sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Menina, a vida é rio abaixo


- alô João

O Rio Paraibuna banhou o juiz de fora e segue banhando o município de Juiz de Fora. Mudaria o rio, ou mudaram os juízes?

“Quando as nuvens se enchem, elas descarregam a chuva sobre a terra. Quando uma árvore cai — seja para o Sul ou para o Norte —, fica bem ali, no lugar em que caiu”. 
Eclesiastes 11.1-6 – Providências Sábias Diante do Desconhecido


ZARATUSTRA:  DA  MONTANHA  PARA  A  CIDADE (2)

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!"

(Nietzsche)



“E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração.”
A Terceira Margem do Rio João Guimarães Rosa





O rio Paraibuna nasce na Serra da Mantiqueira, no município de Antônio Carlos, numa altitude de 1180 m. A partir das nascentes, seu curso tem orientação W-E até proximidades da divisa dos municípios Antônio Carlos e Santos Dumont. Nesse trecho de aproximadamente 30 km, as cotas altimétricas vão de 1180 m a 750 m. A partir daí, assume a direção NW-SE, passando por Juiz de Fora a 680 m de altitude. Em seguida recebe as águas do rio do Peixe e do rio Preto pela margem direita e o rio Cágado pela margem esquerda, onde assume o sentido N-S até a foz no Paraíba do Sul. Seu trecho final, numa extensão de 44 km, corresponde à divisa entre os Estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Da nascente até a foz, na cota altimétrica de 258 m, tem comprimento da ordem de 170 km e declividade variada, nas proximidades de Juiz de Fora é de aproximadamente 1m/km e no baixo curso é de aproximadamente 5m/km (figura A.3.1).





O rio Paraibuna nasce na Serra da Mantiqueira, no município de Antônio Carlos, numa altitude de 1180 m. A partir das nascentes, seu curso tem orientação W-E até proximidades da divisa dos municípios Antônio Carlos e Santos Dumont.






Nele foi construída em 1889, no município de Juiz de Fora, a Usina de Marmelos, primeira usina hidrelétrica da América do Sul. A partir do ponto em que recebe as águas de seu afluente rio Preto, o rio Paraibuna serve de divisa entre os estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro até a sua foz no rio Paraíba do Sul.



Dueto de João Cabral de Melo Neto e Murilo Mendes 

GRAFITO PARA IPÓLITA
por Murilo Mendes

1
A tarde consumada, Ipólita desponta.

Ipópita, a putain do fim da infância.
Nascera em Juiz de Fora, a família em Ferrara.

Seus passos feminantes fundam o timbre.
Marcha, parece, ao som do gramofone.

A cabeleira-púbis, perturbante.
Os dedos prolongados em estiletes.

Os lábios escandindo a marselhesa
Do sexo. Os dentes mordem a matéria.

O olho meduseu sacode o espaço.
O corpo transmitindo e recebendo

O desejo o chacal a praga o solferino.
Pudesse eu decifrar sua íntima praça!

Expulsa o sol-e-dó, a professora, o ícone
Só de vê-la passar, meu sangue inobre

Desata as rédeas ao cavalo interno

2
Quando tarde a revejo, rio usado,
Já a morte lhe prepara a ferramenta.

Deixa o teatro, a matéria fecal.
Pudesse eu libertar seu corpo (minha cruzada)

Quem sabe, agora redescobre o viso
Da sua primeira estrela, esquartejada.

3
Por ela meus sentidos progrediram.
Por ela fui voyeur antes do tempo.

4
O dia emagreceu. Ipólita desponta.







MURILO MENDES E OS RIOS
por João Cabral de Melo Neto

Murilo Mendes, cada vez
que de carro cruzava um rio,
com a mão longa, episcopal,
e com certo sorriso ambíguo,
reverente, tirava o chapéu
e entredizia na voz surda:
Guadalete (ou que rio fosse),
o Paraibuna te saluda.
Nunca perguntei onde a linha
entre o de sério e de ironia
do ritual: eu ria amarelo,
como se pode rir na missa.
Explicação daquele rito,
vinte anos depois, aqui tento:
nos rios, cortejava o Rio,
o que, sem lembrar, aqui temos dentro.

