“O livre-arbítrio leva as pessoas a tomar decisões.”
“Já o acaso, como disse Machado de Assis pela boca
de um personagem, o conselheiro Ayres, tem voto decisivo na assembleia dos
acontecimentos.”
Murillo de Aragão
Orgulho
e preconceito
- IstoÉ
Em ano eleitoral, a pergunta mais ouvida por um
analista político é sobre quem deve ganhar as eleições presidenciais
Tomo emprestado o título do livro de Jane Austen
para escrever sobre os riscos que os analistas políticos correm em sua
atividade ao longo de ano eleitoral. O êxito do trabalho de um analista
político consiste, principalmente, em desvendar tendências e apontar direções.
Trata-se, portanto, de um desafio que vai além da mera responsabilidade de explicar
o que acontece.
Em ano eleitoral, a pergunta mais ouvida por um
profissional da área é sobre quem deve ganhar as eleições presidenciais.
Ninguém quer saber menos que isso. E, como sabemos, aquele que prevê o futuro
erra mesmo quando acerta, já que o futuro é sempre imprevisível. E onde está a
raiz da imprevisibilidade? Em duas vertentes decisivas no desenrolar dos
acontecimentos: o livre-arbítrio e o acaso.
O livre-arbítrio leva as pessoas a tomar decisões.
E, repetindo Tom Robbins, o coach das multidões, você é produto de suas
decisões. Assim, as resoluções que os candidatos podem tomar, as besteiras que
podem falar e, ainda, aquilo que podem deixar de mencionar resultarão em
vitória ou derrota. Já o acaso, como disse Machado de Assis pela boca de um
personagem, o conselheiro Ayres, tem voto decisivo na assembleia dos
acontecimentos.
Ora, se mesmo com todo o respaldo da ciência, com a
expertise e, no caso de alguns, um histórico de acertos, os analistas têm de se
submeter ao livre-arbítrio e ao acaso, eles precisam, naturalmente, cercar-se
de certos cuidados. E tais cuidados relacionam-se com o título da obra de
Austen.
Analistas não devem ficar orgulhosos de seus
acertos, visto que estes podem valer pouco diante dos acontecimentos futuros.
Também não devem nutrir preconceitos, já que estes existem para serem demolidos
e desacreditados. O orgulho entra quando o analista insiste em um caminho
errado. Às vezes, por exemplo, a cena futura pode estar determinada por
acontecimentos que não chegam a ocorrer, caso de uma eventual melhora da
economia que poderia favorecer determinados candidatos.
Outras vezes, os ventos da mudança correm encanados
pelos subterrâneos da conjuntura. Como no episódio do desarmamento: todos
achavam que a tese contra as armas seria vencedora, mas deu-se o inverso. Por
isso o analista político deve ficar longe do orgulho e cultivar a humildade.
Para poder reconhecer quando toma a direção errada porque suas certezas não
eram tão certas assim.
“...Posner e Weil, propõem o que chamam de “votação
quadrática”, uma ideia boa num nome ruim, que precisará ser alterado.”
Merval Pereira
Voto,
modos de usar
- O Globo
Com uma eleição polarizada como nunca se
aproximando, este é um bom momento para se discutir as maneiras de votar, ainda
mais que o voto útil transformou-se em instrumento de cidadania para evitar “o
mal maior”.
Há em discussão nos Estados Unidos maneiras de
melhorar a eficácia do voto representativo, e algumas delas já estão sendo
utilizadas.
Paradoxalmente, também na China discute-se o que
seria a democracia guiada pela meritocracia.
Essas buscas concentram-se no questionamento de um
dos pilares da democracia representativa, a ideia de “uma pessoa, um voto”. Em
livro da Princeton University Press denominado “Mercados radicais:
desenraizando o capitalismo e a democracia para uma sociedade justa”, o
economista da Microsoft e da Universidade de Yale Glen Weyl e o jurista da
Universidade de Chicago Eric Posner tratam da desigualdade, que seria um
calcanhar de Aquiles do capitalismo, influenciando o funcionamento da própria
democracia.
Os autores consideram que o sistema de “uma pessoa,
um voto” leva a decisões deficientes e à tirania da maioria. A China, por sua
vez, tem apresentado em diversos fóruns internacionais, através de acadêmicos
chineses e estrangeiros, uma visão crítica da democracia ocidental e ideias
bastante criticáveis sobre o que seria a democracia ao estilo chinês.
