Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
MAL À VISTA
"Eu não acredito. Eu espero não ter acontecido."
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“Mas teus olhos castanhos/Me metem mais medo que um dia de sol/É... Lígia Lígia”.
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Negacionismos e perseguição pautam o Conselho de Medicina – Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
A sanitarista Lígia Bahia é perseguida porque criticou o apoio do CFM ao uso de cloroquina contra a covid-19 e a falta de incentivo à vacinação na pandemia
Disponível na plataforma de streaming Netflix, o filme Joy se baseia na história real da criação da técnica de fertilização in vitro (FIV). A história de Louise Joy Brown, o primeiro bebê concebido por meio da técnica, nascido em 1978, é uma vitória contra o negacionismo. Dirigido por Ben Taylor, o longa mostra uma figura menos conhecida na história: a enfermeira e embriologista Jean Purdy. Interpretada por Thomasin McKenzie, ela se une ao fisiologista Robert Edwards (James Norton) e ao ginecologista Patrick Steptoe (Bill Nighy) na missão de criar a solução para a infertilidade.
Antes do marco histórico de 25 de julho de 1978, casais que enfrentavam dificuldades para conceber naturalmente encontravam poucas soluções eficazes. A jornada iniciou-se em 1969, quando Edwards fertilizou com sucesso um óvulo fora do útero, no Hospital Dr Kershaw's Cottage, em Manchester. Ao lado de Steptoe, eles implantaram embriões em 282 mulheres, mas as gestações não foram bem-sucedidas. Por essa razão, sofreram muitas críticas e quase desistiram. Jean Purdy convenceu os dois cientistas a retomar as pesquisas.
O negacionismo na medicina quase sempre é fruto do status quo social, político e/ou científico. Desde o século XIX, movimentos contrários à vacinação já existiam, mas ganharam força no final do século XX, com a publicação (fraudulenta) do médico britânico Andrew Wakefield, em 1998, que associava a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) ao autismo. O estudo foi desmentido, porém sua tese, até hoje, alimenta o movimento antivacina global.
A lobotomia promovida pelo neurologista Walter Freeman nos EUA, entre as décadas de 1930 e 1950, como um "tratamento" para doenças mentais, apesar da falta de evidências científicas sobre sua eficácia, causou danos devastadores. Durante décadas, empresas de tabaco financiaram pesquisas para desacreditar as evidências científicas que ligavam o cigarro ao câncer de pulmão e outras doenças.
Entre 1980 e 1990, cientistas como Peter Duesberg argumentaram que o HIV não era a causa da aids, o que influenciou políticas públicas, especialmente na África do Sul. Ainda hoje, grupos alegam que a adição de flúor na água potável causa doenças graves, incluindo câncer e problemas neurológico. A fluoretação reduz cáries e é segura.
Mais recentemente, durante a pandemia da covid-19, a cloroquina e a hidroxicloroquina foram promovidas como "tratamento precoce", sem base científica. Apesar de estudos demonstrarem sua ineficácia contra o vírus, médicos, políticos e até conselhos médicos, como o CFM (Conselho Federal de Medicina), no Brasil, defenderam seu uso, contribuindo para a desinformação e para a demora na adoção de medidas eficazes.
Caso Ligia Bahia
O negacionismo quase sempre vem acompanhado de perseguições aos cientistas e profissionais de saúde pública que o denunciam, como é o caso do processo judicial movido pelo CFM contra a médica sanitarista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lígia Bahia. O CFM alega que, em uma entrevista concedida ao canal O Conhecimento Liberta, em 2024, Lígia proferiu críticas consideradas ofensivas à entidade, especialmente em relação ao seu posicionamento durante a pandemia da covid-19. A ação judicial solicita uma indenização de R$ 100 mil, retratação pública e a remoção do conteúdo do YouTube.
Lígia Bahia criticou o apoio do CFM ao uso de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19, e a falta de incentivo à vacinação. Ela também questionou a postura do conselho em relação ao aborto legal, especialmente em casos de estupro. A ação movida pelo CFM provocou forte reação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), além de outras entidades, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O caso suscita um debate nos meios acadêmicos e científicos sobre o papel das entidades reguladoras em temas que exigem mais excelência científica e menos interesses econômicos e políticos. O CFM tem sido alvo de críticas devido a decisões negacionistas e polêmicas. Durante a pandemia da covid-19, o CFM apoiou a autonomia médica para prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus, como a cloroquina e a ivermectina, um endosso ao chamado "tratamento precoce".
