Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 8 de fevereiro de 2025
"O presidente"
----------
A revista Time publicou recentemente uma capa que mostra uma montagem de Elon Musk sentado à mesa presidencial no Salão Oval da Casa Branca. A imagem ilustra uma reportagem que destaca a influência de Musk na administração pública dos Estados Unidos, especialmente após sua nomeação pelo presidente Donald Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, uma pasta criada para reduzir a burocracia estatal e cortar gastos considerados desnecessários.
G1.GLOBO.COM
PODER360.COM.BR
A capa simboliza a crescente influência de Musk nas decisões governamentais, ressaltando o poder que ele exerce mesmo sem ocupar um cargo eletivo. A reportagem também alerta para os possíveis riscos de um indivíduo não eleito possuir tamanho poder irrestrito.
G1.GLOBO.COM
A imagem da capa pode ser visualizada no site da revista Time ou em portais de notícias que repercutiram a publicação.
G1.GLOBO.COM
Fontes
_________________________________________________________________________________________________________
------------
-----------
Trump assombra o mundo com suas ambições imperiais
Publicado em 07/02/2025 - 06:48 Luiz Carlos Azedo
Cinema, Cultura, Guerra, Israel, Memória, Palestina, Política, Segurança, Trump, Violência
Como não lembrar o discurso de Chaplin: “Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência”
Quando assume o governo de Tomainia, Adenoid Hynkel acredita em uma nação puramente ariana e passa a discriminar os judeus. Essa situação é desconhecida por um barbeiro, que está hospitalizado devido à participação em uma guerra. Ao receber alta, mesmo sofrendo de amnésia sobre o que aconteceu, passa a ser perseguido e precisa viver no gueto. Lá, conhece a lavadora Hannah, por quem se apaixona. A vida do barbeiro passa a ser monitorada pela guarda de Hynkel, que tem planos de dominar o mundo. Seu próximo passo é invadir Osterlich, um país vizinho, e para tanto negocia um acordo com Benzino Napaloni, ditador da Bactéria.
Trata-se do roteiro de O Grande Ditador, clássico dos clássicos do cinema, uma sátira política de Charles Chaplin, lançado em meio à II Guerra Mundial, no qual o genial diretor interpreta os dois personagens, sem saber do genocídio que o mundo viria a conhecer após a libertação do campo de concentração de Auschwitz pelas tropas soviéticas. Ao realizar o filme, Chaplin ficou tão desconfortável que quase desistiu. Escarneceu do autoritarismo sem se dar conta de que tudo aquilo que procurou mostrar era muito, mas muito pior.
Chaplin satirizou as figuras de Adolf Hitler e Benito Mussolini (no caso, Adenoid Hynkel e Benzino Napaloni, o ditador do país Bactéria). Não perdoou os poderosos ministros Hermann Goering e Joseph Goebbels, que no filme assumem as identidades de Herring e Garbitsch. Hynkel é mostrado como uma criança mimada, que brinca com um globo terrestre, mais ou menos como o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está fazendo.
A perseguição que Trump move às minorias e aos imigrantes latinos e a forma ameaçadora como se impõe ao mundo, rompendo com toda a institucionalidade da economia mundial, acordos comerciais e organismos multilaterais, inclusive, em relação a aliados históricos, assombram as chancelarias. Trump se comporta como um grande conquistador. Ameaça anexar o Canadá, fechou a fronteira com o México, pretende comprar a Groelândia e tomar de volta o Canal do Panamá. Agora, em plena vigência de um acordo entre Israel e Hamas, anuncia um plano para expulsar os palestinos da Faixa de Gaza. Ou seja, algo entre a limpeza étnica ou o puro genocídio.