Daniel A. Bell, um canadense professor de Teoria
Política da Universidade Tsinghua, defende em fóruns internacionais - já
comentei na coluna sua apresentação em uma reunião em Davos - que a China
caminhará para a meritocracia, não para democracia, pois a ideia de “um homem
um voto” não leva a escolhas mais corretas e está muito sujeita a pressões
financeiras.
Bell considera que a China, ao buscar essa força
moral de sua liderança, pode caminhar para a implantação de um sistema político
que não será a democracia como nós a conhecemos no Ocidente, mas uma
meritocracia que fará com que os escolhidos para o Parlamento possam
representar realmente a vontade do povo e não apenas os que têm influência para
atrair votos.
Até mesmo as promessas de campanha, que nunca são
cumpridas, ou gestos claramente populistas como anunciar aumento de impostos
dos mais ricos para compensar os sofrimentos dos mais pobres na crise econômica,
como se viu na França ou nos Estados Unidos, e também no Brasil, seriam formas
de luta política que desvirtuam o voto final.
Um Parlamento composto por pessoas escolhidas pelo
mérito representaria melhor o conjunto da população do que um formado pelos que
se elegeram pela força do dinheiro, ou por um dom natural de oratória, ou por
ser famoso em seu ofício.
Há quem, na China, defenda que essa meritocracia já
vem sendo adotada pelo sistema de “seleção natural” de dirigentes dentro do
Partido Comunista. O afunilamento na escolha levaria os melhores a galgarem
degraus na hierarquia.
Semelhante ao que sugeriu o vice de Bolsonaro,
General Mourão, de organizar uma comissão de notáveis para fazer uma
Constituição, que depois seria referendada pelo povo. A questão, tanto lá como
aqui, é saber quem escolheria esses homens providenciais, e através de que
critérios.
Nos Estados Unidos, dois tipos de votação estão em
discussão, uma delas já em pratica, para dar mais peso ao desejo de cada
eleitor, o sistema de ranqueamento do voto (Ranking Choice Voting), em que o
eleitor dá uma classificação para cada uma de suas escolhas, e o balanço final
determina quais os escolhidos para o Congresso, para prefeito como ocorreu
recentemente no Maine, ou, quem sabe, para a presidência da República.
Substitui com vantagens o voto útil como o
conhecemos, pois permite que o eleitor vote em vários candidatos dando um peso
especifico a cada um deles, e o melhor ranqueado leva, em vez o vencedor leva
tudo, como fazemos no voto majoritário.
Um bom exemplo é a eleição para senador este ano.
São duas vagas e cada eleitor tem que votar duas vezes. Uma maneira ilógica, e
que confunde o eleitor, de escolher os dois mais votados. Com o ranqueamento,
os mais votados são escolhidos naturalmente, num sistema de eliminação gradual.
Os autores do livro referido no inicio da coluna,
Posner e Weil, propõem o que chamam de “votação quadrática”, uma ideia boa num
nome ruim, que precisará ser alterado. Eles bolaram um sistema que é calculado
na base da raiz quadrada, claramente difícil de explicar em qualquer democracia
do mundo. Mas a tese é boa, o sistema avalia a intensidade da preferência de
cada eleitor, e os desejados mais fortemente pela maioria saem vitoriosos,
sejam políticos ou propostas.(Amanhã, as novas maneiras de votar)
“Por um polo democrático e reformista”
João Domingos
Um
apelo tardio
- O Estado de S.Paulo
Difícil atrair apoios numa negociação a ser feita em
cima do que já foi decidido
A carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
na qual ele faz um apelo à união das candidaturas de centro para deter a
“marcha da insensatez”, parece ter vindo tarde demais. Faltam apenas 15 dias
para o primeiro turno da eleição. Uma virada agora, se não impossível, parece
pouco provável quando se leva em conta o resultado das pesquisas sobre intenção
de voto. Mesmo que as pesquisas sirvam apenas como parâmetro para as campanhas,
pois quem decide eleição é o eleitor, suas projeções de resultados são feitas
em bases científicas. Não dá para desconhecer que a situação do centro é ruim.
Levando-se em conta a liderança que tem, o poder de
convencimento de sua famosa lábia e a defesa que faz da democracia, é de se
lamentar que Fernando Henrique tenha demorado para levantar essa bandeira.
Desde antes de junho, quando foi lançado o manifesto “Por um polo democrático e
reformista”, todo mundo já tinha uma ideia de que poderia haver uma polarização
da eleição pelos extremos.
