Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Revolução Caipira
Dificuldades com L e com R
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CARUSO - Mireille Mathieu - Legendado
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luiz darlei Scherer
Enrico Caruso (Nápoles, 25 de fevereiro de 1873 — Nápoles, 2 de agosto de 1921) foi um tenor italiano, considerado, inclusive pelo ilustre Luciano Pavarotti, o maior intérprete da música erudita de todos os tempos. Os últimos dias da sua vida são narrados de forma romantizada nesta canção, cuja autoria é de Lucio Dalla (1986).
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"Farêmu" uma revolução
"Farêmu" (Faremos) uma revolução pelas "armas" (almas), e não pela arma.
Plínio Sagado
Movimento Integralista
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O professor – Ocupação Antonio Candido (2018)
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Itaú Cultural
25 de mai. de 2018
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A aula de Antonio Candido “tinha um pouco de obra de arte”, nas palavras de Celso Lafer, advogado e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), que foi seu aluno e amigo. Lafer relembra do curso sobre personagem que fez com o mestre e explica que, para Candido, um bom docente precisava ter um mínimo de capacidade de representar, como um caminho para a motivação de seus educandos. Destaca que o intelectual era um grande conversador e muito bom em imitar as pessoas: inclusive construiu representações dos personagens estudados na produção do livro Os Parceiros do Rio Bonito, nas quais incorporava observações a respeito da fala de cada um.
Neste 2018, quando completaria 100 anos, o crítico literário, sociólogo e professor Antonio Candido é o homenageado da 40ª edição do programa Ocupação, com a curadoria do Itaú Cultural e de Laura Escorel, neta de Candido e organizadora de seu acervo. O evento na sede do instituto, em São Paulo/SP, tem entrada gratuita e inclui uma exposição (de 23 de maio a 12 de agosto de 2018) e um colóquio internacional (de 23 a 25 de maio), além de lançar uma publicação e um hotsite.
Depoimento gravado em março de 2018, em São Paulo/SP.
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O lema apresentado — "Farêmu" uma revolução pelas "armas" (almas), e não pela arma — reflete um dos elementos ideológicos centrais do Movimento Integralista, fundado por Plínio Salgado na década de 1930 no Brasil. Este movimento foi inspirado por correntes nacionalistas e corporativistas, mas também integrava aspectos do fascismo europeu, embora adaptados à realidade brasileira e revestidos de valores cristãos.
Contexto da frase:
"Farêmu":
A palavra é usada de maneira estilizada, remetendo ao sotaque popular de certas regiões do Brasil, o que pode indicar um esforço para se aproximar das massas, algo característico do discurso integralista, que buscava ser amplamente inclusivo.
"Armas" (almas):
Este trocadilho reforça a ênfase espiritual e moral que Plínio Salgado queria imprimir ao movimento. A "revolução pelas almas" sugere uma transformação que não seria conduzida por meio da violência física, mas sim por uma renovação dos valores individuais e sociais.
Rejeição à violência armada:
Apesar de possuir um caráter autoritário, o Integralismo afirmava, em teoria, sua oposição ao uso da força militar ou das armas para alcançar poder. A "arma" que eles propunham era a moralidade, a religiosidade (fortemente católica) e a disciplina cívica.
Significado no Integralismo:
O Integralismo buscava unir a nação em torno de valores comuns, promovendo uma ideologia que combinava:
Nacionalismo: Valorização do Brasil e de suas características únicas.
Espiritualidade: Ligação profunda com a ética cristã, visando a reforma do indivíduo como base para a reforma da sociedade.
Antiliberalismo: Crítica ao individualismo do liberalismo e à luta de classes do marxismo.
Corporativismo: Organização da sociedade em corporações ou grupos profissionais.
Contradições históricas:
Embora o lema sugira um movimento pacífico e espiritual, o Integralismo foi marcado por:
Militância uniforme e paramilitar: Seus membros, conhecidos como "camisas verdes", realizavam marchas e manifestações inspiradas em movimentos fascistas.
Conflitos políticos: Enfrentou oposição de forças democráticas e comunistas, com episódios de confronto violento.
O lema reflete a idealização de um movimento que buscava conquistar a sociedade não pela força, mas pela persuasão moral e espiritual. Contudo, na prática, o Integralismo apresentava ambiguidades, tanto em sua abordagem política quanto em sua aplicação.
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Plínio Salgado
Plínio Salgado nasceu em 22 de janeiro de 1895, em São Bento do Sapucaí, São Paulo. Filho de família católica com raízes políticas conservadoras, interrompeu seus estudos ainda jovem, em 1911, seguindo sua formação intelectual como autodidata. Em 1916, fundou em sua cidade natal, o semanário Correio de São Bento. Em 1918, iniciou suas atividades políticas, participando da fundação do Partido Municipalista, que reunia líderes dos municípios do Vale do Paraíba. Em 1920, durante campanha do partido, foi preso após tiroteio com a polícia. Obtendo liberdade, mudou-se para São Paulo, onde passou a trabalhar como revisor no Correio Paulistano.
Durante a década de 1920, tornou-se um escritor de renome, mas sua atuação política era ainda muito tímida, desenvolvendo-se às margens dos grupos oligárquicos paulistas. No final de 1924, ligou-se a uma facção dissidente do Partido Republicano Paulista (PRP), que rompera com o presidente de São Paulo, Washington Luís.
Em 1928, foi eleito deputado estadual, na legenda do PRP, com o apoio do presidente de São Paulo, Júlio Prestes. Participou de movimento de intelectuais ligados ao PRP, conhecido como Ação Renovadora Nacional. Em 1930, sem terminar seu mandato, viajou ao Oriente Médio e à Europa, como preceptor do filho do advogado Souza Aranha. Ao chegar à Itália, impressionou-se com o fascismo e com Mussolini, o que influenciou profundamente sua futura carreira política.
Em 1931, tornou-se redator do jornal A Razão, fundado por Souza Aranha na capital paulista. Lá, promoveu campanhas contra a constitucionalização do Brasil, o que levou a sede do jornal a ser incendiada, pouco antes da Revolução Constitucionalista de 1932. Ainda em 1932, divulgou o Manifesto de Outubro, apresentando as diretrizes de uma nova agremiação política, a Ação Integralista Brasileira (AIB), inspirada no fascismo italiano e outras vertentes europeias. Em 1933, a sede da organização foi transferida para o Rio de Janeiro e, em 1934, no I Congresso da AIB, organizado em Vitória (ES), Plínio recebeu o título de “chefe nacional" do movimento. Após o congresso, e sob a liderança de Salgado, o movimento passou a fundar jornais, abrir creches, escolas e promover desfiles integralistas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Em 1937, Plínio chegou a lançar sua candidatura à presidência, com forte campanha organizada pela AIB, Depois, passou a apoiar o governo de Vargas com a promessa de que o integralismo seria a base do novo regime, e que se tornaria Ministro da Educação. No entanto, logo após o golpe, Vargas decretou o fechamento dos partidos políticos, impactando diretamente na AIB e levando, mais tarde, à dissolução total do movimento.
Em 1939, Salgado foi detido e enviado para um exílio de seis anos em Portugal. Retornou ao Brasil em 1945, já na redemocratização do país, e passou a se dedicar à reformulação da doutrina integralista, o que deu origem ao Partido de Representação Popular (PRP).
Em 1955, lançou sua candidatura à presidência da República, obtendo apenas 8% do total. Apoiou a posse de Juscelino Kubitscheck e foi nomeado para a direção do Instituto Nacional de Imigração e Colonização. Em 1958, foi eleito deputado federal pelo Paraná, na legenda do PRP. Após a posse de João Goulart, em 1961, aliou-se à UDN e ao PSD na luta contra as reformas de base pretendidas no governo. Em 1962, reelegeu-se, agora por São Paulo, novamente na legenda do PRP.
Em 1964, intensificou sua oposição à Goulart; foi um dos oradores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo; e apoiou o golpe militar que depôs o então presidente. Com a extinção dos partidos políticos, devido ao Ato Institucional nº2 (AI-2), filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena). Candidatou-se a deputado federal pela legenda, em 1966, saindo vitorioso. Assumiu o cargo no ano seguinte, quando se tornou vice-líder do partido na casa. Em 1970, foi reeleito novamente deputado federal. Em 1974, despediu-se de sua carreira política em discurso proclamado na Câmara dos Deputados. Morreu em São Paulo, no ano seguinte.
Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/salgado-plinio / Acesso: mai. 2021
Plínio Salgado
Nomes Políticos
Plínio Salgado
Nascimento
São Bento de Sapucaí, SP, 22 de janeiro de 1895
Falecimento
São Paulo, SP, Brasil, 08 de dezembro de 1975
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Lucio Dalla - Caruso (Com legenda em italiano e português BR)
Legendas Italianas
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sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Isso Tudo Que Aí Está – Ruy Castro
Folha de S. Paulo
É o nome verdadeiro do político sob os pseudônimos 'Jânio Quadros', 'Fernando Collor' e 'Bolsonaro'
Não é de hoje. Rara a eleição nos últimos 70 anos, no Brasil, em que o vencedor à Presidência não foi um candidato que, sob qualquer nome, interpreta uma figura chamada Isso Tudo Que Aí Está. O padrão é invariável. Isso Tudo Que Aí Está é um sujeito desconhecido, carismático, que surge de repente. Concorre por um partido nanico, mas este é acoplado por outro maior, notório perdedor, que não se envergonha de virar rabo de cometa. Não se sabe o que Isso Tudo Que Aí Está defende ou qual é sua plataforma. Só se sabe que ele é contra "isso tudo que aí está".
No começo, ninguém o leva a sério. Mas Isso Tudo Que Aí Está parece falar aos baixos instintos de grande parte do povo, porque, de surpresa, atropela na reta final e é eleito. Votar em Isso Tudo Que Aí Está é um voto de protesto cego e surdo. Seus eleitores só se esquecem de que um ato infantil de revolta, que leva quatro segundos na urna, pode custar quatro anos ao país.
O primeiro Isso Tudo Que Aí Está, vitorioso em 1960, usou o pseudônimo "Jânio Quadros". A caspa na lapela, o bigode à Groucho Marx e o discurso ébrio e contundente embriagaram o país. Venceu de goleada, mas, incapaz de governar na democracia, apostou tudo numa renúncia que não era para valer e que, para surpresa dele, ficou sendo. O segundo Isso Tudo Que Aí Está, em 1989, foi "Fernando Collor", um manequim de vitrine dado a governar a bordo de um jet-ski. Também não queria saber de conversa e, para acabar com a inflação, bateu a carteira do país ao sequestrar a poupança. E, finalmente, em 2018, Isso Tudo Que Aí Está apresentou-se como "Jair Bolsonaro", com seu golpismo matuto, patranha religiosa e amor ao ódio.