Leia também: Trump diz que Faixa de Gaza seria “entregue aos EUA por Israel” pós-guerra
Os conquistadores
O mundo já viu grandes conquistadores. Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), rei da Macedônia, conquistou o Império Persa e expandiu seu domínio da Grécia até a Índia. Júlio César (100-44 a.C.), general e estadista romano, anexou a Gália e pavimentou o caminho para o Império Romano. Genghis Khan (1162-1227) unificou as tribos mongóis e conquistou China, Pérsia e partes da Europa. Tamerlão (1336-1405), fundador do Império Timúrida, anexou grande parte da Ásia Central, Pérsia, Índia e Oriente Médio. Carlos Magno (742-814), rei dos Francos, expandiu seu império pela Europa Ocidental e fundou o Sacro Império Romano-Germânico.
Nos tempos mais modernos, Fernão Cortez (1485-1547), a serviço dos reis de Espanha, conquistou o Império Asteca. Francisco Pizarro (1478-1541) derrotou o Império Inca e expandiu o domínio espanhol na América do Sul. Napoleão Bonaparte (1769-1821) dominou grande parte da Europa. Satirizado por Chaplin, Adolf Hitler ocupou a maior parte da Europa e acabou com a Alemanha derrotada e dividida. Todos eram mortais e seus impérios desmoronaram.
Alexandre morreu doente ou envenenado na Babilônia. Júlio César (100-44 a.C.) foi esfaqueado 23 vezes por senadores romanos, incluindo seu sobrinho Brutus. Genghis Khan caiu do cavalo. Tamerlão, de febre, na China. Carlos Magno, de infecção nos pulmões em Aachen (Alemanha). Cortez, de disenteria na Espanha. Pizarro, assassinado por rivais espanhóis em Lima, no Peru. Napoleão, de câncer ou envenenamento, confinado na Ilha de Santa Helena, no meio do Atlântico Sul. Hitler se matou na queda de Berlim. Seu corpo foi carbonizado pelos subordinados e suas cinzas foram espalhadas pelos soviéticos.
Leia ainda: Como as guerras começam — e o que os conflitos do passado nos ensinam sobre 2025
Como não lembrar o discurso de Chaplin no final de O Grande Ditador: “Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.”
Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo
Compartilhe:
_________________________________________________________________________________________________________
-------------
------------
👆"Todos eram mortais e seus impérios desmoronaram."
-----------
Como não lembrar o discurso de Chaplin no final de O Grande Ditador: “Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.”
_________________________________________________________________________________________________________
------------
-------------
Trump sows the seeds of an anti-US alliance
GLOBAL AFFAIRS
Gideon Rachman
"Our strategy on tariffs will be to shoot first and ask questions later." That was what one of Donald Trump’s key economic policymakers told me late last year.
That kind of macho swagger is currently fashionable in Washington. But the US president’s shoot-from-the-hip tactics are profoundly dangerous — for America itself, as well as the countries that he has targeted with tariffs.
The potential economic risks for the US — higher inflation and industrial disruption — are well known.
The strategic consequences for America are less immediately obvious — but could be just as serious and even longer lasting. Trump’s tariffs threaten to destroy the unity of the western alliance. He is sowing the seeds of an alternative grouping formed by the many countries that feel newly threatened by America. Co-operation will be informal at first, but will harden the longer the tariff wars go on.
The collapse of western unity would be a dream come true for Russia and China. Trump himself may not care; he has often expressed his admiration for Vladimir Putin and Xi Jinping. But Marco Rubio and Mike Waltz — the men Trump has appointed as secretary of state and national security adviser — both claim to believe that containing Chinese power is the central strategic challenge facing the US.
If that is the case, it is profoundly stupid for Trump to impose tariffs on China, Mexico and Canada (although the Mexicans may have negotiated a one-month stay of execution). In so doing, he risks creating a convergence of interest between these three countries — as well as the EU, which has been told it is next in line for the tariff treatment.
When the Biden administration took office in 2021, the EU was poised to push through a new investment agreement with China. But that was abandoned after pressure from Washington and blunders by Beijing. By the end of the Biden period, the US and the European Commission were working closely together on efforts to "de-risk" trade with China.