A polêmica Resolução nº 2.378/2024, do CFM, proibia a realização de procedimentos para interrupção da gravidez após 22 semanas de gestação, mesmo nos casos previstos em lei, como em situações de estupro. A medida foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou haver indícios de abuso do poder regulamentar. Outra controvérsia envolveu a plataforma Atesta CFM, criada para a emissão de laudos médicos. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) suspendeu a obrigatoriedade do uso dessa plataforma, por violar a competência da União e criar uma reserva de mercado.
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Ligia
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Tom Jobim Oficial
23 de jan. de 2017
Provided to YouTube by Warner Archives
Ligia · Antônio Carlos Jobim
Urubu
℗ 1976 Warner Records Inc.
Piano, Vocals: Antonio Carlos Jobim
Drums: Joao Palma
Percussion: Ray Armando
Bass Guitar: Ron Carter
Composer: Antonio Carlos Jobim
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“Aprendi com a doença da minha filha”
Como o neurocientista Roberto Lent fez da má-formação cerebral de Isabel um salto de conhecimento
Por Ligia Moraes
8 fev 2025, 08h00
Minha relação com a neurociência não começou no laboratório. Quando minha filha Isabel nasceu, nos anos 1980, parecia um bebê como qualquer outro. Mas, conforme foi crescendo, notamos que algo não evoluía como era esperado. Foi um choque descobrir que ela tinha agenesia do corpo caloso, uma rara condição em que os dois hemisférios do cérebro não se comunicam da forma convencional.
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"Mais tarde, ao me aprofundar na neurociência, compreendi que eventos carregados de emoção são registrados com mais intensidade pelo cérebro, um fenômeno que explica por que certos momentos da vida ficam gravados com tanta nitidez."
PRIMEIRA PESSOA
Como o neurocientista Robeto Lent fez da má formação cerebral de Isabel um salto de conhecimento
Depoimento a Ligia Moraes
veja 7 DE FEVEREIRO, 2025
pp. 72-73
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"A petição denuncia que a China está forçando crianças tibetanas a frequentar colégios internos para erradicar sua língua, cultura e religião. Essas crianças sofrem maus-tratos, ansiedade e depressão, e passam semanas ou meses sem ver seus pais. No total, cerca de um milhão de crianças estariam sendo submetidas a esse processo de indoutrinação, onde aprendem apenas mandarim e a veneração ao Partido Comunista Chinês.
A iniciativa, apoiada por organizações como International Tibet Network e Students for a Free Tibet, pede que a ONU investigue o caso. O apelo será levado ao Alto Comissário para os Direitos Humanos antes da próxima reunião do Conselho de Direitos Humanos. A campanha busca reunir 500.000 assinaturas para pressionar por uma ação internacional."
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Fermiamo l'indottrinamento dei bambini tibetani!
Firma la petizione
All'Alto Commissario delle Nazioni Unite per i Diritti Umani, Volker Türk:
Siamo inorriditi dalle notizie sulla Cina, che costringe i bambini tibetani a essere indottrinati in collegi per sradicarli dalla loro lingua, cultura e religione. Sono vittime di maltrattamenti fisici, ansia e depressione. Il governo cinese vuole nasconderlo, ma noi possiamo far avviare un'indagine per svelare la verità e fermare la soppressione della cultura tibetana.
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Fermiamo l'indottrinamento dei bambini tibetani!
500.000292.811
292.811 hanno firmato. Arriviamo a 500.000
Tre su quattro.
Sono i bambini che la Cina costringe a frequentare convitti di stampo coloniale in Tibet, dove vengono maltrattati e indottrinati fino al punto di smettere di parlare la lingua dei loro genitori.
Molti di questi bambini trascorrono settimane, a volte anche mesi senza vedere i genitori, a cui sarebbe proibito andarli a trovare. Allontanati da casa, ai bambini tibetani vengono insegnati solo il mandarino e la venerazione per il Partito Comunista Cinese, fino a sopprimere la loro cultura e religione.
La Cina sta provando a insabbiare lo sradicamento di un milione di bambini tibetani dalla loro cultura. Ma qui entriamo in gioco noi!