Em comum entre eles, o discurso antipolítica, antissistema e anticorrupção —que funciona até o eleitor descobrir que eles também são políticos, pertencem ao mesmo sistema e exercem seu tipo próprio de corrupção. Isso Tudo Que Aí Está pode renunciar, ser impichado e até ser preso, mas nunca nos livraremos dele.
Ele está dentro de cada eleitor indiferente à democracia e aprisionado em suas perigosas mesquinharias pessoais.
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Ta lendo?
Mta pagina
Ta maluco
Vc já tinha visto?
Muito repeteco que já havia sido publcizado
Não basta ler as 884 páginas
Mais maluco é ler os que escrevem sobre as 884 páginas sem ter lido sequer o sumário
“Brabeza mermo”
Haahahhahhah
Isso é verdade
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Esse humor de "ler sem ler" é comum em situações onde um material denso vira tema de debate público, mas muitas análises acabam se baseando em fragmentos ou interpretações de terceiros. A "brabeza mermo" está em encarar o texto inteiro! 😅
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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MJSP – POLÍCIA FEDERAL DIRETORIA DE INTELIGÊNCIA POLICIAL COORDENAÇÃO-GERAL DE CONTRAINTELIGÊNCIA COORDENAÇÃO DE INVESTIGAÇÕES E OPERAÇÕES DE CONTRAINTELIGÊNCIA
RELATÓRIO N° 4546344/2024
2023.0050897-CGCINT/DIP/PF
Registro Especial: 2023.0050897-CGCINT/DIP/PF (INQUÉRITO POLICIAL nº 2021.0044972)
Processo Judicial nº: Pet. 12.100/DF - INQ nº 4.874-DF
Data da instauração: 26/06/2023
Data do término da investigação: 21/11/2024
Tipos penais: art. 2º da Lei 12.850/2023 e arts. 359-L, 359-M do Código Penal
Bens apreendidos: sim Página 1 de 884
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CORES VW BRASILIA 1973 - 1982
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O texto de Ruy Castro é uma reflexão crítica sobre um fenômeno recorrente na política brasileira: a ascensão de candidatos que se apresentam como outsiders, figuras aparentemente alheias ao "sistema", mas que, ao longo de suas gestões, revelam-se parte dele, com falhas e vícios próprios. Ao utilizar o pseudônimo "Isso Tudo Que Aí Está", o autor ironiza a estratégia de atrair eleitores pelo discurso de negação da política tradicional, ao invés de propor soluções consistentes.
Principais pontos do texto:
Repetição de um padrão político: Castro identifica a recorrência, nos últimos 70 anos, de presidentes eleitos com base em campanhas centradas na rejeição ao status quo, como Jânio Quadros (1960), Fernando Collor (1989) e Jair Bolsonaro (2018).
Carisma e desconfiança inicial: Esses candidatos, inicialmente desacreditados, conquistam apoio popular por sua postura contestadora e estilo comunicativo que ressoa com o "protesto cego" de parte do eleitorado.
Desilusão inevitável: Uma vez eleitos, eles demonstram limitações claras — seja por incompetência, práticas de corrupção ou incapacidade de governar dentro das regras democráticas.
Causa estrutural e cultural: O autor aponta que a perpetuação desse tipo de liderança está ligada ao perfil de eleitores desiludidos com a democracia, que escolhem líderes baseados em sentimentos individuais de revolta, ignorando consequências coletivas.
Crítica subjacente:
O texto condena a superficialidade e os perigos de um voto motivado por frustrações pessoais e pela rejeição à política convencional. Ruy Castro sugere que, enquanto o eleitorado não enfrentar essa tendência de buscar "salvadores da pátria", o ciclo se repetirá, com altos custos para o país.
Essa análise também é um convite à reflexão sobre o papel do eleitor na consolidação democrática, destacando que a "antipolítica" não resolve problemas estruturais, mas os agrava, ao reforçar líderes inaptos e centralizadores.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
"O Sabiá do Elevador"
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O MARAVILHOSO CANTO DA SABIÁ LARANJEIRA (Turdus rufiventris)
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Canto de Pássaros
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7.327.512 visualizações 29 de set. de 2019
O Canto da Sabiá Laranjeira, conhecida também como Sabiá Laranja, sabiá-de-barriga-vermelha e sabiá-de-peito-roxo. Canto harmônico de extrema beleza e paz.
Sua alimentação é basicamente insetos, larvas, minhocas, incluindo frutas maduras.
É comum em bordas de florestas, parques, quintais e áreas urbanas arborizadas. Vive solitário ou aos pares, pulando no chão. Em regiões mais secas é, de certa forma, restrito a áreas próximas à água.
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CIO DA TERRA (letra e vídeo) com MILTON NASCIMENTO e CHICO BUARQUE, vídeo MOACIR SILVEIRA
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Moacir Silveira
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715.409 visualizações 4 de ago. de 2013
Nesta música Milton Nascimento e Chico Buarque fazem uma maravilhosa analogia entre os ciclos da vida vegetal, trigo e cana de açúcar, deixando implícita a comparação entre o ciclo da reprodução vegetal e da reprodução humana. Milton Nascimento nasceu em 26/10/1942 no Rio de Janeiro, mas mudou-se ainda garotinho para Três Pontas -- MG; desde muito cedo demonstrou gosto e amor por música; foi crooner do conjunto W'Boys, composto por Wagner Tiso, Waltinho, Wilson e Wanderley sendo Milton chamado então de "Wilton" par amanter a coerência do conjunto; Em 1963 mudou-se para Belo Horizonte para estudar Economia; conheceu então os irmãos Marilton, Márcio e Lô Borges, aumentando assim sua bagagem musical passando a atuar na noite de Belo Horizonte como cantor e tocando contrabaixo. Considerado no Brasil e no exterior um dos melhores compositores e cantores da moderna música popular brasileira. Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido por Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de junho de 1944, é um músico, dramaturgo e escritor brasileiro. É conhecido também por ser um dos maiores nomes da MPB. Sua discografia conta com aproximadamente oitenta discos, entre eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos.
CIO DA TERRA
De: Milton Nascimento e Chico Buarque
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar do pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra propícia estação
E fecundar o chão
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Sabiá Laranjeira Canto Selvagem no Mato (Turdus Rufiventris)
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Riobaldo, porteiro do prédio, gentilmente apertou o botão do andar enquanto segurava a porta do elevador para a entrada do morador, que carregava várias sacolas de supermercado. Enquanto isso, assobiava um canto de pássaro que o morador, curioso, não conseguia identificar. Brincalhão, ele provocou:
— Que pássaro canta assim, Riobaldo?
De pronto, veio a resposta marota:
— Sabiá-laranjeira.
O morador, surpreendido, viajou no tempo. Lembrou-se da frondosa árvore no quintal de sua antiga casa, onde sempre pousava uma sabiá-laranjeira. Seu canto, indefectível, era trilha sonora de sua infância e permanecia vivo na memória. Movido pela nostalgia, arriscou reproduzir o assobio que tanto o encantava e, cheio de inocência, perguntou ao sempre espirituoso Riobaldo:
— Mas o sabiá-laranjeira não canta assim como eu assobio?
Riobaldo, com um sorriso de quem sabe improvisar, respondeu:
— É que o meu ainda é filhote. Está aprendendo.
Com a porta do elevador fechando, o morador apenas sorriu, agradecendo pelo momento breve, mas cheio de criatividade e significado. Restou-lhe um cumprimento e um elogio pela prontidão e humor do porteiro. E assim, embarcou no vazio do elevador, acompanhado das sacolas e de uma memória resgatada.
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Epígrafe:
"A vida é como o canto de um pássaro: nem sempre perfeito, mas sempre cheio de significado."
— Autor desconhecido
Pensamento Filosófico:
"A beleza do cotidiano está nas pequenas interações que nos conectam com o passado e ressignificam o presente. Até um canto imperfeito pode ensinar a leveza de viver."
Ilustração Sonora Recomendada:
Um assobio suave que imita o canto do sabiá-laranjeira, alternando entre tons leves e pausas contemplativas, como uma melodia natural ecoando em um quintal arborizado.
Resumo:
O porteiro Riobaldo e seu assobio maroto de "sabiá-laranjeira" criam um momento inesperado de nostalgia para um morador que, carregado de sacolas e memórias, revisita sua infância por meio de uma interação simples. A troca lúdica entre os dois resgata o valor das imperfeições, do aprendizado contínuo e da gentileza, transformando uma cena cotidiana em poesia reflexiva.
Epitáfio:
"Aqui jaz um contador de histórias da vida simples, onde o assobio de um sabiá e o sorriso de um amigo fizeram o cotidiano cantar."
Canção Associada:
"Cio da Terra", de Milton Nascimento e Chico Buarque.
A música conecta a simplicidade da vida com a beleza natural, evocando a mesma emoção do canto do sabiá e do retorno às raízes.
2/2
Você disse:
Pensamento Filosófico:
"A beleza do cotidiano está nas pequenas interações que nos conectam com o passado e ressignificam o presente. Até um canto imperfeito pode ensinar a leveza de viver. "
Substituir-se-á o termo 'ressignificam' por outro mais simples e profundo, evitando lugar-comum ou modismos.
Aqui está uma versão revisada com substituição e enriquecimento filosófico:
Pensamento Filosófico:
"A beleza do cotidiano está nas pequenas interações que nos conectam ao passado e iluminam o presente. Até um canto imperfeito pode ensinar a leveza de viver."
Essa revisão utiliza "iluminam", um termo mais universal e atemporal, que sugere clareza, compreensão e profundidade.
Pensador Associado:
Esta reflexão pode ser associada a Hannah Arendt, que em sua obra valorizava as ações e interações humanas como fonte de sentido e beleza na vida comum. A ideia de "iluminar" ressoa com sua visão de como os atos cotidianos revelam nossa humanidade e singularidade no mundo.
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O Cio da Terra
Pena Branca e Xavantinho
Letra
Significado
Traduções
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
Composição: Chico Buarque / Milton Nascimento.
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terça-feira, 26 de novembro de 2024
O FATOR HUMANO
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- É esse mesmo. É o que eu mais gosto.
- É um pouco assustador, Sam.
- É por isso mesmo que eu gosto. Ele usa uma máscara de meia?
- Aqui não se diz que ele é um ladrão, Sam.
GRAHAM GREENE
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DIÁLOGO NO WHATSAPP ENTRE MACHADO DE ASSIS E JOAQUIM NABUCO, EM 2024
Machado de Assis
Boa tarde, Nabuco! O mundo, vasto mundo, agora cabe num aplicativo de mensagens. Quem diria que nossa República e suas coalizões seriam tão rocambolescas quanto os folhetins de outrora?