The Biden administration’s key insight was that, if the US is engaged in a global contest with China, it is much more likely to prevail if it can persuade the other advanced democracies to work alongside it. Trump, by contrast, has decided to go after America’s allies much more vigorously than its adversaries. The likely consequence is that he will drive those allies back towards China.
European policymakers already know that the ambitious targets they have set for the green transition will be impossible without Chinese electric vehicles, batteries and solar panels. The prospect of losing American markets will make the Chinese market look even more necessary. When I suggested to a senior European policymaker that the EU might now consider reviving an investment agreement with China, he responded: "Believe me, that conversation has already begun."
Some influential Europeans are even asking whether America or China is now the more direct threat.
Chinese mercantilism and Beijing’s support for Russia’s war on Ukraine remain stumbling blocks to any rapprochement between China and Brussels. But if the Trump administration abandons Ukraine — and Beijing takes a tougher line with Russia — the way would be open for a European tilt towards China.
Latin America will also sense an opportunity. Trump’s threats to Panama and other Latin American economies have not gone unnoticed. Aggressive US action against successive governments is distinct from the Chinese approach, which does not try to interfere with domestic politics in the region or punish Panama for cutting ties with Taiwan.
Mexico, already in Trump’s tariff sights, is likely to seek even closer relations with China and the EU. If Trump imposes tariffs on Mexican car exports to the US, it is easy to see them being diverted to Europe.
No national leader can afford to seem weak in the face of American bullying. And hitting back against Trump is probably the right strategic move. As one European foreign minister put it to me recently: "If Trump punches you in the face and you don’t punch back, he’ll just hit you again."
Countries such as Britain and Japan might sigh with relief if Trump does not hit their industries with tariffs. But nobody should count on immunity. If Trump decides he wants to impose tariffs on British exports, he will certainly look for excuses to do so.
America is facing a growing coalition of allies and partners who are trying to protect themselves from US policy.
That will be a harder world for American business — and for the US as a whole.
_________________________________________________________________________________________________________
----------
------------
Aqui está a tradução do texto para o português:
Trump semeia as sementes de uma aliança anti-EUA
ASSUNTOS GLOBAIS
Gideon Rachman
“Nossa estratégia para tarifas será atirar primeiro e fazer perguntas depois.” Foi isso que um dos principais formuladores de políticas econômicas de Donald Trump me disse no final do ano passado.
Esse tipo de arrogância machista está atualmente na moda em Washington. Mas as táticas impulsivas do presidente dos EUA são profundamente perigosas — tanto para os próprios Estados Unidos quanto para os países que ele tem como alvo com tarifas.
Os riscos econômicos potenciais para os EUA — maior inflação e disrupção industrial — são bem conhecidos.
As consequências estratégicas para os Estados Unidos são menos imediatamente óbvias — mas podem ser igualmente sérias e ainda mais duradouras. As tarifas de Trump ameaçam destruir a unidade da aliança ocidental. Ele está semeando as sementes de um agrupamento alternativo formado por muitos países que se sentem recentemente ameaçados pelos EUA. A cooperação será informal no início, mas se fortalecerá à medida que as guerras tarifárias continuarem.
O colapso da unidade ocidental seria um sonho tornado realidade para a Rússia e a China. Trump pode não se importar; ele frequentemente expressou sua admiração por Vladimir Putin e Xi Jinping. Mas Marco Rubio e Mike Waltz — os homens que Trump nomeou como secretário de Estado e assessor de segurança nacional — ambos afirmam acreditar que conter o poder da China é o principal desafio estratégico que os EUA enfrentam.
Se esse for o caso, é profundamente estúpido para Trump impor tarifas sobre a China, o México e o Canadá (embora os mexicanos possam ter negociado um adiamento de um mês). Ao fazer isso, ele corre o risco de criar uma convergência de interesses entre esses três países — assim como com a União Europeia, que foi informada de que será a próxima a enfrentar medidas tarifárias.