Dei giornalisti hanno appena denunciato questo scandalo con l'aiuto di esperti in diritti umani e insegnanti tibetani, e un’indagine delle Nazioni Unite potrebbe svelare la verità sulle scuole di indottrinamento cinesi. Gli attivisti tibetani vogliono portare questo appello all'Alto Commissario per i Diritti Umani delle Nazioni Unite nei prossimi giorni, prima che si riunisca con il Consiglio per i diritti umani. Non potrà ignorare una petizione enorme: firma e condividi subito!
Avaaz sostiene l'appello rivolto all'Alto Commissario per i Diritti Umani delle Nazioni Unite da una coalizione di attivisti che lottano per i diritti del Tibet, guidata da:
International Tibet Network
Students for a Free Tibet
Tibet Action Institute
Tibet Justice Center
Tibetan Youth Association Europe
La foto in questa e-mail, già utilizzata in passato dalla stampa, ritrae un bambino tibetano a Lhasa nel 2009.
Pubblicato il: 5 febbraio 2025
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MALA VISTA
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A Divina Comédia - Inferno - Canto 3- Em português (audiolivro)
CANAL LIVRÃO
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Curtindo a "Divina Comédia"
INFERNO- CANTO XVIII
INFERNO- CANTO XVII
INFERNO- CANTO XVI
INFERNO- CANTO XV
INFERNO- CANTO XIV
INFERNO- CANTO XIII
INFERNO- CANTO XII
INFERNO- CANTO XI
INFERNO- CANTO X
INFERNO- CANTO IX
INFERNO- CANTO VIII
INFERNO- CANTO VII
INFERNO- CANTO VI
INFERNO- CANTO V
INFERNO- CANTO IV
INFERNO- CANTO III
Domingos van Erven
"Livros meus podem ser adquiridos em: http://www.agbook.com.br/authors/67231
Ver meu perfil completo
quarta-feira, 26 de agosto de 2009"
INFERNO- CANTO III
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Canto III
Dante e Virgílio estão no portal do Inferno, que traz a inscrição famosa:
Per me si va ne la città dolente,
per me si va ne l’etterno dolore,
per me si va tra la perduta gente.
Giustizia mosse il mio alto fattore;
fecemi la divina podestate,
la somma sapïenza e’l primo amore.
Dinanzi a me non fuor cose create
se non etterne, e io etterno duro.
Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate.(v.1-9)
(“Por mim se vai à cidade do sofrimento,/ por mim se vai à dor eterna,/ por mim se vai à gente condenada./ Justiça moveu o meu alto artífice;/ sou obra da divina podestade (*),/ da suma sapiência e amor primeiro./ Antes de mim só existiam coisas eternas,/ e eu duro eternamente./ Deixai toda esperança, ó vós que entrais.”)
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(*) Podestade: “O primeiro magistrado, nas cidades centrais e setentrionais da Itália, na Idade Média” (1)
Note-se a musicalidade de toda essa inscrição, decorrente do refinado jogo fonético das sílabas escolhidas, em que o portal do Inferno, personificado, fala na primeira pessoa e onde estão presentes uma anáfora (repetição de "Per me si va" em v. 1-3), metonímia (a "dor eterna" é sinônimo de Inferno no v. 2) e aliteração (no v. 6, os sons sibilantes ocorrem três vezes).
Dante ouve na escuridão suspiros, choros e gritos, o que o emociona até as lágrimas. Virgílio o acalma, dizendo-lhe que ali é o lugar “daqueles que viveram sem merecer louvor ou execração” (...di coloro/ che visser sanza 'nfamia e sanza lodo- v.35-36). Dante repara numa bandeira, no ar girando, movendo-se rapidamente, sem parar, e atrás dela, uma longa fila de gente. Ele não acreditaria “que a morte tivesse desfeito tantos”(che morte tanta n’avesse disfatta.-v. 57). Compreende que aí estavam os tíbios, que desagradaram Deus e os inimigos de Deus. Não praticaram nem o bem nem o mal, mas só pensaram no seu própio interesse. Iam nus (os condenados sempre estão despidos, tal como Deus os criou e as artes plásticas representam os seres humanos) e aguilhoados por moscões e vespas. Os insetos faziam listras nos rostos deles com seu sangue, e esse sangue, misturado com suas lágrimas, caía a seus pés, onde alimentava vermes repulsivos.
