Parágrafo único
CTN - Lei nº 5.172 de 25 de Outubro de 1966
Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui
normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios.
Art. 197. Mediante intimação escrita, são
obrigados a prestar à autoridade administrativa todas as informações de que
disponham com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros:
I - os tabeliães, escrivães e demais
serventuários de ofício;
II - os bancos, casas bancárias, Caixas
Econômicas e demais instituições financeiras;
III - as empresas de administração de bens;
IV - os corretores, leiloeiros e despachantes
oficiais;
V - os inventariantes;
VI - os síndicos, comissários e liquidatários;
VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que
a lei designe, em razão de seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou
profissão.
Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo
não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o
informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo,
ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
-
Uma casa é nossa, a outra é para alugar.
Rua
P. n. 1
Por
indução de um fiscal, a criança passou informações para um adulto desconhecido
que não se identificara como agente do fisco municipal.
Aquele
diálogo foi motivo para um corretivo do infante por falar demais o que lhe
disseram mais tarde não deveria ter sido dito.
Não
importava se a justiça havia sido ou não realizada.
O
tempo passou. As marcas sumiram. Mas a criança continuaria inflexível na
prática e busca da verdade.
Do
direito.
Ainda
que a justiça nem sempre prevalecesse como resultado de sua práxis.
Práxis
do Concreto não lhe fora ainda apresentado na teoria, nem seu autor, Karel
Kosik.
Posto
que para realizar o direito corre-se eterno risco de nem sempre ser justo.
Mas
com tributos não se deve brincar.
Ou
se se deixa assimilar pelo sistema, como diziam antigamente, para se referir ao
anônimo e onipotente; Ou que se arque com as devidas consequências,
agonicamente.
Seu
próximo pouso seria em uma casinha, no morro, mas sem perigos de desabamentos,
enchentes ou paredes-meias, no 197, da rua das graças.
O
perigo mudara provisoriamente de endereço.
DIALÉTICA
DO COCRETO
Quando o professor Eduard Goldstucker (presidente da
União dos Escritores Tchecoslovacos) esteve no Brasil, em 1966, alguém lhe
perguntou qual era, a seu ver, a obra mais importante da filosofia publicada na
Tchecoslováquia durante estes últimos anos. Ele respondeu sem hesitação: a
Dialética do concreto, de Karel Kosik.
Karel Kosik nasceu em Praga, em 1926. Participou
ativamente da resistência clandestina antinazista, durante os anos da guerra.
Na década de cinquenta, lutou contra a estreiteza dogmática e contra o oportunismo
taticismo dos seguidores de Stalin. Tornou-se, como crítico, um dos
responsáveis pela reavaliação da obra de Kafka em seu país. Mais recentemente,
em 1968, condenou energicamente a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas da
União Soviética, e de outras nações do Pacto de Varsóvia, defendendo o socialismo
humanista que estava sendo empreendido em sua terra e do qual ele mesmo vinha
sendo um dos artífices.
Dialética do concreto é a obra de um jovem. Quando a
escreveu, Kosik tinha pouco mais de trinta anos. Mas já tinha atingido a sua
plena maturidade como filósofo.
Em seu trabalho, Kosik analisa as mistificações do
mundo da pseudoconcreticidade, que é o mundo da reificação, das aparências
enganadoras, dos preconceitos, da práxis fetichizada. Em semelhante mundo, a
verdade e o erro se confundem, a ambiguidade se generaliza.
Para não se perder em face dos múltiplos aspectos
fenomênicos da realidade que a autêntica práxis vai desvendando, o conhecimento
humano precisa discernir no real, a cada passo, a unidade dialética da essência
e do fenômeno. Por isso Kosik insiste no caráter necessariamente totalizante do
conhecimento. E esta insistência filia-o, desde logo, ao mais problemático dos
livros “clássicos” do marxismo neste século: História e consciência de classe,
de Georg Lukács. No entanto, a orientação mais resolutantente materialista do
autor tcheco faz com que ele consiga discernir na experiência histórica uma
variedade de elementos e dimensões que era descurada por Lukács em 1922.
“O grande conceito da moderna filosofia materialista
– escreve Kosik – é a práxis”. E, com tal formulação, vemo-lo passar de uma
posição lukaksiana a uma perspectiva gramsciana.
Gramsci, a maior cabeça do marxismo italiano, só se referia ao marxismo como
filosofia da práxis. Fazia-o, em parte, para dar ênfase ao seu modo peculiar de
entender e aplicar a filosofia marxista.
Kosik não se prende aos resultados já obtidos por
Lukács e Gramsci: empreende, por sua vez, a elaboração de uma versão e
desenvolvimento próprios do patrimônio ideológico criado a partir de Marx e
Engels. Independentemente de nosso juízo a respeito do alcance de certas
sínteses propostas em Dialética do concreto, estamos certos de que se trata de
um livro de leitura obrigatória. Os leitores brasileiros verificarão a plena justeza
do que disse o professor Goldstucker. E mais: verão que este é não só o mais
importante livro de filosofia recentemente aparecido na Tchecoslováquia como um
dos mais notáveis da filosofia marxista em geral, no mundo inteiro.