Quando o governo Biden assumiu o cargo em 2021, a UE estava prestes a aprovar um novo acordo de investimentos com a China. Mas isso foi abandonado após pressão de Washington e erros de Pequim. No final do governo Biden, os EUA e a Comissão Europeia estavam trabalhando em estreita colaboração para "reduzir os riscos" do comércio com a China.
A principal percepção do governo Biden foi que, se os EUA estão envolvidos em uma disputa global com a China, têm muito mais chances de prevalecer se conseguirem persuadir outras democracias avançadas a trabalharem ao seu lado. Trump, por outro lado, decidiu atacar os aliados dos EUA de forma muito mais agressiva do que seus adversários. A consequência provável é que ele acabará empurrando esses aliados de volta para a China.
Os formuladores de políticas europeus já sabem que as metas ambiciosas que estabeleceram para a transição verde serão impossíveis sem veículos elétricos, baterias e painéis solares chineses. A perspectiva de perder acesso aos mercados americanos tornaria o mercado chinês ainda mais atraente. Quando sugeri a um formulador de políticas europeu que a UE poderia considerar um acordo de investimento renovado com a China, ele não hesitou: "Acredite em mim, essa conversa já começou".
Alguns europeus influentes estão até se perguntando se a América ou a China são agora a ameaça mais direta.
O mercantilismo chinês e o apoio de Pequim à guerra da Rússia na Ucrânia continuam sendo obstáculos para qualquer reaproximação entre China e Bruxelas. Mas, se o governo Trump abandonar a Ucrânia — e Pequim adotar uma postura mais dura em relação à Rússia — a porta estaria aberta para um avanço europeu em direção à China.
A América Latina também verá oportunidades. O crescente número de ameaças de Trump às economias da região não passa despercebido. Agressividade dos EUA contra sucessivos governos é distinta da abordagem chinesa, que não tenta interferir na política interna da região ou punir o Panamá pelo corte dos laços com Taiwan.
O México, que já enfrenta tarifas impostas por Trump, provavelmente buscará um relacionamento ainda mais estreito com a China e a UE. Se Trump impuser tarifas sobre as exportações automotivas mexicanas para os EUA, elas podem ser redirecionadas para a Europa.
Nenhum líder nacional pode se dar ao luxo de parecer fraco diante do bullying americano. E revidar contra Trump provavelmente será a estratégia certa. Como me disse recentemente um diplomata europeu: "Se Trump der um soco em você e você não revidar, ele apenas continuará batendo".
Países como Reino Unido e Japão podem suspirar de alívio se Trump não atingir seus setores econômicos com tarifas. Mas ninguém pode contar com essa imunidade. Se Trump decidir impor tarifas sobre as exportações britânicas, isso certamente provocaria uma resposta dura do Reino Unido.
A América enfrentará assim um agrupamento crescente de aliados e parceiros que tentam se proteger da política dos EUA.
Esse será um mundo mais difícil para os negócios americanos — e para os EUA como um todo.
________________________________________________________________________________________________________
----------
------------
Stop Elon Musk’s Coup
----------
Robert Reich
5 de fev. de 2025
Folks, this is a five alarm fire.
Congress must stop Trump and Elon's coup.
Call your rep now (202) 224-3121
This isn't just a battle for checks and balances.
It's a battle between democracy and dictatorship.
Pessoas mencionadas
2 pessoas
Elon Musk
Donald Trump
________________________________________________________________________________________________________
-----------
Brincando de Calígula
Numa mesa de pôquer, Trump já estaria depenado
Fernando Dourado Filho
05/02/2025 16:55 | Atualizado 05/02/2025 16:55
----------
1 - Acho que ninguém imaginava a extensão do sucateamento mental e cognitivo de Trump. Já começo a ter dificuldade de escrever o nome dele embora esteja resignado a ouvi-lo muitas vezes.
2 - As resenhas do dia são hilárias, quando não pueris e patéticas. Começou pelo Airbnb carcerário de El Salvador, uma oferta que o idiota junior Mark Rubio interpretou como um grande gesto de amizade.