A partir do v. 70, inicia-se outra cena. Dante, olhando além dos tíbios, vê muita gente na margem de um grande rio, e indaga a seu mestre a respeito disso. Mas Virgílio diz que tudo lhe será esclarecido quando chegarem àquela margem. Lá chegando, vem em sua direção, de barco, Caronte, um velho de barbas brancas, que assim se dirige aos condenados que vai transportar para a outra margem, gritando às “almas danadas”, como as chama, estas palavras:
Non isperate mai veder lo cielo:
i’ vegno per menarvi a l’altra riva
ne le tenebre etterne, in caldo e ‘n gelo. (v.85-87)
(“Não espereis mais ver o céu:/ eu venho para vos conduzir ao outro lado,/ à escuridão eterna, ao fogo e ao gelo “).
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Em sua resposta, cheia de desespero, os condenados, que “perderam a cor e rangeram os dentes” (cangiar colore e dibattero i denti- v. 101- cf. o contraste desse "cangiar colore" com os “discos ígneos” que circundam os olhos de Caronte, piloto da “lívida laguna”) amaldiçoam Deus, seus pais, “a espécie humana e o lugar e o tempo e a semente” (l' umana spezie e 'l loco e 'l tempo e 'l seme- v.104, um polissíndeto) de sua concepção e de seu nascimento.
Antes disso, Caronte manda a “alma viva “ ali presente (Dante) procurar “outra via, outros portos”. Mas Virgílio intervém, mandando Caronte calar-se, pois a travessia deles foi decidida ”lá em cima”. As almas que estavam ali perdem a cor e rangem os dentes com as palavras do “demônio Caronte” que tem os “olhos como brasas” e as “faces lanosas”. Caronte os faz embarcar a todos, e dá com o remo nos retardatários. Assim que eles se movem pelas águas escuras, já um novo grupo se junta naquela margem do rio. Virgílio explica que são almas que morreram sob a ira de Deus. A justiça divina os impele, de modo que o temor se transforma em desejo. Elas estão ansiosas por atravessar o rio e cumprir a sua pena. Esse rio é o Aqueronte, um dos quatro rios do Inferno. Depois a “imensidão escura” estremece e um redemoinho irrompe da “terra encharcada de lágrimas”, com uma luz vermelha, fazendo Dante desfalecer: “e caí como o homem que o sono subjuga” (e caddi come l’uom cui sonno piglia- v.136).
Dante coloca assim no vestíbulo do Inferno, objeto do Canto III, os tíbios (= mornos; fracos; indolentes) ou oportunistas, aqueles que não tomaram partido na vida, a não ser o seu próprio. Não ganharam o Céu e nem mesmo o Inferno (situam-se por isso em seu vestíbulo, i.e. antes de Dante e Virgílio transporem o rio Aqueronte, que os fará ingressar no Inferno propriamente dito). Não foram bons nem maus. Não foram fiéis a Deus nem tampouco ao Diabo.
Ed elli a me: Questo misero modo
tegnon l’anime triste di coloro
che visser sanza ‘nfamia e sanza lodo. ( v.34-36)
(“E ele para mim: ‘Este modo miserável/ é adotado pelas almas tristes daqueles/ que viveram sem merecer louvor ou execração’ ”)
Virgílio tem por eles esta opinião:
Fama di loro il mondo esser non lassa;
misericordia e giustizia li sdegna:
non ragioniam di lor, ma guarda e passa. (v.49-51)
(“O mundo não deixará fama de sua vida;/ misericórdia e justiça os desprezam; / não falemos deles; olha e passa.”)
Dante, ao imaginar os castigos infligidos aos pecadores que cumprem pena no inferno, segue a chamada “lei do contrapasso”, que implica atribuir uma punição apropriada ao pecado cometido. Assim, como castigo, os tíbios estarão permanentemente seguindo a bandeira que se move sem parar, de um lado para outro, que não se fixa em nenhum lugar. Isso porque os oportunistas não optam por nada, estão sempre em movimento, não se estabelecem na defesa de alguma tese, alguma idéia, algum partido, representados pela bandeira do compromisso.
