segunda-feira, 13 de novembro de 2023

"VANGUARDA ESCLARECIDA"

TIÃO - Diretor de cinema e estrangeiro por luxo. Seu filho, meu pai, tá de caminho feito. O que é que diz aí a vanguarda esclarecida? ------------
---------- Toledo recebeu este retrato das mãos do Rei do Futebol. — Foto: Autoria não identificada ---------- 22 candidatos, baixarias e polarização: a eleição de 1989 --------- Jornal O Globo No dia 15 de novembro de 1989 foi realizada a primeira eleição para presidente com voto popular, após a redemocratização. O pleito teve 22 candidatos e foi marcado por discursos agressivos, calúnias e polarização política. Fernando Gabeira, Merval Pereira, Ascanio Seleme, Paulo de Tarso e Lula Vieira analisam aquela eleição. ____________________________________________________________________________________ ----------
---------- Fernando Gabeira - Os limites da guerra O Globo Se as guerras ainda aniquilam vidas civis, preconceitos servem para racionalizar o massacre Em 1209, a população de Béziers, na França, foi massacrada. As cruzadas, a mando do Papa Inocêncio III, realizaram a tarefa. O representante do Papa, Arnaud Amalric, incapaz de distinguir hereges e religiosos, disse a frase que entrou para a História: — Matem todos, Deus reconhecerá os seus. A questão da morte de inocentes em guerra perpassa os séculos. Depois da Segunda Guerra, houve grandes julgamentos: Nuremberg e Tóquio. As potências ocidentais passaram a sensação de que as leis humanitárias internacionais seriam respeitadas a partir daquele momento. Depois disso, vieram conflitos no Vietnã, Afeganistão, Iraque, e os americanos não foram julgados. De nada adiantaria, pois não aceitam o Estatuto de Roma, muito menos um tribunal internacional. No entanto, em 2022, em Dublin, Estados Unidos, Brasil e mais 81 países firmaram um importante documento de proteção a civis durante uma guerra. O compromisso é não apenas restringir bombardeios que possam matar inocentes, mas reparar os possíveis danos colaterais. Israel não assinou o documento. Mas poderia ser levado pelos Estados Unidos a considerar cada vez mais a questão de poupar vidas. Há um longo caminho subjetivo para chegar lá. É importante contestar a tese de que não existem inocentes em Gaza e de que mesmo as crianças são educadas para odiar. Da mesma forma, é essencial ver Israel como uma sociedade diversa, em que nem todos partilham a ideia de povo prometido ou mesmo da supremacia judaica. As próprias organizações terroristas tornaram-se mais frias e cruéis que no passado. Há algum tempo, Moacyr Góes encenou a peça de Camus “Os justos”. Participei de um debate sobre ela em que se discutia o adiamento de um atentado ao arquiduque por causa das crianças na carruagem. Os estigmas que a guerra produz em massa estão chegando ao Brasil. Há uma ideia de que a Tríplice Fronteira é uma retaguarda de terroristas. Essa ideia foi inspirada nas investigações da CIA e do Mossad. De fato, houve um caso de colaboração financeira com o Hezbollah. De fato, andando pelas ruas de Foz de Iguaçu, sente-se a presença forte da colônia árabe, assim como nos hotéis de luxo inúmeros visitantes muçulmanos são vistos no saguão. Mas a colônia árabe em Foz do Iguaçu parece perfeitamente integrada ao clima pacífico do Brasil. Durante a guerra, não houve manifestações de rua como em Londres ou Paris. Nessas capitais europeias, o apoio aos palestinos é muito evidente. Em algumas concentrações, as pessoas chegam a gritar o slogan “From the river to the sea”, a geografia de um Estado árabe que vai do Rio Jordão ao Mediterrâneo, portanto, suprimindo Israel. Tenho lido artigos em jornais londrinos criticando as organizações muçulmanas, como o Conselho Muçulmano Britânico. Na França, houve proibição de manifestações porque elas associavam o terrorismo do Hamas aos palestinos. Rigorosamente, portanto, as capitais europeias são um centro de apoio à causa palestina muito mais ativo, rumoroso e radical. No entanto não há o estigma, como não poderia haver, de associá-las ao terrorismo Digo isso tudo porque fui à Tríplice Fronteira, falei com muita gente, e a maioria não entende por que se suspeita tanto da região, mergulhada em seu cotidiano e vivendo a relativa harmonia da vida no Brasil. Não significa que não se deva investigar. Pelo contrário, se o Hezbollah pensou em fazer atentados no Brasil, é algo muito sério em termos de relações internacionais. O Hezbollah depende do Irã, que sempre recebeu um tratamento respeitoso do Brasil. Recentemente, um porta-helicópteros e uma fragata do Irã atracaram no Rio. Houve críticas dos Estados Unidos e de Israel. Esse período de guerra se apresenta também como um campo minado, no campo subjetivo. É preciso andar com muito cuidado, pois, se as guerras ainda aniquilam vidas civis, preconceitos servem para racionalizar o massacre. No calor da paixões, contribuímos inconscientemente, às vezes, para que frases do tipo “matem todos” não desapareçam da história da humanidade. ____________________________________________________________________________________ ----------- -------------- Pot-Pourri:Palhaço / Degraus da Vida / Rugas / Notícia / Folhas Caídas / Luz Negra / A Flor e... ____________________________________________________________________________________ -------------
