"fazendo
campanha ética, pela seriedade"
Pedro
Simon vê Lula 'fora do páreo' e Bolsonaro 'sem condição de governar'
Nathan Lopes
Do UOL, em Porto Alegre 27/01/201804h00
Para o ex-senador Pedro Simon, efeitos de
prisão de Lula são 'imprevisíveis'
Simon
analisou o cenário político para a eleição presidencial de outubro e não enxerga
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nele após o julgamento do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) que o
condenou a 12 anos e um mês de prisão.
Ele
também acha que o adversário mais próximo do petista nas pesquisas de intenção
de voto, deputado federal Jair Bolsonaro, não reúne capacidade para governar.
Ainda
para Simon, o atual presidente e colega de partido, Michel Temer (PMDB),
não deveria sequer cogitar disputar a eleição. E para Marina Silva (Rede), que
considera ser o nome certo, ele só tem elogios: diz que o Brasil não a merece.
Na
entrevista, o veterano recordou a última eleição que disputou, há quatro anos:
"minha candidatura foi de mentirinha". "Meu nome foi preenchido
para ajudar na campanha do Sartori", comentou, citando o atual governador
do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB).
Sobre
a ideia de membros do PMDB gaúcho de lançar seu nome na disputa presidencial
deste ano, ele ri e diz: "meu tempo já passou".
Confira
os principais trechos da entrevista:
O que o senhor achou da decisão do TRF-4?
O voto foi muito claro, foi muito preciso. Eu acho,
com toda sinceridade, que a questão está consumada. O Lula pode querer
insistir, mas esse vai ser um trabalho que não vai redundar em nada porque não
vejo como refazer a posição. Ele está fora do páreo.
CONDENADO, LULA PODE SER CANDIDATO?
O PT tem reafirmado que, mesmo com a condenação, vai
registrar a candidatura de Lula. O senhor acha que ele estará na eleição
presidencial?
Acho que não. Acho que ele não vai estar na eleição
presidencial. Tem gente que está a pé. Ciro Gomes [pré-candidato do PDT] está
fazendo uma campanha na expectativa de que o Lula não seja candidato. Se o Lula
não for candidato, ele quer ter o apoio do PT. Eu acho que está consumada essa
posição: o Lula está fora do páreo.
Ciro atrairia mais votos do Lula do que Marina
Silva?
Não sei. Acho que a Marina vai ser a mais
beneficiada com a saída do Lula. É uma candidatura mais séria, mais
responsável. Em duas eleições, ela fez 20 milhões de votos. É uma biografia
limpa, absolutamente limpa, correta, decente. A Marina, acho que, hoje, dos
nomes que estão aí, é a candidata ideal. Só que ela é boa demais para nós, né?
Ela é integra, correta, é séria. Não tem defeitos. Então não serve para nós.
O PT está certo em não ter um plano B, em querer
exclusivamente Lula?
Ele [partido] está dizendo o que tinha que dizer. Se
já tivesse apresentado plano B, o PT tinha acabado na quarta [dia 24, quando
aconteceu o julgamento]. Então, eles dizem: não tem plano B, é o Lula. O PT tem
que ir com essa tese até o momento em que eles vão ver que não tem chance do
Lula, e aí vão preparar, arranjar um nome.
O TRF-4 indicou que vai pedir o cumprimento da pena
de prisão contra Lula, que tem apoiadores criticando intensamente a Justiça.
Que efeitos a prisão de Lula teria?
É imprevisível. Ele é uma bandeira muito forte para
o PT. Ele é uma bandeira muito forte para o PT. Ele é uma vítima, e a gente
gosta de uma vítima. Esse é um argumento que eles vão usar muito na campanha.
Eu vejo com muita preocupação esse negócio da prisão.
Eu acho que para a política, para o bem-estar da
sociedade brasileira, é melhor ter o Lula solto do que preso
Ex-senador Pedro Simon
Confrontos políticos têm marcado o país desde 2013,
deixando de lado propostas e planos de governo. O senhor vê algo diferente no
horizonte quanto a isso?
