quarta-feira, 3 de junho de 2020

“Crepúsculo dos ídolos”








Em defesa da democracia
Por Zuenir Ventura

Há um despertar crítico da sociedade

O que há de comum entre membros de torcidas organizadas e intelectuais, artistas, políticos e juristas? É que eles, depois de um longo silêncio, acabam de se expressar, por meio de manifestos e na rua, em defesa da nossa ameaçada democracia. O fenômeno veio ilustrar o que as pesquisas de opinião já apontavam: a insatisfação com o governo. Ontem mesmo, quando um importante assessor de Bolsonaro era acusado de operar robôs, isto é, de espalhar notícias falsas, era publicado o levantamento do Ibope revelando que 90% dos brasileiros querem uma legislação contra as fake news.

Antes, o mesmo instituto mostrava que 70% dos consultados consideravam o governo atual como ruim, péssimo ou regular. O resultado deu origem ao movimento #Somos70porcento, que invadiu as redes sociais.

Dos manifestos, o “Basta”, de advogados e juristas, defende com ênfase as instituições democráticas e acusa o presidente de já ter cometido crimes de responsabilidade, o que, como se sabe, pode levar ao impeachment.

O mais amplo é o #Juntos, que já conta com mais de 200 mil assinaturas, e conseguiu o que parecia impossível nestes tempos de polarização e intolerância. Juntou os contrários num mesmo texto, colocando lado a lado direita, esquerda e centro. Apresenta-se assim, olha que beleza: “Com ideias e opiniões diferentes comungamos dos mesmos princípios éticos e democráticos.

Queremos combater o ódio e a apatia com afeto, informação, união e esperança.” E termina: “Vamos juntos sonhar e fazer um Brasil que nos traga de volta a alegria e o orgulho de ser brasileiro.”

Esse despertar crítico da sociedade, que parecia indiferente à indiferença de um presidente que diz ir aonde o povo está e até agora, apesar da pandemia, não visitou um hospital, preferindo o “povo” do cercadinho em frente ao palácio, foi um presente que, otimista incorrigível, recebi pelos meus 89 anos feitos esta semana, parte dos quais vividos sob a ditadura tão sonhada pelo capitão. Aliás, ele já disse que sua única restrição é que ela torturou em vez de matar mais.
O Globo, 02/06/2019













O ‘mito’ e a mitomania
Por Zuenir Ventura

Dizem que político mente por dever de ofício. Mas há os que abusam. O site Intercept garante que Bolsonaro, por exemplo, mentiu publicamente 200 vezes desde que tomou posse, isto é, mais de uma mentira a cada 24 horas. A julgar pelos últimos dias, o número não é exagerado.

Em uma só manhã, o presidente mentiu para a imprensa estrangeira sobre a fome, o desmatamento, a educação, o uso de agrotóxicos. Ele às vezes tem o comportamento de um mitômano, mente por compulsão.

Na primeira entrevista ao “Jornal Nacional” depois de eleito, ele disse que sua bandeira era a passagem bíblica “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. E terminou dirigindo-se aos crédulos: “Agradeço aos que acreditaram na verdade e confiaram no meu nome nas urnas”.

Aos correspondentes, no entanto, ele afirmou que não existia fome no Brasil. Depois, ao tentar consertar, mentiu novamente, admitindo que apenas “alguns” não têm acesso à comida — na realidade são mais de cinco milhões de brasileiros nessa situação.

Quanto ao desmatamento, o Brasil não é o país que mais preserva o meio ambiente, como ele anuncia. Está em 30º lugar, de acordo com o Banco Mundial.

Mas o que mais irritou Bolsonaro foi o Inpe revelar o aumento de 88% em relação a julho de 2018, ou seja, mais de mil quilômetros quadrados de floresta. Em vez de xingar os grileiros, ele acusou os dados de “mentirosos” e insinuou que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, estava a serviço de alguma ONG.

Galvão classificou as acusações como “piadas de um garoto de 14 anos” e disse que o presidente não respeita a dignidade e a liturgia do cargo. Também a SBPC divulgou manifesto em apoio ao Inpe e a seu diretor. “Dr. Ricardo Galvão é um cientista reconhecido internacionalmente, que contribui para a ciência, tecnologia e inovação do Brasil”.

Quanto a Míriam Leitão, Bolsonaro mentiu, acusando-a de mentir sobre sua prisão. Mas ele já comentou a cena em que os torturadores puseram na sua cela uma jiboia e apagaram a luz. “Coitada da cobra”, debochou o então deputado.
O Globo, 24/07/2019









"Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi...".