---------- Ruy Castro - Para quando você for viajar Folha de S. Paulo Programa no Bates Motel, jantar no Potemkin e nadar com o Monstro da Lagoa Negra —que tal? Leio no New York Times que um "must" do Halloween nos EUA é casar e passar a primeira noite no Stanley Hotel, perto das Montanhas Rochosas, no Colorado. A cama é um caixão, as mesas são decoradas com corações de porco e há cursos avançados de reencarnação. O Stanley é o hotel em que Stephen King situou a história de seu romance "O Iluminado", filmado em 1980 por Stanley Kubrick. Neste, Jack Nicholson, surtado e possuído, tenta matar sua mulher a machadadas. Romântico, não? Inspirado nisso, pensei em outros programas que poderão interessar aos casais menos ortodoxos. Levar a garota para o Bates Motel. Almoçar no restaurante do Encouraçado Potemkin. E jantar na casa da família Addams. Passar o fim de semana na Bodega Bay, em San Francisco. Fazer consulta médica com o Dr. Jekyll e terapia com o Dr. Caligari. Mergulhar na Lagoa Negra, na Amazônia. E, para os rapazes, apaixonar-se em Tóquio por Eiko Matsuda; para as moças, deixar-se beijar por Jaws. Para os que não ligaram alguns nomes à figura, o Bates Motel é aquele de "Psicose", de Hitchcock, em que Janet Leigh é esfaqueada no chuveiro. No restaurante do Potemkin, a carne vinha temperada com larvas. E a especialidade da sra. Morticia Addams era morcegos ao molho pardo. Bodega Bay é onde se passa "Os Pássaros", também de Hitchcock. E o suave, mas imprevisível Dr. Jekyll, o médico, às vezes se transformava em Mr. Hyde, o monstro. O Dr. Caligari, de "O Gabinete do Dr. Caligari", era um louco que se fazia passar por psiquiatra ou vice-versa e tinha como assistente um zumbi. Nas profundezas da Lagoa Negra, vivia o monstro da dita cuja. Eiko Matsuda é a sensível amante que, para gozo supremo do namorado, a pedido dele, decepa-lhe o pênis de um golpe em "O Império dos Sentidos". E Jaws é o inimigo de James Bond que tenta cortar o cabo do Pão de Açúcar com os dentes. Reserve passagens no Titanic. ____________________________________________________________________________________ --------- ----------- Assim Caminha a Humanidade Lulu Santos ____________________________________________________________________________________ ---------- Assim Caminha a Humanidade Lulu Santos Ainda vai levar um tempo Pra fechar o que feriu por dentro Natural que seja assim Tanto pra você quanto pra mim Ainda leva uma cara Pra gente poder dar risada Assim caminha a humanidade Com passos de formiga e sem vontade Não vou dizer que foi ruim Também não foi tão bom assim Não imagine que te quero mal Apenas não te quero mais Ainda vai levar um tempo Pra fechar o que feriu por dentro Natural que seja assim Tanto pra você quanto pra mim Ainda leva uma cara Pra gente poder dar risada Assim caminha a humanidade Com passos de formiga e sem vontade Não vou dizer que foi ruim Também não foi tão bom assim Não imagine que te quero mal Apenas não te quero mais Não te quero mais Não mais Não vou dizer que foi ruim Também não foi tão bom assim Não imagine que te quero mal Apenas não te quero mais Não te quero mais Não mais Não te quero mais Não, nunca mais Composição: Lulu Santos. ____________________________________________________________________________________
---------- Cacá Diegues - O mito da Bazinha O Globo Os pensadores e os artistas brasileiros têm obrigação de aprender a voar Ainda em Maceió, eu ainda era uma criança. Uma negra baixinha e magra, carinhosa, que a gente chamava de Bazinha, costumava me botar para dormir cantando canções e contando histórias que, para mim, só ela devia conhecer. Numa dessas histórias, Bazinha dizia que o Zumbi dos Palmares ainda estava vivo, escondido nas matas da Serra da Barriga, ali pertinho de Maceió. Ninguém pegava o Zumbi, porque ele sabia voar. Não preciso explicar a impressão que essa história produzia em mim, nem a importância que ela teve ao longo de minha vida como cidadão e artista brasileiro. O Zumbi se tornou, para mim, um herói a decifrar. Mais recentemente, comecei a entender melhor a história da Bazinha e por que ela me impressionara tanto. Nenhum inimigo alcançava o Zumbi, porque ele sabia alçar voo acima de suas cabeças, longe da perfídia de suas armas vulgares, aquelas que só podem ferir quem não é capaz de deixar o duro chão do que costumamos chamar de realidade. O Zumbi sabia voar. Contei essa história e suas consequências pessoais na homenagem que me prestaram na Universidade Estadual de Alagoas, a Uneal, no momento em que o estado festejava 200 anos de sua emancipação. Disse que, hoje, são os pensadores e os artistas brasileiros que têm a obrigação de aprender a voar. Estamos vivendo num país que se desmantela política e culturalmente entre ódios falsos e falsas ideias sobre um futuro que já cortejamos tanto. Um futuro que nunca chega e, às vezes, até parece que já passou. Apesar de tudo, durante a ditadura militar, era mais fácil pensar o Brasil daquele momento e escolher um rumo a tomar. Tínhamos quase todos o mesmo horror ao que nos sucedia, ninguém duvidava de que a luta prioritária era contra o autoritarismo, a ausência de liberdade. Da esquerda mais radical ao mais radical liberalismo, ninguém precisava pensar muito para se unir em torno desse projeto de superação da ditadura. Ninguém precisava voar. Hoje, apesar das causas justas, das justas críticas a governantes e políticos em geral, da indispensável denúncia de desgoverno, estamos também usando nossa liberdade para nos autodestruir, mesmo que