Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Todo o Mundo e Ninguém
Um rico mercador, chamado "Todo o Mundo" e um homem pobre cujo nome é "Ninguém", encontram-se e põem-se a conversar sobre o que desejam neste mundo. Em torno desta conversa, dois demônios (Belzebu e Dinato) tecem comentários espirituosos, fazem trocadilhos, procurando evidenciar temas ligados à verdade, à cobiça, à vaidade, à virtude e à honra dos homens.
Representada pela primeira vez em 1532, como parte de uma peça maior, chamada Auto da Lusitânia (no século XVI, chama-se auto ao drama ou comédia teatral), a obra é de autoria do criador do teatro português, Gil Vicente.
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Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:
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Todo Mundo e Ninguém - Auto da Lusitânia - Gil Vicente (1531).
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LÍNGUA PORTUGUESA VNI
22 de nov. de 2011
Auto da Lusitânia (Gil Vicente, 1531)
Video realizado para o EAD da ULBRA - Criação e Direção: Carmen Costa / Fotografia: Humberto Rocha/ MotionDesign: Eduardo Vieira/ Edição e sonorização: Eloize Rosa/ Produção: Lúcia Muller/ Make e caracterização: Sérgio Pereira e Júnior Carminatti
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"Quando o presidente eleito dos Estados Unidos da América se olha no espelho, não consegue distinguir se a imagem refletida é do atual presidente da República Federativa do Brasil ou de seu antecessor, no país ao sul da linha do Equador."
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Here is the image based on the "Two Mirrors" concept. It captures the President-elect between two angled mirrors, each with a unique reflection that subtly suggests different influences. The figures are abstract, focusing on the theme of varied leadership styles without detailed likenesses. Let me know if there's anything else you'd like to adjust! ("Aqui está a imagem baseada no conceito dos 'Dois Espelhos'. Ela mostra o presidente eleito entre dois espelhos angulados, cada um com um reflexo único que sugere sutilmente influências diferentes. As figuras são abstratas, focando no tema de estilos variados de liderança sem semelhanças detalhadas. Me avise se houver mais alguma coisa que você gostaria de ajustar!")
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PolíticaEstados Unidos
"Trump não tem condição para ser presidente de nada"
Olga Tikhomirova
há 7 horashá 7 horas
Ainda antes da divulgação dos resultados oficiais nos EUA, a DW entrevistou Francis Fukuyama. Para o politólogo americano, a vitória do candidato republicano já era certa, e as consequências para o mundo serão drásticas.
https://p.dw.com/p/4moax
Politólogo e economista americano Francis Fukuyama
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Francis Fukuyama é autor de 'O fim da história e o último homem'Foto: Aristidis Vafeiadakis/ZUMAPRESS.com/picture alliance
O politólogo e economista nipo-americano Francis Fukuyama é famoso por traçar, em suas análises, vastas linhas históricas, com conclusões que beiram a predição profética. Sua obra mais popular, O fim da história e o último homem, publicado em 1992, portanto no ano seguinte à dissolução da União Soviética, exemplifica bem a amplitude de sua visão.
Com base na filosofia de Friedrich Hegel e Karl Marx, ele postula que naquele momento se alcançava "o fim da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como forma final de governo humano". Nos anos seguintes, Fukuyama foi também associado à ascensão do movimento neoconservador, do qual se distanciaria mais tarde.
A DW entrevistou o pesquisador de 72 anos sobre as eleições presidenciais de 5 de novembro de 2024 nos Estados Unidos, quando ele ainda acompanhava com seus estudantes o anúncio dos resultados oficiais. Na ocasião, Fukuyama já dava como praticamente certa a vitória do republicano Donald Trump – que acabou se concretizando –, resultando num preocupante impulso para o populismo de direita no mundo.
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"Essa vitória vai mudar tudo. Trump não gosta de aliados, não gosta de ter que apoiá-los. Acho que ele vai conseguir um acordo de paz com Putin à custa da Ucrânia. Isso vai estabelecer um péssimo precedente para o resto da Europa."
Casa Branca em Washington, com letreiro "Stop" em primeiro planoCasa Branca em Washington, com letreiro "Stop" em primeiro plano
"Essa vitória vai mudar tudo", afirma autor Francis FukuyamaFoto: Getty Images/AFP/A. Caballero-Reynolds
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DW: A eleição presidencial americana foi um dos eventos mais esperados no mundo em 2024; na Europa e na Alemanha, decisões importantes foram adiadas até após o resultado. Parece que chegamos a um ponto de inflexão, o começo de uma nova história. O senhor concorda?
Francis Fukuyama: Quanto a uma nova história, não sei, mas é certamente uma mudança importante para os Estados Unidos, e devido à influência que têm, acho que [uma vitória de Trump] vai afetar o mundo de modo negativo.