Fotografia: Cachoeira, Rio Paraibuna, Serra do Mar



Rio Abaixo
Renato Teixeira



Tem dias que eu acordo meio estranho
As flores brilham quando eu as apanho
E o sol me bate de um jeito novo
Lá fora o mundo é tão perigoso
Depois daquele morro tem um rio
E pelo rio vai seguindo o meu rebanho
Não ia lá, tinha medo, tinha frio
Agora eu entro no riacho e tomo banho
E assim nós vamos indo pouco a pouco
Rio abaixo, a correnteza nos levando
E a vida faz com que eu me sinta meio louco
E eu vou nadando, vou nadando, vou nadando
Rio abaixo, tem que nadar com a multidão
Rio abaixo, olha o ladrão, o cidadão e o figurão
Rio abaixo, alô João, tem que nadar com a multidão
Rio abaixo, pro oceano
O oceano, o oceano, o oceano, o oceano
Rio abaixo é o rio do rebanho
O oceano, o oceano, o oceano
Composição: Geraldo Roca / Paulo Simões



Boiadeiro do Nabileque
 Almir Sater



Vai boieiro
Rio abaixo
Vai levando gado e gente
O sal grosso e a semente
Eh! Porto de Corumbá!

Um amor, toda beleza
Como um canto de nobreza
Desliza na veia d'água
Eh! Rio Paraguai

Rio acima, peixe bom
Passarada, matagal
Velho bugre entoando
Seu antigo ritual
Pantaneiro
Composição: Almir Sater



O talento se desenvolve na solidão, o carácter no rio da vida.
Johann Goethe 



Referências

http://viverascidades.blogspot.com/2011/02/zaratustra-da-montanha-para-cidade-2.html
https://www.aedi.ufpa.br/parfor/letras/images/documentos/ativ-a-dist-jan-fev2014/CASTANHAL/castanhal-2010-010/guimaraes%20rosa%20-%20a_terceira_margem_do_rio-3.pdfhttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/53/VISTA-JUIZ_DE_FORA_-RIO_PARAIBUNA_-_panoramio.jpg
http://www.ceivap.org.br/downloads/cadernos/Caderno%203%20-%20Paraibuna.pdf
https://www.google.com/maps/vt/data=xWawfwLzNhn4LpwngPCdr_QDTJvn3Y_13lYhtNhHmb8DCHxBXifmKRAtC7x9NUIAf_xaM-2TRx1PzjtuW6EXRineKKBNp91v3Ahz-guNH9Y1H9ESouHZBNKXDjhsjLhjtulOncebwlywsvUwibtZ7Q4z8k7oy62uktH0HsHsvfnC7eX7e9H0gE-rWg9hTYLmWDUmaThxaqCv2Ph7yTUo
https://www.google.com/search?q=Rio+Paraibuna+nascente&oq=Rio+Paraibuna+nascente&aqs=chrome..69i57j69i64.7839j1j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/45/Rio_Para%C3%ADba_do_Sul_-_1.jpg
https://www.google.com/search?q=Foz+do+Rio+Paraibuna&oq=Foz+do+Rio+Paraibuna&aqs=chrome..69i57.16127j1j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8
https://jornaleirotalisandrade.files.wordpress.com/2015/04/rio_paraibuna_paulista.jpg
https://jornaleirotalisandrade.files.wordpress.com/2015/04/cachoeira_do_parac3adbuna.jpg
https://jornaleirotalisandrade.wordpress.com/2015/04/11/dueto-de-joao-cabral-de-melo-neto-e-murilo-mendes/
https://youtu.be/2HXm7z4zyww
https://www.letras.mus.br/renato-teixeira/922960/
https://youtu.be/cy0y-SIGGa8
https://www.letras.mus.br/almir-sater/44074/

Nenhum comentário:

Postar um comentário