“ETERNO RETORNO”





Um mundo se desenrola diante de mim.
Prédios, carros, pessoas
parecem cumprir seu patético “destino”.
Um “destino” cheio de mudanças,
acertos e desacertos
que parecem se repetir infinitamente
sem que nada, absolutamente nada,
se revele de forma Nova... Radical.
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-concepcao-nietzscheana-niilismo.htm’




DURANTE REUNIÃO
Lula critica manifestos suprapartidários e diz não ter idade para ser "maria vai com as outras"
Ex-presidente afirmou que muitos dos documentos articulados pela sociedade civil desconsideram os direitos dos trabalhadores
01/06/2020 - 16h37minAtualizada em 01/06/2020 - 17h14min

FOLHAPRESS
Joelmir Tavares




O ex-presidente Lula criticou em reunião do PT nesta segunda-feira (1º) os manifestos suprapartidários em defesa da democracia surgidos nos últimos dias, sob o argumento de que os documentos articulados pela sociedade civil desconsideram os direitos dos trabalhadores.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, as iniciativas buscam recriar o clima das Diretas Já e uniram adversários ideológicos diante dos ataques do presidente Jair Bolsonaro a instituições e à Constituição. A principal mobilização da atual leva é o Movimento Estamos Juntos, mas pelo menos outros seis grupos estão se consolidando nesse cenário.
Lula defendeu que o partido analise as iniciativas antes de tomar qualquer decisão e as relacionou a um projeto da elite brasileira — embora parte dos manifestos venha se organizando por meio da internet, com a possibilidade de qualquer cidadão aderir.
— Li os manifestos e acho que tem pouca coisa de interesse da classe trabalhadora. Não se fala em classe trabalhadora, nos direitos perdidos — afirmou. 
Para ele, os textos só falam genericamente no que chamou de corte recente de direitos. O ex-presidente se disse incomodado com a presença, nas listas, de nomes de pessoas que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e que, na visão do petista, abriram caminho para a eleição de Bolsonaro. Em diversos momentos, ele reivindicou protagonismo para o partido.
— Sinceramente, eu não tenho mais idade para ser "maria vai com as outras". O PT já tem história neste país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas — afirmou Lula.
Na fala, transmitida em redes sociais, o ex-presidente disse ter lido os manifestos do Estamos Juntos (inicialmente assinado por artistas e intelectuais) e do Basta! (organizado por advogados e outros representantes do universo jurídico).
Alguns dos manifestos, segundo Lula, são "feitos com boas intenções" e contam com "gente muito boa assinando", mas também há "aqueles que estão fugindo do barco" — que apoiaram Bolsonaro e agora querem se desvencilhar dele.
— Nós precisamos apoiar qualquer manifesto que for para resolver o problema do Brasil, (mas) não podemos ser levados pela euforia — acrescentou Lula, afirmando que a sigla não pode se deixar ser usada por pessoas que são contra Bolsonaro, mas apoiam a política econômica do ministro Paulo Guedes:
— (Tem) muita gente de bem que assinou. E tem muita gente que é responsável pelo Bolsonaro. O PT tem que discutir com muita profundidade, para a gente não entrar numa coisa em que outra vez a elite sai por cima da carne seca, e o povo trabalhador não sai na fotografia.
O petista disse não ter certeza se o objetivo das mobilizações é tirar Bolsonaro, "porque o que interessa para a elite brasileira é a política de desmonte do Guedes. Eles estão tentando reeducar o Bolsonaro, mas não querem reeducar o Guedes".
Após as justificativas, Lula defendeu que o PT tome "muito cuidado" diante das iniciativas:
— Para a gente não pegar o primeiro ônibus que está passando. É preciso que a gente analise todos esses manifestos e que conversemos com os organizadores para saber o que eles querem.
Na opinião dele, "há um interesse muito grande da elite brasileira em voltar a governar o país sem o PT".
— As pessoas acabaram de cometer um ato ilícito, tirando uma presidente democraticamente eleita pelo povo, e aí perceberam que o troglodita que eles elegeram não deu certo. Eles agora querem tentar tirar o troglodita para quê? — afirmou.
— Até o Fernando Henrique Cardoso, que é um dos ajudaram a derrubar a Dilma, porque se acovardou, (assinou) — continuou o petista, citando a adesão do tucano ao Estamos Juntos — Eu não posso aceitar com muita facilidade aquilo que as pessoas que ajudaram a destruir o país estão querendo fazer — disse, sem citar nomes.
PT deve "agradecer" manifestações contra Bolsonaro, mas propagar as suas ideias
Lula falou aos colegas de legenda que o PT deve "agradecer a todos os brasileiros e brasileiras de todos os pensamentos ideológicos que foram para a rua protestar contra o Bolsonaro", mas não pode abrir mão de propagar suas ideias e reafirmar a defesa dos trabalhadores.
— O PT não é uma coisa qualquer que pode ser menosprezada. Eu vejo uma tentativa muito grande de isolar o PT, de fazer com que o PT desapareça do cenário político — insistiu — Eu acho que todos esses manifestos têm uma importância para a sociedade e para a democracia, mas é preciso que o PT defina qual é o manifesto que interessa para o PT, qual é a linguagem que interessa para o PT — discursou.
O ex-presidente disse ainda aos colegas de legenda que o partido precisa ter clareza de qual discurso apresentar à sociedade e que não pode "se deixar levar outra vez pela elite brasileira".
— Eu só quero dizer para o PT o seguinte: o PT não tem idade para outra vez entrar enganado numa disputa. Nós sabemos por que queremos o impeachment do Bolsonaro: porque nós queremos que este país seja governado para os interesses dos trabalhadores brasileiros — afirmou.