Na sua opinião, os americanos querem algumas mudanças?
Ainda é extraordinário quanta gente está disposta a votar em Donald Trump depois de tudo o que sabe sobre ele. Para mim é bem decepcionante, porque ele realmente não parece ter condição para ser presidente de nada. E acho que isso vai ter grandes consequências para o resto do mundo, pois encoraja todos os partidos populistas da Europa e de outros lugares.
Estamos vendo um alto nível de polarização na sociedade americana, mas ao mesmo tempo isso resultou numa participação eleitoral marcante. O número dos que votaram antecipadamente é fora do comum. Isso não é bom?
Bem, é bom se você não prestar a menor atenção nos resultados concretos que vão sair dessa votação. Penso que a participação pública não é a única coisa a se considerar, a gente também quer que as pessoas façam escolhas sábias quando votam. Acho que elas estão votando por causa de questões de curto prazo, como a inflação, sem atentar para outras, de longo prazo, muito mais importantes, como a sobrevivência do Estado de direito nos EUA.
Nós vemos certas semelhanças aqui na Alemanha, em termos do crescimento do populismo e da incapacidade dos partidos convencionais de se oporem a esse processo. Então, a verdade não vale?
Acho que os EUA permanecem muito influentes, a gente vai copiar o que acontece aqui, e me parece que isso vai provavelmente ocorrer na Alemanha. Então estou seguro de que a [sigla populista de direita Alternativa para a Alemanha] AfD vai se sair melhor, devido ao que acontece nos EUA.
De volta aos americanos e sua sociedade: parece que Trump apostou numa emoção, a de que o país deveria se concentrar mais em si mesmo, nos americanos, não no mundo inteiro. Isso vai resultar em mudanças no papel que os EUA vão desempenhar na ordem global, e na própria ordem, em si?
Vai mudar. Vai mudar tudo. Trump não gosta de aliados, não quer ter que apoiar aliados. Ele não gosta da Ucrânia, acho que vai conseguir um acordo de paz com [presidente da Rússia Vladimir] Putin à custa dela. Vai ser um precedente péssimo para o resto da Europa. No Extremo Oriente, não está claro que ele vá se dispor a defender os aliados dos EUA contra a China.
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Entrevista: Francis Fukuyama
02:29
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Então, esses riscos políticos em que estamos entrando agora são realmente de grande porte, e não só no setor de segurança. Afinal, ele quer impor uma tarifa aduaneira de 20% contra todos os outros países. E isso resultará numa depressão econômica global, pois vamos estar de volta ao tipo de situação dos anos 1930, depois que foi aprovada a lei de taxação Smoot-Hawley.
No tocante à interferência russa nas eleições americanas: a imprensa relatou diversos casos de manipulação, o jornal The New York Times noticiou sobre ingerências da Rússia, China e Irã. A influência foi tão grande assim?
Não sabemos. Não sabemos se houve interferência. Trump venceu. Não sei se algum dia vamos saber se houve aí uma relação causa e efeito forte, porque é muito difícil julgar essas coisas. Mas certamente a intenção estava lá. Acho que, para Putin, a principal esperança para uma vitória na Ucrânia era ter Trump como presidente.
Porque ele vai cortar o apoio à Ucrânia?
Isso.
Os principais tópicos da campanha presidencial foram as restrições à imigração e às importações, a economia e o acesso ao aborto. Tudo indica que os americanos estão se desviando dos valores liberais, em direção a posturas mais conservadoras, fechando o país e a sociedade. Isso é um movimento? Vai durar muito tempo?
Muito difícil dizer. O fato de Trump ter vencido duas eleições, apesar de tudo o que todo mundo sabe sobre ele, indica que há uma insatisfação real com o estado dos EUA. Não acho que as medidas políticas dele vão funcionar, acho que vão gerar inflação, recessão econômica, mais desemprego.
Então pode ser que daqui a quatro anos todo mundo vá ver que foi um grande erro reelegê-lo, e nesse caso as consequências de longo prazo serão muito diferentes. Mas no momento, eu simplesmente não considero um bom sinal que tantos americanos estejam dispostos a votar em alguém que é tão profundamente lesado.
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sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Tempos de incerteza - Fernando Gabeira
O Estado de S. Paulo
A democracia liberal não é o ponto de chegada da experiência humana, como pensava Fukuyama. Resta saber se sobrevive onde sempre foi considerada um exemplo planetário
As eleições americanas são o fato mais importante do ano, que por sinal está acabando. São tantos os caminhos para interpretar sua influência que é preciso separá-los para evitar o labirinto.
Do ponto de vista da democracia, a vitória de Donald Trump é preocupante. Ele estimulou a invasão do Capitólio, duvidou abertamente do resultado das urnas em 2020 e promete vingança contra seus adversários.