Não, lamentavelmente, não. Uma coisa que pode ser é
terminar com a corrupção, né? Assim como o Lula não pode ser candidato porque,
com a condenação dele, ele está comprometido com a Ficha Limpa, tem muita gente
que é candidato aí, deputado que quer ser candidato que tem a ficha até dez
vezes mais suja que a do Lula. Se retirar da política os que são "ficha
suja", já é uma grande coisa.
Atualmente, o cenário eleitoral de 2018 está
polarizado entre extremos, com Lula de um lado e Bolsonaro de outro. O senhor
acha que esse cenário se sustenta até outubro?
Bolsonaro não reúne nenhuma condição para governar o
Brasil
O nome de um cidadão que não apresentou nada a não
ser essa tese de defender a ditadura militar, de que vai botar comunistas ou
quem mais na cadeia, não tem condições de que ele seja capaz de empolgar a
sociedade. O Lula, sim. Se for ele, claro que empolga. Mas se o Lula não for
candidato, também acho difícil que alguém substitua a figura dele para
polarizar.
O nome, hoje, para mim, seria o da Marina. Se o Lula
não for candidato, o nome que tem para preencher esse vazio é a Marina. Em
2014, ela estava espetacularmente bem. Aí, quando veio a televisão (horário
eleitoral), ela se esvaziou. Ela tinha um minuto. A Dilma tinha dez. Isso é um
problema sério no Brasil
Se tiver uma frente em torno dela, ela [Marina
Silva] pode ser o grande nome desta eleição
Com os indicadores econômicos apresentando sinais de
melhora, o senhor acha que Temer deve disputar a eleição de 2018?
De jeito nenhum, acho que a pior coisa que ele
poderia fazer seria disputar a eleição. Acho que ele vai entender que ele não
tem nenhuma chance. Ainda que ele faça um bom governo, que ele vá bem --Deus
queira que vá--, não há condições de ele ser candidato à Presidência.
As pessoas têm muita dificuldade em entender o PMDB,
que, em cada Estado, pensa de uma forma. Como o senhor explicaria o PMDB?
Eu estou dentro da sua tese. Eu sou daqueles que
também não consegue explicar o PMDB. Cada lugar é um PMDB diferente. É
exatamente isso. Agora não há um comando-geral, não tem uma chefia. Então, na
verdade, o senador Renan [Calheiros] é um PMDB; o Sarney, outro PMDB; nós do
Rio Grande do Sul, mais outro. Infelizmente, não temos um fator de unificação
nacional.
EM 2 MINUTOS, COMO FOI O JULGAMENTO DE LULA
Ouvir
Pedro Simon é testemunhar um orador em ação. Homem despojado, sabidamente
alheio aos apelos das vaidades vãs, o senador pode, no entanto, bater no
peito para se vangloriar de uma façanha: é perfeitamente capaz de
falar em silêncio. “Mas como é possível ? ” – perguntará algum observador
ingênuo. É possível, sim : quando sobre à tribuna – ou quando se confessa
diante de um repórter, como faz agora, no gabinete que ocupa na ala Alaxandre
Costa do Senado Federal -, o senador transforma em arte a habilidade de pontuar
as frases com silêncios dramáticos. E os silêncios completam o que ele diz.
Deve ter sido sempre assim, desde os tempos em que exercia seus dotes oratórios
como advogado.