involuntariamente. Enquanto enfrentamos o que escolhemos por inimigo, atingimos muitas vezes a liberdade de outras pessoas a nosso lado, às quais não damos o direito de pensar diferente de nós, “inimigos” inventados por nossa histeria que devem ser eliminados apenas por não pensarem como nós. É nosso direito combater as ideias com que não concordamos. Mas nenhum pensamento, mesmo o mais pérfido, merece ser eliminado porque não estamos de acordo com ele. Essa é a única garantia de que vivemos uma cultura democrática. Precisamos refundar o Brasil já, reinaugurá-lo do ponto de vista cultural, político e institucional, do ponto de vista de sua economia seletiva e da gigantesca desigualdade social em que vivemos. Precisamos dar um fim à tradição da escravidão em nossa história, aos males deixados pelas oligarquias que nos governaram e ainda governam. Dar um fim à dor da fome, toda fome, entre nós. Essa invenção do Brasil não pode ser construída com um pensamento excludente, que precisa eliminar o seu contrário para existir, que propaga o ódio à diferença. Nós, que somos o resultado de um caldinho de culturas, que somos o único país do mundo originado de uma improvável sopa ibero-afro-indígena, não podemos desprezar nenhuma fonte do que somos. Apesar de toda injustiça cometida ao longo de nossa história, sempre sonhamos com uma cultura mestiça numa sociedade miscigenada, um mito nunca realizado. Mas onde existe um mito, existe necessariamente um projeto, mesmo que seja inconsciente. Ou inconsistente. E esse projeto, de vez em quando, se revela entre nós, como na adoção da música de origem africana como a música brasileira por excelência ou na eleição romântica do índio como símbolo popular da pátria. Temos uma vocação evidente para a criação e a poesia, vivendo constrangidos entre a miséria humana e a exuberância da geografia, nessa mistura de exaltação e melancolia que somos. Como está em Jorge de Lima, meu poeta preferido: “Debruça-te sobre tua voz e escuta as vozes que vêm nela./ As ressonâncias de ti próprio que nasceram contigo./ Os bramidos dos ventos nas tuas velas rotas”. Confiando em nossas pobres velas rotas, mas firmes e fiéis, aprenderemos a voar como o herói da Bazinha nos Palmares." Texto 1: "A Arte da Decupagem no Cinema" Título: Desvendando a Decupagem: Do Roteiro à Tela No intricado mundo cinematográfico, a decupagem emerge como uma arte essencial, oriunda do francês découpage, que significa recortar. Este processo, que teve seu ápice na França nos anos 1950 e 1960, transcende a simples divisão de cenas, permeando desde a planificação do roteiro até a montagem final, moldando a visão do diretor e garantindo a coesão visual e temporal do filme. Introdução: A palavra decupagem, originária do francês découpage, transcende o simples ato de recortar para tornar-se uma peça fundamental no intricado quebra-cabeça do cinema. Neste contexto, a Academia Internacional de Cinema a define como o processo de dividir as cenas de um roteiro em planos, consolidando-se como a espinha dorsal que guia a visão do diretor desde a pré-produção até a sala de edição. Seu surgimento remonta aos anos 1910, quando o cinema ganhava status de atividade industrial, exigindo uma padronização nos processos. No entanto, foi nas décadas de 1950 e 1960, na França, que a decupagem consolidou-se como o fio condutor que liga a planificação do roteiro à montagem final. O termo, inicialmente dividido entre decupagem (relativa à forma do filme) e decupagem técnica (detalhamento dos planos), evoluiu para abranger não apenas aspectos técnicos, mas também estéticos e industriais na concepção cinematográfica. A importância da decupagem torna-se evidente ao servir como guia para a equipe, assegurando uma execução coesa do filme. O diretor, ao "ver o filme" em sua mente, traduz o roteiro em imagens, decidindo sobre planos, enquadramentos, movimentos de câmera e tipos de lente. Essa minuciosa planificação não apenas facilita a compreensão da equipe, mas também otimiza o uso de recursos, proporcionando uma experiência unificada aos espectadores. Conclusão: Assim, a decupagem revela-se não apenas um recorte técnico, mas uma expressão artística que transcende a mera divisão de cenas. Na eloquente citação de Luis Buñuel, a decupagem é a operação que pulsa com a intuição do filme, criando algo novo ao dividir e transformar. Nesse universo complexo, a decupagem emerge como o alicerce que transforma um roteiro em uma obra cinematográfica coesa, guiando o diretor desde a concepção até a materialização da visão nas telas. Texto 2: "O Poder de Voar: Uma Lição de Bazinha" Título: A Lição de Bazinha: O Poder de Voar na Cultura Brasileira Na efervescente Maceió, as histórias de Bazinha ecoavam, trazendo consigo uma lição única: o poder de voar. Em meio a narrativas envolventes, Bazinha revelava o mito de Zumbi dos Palmares, um herói que desafiava as adversidades ao elevar-se acima, simbolicamente voando. Em tempos tumultuados, Cacá Diegues reflete sobre a importância dessa lição em um Brasil que clama por uma reinvenção cultural, política e institucional. Introdução: Em Maceió, nas palavras carinhosas de Bazinha, nasceu uma lição que transcende gerações e se revela crucial nos dias atuais: o poder de voar. A história do Zumbi dos Palmares, escondido nas matas da Serra da Barriga, simboliza a capacidade de sobrevoar as adversidades e desafiar o status quo. Cacá