiro), em 7 de outubro de 2010 por Gilson Peranzzetta e Mauro Senise com particação esperial de Alaíde Costa e Zeca Assumpção, Amoy Ribas e Quarteto Bessler How Insensitive (Insensatez) Frank Sinatra
Ensaiar, Denunciar, Satirizar Caderno de Linguagem, Política e Cultura Sábado, 13 de dezembro de 2025 EDITORIAL DE ABERTURA Democracia em Três Registros (e Duas Canções) Por decisão editorial A democracia não se sustenta por uma única linguagem. Ela exige análise, crítica e, quando necessário, ironia. Exige teoria social, vigilância institucional e humor — não como ornamento, mas como forma legítima de resistência intelectual. Este dossiê reúne três textos distintos, deliberadamente contrastantes em estilo, mas convergentes em propósito: pensar a democracia brasileira em seus impasses contemporâneos, evitando tanto o negacionismo quanto a sacralização acrítica das instituições. Defender a democracia hoje implica defendê-la: da desertificação social, da hipertrofia institucional, e da redução da política a rito, carimbo e sanção. Para acompanhar esta leitura, recomendamos duas canções emblemáticas — homenagens a dois artistas que, cada qual em seu tempo e idioma, souberam extrair da experiência humana o que ela tem de mais universal. Frank Sinatra - That´s life (1966) 🎙️ Frank Sinatra (1915–1998) — “That’s Life” Uma lição de resiliência sem ilusão: cair, levantar e insistir. Democracia como processo, não como conforto. Noel Rosa - Palpite Infeliz (Aracy de Almeida) Noel Rosa Noel Pela Primeira Vez (Volume 5 CD 9 Faixa 8) Intérprete: Aracy de Almeida // Músicos: Conjunto Regional RCA Victor Composição: Noel Rosa Ano de composição: 1935 Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz! Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz Que sempre souberam muito bem Que a Vila Não quer abafar ninguém, Só quer mostrar que faz samba também Fazer poema lá na Vila é um brinquedo Ao som do samba dança até o arvoredo Eu já chamei você pra ver Você não viu porque não quis Quem é você que não sabe o que diz? Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz! Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz Que sempre souberam muito bem Que a Vila Não quer abafar ninguém, Só quer mostrar que faz samba também A Vila é uma cidade independente Que tira samba mas não quer tirar patente Pra que ligar a quem não sabe Aonde tem o seu nariz? Quem é você que não sabe o que diz? Transcrição 🎶 Noel Rosa (1910–1937) — “Palpite Infeliz” A ironia como antídoto contra o autoritarismo cotidiano e a arrogância moral. Democracia como crítica viva. Boa leitura. Boa escuta. ARTIGO I — ENSAIO Opinião do Dia Democracia, Deserção Social e os Riscos da Restauração Incompleta Luiz Werneck Vianna (1938–2024) Sociólogo “Bons remédios não se esquecem” Blog Democracia Política e Novo Reformismo — 7/12/2022 “O sucesso da democracia nas urnas, importante como foi, não ocultou a forte presença das forças antagonistas que, derrotadas, se insurgem em movimentações concertadas a fim de tentar subverter a ordem sob o pretexto de fraude eleitoral, num arremedo farsesco das táticas de Trump. O verdadeiro legado de Bolsonaro foi deixar em sua esteira uma extrema-direita orientada a embaraçar os caminhos da restauração democrática, objetivo central do novo governo Lula–Alckmin, que ainda enfrenta o desafio de reanimar uma sociedade conscientemente desorganizada ao longo de quatro anos. Essa tarefa torna-se mais árdua pela subestimação, por parte dos partidos, de sua perda de enraizamento no mundo popular, hoje sob influência do pentecostalismo e de sua ideologia da prosperidade, agravada pela condenação da teologia da libertação por setores da hierarquia católica. A desertificação da política, contudo, tem remédio conhecido: a ida ao povo por parte de políticos e intelectuais — uma medicação de uso continuado, que exige tempo e persistência. Nossa história republicana já nos ofereceu essa lição. Ignorá-la novamente seria um erro grave.” ARTIGO II — CRÔNICA CRÍTICA INSTITUCIONAL O Juiz Venceu Carlos Andreazza O Estado de S. Paulo