3 - Quando concorreu pela Presidência, Trump desqualificou-o dizendo que Rubio tinha um pinto minúsculo. Se cresceu desde então, não sei. Mas não é só o pênis que é atrofiado. O cérebro também é nanico.
4 - Só dois imbecis juramentados podem pensar que se sustenta moral e juridicamente deslocar presos americanos para El Salvador - para a Ilha do Diabo ou Gramado - contra pagamento de diárias carcerárias.
5 - Mas isso não é tudo. Além de ridicularizar o enviado especial ao Oriente Médio, fazendo de um incauto um saco de pancadas, Trump recebeu Netanyahu ao pé da lareira para vomitar idiotices inauditas.
6 - Se não estou louco, o que ouvi foi que quase não se falou da extensão da trégua na Faixa de Gaza. Indiferente à sorte de reféns israelenses, Trump não perdeu a janela para dizer patacoadas.
7 - Propôs transformar Gaza numa espécie de protetorado americano. Como? Ora, evacuam-se 2 milhões de pessoas, aloca-se o contingente em países vizinhos - ou em El Salvador - e aí contrói-se um condomínio.
8 - Talvez como uma espécie de Mar-a-Lago mediterrânea. Planta-se grama de Rafah a Khan Yunis para os campos de golfe; instala-se meia dúzia de cassinos e abrem-se franquias do Red Lobster e Burger King.
9 - Abre-se uma avenida com o nome dele e, para governar, arranja-se uma mistura de General Macarthur com Fulgencio Batista que fale árabe e inglês, com sorte também algum hebraico. É nisso, amigos, que dá a ignorância.
10 - A promoção de uma faxina étnica de padrão balcânico com um Êxodo de feição bíblica ignora por completo a história da região. De cara, ele já levou uma negativa dos sauditas cujas botas ele lambe servilmente.
11 - Depois do que nós vivemos no Brasil na virada da última década, eu achei que de imbecil, preguiçoso e ignorante nós já tínhamos vivido nossa cota e que nada mais no mundo nos surpreenderia. Estava errado.
12 - É inconcebível que um debiloide desse calibre tenha câmeras e microfones por muito tempo. O alcance de uma desgraça "Made in Washington" é 10 milhões de vezes pior do que oferecer churrasco a milicianos.
13 - Jogando esse carteado primário, o músculo do blefe dentro de algumas semanas não surtirá outro efeito que não o de ajudar a desmontar a ordem global e a tensionar áreas sensíveis no Mar da China e na Ucrânia - que ele não saberia apontar no mapa.
14 - Imagino as risadas que não devem ter ecoado no mundo: no Kremlin, em Zhongnanhai, em Nova Déli e em Bruxelas. A cada lance patético, o mundo se imuniza contra a orquestração da ópera bufa.
15 - Numa mesa de pôquer, Trump já estaria depenado. Há quem queria ver nessas sandices grande sabedoria negocial. Por divertido que seja ver o pato da mesa arrotando certezas, lembrem-se: ler é importante.
________________________________________________________________________________________________________
---------
------------
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
Esquerda erra ao bater na globalização - Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Maior integração econômica ajudou a tirar da miséria milhões de pessoas em países emergentes
A esquerda brasileira sempre bateu na globalização. Fazia-o, creio, porque esse movimento era parte do chamado consenso de Washington, o que vale dizer que era uma manifestação do imperialismo ianque.
Na prática, porém, a globalização é um dos ingredientes da notável redução da desigualdade mundial. Entre 1990 e 2020, o coeficiente de Gini do planeta passou de 70 para 60,6. Quanto mais esse número se aproxima de 100, mais concentrada é a renda. A queda foi puxada pela diminuição da desigualdade entre países. O Gini que compara nações foi de 60 para 47,1 no mesmo período.
Não estamos aqui falando de abstrações estatísticas. No mundo real, a transferência de postos de trabalho dos países ricos para os emergentes tirou milhões de pessoas da miséria, especialmente na China.