Se errou ao demorar a fazer o apelo pela união do
centro, Fernando Henrique errou também ao sugerir, pelo Twitter, que a
liderança do processo seja entregue a Geraldo Alckmin, que é de seu partido.
Isso fez com que logo a candidata da Rede, Marina Silva, respondesse a ele pela
mesma rede social: “Ninguém chama para tirar as medidas com a roupa pronta.”
Ciro Gomes, do PDT, que como Fernando Henrique foi ministro da Fazenda de
Itamar Franco, está em melhor situação do que Geraldo Alckmin nas pesquisas
sobre intenção de voto. Se fosse pelo critério de melhor posição, poderia ser
ele o escolhido. Nesses casos, é preciso trabalhar com a realidade do momento,
diz o pragmatismo político.
A necessidade de se conter a “marcha da insensatez”
à qual Fernando Henrique se refere foi reforçada ontem por um manifesto de
intelectuais do PSDB. Eles também defenderam a formação de uma força-tarefa
para tornar Geraldo Alckmin competitivo. O que passa a ideia de que, tudo bem,
deve-se fazer a união do centro, mas a força hegemônica é o PSDB. Difícil
atrair apoios assim, em que a negociação se dará em cima de algo que já está
decidido.
Pelo jeito, o País afunilará ainda mais a divisão
que começou a se mostrar mais forte na eleição de 2014, quando Dilma Rousseff,
do PT, obteve 51,64% dos votos no segundo turno e venceu Aécio Neves, do PSDB,
que ficou com 48,36%. Levando-se em conta que as pesquisas costumam trabalhar
com margem de erro de 2%, esse resultado poderia ser considerado um empate
técnico.
A diferença agora é que uma parcela grande da
população passou a ver no deputado Jair Bolsonaro (PSL) a encarnação do
anti-PT, aquele que, na visão dela, pode livrar o País das invasões de terras
do MST, das ocupações de terrenos pelos sem-teto e da política de defesa dos
direitos humanos, que, no discurso do candidato, serviria para proteger
bandidos (algo sem sentido, pois direitos humanos não têm viés ideológico, não
servem para proteger bandidos, mas a sociedade dos desmandos do Estado e de
esquadrões e milícias que surgem à sombra da omissão de suas instituições, além
de não terem nada a ver com a política do PT, e, sim, com os avanços
civilizatórios).
De outro lado está o PT e sua estratégia
bem-sucedida da afirmar que foi tirado do poder por um golpe, de esconder que
se envolveu até o pescoço em escândalos de corrupção que muitos acreditam ser o
maior já revelado em qualquer lugar do planeta, e de afirmar e reafirmar que há
uma perseguição a seu líder, Lula, hoje na cadeia e impedido de concorrer a
qualquer cargo eletivo pela Lei da Ficha Limpa.
“A euforia de uns se choca com a preocupação de
muitos.”
“Não será um começar de novo, mas qualquer avanço
será sofrido e terá de ser duramente negociado.”
Marco Aurélio Nogueira
Incompetência
geral
- O Estado de S.Paulo
No próximo ciclo, seja quem for o eleito, a obra
será de reconstrução: do Estado, da economia, da política, do tecido social
O cenário eleitoral continua volátil, mas a
reiteração das tendências que projetam um segundo turno entre Bolsonaro e
Haddad tem sido suficiente para que se dissemine um clima que cruza entusiasmos
salvacionistas com receios democráticos e alguma dose de pânico. A pergunta vem
se repetindo: como conseguimos chegar a este ponto, em que uma candidatura
pouco qualificada e alinhada com a autocracia regressista ameaça defrontar-se
no segundo turno com outra sustentada pela expectativa de retorno a um tempo pretérito
mitificado? A euforia de uns se choca com a preocupação de muitos.
O desfecho anunciado deve-se a um conjunto de
equívocos.
Erraram os democratas, que não conseguiram
compreender a derivação conservadora da sociedade, turbinada pela repulsa ao politicamente
correto e pela antipolítica. Trataram isso como uma espécie de doença, de forma
simplória, com insultos e estigmas. Deixou-se assim caminho livre para a
pregação bolsonarista, que foi capturando apoios, mal-estares e convicções. A
direita fundamentalista pôs o corpo inteiro para fora, misturando ódio, medo e
ressentimento contra a “esquerda”. Bolsonaro decodificou esses sinais e
traduziu-os num bólido antipetista.