Ainda que anestesiado pelo ritmo dos despachos em Brasília, o cronista resiste à normalização de acordos informais entre ministros do Supremo Tribunal Federal e lideranças do Congresso. Admitiu-se como prática corrente que uma ADPF possa ser instrumentalizada para forçar reformas legislativas segundo “orientações” judiciais. O juiz que legisla passou a “orientar”. O controle de constitucionalidade converteu-se em consultoria preventiva. A exceção tornou-se método. O Judiciário brasileiro, poderoso como poucos no mundo, venceu — jogou e venceu. Reinventou-se como ator político onipresente, capaz de condenar, orientar, negociar e, se necessário, absolver estrategicamente. Não se trata de retórica golpista, mas de descrição institucional: uma democracia que funciona, porém fora de eixo, onde o arbítrio pode vestir toga e chamar-se solução. ARTIGO III — SÁTIRA POLÍTICO-JURÍDICA A Democracia, o Carimbo e o Destino Coluna satírica com fundamentos excessivamente sérios Há frases que não pedem debate; pedem protocolo. Quando se afirma que “a democracia é feita para o cumprimento de regras”, inaugura-se uma concepção peculiar de regime democrático: aquela em que a política comparece apenas para assinar ciência. Nesta República, não há dissenso — há fluxo processual. Não há Parlamento deliberativo — há instituição que aprende quando deve calar. Não há conflito legítimo — há insurgência. A democracia converte-se em manual de instruções. O cidadão vira usuário. A pena já vem embutida no discurso, como juros no carnê. O humor nasce do excesso de certeza. Tudo é simples. Tudo é claro. Tudo é inevitável. E quando a defesa da democracia dispensa a política, resta à sátira lembrar que ordem sem conflito não é democracia — é rotina. ENCERRAMENTO DO DOSSIÊ Três Textos, Um Compromisso Este conjunto não busca consenso, mas lucidez democrática. A democracia corre riscos quando atacada, mas também quando simplificada, tutelada ou ritualizada. Pensá-la exige múltiplas vozes, registros e linguagens. Quando até a defesa da democracia se torna excessivamente solene, o humor crítico deixa de ser irreverência e passa a ser responsabilidade cívica. Edição: Caderno de Linguagem, Política e Cultura Projeto editorial: Democracia em Três Registros Data: 13 de dezembro de 2025 S EDITORIAL DE ABERTURA Democracia em Três Registros (e Duas Canções) Por decisão editorial Esta série nasce de uma convicção simples — e cada vez menos trivial: a democracia não se sustenta por uma única linguagem. Ela precisa ser pensada, criticada e, quando necessário, ironizada. Precisa de teoria, de denúncia e de humor. Precisa, sobretudo, de pluralidade expressiva, porque regimes democráticos morrem não apenas quando são atacados frontalmente, mas também quando passam a ser defendidos por um só tom, uma só voz, uma só instituição. Reunimos aqui três textos distintos — um ensaio sociológico, uma crônica político-institucional e uma sátira — não para produzir consenso, mas para compor um campo de reflexão sobre os impasses contemporâneos da democracia brasileira: sua erosão social, suas deformações institucionais e seus riscos quando convertida em ritual automático, despido de política viva. Este projeto editorial parte da ideia de que defender a democracia é também defendê-la de seus excessos, de suas caricaturas e de suas falsas simplificações. A democracia não é apenas regra; é conflito legítimo. Não é apenas decisão; é processo. Não é apenas ordem; é tensão regulada. Duas canções para um mesmo problema Em homenagem aos 110 anos de nascimento de Francis Albert Sinatra (1915–1998) e aos 115 anos de nascimento de Noel Rosa (1910–1937), propomos que esta leitura seja acompanhada por duas canções que, cada uma a seu modo, iluminam o tema central da série: a relação entre indivíduo, sociedade e autoridade. 