Joaquim Nabuco
Machado, meu caro! Como vai o Cosme Velho? Eu, cá em Pernambuco, observo a política como quem olha um engenho: rangendo, girando, moendo. Mas diga-me, o que o aflige hoje?
Machado de Assis
A lei, Nabuco. A lei e seus senhores. É legal ou ilegal, pergunto? Ou melhor, está na lei? Porque justiça, ah, justiça, parece poesia: nem sempre cabe na métrica do legislador.
Joaquim Nabuco
Ah, Machado, não seja tão severo. Não foi você que disse que a alma brasileira é mais torta que reta? Governamos por coalizão, amigo. Como um maxixe: improviso, balanço, desequilíbrio, mas no fim todos tentam acompanhar o ritmo.
Machado de Assis
(rindo) Tocaste na música! Que tal um maxixe nosso, meu amigo? Um de protesto. Algo que embale o povo e os senhores no mesmo compasso, ainda que em sonho.
Joaquim Nabuco
E eu, que nunca fujo à provocação, faço-lhe uma resposta em funk. Afinal, modernizar-se é preciso!
O MAXIXE DE MACHADO
“O Baile da Lei”
No salão do Congresso, dança a lei,
Rodopiando sem parar, quem a fez nem sei.
Vem o veto, vem o sim, não há cadência,
Enquanto o povo espera a tal clemência.
Justiça é dama de vestido roto,
Pisam-lhe o pé, mas ela mantém o voto.
Executivo e Congresso num abraço torto,
Quem paga a banda é o bolso do povo morto.
Ai, ai, quem dança? Ai, ai, quem paga?
No Brasil da coalizão, a lei é uma chaga.
Mas se o maxixe embala, ninguém reclama,
Só espera que a vida um dia exclame: "Muda a trama!"
O FUNK DE NABUCO
“Lei na Quebrada”
Ei, Machado, escuta essa batida,
Na favela ou no palácio, lei é vida.
Mas quem escreve, mano, nem sempre sente,
O peso da justiça na mão de quem é gente.
O governo joga, mas o jogo é sujo,
A coalizão é troca, sempre um ajuste bruto.
“Cadê a reforma?” a quebrada pergunta,
Mas lá no Congresso, só grana que junta.
Vai, vai, desonera até cansar,
O pobre paga a conta, até se afogar.
Quem mama no Estado não vai dividir,
E a favela dança funk pra resistir.
Justiça, oh dama, te chamam de cega,
Mas quem decide teu rumo, nem sente essa regra.
No ritmo do funk, eu deixo um recado:
O Brasil que dança é o Brasil maltratado.
DESFECHO ONÍRICO
Machado de Assis
Nabuco, estás mais moderno que eu! Imagino, em sonho, um baile no Cosme Velho: o maxixe e o funk se entrelaçando, os senhores e os trabalhadores rodopiando juntos. Mas logo vem o despertar, e as contradições da vida voltam a ser o tom da música.
Joaquim Nabuco
Não te aflijas, Machado. A política é como literatura: cheia de heróis, vilões, intrigas. Nosso papel, amigo, é narrar com beleza o que outros tratam com brutalidade.
Machado de Assis
Então, sigamos! Na pena e na dança, façamos nosso protesto. Se o Brasil é delírio, sejamos seus sonhadores.
E assim, entre mensagens e metáforas, Machado e Nabuco transformaram o WhatsApp de 2024 num salão literário e político, onde o ritmo da língua e da ideia não conhece limites.
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Corta Jaca
Chiquinha Gonzaga
Letra
Neste mundo de misérias
Quem impera é quem é mais folgazão!
É quem sabe cortar-jaca nos requebros
De suprema perfeição, perfeição
Esta dança é buliçosa, tão dengosa
Que todos querem dançar!
Não há ricas baronesas, nem marquesas
Que não queiram (saibam) requebrar, requebrar
Este passo tem feitiço, tal ouriço
Faz qualquer homem coió!
Não há velho carrancudo, nem sisudo
Que não caía em trololó, trololó
Quem me vir assim alegre no Flamengo
Por certo se há de render!
Não resiste com certeza, com certeza
Este jeito de mexer
Um Flamengo tão gostoso, tão ruidoso
Vale bem meia-pataca!
Dizem todos que na ponta está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!
Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, olé! - Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Dança (corta) meu benzinho assim, olé!
Composição: Chiquinha Gonzaga / Machado Careca.
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Rap da Felicidade
Cidinho e Doca
Letra
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Fé em Deus, DJ
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço a autoridade um pouco mais de competência
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Diversão hoje em dia não podemos nem pensar
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de côco
E o pobre na favela vive passando sufoco
Trocaram a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança
O povo tem a força, precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu
Eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar, é
O pobre tem o seu lugar
Diversão hoje em dia, nem pensar
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de côco
E o pobre na favela, passando sufoco
Trocada a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança
O povo tem a força, só precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é
Eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
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terça-feira, 26 de novembro de 2024
Os dias que arruinaram o golpe militar-palaciano - Alvaro Costa e Silva
Folha de S. Paulo
O que ocorreu entre a redação do decreto de estado de sítio e a fuga de Bolsonaro para a Flórida?
Em novembro de 1955, a revista Manchete espantou os leitores. Em vez de Martha Rocha, Sophia Loren ou outra beldade nacional ou internacional vestindo maiô, a capa colorida exibia a figura de um general. Fardado. Em longo depoimento, Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra, narrou os bastidores da tentativa de golpe militar contra o presidente eleito que ele, Lott, praticamente sozinho e usando as mesmas armas, havia desbaratado uma semana antes.
O general aplicou um contragolpe para garantir a posse de Juscelino Kubitschek, cuja eleição, sem a maioria absoluta de votos, havia deflagrado o movimento dos quartéis, por trás do qual estava o infatigável Carlos Lacerda. Com a intervenção de Lott, o presidente interino, Carlos Luz, foi obrigado a refugiar-se a bordo do cruzador Tamandaré. Seu chefe de polícia, coronel Menezes Cortes, foi preso. Em janeiro de 1956, JK assumiu a Presidência.
Ao dar a corajosa entrevista, o militar legalista (mais tarde candidato derrotado nas eleições presidenciais de 1960) foi copidescado por Otto Lara Resende, verdadeiro autor de expressões que entraram para a história, como "retorno aos quadros constitucionais vigentes". De qualquer maneira, Lott pacificou o país, evitando o golpe adiado pelo suicídio de Getúlio em 1954 e finalmente consumado em 1964.
Sessenta e sete anos depois —de novo em novembro—, tramava-se mais uma arapuca contra o presidente eleito. No dia 9, o general Mário Fernandes usou o computador do Planalto para imprimir o documento com detalhes da operação para eliminar Lula, Alckmin e Moraes.
No dia 7 de dezembro, jair Bolsonaro se reuniu com os comandantes das Forças Armadas, apresentando-lhes a minuta de decreto que previa "o estado de sítio dentro das quatros linhas". O general Freire Gomes declarou à PF que se opôs ao plano dos militares palacianos. No dia 30, o capitão fugiu para a Flórida. Ainda não se sabe se, nesse ínterim, houve uma ação preventiva ou um golpe dentro do golpe.
O certo é que ninguém deu entrevista. Otto morreu em 1992. A Manchete foi para as cucuias. Os aloprados continuam vivos, soltos e conspirando contra a democracia.
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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Um golpe para o cinema – Fernando Gabeira
O Globo
O mundo avançou, e os golpistas recuaram no tempo, não chegam aos pés de seus antecessores do século passado
Presenciei dois golpes militares no século XX. Primeiro foi no Brasil; nove anos depois, no Chile. Traços comuns: ocupação de pontos estratégicos, deslocamento de tropas, prisões em massa. Não houve planos de assassinato do governante deposto, embora Allende tenha morrido resistindo no Palácio de La Moneda.
No século XXI, os golpes de Estado tomaram outra forma. Há uma batelada de livros descrevendo-os. Agora, a democracia é devorada por dentro. O Poder Executivo aos poucos neutraliza Congresso e Judiciário e passa a mandar sozinho. É possível ver mais ou menos isso na Hungria ou na Venezuela.
O plano de golpe revelado na semana passada pela Polícia Federal representa um brutal retrocesso. Ele começaria com a morte do ministro Alexandre de Moraes, de Lula e Geraldo Alckmin. Teria características do século XIX, assim mesmo em países muito atrasados. Isso revela que o mundo avançou, e os golpistas, criando uma situação grotesca, recuaram no tempo, não chegam aos pés de seus antecessores do século passado.
Apesar da condenação inequívoca, seria interessante conhecer mais detalhes para contar a história. Há pontos ainda obscuros. O projeto era matar e envenenar. Matar a tiros — usando fuzis, pistolas e até um lança-granadas — é uma coisa. Envenenar é outra, em termos de planejamento. Você não lança uma granada envenenada; de um modo geral, usa outros métodos. A mais avançada prática no mundo talvez seja a da Rússia. Um simples chá pode destruir o oposicionista. Tanto o polônio-210 quanto o tálio são muito usados pela polícia política de Putin. Eis a pergunta sobre o envenenamento: qual era o plano, qual sua viabilidade no tempo escolhido, o mês antes da posse?
Não tivemos acesso ao esquema completo, escrito pelo general Mário Fernandes. Foram divulgadas apenas algumas de suas mensagens. Nelas, ele repete a palavra “porra” 53 vezes. Se continuasse produzindo textos, acabaria aumentando o índice de natalidade nacional.
Também não ficou claro como seria o assassinato de Moraes. Houve um olheiro colocado perto do restaurante Gibão, especializado em carne de sol. Ele reclama de falta de táxi; parece que esqueceram que não se pegam táxis na rua em Brasília. É preciso telefonar. O agente era Gana, os outros eram Áustria, Japão, Brasil, nomes de países. Creio que se inspiraram na série “Casa de Papel”, onde se usavam nomes de cidades: Paris, Tóquio.
As armas mencionadas ainda não apareceram. Eram fuzis pistolas, lança-granadas e uma bazuca. É um arsenal considerável. Como se encaixa no planejamento? Se usassem tudo, matariam ministro, motorista, segurança e eventualmente algum adepto de carne de sol próximo ao restaurante Gibão.
À medida que as investigações avançam, creio que algumas dúvidas serão esclarecidas para que se possa montar uma história mais detalhada. Há coisas que só alguém pensando no futuro roteiro pode perguntar. Por exemplo: você envenenaria o presidente e o vice ao mesmo tempo? Caso houvesse espaço entre um e outro, não seria possível que o sobrevivente desconfiasse e tomasse precauções?
