sexta-feira, 22 de junho de 2018

Valhacouto...


...Questão de educação?

“Ai, palavras, ai, palavras
que estranha potência a vossa!” (Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência)

“...Urge um mínimo de cuidado com as delações. A Justiça não pode se tornar o valhacouto de dedos-duros.”
Editorial / O Estado de São Paulo

"...não era mais do que um sertão desconhecido, considerado como o valhacouto onde imperava o banditismo..." (Cecília Meireles, Questão de educação)

Exercícios Sobre Cecília Meireles

“Estes exercícios sobre Cecília Meireles abordam as principais características da obra poética de uma das mais importantes escritoras do Brasil.”
Publicado por: Luana Castro Alves Perez em Exercícios de Literatura


Questão 1

Sobre Cecília Meireles é INCORRETO afirmar:
a) Embora não tenha pertencido diretamente ao chamado “grupo católico carioca”, formado por Jorge de Lima, Murilo Mendes, Ismael Nery, Tristão de Ataíde, entre outros, Cecília Meireles também apresenta em sua obra traços espiritualistas.
b) A obra de Cecília Meireles caminha em direção à reflexão filosófica e existencial. O espiritualismo e o orientalismo fazem-se presentes na obra da poeta, grande admiradora da cultura oriental.
c) Ao lado da escritora Rachel de Queiroz, Cecília Meireles foi uma das primeiras mulheres a conquistar o reconhecimento do valor de sua obra na literatura brasileira.
d) Filiou-se ao Neossimbolismo e, em seus poemas, é possível notar um lirismo conciliado a uma perspectiva bem-humorada da vida.
e) Suas poesias denotam certa inclinação para a estética simbolista, embora a poeta não estivesse filiada a nenhum movimento literário.


Questão 2

Estão, entre as principais características da linguagem poética de Cecília Meireles:
a) Sua linguagem é marcada pelo experimentalismo e bastante influenciada pela linguagem popular. Buscou a recriação da linguagem a partir do contato com os falares regionais, defendendo os “erros” gramaticais como expressão maior de nossa brasilidade.
b) Sua escrita é direta e simples, quase prosaica, muito embora tenha tido grande conhecimento das formas clássicas de estruturação de poemas, elementos que também podem ser encontrados em sua obra.
c) O cuidado com a seleção vocabular e a inclinação para a musicalidade, para o verso curto e para os paralelismos estão entre as principais características da poesia de Cecília Meireles.
d) Por meio de uma linguagem debochada, irônica e crítica, Cecília Meireles satirizava os meios acadêmicos e também a burguesia, estabelecendo uma profunda ruptura em relação à cultura do passado.

Questão 3

(ENEM – 2012)
Ai, palavras, ai, palavras
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:
a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras.
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida.
d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.


Questão 4

(UFSCAR)
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas ...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo ... - mais nada.

Mas a vida, a vida , a vida
a vida só é possível
reinventada. […]
Cecília Meireles
Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo
a) sempre marcado pelo momento histórico.
b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.
c) inspirado em temas genuinamente brasileiros.
d) vinculado à estética simbolista.
e) de caráter épico, com inspiração camoniana.





Respostas

Resposta Questão 1
Alternativa “d”. Cecília Meireles nunca esteve filiada a um movimento literário, embora seja possível observar características do Neossimbolismo em sua obra.

Resposta Questão 2
Alternativa “c”. É comum encontrar na linguagem de Cecília Meireles elementos que remetem ao Neossimbolismo, como o vento, a água, o mar, o tempo, o espaço, a solidão e a música, características que conferem à sua poesia um caráter fluido e etéreo.

Resposta Questão 3
Alternativa “b”. Analisando o fragmento do Romanceiro da Inconfidência, é possível observar que Cecília Meireles realiza uma reflexão entre o homem e a linguagem ao apontar que as relações humanas, em suas múltiplas condições, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras, ideia que pode ser confirmada no verso “Todo o sentido da vida/principia a vossa porta” (leia-se porta das palavras).

Resposta Questão 4
Alternativa “d”. O estilo de Cecília Meireles está associado à estética simbolista, sobretudo porque a poeta faz uso de elementos como a musicalidade e apresenta uma postura que compreende a efemeridade da vida, traços predominantes do Simbolismo.






Apenas delações: Editorial | O Estado de S. Paulo

A 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente ação penal contra a senadora Gleisi Hoffmann, o ex-ministro Paulo Bernardo e o empresário Ernesto Kluger. Os ministros da 2.ª Turma entenderam que a Procuradoria-Geral da República (PGR) não apresentou no processo provas que corroborassem a acusação de que os três réus teriam solicitado e recebido R$ 1 milhão desviado da Petrobrás para a campanha ao Senado, em 2010, da atual presidente do PT. No processo havia apenas delações, sem outros elementos de prova a corroborar as informações provenientes das colaborações premiadas.

“Observa-se que toda argumentação (da PGR) tem como fio condutor o depoimento de delatores. Relatos não encontram respaldo em elementos de corroboração”, disse o ministro Dias Toffoli. Até mesmo os documentos que a PGR apresentou no processo, que supostamente corroborariam as delações, tinham sido produzidos pelos delatores, como uma anotação na agenda de Paulo Roberto Costa, que, segundo a promotoria, fazia referência ao valor repassado ao ex-ministro Paulo Bernardo.