🎙️ Frank Sinatra — “That’s Life” Sinatra deu o melhor de sua arte quando transformou a experiência individual em declaração pública de dignidade. Em That’s Life, não há conformismo, mas resiliência crítica: cair, levantar, insistir. A canção ecoa a ideia democrática de que a vida social não é linha reta, mas ciclo — e que desistir do jogo é a verdadeira derrota. Num tempo em que a democracia oscila entre o cansaço e a rigidez, Sinatra lembra que persistir sem ilusão, mas sem cinismo, é também um gesto político. “I’ve been a puppet, a pauper, a pirate, a poet, a pawn and a king.” 🎶 Noel Rosa — “Palpite Infeliz” Ao sul do Equador, Noel Rosa foi mestre em fazer da ironia uma forma elevada de crítica social. Em Palpite Infeliz, ele desmonta o moralismo, ridiculariza o autoritarismo cotidiano e expõe a arrogância de quem acredita ter soluções fáceis para problemas complexos. Noel oferece o que a democracia mais precisa quando se torna excessivamente solene: o riso inteligente, aquele que desarma o poder sem despolitizar o conflito. “Quem é você que não sabe o que diz?” É a pergunta que atravessa gerações — e instituições. Uma nota final ao leitor Este conjunto de textos não pretende ensinar a democracia, muito menos encerrá-la em definições. Pretende mantê-la em movimento, aberta ao dissenso, à crítica e à autocorreção. Se a democracia corre riscos quando é atacada, corre outros tantos quando deixa de ser pensada. E pensar a democracia — como mostra esta série — exige mais de uma linguagem, mais de uma chave interpretativa, mais de uma melodia. Boa leitura. E boa escuta.
sábado, 13 de dezembro de 2025 Opinião do dia - Luiz Werneck Vianna* “O sucesso da democracia nas urnas, importante como foi, não ocultou uma forte presença das forças antagonistas que, derrotadas, se insurgem em movimentações consertadas a fim de tentar subverter a ordem sob o pretexto de que teria havido fraude no processo eleitoral num arremedo farsesco das táticas de Trump. O verdadeiro legado de Bolsonaro foi, como se constata, deixar em sua esteira uma extrema-direita orientada a embaraçar os caminhos da restauração democrática, objetivo principal do novo governo Lula-Alckmin, que também enfrenta os desafios de animar uma sociedade desorganizada conscientemente pelas práticas do governo Bolsonaro em seus quatro anos de mandato. Tal tarefa ainda se faz mais difícil em razão dos partidos terem subestimado sua radicação no mundo popular que ficou sob a influência dos pentecostais e de sua canhestra ideologia da prosperidade, cenário agravado pela condenação por parte da hierarquia da Igreja católica da teologia da libertação com que seus intelectuais tentavam se comunicar com os seres subalternos. Os efeitos nefastos dessas orientações produziram uma limpeza de terreno favorável a destituição da política e à difusão de valores antidemocráticos nesses setores. Tal desertificação da política, contudo, tem remédio já conhecido, uma ida ao povo por parte de seus políticos e intelectuais, uma medicação de uso continuado a demandar tempo na sua aplicação. Em nossa desastrada experiência republicana já fizemos uso dessa recomendação, e já está passando da hora o momento de aprendermos as boas lições do nosso passado.” *Luiz Werneck Vianna (1938-2024), Sociólogo, “Bons remédios não se esquecem”. Blog Democracia Política e novo Reformismo, 7/12/22. sábado, 13 de dezembro de 2025 O juiz venceu. Por Carlos Andreazza O Estado de S. Paulo Ainda que anestesiado pelo ritmo dos despachos em Brasília, operações a cada lance mais criativas-ousadas, o cronista peleja para não se acomodar ante as notícias recentes que comunicam – como se prática natural – acordos políticos firmados entre ministro do STF e os donos do Senado; de repente admitido que uma ADPF possa ser instrumentalizada, ademais cassando um direito político, para forçar que o Congresso, submetido, reforme a lei nos termos das “orientações” do juiz-parlamentar. Não faltaria ao rito viciado a corrupção da palavra, de modo que o juiz que legisla, na verdade, orienta. O juiz venceu. Jogou e venceu. Sem surpresas. O Judiciário brasileiro – para prazer do Direito Xandônico – é o mais forte do mundo. (Venceu a Magnitsky!) O vencedor, incansável, tem o mérito de se reinventar sempre. Você terá percebido o advento influente deste tipo