LEANDRO
KONDER
CAPA: CLAUDIA LAMMOGLIA
O
SÉCULO DE GRETE SAMSA: sobre a possibilidade ou a impossibilidade do trágico no
nosso tempo
Karel
Kosik
Tradução de Leandro Konder
MATRAGA nº 8, março de 1996
O século XX começou com tiros em Sarajevo, em 1914,
e está acabando agora com a derrocada do império soviético e com tiros em
Sarajevo. Chamaram-no, com razão, o século de Franz Kafka. De fato, Kafka
descreveu a essência desse tempo com um olhar inacreditavelmente agudo. Alguns
dos seus contemporâneos ainda achavam que seus textos eram visões de sonhos,
exageros poéticos, alucinações fantasmagóricas. Nós, porém, constatamos hoje,
com espanto, a exatidão e a sobriedade das suas descrições. Kafka chegou à
conclusão — e essa, a meu ver, é a sua descoberta mais significativa — de que a
nossa época moderna é hostil ao trágico, trata de exclui-lo, e em seu lugar
institui o grotesco. Por isso, o século de Franz Kafka é, ao mesmo tempo, o
século cuja quintessência se acha corporificada numa de suas figuras: a
personagem Grete Samsa, uma espécie de anti-Antígona do século XX.
I
Para poder falar sobre a surpreendente descoberta de
Kafka, devo começar por me remeter a dois pensadores do século XIX que se
ocuparam do trágico e analisaram a diferença entre a tragédia antiga e a
moderna. Refiro-me a Hegel e a Kierkegaard.
Kierkegaard caracteriza a época moderna como tempo
do isolamento e da atomização: os seres humanos se relacionam uns com os outros
como meras cifras e indivíduos isolados. Ao criarem associações e organizações,
eles não negam nem superam, de modo algum, essa atomização. Grandes ou
pequenas, essas associações reúnem números e não sujeitos vivos e concretos.
Por isso, para Kierkegaard, as criaturas isoladas e os grupos ou multidões são
duas faces de uma mesma realidade.
Pode-se descobrir uma dimensão trágica nesse tempo?
Dito de outro modo: pode haver uma Antígona moderna? Se pode, o que a
distinguiria da Antígona da antigüidade?
O filósofo dinamarquês esboça o retrato de uma
Antígona moderna, imagina-a posta no mundo como heroína trágica, “filha da
dor”. Ela tem em comum com a velha Antígona o ser filha de Édipo, que matou seu
próprio pai e se casou com sua própria mãe. Há, contudo, diferenças
consideráveis; e o filósofo adverte: “Deixo tudo como é, no entanto modifico
tudo”. Kierkegaard explicita a modificação: “Édipo matou a Esfinge, libertou
Tebas e vive um casamento feliz com Jocasta. A infâmia oculta não é conhecida
por ninguém. Só Antígona sabe dela”.
A Antígona moderna conhece o segredo horrível de seu
pai e sua vida é uma colisão entre a ilimitada admiração que ela tem pelo pai e
a consciência da culpa dele. A carga desse conflito é demasiado pesada, ela não
pode suportá-la; e a paz da superação da antinomia só pode ser alcançada na
morte: “Só na morte ela pode ter paz”.
A Antígona de Kierkegaard se distingue num ponto
essencial da Antígona de Sófocles: ela não age, limita-se a sofrer. Sua vida
espiritual é um tormento inenarrável, que ela precisa suportar em segredo, sem
poder comunicá-lo e sem receber qualquer palavra de apoio ou gesto de consolo.
A colisão é interna. Kierkegaard o diz com clareza: “Sua vida não é como a da
Antígona grega; o movimento é interno e não externo; o cenário é dentro e não
fora”.
Essa característica do conflito atinge a figura de
Creon, que na concepção de Kierkegaard se torna supérflua. A contradição
política que envolvia a comunidade, a pólis, se transforma num drama, que
acontece numa subjetividade fechada. O conflito não é público: ocorre na esfera
privada mais íntima. A Antígona moderna não é excluída por ordem dos poderosos;
sua própria vida a encaminha para a morte. Ela murcha e se fana, como uma flor.
Bem considerada no conjunto de suas características,
a Antígona de Kierkegaard não é uma figura trágica, mas uma figura infeliz.
Nada nela vai além da miséria das relações humanas deformadas pelo isolamento e
pelo anonimato massificador que o filósofo caracterizou magistralmente. Ela é
produto e vítima dessas relações e nenhum movimento em sua vida ou em sua morte
aponta para a superação do quadro em que surgiu. Ela não deixa transparecer
nenhum poder capaz de romper o isolamento e contribuir para o embrião de uma
nova comunidade humana, de uma pólis moderna.
II
Como sabemos, Hegel admirava a Antígona de Sófocles
como a obra poética mais perfeita de todos os tempos. No entanto, tal como
Kierkegaard, ele propunha polemicamente a questão de sabermos se o trágico é
possível na época moderna.
Num texto escrito em 1802 (“Sobre as abordagens
científicas do direito natural”), Hegel descreve a época moderna como briga
entre duas figuras que pertencem ao ser humano e são expressões da sua natureza
dúplice (da natureza duplicada do ser humano).