Muitos antigos comentaristas, segundo Mandelbaum, julgam que os versos 59-60, sobre alguém “que fez por covardia a grande recusa” (che fece per viltade il gran rifiuto- v.60), referem-se ao papa Celestino V, o qual renunciou ao pontificado cinco meses após assumi-lo, omitindo-se ao exercício de seu papel de reformador da Igreja numa época em que ela era merecedora de muitas críticas. Tal renúncia daria ocasião à ascensão de Bonifácio VIII, odiado por Dante, que lhe reserva um lugar na terceira vala do Malebolge, a dos simoníacos (Canto XIX). Curiosamente, Celestino V era um santo homem, um asceta, que seria canonizado posteriormente (2). O episódio mostra bem a diferença de concepção, a respeito do papel do cristão no mundo, entre Dante e seus contemporâneos, sendo que a do poeta florentino, mais moderna, prenuncia a atitude atual da Igreja participante de nosso tempo. A conclusão de que Dante é um poeta engajado é reforçada pelos versos 107-108 quando ele descreve os condenados "chorando forte, na margem desgraçada/ que espera por aqueles que não temem a Deus (forte piangendo, a la riva malvagia/ ch'attende ciascun uom che Dio non teme). Ele se dirige aqui, na realidade, ao leitor, procurando demovê-lo do pecado pela evocação dos horrores do Inferno... Uma vez ali, a situação será irreversível, e os condenados, “a gente sofredora” não contará mais com o bem do intelecto, i.e. o livre-arbítrio... (le genti dolorose/ c'hanno perdutto il ben de l'inteletto- v.17-18).
Nos v. 22-30, Dante considera as manifestações de tristeza e lamento das primeiras almas que ouve no Inferno como areia quando um furacão redemoinha. Os sons são equiparados a esse elemento físico (areia). Dante materializa assim aquelas manifestações sonoras de dor, torna-as concretas, palpáveis, o que aumenta seu impacto sobre a sensibilidade do leitor:
Quivi sospiri, pianti e alti guai
risonavan per l’aere sanza stelle,
per ch’io al cominciar ne lagrimai.
Diverse lingue, orribili favelle,
parole di dolore, accenti d’ira,
voci alte e fioche, e suon di man con elle
facevano un tumulto, il qual s’aggira
sempre in quell’aura sanza tempo tinta,
come la rena quando turbo spira.
(“Ali suspiros, choros e gritos altos/ ecoavam pelo espaço sem estrelas/ me suscitando lágrimas, mal entrei./ Línguas estranhas, horríveis falas,/ exclamações de dor, acentos de ira,/ vozes agudas e roucas, e bater de mãos,/ produziam um tumulto, que rodopia/ para sempre naquele ar eterno e sombrio/ como areia quando um furacão redemoinha.”)
Estão presentes aqui rimas internas (parole di dolore- v.26) que intensificam a sonoridade dos versos. Tais rimas já ocorreram no v. 10 (parole di colore) e vão ocorrer também nos v.38-39 (ribelli/fedeli). A caracterização do Inferno como l'aere sanza stelle (v.23) -- imagem recorrente na primeira parte do divino poema -- é algo que impressiona o leitor, e atribui maior força ao seu último verso, no Canto XXXIV, quando os dois poetas, ao sair do Inferno, revêem as estrelas: E quindi uscimmo a riveder le stelle (E dali saímos para rever as estrelas-v.139) (para esse efeito também contribui a afirmação categórica de Caronte, ao embarcar as "almas danadas", de que nunca mais elas verão o céu (cf. v.85 citado acima).
Nos versos 112-117 temos uma outra comparação, na realidade, uma dupla comparação: na primeira, Dante associa as almas dos condenados vindos um a um para a barca de Caronte com as folhas que se desprendem da árvore no outono; na segunda, a associação é com o falcão amestrado do caçador, que retorna à prisão a um gesto dele:
Come d’autunno si levan le foglie
l’una appresso de l’altra, fin che ‘l ramo
vede a la terra tutte le sue spoglie,
similemente il mal seme d’Adamo
gittansi di quel lito ad una ad una,
per cenni come augel per suo richiamo.
(“Como no outono as folhas se desprendem/ uma depois da outra, até que o ramo/ vê na terra todos os seus despojos,/ similarmente as más sementes de Adão/ desceram da margem uma por uma/ ao aceno, como um falcão vem, quando chamado.”)