Outra faceta desse fenômeno aparece na redução da proporção de terráqueos vivendo em pobreza extrema, que passou de 36,22% em 1990 para 9,18% em 2017. Historicamente, a pobreza extrema foi uma fiel companheira da humanidade. O índice só passou a patamar inferior a 50% em 1970.
Não vejo como a esquerda, pelo menos a esquerda internacionalista, poderia deixar de aplaudir esse movimento.
Daí não se segue, é claro, que a batalha esteja ganha. A pobreza não extrema ainda é prevalente no mundo, e a própria globalização, apesar de um resultado positivo, também produziu efeitos colaterais adversos.
O mais notável deles é que o enriquecimento de emergentes se deu principalmente à custa de setores da classe média de países ricos, que viram seus bons empregos na indústria migrarem para outras nações.
Essa população sentiu-se deixada para trás (os ricos de muitos desses países ficaram ainda mais ricos), o que gerou o ressentimento que hoje ajuda a eleger líderes de extrema direita como Donald Trump.
A globalização agora sai de cena para dar lugar a um mundo de guerra tarifária. É pena, porque quanto menos integradas são as economias dos países menos riqueza é produzida e distribuída, ainda que imperfeitamente.
________________________________________________________________________________________________________
-----------
------------
Chão De Estrelas
Os Mutantes
Minha vida
Era um palco iluminado
E eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Eu vivia cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão
Lá no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre
De um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje quando do sol a claridade
Forra o meu barracão
Sinto saudade
Da mulher
Pomba rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda qual bandeiras agitadas
Parecia um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros distraída
A mostrar que a aventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
É a cabrocha escurregando no sabão
É o gato miando no porão
Composição: Orestes Barbosa / Silvio Caldas.
________________________________________________________________________________________________________
----------
------------
O Presidente (Thomas Bernhard) - Vamos falar sobre livros (e tradução)?
Gisele Eberspächer
18 de out. de 2020
Comentários sobre o processo de tradução da peça O Presidente, de Thomas Bernhard (Trad. Gisele Eberspächer e Paulo Rogério Pacheco Jr.), publicada pela Editora UFPR.
Links:
Editora UFPR: https://www.editora.ufpr.br/produto/4...
Evento de lançamento do livro: • Encontros Virtuais Editora UFPR - Tho...
Evento sobre o teatro de Thomas Bernhard: • Encontros Virtuais Editora UFPR e Tem...
https://www.youtube.com/watch?v=W7BpZx9Zs-g
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
------------
25 February, 2022 - editorial
Trecho de "O presidente", obra de Thomas Bernhard
Fevereiro é mês de celebrar Thomas Bernhard, nascido há mais de nove décadas, no ano de 1931. Crítico ávido de seu país, da cultura e da política austríacas, Bernhard tornou-se um autor fundamental para pensar tanto o século XX quanto o presente. Em sua obra, que inclui contos, romances e dramaturgias, Bernhard abordou temas como nacionalismo e antissemitismo na Áustria moderna. Para o autor, as críticas e o olhar reflexivo deveriam ser mantidos vivos também nos palcos e na literatura
No catálogo da Temporal, Bernhard assina Praça dos Heróis, peça de 1988, escrita um ano antes de sua morte, e lançada pela editora em 2020. No mesmo ano, a Editora da UFPR presenteou o público com mais uma peça inédita do autor em português brasileiro: O presidente, de 1975.
Nesta sátira sobre a sociedade e os jogos de poder, o dramaturgo insere os leitores nos bastidores da vida oficial de um presidente, de sua amante, de uma primeira-dama altiva e de seu capelão conselheiro. Nas palavras da tradutora e prefaciadora da edição, Ruth Bohunovsky, “Embora Bernhard nunca tenha sido um autor politicamente engajado no sentido mais estrito, esta é considerada a sua peça teatral mais política. O presidente trata do mundo dos poderosos, dos políticos e seu cinismo em relação ao povo, e do abismo social que marca a relação entre o governo e os governados”.
A seguir, confira um trecho da peça selecionado por nossa equipe e descubra mais sobre a obra de Thomas Bernhard.