Os
silêncios dramáticos do senador, aliás, nunca vêm sozinhos, mas
acompanhados de gestos típicos: quando se cala entre uma frase e outra,
Simon faz um ar contrito, como se estivesse sofrendo em busca
de alguma palavra que lhe tenha escapado. Balança as mãos, como
se estivesse espanando o vazio. Franze a testa, como se estivesse
preocupado. Fixa os olhos claros em algum ponto do chão, como se estivesse
distante de tudo. Pronto. Emoldurada por este gestual, a figura do Pedro Simon
clássico estará completa. É inconfundível. Ah, fiel ao gauchês, volta e
meia subtrai o “s” dos plurais.
sáb,
06/07/13
por
Geneton Moraes Neto
As
confissões de Pedro Simon : a decisão de dar adeus ao Senado, o diálogo
decisivo com um arcebispo num momento de dor e a lembrança da madrugada em que
o Presidente da República foi derrubado
sáb, 06/07/13
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas
| tags Dom Vicente Scherer, Golpe de 64, João Goulart, José Sarney, Leonel Brizola, Pedro Simon, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães
Pedro
Simon: a hora de bater em retirada
O senador Pedro Simon deu um susto em seus
assessores. Nunca tinha feito uma declaração pública sobre se iria ou não sair
de cena, depois de quatro mandatos no Senado Federal. Resolveu fazer, sem aviso
prévio, na entrevista que gravei com ele para o DOSSIÊ GLOBONEWS
( vai ao ar neste sábado, às 21:05, com reprise no domingo, às
17:05 ).
Decidido: Simon não disputará a eleição de 2014.
Acabou o suspense. Fez as contas: completará 85 anos de idade justamente no mês
em que termina o atual mandato – janeiro de 2015. Resolveu que chegou a hora de
dar por encerrada a trajetória no Senado. Quer passar adiante o bastão. A não
ser que haja alguma improvável reviravolta, o nome de Pedro Simon
não voltará a aparecer nas cédulas eleitorais gaúchas.
O trecho da entrevista em que o senador surpreendeu
os assessores Luiz Fonseca e Luiz Cláudio Cunha :
O senhor já decidiu se vai ou não disputar um novo
mandato em 2014 ?
Simon: “Termino meu mandato – são sessenta anos de
vida pública – no dia 15 de janeiro de 2015. Neste dia, faço 85 anos. É uma
determinação do destino. Não vejo muita lógica em ser candidato com quase 85
anos. Há gente nova, brilhante e capaz. Mas não vou largar a política. Vou
ajudar o meu partido, como soldado raso ou seja como for. Mas não pretendo”.
Já se pode dizer, então, que o senador Pedro Simon
vai sair de cena, pelo menos no Congresso Nacional. O senhor sai de cena
frustrado ou feliz com o que fez ?
Simon: “Eu saio feliz. Tive grandes missões, grandes
responsabilidades. Sempre fiz o que podia fazer. Não fui herói, não fui santo.
Mas, dentro da capacidade relativa que eu tinha, o que podia fazer eu fiz.
Sinceramente. Duvido que tenha no Brasil um político que tenha trazido mais
políticos para a classe política do que eu. É o que passei a vida fazendo,
porque achava que era importante”.
Ouvir Pedro Simon é testemunhar um orador em ação.
Homem despojado, sabidamente alheio aos apelos das vaidades vãs, o senador
pode, no entanto, bater no peito para se vangloriar de uma
façanha: é perfeitamente capaz de falar em silêncio. “Mas como é possível
? ” – perguntará algum observador ingênuo. É possível, sim : quando sobre à
tribuna – ou quando se confessa diante de um repórter, como faz agora, no
gabinete que ocupa na ala Alaxandre Costa do Senado Federal -, o senador
transforma em arte a habilidade de pontuar as frases com silêncios dramáticos.
E os silêncios completam o que ele diz. Deve ter sido sempre assim, desde os
tempos em que exercia seus dotes oratórios como advogado.
Os silêncios dramáticos do senador,
aliás, nunca vêm sozinhos, mas acompanhados de gestos típicos:
quando se cala entre uma frase e outra, Simon faz um ar contrito,
como se estivesse sofrendo em busca de alguma palavra que lhe tenha
escapado. Balança as mãos, como se estivesse espanando o vazio.
Franze a testa, como se estivesse preocupado. Fixa os olhos claros em
algum ponto do chão, como se estivesse distante de tudo. Pronto. Emoldurada por
este gestual, a figura do Pedro Simon clássico estará completa. É
inconfundível. Ah, fiel ao gauchês, volta e meia subtrai o “s” dos plurais.