T.S.Eliot, no “The Waste Land” (3), faz alusão nos versos 55-57 do Canto III ao referir-se à gente anônima que vê deslocar-se por uma rua de Londres a caminho do trabalho:
Unreal City,
Under the brown fog of a winter dawn,
A crowd flowed over London bridge, so many,
I had not thought death had undone so many.
Os versos do Canto III são aqueles em que Dante-personagem nota vir atrás da bandeira “tão longa fila/ de gente que eu nunca acreditaria/ que a morte tivesse desfeito tantos”:
/.../ si lunga tratta
di gente, ch' io non averei creduto
che la morte tanta n'avesse disfatta (v.55-57).
NOTAS
(1) “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”. 1a ed., Nova Fronteira,s.d.
(2) Dante Alighieri- “Obras Completas, v.2- S.Paulo: Editora das Américas, s.d.-tradução em prosa, introdução e comentários pelo Mons. Joaquim Pinto de Campos- p.53-65
(3) T.S. Eliot- “Collected Poems 1909-1962”. Great Britain, Faber and Faber,1986- p.65 e 81 (Notes)
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Cultura
Lygia Marina de Moraes, musa de Tom Jobim, revela como conheceu o músico
Em entrevista ao 'Conversa com Bial' nesta quarta-feira (17), ela conta detalhes do encontro que inspirou a música 'Lígia', e que terminou na casa da escritora Clarice Lispector
2 min de leitura
Redação Marie Claire
17 Ago 2022 - 16h12 Atualizado em 17 Ago 2022 - 16h12
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Lygia Marina de Moraes é a entrevistada do Conversa com Bial desta quarta-feira (17) (Foto: Globo/Divulgação)
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Lygia Marina de Moraes, musa inspiradora de Tom Jobim, é a entrevistada do programa Conversa com Bial desta quarta-feira (17). Foi para ela que o lendário músico dedicou a canção Lígia, inspirada no momento em que se conheceram. Na entrevista, ao lado do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, Lygia fala sobre a cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente o bairro de Ipanema e sua importância para as mulheres.
+ Contemporânea: Danuza Leão, cronista implacável, morre aos 88 anos no Rio de Janeiro
Para ela, o local era um símbolo de emancipação feminina na época. Lygia, que atualmente trabalha no livro Música na Alma, construído a partir de letras de música, conheceu Tom no bar Veloso, em Ipanema, quando estava com uma amiga.
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“Só havia nós no botequim. Cecília e eu sentamos em uma mesinha, na varanda. Estava absolutamente vazio, e lá no fundo só uma mesa estava ocupada com Tom [Jobim] e Paulo Góes, fotógrafo, que eu conhecia de vista em Ipanema", revela a Pedro Bial.
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"Eu disse para Cecília: ‘Olha quem está lá no fundo, é Tom Jobim. Lamento, mas não vou sair daqui, não, ele está ali olhando para mim’", relembra. "Fui ao toalete e, querendo ou não, passei pela mesa deles. Quando eu voltei, obviamente Tom estava na minha mesa, viu que eu não estava sozinha, que estava com uma conhecida, e mudou-se para a nossa mesa", conta.
Lygia ao lado de Joaquim Ferreira dos Santos e de Pedro Bial (Foto: Globo/Divulgação)
Lygia ao lado de Joaquim Ferreira dos Santos e de Pedro Bial (Foto: Globo/Divulgação)
O papo rolou com muito chopp e Tom Jobim convindou as duas a ir, com ele, à casa de Clarice Lispector. "E fomos, fomos para o Leme e a lembrança que eu tenho é muito engraçada, porque quando Clarice abriu a porta, encontrou o Tom com as mãos sobre os nossos ombros, de Cecília e meu, uma de cada lado, e visivelmente Clarice não achou nenhuma graça naquela cena", diverte-se.
+ Obrigada, mas passo: Helô Pinheiro conta que disse não a pedido de casamento de Tom Jobim: "Eu era virgem"
"Hoje, olhando para trás, vejo que não era comum duas mulheres sozinhas em um bar durante a semana. A maioria das minhas amigas iam nos finais de semana, acompanhadas do namorado", pontua Lygia.
"Então, foi aquela coisa: 'Que mulheres são essas? Como é que fica no bar, sozinha...’", relembra. "Mas por que não, né? Por que eu não podia?”, finaliza.