Diegues, em sua reflexão, ressalta a importância desse mito em um Brasil que busca se reinventar. A narrativa de Bazinha sobre Zumbi dos Palmares, capaz de voar e escapar de seus inimigos, deixa uma marca indelével na mente de Cacá Diegues. Esse mito, para o diretor, se torna uma metáfora essencial para os pensadores e artistas brasileiros contemporâneos. Em meio à turbulência política e cultural, Diegues destaca a necessidade de aprender a voar, de elevar-se acima das falsas ideias e ódios que fragmentam a sociedade. Ao analisar o cenário atual, Cacá Diegues ressalta que, mesmo durante a ditadura militar, era mais fácil definir um rumo coletivo. Hoje, no entanto, a liberdade conquistada é utilizada, por vezes, de forma autodestrutiva. A luta contra inimigos reais muitas vezes resulta na supressão da liberdade daqueles que pensam diferente, alimentando uma cultura excludente. Conclusão: Em um apelo à reflexão, Cacá Diegues conclama os brasileiros a refundarem o país, a reinaugurá-lo cultural, política e institucionalmente. A necessidade de superar a tradição da escravidão, confrontar as oligarquias e eliminar a desigualdade social torna-se urgente. E nesse processo de reconstrução, a lição de Bazinha ecoa: aprender a voar, assim como o herói Zumbi dos Palmares, para transcender as adversidades e construir um Brasil inclusivo, onde todas as fontes de sua rica cultura são valorizadas. Texto 3: "Cacá Diegues e o Chamado à Alquimia Cultural" Título: Cacá Diegues: Entre o Íntimo e o Coletivo na Alquimia Cultural Brasileira No panorama cultural brasileiro, Cacá Diegues emerge como um alquimista, transformando a simplicidade em profundidade, o íntimo em coletivo. Seu olhar decupado sobre a sociedade reflete a sobriedade necessária para extrair expressividade das nuances do cotidiano. Em um mundo onde a histeria ameaça a liberdade, Diegues convoca pensadores e artistas a aprenderem a voar, a transcenderem as limitações e reconstruírem o Brasil com base em uma cultura democrática e inclusiva. Introdução: Cacá Diegues, um alquimista cultural, tece sua visão sobre o Brasil, explorando a dualidade entre o íntimo e o coletivo. Sua decupagem cuidadosa revela a sobriedade necessária para expressar as nuances do cotidiano, evitando a verborragia em favor de uma narrativa visualmente rica. Nesse contexto, Diegues convoca os pensadores e artistas a aprenderem a voar, a transcenderem as limitações impostas pela histeria contemporânea. A narrativa de Diegues, fundamentada na infância e nas histórias de Bazinha, ressalta o poder de voar como uma metáfora para a liberdade e a capacidade de transcender as adversidades. Em um Brasil fragmentado, Diegues destaca a urgência de refundar o país, romper com tradições injustas e construir uma sociedade democrática e inclusiva. A alquimia cultural proposta por Diegues envolve a valorização das múltiplas fontes que compõem a rica mistura cultural brasileira. A reflexão sobre o momento atual evidencia que, embora as causas justas sejam defendidas, a liberdade conquistada está ameaçada pela histeria que exclui qualquer pensamento discordante. Diegues conclama a reconstrução do Brasil, confiando nas "velas rotas" da cultura brasileira, mas firmes e fiéis, capazes de nos ensinar a voar. Conclusão: Assim, Cacá Diegues, ao decupar a sociedade brasileira, revela um chamado à alquimia cultural, à transformação do cotidiano em arte, do íntimo em coletivo. O convite à aprendizagem do voo simboliza a necessidade de transcender as limitações, construindo um Brasil que valorize todas as suas raízes culturais, uma nação que, apesar das adversidades, aprendeu a voar com a sabedoria de Bazinha e a visão única de seus alquimistas contemporâneos. ___________________________________________________________________________________
------------ Quentin Tarantino é conhecido por escrever roteiros praticamente decupados -------------- O que é uma decupagem? Editado em: 14/05/2019 A palavra decupagem vem do francês découpage (do verbo découper, que significa recortar). Na linguagem audiovisual, diz respeito ao processo de dividir as cenas de um roteiro em planos, como parte do planejamento da filmagem. ----------
----------- Alfred Hitchcock, um verdadeiro mestre da decupagem ____________________________________________________________________________________ -----------
-------------- O detalhismo na decupagem era uma das características do diretor Stanley Kubrick ____________________________________________________________________________________ ------------ "A palavra decupagem vem do francês découpage (do verbo découper, que significa recortar). Na linguagem audiovisual, diz respeito ao processo de dividir as cenas de um roteiro em planos, como parte do planejamento da filmagem." -----------