O político que venera São Francisco de Assis fez uma
espécie de voto de pobreza: passou os bens para os filhos. Teve
fôlego para enfrentar os sacrifícios de uma peregrinação a pé pelo sertão
nordestino, rumo ao santuário erguido em homenagem a São Francisco em
Canindé, no Ceará, porque queria experimentar a penitência, o cansaço, o jejum.
A entrevista do senador terminou se transformando
numa mistura de memória política com memória pessoal. Simon não se
incomoda de falar da dor que cintila, renitente, em algum ponto de suas
lembranças desde aquele fim de semana maldito de 1984, em que perdeu o
filho Matheus num desastre de carro. É capaz de comover o interlocutor
quando descreve a conversa decisiva que teve com o então arcebispo de Porto
Alegre, o cardeal Dom Vicente Sherer, dias depois da morte do filho. Da
conversa – que durou horas – saiu um Simon reconvertido, pronto para a
caminhada que o levaria, um dia, a peregrinar pelos sertões nordestinos em
busca do santuário onde, longe dos holofotes, pôde venerar o ideal franciscano
de despojamento.
Um trecho da entrevista, em que o senador fala da
conversa com o cardeal Vicente Scherer depois da morte do filho e dos
últimos momentos de João Goulart na Presidência da República :
O SENADOR E O CARDEAL : A CONVERSA QUE MUDOU A VIDA
DE SIMON
O então arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente
Scherer, passou um dia inteiro trancado com o senhor, porque, depois de perder
um filho num acidente, o senhor disse que Deus não estava olhando para o
senhor. Naquela conversa, o senhor foi reconvertido ?
Pedro Simon: “Perdi minha mulher e um filho num
acidente de automóvel. Naquela época do registro da candidatura de Tancredo
Neves na mesa do senado, estávamos na expectativa de que a Arena ia querer
boicotar, porque Sarney tinha candidato da gente. Fizemos, então, um esforço
concentrado aqui em Brasília. Fui dos primeiros a ficar aqui. Eu tinha marcado
com minha mulher e meus três filhos – eeu devia há muito tempo- que nós iríamos
descansar. Aquilo coincidia com o feriado de finados. Telefonei dizendo que não
podia ir mas que iria dois dias depois. Minha mulher ficou chateada. Terminou
indo. Primeiro, morreu meu filho. Depois, minha mulher teve uma depressão de
tal natureza que não se recuperou.
Quando houve a missa do meu filho, Dom Vicente veio
e me deu um abraço: “Firme, Dr. Pedro ! Tenho rezado muito a Deua pedindo para
ele olhar pra ti”. Eu disse: “Dom Vicente, agradeço ao senhor por suas orações.
Só não peça para Deus olhar para mim, porque, cada vez que ele olha, ele me dá
uma paulada”.
Um dia depois, às seis e meia da manhã, apertam a
campainha. Era Dom Vicente. Ficou comigo o dia inteiro. Dom Vicente era
brilhante. Não tinha na retórica uma grande qualidade. Mas ali, não sei se era eu
, não sei se era ele, eu recuperei minha fé com ele. Se ele não estivesse ali,
não sei o que aconteceria. Porque eu estava de mal com o mundo. Uma das coisas
que Dom Vicente me mostrou: “Dr.Pedro, o senhor perdeu o filho. Disso, o senhor
não teve culpa. É o destino. Pelas informações que tenho, os seus outros dois
filhos estão enlouquecidos, porque o senhor não liga, não fala, não toma
conhecimento de nada. Se alguma coisa acontecer a eles, o senhor é o culpado”.
A primeira coisa que fiz, então, foi procurar meus dois filhos. Minha vida
tomou um rumo”.
O senhor teve diálogos importantes com líderes
históricos do Brasil. O senhor diria que esta conversa pessoal com o arcebispo
foi a mais importante que o senhor teve na vida ?