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Filmagem de 1929 de Noel Rosa (raro)
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Roberto Carelli
19 de ago. de 2022
Esta é a única filmagem existente de Noel Rosa, onde ele aparece com seus colegas do grupo "Bando de Tangarás" interpretando "Vamos Fallá do Norte", composição de Almirante (que aparece em pé cantando). Na filmagem também aparece Braguinha (sentado ao centro) e também Alvinho, Abelardo Braga e Henrique Brito.
A filmagem foi feita em 1929 no Estúdio Benedetti, no bairro do Catete, Rio de Janeiro, e permaneceu desaparecida por décadas até seus negativos serem reencontrados por acaso pelo cineasta carioca Alexandre Dias da Silva.
Observe que Noel é o mais estático do grupo, pois devido a sua típica deformidade do queixo, ele evitava virar a cabeça para o lado onde a deformação era mais visível.
Nascido em 1910 no bairro de Vila Isabel, zona norte do Rio, Noel Rosa ficou conhecido como "O Poeta da Vila", tendo composto mais de 200 músicas, principalmente sambas que retratavam a vida no Rio e no Brasil dos anos 20 e 30, entre os quais podemos citar "Com Que Roupa?", "Fita Amarela", "Papo de Botequim", "São Coisas Nossas", "Cidade Mulher" e "Palpite Infeliz".
Noel Rosa faleceu com apenas 26 anos de tuberculose, deixando seu nome na história como um dos mais importantes compositores da MPB.
Roberto Carelli
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Mônica Salmaso - "Caipira" - Caipira
Biscoito Fino
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05
15
Acordou
Levantou
La se foi
La se vai
La irai
Sua terra tem sabia laranjeira
Onde não se sabia laranjar
Lá sábia sabiar
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I Te Deum
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Orquestra Filarmônica de Minas Gerais - Tema
23 de ago. de 2023
Provided to YouTube by The Orchard Enterprises
I Te Deum · Orquestra Filarmônica de Minas Gerais · Fábio Mechetti · Pedro I
Pedro I Of Brazil - Te Deum Credo
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Como o fico fortalece a pauta de Múcio - Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico
Pedido de comandantes ao presidente para que o ministro da Defesa permanecesse pode reforçar a pauta das reformas
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, receberá o almirante Alvin Holsey, primeiro negro a assumir o Comando Sul dos Estados Unidos, unidade militar que lida com a América do Sul.
É o primeiro contato entre autoridades da Defesa dos dois países. Holsey foi nomeado e empossado na função nos últimos dias de Joe Biden no poder. Tanto sua antecessora, Laura Richardson, quanto o ex-secretário de Defesa, Lloyd Austin, se manifestaram publicamente, em visitas ao continente, sobre a defesa da democracia contra “ameaças autoritárias” internas e externas.
O substituto de Austin, o senador e ex-comentarista da Fox News, Pete Hegseth, teve sua indicação aprovada pelo Senado numa votação apertada de 51x50, com o voto de minerva do vice-presidente JD Vance, contra o voto de três republicanos, entre os quais do ex-líder do partido, Mitch McConnel, numa sessão em que foi confrontado com acusações de assédio sexual, alcoolismo e desconhecimento das Forças Armadas.
Não se espere, portanto, um comportamento em consonância com o Pentágono do novo secretário de Defesa americano. Ele foi escolhido por ser dissonante. Já o almirante Alvin Holsey tomou posse do Comando Sul dizendo que as “parcerias” são a melhor forma de dissuasão para a segurança e a economia.
É nessa toada institucional, voando baixo para escapar do radar das hostilidades de Donald Trump, que o Brasil espera manter a relação na área de Defesa. Se há, no governo, quem pretenda ir para o embate, não conte com o ministro José Múcio. Pela reação frente à ameaça tarifária, tampouco com a Fazenda ou o Itamaraty. O primeiro por temer o impacto inflacionário de uma guerra tarifária e o segundo, por acreditar numa negociação, a exemplo do que aconteceu no primeiro mandato do republicano.
É no front doméstico que parecem estar as maiores batalhas da Defesa. A principal é a reforma da previdência dos militares, incluída nas 25 (só isso?) prioridades da Fazenda para a pauta legislativa. Até dezembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrava-se disposto a aceitar a regra de transição de 17 anos para a aposentadoria aos 55 anos proposta pelas Forças Armadas.