Grito do excluído
Por Dora Kramer

Veja
2 jun 2020






Lula é voz isolada na condenação aos manifestos de unidade













Na tela dos autores dos manifestos, a unidade dos que têm como referência a defesa dos valores da democracia e da cidadania. Contra, por suposto, o modo como Bolsonaro pretende governar.




Para manejar cachorro e gado, basta que cachorro e gado tenham as vidas de cachorro e de gado para esses antípodas da polarização buscada e forçada!




Luiz Inácio não vai com os outros
Por Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo
2 jun 2020


Petista rejeita aliança por acreditar que pode se contrapor sozinho a uma recessão econômica

A quatro dias do segundo turno de 2018, Lula cobrou a união de “todos e todas que defendem a democracia”. Numa carta escrita da prisão, o ex-presidente anotou que o país caminhava em direção a uma “aventura fascista” e afirmou: “É o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad”.

O petista agora indica que aquela era uma peça de marketing de baixa qualidade. Nos últimos dias, ele criticou esforços pela criação de uma frente contra tendências autoritárias de Jair Bolsonaro.

Classificou manifestos em defesa da democracia como projetos da elite e desestimulou o PT a aderir aos movimentos.

“Sinceramente, eu não tenho mais idade para ser maria vai com as outras”, afirmou o ex-presidente num evento do partido, na segunda (1º).

A rejeição ao governo se alargou, mas Lula só parece preocupado em preservar hegemonia em seu próprio campo político. O ex-presidente se recusa a compartilhar a liderança de um pacto de oposição e resiste a abrir mão de itens de sua agenda em nome de princípios mais abrangentes.

Para o petista, os movimentos pela democracia são parte de um plano da elite para “voltar a governar o país sem o PT”, ignorando a agenda de redistribuição de renda que se tornou marca da sigla. Sem perceber que o eixo de contestação a Bolsonaro se desloca rapidamente para o centro e para a direita, no entanto, ele corre o risco de ser atropelado também dentro da esquerda.

Alguns aliados de Lula dizem que o ex-presidente se comporta de maneira pretensiosa e autocentrada. Eles entendem que é preciso unir forças políticas com programas distintos e admitem que a esquerda pode não ser capaz de disputar o comando dessa frente neste momento.

Lula rejeita essa aliança por acreditar que o PT pode se contrapor sozinho a uma possível recessão econômica sob o atual governo. Em nome desse projeto, ele se mostra disposto a alimentar uma divisão que pode facilitar o caminho para as investidas autoritárias de Bolsonaro.