Pedro Simon: “Sob o ponto de vista da minha vida,
foi. Eu estava caindo dia após dia. Estava caindo em depressão. Eu não aceitava
o que tinha acontecido comigo. Não estava certo. E o arcebispo conseguiu fazer
um retorno muito bonito”.
A MAIS LONGA DAS NOITES : JANGO SE VÊ À BEIRA DO ABISMO
Um mês antes do golpe de março de 1964, o senhor
ouviu um desabafo do ainda presidente João Goulart sobre as cobranças que ele
vinha sofrendo para apressar as chamadas reformas de base. Em que termos foi
feito este desabafo ?
Pedro Simon: “Já foi no final. Jango marcou com a
gente às dez da noite no Palácio do Alvorada. Chegamos lá às dez. Quando ele
chegou, era meia-noite. Ficamos até as seis da manhã. E ele desabafou. Começou
a “chorar”, magoado. Disse: “Pelo amor de Deus, será que eu mudei, será que não
quero fazer as coisas ? Mas estou cercado de tudo que é lado ! É a Igreja, é o
poder militar, são os empresários, é a mídia, é até a classe média – uma
campanha de rebelião ! E alguns querem que eu faça tudo como projetamos ! Que
eu faça cem por cento assim. Não dá! Se eu fizer, caio na hora ! O que estou
propondo, o que estou discutindo é o que vamos fazer. Por exemplo: reforma
agrária. Nós vamos fazer trinta por cento do que prometemos. Quando chegar a
hora de imp´lantar, eu boto mais vinte. Quem vier depois não voltará atrás. Vai
ter de caminhar adiante”. É o que ele dizia”.
Qual era a queixa mais séria que o então presidente
João Goulart fazia em relação à falta de apoio político que ele tinha ?
Pedro Simon: “Todas as forças – desde as
reacionárias, as extremistas – até forças – digamos assim – conservadoras que
nunca tiveram participação em radicalismo e em golpe dessa vez estavam todas
fechadas. A Igreja, com aquela campanha de “Deus, pátria e família” tinha se
movimentado de tal maneira que era quase uma unanimidade. A imprensa toda ! A
classe empresarial, os industriais – toda. Faltou alguém ? E o Exército, as
Forças Armadas.
Jango estava reduzido a uma base de esquerda,
rachada em dez tipos de decisões :”Vamos fazer isso, vamos fazer aquilo” . E o
outro lado estava unido e coeso de uma maneira total”.
O senhor testemunhou um momento dramático : o
instante em que o então presidente João Goulart decidiu que não iria lutar para
permanecer na presidência. O que é que ele disse, exatamente ?
Pedro Simon: “Ficamos no aeroporto, em Porto Alegre,
de meia-noite às duas e meia da madrugada, quando o avião de Jango chegou.
Fomos todos para a casa do comandante do III Exército – que disse: “Presidente,
estou à sua disposição. Nós – do III Exército – estamos aqui. A decisão é sua
!”.
Brizola já estava insistindo em fazer um movimento.
Brizola queria que Jango o nomeasse ministro da Fazenda e nomesse o general
Ladário Teles, comandante do III Exército, como ministro da Guerra, para começar,
naquela madrugada, a caminhar. Deu para sentir que Jango não tinha nenhuma
simpatia pela nomeação de Brizola como ministro da Fazenda. Em Ladário ele
confiava, mas dava para ver que Ladário não era um daqueles generais de
convivência com o presidente da República. Não tinha uma credibilidade, não era
um nome de força que pudesse representá-lo em muita coisa. Representava porque
estava no comando do III Exército”.
O senhor diz que, neste encontro com o Presidente
João Goulart, Leonel Brizola pediu para ser nomeado ministro da Fazenda e o
general Ladário, ministro da Guerra. Por que exatamente Brizola queria ser
ministro da Fazenda, naquelas circunstâncias ?