*
Cena 1
[...]
Presidente
A política
é a arte mais alta minha filha
ela é mais alta que todas as outras artes juntas
as pessoas não veem
mas elas não para de mudar o mundo
Logo depois vem a arte da encenação
Atriz
E depois
Presidente
Depois vem a pintura
Rembrandt
Rubens
Delacroix
Atriz
E depois
Presidente
A poesia minha filha
a poesia
E a música
a música minha filha
Mas eu não tenho
competência nenhuma
para as artes
No meu caso
a melhor e maior arte
é a arte política
César
Napoleão
Metternich minha filha
(levanta o copo)
Metternich
a Metternich
(a atriz levanta o copo)
A Matternich
(bebem)
É preciso
ser prático e teórico minha filha
sempre e ao mesmo tempo
No meu caso
eu sem nenhuma dúvida deveria pertencer
a outra época
a um tempo
em que eu pudesse ter realizado
aquilo ao qual eu era destinado
no nosso tempo eu não consigo realizar
o que está na minha cabeça
Atriz
Você é um ditador
Presidente
Um ditador
um ditador
O país é muito pequeno pra mim
a nação é muito pequena pra mim
tudo é muito estreito e pequeno pra mim
e assim um potencial como o meu não sai do lugar
Tudo na minha cabeça
se atrofia
Atriz
Ditador
Presidente
Esse país não merece alguém como meu marido
minha esposa disse
para o embaixador mexicano
Eu gostaria de ter
nascido em outro país
e ter me tornado presidente de outro país
(bebe)
Mas agora
de repente
Os anarquistas minha filha
Ficar alerta
Eu corro risco de vida
todos correm risco de vida
Atriz
Risco de vida
Presidente
Porque eu soltei
as rédeas
A igreja
Os padres
A ralé
A gentalha minha filha
Por pouco o coronel não se salva
e eu sou a vítima
Muitas tentativas minha filha
de me eliminar
Mas antes de me eliminarem
muitos dos anarquistas também serão eliminados
Eliminados
eliminados
(seca o copo, se serve novamente)
A sociedade está literalmente gritando
para que um homem assim
ponha ordem
Ordem minha filha ordem
isso é tudo
nada além de ordem minha filha
dessa desordem descomunal
que está se propagando
e envenenando tudo
envenenando tudo
Pôr ordem
Por outro lado
Somos felizes
(beija-a no rosto)
de termos sossego agora
Aqui temos sossego
A costa atlântica
e a brisa da costa atlântica
(de repente)
Eles ainda não pegaram os terroristas
Que tipo de polícia é essa
Atriz
Cada vez mais atos terroristas
Presidente (em tom de pergunta)
Você está entendendo minha filha
isso é uma fatalidade
Que tipo de ministro do Interior é esse
E se os terroristas não forem presos até amanhã de manhã
presos minha filha presos
vou mandar trocar o ministro do Interior e o comandante da polícia
mandar trocar
trocar
Atriz
Trocar
Presidente
Trocar
trocar o governo inteiro
Outro governo
um governo novo
levanta o copo
(sugere que a Atriz levante o copo
ambos levantam o copo)
Por um fio minha filha
e eu não estaria agora em Estoril
O atentado é o motivo
pelo qual estou aqui
Você entrou em estado de choque
minha esposa disse
vá para Estoril
ela disse
E ela só disse isso
para que eu fosse embora
para que ela própria pudesse ir pras montanhas
com o açougueiro dela
Ou ela vai com o Capelão pras montanhas
Com o açougueiro
ou com o Capelão
mas pra mim tanto faz com quem ela vai pras montanhas
o importante é que estou com você em Estoril minha filha
(bebe)
Dois mil policiais apenas para proteger
a minha pessoa
E você minha filha
minha filha atriz
com o passaporte diplomático
e com a proteção explícita do Presidente
Depois de amanhã vamos para Sintra
com todas as pompas
vamos nos maravilhar
O jeito como eu dei um sermão
no garçom em Sintra no ano passado
um sermão
primeiro em francês