Há uma suposição de que o autoritarismo não triunfa nos EUA. Não podemos esquecer aquele célebre artigo de Francis Fukuyama para quem a democracia liberal era a forma política final do gênero humano.
De lá para cá, os regimes autoritários cresceram, adotaram métodos capitalistas, aumentaram a renda per capita das pessoas e oferecem até um certo orgulho nacional, no lugar do desejo por liberdade e direitos políticos. Segundo o professor Robert Stefan Foa, em 1995 as pessoas com renda per capita acima de US$ 20 mil viviam em 96% dos casos em democracias liberais. Apenas 34 milhões viviam em países não democráticos. Hoje há 315 milhões com renda per capita acima desse limiar que vivem em países dominados pelo autoritarismo.
No passado, supunha-se que havia um claro limiar no qual o regime autoritário não oferecia melhoras e seria irresistivelmente pressionado a adotar a democracia. Hoje são as democracias liberais que oferecem pouca margem de crescimento e estão sob forte pressão.
Trump é um produto desta época em que líderes autoritários parecem bem-sucedidos, o que fortalece sua intrínseca atração por eles.
Num país polarizado onde brotam comunidades de sobreviventes, entrincheirados em ranchos, com comida e água por muito tempo e armados até os dentes, é muito possível que a violência política fortaleça o caminho autoritário.
Quanto à proposta econômica de Trump, ela tem um conteúdo contraditório: ele quer taxar as importações e, simultaneamente, reduzir a inflação.
O resultado trará um grande impacto nos países exportadores, inclusive o Brasil, cujo comércio com os EUA gira em torno de US$ 30 bilhões.
O que deve ter influenciado eleitoralmente foi a inflação.
Um outro impacto espera os países latinos: a política de Trump para os imigrantes. Ele tem prometido deportação em massa de imigrantes ilegais e tudo indica que fará isso com o apoio dos próprios americanos, que se sentem ameaçados nos seus empregos ou acham que os estrangeiros furam a fila nos balcões da assistência social.
A política ambiental será uma das principais vítimas. Trump sairá de novo do Acordo de Paris e a sua delegação virá a Belém, para a COP-30, disposta a detonar as principais saídas coletivas para deter o aquecimento global.
Por que enfatizar meio ambiente e imigrantes se houve dois candidatos com políticas diferentes? A verdade é que em ambos os temas Kamala Harris teve de fazer concessões ao discurso de Trump. Claro que sua vitória não traria e expatriação em massa, muito menos a saída do Acordo de Paris. Mas ela já tem um tom mais severo diante da imigração e aceitou o fracking, praticamente endossando o slogan de Trump: Drill, baby, drill.
Isso quer dizer “perfure, perfure”. O fracking é uma técnica usada para extrair petróleo e gás natural de formações rochosas. Consiste na injeção de água, areia e produtos químicos em alta pressão para criar fissuras nas rochas. Foi importante na produção americana, mas é sobretudo um forma de contaminação das águas subterrâneas. Petróleo ou água? É uma escolha importante no século 21. O fracking teve um papel na eleição da Pensilvânia. Kamala tentou fugir da derrota no Estado.
Na verdade, a política ambiental democrata foi atingida também pela guerra na Ucrânia. Joe Biden acabou autorizando a exploração de petróleo no Alasca, na região de North Slope. E, quando se trata de guerra, as nuances ficam mais complicadas ainda. Trump possivelmente deixará a Ucrânia se defender sozinha, ou apenas com a ajuda europeia. E, no Oriente Médio, provavelmente manterá um apoio incondicional a Israel. Isso significa que a discreta tentativa norte-americana de evitar o massacre de civis em Gaza sairá de cena. Da mesma forma, os esforços para evitar uma guerra regional.
Nesse ponto, a posição democrata que mantém o apoio a Israel, sempre pedindo prudência, acabou sendo a menos bemsucedida em termos eleitorais. Os árabes puniram Joe Biden pela sua ambiguidade e acreditaram em Trump, que prometeu acabar com a guerra.
Nas pesquisas de boca de urna, 70% dos entrevistados disseram que os EUA estavam no rumo errado. Certamente, havia um julgamento sobre a política econômica de Biden e seus reflexos no cotidiano. Esperava-se que a questão dos direitos reprodutivos da mulher, a defesa do aborto por Kamala Harris, fosse um ponto decisivo. Não foi, apesar de sua importância.
Esta eleição parecia de Trump desde o início, pois ele definiu a pauta e ocupou um imenso espaço como perseguido. The Economist chegou a publicar um texto sobre a trumpização da política americana: os democratas apenas reagiram.
A democracia liberal não é o ponto de chegada da experiência humana, como pensava Fukuyama. Resta saber se sobrevive onde sempre foi considerada um exemplo planetário.
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