Grito do excluído
Por Dora Kramer
Lula é voz isolada na condenação aos manifestos de unidade

Veja
2 jun 2020






Lula recusa participação do PT em coletivo onde ele não é protagonista. Não é a 1ª vez

Surpreende a condenação de Lula à recente movimentação dos opositores do modo Jair Bolsonaro de governar.
O gosto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo sectarismo e o atrito na ação política não é novidade. Construiu assim a trajetória do PT na oposição até a pragmática adesão à dinâmica “paz e amor” para conseguir chegar ao poder.
Voltou à pregação da intolerância na derrocada de sua condição de líder da oposição.
Por isso não deveria, mas surpreende a condenação de Lula à recente movimentação dos opositores do modo Jair Bolsonaro de governar e a recusa do petista de assinar qualquer um dos manifestos que se avolumam em defesa dos ideais democráticos, cujo propósito é o de reunir signatários sem distinção partidária, social, ideológica e/ou profissional.
Lula pede que o incluam fora dessa alegando que os documentos não fazem referência “aos direitos dos trabalhadores”. Sim, a referência é aos direitos gerais dos cidadãos brasileiros de viver numa democracia plena. O ex-presidente não ignora isso, como de resto não ignoram todos os que tenham lido os enunciados dos manifestos.
Portanto, Lula faz a confusão propositadamente. O real motivo está linhas adiante de sua justificativa, quando diz que está muito velho para ser “maria-vai-com-as-outras” e se dá ao direito de não compartilhar ações com “determinadas pessoas”.
Não é a primeira vez que Luiz Inácio recusa participação do PT em movimentos coletivos robustos nos quais não seja ele o protagonista. Foi assim quando negou voto a Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985, foi assim quando de início recusou assinar a Constituição de 1988 (recuou, depois), foi assim quando repudiou participação na coalização de forças integrantes do governo de transição de Itamar Franco, foi assim quando repudiou o Plano Real.








Ao rejeitar manifestos pró-democracia, Lula se arrisca a deixar de ser protagonista
Por Sérgio Roxo

O Globo
2/06/2014:14





Lula em debate para marcar os 40 anos do PT, em fevereiro: ex-presidente pode ter perdido o poder catalisador do passado Crédito: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Ao criticar os manifestos pró-democracia lançados no fim de semana, o ex-presidente Lula talvez tenha sacramentado a sua despedida do papel de protagonista da vida política nacional que exerceu desde a redemocratização. Seja no movimento pelas Diretas, nos dois processos de impeachment ou nas oito eleições presidenciais ocorridas no período, o líder petista sempre esteve em cena com destaque.
Agora, caso os movimentos atuais ganhem corpo (o manifesto Estamos Juntos já conta com 2,5 milhões assinaturas), Lula pode se consolidar apenas como líder de um grupo minoritário e sectário na política nacional, num movimento oposto ao que o levou ao poder em 2002.
Pessoas próximas reconhecem que o ex-presidente ainda não encontrou o seu espaço depois que deixou a prisão, em novembro. Seu círculo de interlocutores diminuiu, tanto na quantidade como na diversidade de visões.
Em sua fala contra os movimentos pró-democracia na segunda-feira, Lula descartou dividir manifestos com quem apoiou o impeachment de Dilma Rousseff. Porém, não mencionou que, ainda em 2017, durante uma caravana pelo Nordeste, foi recebido com pompa em Alagoas pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Renan presidia o Senado na época do afastamento da ex-presidente e votou pelo impeachment.
Lula também gerou constrangimentos entre aliados. Ao dizer não ter mais idade para ser “maria vai com as outras”, o ex-presidente criticou de forma indireta Fernando Haddad, que assinou o manifesto Estamos Juntos. Quando citou o Basta!, voltou-se contra boa parte dos advogados do Grupo Prerrogativas, que apoiaram a sua cruzada contra a Lava-Jato.
Ao destilar as suas críticas aos documentos pró-democracia, Lula se esquece que a sua participação em um movimento desse tipo hoje em dia talvez não tenha mais o poder catalisador do passado. Em março, um manifesto pela renúncia de Bolsonaro reuniu nomes de partidos de esquerda e centro-esquerda. Na ocasião, muitos políticos só aceitaram assinar o texto porque o petista ficou de fora.
Por Sérgio Roxo













Crítica de Lula a antigolpistas é reacionária. Ou: entre estratégia e erro
Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
02/06/2020 08h50
                                             
Até me vejo tentado a começar assim o texto: "Lula comete um erro ao criticar os manifestos suprapartidários em defesa da democracia..." Mas penso que seria uma tolice. O petista, a exemplo de Bolsonaro, nunca erra. Eles anteveem o futuro para os seus. E não! Eles não são iguais. Concorde-se ou não, o petista trava as suas disputas no terreno da democracia. Bolsonaro aspira à destruição do regime em nome do que ele chama "liberdade". Lula é de centro-esquerda; Bolsonaro é um fascitoide vulgar e truculento. Dito isso, sigamos.