Só o general no seu labirinto poderia responder a essas perguntas. Certamente diria:
— Não me venha com detalhes, porra.
Mas o trabalho da PF continua, desvendando toda a trama, encontrando o escalão superior do golpe e criando as condições para que se conte a história de forma precisa.
A serie televisiva espera Gana, Áustria, Japão, Brasil, com a mesma atenção que deu a Paris, Tóquio, Londres, na “Casa de Papel”.
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sexta-feira, 22 de novembro de 2024
'Kids pretos' para a história – Ruy Castro
Folha de S. Paulo
O plano pode ter sido levado a Bolsonaro para sua rubrica em cada página e assinatura na última
Alguém já perguntou certa vez: "Suponha que você dê uma revolução e ninguém apareça?". Em novembro de 1935, levantes precipitados no Nordeste fizeram Luiz Carlos Prestes, com menos de 100 seguidores, tentar um golpe armado no Rio contra o governo de Getulio Vargas. O golpe fracassou —as tropas que deveriam se insurgir nos quartéis não acharam boa ideia e as grandes massas, sem saber de nada, também não se mexeram. Getulio aproveitou para prender e torturar milhares em todo o país.
A casa em que Prestes e Olga Benario se escondiam em Ipanema foi estourada pela polícia. Eles tinham fugido minutos antes, deixando para trás um cofre contendo documentos descrevendo cada etapa da operação, estratégias, nomes dos camaradas, seus cargos e atribuições e até o manifesto a ser lido no dia da vitória. Na casa de outro envolvido, o infeliz Harry Berger, talvez o preso político mais torturado do Brasil, encontraram-se também cartas, mapas, planos de ação, mensagens em código e até a chave do código. Era como se, um dia, um historiador fosse usar aquilo para descrever a revolução brasileira.
Pode ter sido esta a intenção dos golpistas de Bolsonaro, os "kids pretos", ao produzir tantas provas contra eles mesmos —deixar o material prontinho para seus futuros biógrafos. Infelizmente, a Polícia Federal chegou antes e melou tudo. Em 2022, já tivemos aquela tosca minuta de golpe que circulou alegremente por Brasília e só faltou ser distribuída nas ruas como flyers. Desta vez, os conspiradores produziram o arquivo "Punhal Verde Amarelo", um plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.
Nele estão discriminados os fuzis, metralhadoras, pistolas, lança-rojões, lança-granadas, coletes à prova de balas, rádios, celulares, fotos, áudios e dados de geolocalização e o monitoramento dos alvos e de seus seguranças, para passar todo mundo na bala. Muito mais complexo e inspirado.
As cópias do arquivo foram impressas no Palácio do Planalto e levadas para uma reunião no Alvorada onde, olha só, encontrava-se Bolsonaro —talvez para sua rubrica em cada página e assinatura na última.
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STF divulga ÍNTEGRA do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril
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CNN Brasil
743.602 visualizações 22 de mai. de 2020
Assista na íntegra a reunião ministerial do dia 22 de abril entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os ministros do Governo Federal.
LEIA MATÉRIA COMPLETA SOBRE O CASO: https://cnnbr.tv/2TuIwOY
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Assista acima à íntegra do vídeo da reunião ministerial com Bolsonaro.
Em sua decisão, Celso de Mello afirmou que "ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição da República". O ministro argumenta que, por isso, a investigação de crimes eventualmente atribuídos ao presidente é legítima.
Bolsonaro, por sua vez, disse no Facebook que no vídeo não contém "nenhum indício de interferência na Polícia Federal".
Apenas rápidas menções a outros países foram suprimidas. Esses países seriam a China e o Paraguai, segundo apurado pelo analista Fernando Molica, da CNN.
https://www.youtube.com/watch?v=TjndWfgiRQQ
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Leia a transcrição do vídeo da reunião citada p
Leia a transcrição do vídeo da reunião que Moro diz provar a interferência de Bolsonaro na PF
Reunião aconteceu em 22 de abril, no Palácio do Planalto. Ministro Celso de Mello, do STF, retirou sigilo do material nesta sexta (22).
Por G1
22/05/2020 17h42 Atualizado há 4 anos
Celso de Mello derruba sigilo de vídeo de reunião ministerial
Leia no link abaixo a íntegra da transcrição da reunião ministerial de 22 de abril, cuja gravação foi apontada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova na investigação de suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
Nesta sexta (22), o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo da gravação.
LEIA A TRANSCRIÇÃO, NA ÍNTEGRA, DO VÍDEO DA REUNIÃO
Braga Netto: Posso chamar a atenção do Ramos?
Jair Bolsonaro: (Inteligível).
Braga Netto: Ô ministro Ramos, por favor, vamos prestar atenção.
Ramos: Sim senhor.
Braga Netto: (Risos). Muito obrigado.
Hamilton Mourão: (Ininteligível).
Braga Netto: O senhor gostou?
Hamilton Mourão: Bota ordem nesse troço aí, dá logo um esporro ...
Braga Netto: Senhores, bom dia. É .. . é ... essa reunião é por solicitação minha ao Presidente da República, porque ... é ... nós iríamos apresentar isso à imprensa que não foi apresentado e começaram uma série de especulações sobre esse plano de retomada. Então eu solicitei ao presidente uma reunião com os ministros, porque o plano não vai ter efeito se todos os senhores não nos ajudarem, cada um na sua área, é claro. Tá? Na hora que nós precisarmos das pessoas para a ... a coordenação do plano, os minis .... o ministério que não colocar uma pessoa realmente que sej a envolvida e tenha capacidade pra poder .. . é ... coordenar e executar ...
Braga Netto: ... o ... esse ministério vai ficar mais fraco, e aí o plano todo f. .. fica meio capenga. Tá? É uma apresentação de dez minutos no máximo, {usar} somente isso. Eu pediria também aos senhores que ... é ... é .. . não é ... a finalidade não é reunião de ministros para nós discutirmos nada. É simplesmente para apresentarmos o plano. Como é que saiu essa ideia? Tá ... eu estava conversando com diversos ministros, entre eles Rogério Marinho, o Tarcísio, inclusive o nome do plano eu roubei de um plano do Tarcísio, não é Tarcísio, né? Pedi autorização a ele e roubei. É um Plano Marshall brasileiro, né? E ... eu comecei a observar que tinha plano da .... ministério é ... de Des ... Desenvolvimento Regional, que a Economia tem plano, que a Saúde tem plano, e não estava havendo uma coordenação, um ... uma sinergia. Então esse foi o motivo dessa reunião aqui. Eu vou procurar ser bem ... bem breve e objetivo. Por favor, passa a primeira.
Braga Netto: Muito bom.
Hamilton Mourão: Passou tudo.
Braga Netto: Passou tudo acabou, acabou, então vamos acabar. Você tá no fim, tá errado cara! Pô. Passa a primeira. Muito bem! Os senhores podem observar o seguinte, é ... eu conversei com o presidente. O problema, nó .. . nós távamos invertendo a ... a questão duma lógica de raciocínio. Nós temos um problema, né? Nós temos desse problema, temos que ver quais são as consequências negativas desse problema? Todo mundo sabia, sanitárias e econômicas. Ninguém tem dúvida, com reflexo em todos os ministérios. Mas o foco não é em ... na solução do problema. O foco, hoje, de uma maneira geral, é quem é o culpado, né? E nós queremos real. .. recolocar, é ... é ... rem ... vamos dizer assim, readequar isso aí para como o governo deve reagir a este problema para achar uma solução para os dois, as duas consequências negativas que ocorrem.
Braga Netto: Próximo.
M?: Próximo.
Braga Netto: Então é um programa, o programa se chama Pró-Brasil, tá? Volto, dou o crédito ao ... a ... a ... o azar do Tarcísio foi ele ter conversado comigo (risos). Eu gostei e roubei.
Jair Bolsonaro: Capitão, pô!
Braga Netto: Não é? Pró-Brasil. É um programa para integrar, aprimorar ações estratégicas, os senhores vão ver que o foco, ele não é de Governo, ele é de Estado. Eu tô tentando fazer uma projeção de dez anos, tá? É ... eu tô tentando não, nós vamos ter que fazer isso aí. É ... pra retomada do crescimento socioeconômico em resposta aos impactos relacionados ao coronavírus, tá? Pode passar, por favor. As dimensões do programa são essas aí, ó, tá? Ele pega um modelo de governança, ele traz, ele busca melhoria da produtividade, investimentos estruturantes ...
Braga Netto: ... e ações estratégicas do setor público. Vai! O programa se divide em dois, em duas etapas, ou duas partes. O Pró-Brasil, é .... deixa eu até ver aqui que eu não to conseguindo enxergar ali ... ordem, e o Pró-Brasil Progresso, tá? O Pró-Brasil Ordem, que você não imprimiu pra mim e eu agradeço. A não, botou na página errada. Ele pega uma arcabouço normativo, ele trata - essas são as medidas estruturantes dele. Que vai ter que ter um arcabouço normativo, investimentos privados, segurança jurídica, produtivi ... é, jurídica e produtividade, melhoria no ambiente de negócios, e mitigação dos impactos socioeconômicos. Na parte de investimento ele foca em obras públicas, parcerias do setor privado. É ... ele ... ele ... esse programa também ele tem um foco ...
Braga Netto: ... na redução das desigualdades regionais, tá? Tem um foco na de ... na redução das desigualdades regionais ... ô Cid tá com um dedo pe .. . rápido aí! É ... e ... só wn segundo por favor. Os inves ... pode passar por favor Cid. Qual é a abrangência do programa? Os senhores podem observar, que ele tem uma parte de infraestrutura, ele tem ações viabilizadoras e tem ações de apoio na lateral. Como é que é o nome mesmo o ...
M?: Facilitadoras.
Braga Netto: Facilitadoras. Então observe. Na infraestrutura, com foco particularmente nessas obras que estão paralisadas. Esses investimentos que nós estamos perdendo que estão paralisados. Ele pega infraestrutura de transporte e logística, desenvolvimento regional e cidades, pega energia e mineração, telecomunicações. Num desenvolvimento produtivo, ele foca na indústria, agronegócios, serviços e turismo.
Braga Netto: É ... na parte, na f. .. na ... na .. . na ... nas laterais os senhores têm a parte de cidadania, capacitação, saúde, defesa, inteligência e segurança. Tem também cadeias digitais, indústria criativa e ciência. E nas viabilizadoras, que são transversais na... em toda parte do programa, nós temos finanças e tributação, legislação e controle, meio ambiente e a parte institucional e internacional. Os ... qual é a nossa, nosso, por favor, o nosso time ft-ame que nós estamos pensando aí. A estruturação do programa eu preciso que os senhores, nós vamos fazer uma reunião, como os senhores podem ver, do ... é a primeira reunião do grupo de trabalho, tá? Com todos os ministérios, envolvidos. É, na sexta-feira agora, tá? Os senhores vão receber o horário, e aí nós teremos, de maio a julho, a estruturação do programa.