Pedro Simon: “Você faz uma pergunta que cada um
responderia de um jeito. Vou responder com a interpretação que tenho, mas com
certeza absoluta : ali, naquele momento, para ser uma coisa para valer, se
Brizola assumisse o ministério da Fazenda não por convite de Jango mas por
imposição própria e se o general Ladário assumisse o ministério da Guerra, haveria
um movimento em que Brizola é que assumiria o comando. Caso contrário, se ele
fosse, por exemplo, ministro da Justiça, não iria ter um tostão, não iria ter
poder nenhum. Mas ele como ministro da Fazenda, com o ministro da Guerra ao
lado, poderia tentar fazer alguma coisa. Isso deve ter assustado um pouco Jango
: até que ponto Brizola iria nessa caminhada”.
Que reação o presidente João Goulart teve quando
soube que a presidência da República tinha sido declarada vaga ?
Pedro Simon: “A reação de Jango foi de profundo
abatimento. Digo uma coisa interessante: Jango não estava com fisionomia de
derrotado ou de medo ou de temor. Estava com uma fisionomia firme”.
Alguém tentou convencer o presidente João Goulart,
além de Leonel Brizola, a resistir ?
Pedro Simon: “O ímpeto de resistir existia. O que
deixava a gente preocupado era quando Jango dizia: “Eu sei que a Sétima Frota
está ali do lado, pronta para intervir, querendo intervir ! Pelas informações
que a gente tem, ela quer fazer tudo para intervir, porque acha que este é o
momento de fazer a limpeza que quer fazer no Brasil. E não sei se temos
condições de resistir”. Isso deixava a gente também assustado. Uma coisa muito
interessante é que, no início, a reunião foi democrática. Ficamos todos na sala
de estar do comandante do III Exército. Havia um hall de entrada grande. Estava
todo mundo ali. Depois, alguns foram para a sala de jantar. Em seguida, foram
para o quarto do comandante. E,no fim, estavam Jango, Brizola e já não lembro
quem no banheiro. E aí nunca mais vi Jango – que saiu pelos fundos e foi
embora”.
O senhor confirma, então, que o ainda presidente
João Goulart tinha informações sobre a iminência de uma intervenção americana
no Brasil, em 1964? O senhor ouviu referências de Joáo Goulart a este perigo ?
Pedro Simon: “Nesta madrugada, na casa do comandante
do III Exército, Jango foi enfático: “Estão ali – preparando”. E, no Palácio do
Alvorada, quando estivemos com ele, Jango disse a mesma coisa.Sõ não disse tão
enfaticamente : “Estão aqui, esperando para entrar”.
É historicamente correta a afirmação de que o então
presidente João Goulart não resistiu exclusivamente porque queria evitar
derramamento de sangue ?
Pedro Simon: “Absolutamente certo. Jango sentiu que
as coisas estavam se precipitando. Ia ser algo muito grave – que fugiria do
controle”.
O senhor chegou a ouvir alguma referência do então
presidente João Goulart sobre o medo que ele tinha de que houvesse derramamento
de sangue no Brasil ?
Pedro Simon: “Jango disse que não estávamos
preparados para um golpe de estado. Ficou convencido de que a frota americana
estava “ali do lado” e a guerra civil seria uma realidade. Eu diria com toda
sinceridade que Jango teve coragem. Não foi um ato de medo : teve o peito de
dizer : pago um preço mas não quero ver o que pode acontecer com o Brasil”.
Referências
https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/1c/2016/04/24/pedro-simon-1461489652817_615x300.jpg
https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/01/27/apos-condenacao-lula-esta-fora-do-pareo-avalia-pedro-simon.htm
http://g1.globo.com/platb/geneton/2013/07/06/as-confissoes-de-pedro-simon-a-decisao-de-dar-adeus-ao-senado-o-dialogo-decisivo-com-um-arcebispo-num-momento-de-dor-e-a-lembranca-da-madrugada-em-que-o-presidente-da-republica-foi-derrubado/
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