------- ELES NÃO USAM BLACK TIE ---------- ROMANA - Minha filha deixa esse Tirone Pover aí e me ajuda a levar esses pratos lá pra fora. O pessoal deve tá chegando. TIÃO - Caçoa, caçoa que não te dou entrada de graça! MARIA - Até que seria bom, hein! TIÃO - Seria não, minha nega, vai sê! (Saem as duas levando os pratos.) OTÁVIO - É sério isso? TIÃO - Ora se é, tá aqui o cartão! OTÁVIO (lendo) - Di Rocca. Brasileiro 100%. TIÃO - Diretor de cinema e estrangeiro por luxo. Seu filho, meu pai, tá de caminho feito. O que é que diz aí a vanguarda esclarecida? OTÁVIO - Que tá tudo podre e que é preciso dá um jeito, isso, é que devia dizê. Mas esses vagabundos de intelectuais ficam discutindo se o velho era um filho da mãe, ou não, se os bigodes atrapalharam ou deixaram de atrapalhar! E aqui continua tudo subindo, ninguém mais pode vivê, e eles discutindo se o velho era personalista ou não! Que vão tomá banho! TIÃO - Tem uma nota sobre a greve na primeira página!. . OTÁVIO - Se até as oito horas da noite não derem o aumento, greve geral na metalúrgica! TIÃO - Ninguém tem peito, pai! _________________________________________________________________________________________________________ --------- ----------- Veronica Ferriani - Nóis Não Usa Os Bleque Tais [12.08.2010] --------- Varal Diverso 2.578 visualizações 17 de ago. de 2010 Ponto de Encontro: 100 anos de Adoniran Barbosa e Noel Rosa. Shopping Santa Úrsula (Ribeirão Preto/SP)
---------- Theatrical release poster Directed by W. S. Van Dyke Screenplay by Donald Ogden Stewart Ernest Vajda Claudine West F. Scott Fitzgerald (uncredited) Talbot Jennings (uncredited dialogue) Based on Marie Antoinette: The Portrait of an Average Woman 1932 biography by Stefan Zweig Produced by Hunt Stromberg Starring Norma Shearer Tyrone Power John Barrymore Robert Morley Anita Louise Joseph Schildkraut Gladys George Henry Stephenson Cinematography William H. Daniels Edited by Robert Kern Music by Herbert Stothart Production company Metro-Goldwyn-Mayer Distributed by Loew's, Inc. Release date July 8, 1938 Running time 150 minutes Country United States Language English Budget $2,926,000[1][2] Box office $2,956,000 (worldwide rentals)[1][2] _________________________________________________________________________________________________________ --------- ---------- Jorge Goulart | Mundo de zinco (1951) ---------- Mundo De Zinco Canção de Jorge Goulart ---------- Aquele mundo de zinco que é Mangueira Desperta com o apito do trem Uma cabrocha, uma esteira Um barracão de madeira Qualquer malandro em Mangueira tem Mangueira fica pertinho do céu Mangueira vai assistir ao meu fim Mas deixo o nome na história O samba foi minha glória E sei que muita cabrocha vai chorar por mim Fonte: LyricFind Compositores: Antonio Nassara / Wilson Baptista Gustavo Lopes Trecho do filme 'Tudo Azul' (1951), produzido pela Flama, sob direção de Moacyr Fenelon. A mesma música saiu em disco Continental e será postada em breve no canal. ____________________________________________________________________________________ ------------- ---------- "Rugas", por Nelson Cavaquinho --------- TV Cultura Sambista fala como conheceu o cantor Cyro Monteiro, o Formigão, responsável pelo lançamento de "Rugas" (1946), música assinada com Augusto Garcez e Ary Monteiro. ---------- ____________________________________________________________________________________ MARIA (falando baixo, entre risos) - Pronto, lá se foi o sapato. . . Enterrei o pé na lama. . . TIÃO - Olha só como tá meu linho! (Passa a mão pela roupa, risonho. Para fora) Ei, Juvêncio! Tocando na chuva estraga a viola! (Pausa. O violão afasta-se.) É um maluco... tocando na chuva. ____________________________________________________________________________________ --------- TEREZINHA (fora) - Viva o noivo! Viva o noivo! ROMANA - Tamo até com porteiro anunciador!... TIÃO (entrando) - Minha santa! A mulher mais feliz do mundo.Fica noiva do rapaz mais bacana da Leopoldina. (Passa a mão pelo cabelo.) Manja só a cabeleira. (Abraça Maria.) Tá bonita, mulher! Como é, mãe... E as comida? ROMANA - Perto do teu pai, diminuindo! OTÁVIO - É intriga. Teu irmão é que tava comendo o tempo todo.. . TIÃO (beliscando no prato) - O noivo tem direito. Bem, gente. . .Hoje é meu dia...Já ganhei presente de noivado. . . ROMANA - Saiu o aumento? OTÁVIO - Que aumento! Sem greve não sai aumento! ROMANA (repreendendo-o) – Otávio!... TIAO - Aumento nada... Tive minha chance no cinema!. . . ROMANA - Como é que é? OTÁVIO - Explica isso! MARIA - Cinema? TIÃO - Cinema, cinema. Vistavisão, Cinemascope e outras vigarice... Cinema!... ROMANA - Ah, vai tomá banho! OTÁVIO - Explica isso! TIÃO - Muito simples. Tou calmamente vindo pra casa quando eu vejo um monte de gente, polícia... Não tava com pinta de ser desastre... Fui espiar não é... Fura aqui, fura ali, cheguei perto das cordas de isolamento... Era uma filmagem! Uma porção de artista, uns cara correndo de lá pra cá, o diretô da fita de boina na cabeça... De repente, o cara de boina me chama...Eu fui, NE...Ele mandou eu andá na frente da máquina e dizer: "Que beleza". E eu disse. MARIA - E depois? TIÃO - Depois ele filmou. Eu andei de novo e repeti: "Que beleza". ROMANA - E quanto tu ganhou? OTÁVIO - Parece gringo! TIÃO - O que eu ganhei? (Tira um cartão do bolso:) Esse cartão! - Cineasta-Antônio Di Rocca - Escritório, Av. Getúlio Vargas. . . ROMANA - Deus faça que esteja em bom lugar! TIÃO - 1.058. Tá bom? MARIA - Mas do que adianta? TIÃO - Meu amor, do que adianta? O homem achou que eu tenho panca pro troço. Mandou eu aparecer por lá pra acertá novos detalhes! OTÁVIO - Não sei, não. TIÃO - É fato minha gente! Tiãozinho diretamente da Leopoldina para a Cinelândia. (Cantarola música de jornal da tela e teatralmente para Maria.) Desde que te vi meu coração ficou partido, minha alma cheia de fogo, agora te abraço e me redimo dos meus pecados. Zi endi! Que tal?! ROMANA - Minha filha deixa esse Tirone Pover aí e me ajuda a levar esses pratos lá pra fora. O pessoal