Braga Netto: De agosto a setembro, o detalhamento do projeto. A partir de outubro, implantação em larga escala, tendo um foco prioritário naquelas ações que tenham uma resposta mais imediata. Porque o brasileiro é o seguinte, na hora que nós ! lançarmos o programa eles vão começar a cobrar resultado, né? Então eu tenho que ter alguma resposta pro público. E a efetividade dos processos e monitoramento, na realidade não tá no final, ele tá a ... durante todo o processo, tá? Passa mais um Cid, por favor. A não, não, volta, volta um, aí. É .. . o horizonte do programa, se os senhores observarem, nós estamos pensando num horizonte, né? Até dois mil, de dois mil e vinte ... na realidade até dois mil e trinta, tá? Mas uma primeira fase dele, ele é faseado, até o final desse primeiro governo, mas com um planejamento que prossiga nisso aí.
Braga Netto: Esse é o foco do que o trabalho que os grupos vão ter que apresentar. Tá ok? Pode passar a última por favor.
M?: Sem som.
Braga Netto: É sem som mesmo. Certo? Só um ... um leiaute pros senhores. Então, é ... na sexta-feira, eu solicitaria que os senhores quando enviassem as pess ... a ... os representantes, esses representantes já viessem com uma noção dos programas ou do que os senhores pretendem dentro dos ministérios de vocês. Uma primeira ideia. E nós vamos partir disso pra elaborar isso aí. O trabalho não será feito aqui, aqui é somente uma coordenação. Cada ministério vai fazer e nós vamos coordenar. Presidente, era só isso.
Jair Bolsonaro: Vamos dar a palavra ao Paulo Guedes, acho que é ... com todo respeito aos demais, acho que é o ministro mais importante nessa missão aí.
Paulo Guedes: Eu queria fazer a primeira observação, é o seguinte, não chamem de Plano Marshall porque revela um despreparo enorme.
Braga Netto: Não, não, não, isso aqui foi só aqui e agora. É o Pró-Brasil.
Paulo Guedes: Então quan ... quando se falou em Plano Marshall, Pró-Brasil é um nome espetacular. Dez, mil. Plano Marshall é um desastre. Eu... ma ... revela despreparo nosso. Plano Marshall, por exemplo, os Estados Unidos odem fazer um Plano Marshall para nos ajudar. A China [trecho com tarja] deveria financiar um Plano Marshall para ajudar todo mundo que foi atingido. Então a primeira inadequação, a gente tem que tomar muito cuidado é o seguinte, é o plano Pró-Brasil.
Braga Netto: Positivo. (Ininteligível)
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/22/leia-integra-da-transcricao-do-video-da-reuniao-ministerial-de-22-de-abril-entre-bolsonaro-e-ministros.ghtml
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Supremo Tribunal Federal
INQUÉRITO 4.831 DISTRITO FEDERAL
RELATOR AUTOR(A/S)(ES) PROC.(A/S)(ES) INVEST.(A/S) ADV.(A/S) INVEST.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) : MIN. CELSO DE MELLO
10. CONCLUSÃO Ao concluir a presente decisão, ressalto, em síntese, os fundamentos que lhe dão suporte e que me levam a determinar o levantamento da nota de sigilo incidente sobre a gravação da reunião ministerial de 22/04/2020, realizada no Palácio do Planalto:
(a ) reconhecimento da plena legitimidade da requisição judicial de atos e documentos da Presidência da República, por ser inoponível ao Poder Judiciário, especialmente ao seu órgão de cúpula, a cláusula do privilégio executivo (“executive privilege”), ainda mais quando se atribuir ao Chefe de Estado suposta prática criminosa, valendo referir, nesse sentido, importante precedente da Suprema Corte dos EUA, verdadeiro “landmark ruling”, firmado no julgamento do caso “Watergate” (United States v. Nixon, 1974); (b ) a entrega, pelo Senhor Presidente da República, da mídia digital que lhe foi requisitada pelo Supremo Tribunal Federal, contendo o registro audiovisual da reunião ministerial em questão, representou, na perspectiva do dogma da separação de poderes, ato de respeito presidencial ao dever geral de fiel cumprimento e de indeclinável obediência a ordens judiciais, pois a ninguém é dado – nem mesmo ao Chefe de Estado (CF, art. 85, inciso VII) – transgredir, por mero voluntarismo ou por puro arbítrio, decisões judiciais, eis que o inconformismo com elas tem no sistema recursal o meio legítimo de impugnação dos atos emanados do Poder Judiciário; (c ) respeito ao direito dos cidadãos que, fundado no princípio da transparência, traduz consequência natural do dogma constitucional da publicidade, que confere, em regra, a qualquer pessoa a prerrogativa de conhecimento e informações, aos atos e de acesso às aos procedimentos que envolvam matéria de interesse público; (d ) reconhecimento de que não deve haver, nos modelos políticos que consagram a democracia, “espaço possível reservado ao mistério” (Bobbio), pois o vigente estatuto Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código CFFE-C271-5A3F-D7F1 e senha 3BE2-1ECF-2EAE-8261 52 INQ 4831 / DF Supremo Tribunal Federal constitucional brasileiro – que rejeita o não tolera o poder que oculta e que poder que se oculta (RTJ 139/712-732, Red. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO) – erigiu a publicidade dos atos, das informações e das atividades governamentais à condição de valor fundamental a ser fielmente observado; (e ) inexistência, no caso, de qualquer restrição ao direito público subjetivo do cidadão quanto ao conhecimento geral dos procedimentos e informações estatais relevantes que veiculem matéria de interesse público, porque a gravação da reunião ministerial em causa (que não tratou de temas sensíveis nem de assuntos de segurança nacional) não sofreu a classificação administrativa de “ultrassecreta, secreta ou reservada” (Lei nº 12.527/2011, art. 24, “caput”), circunstância que torna essa reprodução audiovisual inteiramente aberta ao acesso público, conferindo-se, desse modo, real efetividade ao postulado da transparência administrativa (que constitui regra geral), assim viabilizando o pleno controle social da administração pública e do exercício do poder estatal; (f ) a recusa de liberação total, ressalvadas, tão somente, as menções a dois Estados estrangeiros, constituiria indevida sonegação de informações relevantes não só a quem sofre a presente investigação penal, mas, igualmente, aos magistrados do Supremo Tribunal Federal, que deverão julgar a causa, se oferecida denúncia (CF, art. 102, I, “b”), e aos Senhores Deputados Federais, que dispõem do poder de outorgar, ou não, a esta Corte autorização para a válida instauração de processo penal contra o Senhor Presidente da República (CF, art. 51, I, c/c o art. 86, “caput”); (g ) preservação do exercício do direito de defesa, que deve ser amplo (CF, art. 5º, LV), em ordem a tornar efetivas as prerrogativas que derivam do postulado constitucional do devido processo legal, entre as quais aquela que ampara o direito à prova (RT 542/374 – RT 676/300 – RT 723/620), a significar que não se pode comprometê-lo nem frustrá-lo, mediante indevida exclusão dos elementos probatórios e informativos considerados relevantes e essenciais à prática da liberdade de defesa Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código CFFE-C271-5A3F-D7F1 e senha 3BE2-1ECF-2EAE-8261 53 Supremo Tribunal Federal INQ 4831 / DF (RTJ 92/371 – RT 415/80 – RT 555/342-343 – RT 639/289), sob pena de inqualificável transgressão ao sistema e aos valores que regem, em nosso modelo jurídico, o processo penal democrático; e (h ) a “disclosure” do conteúdo do que se passou na reunião ministerial de 22/04/2020 – além de revelar absoluta falta de “gravitas” de alguns de seus participantes, consideradas as expressões indecorosas, grosseiras e constrangedoras por eles pronunciadas – ensejou a descoberta fortuita ou casual de aparente crime contra a honra dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, supostamente perpetrado pelo Ministro da Educação e que, por qualificar-se como prova inteiramente lícita (RTJ 193/609- -610 – RT 888/618 – RT 894/635, v.g.), constituirá objeto de comunicação aos destinatários de tal possível delito. Sendo assim, e tendo presentes as razões expostas, determino o levantamento da nota de sigilo imposta em despacho por mim proferido no dia 08/05/2020 (Petição nº 29.860/2020), liberando integralmente, em consequência, tanto o conteúdo do vídeo da reunião ministerial de 22/04/2020, no Palácio do Planalto, quanto o teor da degravação referente a mencionado encontro de Ministros de Estado e de outras autoridades. Assinalo que o sigilo que anteriormente decretei somente subsistirá quanto às poucas passagens do vídeo e da respectiva degravação nas quais há referência a determinados Estados estrangeiros. Transmita-se, pelo meio mais rápido possível, cópia da presente decisão aos eminentes Senhores Procurador-Geral da República e Advogado-Geral da União, bem assim à Excelentíssima Senhora Chefe do Serviço de Inquéritos da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal (SINQ/DICOR), Dra. CHRISTIANE CORREA MACHADO, dando-se ciência imediata, ainda, aos ilustres Senhores Advogados do Senhor Sérgio Fernando Moro. 54 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código CFFE-C271-5A3F-D7F1 e senha 3BE2-1ECF-2EAE-8261Supremo Tribunal Federal INQ 4831 / DF Determino, finalmente, às ilustres autoridades policiais federais a entrega imediata aos Senhores Advogados de Sérgio Fernando Moro, bem assim aos eminentes Senhores Procurador-Geral da República e Advogado-Geral da União, de cópias da gravação da reunião ministerial de 22/04/2020 e, também, de sua respectiva degravação, ambas objeto do Laudo nº 1.242/2020-INC/DITEC/PF, observadas, porém, as exclusões por mim indicadas – já efetuadas e constantes do Laudo em questão – no despacho que exarei, em 20/05/2020, dirigido à Polícia Federal, mediante o Ofício nº 02/2020-GMCM. Publique-se. Brasília, 22 de maio de 2020. Ministro CELSO DE MELLO Relator
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EMENTA: 1 . O . O caso ora em julgamento: a questão da divulgação, total ou parcial, da gravação da reunião ministerial realizada no dia 22/04/2020, no Palácio do Planalto. 2 exercício imparcial e independente, pelo Supremo Tribunal Federal, da jurisdição penal. 3. Necessidade de respeito às prerrogativas fundadas no postulado do “due process of law”, com especial destaque para o insuprimível direito à prova, sob pena de ofensa direta à cláusula constitucional que assegura o exercício do amplo direito de defesa do investigado ou do réu (CF, art. 5º, inciso LV). 4. O direito à prova como projeção concretizadora do devido Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código CFFE-C271-5A3F-D7F1 e senha 3BE2-1ECF-2EAE-8261INQ 4831 / DF Supremo Tribunal Federal processo legal. 5. Legitimidade da requisição judicial de atos e documentos da Presidência da República, especialmente quando inocorrente hipótese de restrição de acesso à informação governamental (Lei nº 12.527/2011, arts. 23 e 24): inoponibilidade ao Poder Judiciário, notadamente em sede penal, pelo Presidente da República, da cláusula do privilégio executivo (“executive privilege”). Um valioso precedente da Suprema Corte americana (United States v. Nixon, 1974). 6. O postulado constitucional consequência da publicidade como natural do democrático. 7. Publicidade e intimidade e regime direito à privacidade dos participantes de reunião governamental: possibilidade de “full disclosure” quando se tratar, como na espécie, de necessidade de acesso a todos os elementos informativos considerados essenciais ao pleno exercício, em sede penal, do direito constitucional de defesa. Inexistência, no caso, de tema concernente à segurança nacional. Incidência do dogma da transparência como prerrogativa essencial da cidadania. 8. Descoberta fortuita de prova da aparente prática, pelo Ministro da Educação, de possível crime contra a honra dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. 9 . Autorização prévia da Câmara dos Deputados como requisito constitucional de procedibilidade nos processos penais instaurados contra o Presidente da República: hipótese de Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código CFFE-C271-5A3F-D7F1 e senha 3BE2-1ECF-2EAE-8261 2 Supremo Tribunal Federal INQ 4831 / DF DECISÃO: 1 art. legítimo exercício, pelo Parlamento, de controle político sobre a acusação penal (CF, art. 51, I, c/c o 86, “caput”). 10. Conclusão: levantamento da nota de sigilo, pontual e temporária, que incide sobre o vídeo da reunião ministerial realizada em 22/04/2020, no Palácio do Planalto, e, também, sobre a transcrição integral de mencionada reunião, excluídas, unicamente, as referências feitas a determinados Estados estrangeiros. . O caso ora em julgamento: a questão da divulgação, total ou parcial, da gravação da reunião ministerial realizada no dia 22/04/2020, no Palácio do Planalto
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/decisao4831.pdf
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Ministro Celso de Mello autoriza perícia em vídeo de reunião ministerial e determina degravação do conteúdo
Perícia requerida pela Polícia Federal será realizada após exibição do conteúdo para as partes do inquérito no STF, agendada para terça-feira, 8h.