Hegel caracteriza uma dessas figuras como “poder
inorgânico, subterrâneo” e a outra como a luz do discernimento e do espírito.
Cada um dos poderes depende do outro e ao mesmo tempo o repele e exclui. Outras
designações mais inteligíveis dos dois lados são o ser humano como produtor e
consumidor (como burguês) e como cidadão (criatura política). Essa natureza
dúplice do homem — que é simultaneamente burguês e cidadão — é a matriz daquilo
que Hegel chama de “tragédia no ético”, típica da época moderna. Esse conflito,
entretanto, se caracteriza efetivamente como tragédia?
O próprio Hegel admite neste e em outros textos que
o “poder inorgânico, subterrâneo”, se torna autônomo, constitui um confuso
sistema de relações econômicas, que cria o “sistema das carências”,
insurgindo-se como poder maior contra o espírito e a luz. A luta fica
desequilibrada, o poder hostil ao espírito prevalece, o homem como produtor e
consumidor (como burguês) se sobrepõe ao homem como cidadão com absoluta
superioridade. O conflito entre o burguês e o cidadão, possível origem da
tragédia moderna, é afetado de tal maneira que o trágico se torna ironia
histórica: a constatação de que as forças do espírito são devoradas e aviltadas
pelas forças que as hostilizam.
Nas considerações de Hegel e de Kierkegaard sobre o
trágico, apesar das grandes diferenças entre os dois pensadores, há algo, digno
de nota, em comum. Em ambos, a significação do trágico se desloca, perde sua
especificidade, identifica-se com algo que não é trágico. Na sua Antígona,
Kierkegaard identifica tragédia com infelicidade e sofrimento sem saída. E
Hegel chama de “tragédia no ético” um conflito que se concretiza nas condições
da ironia e da decepção. Com isso, os dois filósofos dão andamento a um
processo de transformação do sentido do trágico, um processo que atinge seu
auge no século XX.
De acordo com a opinião corrente no nosso século XX,
todo acidente de trânsito com vítimas fatais é uma tragédia, toda catástrofe
natural que ocasiona mortes é uma tragédia. E a tragédia é tanto maior e mais
emocionante quanto mais elevado for o número de vidas humanas sacrificadas.
Parece, assim, que sua essência é o número, a quantidade.
Essa mudança de sentido do trágico na opinião
pública não é uma indicação irrelevante, não é a expressão de um acontecimento
secundário: é algo que diz muito sobre o nosso tempo. O século XX — que há
pouco chamei de século de Grete Samsa — afasta o trágico e o substitui por um
sucedâneo, uma imitação pobre.
Quando desastres de tipos diversos e catástrofes
casuais recebem como atributo o adjetivo “trágico”, os seres humanos que vivem
numa época não trágica podem crer que estão rodeados pela tragédia; na
realidade, contudo, estão lidando com desastres que podem ser reduzidos a
causas técnicas.
É arrancada da vida humana sua capacidade de
tornar-se destino; ela é amesquinhada, reduzida à causalidade.
III
Quero falar de duas situações que a meu ver
dificultam e até excluem, no nosso tempo, a possibilidade do trágico. Vivemos
numa época pós-heróica. Isso não significa que no século XX não se realizem
ações heróicas; significa apenas que tudo que se faz de bom, grande, corajoso e
heróico, tudo que se cria de belo e poético, é arrastado na correnteza da
banalização e da desindividualização, perdendo sua originalidade e sua força. O
poder que influencia fortemente a opinião pública e amesquinha todas as coisas
é a alma de lacaio.
O lacaio não conhece heróis. Ele não é, sobretudo,
capaz de reconhecê-los. O que caracteriza sua visão do mundo consiste no fato
de que ela reduz tudo à escala da banalidade. O ponto de vista do lacaio só lhe
permite enxergar motivações amesquinhadas, inveja, pequenas safadezas.
No tempo de Goethe e de Hegel, os lacaios conheciam
a intimidade dos seus patrões e por isso não podiam vê-los como heróis; hoje em
dia, contudo, o olhar dos lacaios se instalou na visão do mundo dos patrões e
dita normas de gosto e de moral: consome avidamente as fofocas e as intrigas da
imprensa dos boulevards e julga tudo com seus critérios frívolos e sumários.
Um segundo empecilho no caminho da possibilidade do
trágico, no nosso tempo, está na banalização e na domesticação da morte. A
morte perdeu o poder que tinha de abalar profundamente os seres humanos e é
digerida com certa rapidez no dia-a-dia. A morte do outro, do próximo, não
ameaça nos desestruturar: ela é quotidiana, superficial, pouco significativa.
Ela nos chega no meio de múltiplas imagens, sucessivas informações e sensações
confusas; em seguida, desaparece, sem deixar traços.
Gilgamesh é considerado, com razão, o primeiro herói
trágico da história. A morte de seu amigo lhe causa um abalo tão grande que ele
é levado a buscar outro caminho para recomeçar sua vida, iniciando um novo
movimento, de busca da imortalidade.