deve tá chegando. TIÃO - Caçoa, caçoa que não te dou entrada de graça! MARIA - Até que seria bom, hein! TIÃO - Seria não, minha nega, vai sê! (Saem as duas levando os pratos.) OTÁVIO - É sério isso? TIÃO - Ora se é, tá aqui o cartão! OTÁVIO (lendo) - Di Rocca. Brasileiro 100%. TIÃO - Diretor de cinema e estrangeiro por luxo. Seu filho, meu pai, tá de caminho feito. O que é que diz aí a vanguarda esclarecida? OTÁVIO - Que tá tudo podre e que é preciso dá um jeito, isso, é que devia dizê. Mas esses vagabundos de intelectuais ficam discutindo se o velho era um filho da mãe, ou não, se os bigodes atrapalharam ou deixaram de atrapalhar! E aqui continua tudo subindo, ninguém mais pode vivê, e eles discutindo se o velho era personalista ou não! Que vão tomá banho! TIÃO - Tem uma nota sobre a greve na primeira página!. . OTÁVIO - Se até as oito horas da noite não derem o aumento, greve geral na metalúrgica! TIÃO - Ninguém tem peito, pai! OTÁVIO - Como não tem peito? Tá esquecido do ano passado? TIÃO - Eu não tava lá. OTÁVIO - Mas eu estava! Deram o aumento ou não deram? TIÃO - Deram parte do aumento, parte! E mesmo assim porque todas as categorias aderiram! Mas agüentá o tranco sozinho, ninguém. OTÁVIO - Espera só a assembléia de hoje e vai ver se tem peito ou não! Eu tinha avisado, hein! O ano passado entramos em acordo com o patrão e foi o que se viu. Agora, aprenderam. TIÃO - E por que entraram em acordo? OTÁVIO - Porque parte da comissão amoleceu. . . TIÃO - Tá vendo, t'aí! Se, em greve de conjunto metade da turma amoleceu. . . OTÁVIO - Metade da turma não senhor! Metade da comissão. TIÃO - E então? OTÁVIO - E então, o quê? Eram pelegos! A turma topava mas tinha meia dúzia deles que eram pelegos. A turma topava, os pelegos deram pra trás. TIÃO - Não, pai. Pro senhor, quem não pensa como o senhor é pelego... OTÁVIO - Nada disso! Eram pelegos no duro. T'aí a prova: ta tudo bem arrumado na fábrica. Tudo chefe e fiscal. O que é isso? Peleguismo, traidores da classe operária. . . TIÃO - Então metade da turma lá da fábrica é pelego, porque tá tudo com medo da greve! OTÁVIO (furioso) - Não diz besteira, seu idiota! A turma que t'aí é a mesma turma que fez greve o ano passado e que agüentou tropa de choque em 51. . . TIÃO - E por isso mesmo 'tão cansados e não querem sabê de arriscá o emprego... OTÁVIO - Tu tá discutindo como um safadol... Pois fica sabendo que lá tem operário e não menino-família pra medrá. ROMANA (entrando) - Não grita tanto homem! Só vive discutindo política!(Pega mais sanduiches e sai.) OTÁVIO (baixando a voz) - Tu vai me dizê com o resultado da assembléia de hoje !(Pausa.) TIÃO - Os pelego que furaram a greve o ano passado tão bem de vida, é? OTÁVIO - Depende do que tu chama de bem de vida. Pra mim eles estão na merda,merda moral que é pior! Se venderam, né! TIÃO - É! (Pausa.) Eu queria casá daqui a um mês, pai! OTÁVIO - Bom! TIÃO - O senhor gosta de Maria, não é, pai? OTÁVIO - Pode ser uma boa companheira! TIÃO - Ela é diplomada, sabia? OTÁVIO - Tua mãe me disse...Que é que tem isso? Diploma não vale nada. Esse governo que t'aí é tudo diplomado! Analfabeta mas honesta, mal educada, falando errado mas com... com aquele (procurando). aquele treco que só a gente tem aqui dentro (bate no peito). Essa é a mulhé que eu queria pra meu filho. . . TIÃO - Além de tudo, ela tem esse... treco, pai! OTÁVIO - Sei não. Tu parece que não tem... TIÃO - Por quê? OTÁVIO - Tu tem medo... TIÃO - De quê? OTÁVIO - Uma porção de medos... Um é de perdê o emprego. TIÃo - Não é medo... OTÁVIO - Então por que tu foi vê se arrumava emprego no escritório da fábrica? TIÃO - Ganha mais. OTÁVIO - Tu também procurou na farmácia do Dalmo... lá ganha menos... TIÃO- Foi só pra ter uma idéia. . . OTÁVIO - Sinceramente? TIÃO - Não tenho nada pra escondê!. . . OTÁVIO - Tu acha que agüenta as luta da fábrica sem medo!... TIÃO - Se os outros agüentá. OTÁVIO - Se não agüentasse? TIÃO - O senhor acha que a turma vai topá a greve? OTÁVIO - A assembléia é hoje à noite.Bráulio tá lá, ele vem com as novidade... t'aí um que tem esse treco... Emprestou dinheiro pra nós...É capaz de vender as calças pra prestá um favor. . . TIÃO - Tem poucos assim! OTÁVIO - Engano. TIÃO - Ninguém vale nada, pai! OTÁVIO - Como você tem medo! TIÃO (irritado) - Mas medo de que, bolas! OTÁVIO (imperturbável) - De ser pobre... da vida da gente! TIÃO (com um gesto de quem afasta os pensamentos) - Ah! Tou é nervoso...tou apaixonado, pai... Não liga, não! Entram Chiquinho e Terezinha. pp. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5012806/mod_resource/content/2/ELES%20N%C3%83O%20USAM%20BLACK-TIE%20-%20GUARNIERI.pdf ____________________________________________________________________________________ ---------- ------------- "Rugas", por Nelson Cavaquinho ------------ Rugas – Nelson Cavaquinho Se eu for pensar muito na vida Morro cedo, amor. Meu peito é forte, Nele tenho acumulado tanta dor. As rugas fizeram residência no meu rosto Não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto. Eu que sempre soube Esconder a minha mágoa. Nunca ninguém me viu Com os olhos rasos d'água. Finjo-me alegre Pro meu pranto ninguém ver. Feliz aquele que sabe sofrer. ____________________________________________________________________________________ Inspirada na peça teatral homônima escrita por Gianfrancesco Guarnieri, o filme acompanha a família formada pelo casal Otávio e