Os democratas erraram uma segunda vez quando deram o
PT como morto, depois da derrota eleitoral de 2016 e do impeachment. Não
reconheceram a força do partido, derivada tanto da alta exposição midiática, da
estrutura organizacional e das adesões intelectuais quanto da mitificação
popular de Lula. Em vez de pressionarem para que o PT se depurasse e revisse
suas opções, passaram a mão na cabeça do partido e quando abriram os olhos o
velho PT estava mais vivo que nunca, fabricando ilusões, plantando esperanças e
ocupando simbolicamente os espaços do “progressismo”.
Foram incompetentes os liberais. Optaram por medir
forças entre eles num quadro de polarização em que só teriam chances se
formassem um polo alternativo marcado pela moderação. Batendo uns nos outros,
naufragaram de modo patético, sem sequer aproveitarem o ambiente receptivo à pregação
liberal em favor da liberdade pessoal, do mercado, do empreendedorismo.
Fecharam-se à esquerda democrática e foram afundando agarrados a um
doutrinarismo primário.
Foi igualmente incompetente o centro-esquerda. Em
vez de impulsionar o imaginário social-democrático, que tanta falta nos faz,
seus articuladores derivaram para um apoio ao centro que jamais teve
reconhecimento e não soube desvencilhar-se do abraço asfixiante do “Centrão”,
cujo fisiologismo recebe repulsa generalizada. Olharam para a direita sem se
preocupar com a esquerda. Sua ideia de “polo democrático e reformista” ficou
solta no ar, sem contagiar o eleitorado ou sensibilizar o mundo político. O
centro-esquerda colou-se assim a um centro fragmentado e autodestrutivo,
largando Marina e Ciro à própria sorte e ajudando-os a se encantarem com a
possibilidade de atrair as viúvas do lulismo.
E foi incompetente, por fim, o PT. Inebriado pelo
desejo de vingança, pela vocação de dono da verdade e pela pretensão de
comandar com mão de ferro o campo progressista, o partido submeteu-se ao
imperialismo religioso do lulismo. Orientado pelas cartas nada gramscianas de
um Lula encarcerado, Haddad trocou a ousadia e o arejamento discursivo pela
narrativa tosca do “golpe” e do retorno a um passado em que o povo era feliz.
Passou a prometer crescimento, abundância e geração de empregos sem explicar
como fará isso sem cortes de gastos, sem reforma da Previdência e sem criticar
os esquemas de corrupção associados ao modo lulista de governar. Haddad flutua
entre o distanciamento e a submissão a Lula. Num dia afirma que vai soltá-lo,
no outro diz não ao indulto. Esconde o retrocesso havido nos anos de Dilma para
louvar a bonança do período Lula. Dissimula e falseia a realidade, ludibriando
os eleitores. Quer pagar de moderado para atrair os não petistas, mas ao adular
Lula gera desconfiança e rejeição.
Haddad e Bolsonaro têm seus problemas e
dificuldades. O capitão, hospitalizado, vê sua campanha desorientar-se e perder
seu principal ativo. Terá de reorganizá-la rapidamente para não perder o que já
acumulou. Se vencer, terá de provar que tem condições de governar. Já Haddad,
que ganhou fôlego com a ascensão fulminante, precisará buscar os votos dos
indecisos, dos antipetistas, dos que não se identificam com nenhum dos polos.
Se vencer, terá de demonstrar, dia a dia, que consegue soltar-se de Lula e
conter o apetite do PT.
Bolsonaro e Haddad não são equivalentes. Um é
autoritário e outro, não. Mas estão atados por um mesmo tipo de cegueira e
fanatismo.
O modo como avançou a disputa não sugere que o
próximo ciclo será produtivo. As campanhas deseducam a população. Eleitores
petistas estão sendo induzidos a acreditar que do céu cairá uma chuva de
fartura e facilidades. Os de Bolsonaro acham que ele acabará com a bandidagem e
a corrupção. Uns e outros estão cansados e parecem querer ver o circo pegar
fogo.
Normaliza-se o que deveria ser visto como risco. A
vitória de Bolsonaro ou de uma nova versão do lulismo deixará o País numa
situação ruim. A ponte que liga esses dois cenários chama-se ingovernabilidade,
alimentada por uma dinâmica de vetos cruzados permanentes, radicalizações e
confusão social.