A essência do trágico, tal como está corporificada
em Gilgamesh, está no caráter contraditório do tempo, no conflito entre o que
passa e o que perdura.
IV
O personagem central de A metamorfose (1911), de
Kafka, não é Gregor Samsa, aquele que após uma noite mal dormida acordou
transformado num “monstruoso inseto”; na verdade, é a irmã dele, Grete.
A moça Grete intervém nos acontecimentos; sua ação
marca um ponto crucial, autêntico momento decisivo da metamorfose. A
transformação grotesca ocorre, de fato, no instante em que Grete deixa de
enxergar em seu irmão um ser humano, já não sabe mais se ele é gente ou bicho e
acaba chegando à conclusão de que sua presença se tornou, para ela,
insuportável. A partir desse instante, ela renega a humanidade do irmão e se
convence de que no quarto só existe um animal repulsivo.
Com perfeita coerência, Grete Samsa, a moderna
anti-Antígona, se dispensa de sepultar o irmão que morre: encarrega a empregada
de “varrê-lo”. Não se tratava de um cadáver humano, mas da carcaça de um bicho.
A empregada se refere aos restos mortais como “isso”: “isso já era”. Quando as
relações humanas estão grotescamente desumanizadas, seria grotesca a idéia de
enterrar humanamente o ser humano metamorfoseado que ilustra de modo tão
grotesco o movimento geral.
Grete Samsa, a anti-Antígona, pensa: Gregor Samsa
não é mais um ser humano, não é mais meu irmão. Se fosse meu irmão e fosse
humano, teria em relação à família um sentimento de consideração, evitaria
perturbar-lhe a tranqüilidade e sairia da casa por sua própria iniciativa. A
família, afinal, precisa de paz; tudo aquilo que a incomoda é ruim, precisa ser
removido.
Nem a morte tem o poder de abalar a paz da família;
a tranqüilidade concedida às pessoas age com grande eficiência subterrânea e
não se deixa transtornar pela morte. Grete Samsa é a encarnação dessa paz,
dessa segurança: seu vigoroso organismo e sua resplandecente juventude lhe
permitem evitar tudo que possa atrapalhar seu crescimento e lhe permitem, como
se diz, “saltar por cima dos cadáveres”.
Incólume, inatingida pela morte do irmão, Grete
Samsa caminha, impávida, na direção do futuro. Esse futuro, porém, é uma
reprodução do passado. A vida da jovem repetirá a esterilidade e a banalidade
que a têm caracterizado; e consumirá em vão suas ricas reservas de energia
juvenil.
Por isso, a ironia de A metamorfose, de Kafka, é tão
significativa. Os homens já estão metamorfoseados e acham que a “normalidade” é
a banalidade, a superficialidade, a pequenez. Não têm mais disponibilidade ou
vontade para sair dessa situação degradante; nem a morte tem força para
arrancá-los dela.
Contudo, uma pergunta se impõe: Grete Samsa, cuja
banalidade lhe permite saltar sobre o cadáver do irmão, será, afinal, tão
poderosa a ponto de excluir do nosso mundo toda e qualquer possibilidade do
trágico? A anti-Antígona vitoriosa impede que possa surgir uma nova Antígona?
Para tornar mais precisa minha questão sobre a
possibilidade ou impossibilidade do trágico na nossa época, devo indagar: quem
poderia enfrentar a poderosa Grete Samsa, contrapondo-se a ela como uma
Antígona moderna?
V
Não é difícil perceber aonde eu quero chegar: creio
que já é tempo de resgatarmos Milena Jesenska, para que ela não fique apagada,
à sombra de Kafka, como episódio secundário da sua biografia.
A obra literária de Milena Jesenska não é comparável
à de Kafka. No entanto, à criação poética de Kafka corresponde, em grandeza e
riqueza de significação, o destino de Milena. O destino da jornalista e a
ficção do escritor se interpelam mutuamente, mantêm uma discussão implícita e,
através dessa polêmica se faz ouvir a voz daqueles que, no nosso século, se
insurgem contra a todo-poderosa Grete Samsa.
Essa correspondência entre o destino de uma moça
tcheca e a obra de um autor judeu nascido em Praga e que escrevia em alemão é
também a palavra final, definitiva, sobre aquela comunidade de tchecos, judeus
e alemães, que se apregoava no centro geográfico da Europa e cuja
artificialidade reconhecemos hoje.
Se Kafka dizia em sua literatura que a nossa época
exclui o trágico, Milena, com suas posições e seu destino, respondia ao
ceticismo de Kafka, mostrando que o nosso tempo pode ser salvo, que a
banalidade do mal pode ser rompida por um sacrifício trágico.
Em que consistiu o destino de Milena, correspondente
à obra de Kafka e posto em relação polêmica com ela?
Milena morreu num campo de concentração alemão. Isso
é exato, mas essa informação não encerra toda a verdade. Milena morreu num
campo alemão como poderia ter morrido em qualquer outro campo de concentração
daquela época.