Nesta segunda, Lula viu em manifestos como o "Estamos Juntos", de que este escriba é signatário, só a expressão dos interesses da elite brasileira, desprezando os dos trabalhadores. A frase é falsa porque o manifesto não especulou ou arbitrou sobre escolhas de política econômica, o que certamente provocaria divisões. O que se faz lá é buscar o que nos une a despeito das diferenças: a defesa da democracia, que diz respeito ao conjunto do povo brasileiro.

Bem, poderia objetar que o ex-presidente não viu mal nenhum em fazer o maior arco de alianças partidárias da história do Brasil quando no poder, e a tal "elite brasileira" não teve do que reclamar. Sim, esta é estupidamente ingrata com ele. Nunca lucrou tanto. Mesmo assim lhe deu as costas. Mas isso só nos diz do desamor da elite por Lula, não do desamor de Lula pela elite.

Digamos que a dita-cuja estivesse, de fato, representada no manifesto (e isso é falso!), pergunto: ele divide o poder com a elite, mas não um manifesto em defesa da democracia? Não há resposta para pergunta. Ou melhor: há, sim. E eu a darei aqui.

O petista também se insurgiu contra a assinatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma velha obsessão, porque o tucano apoiou o impeachment de Dilma, que o ex-presidente vê na raiz da eleição de Bolsonaro. Bem, em primeiro lugar, Lula comete o erro — e isto é erro mesmo! — de contar a história que não houve. Em segundo lugar, o homem que foi condenado sem provas e mantido preso ao arrepio da Constituição (o que sempre afirmei) não põe na conta da eleição de Bolsonaro os descalabros que vieram a público sobre a gestão petista.

A Lava Jato cometeu ilegalidades — chame-se pelo que são: crimes — e barbarizou o devido processo legal e a política, mas isso não significa que roubalheira não tenha existido. Com Dilma no poder, Bolsonaro não teria sido eleito? Por quê? O atual presidente chegou àquela cadeira cavalgando o antipetismo. Se o partido estivesse na Presidência, talvez o ogro tivesse sido eleito no primeiro turno. Mas também eu não contarei a história que não houve.

ALIANÇAS

Partiu do próprio Lula a inciativa de levantar o veto a alianças com legendas e lideranças que apoiaram o impeachment nas eleições municipais. A esquerda do PT queria, mas ele considerou isso um erro -- o que eu também acharia em seu lugar. Digam-me cá: o PT pode dividir o palanque com nomes que defenderam o impeachment, mas não um manifesto em favor da democracia? Não há resposta para essa outra pergunta. Ou melhor: há, sim. E eu a darei aqui.

Lula afirmou na reunião do partido:

"Sinceramente, eu não tenho mais idade para ser maria vai com as outras. O PT já tem história neste país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas".

As Marias estão apenas indo para a democracia e para a militância contra a fascistização do poder e o golpismo. E em defesa de valores civilizatórios como tolerância e pluralidade. Se Lula não pode estar nesse grupo, vá lá, que faça o seu, mas por que atacar as outras iniciativas? Ademais, boa parte dos parlamentares que votaram em favor do impeachment havia pertencido à base de apoio. Alguns patriotas que se apresentam para dividir o butim do governo Bolsonaro estiveram nos governos Lula e Dilma. O PT pôde dividir estatais com valentes que depois se tornaram entusiastas do impeachment, mas não um manifesto em defesa da democracia?

Disse ainda o presidente:
"Nós precisamos apoiar qualquer manifesto que for para resolver o problema do Brasil, [mas] não podemos ser levados pela euforia. (...) Tem] muita gente de bem que assinou. E tem muita gente que é responsável pelo Bolsonaro. O PT tem que discutir com muita profundidade para a gente não entrar numa coisa em que outra vez a elite sai por cima da carne seca, e o povo trabalhador não sai na fotografia."

Vamos ver.

"Qualquer manifesto que for resolver o problema do Brasil"? Uau! Só a pedra filosofal teve busca mais dedicada... Manifestos não resolvem problemas, mas congregam pessoas à volta de um núcleo de ideias. O "Estamos Juntos" não é partido nem quer ser. Ao contrário: o texto evoca duas vezes os partidos e prega a valorização da política, não sua destruição.

Sabe quem é responsável por Bolsonaro, Lula? O eleitor! Ocorre que ninguém se elege para ser ditador, tenha o partido como símbolo uma estrela ou uma pistola. O senhor acha mesmo que o PT não contribuiu em nada para levar a maioria do eleitorado a escolher o atual presidente da República?