o que ele não entendeu
então em inglês
o que ele também não entendeu
por fim em português
De noite dormimos
minha mulher e eu
separados
há vinte anos
não deitamos juntos na mesma cama
ela pensa no açougueiro dela
às vezes no açougueiro
às vezes no Capelão
os dois passam pela cabeça dela de noite
e não se deixam fundir na cabeça dela
mas ela não pode ficar louca
nessas condições
E se alguma vez ela está comigo
na verdade está com o açougueiro
ou com o Capelão
Isso explica por que ela está cada vez mais nervosa
E os maus modos
com a criadagem
Ambição
Ódio
Medo
mais nada
Nos últimos tempos o cachorro também
estava alterado
então quando não suportava mais pensar
no açougueiro e no Capelão
ela fugia para o cachorro
então ela dizia dos dois amantes
do amante espiritual e do amante físico
o cachorro era tudo pra ela
Nessa idade minha filha
é um jogo perigoso com a perversão
mais ainda numa pessoa como a minha mulher
Agora tiraram o cachorro dela
Eu sempre
odiei aquele animal inútil
eu odeio vida inútil
Também não sou um entusiasta de animais
nem entusiasta de pessoas nem entusiasta de animais
Esses corpos animais
que já desaprenderam a latir
e ficam espalhados por aí apenas como objetos decorativos
que precisam ser alimentados
para nada
(grita)
O cachorro teve um ataque
Um ataque cardíaco
quando o primeiro tiro contra mim
acertou o coronel
que morreu na hora
e ele teve um ataque cardíaco
Duas vítimas inocentes
o coronel e o cachorro
(grita)
Ela correu para o Instituto Médico Legal
por causa do cachorro
nem notou o coronel
que estava do lado do cachorro
na mesa de dissecação
Aquele cheiro nojento
que sempre vinha do cachorro
O quarto está empestado de cheiro de cachorro
o palácio inteiro
do cheiro do cachorro
Esse mau cheiro
Pequeno e inútil
sem pedigree
essa raça nojenta
Tirada do canil
e levada ao palácio no carro presidencial
e durante dias durante semanas durante meses só o cachorro
O pessoal da cozinha foi importunado
para aprender a fazer a ração do cachorro
Um cachorro achado na rua minha filha
um cachorro achado na rua
reinando no palácio presidencial
Infernizando a vida do marido
mas mimando o cachorro
Não se abalou
com a morte do coronel
que todos nós vamos morrer é claro
mas o cachorro
Ela foi para o enterro do coronel a contragosto
na cabeça dela só estava a solenidade
do enterro do cachorro
cremar
ou enterrar
problema dela
Consciente
de ser deixada sozinha sob qualquer circunstância
com o tempo
ela foi se entregando totalmente
ao cachorro e ao dinheiro
E o Capelão ajudou
com uma filosofia absurda
Ele sempre sente necessidade
de falar dos seres vivos inocentes
da grandeza da mente e da tragédia
e ela fica repetindo o que ele fala
não entende nada do que ele diz
mas fica repetindo
o Capelão diz que o é uma vida inocente
ela repete
o Capelão diz que todos os homens são iguais
ela repete
o Capelão diz o termo grandeza da mente
ela repete
tudo que ele diz sobre o socialismo
ela repete
o que ele diz sobre religião
sobre filosofia
ciência
[...]
*
Trecho extraído de Thomas Bernhard, O presidente. Tradução de Ruth Bohunovski, Gisele Pacheco Eberspacher e Paulo Rogério Junior. Curitiba: Editora da UFPR, 2021, pp. 140-50.
No banner: Thomas Bernhard e Claus Peymann na polêmica estreia de Praça dos Heróis em 1988.
https://www.temporaleditora.com.br/blog/artigo/trecho-de-34-o-presidente-34-obra-de-thomas-bernhard
________________________________________________________________________________________________________
----------
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário