DEPOIMENTO
“(...) Caderno 2: Posso
convidá-lo a fazer algumas considerações sobre o atual desenvolvimento da
situação social e política do Brasil depois do fim do regime militar?
Hobsbawm: Você pode convidar, mas não
acho que possa responder, simplesmente porque não tenho conhecimento suficiente
sobre a situação do Brasil. Acho que o País, no momento, está vivendo um clima
especial. Visito o Brasil, ocasionalmente, há muito tempo, e não me lembro de
um clima semelhante, no qual o povo não tem certeza quanto ao futuro, mostra-se
pessimista, não sabe ou duvida se vão ser encontradas soluções. Acho que isto é
novo. Os brasileiros, mesmo no passado, sempre foram muito esperançosos quanto
ao futuro, de uma forma ou de outra. Mas não acho que este seja um problema
específico do Brasil. Eu diria que a América Latina tem sido a principal vítima
da crise atual. Tanto economicamente, como no sentido de uma certa desagregação
política. Têm havido mudanças; porém mudanças que parecem não ser ainda
soluções alternativas. Então, se você olha não apenas para o Brasil, mas para
toda a América Latina
para o México, para a Argentina, para o Peru, para a Colômbia você encontra uma situação
de drama, de crise e de incertezas sobre o que acontecerá a todos esses países.
No Brasil, isto pode ser mais dramático por causa do contraste com um período
recente de expansão auto-confiante e esperança. Mas isso não é um fenômeno
especificamente brasileiro. Acho que ele deve ser visto numa perspectiva
global. Nessa situação política, tudo o que posso dizer é que a transição
parece estar se prolongando por um tempo muito longo e, talvez, também possa
dizer que não me parece um bom sinal para a política do País que pelo menos
duas das figuras no comando das próximas eleições presidenciais tenham sido
pessoas ou fenômenos de quem eu ouvi falar há 26 anos, quando vim ao Brasil
pela primeira vez. Parece-me que figuras do passado não são necessariamente
boas para o futuro. (...)”
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