Lula faça o que quiser com o PT. Como resta evidente, os manifestos e atos em defesa da democracia avançam independentemente das resoluções do seu partido e de suas declarações. Em certo sentido, ele presta um favor aos fatos: facções da seita bolsonarista acusavam o "Estamos Juntos" de ser petismo maquiado. Não é. E, sim!, há também petistas lá.

NÃO É ERRO, É UM MÉTODO
Sabem por que o PT governa com as elites, mas não assina manifestos com ela (na hipótese de que fosse verdade tratar-se de um texto elitista)? Sabem por que o PT fará alianças com partidos e lideranças que apoiaram o impeachment, mas não assina manifestos com eles? Porque a legenda só aceita composições quando pode, como é mesmo?, "hegemonizar" o processo. E, nesse caso, a sociedade civil saiu na frente.

Sim, eu entendo a "racionália" lulista. Ela faz sentido e tem história na história (se me permitem...) dos partidos de esquerda. Ocorre que aquele não é um manifesto dos petistas para a sociedade, mas um manifesto da sociedade para todos os agentes políticos, também os petistas.

Assim, a não adesão é uma escolha política, não um erro.

Já a crítica a quem se junta para combater o golpismo e a fascistização do país, ah, aí é erro mesmo, Lula! Tão feio como agradecer à natureza por ter criado um monstro como o coronavírus para evidenciar a importância do Estado.

Lula precisa parar, tirar a chuteira, ajeitar a meia, repor o calçado, ajustar o cadarço e, só então, tentar cobrar o pênalti. Ou vai continuar a mandar a bola para o mato do passado, do atraso e das ideias mortas. A crítica é reacionária. Para o mal do Brasil. Afinal, trata-se da mais importante liderança popular do país e do comandante máximo do maior partido de oposição.











Dr. Responde: O que é Mitomania?
Hospital Israelita Albert Einstein



“O psiquiatra, Dr. Mauro Moore Madureira explica o que é a Mitomania. Muitos acham que Mitomania é uma doença, porém, o Doutor explica que a Mitomania é na verdade, um hábito considerado doentio de usar mentiras para parecer ser mais do que é.”












Mitomania: entenda a compulsão por mentir


Ver Mais Londrina
“Você conhece alguém que mente demais? Alguém que sempre conta um mentira ou outra? Isso pode ser um distúrbio psicológico chamado mitomania. Em nosso estúdio, o psicólogo Rafael Pavani comenta sobre casos e situações.”










Admirável Gado Novo
Zé Ramalho









Ôôô, boi
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ôôô, boi
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ôôô, boiA
Composição: Alçeu Valença / Zé Ramalho.












Zé Ramalho - Vida de Gado








Referências




http://www.academia.org.br/artigos/o-mito-e-mitomania
http://www.academia.org.br/artigos/o-mito-e-mitomania
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-concepcao-nietzscheana-niilismo.htm
https://veja.abril.com.br/blog/dora-kramer/grito-do-excluido/
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/06/bruno-boghossian-luiz-inacio-nao-vai.html
https://abrilveja.files.wordpress.com/2020/05/2.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=680&h=453&crop=1
https://veja.abril.com.br/blog/dora-kramer/grito-do-excluido/
https://ogimg.infoglobo.com.br/in/24458229-d0d-211/FT1086A/652/Luiz-Inacio-Lula-da-Silva-em-debate-com-Pepe-Mujica.png
https://oglobo.globo.com/analitico/coronavirusacentua-perda-de-relevancia-da-industria-no-brasil-24460243
http://aprovinciadopara.com.br/ao-rejeitar-manifestos-pro-democracia-lula-se-arrisca-a-deixar-de-ser-protagonista/
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/06/02/critica-de-lula-a-antigolpistas-e-reacionaria-ou-entre-estrategia-e-erro.htm
https://youtu.be/SSkZYHZ_Nv0
https://www.youtube.com/watch?v=SSkZYHZ_Nv0
https://youtu.be/yfb2vaPPVXg
https://www.letras.mus.br/ze-ramalho/49361/
https://youtu.be/JGdy_kc27zI
https://www.youtube.com/watch?v=JGdy_kc27zI&feature=youtu.be
https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2020/06/lula-critica-manifestos-suprapartidarios-e-diz-nao-ter-idade-para-ser-maria-vai-com-as-outras-ckawwaigj005u01tkyhpmzkwb.html
https://youtu.be/lMPXSzUaIfM
http://aprovinciadopara.com.br/ao-rejeitar-manifestos-pro-democracia-lula-se-arrisca-a-deixar-de-ser-protagonista/

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