Romana e pelos filhos Tião e Chiquinho em São Paulo na década de 1980. O filho mais velho e sua namorada Maria decidem se casar após a descoberta de que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, um movimento grevista eclode e os metalúrgicos da fábrica local se dividem. Então, Tião, preocupado com o casamento e com o emprego, fura a greve e entra em atrito com o pai, um experiente militante sindical que já esteve preso por três anos. Sob uma perspectiva imediata, a política na trama pode ser compreendida como a exploração dos industriais sobre os trabalhadores e a organização da classe trabalhadora na luta por seus direitos. No entanto, o diretor Leon Hirszman tem interesse em expandir a noção de político e aproximá-lo da intimidade da família dos personagens principais. À medida que os eventos se desenrolam, a montagem de Eduardo Escorel faz a narrativa saltar de alguma passagem da vida íntima para questões políticas amplas. É assim que o romance entre Tião e Maria é interrompido pela prisão de um homem negro, uma conversa entre Tião e Otávio é suspensa pela tentativa de fuga de outro homem negro perseguido pela polícia, um diálogo entre Otávio e Romana sobre seu futuro neto é paralisa pela chegada de Bráulio com a notícia de que a greve havia sido aprovada pela assembleia. Apesar de a política parecer o contrário da intimidade familiar, elas se complementam com o passar do tempo. A complementariedade se dá pela maneira como o relacionamento entre pai e filho se torna subtexto para o conflito entre patrões e empregados. As diferenças de personalidade entre os dois personagens e as posições antagônicas em relação à greve geram instabilidade na família, pois suas crenças políticas interferem nos valores morais que ambos possuem para o cotidiano em casa. Tião pode parecer amoroso e devotado à namorada, mas, gradativamente, Carlos Alberto Riccelli o faz demonstrar um individualismo crescente (entende o direito à greve como algo apenas individual que não é exercido coletivamente e dispensa a experiência dos ensinamentos do pai) e uma postura de controle sobre Maria (ordena a ela para não participar da greve). Otávio pode sugerir um temperamento voltado exclusivamente para o sindicalismo no modo como se engaja com as lutas operárias, porém Gianfrancesco Guarnieri revela afeto e decepção pelo filho ao, respectivamente, ouvir um pedido de desculpas após uma briga e observar a decisão do rapaz favorável aos empresários (emoções que rendem a poderosa cena final entre os dois). Romana e Maria também cumprem um papel relevante para a integração entre privado e público. A mãe pode parecer o estereótipo da mulher dona de casa que apenas cozinha, passa roupa e faz os demais serviços domésticos. Seria algo simplista para a personagem, já que Fernanda Montenegro a faz ser a base da família, entendida pela trama como uma coletividade tal qual o sindicato que precisa de um senso de organização, das boas relações de seus membros e do diálogo para a concretização de seus objetivos (ela aborda o filho, convencendo-o a se desculpar com o pai, orienta Tião e Otávio sobre medidas de segurança em dias de greve e ajuda a libertar o marido da prisão). A namorada poderia se ater à figura dependente que faz de tudo para agradar Tião, estando inclusive aberta à ideia de aborto se ele assim quisesse. Porém, Bete Mendes faz a personagem percorrer um arco de conscientização social de classe que envolve a adesão ao movimento grevista e a confrontação do namorado em virtude das decisões tomadas por ele no que se refere ao apoio do pai. Leon Hirszman incorpora o princípio de politização da dimensão pessoal dos personagens na encenação do filme. O trabalho criativo do diretor dialoga com outras expressões artísticas que, aparentemente, não teriam ligação direta, mas se tornam coerentes para a proposta geral de pensar a política inserida em um universo cotidiano e deixando consequências profundas. A desestruturação familiar remete às histórias de tragédia shakespeariana tal qual escritas pelo famoso autor britânico, nas quais um protagonista com o qual o público pode se identificar decai por suas fraquezas e gera perdas e mortes a quem está ao seu redor. Ao mesmo tempo, a narrativa se assemelha à abordagem realista do Neorrealismo italiano, da qual o Cinema Novo, movimento cinematográfico que contou com a participação de Leon Hirszman em filmes como “A falecida” e “Cinco vezes favela“, inspirou-se. Essa inspiração se manifesta na utilização de temas sociopolíticos e no emprego de um estilo documental, ambas as características percebidas nas filmagens em locações dos operários durante seu trabalho e em greve. O princípio da alternância entre o íntimo e o coletivo move a decupagem do diretor. A sobriedade faz com que muitas sequências sejam expressivas graças aos movimentos de câmera e a delimitação dos planos, não precisando de momentos tão verborrágicos em que os personagens têm que anunciar o sentimento geral da situação. Por exemplo, quando Romana tenta conter uma discussão entre o marido e o filho durante a refeição, é possível perceber o padrão de alternância entre closes na personagem e planos gerais sobre o cenário como um todo. Esta característica se repete em outras cenas nas quais o movimento dramático passa pela criação de um conflito maior e pelo reconhecimento do estado de espírito dos personagens. Outra abordagem de Leon