O trágico, no destino de Milena, consiste no fato de
que ela se encontrou posta numa situação histórica sem saída, criada no curto
espaço de tempo transcorrido entre o outono de 1938 e o outono de 1939, e no
entanto se insurgiu contra as três encarnações do mal, que então se
configuravam: contra o nazismo alemão, contra o bolchevismo russo, mas também contra
a covardia da capitulação das “democracias ocidentais”, quer dizer, contra o
espírito (ou melhor: a falta de espírito) do “Pacto de Munique”, que prevalecia
em toda a Europa.
A Antígona de Sófocles e essa possível Antígona
moderna têm em comum a coragem de sustentar uma convicção que as contrapõe à
multidão dos oportunistas que cedem ao medo e se calam; ambas são capazes de
falar e agir contra o que lhes parece mal.
Enquanto os outros fechavam os olhos, ou então
abriam um olho só e enxergavam o mal em uma só das suas faces, a possível
Antígona moderna abria bem os dois olhos e se empenhava em reconhecer o mal em
todas as suas figuras. Mais ainda (e nisso consiste o olhar trágico): ela se
dava conta de que precisava se insurgir contra todas as formas do mal, embora,
naturalmente, não pudesse deixar de ser derrotada por esse poder tão superior
ao seu.
Quem se dispõe a analisar a possibilidade ou a
impossibilidade do trágico na nossa época não pode subestimar o destino de
Milena Jesenska, porque nele se manifesta algo especial. No entanto, Milena,
afinal, não é, a meu ver, a Antígona dos tempos modernos. E o caso dela me
incita a indagar: o que é que a impede de se tornar, efetivamente, uma
Antígona?
A tragédia de Sófocles tem sido interpretada como
conflito entre duas necessidades igualmente legítimas: a colisão entre o poder
do Estado, que precisa punir o traidor, e o sentimento de piedade familiar, que
leva a irmã a insistir em enterrar o irmão morto, em lugar de deixá-lo ser
devorado pelos abutres. A razão mais profunda desse conflito, contudo, se acha
na contradição entre leis passíveis de modificações (instituídas pelos homens)
e leis eternas (as de Deus). A contradição entre o que passa e o que permanece.
Esse é o conflito que põe inexoravelmente dois indivíduos — Creon e Antígona —
em guerra, um contra o outro.
A dificuldade com que a possível Antígona moderna se
defronta para tornar-se uma genuína Antígona está no fato de que a ela não se
contrapõe nenhum indivíduo. Seu adversário está “desindividualizado”. O moderno
Creon não tem uma personalidade: embora exerça seu comando em toda parte, é um
poder anônimo. Antígona não pode enfrentá-lo cara a cara, olho no olho. A
dimensão divina da eternização do instante desapareceu, ficou só a
provisoriedade geral de contingências humanas marcadas pela dissolução e pelo
anonimato.
O moderno Creon é o sistema, anônimo e onipotente.
VI
Comecei por perguntar se o trágico era possível na
nossa época. Faltou esclarecer uma coisa essencial: o que entendo,
precisamente, por trágico? Por isso, retomo agora minha questão, numa nova e
última formulação: o que é o trágico? E o que pode significar a possibilidade
ou a impossibilidade do trágico na época moderna?
Aristóteles, em sua Poética, foi o primeiro a se
deter no exame da essência do trágico. Para que ele pudesse empreender sua
reflexão, era preciso que já existissem peças de teatro. A teoria da tragédia
foi precedida por obras poéticas trágicas. Para nos defrontarmos com a inteira
verdade a respeito da concepção da tragédia, entretanto, devemos ir mais fundo:
antes da teoria, antes mesmo das peças, havia a construção da pólis pelos
cidadãos de Atenas. Platão chega a dizer: nós, cidadãos de Atenas, somos os
criadores da mais bela e melhor das tragédias. Aproveitando a ambivalência das
palavras “mimesis” e “poiésis”, Platão argumenta: enquanto os poetas imitam a
realidade, nós somos a própria realidade da pólis; somos nós que criamos a
verdadeira tragédia (“tragódia aléthestaté”).
A pólis se funda, perdura e renova no conflito
(“pólemos”) entre o humano e o divino, o passageiro e o duradouro, o banal e o
elevado. Se o humano suprime o divino, o passageiro elimina o duradouro e o
banal acaba com o elevado, a comunidade se desintegra, a pólis desaparece e com
ela desaparece também a tragédia. Tal como os atenienses a criaram, a pólis é
parte de seu modo de manter e renovar a comunidade deles. A tragédia, então,
não nasceu da Poética, mas da política, da pólis.
Hegel e Kierkegaard no século XIX, Paul Ernst (1906)
e Georg Lukács (1911) no século XX analisaram a diferença entre a tragédia
antiga e a moderna, e se perguntaram se uma Antígona moderna era possível. Eles
não estavam preocupados em saber se surgiriam um novo Sófocles ou um novo
Shakespeare: a questão que discutiam era parte integrante de seu pensamento
crítico, que saudava os tempos modernos, mas não perdia de vista suas
contradições e unilateralidades, perscrutando suas tendências e indagando se a
desmesura da nova época não a levaria a expressar-se mais pelo grotesco e pela
caricatura do que pelo trágico.