Cada época tem seus limites. Os nossos, no Brasil de
2018, se resumem a poucas palavras: a sociedade abandonou os políticos à
própria sorte e os políticos, sem apoio social e sem partidos dignos do nome,
perderam as referências e não sabem mais o que fazer.
Chegamos assim, por vias que não puderam ser
controladas, ao esgotamento de uma época democrática. No próximo ciclo, seja
quem for o eleito, a obra será de reconstrução: do Estado, da economia, da
política, do tecido social. Não será um começar de novo, mas qualquer avanço
será sofrido e terá de ser duramente negociado.
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Professor titular de teoria política e coordenador
do núcleo de estudos e análises internacionais da Unesp
Notável
e Contemporânea Constituição Brasileira
“Existe a Constituição do Brasil, hoje, aqui e
agora. Não a de 1988. Quem escreveu o texto não é o mesmo que o interpreta e o
aplica agora." Eros Grau
Constituição feita por 'notáveis' é equívoco, diz
Jobim: 'A de Weimar deu no nazismo'
Para
ex-presidente do STF, discutir uma nova Carta Magna sem Constituinte, ideia
defendida por general Mourão, vice de Bolsonaro, pode transformá-la em uma
'coisa da elite'
Matheus Lara
O Estado de S.Paulo
Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e
ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim diz achar "completamente
equivocada" a ideia de que o Brasil discuta uma nova Constituição sem a
formação de uma Assembleia Constituinte no Congresso. Esta é uma ideia
defendida pelo General Mourão (PRTB), vice de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida
presidencial.
Sem citar Mourão, Jobim afirmou ao Estado que tirar
o povo do processo de discussão de uma nova Carta Magna e deixá-la nas mãos de
"notáveis" tende a transformá-la em uma "coisa da elite".
"(Sem a participação do povo), vira uma coisa de elite. As constituições
feitas por notáveis, veja principalmente a de Weimar, deu no nazismo",
disse após participar de um painel sobre os 30 anos da Constituição de 1988,
promovido pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
A referência de Jobim é em relação ao documento
redigido pelo jurista Hugo Preuss no início do Século XX. Ele foi um dos
principais mentores da primeira constituição da República de Weimar, que
vigorou na Alemanha a partir de 1919, antes da ascensão do nazismo.
"Esse modelo (sem Constituinte) não
funciona", afirmou o ex-ministro do governo Luiz Inácio Lula da Silva
(PT). "Não funciona no nosso sistema. Nós nunca fizemos Constituição a
partir de processos de notáveis. Nós sempre fizemos um processo político de
construção. Então, não existe essa hipótese. Acho isso aí completamente
equivocado."
Ex-ministro do STF e também presente no evento, Eros
Grau disse que a Constituição brasileira é "contemporânea à
realidade". "Ela não envelhece, nem fica jovem. Ela é a ordem
jurídica fundamental de uma sociedade em um determinado momento histórico. Por
isso, ela é contemporânea à realidade. Existe a Constituição do Brasil, hoje,
aqui e agora. Não a de 1988. Quem escreveu o texto não é o mesmo que o
interpreta e o aplica agora."
Ao comentar a atuação do STF, Eros disse que ele se
tornou num "tribunal monocrático". Ele citou números de um levantamento
feito pelo Estado no início deste ano, e reproduzidos em outros sites, que
mostram que 51,3% dos 26,5 mil julgamentos de mérito realizados em 2017 foram
decididos por um único ministro.
"O Supremo é um órgão colegiado. Quem recorre a
ele tem direito assegurado pela Constituição de ser julgado pelo
plenário", disse o ex-ministro. "Mas isso não ocorre e hoje em dia
quem bate na porta do Supremo para defender seus direitos fica dependendo do
subjetivimo e das oscilações de humor de muito magistrado."
Sem citar exemplos, Eros disse que o STF precisa
julgar casos, e não pessoas. "O STF tem que decidir sobre textos e atos,
não sobre pessoas. Hoje ele se transformou, olhando para nossa Constituição que
tem 30 anos, num tribunal monocrático e que julga pessoas." /Colaborou
Luiz Raatz.
Referências
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/09/murillo-de-aragao-orgulho-e-preconceito.html?m=1
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/09/merval-pereira-voto-modos-de-usar.html?m=1
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/09/joao-domingos-um-apelo-tardio.html?m=1
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/09/marco-aurelio-nogueira-incompetencia.html?m=1
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/09/constituicao-feita-por-notaveis-e.html?m=1
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