11/05/2020 21h50 - Atualizado há
10253 pessoas já viram isso
O ministro Celso de Mello, relator do Inquérito (INQ) 4831 que investiga declarações feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro acerca de suposta tentativa do presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal, autorizou a PF a fazer perícia na mídia digital (HD externo) que contém o registro audiovisual da reunião ministerial realizada no último dia 22. O trabalho deverá ser iniciado logo após a exibição simultânea do vídeo da reunião para os envolvidos no processo, que ocorrerá nesta-terça-feira (12), às 8h, no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília (DF).
A Polícia Federal solicitou ao ministro autorização para fazer a perícia por entender ser medida relevante para verificar a autenticidade e a integridade dos arquivos apresentados, bem como explorar de forma técnica e científica o conteúdo dos registros audiovisuais que interessem às investigações, imediatamente após os atores processuais tiverem conhecimento integral do material. A perícia analisará se houve eventual edição, alteração, seleção de fragmentos ou, até mesmo, supressão de dados relevantes à presente investigação.
Integridade da prova
No pedido encaminhado ao relator do inquérito, a PF afirma que o trabalho pericial tem como objetivo não apenas garantir a cadeia de custódia da prova apresentada, mas também subsidiar as investigações com os elementos probatórios adequados, úteis e necessários para a instrução do inquérito e o esclarecimento dos fatos apurados. Nesse sentido, a PF entende que a realização da perícia atenderá aos princípios da eficiência e efetividade, ao permitir que somente seja utilizada no inquérito uma prova penal autêntica e íntegra, que atenda aos critérios de validade. Ao acolher o pedido da PF, o ministro Celso de Mello facultou ao procurador-geral da República, ao advogado-geral da União, à delegada que chefia a investigação e ao ex-ministro Sérgio Moro a possibilidade de indicarem assistente técnico e de oferecerem quesitos para a perícia.
Degravação
Por determinação do ministro Celso de Mello, um perito criminal federal fará a degravação integral do HD externo e entregará em mãos, respeitando o sigilo, a seu chefe de gabinete no STF. O decano adotou a providência por não estar em Brasília durante a pandemia em razão de fazer parte do grupo de risco, circunstância que o levou a trabalhar a distância. Segundo o ministro, com isso ele terá conhecimento integral do que contém o HD externo e poderá então, “com plena ciência dos elementos existentes em tais arquivos, decidir sobre a divulgação, total ou parcial, do que se passou na reunião ministerial de 22/04/2020, realizada no Palácio do Planalto”.
- Íntegra do pedido da Polícia Federal
- Íntegra da decisão do ministro Celso de Mello
VP/EH
Leia mais:
11/5/2020 - HD com registro da reunião ministerial de 22 de abril foi entregue à PF nesta segunda-feira (11)
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=443109&ori=1
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DIÁLOGO NO WHATSAPP ENTRE MACHADO DE ASSIS E JOAQUIM NABUCO, EM 2024
Machado de Assis
Boa tarde, Nabuco! O mundo, vasto mundo, agora cabe num aplicativo de mensagens. Quem diria que nossa República e suas coalizões seriam tão rocambolescas quanto os folhetins de outrora?
Joaquim Nabuco
Machado, meu caro! Como vai o Cosme Velho? Eu, cá em Pernambuco, observo a política como quem olha um engenho: rangendo, girando, moendo. Mas diga-me, o que o aflige hoje?
Machado de Assis
A lei, Nabuco. A lei e seus senhores. É legal ou ilegal, pergunto? Ou melhor, está na lei? Porque justiça, ah, justiça, parece poesia: nem sempre cabe na métrica do legislador.
Joaquim Nabuco
Ah, Machado, não seja tão severo. Não foi você que disse que a alma brasileira é mais torta que reta? Governamos por coalizão, amigo. Como um maxixe: improviso, balanço, desequilíbrio, mas no fim todos tentam acompanhar o ritmo.
Machado de Assis
(rindo) Tocaste na música! Que tal um maxixe nosso, meu amigo? Um de protesto. Algo que embale o povo e os senhores no mesmo compasso, ainda que em sonho.
Joaquim Nabuco
E eu, que nunca fujo à provocação, faço-lhe uma resposta em funk. Afinal, modernizar-se é preciso!
O MAXIXE DE MACHADO
“O Baile da Lei”
No salão do Congresso, dança a lei,
Rodopiando sem parar, quem a fez nem sei.
Vem o veto, vem o sim, não há cadência,
Enquanto o povo espera a tal clemência.
Justiça é dama de vestido roto,
Pisam-lhe o pé, mas ela mantém o voto.
Executivo e Congresso num abraço torto,
Quem paga a banda é o bolso do povo morto.
Ai, ai, quem dança? Ai, ai, quem paga?
No Brasil da coalizão, a lei é uma chaga.
Mas se o maxixe embala, ninguém reclama,
Só espera que a vida um dia exclame: "Muda a trama!"
O FUNK DE NABUCO
“Lei na Quebrada”
Ei, Machado, escuta essa batida,
Na favela ou no palácio, lei é vida.
Mas quem escreve, mano, nem sempre sente,
O peso da justiça na mão de quem é gente.
O governo joga, mas o jogo é sujo,
A coalizão é troca, sempre um ajuste bruto.
“Cadê a reforma?” a quebrada pergunta,
Mas lá no Congresso, só grana que junta.
Vai, vai, desonera até cansar,
O pobre paga a conta, até se afogar.
Quem mama no Estado não vai dividir,
E a favela dança funk pra resistir.
Justiça, oh dama, te chamam de cega,
Mas quem decide teu rumo, nem sente essa regra.
No ritmo do funk, eu deixo um recado:
O Brasil que dança é o Brasil maltratado.
DESFECHO ONÍRICO
Machado de Assis
Nabuco, estás mais moderno que eu! Imagino, em sonho, um baile no Cosme Velho: o maxixe e o funk se entrelaçando, os senhores e os trabalhadores rodopiando juntos. Mas logo vem o despertar, e as contradições da vida voltam a ser o tom da música.
Joaquim Nabuco
Não te aflijas, Machado. A política é como literatura: cheia de heróis, vilões, intrigas. Nosso papel, amigo, é narrar com beleza o que outros tratam com brutalidade.
Machado de Assis
Então, sigamos! Na pena e na dança, façamos nosso protesto. Se o Brasil é delírio, sejamos seus sonhadores.
E assim, entre mensagens e metáforas, Machado e Nabuco transformaram o WhatsApp de 2024 num salão literário e político, onde o ritmo da língua e da ideia não conhece limites.
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Machado de Assis e Joaquim Nabuco - Correspondência (254 pp.)
Graça Aranha e José Murilo de Carvalho
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Essa publicação faz parte da coleção Coedições ABL
A correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, apresentada e anotada por Graça Aranha, ultrapassa em muito o âmbito de conversa protocolar ou particular de amigos, e levanta questões importantes acerca do papel do intelectual e do escritor no período compreendido entre o final do Império e os primórdios da República Velha. [...] Muitos consideram a introdução à correspondência Machado/Nabuco a obra maior de Graça Aranha, e não faltam motivos para isso. Às vezes, sobretudo em decorrência da discreta índole machadiana, as cartas se apresentam como um esboço ou esqueleto a que nosso comentarista acrescenta nervos e consistência, esclarecendo pormenores ocultos na História e desenhando com maestria o perfil psicológico dos dois missivistas a partir de frases certeiramente pinçadas do diálogo epistolar. [...] Destacando-se entre todos os temas, percebe-se como a consolidação da Academia Brasileira de Letras foi, de fato, uma das maiores motivações da vida de Machado. Ainda aqui, revelam-se os dois temperamentos - fraternos mas contrastantes: Nabuco na linha de frente, agitador, propondo e hierarquizando candidaturas, comentando-as abertamente, manifestando-se favorável à inclusão de alguns "notáveis" para comporem o quadro acadêmico; Machado, sereno observador, evitando opinar sobre nomes, e defendendo, acima de tudo, a necessidade de fortalecer a instituição. (Antonio Carlos Secchin na Apresentação do livro)
Ficha da Obra
Autores:
Graça Aranha
José Murilo de Carvalho
Páginas:
254
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Para ilustrar as composições criadas por Machado de Assis e Joaquim Nabuco, sugiro um maxixe clássico que evoca o espírito satírico e social do texto de Machado, e um funk notório que representa a modernidade e a força cultural evocada por Nabuco.