Hirszman é o uso expressivo do espaço na última sequência de Tião com seus pais, já que a discussão com Otávio é vista a partir da superioridade moral do homem mais velho que está em um ponto mais alto do quintal e a despedida de Romana é vista na mesma perspectiva do filho porque ambos estão no mesmo patamar do terreno. O pessoal também pode ser político. É o que “Eles não usam black tie” desenvolve ao acompanhar a jornada de desestruturação familiar e política de Tião, Otávio, Romana e Maria por culpa da repressão governamental ao movimento sindical no fim da ditadura civil-militar brasileira. Esta proposta dramática e estética pode ser concluída através de três sequências em que nenhum diálogo formal é feito: o contraste entre o plano mais fechado em um Tião solitário e um plano geral de pessoas comovidas em um velório, o silencioso e doloroso processo de catar feijão feito por Romana e Otávio, e o cortejo fúnebre feito pelos companheiros da vítima da violência policial pelas ruas da cidade. O desfecho tem uma potência dramática que torna o filme um clássico do cinema brasileiro capaz de afetar os espectadores em uma dimensão pessoal e política. Ygor Pires" Conclusão Final, Integrando as Reflexões de "ELES NÃO USAM BLACK TIE": Uma Dança entre o Pessoal e o Político Ao entrelaçar as narrativas de "A Arte da Decupagem no Cinema," "O Poder de Voar: Uma Lição de Bazinha," e "Cacá Diegues e o Chamado à Alquimia Cultural," aprofundamos nossa compreensão sobre a intrincada relação entre o íntimo e o coletivo. Estas análises, porém, ganham uma dimensão adicional ao dialogar com a perspicaz reflexão de Ygor Pires sobre "ELES NÃO USAM BLACK TIE." Em uma sociedade marcada por conflitos, o filme de Hirszman não apenas destrincha a luta operária da década de 1980, mas transcende a política tradicional ao infiltrar-se na vida íntima de uma família. As palavras de Bráulio, "Isso não é uma questão pessoal, é política," ecoam ao longo das cenas, delineando o delicado equilíbrio entre o pessoal e o político. A decupagem, vista como uma arte no cinema, revela-se uma ferramenta poderosa para representar essa interação. Os movimentos de câmera e a alternância entre o íntimo e o coletivo, como discutido anteriormente, espelham a dança intricada da vida cotidiana com as questões políticas mais amplas. Aprender a voar, como proposto por Cacá Diegues, é mais do que um ato físico; é uma metáfora para transcender as limitações e construir um Brasil inclusivo. A complementariedade entre o pessoal e o político, evidenciada por Pires, ressalta a importância de compreendermos que as escolhas individuais têm implicações coletivas. A greve de Tião, inicialmente percebida como um ato pessoal, desdobra-se como um ponto crucial no embate entre patrões e empregados, refletindo a teia intricada que conecta a esfera privada à pública. A reflexão sobre "ELES NÃO USAM BLACK TIE" amplia ainda mais a discussão ao destacar a dualidade entre a desestruturação familiar e os acontecimentos políticos da época. O filme, ao incorporar elementos de tragédia shakespeariana e neorrealismo italiano, transcende gêneros cinematográficos, tornando-se um poderoso veículo para explorar as complexidades da vida política e pessoal. Assim, ao finalizar esta jornada de reflexão, percebemos que a decupagem, o aprendizado a voar, e a integração do pessoal com o político não são apenas conceitos artísticos ou cinematográficos, mas reflexos intrínsecos da vida. Em última análise, compreendemos que a verdadeira magia reside na capacidade de entrelaçar as narrativas pessoais com o panorama político, criando uma tapeçaria única que reflete a complexidade da experiência humana. ____________________________________________________________________________________ ----------
---------- Toledo recebeu este retrato das mãos do Rei do Futebol. — Foto: Autoria não identificada -------- Adeus ao Rei: ídolo do Tupi ganhou foto de Pelé após amistoso contra a seleção brasileira em 1966 Melhor atleta de todos os tempos presenteou Moacyr Toledo com um registro dos dois. Seleção brasileira enfrentou o Galo Carijó durante a preparação para a Copa do Mundo da Inglaterra Por Redação do ge — Juiz de Fora, MG 29/12/2022 16h07 Atualizado há 10 meses A seleção brasileira fez dois amistosos contra o Tupi em 1966, quando estava em preparação para a Copa do Mundo da Inglaterra. As partidas renderam um momento marcante para um dos maiores ídolos da história do clube de Juiz de Fora, Moacyr Toledo, o Toledinho. Ele foi presenteado por Pelé com uma foto dos dois em campo. Morre o Rei Pelé aos 82 anos Toledo recebeu este retrato das mãos do Rei do Futebol. — Foto: Autoria não identificada O Brasil venceu as duas partidas contra o Tupi por 3 a 1 nos amistosos preparatórios para a Copa de 1966. Os jogos foram disputados em Caxambu (MG) e em Três Rios (RJ). Uma disputa de bola entre Pelé e Toledinho, no jogo disputado no Sul de Minas, ficou imortalizada em uma fotografia. No dia seguinte à partida, Pelé foi ao hotel onde o Tupi estava hospedado em Caxambu e deu a foto de presente para Moacyr Toledo. Moacyr Toledo faleceu em 2019, aos 87 anos. Ele fez mais de 500 jogos com a camisa do Tupi e marcou 201 gols, sendo o maior artilheiro da história do time de Juiz de Fora. ____________________________________________________________________________________

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