A questão de sabermos se na época moderna a tragédia
ou o trágico são possíveis, por conseguinte, é idêntica à questão de sabermos
se a época moderna possui força criativa para, nas suas condições específicas e
a partir de seus pressupostos peculiares, engendrar algo como aquilo que os
gregos chamavam de pólis ou de “koinonia”, quer dizer, uma comunidade de homens
e deuses, da Terra e do Céu, uma criação moderna (e de modo algum uma imitação
da antiga pólis).
Konder,
Leandro
(1936-2014): Filho de Valério Konder, médico
sanitarista e líder comunista. Formado em Direito, Leandro exilou-se em 1972,
após ser preso e torturado pelo regime militar, e morou na Alemanha e depois na
França até seu regresso ao Brasil em 1978. Doutorou-se em Filosofia em 1987 no
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Foi professor do
Departamento de Educação da PUC-RJ e do Departamento de História da UFF. Tem
vasta produção como conferencista, articulista de jornais, ensaísta e
ficcionista. Em 2002 foi eleito o Intelectual do Ano pelo Fórum do Rio de
Janeiro, da UERJ. Um dos maiores estudiosos do marxismo no país, coordenou, em
conjunto com Michael Löwy, a coleção Marxismo e literatura, da Editora
Boitempo.
Morre
filósofo tcheco Karel Kosik
22 de fevereiro de 2003 • 08h35
O filósofo checo Karel Kosik, que assinou a Carta 77
pelos direitos humanos, morreu na sexta-feira em Praga, aos 76 anos, noticia
hoje o jornal Pravo.
Funcionário de 1951 a 1969 do Instituto de Filosofia
da Academia Checa de Ciências, Karel Kosik foi condenado ao ostracismo devido a
suas posições durante a "Primavera de Praga", movimento reformador
duramente reprimido em agosto de 1968 pelos tanques soviéticos.
Tornou-se conhecido durante o regime totalitário
pela Carta Aberta que enviou a Jean-Paul Sartre em 1975 e foi publicada pelo
jornal francês Le Monde, assim como por suas atividades no meio intelectual
dissidente. Depois da queda do comunismo em novembro de 1989, Karel Kosik
voltou para o Instituto de Filosofia.
Morre o filósofo marxista LeandroKonder
LUIZA FRANCO
DO RIO
DO RIO
12/11/2014 20h15 - Atualizado às 21h50
O filósofo Leandro Konder, 78, morreu na tardedesta quarta-feira (12), no Rio. Ele sofria de mal deParkinson havia mais de dez anos. Faleceu em casapor volta das 16h.
Formado em direito, Konder fez doutorado emfilosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiroe foi professor titular do Departamento de Educaçãoda PUC-Rio.
No meio acadêmico, destacou-se como um dos grandes estudiosos domarxismo e um divulgador das ideias do pensador húngaro György Lukács(1885-1971).
Álvaro Riveros - 15.dez.2010/Folhapress
Leandro
Konder, no lançamento de seu livro 'Em torno de Marx', na livraria Travessa
de Ipanema, no Rio
|
Konder começou a tratar do tema ainda em 1965, quando publicou"Marxismo e Alienação". É autor, entre mais de 20 obras, entre as quais"Introdução ao Fascismo", "As Ideias Socialistas no Brasil", "O que édialética" e "O futuro da filosofia da práxis".
Durante a ditadura chegou a defender causas trabalhistas como advogado deassociações sindicais. Por sua proximidade com trabalhadores e militantes demovimentos sociais, foi preso e torturado.
Exilou-se na Europa em 1972. Morou na Alemanha e na
França antes de voltar ao Brasil, sies anos depois.
Nascido em Petrópolis (RJ), Leandro Konder era filho
de Valério Konder, ex-dirigente do PCB, e irmão do jornalista Rodolfo Konder,
que morreu em maio passado.
Durante a ditadura, Rodolfo esteve preso junto com o jornalista VladimirHerzog. Foi ele quem denunciou que Herzog havia sido assassinado por seus
torturadores.
Konder deixa o filho Carlos Nelson, 37, a viúva, Cristina, com quem foi casadopor 38 anos, e a enteada Marcela. O velório será na quinta (13) às 15h noCemitério do Caju. O filósofo será cremado.