Maxixe: "Corta-Jaca" (Chiquinha Gonzaga)
Por que escolher?
"Corta-Jaca" é uma das mais famosas composições de Chiquinha Gonzaga, uma pioneira do maxixe no Brasil. A peça combina a leveza do ritmo com um subtexto de ironia e crítica aos costumes da época, muito apropriado ao espírito machadiano. O diálogo social que o maxixe propõe faz jus ao caráter observador e mordaz de Machado.
Funk: "Rap da Felicidade" (Cidinho e Doca)
Por que escolher?
Essa obra icônica do funk carioca traz um apelo direto à justiça social e aos direitos das comunidades menos favorecidas. É uma crítica à desigualdade e às contradições da sociedade brasileira, temas que dialogam com a mensagem do funk imaginado por Nabuco. Além disso, a música transcende seu gênero, sendo reconhecida como um hino cultural e político.
Essas escolhas não apenas ilustram os estilos, mas também reforçam as mensagens atemporais de crítica e esperança presentes nas composições fictícias de Machado e Nabuco.
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Aqui está a imagem ilustrando Machado de Assis e Joaquim Nabuco em uma "live" moderna, conectando seus mundos do século XIX à tecnologia contemporânea, como em um sonho que mistura eras.
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Título da Crônica:
"Entre Vistas e Tempos: Machado e Nabuco em Conexão Virtual"
Epígrafe:
"A vida é uma comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem."
— Voltaire
Epitáfio:
"Aqui jazem dois sonhadores que uniram os tempos, as letras e as ideias, mostrando que nem o passado se perde, nem o futuro se inventa sem memória."
Citações dos Filósofos Prediletos
Machado de Assis:
Blaise Pascal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece."
— Reflete o ceticismo melancólico e psicológico presente na obra machadiana.
Arthur Schopenhauer: "A vida oscila como um pêndulo entre o tédio e o sofrimento."
— Ecoa o pessimismo elegante de Machado sobre a condição humana.
Joaquim Nabuco:
John Stuart Mill: "A liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro."
— Inspira as reflexões políticas e abolicionistas de Nabuco.
Jean-Jacques Rousseau: "O homem nasce livre, mas está em toda parte acorrentado."
— Um princípio caro ao humanismo e à luta social de Nabuco.
Introdução:
No limiar entre o passado e o presente, Machado de Assis e Joaquim Nabuco ressurgem em uma crônica imaginativa, onde o anacronismo é a chave para unir os grandes debates de ontem com as perplexidades de hoje. Por meio de uma "live" no século XXI, esses intelectuais do Brasil oitocentista conversam sobre política, justiça e cultura, reafirmando que os dilemas humanos persistem, ainda que os cenários mudem.
Este encontro onírico simboliza mais que um diálogo: é a metáfora de um país que dança entre tradição e modernidade, tentando encontrar equilíbrio no compasso da história.
Resumo:
A crônica transporta Machado de Assis e Joaquim Nabuco para um cenário contemporâneo, onde os dois dialogam por meio de um aplicativo de mensagens. Entre provocações literárias, críticas políticas e reflexões filosóficas, discutem o papel da justiça, a dinâmica do poder e as dificuldades do Brasil em avançar sem esquecer suas raízes. A conversa desdobra-se em composições fictícias — um maxixe e um funk —, revelando como os ritmos populares podem ser veículos de crítica e resistência. O tom oscilante entre o humor e o lirismo reafirma o legado desses intelectuais, tanto na literatura quanto no pensamento político.
Considerações Finais:
Machado e Nabuco, em sua live imaginária, expõem a atualidade de suas ideias, desvelando como as questões centrais de sua época ainda assombram o presente. A justiça, vista por Machado como uma figura etérea e vulnerável, e a política, descrita por Nabuco como um engenho de compromissos, mostram que a dança entre ética e pragmatismo é eterna.
No fundo, a crônica celebra a capacidade do Brasil de resistir, reinventar-se e, mesmo no caos, encontrar beleza e significado. O maxixe e o funk são mais que gêneros musicais: são retratos de um povo que transforma dores em arte e desordem em movimento.
Conclusão:
O diálogo imaginário entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco é, sobretudo, uma homenagem ao poder transformador das ideias e da cultura. Suas vozes ecoam como guias para o Brasil contemporâneo, lembrando-nos de que progresso sem memória é vazio e que justiça sem humanidade é fria.
Se a modernidade nos trouxe a tecnologia, ela também nos deu a chance de revisitar o passado e construir pontes entre as gerações. Que esta crônica seja, então, um convite ao diálogo — entre tempos, estilos e mentes brilhantes — para que, como na live fictícia de 2024, encontremos no passado as respostas para o presente e o futuro.
domingo, 24 de novembro de 2024
NOITES AMERICANAS
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Vinícius de Moraes - Onde Anda Você (Legendado)
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Onde a Dor Não Tem Razão
Paulinho da Viola
Letra
Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranquilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda
Quem esperou, como eu, por um novo carinho
E viveu tão sozinho
Tem que agradecer
Quando consegue do peito tirar um espinho
É que a velha esperança
Já não pode morrer
Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranquilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda
Quem esperou, como eu, por um novo carinho
E viveu tão sozinho
Tem que agradecer
Quando consegue do peito tirar um espinho
É que a velha esperança
Já não pode morrer
Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranquilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda
Lailá, lalaiá, lalaiá, lalaiá, lá
Lalaiá, lalaiá, lalaiá, lá
Lalaiá, lá, lá
Composição: Elton Medeiros / Paulinho da Viola.
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A Noite Americana - 1973 - Trailer - Legendado
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A Noite Americana
1973 ‧ Romance/Drama ‧ 1h 56m
Diretor: François Truffaut
Um diretor tenta terminar seu filme ao mesmo tempo em que observa o drama nas vidas de seus atores. Severine, ícone em decadência, esquece as falas quando bebe, enquanto a atriz britânica Julie acaba de se recuperar de um colapso nervoso.
Tanah
26 de fev. de 2021
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Trecho do filme "A Noite Americana", de François Truffaut.
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Faróis e Faroletes
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"Faroletes do Tempo: Entre Memória e Navegação".
Tentando captar:
Os "faroletes apagados" de Machado, evocando a reflexão sobre passado, presente e futuro;
A metáfora náutica de "Timoneiro", com a imagem de navegação e entrega às forças superiores;
A análise crítica de Luiz Sérgio Henriques, que também navega pelas águas turvas do presente político, tentando iluminar caminhos com a razão e a reflexão.
Assim, o título une as dimensões da memória, do movimento e da busca por entendimento em meio às incertezas da vida e da história.
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Cena de Mad Max, Estrada da Fúria ilustrando a Noite Americana.
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"Quando falamos de Noite Americana, provavelmente, a primeira ideia na cabeça de muita gente é o filme inesquecível de François Truffaut, realizado em 1973. Contudo, o assunto que queremos retratar aqui é uma técnica de iluminação bastante peculiar e útil para a produção de cenas que se passam à noite em um roteiro."
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O que é a noite americana?
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domingo, 24 de novembro de 2024
A noite americana - Luiz Sérgio Henriques
O Estado de S. Paulo
A interdependência entre povos e nações sempre retorna, assombrando os isolacionistas e tornando provisório o triunfo dos autoritários
Digerir os resultados da eleição norte-americana, que confirmaram Donald Trump como caso incomum de presidente com mandatos intercalados e lhe deram o controle das Casas Legislativas, leva a pensar não só na sorte da democracia naquele país, como também na estrutura do mundo que tende a se desenhar nos próximos anos. Ficaram para trás ideias parciais sobre o trumpismo, como a de que só expressava o ressentimento da minoria branca e conservadora. Por esse argumento, a demografia variada e complexa por si só garantiria o sucesso dos democratas, se não necessariamente no anacrônico Colégio Eleitoral, pelo menos no voto popular.
A demografia não é um destino e não pode haver a certeza prévia da afirmação de nenhuma maioria. Um bilionário com variados problemas judiciais e dois impeachments, um dos quais por investir contra a transição pacífica de poder, conseguiu capturar o sentimento majoritário. Seria ele, e não uma mulher de classe média, a se mostrar em sintonia com o difuso sentimento de mal-estar contra as “elites”. Ironicamente, alguns disseram que, para tal manobra, Trump estaria muito bem equipado: ele, e não outro, encarna fielmente a figura do homem rico segundo a percepção de pobres e remediados, supostamente acima das tentações corruptoras do sistema. Por aí, também, se abriu uma surpreendente possibilidade de empatia com queixas e dificuldades dos “de baixo”.
A capacidade expansiva do Partido Republicano não decorreu evidentemente só dessa circunstância. Antes de tudo, o Grand Old Party completou neste ciclo eleitoral sua transformação em movimento de massas a serviço de um carisma e do seu culto. Um condottiero, aliás, nunca tem medo de hipérboles e virulências retóricas. Para Trump, ele já está à frente de algo que é o maior movimento político de todos os tempos, capaz de associar magnatas do Vale do Silício e uma multidão imensa de humilhados e ofendidos, invadindo territórios eleitorais que se supunham propriedades do partido rival. Inorgânicas e contraditórias, as massas de Trump podem agora se tornar instrumentos de vingança contra “vermes” e “inimigos internos” que povoariam burocracia pública, universidades, imprensa tradicional e demais engrenagens da sociedade civil.
Movimentos desse tipo se espalham por vários países do Ocidente, independentemente da antiguidade ou vitalidade das tradições democráticas. Não se pode comparar sob quase nenhum aspecto os Estados Unidos e a Hungria, para dar um exemplo gritante. São histórias diferentes, realidades inteiramente desiguais. No entanto, o programa antiliberal de Viktor Orbán, possivelmente radicalizado, é um dos faróis que parecem guiar o segundo mandato de Trump. Estruturas sociais diversas dão origem a soluções assemelhadas, como a indicar que a desorganização do trabalho industrial e das formas de representação tradicionais é mesmo um caminho sem volta. E que o impulso da mundialização econômica, com suas cadeias globais de valor, fragmentação do trabalho e formas débeis de representação, sofre agora uma potente revanche marcada pelo nativismo econômico e o autoritarismo político.