peculiar de perversão na República depravada: o ministro do Supremo, instituição onipresente, que é também consultor de constitucionalidades; que examina preventivamente, por fora, projetos de parlamentares e lhes dá fé. Ou não, vetando-os ainda na origem. Estabelecida assim, e recebida-tratada com normalidade, a anomalia do ministro de Corte constitucional – aquele que tem a palavra final, que declara inconstitucionalidades – prestador do serviço informal de antecipação de juízos. Uma forma gentil de condicionar a prerrogativa de deputados e senadores. Maneira hábil de legislar. Modo adicional de esculhambação do controle de constitucionalidade. Viu-se isso – esse processo consultivo – como elemento fundamental para que o projeto de lei da redução de penas avançasse. Não bastaria somente a palavra do fiador-geral da República Davi Alcolumbre, de que faria o troço andar celeremente no Senado. Tampouco seria suficiente o pacto entre o candidato-negócio Flávio Bolsonaro e o consórcio centrônico Ciro Nogueira/Antonio Rueda, de que não seriam apresentados destaques pela anistia “ampla, geral e irrestrita” e de que haveria os votos para aprovar a matéria. Esse conjunto, por urdidura complexa que tivesse, restaria aquém. A blitz só se impôs porque ministros do STF, aqueles agentes políticos que controlam o tribunal, avalizaram o texto de Paulinho da Força. A rigor, para desespero (e galho dentro) dos bolsonaristas que acusam a “ditadura do Supremo”, ministros do STF firmaram um acordo com Jair Bolsonaro – que aceitou a “solução possível” e mandou a turma engoli-la. Sejamos ainda mais claros: parte do tribunal que condenou os golpistas duramente chancelou o movimento parlamentar que ora pretende tirar o ex-presidente do regime fechado em pouco mais de dois anos. Um acordão, “com Supremo, com tudo” – de mãos dadas Bolsonaro, o centrão tarcisista, o censor Hugo Motta, Alcolumbre e os ministros do STF que mandam na Corte. E talvez ainda Donald Trump. •
sábado, 13 de dezembro de 2025 O juiz venceu. Por Carlos Andreazza O Estado de S. Paulo Ainda que anestesiado pelo ritmo dos despachos em Brasília, operações a cada lance mais criativas-ousadas, o cronista peleja para não se acomodar ante as notícias recentes que comunicam – como se prática natural – acordos políticos firmados entre ministro do STF e os donos do Senado; de repente admitido que uma ADPF possa ser instrumentalizada, ademais cassando um direito político, para forçar que o Congresso, submetido, reforme a lei nos termos das “orientações” do juiz-parlamentar. Não faltaria ao rito viciado a corrupção da palavra, de modo que o juiz que legisla, na verdade, orienta. O juiz venceu. Jogou e venceu. Sem surpresas. O Judiciário brasileiro – para prazer do Direito Xandônico – é o mais forte do mundo. (Venceu a Magnitsky!) O vencedor, incansável, tem o mérito de se reinventar sempre. Você terá percebido o advento influente deste tipo peculiar de perversão na República depravada: o ministro do Supremo, instituição onipresente, que é também consultor de constitucionalidades; que examina preventivamente, por fora, projetos de parlamentares e lhes dá fé. Ou não, vetando-os ainda na origem. Estabelecida assim, e recebida-tratada com normalidade, a anomalia do ministro de Corte constitucional – aquele que tem a palavra final, que declara inconstitucionalidades – prestador do serviço informal de antecipação de juízos. Uma forma gentil de condicionar a prerrogativa de deputados e senadores. Maneira hábil de legislar. Modo adicional de esculhambação do controle de constitucionalidade. Viu-se isso – esse processo consultivo – como elemento fundamental para que o projeto de lei da redução de penas avançasse. Não bastaria somente a palavra do fiador-geral da República Davi Alcolumbre, de que faria o troço andar celeremente no Senado. Tampouco seria suficiente o pacto entre o candidato-negócio Flávio Bolsonaro e o consórcio centrônico Ciro Nogueira/Antonio Rueda, de que não seriam apresentados destaques pela anistia “ampla, geral e irrestrita” e de que haveria os