Memórias
do Cárcere por Graciliano Ramos
“(...) E nesse ponto Valério Konder resolveu, com
energia, mover guerra constante e ordenada aos infames insetos. Alcançou, por
intermédio do Coletivo, as armas necessárias, forneceu os cubículos de creolina
e grandes nacos de sabão. Contrabandearam-se jornais, guardaramse invólucros. E
todos nós, válidos e doentes, fomos convocados para o serviço. Um dia por
semana, engolido o café, abertas as grades, iniciávamos a campanha: fazíamos
tochas de papel, desocupávamos a reduzida mobília e ficávamos algum tempo a
sapecá-la. A chama lambia o metal, a madeira, parava nas juntas, buscava as
reentrâncias, asilos possíveis de bichos, ovos e larvas. A tinta azul dos
guarda-ventos, o verniz branco das camas velhas, meio descascadas, apresentavam
manchas negras; o solo se cobria de carvão, a cinza nos sujava os corpos nus, a
fumaça nos sufocava. Depois examinávamos a roupa – o direito, o avesso, os mais
ocultos esconderijos de pregas e costuras; esvaziávamos caixas e malas; sobre
os móveis chamuscados empilhavam-se livros, panos, travesseiros. colchões,
minuciosamente revistos. De calção de banho, Valério Konder se encarniçava,
feroz e ubíquo, subia e descia a escada, estava na Praça Vermelha e no
passadiço, comandando a refrega. Nenhum repouso, os tamancos batiam com o surdo
rumor de cascos de bois acossados. Varríamos os detritos. E principiava uma
extensa barrela. Abríamos as torneiras, a água se derramava nas pias,
transbordava, alagava o chão; utilizando os canecos, atirávamos nas paredes
jatos enérgicos. Ensaboávamos tudo com rigor, as vassouras chiavam
desesperadamente, agitando espuma escura. Os chuveiros não tinham férias: sem
diminuir o trabalho, caíamos num banho ruidoso, violentas esfregações nos
livravam do suor e da tisna. O declive do terreno impedia escoamento: ainda o
líquido não chegava à porta e a poucos metros, ao fundo, tínhamos os pés
mergulhados.
Chapinhar confuso, dezenas de canos abertos,
vasilhas frenéticas lançando jorros sem descontinuar. Os quartos se enchiam,
principiávamos o combate à inundação. As torneiras se fechavam, moviam-se
furiosamente as vassouras, a arrojar no exterior espadanas largas. Do passadiço
uma cachoeira se derramava no résdo-chão, espalhava-se, recebia afluentes,
dirigia-se ao esgoto descoberto para receber o aguaceiro. Finda a lavagem
demorada, esfregávamos com estopa o solo vermelho, jogávamos nele borrifos de
creolina, que se alargavam na umidade, formavam nódoas leitosas. Em seguida
obturávamos com sabão as gretas dos guardaventos, as bases dos pregos metidos nos
muros, as articulações das grades e das camas; todos os buracos e ângulos
suspeitos eram calafetados.
A arrumação dos troços concluía a dura labuta. E os
corpos, afeitos à inércia, estiravam-se cansados, perdiam-se em leve modorra,
logo interrompida. Ainda não estavam secos os tamancos deixados a aquecer numa
faixa de sol, e uma lancetada rija nos despertava. A indignação nos enchia de
raiva. Trabalho perdido. Como se defendiam aqueles miseráveis resistentes ao incêndio,
ao dilúvio? Patifes. Zombavam dos nossos desgraçados esforços e vingavam-se.
Iriam assanhar-se, não nos deixariam tranqüilos. Canseiras inúteis, aniquilados
os desígnios mortíferos de Valério Konder. (...)”
Graciliano Ramos – Memórias do Cárcere – Vol. I P.
381-384
Leandro
Konder: trajetória crítica | Margem Esquerda Entrevista
Publicado em 13/11/2014 // 4
comentários
Entrevista especial com Leandro Konder.
É com profunda tristeza que nos despedimos de
Leandro Konder. Ser humano extraordinário, autor, coordenador de coleção,
conselheiro e, acima de tudo, um amigo e companheiro de lutas. Konder
sofria de Mal de Parkinson e faleceu em sua casa nesta tarde do dia 12 de
novembro.
Leandro foi um dos mais importantes filósofos
marxistas do país. Filho do líder comunista Valério Konder, foi preso e
torturado durante a ditadura militar brasileira e se exilou, em 1972, na
Alemanha e, posteriormente, na França. Regressou ao país em 1978 e passou a se
dedicar com afinco ao estudo das obras de Lukács e ao seu projeto de difundir o
marxismo em terras brasileiras. Pela Boitempo, publicou Em torno de Marx, Sobre
o amor e As artes da palavra. Desde 2005 coordenava a coleção
Marxismo e Literatura, a qual passou a ser dividida com Michael Löwy no último
ano.
Na esteira das homenagens da editora a Leandro
Konder, o Blog da Boitempo disponibiliza a entrevista completa
realizada por Emir Sader e Maria Orlanda Pinassi para a Margem Esquerda #5.
Também participa como interlocutor da conversa Carlos Nelson Coutinho, ou
“Carlito”, que também nos deixou cedo demais no final de 2012. Abaixo, o
texto integral; o leitor também tem a opção de baixar a entrevista
completa diagramada em PDF clicando aqui.
* * * * * *
Leandro Konder é um desses intelectuais que dedicam
a vida à crítica social e à construção do socialismo. A inquietação teórica é
marcante em sua obra, tão vasta como essencial aos leitores de Georg Lukács,
Antonio Gramsci, Walter Benjamin, Fourier e Flora Tristan, entre outros autores
e militantes do combate anticapitalista que Leandro ajudou a tornar conhecidos
no Brasil.
Numa tarde de janeiro de 2005, Leandro concedeu esta
entrevista à Margem Esquerda, reunido com Emir Sader, Maria Orlanda Pinassi e o
amigo e companheiro de jornada Carlos Nelson Coutinho. Ficam registrados nas
páginas a seguir alguns momentos preciosos de sua trajetória singular.