As diferentes sociedades conhecem, assim, um realinhamento poucas vezes visto sob o signo de um apregoado senso comum, invocado para responder a problemas complexos com fórmulas simplórias. Imigrantes são acusados, simultaneamente, de roubar o emprego dos trabalhadores locais e explorar como vadios os benefícios disponíveis nos países que os recebem. A solução seria deportá-los massivamente, como anuncia Trump, pondo em ação mecanismos de Estado policial para rastreá-los, confiná-los e despejá-los sabe-se lá onde. Os eleitores se dizem assustados, com razão, pelo nível alto dos preços ou pela inflação, mas aplaudem o líder para quem a palavra “tarifa” é uma das mais belas do dicionário. Pagarão do próprio bolso a compreensão acanhada da economia. A base popular produzida por aquele realinhamento dificilmente terá forças para demover o “novo” Partido Republicano da sua agenda de cortes de impostos para os ricos e ameaças a programas clássicos de segurança social. E são apenas alguns pontos em que senso comum e bom senso se opõem de modo agudo e incontornável.
Em cada situação, aporias e dificuldades decorrentes da tentativa de colocar o próprio país “em primeiro lugar”, relegando a cooperação internacional a segundo plano e adotando um viés puramente mercantilista, típico dos homens de negócio, não permitem antever nada de promissor numa época de desafios verdadeiramente globais, como guerras e crise climática. A interdependência entre povos e nações, expulsa estrepitosamente pela porta, sempre retorna pela janela, assombrando os isolacionistas e tornando provisório o triunfo dos autoritários. Mas desagregar o bloco em que estes se apoiam é uma tarefa que os democratas, mundo afora, não têm sabido cumprir com coerência e firmeza. Deste fracasso vem a sensação recorrente de que por mais algum tempo, ainda indefinido, o otimismo da vontade restará submetido ao pessimismo da razão.
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O artigo de Luiz Sérgio Henriques, publicado em O Estado de S. Paulo, reflete sobre as implicações da reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, destacando as dinâmicas políticas e sociais que moldaram esse resultado e suas repercussões globais. Henriques analisa como o "trumpismo", longe de ser apenas uma expressão de ressentimento de uma minoria conservadora branca, revela uma habilidade singular de Trump em captar o descontentamento popular e traduzir isso em apoio político. Mesmo com dois impeachments e sérios problemas judiciais, Trump conseguiu galvanizar uma coalizão que inclui tanto elites econômicas quanto setores populares marginalizados.
O autor aponta que o Partido Republicano, sob a liderança de Trump, consolidou-se como um movimento de massas centrado em um carisma pessoal. Essa dinâmica tem paralelo em outros movimentos autoritários pelo mundo, como o antiliberalismo de Viktor Orbán na Hungria. Embora os contextos históricos e sociais variem, Henriques argumenta que há um realinhamento global impulsionado por crises econômicas, precarização do trabalho e desilusão com as representações políticas tradicionais.
Henriques também destaca os perigos de respostas simplistas a problemas complexos, como a retórica de Trump contra imigrantes ou suas políticas protecionistas que, paradoxalmente, prejudicam seus próprios eleitores. Ele critica a incapacidade de partidos democráticos de enfrentar com eficácia esses movimentos autoritários, enfatizando que o isolamento e o unilateralismo, mesmo que temporariamente triunfantes, são incapazes de oferecer respostas duradouras para desafios globais como mudanças climáticas e conflitos internacionais.
O texto conclui com um tom de advertência: enquanto democratas e progressistas não conseguirem articular uma resposta coesa e estratégica, o "otimismo da vontade" continuará subordinado ao "pessimismo da razão". Henriques sugere que o triunfo de Trump e de movimentos similares é transitório, mas potencialmente duradouro se as democracias falharem em se reinventar.
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Os faróis, com seus feixes de luz cortando a escuridão, têm servido como sentinelas da segurança marítima por séculos.
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Memorial de Aires e de Henriques
Machado de Assis, com a perspicácia de um cronista do espírito humano, projetou o futuro iluminando-o com faroletes apagados que insistem em revelar os contornos difusos do passado. Em sua obra, o tempo não é uma linha reta, mas um espelho côncavo que reflete simultaneamente o ontem, o hoje e o amanhã. Luiz Sérgio Henriques, por sua vez, recusa-se a vestir a resignada melancolia da Carolina de Chico Buarque, eternamente à janela, prisioneira de um passado que não retorna, assim como não se alinha ao sebastianismo lusitano, aquela espera inglória por um Dom Sebastião que nunca há de voltar.
Henriques, ao contrário, finca os pés no presente, ciente de que o porvir não se constrói na letargia das recordações, mas na lucidez combativa de quem compreende que os desafios do tempo exigem tanto a análise crítica quanto a ação coerente. Onde Machado reconhecia o peso inevitável da condição humana, Henriques aponta para o imperativo de reinventá-la, recusando a passividade que, como no sebastianismo, delega ao destino ou a um salvador providencial a resolução de dilemas que cabem às mãos humanas.
Machado e Henriques compartilham, contudo, a percepção de que o passado, ainda que remoto ou obscurecido, jamais cessa de dialogar com o presente e o futuro. Assim, ambos oferecem faróis — sejam eles apagados ou brilhantes — capazes de guiar aqueles que se atrevem a olhar para além do horizonte das sombras.
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Timoneiro
Paulinho da Viola
Letra
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega"
Como nem fosse levar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
Composição: Hermínio Bello de Carvalho / Paulinho da Viola.
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Timoneiro é uma composição de beleza lírica e simbólica, assinada por Paulinho da Viola em parceria com Hermínio Bello de Carvalho. A música, através de uma metáfora poderosa, reflete sobre a condição humana, a força do destino e a entrega às forças maiores que nos conduzem, como o mar conduz um barco.
Os versos repetitivos e cadenciados sugerem a inevitabilidade do fluxo da vida, onde o eu-lírico não assume o papel de comandante, mas de alguém que se deixa levar pelas correntes e marés. O mar, aqui, não é apenas um espaço físico, mas a representação do mistério da existência, do acaso e da vontade divina. Ao afirmar que "não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar", o eu-lírico reconhece sua fragilidade diante das forças inexoráveis que regem a vida.
O tom poético alcança um momento de sabedoria ancestral quando o eu-lírico recorda os conselhos de seu pai: "Olha, o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar." Essa imagem, ao mesmo tempo simples e profunda, nos lembra da ineficácia de tentar controlar o incontrolável, reforçando a ideia de entrega à ordem natural e divina.
Outro aspecto significativo é a dicotomia entre o esforço humano e a intervenção divina. Enquanto o eu-lírico reconhece que "quanto mais remo mais rezo pra nunca mais se acabar", ele também deposita sua confiança no leme da vida, que "Deus é quem faz governar". Essa convivência entre a ação e a fé traduz a essência do samba como gênero: uma música que acolhe tanto a melancolia quanto a esperança.
O fechamento, com a imagem da rede do pescador que por vezes retorna "vazia" e "carregada de dor", sugere as incertezas e perdas da vida, enquanto o redemoinho e as ondas que "me levam e me trazem" apontam para o ciclo contínuo de renovação. A música nos envolve em uma reflexão sobre o que significa navegar pela vida, sempre em movimento, mas cientes de que, ao final, é o mar — ou o destino — quem nos governa.
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Ao cotejar a lírica de "Timoneiro", de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, com o ensaio "A noite americana", de Luiz Sérgio Henriques, identificam-se convergências temáticas e contrastes de estilo e abordagem, que revelam as diferentes maneiras de lidar com a complexidade da condição humana e da organização social.
Convergências Temáticas
A relação com forças maiores que controlam o destino:
Em "Timoneiro", o eu-lírico reconhece que não é o condutor de sua jornada, mas que sua vida é governada pelo "mar" — metáfora para forças superiores, como o destino ou a vontade divina. A entrega é feita com aceitação, quase como uma sabedoria resignada, que não abdica do esforço humano ("quanto mais remo mais rezo").
Em "A noite americana", Henriques aborda as forças que moldam o panorama político e social, destacando o peso das conjunturas históricas e das estruturas sociais que parecem além do controle humano direto. A ascensão de Trump e outros movimentos autoritários é analisada como um resultado de dinâmicas complexas que transcendem a simples vontade individual ou coletiva.
A fragilidade do controle humano:
O verso "o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar" em "Timoneiro" sintetiza a impossibilidade de controlar plenamente a vida. Essa fragilidade é paralela à análise de Henriques sobre a democracia contemporânea, que, diante de desafios globais como o populismo e a crise climática, se vê frequentemente incapaz de oferecer respostas eficazes ou controlar o fluxo da história.
A circularidade e os ciclos:
Em "Timoneiro", o movimento das ondas que "me levam e me trazem" remete à ideia de ciclos inevitáveis na vida. Na análise de Henriques, essa circularidade aparece na interdependência global e na recorrência histórica: mesmo quando isolacionismos e autoritarismos triunfam momentaneamente, a interconexão entre povos retorna "pela janela".
Contrastes de Forma
Estilo e Linguagem:
"Timoneiro" é marcado pela simplicidade poética, utilizando metáforas marítimas de grande poder imagético para expressar conceitos profundos. A repetição de versos cria um ritmo hipnótico, sugerindo as marés e o fluxo do mar, além de reforçar a ideia de inevitabilidade.
"A noite americana", por outro lado, é denso e analítico, utilizando uma prosa erudita e articulada para dissecar fenômenos históricos e políticos. A linguagem é complexa, repleta de referências e análises que exigem um leitor atento e bem informado.
Perspectiva Pessoal vs. Coletiva:
"Timoneiro" opera no registro individual, refletindo sobre a existência do eu-lírico em sua relação com o destino e a espiritualidade. É introspectivo e filosófico, embora sua simplicidade permita identificação universal.
"A noite americana" tem uma perspectiva coletiva, analisando tendências e movimentos globais que afetam sociedades inteiras. A narrativa é macro-histórica, preocupada menos com o indivíduo e mais com as forças sociais e políticas em jogo.
Tonalidade:
A canção de Paulinho da Viola equilibra melancolia e aceitação, com uma serenidade que se apoia na fé e na sabedoria popular. A entrega ao "mar" não é derrotista, mas contemplativa.
O ensaio de Henriques é mais combativo e crítico. Ele reconhece os desafios com lucidez e algum pessimismo, mas aponta para a necessidade de ação, sugerindo que o "triunfo dos autoritários" é transitório e que há espaço para reação.
Conclusão
Ambos os textos, apesar das diferenças de forma, compartilham uma profunda meditação sobre o papel do indivíduo frente às forças que moldam sua trajetória. "Timoneiro" canta a impotência e a aceitação com lirismo e espiritualidade, enquanto "A noite americana" analisa a impotência coletiva diante de movimentos históricos, mas sem abdicar da possibilidade de resistência e mudança. Juntos, oferecem um diálogo entre a poética da existência individual e a análise rigorosa das dinâmicas sociais, ambos iluminando aspectos complementares da condição humana.
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