A decisão do STF de absolver a senadora Gleisi Hoffmann por falta de provas deve servir de alerta para o Ministério Público. Essa repartição pública presta um desserviço ao País ao apresentar denúncias com base apenas em delações, que, por sua própria natureza, são parciais. O delator, como se sabe, obtém benefícios ao relatar à Justiça aquelas informações.

No processo contra a senadora petista, há ainda outro aspecto preocupante. Ao longo de toda a ação penal a PGR não trouxe nenhum elemento probatório além do que já estava na denúncia, ou seja, as informações oriundas de delatores. Tem-se, assim, um trabalho duplamente mal feito: além de apresentar uma acusação fraca, só com delações, a PGR depois nada acrescenta para provar suas acusações, como se o seu trabalho se encerrasse com a denúncia. Não foi feito trabalho de investigação que prestasse para os fins pretendidos.

Esse modo de proceder da PGR tem graves implicações. Pessoas inocentes podem ser acusadas injustamente, apenas com base em relatos de delatores. Neste caso, a atuação descuidada do Estado contribuiria para destruir a honra dessas pessoas, pois, como se sabe, uma absolvição num processo penal nunca restabelece fama idêntica a que o réu tinha antes de ser denunciado e levado aos tribunais com a pecha de corrupção. Por mais eloquente que seja a sentença absolutória, sempre pairará sobre a biografia do réu a sombra desabonadora.

A instrução probatória, inepta, que se limita a apresentar relatos de delatores, também contribui para a impunidade. Como ocorreu na ação penal contra a senadora Gleisi Hoffmann, a Justiça não diz que não houve crime – apenas que não houve provas suficientes para condenar. É possível, portanto, que, tivesse a PGR mais diligência, o resultado de muitos casos penais fosse diferente, com a condenação de quem agiu criminosamente. Isso denigre tanto o réu como o acusador.

As delações podem ser um início para o trabalho de investigação criminal. Mas para que sejam de fato úteis, elas não podem ser também a conclusão de investigação. Nenhuma colaboração premiada tem o condão de proporcionar um juízo definitivo sobre um crime. A lei processual estabelece que ninguém deve ser condenado só com base em delações. Por isso, é dever da Polícia Federal e do Ministério Público não se limitar a reunir material trazido por delatores.

Têm sido muitos os casos de delações que surgem com grande estardalhaço, destroem a honra das pessoas citadas, mas depois as autoridades não conseguem confirmar as informações que divulgaram, em geral, açodadamente. O resultado de inquéritos abertos a partir dessas colaborações é o arquivamento. Recentemente, por exemplo, foi arquivado um inquérito eleitoral envolvendo o ex-ministro Aloizio Mercadante, que tinha como base uma delação do empreiteiro Ricardo Pessoa. Segundo o promotor Luiz Henrique Cardoso Dal Poz, responsável pelo caso, “os informes de Pessoa, além das referidas divergências e imprecisões de temas nucleares, não foram confirmados por outras circunstâncias”.

Urge um mínimo de cuidado com as delações. A Justiça não pode se tornar o valhacouto de dedos-duros.


“Mas a vida, a vida , a vida
a vida só é possível
reinventada. […]” (Cecília Meireles)




Cecília Meireles: Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.



Cecília Meireles: Timidez, da Expressão Contida, à Esperança

Viviane P. Galvão1
  
Resumo: Este artigo analisa Timidez (1939), poema de Cecília Meireles, que revela uma natureza lírica caracterizada pelos preceitos estéticos e conceituais da modernidade. O poema apresenta um tom melancólico e reflete uma atmosfera de sonho, bem característicos das obras cecilianas. Pretende-se mostrar a delicadeza e leveza que levam ao equilíbrio formal e à simetria do poema, examinando sua forma semântico-estilística enriquecida pela significação simbólica das imagens apresentadas. A partir das concepções de Wordsworth, o artigo procura transmitir os sentimentos e ideias contidos no poema, de maneira simples e não elaborada, retratados pelo Eu Poético, que não revela seu amor por timidez. Utilizam-se igualmente os preceitos de Hegel para caracterizar o lirismo e de Mallarmé para compreender as conotações simbólicas no poema.
Palavras-chave: Cecília Meireles. Timidez. Wordsworth.

Abstract: This article analyses Cecília Meireles’poem Timidez (1939), which reveals a lyrical nature characterized by the aesthetic and conceptual precepts of modernity. The poem presents a melancholic tone and reflects a dreamlike atmosphere, so characteristic of Cecilian works. The purpose of the article is to show the delicacy and grace that lead to the poem´s formal balance and symmetry by examining its semantic-stylistic form and the symbolic meaning of the images. Starting from Wordsworth´s concepts, the article tries to transmit the feelings and ideas comprised in the poem in a simple and not elaborated manner, depicted through the persona who does not reveal her/his love because of shyness. Hegel´s precepts are also used to characterize lyricism, as well as Mallarmé´s principles to understand the symbolic connotations in the poem.
Key words: Cecilia Meireles. Timidez. Wordsworth.

1 Mestranda do Curso de Teoria Literária do Centro universitário Campos de Andrade. E-mail: vivi.prass@hotmail.com




Referências

https://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-cecilia-meireles.htm
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/06/apenas-delacoes-editorial-o-estado-de-s.html
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/06/cecilia-meireles-timidez.html?m=1
http://www.bibliotekevirtual.org/index.php/2013-02-07-03-02-35/2013-02-07-03-03-11/1086-scripta-alumni/n11/10486-cecilia-meireles-timidez-da-expressao-contida-a-esperanca.html

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