Margem Esquerda [ME] – Uma boa forma de começarmos a
conversar é conhecendo um pouco da sua formação marxista e da influência que
seu pai – Valério Konder – eventualmente exerceu sobre ela.
Leandro Konder [LK] – Meu pai era catarinense de
Itajaí. O pai dele foi prefeito da cidade durante muitos anos.
ME – Você tem a sensação de melancolia com esse
desfecho, com o PT chegando ao governo com essa cara? Com que palavra você
expressaria isso?
LK – Uma certa tristeza de ver pessoas que a gente
conheceu em outras situações – mostrando combatividade, mostrando certa
valentia – adotando atitudes tão apagadas, tão deliberadamente adaptadas
ao status quo, a uma realidade constituída, renunciando ao projeto
original.
ME – Qual foi o seu momento mais entusiasta no PT,
quando você mais se identificou, mais se deixou empolgar?
LK – Quando entrei no PT, em 1989, me inscrevi na
organização dos estudantes e professores da PUC. Fui para uma reuniãozinha
besta, tinha umas doze pessoas, todos radicalíssimos. E aí minha intervenção
foi provocadora e as reações engraçadas. Se nós formos ao poder por meio de
eleição, se formos obrigados a manter um calendário eleitoral e promover a
realização de eleições que poderiam nos tirar do poder, a maioria considerou
que jamais faria essa concessão de abrir mão. Abrir mão dessa conquista, para
manter um formalismo, com a entrega do poder aos nossos inimigos. Aí eu
discordei e perguntei se eles achavam que nós teríamos força para segurar o
poder contra os nossos inimigos, vitoriosos no caso de uma eleição. Ai comecei
a desarmar os espíritos e terminei dividindo. Dos doze, seis ficaram numa
posição e seis na outra. Aí eu acho que foi o momento em que me senti mais
animado. Essa foi uma situação que eu nunca vivi no Partido Comunista. Vivi
outras emoções, mas não essa, de ter mudado metade das posições.
ME – O momento de saída de vocês do PCB teve um
sentimento similar de melancolia ao da saída do PT?
LK – No PCB, acho que ficamos decepcionados com o
fato de que no exterior nós tínhamos alguns aliados, alguns simpatizantes na
direção e a perspectiva de vir para o Brasil fundar um jornal legal, coisa que
fizemos. Mas houve um acordo dos detentores do poder aqui no Brasil com os
dirigentes que vinham do exílio, e esse acordo levou ao nosso isolamento.
CNC – A melancolia com o PT é maior. A forma PC já
estava meio superada. O PC não estava dirigindo o processo, o PT estava
subindo. Além disso, a forma PC já começava a demonstrar um esgotamento. Mas
nós tínhamos esperança de renovar o PC, aquela idéia do eurocomunismo que já
estava dando errado lá também. A melancolia histórica com o PT, pelo menos no
meu caso, foi mais dura. Mas eu brinco sempre: com o PC eu tinha um casamento
monogâmico, com o PT nunca tive. Então, de certo modo foi mais fácil, nesse
sentido.
ME – Como é sua relação com o MST?
LK – De muita simpatia. Eles me prestigiam muito. Eu
acho que o movimento social que melhor reage à crise, por enquanto, embora se
ressinta de algumas dificuldades, é o MST. Mas ele não pode substituir o
partido.
***
Leandro Konder nasceu em 1936, em Petrópolis
(RJ), filho de Valério Konder, médico sanitarista e líder comunista. Formado em
Direito, Leandro exilou-se em 1972, após ser preso e torturado pelo regime
militar, e morou na Alemanha e depois na França até seu regresso ao Brasil em
1978. Doutorou-se em Filosofia em 1987 no Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais da UFRJ. Em 2002 foi eleito o Intelectual do Ano pelo Fórum do Rio de
Janeiro, da UERJ. Um dos maiores estudiosos do marxismo no país, coordena, em
conjunto com Michael Löwy, a coleção Marxismo e literatura, da Boitempo,
onde publicou Sobre o amor, As artes da palavra e Em torno
de Marx.
Referências
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10566503/artigo-197-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966
https://html1-f.scribdassets.com/60fy9t0io03gpbe1/images/1-373370d3b1.jpg
https://html2-f.scribdassets.com/60fy9t0io03gpbe1/images/2-6b0db1aa99.jpg
https://pt.scribd.com/document/205190228/KOSIK-Karel-Dialetica-do-concreto
http://www.pgletras.uerj.br/matraga/nrsantigos/matraga8kosik.pdf
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/k/konder_leandro.htm
https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTRX8pfZBN4G0OsXItmd3MltUa1Wb0OQiLuQgIMlmDTrxNJetDSFQ
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI89091-EI294,00-Morre+filosofo+tcheco+Karel+Kosik.html
http://f.i.uol.com.br/folha/poder/images/14316532.jpeg
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1547270-morre-o-filosofo-marxista-leandro-konder.shtml
https://social.stoa.usp.br/articles/0016/5313/MemA_rias_do_CA_rcere_Vol._I.pdf
https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2014/11/leandro-koner_carlito.jpg
https://blogdaboitempo.com.br/2014/11/13/leandro-konder/
Nenhum comentário:
Postar um comentário