votos para aprovar a matéria. Esse conjunto, por urdidura complexa que tivesse, restaria aquém. A blitz só se impôs porque ministros do STF, aqueles agentes políticos que controlam o tribunal, avalizaram o texto de Paulinho da Força. A rigor, para desespero (e galho dentro) dos bolsonaristas que acusam a “ditadura do Supremo”, ministros do STF firmaram um acordo com Jair Bolsonaro – que aceitou a “solução possível” e mandou a turma engoli-la. Sejamos ainda mais claros: parte do tribunal que condenou os golpistas duramente chancelou o movimento parlamentar que ora pretende tirar o ex-presidente do regime fechado em pouco mais de dois anos. Um acordão, “com Supremo, com tudo” – de mãos dadas Bolsonaro, o centrão tarcisista, o censor Hugo Motta, Alcolumbre e os ministros do STF que mandam na Corte. E talvez ainda Donald Trump. • Cauby Peixoto / 01- Alguém Que Olhe Por Mim (Someone to Watch Over Me) Álbum: Cauby Canta Sinatra 01- Alguém Que Olhe Por Mim (Someone to Watch Over Me) Autoria: George Gershwin / Ira Gershwin (Vers. Zé Rodrix / Miguel Paiva) Participação: Gal Costa Faixa do álbum "Cauby Canta Sinatra" do excepcional cantor Cauby Peixoto. Gravado e lançado em 1995 com participações de convidados em cada uma das 13 faixas. Gilberto Gil, Gal Costa, Zizi Possi, Ney Matogrosso e Dionne Warwick são algumas das vozes que integram no repertório do álbum. A produção musical ficou a cargo de José Maurício Machline DEMOCRACIA EM TRÊS REGISTROS II – Do humor involuntário: a República como repartição O efeito satírico emerge precisamente da ausência de humor. A frase é tão reta, tão segura de si, que se torna cômica por excesso de convicção. A democracia, nesse registro, deixa de ser um processo histórico imperfeito e passa a ser um elevador institucional: Apertou o botão errado? Tentou sair antes do andar correto? Pulou uma regra do condomínio constitucional? Multa. Pena. Exterior. Extradição. Tudo muito limpo. Tudo muito claro. Tudo muito… definitivo. III – Ecos solenes e fantasmas conhecidos O leitor mais atento ouvirá ecos familiares: O tom pedagógico-punitivo que transforma condenação em aula de moral cívica; A ideia de que certos crimes não violam apenas a lei, mas “a própria democracia”, entidade etérea, porém seletivamente ofendida; A noção de que a pena não é apenas sanção, mas rito de purificação institucional. Não se nomeia ninguém. Não é preciso. A retórica já tem CPF próprio. IV – Conclusão (com o devido respeito ao rito) O trecho analisado não revela apenas uma opinião política; revela uma cosmovisão jurídica: A democracia como sistema fechado; A política como risco controlável; O Parlamento como órgão que deve saber a hora de não falar; E a punição como linguagem suprema da moral pública. É uma visão coerente, austera e perfeitamente compatível com colunas, votos, sentenças e editoriais que começam sempre do mesmo modo: “Não se trata de perseguição. Trata-se de regras.” E contra regras — já nos foi avisado — não cabe insurgência. Cabe, no máximo, nota de rodapé. Esta coluna é uma sátira. Qualquer semelhança com discursos, votos, sentenças ou convicções reais não é coincidência: é método. JORNAL DA CULTURA | 12/12/2025 Jornalismo TV Cultura e TV Cultura Transmitido ao vivo em 12 de dez. de 2025 #JC #JornalDaCultura No Jornal da Cultura desta sexta-feira (12), você vai ver: Casa Branca retira Alexandre de Moraes e a esposa da Lei Magnitsky; 1ª turma do STF anula decisão da Câmara e determina cassação de Carla Zambelli; e problemas de fornecimento não são isolados e ampliam pressão sobre a Enel. Para comentar essas e outras notícias, Rodrigo Piscitelli recebe a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, e o economista e doutor em ciência política Ricardo Sennes. #JC #JornalDaCultura Transcrição Último Desejo- Cauby Peixoto Paulo Martan Barítono 18 de abr. de 2014 Compositor|: Noel Rosa Música Dvd - Cauby Peixoto sings Sinatra Nilson Santos 9 de fev. de 2016 Cauby peixoto interpretando Frank sinatra maravilhosamente !! Música

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