Com a exibição de um vídeo, na Praça dos Três Poderes, no dia do Marinheiro, ficou configurada a deslealdade. A peça, de contestação aos privilégios militares, incluiu um recruta igualzinho ao ministro Fernando Haddad rastejando na lama. Na véspera, os três comandantes haviam almoçado com o presidente e o ministro da Defesa. Lula quis demitir o almirante Marcos Olsen e foi convencido por Múcio de que seria trocar seis por meia dúzia. Voltou atrás, porém, na previdência e mandou seguir com a versão do PL da Fazenda que prevê transição de sete anos.
A decisão inquietou a caserna, a pressão sobre Múcio aumentou e, em seguida, vazou para a imprensa a informação de que o ministro havia pedido sua demissão pelo desgaste que a função lhe causava. Foi um alvoroço. Dois ministros do Supremo Tribunal Federal foram acionados pelos comandantes para fazer chegar a Lula sua inconformidade com a saída de Múcio. Foi assim que o ministro decidiu ficar, agora mais fortalecido para enfrentar a farda e, principalmente, os pijamas na reforma da previdência militar.
A inconformidade resiliente, inclusive de ex-comandantes da Marinha que inundam o celular do ministro, já o levaram a dizer a interlocutores que pegou leve no episódio, resolvido com um pedido de desculpas de Olsen a Lula e nenhuma sanção interna.
Se, na caserna, a reforma da previdência é a principal frente de batalha, no governo o embate se dá em torno da proposta de emenda constitucional que manda para a reserva os militares que queiram disputar eleições. Depois de quase mofar na Casa Civil, foi enviada ao Senado sob a relatoria de Jorge Kajuru (PSB-GO), senador folclórico cuja escolha revela a desimportância dada pelo governo ao tema.
Policiais militares temem a inserção de uma emenda que estenda para eles a vedação e, além do Congresso, pressionam ex-governadores da Esplanada. A PM baiana entra nessa, apesar de ter, na sua folha de serviços, a morte de um Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope e matador de aluguel, cercado e sozinho no interior do Estado. A chancela da Casa Civil não se mantém travada apenas para a Defesa. Também tem sido assim com a PEC da segurança pública, advogada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
O golpismo insepulto pela demora da denúncia do Ministério Público Federal tampouco favorece a pauta militar. Múcio tem defendido o processo judicial para que não pairem suspeitas de que as Forças Armadas estiveram envolvidas. A sensibilidade do tema é tamanha que o Alto Comando do Exército já decidiu não dar a quarta estrela ao general Gustavo Henrique Dutra, que não está entre os investigados mas tinha sob suas ordens o Comando Militar do Planalto.
O sucesso de “Ainda estou aqui”, quinta maior bilheteria nacional, tampouco favorece a pauta, até porque já houve um pedido de desculpas de um comandante-em-chefe (Fernando Henrique Cardoso), mas não do comando militar. A plateia de mais de 4,1 milhões de brasileiros conta com dois comandantes mas ainda não arrebanhou o ministro da Defesa. O embate entre as pressões militares e a necessidade de reformas pode ser desempatado em Hollywood.
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"A principal é a reforma da previdência dos militares, incluída nas 25 (só isso?) prioridades da Fazenda para a pauta legislativa." 'QUEM TEM 25 PRIORIDADES NÃO TEM NENHUMA.'
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RODA VIVA | JOSÉ MÚCIO MONTEIRO | 10/02/2025
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Roda Viva
Transmissão ao vivo realizada há 20 horas Roda Viva
O Roda Viva entrevista José Múcio Monteiro, ministro da Defesa.
O ano de 2024 terminou com muitas especulações sobre a possível saída de José Múcio Monteiro do Ministério da Defesa, mas ele permanece no cargo e participa, ao vivo, do Roda Viva.
Nesta edição, participam da bancada de entrevistadores: Geralda Doca, repórter do jornal O Globo; Cézar Feitoza, repórter do jornal Folha de S.Paulo; Raquel Landim, colunista do UOL; Monica Gugliano, colunista do Estadão; e César Felício, repórter especial e colunista do Valor Econômico.
Com apresentação de Vera Magalhães, as ilustrações em tempo real são de Luciano Veronezi.
Assista à íntegra:
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José Múcio
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