sábado, 6 de junho de 2020

O novo sempre vem











Fernando Henrique Cardoso: Negros, preconceitos e ideologias




“Personalidade sem luta, na crosta planetária, é alma estreita.”



“Deus me fez um cara surdo, cego e censurado. Submisso, submerso e subalimentado. Mas um dia o vento vira. E é bom tomar cuidado. Pois a coisa fica feia também pro seu lado. Passe bem muito obrigado.”






Partido Alto
MPB-4






Globo Repórter - Um mundo que luta contra o Racismo

“O globo repórter deste dia 05-06-20, é um debate feito pela globonews e seus jornalistas negros, relatando suas dificuldades e conquistas em suas carreiras.”










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“A dualidade entre a existência da discriminação e sua negação oficial caracteriza o estilo de nossas relações raciais”















Os negros e o governo FHC
Por HELIO SANTOS
FOLHA DE S.PAULO Opinião
São Paulo, Sexta-feira, 05 de Fevereiro de 1999






A chamada "intelligentsia", em larga medida, mantém um silêncio de chumbo no que concerne aos negros






Em seus discursos de posse, tanto no primeiro como no atual mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso falou dos negros e de suas dificuldades históricas. No primeiro discurso, a ênfase fora maior. Entretanto, no último, o presidente vinculou a questão racial aos direitos humanos.
No Brasil, quase nunca os governantes tocam nessa questão. Pouco vale, no caso, a vertente ideológica à qual eles se filiam; sempre se detectou uma certa invisibilidade política do tema. O governo Fernando Henrique teve a primazia em inscrevê-lo na agenda nacional. Essa visibilidade dada pelo governo se espraiou para outros setores; é verdade que isso se deu sem a velocidade e a profundidade de que nós, do movimento social negro, gostaríamos.






336 - "A obra de Arthur Ramos — um autodidata e um great scholar — poderá apresentar falhas, mas não deixa sobretudo na sua investigação honesta e segura, de ter aberta a grande clareira na floresta, de modo a permitir o pouso de naves de maior vôo" .
FREI GIOVANNI BOZIC

PIERSON (Donald) . — Brancos e pretos na Bahia. São Paulo. Companhia Editora Nacional. Brasiliana n9 241.429 pp . 29 edição brasileira. 1971. (Título geral: Negroes in Brazil).

O autor é um jovem norte-americano, enviado pela Universidade de Chicago para completar suas pesquisas de doutoramento na Bahia. Por isso, a obra assume aspectos interessantíssimos, enriquecidos pela seriedade dos esquemas rígidos, próprios dos anglo-saxônicos; pela disciplina metodológica, própria da Universidade de Chicago; pelo entusiasmo do jovem pesquisador, sob a orientação teórica do seu velho Professor Robert E. Park; pela originalidade e riqueza de elementos colecionados ao longo de vários anos de magistério na própria Universidade da Bahia; pela clareza da disposição didática do rico material, característica fundamental numa tese de doutoramento; e pela enorme capacidade de observação, que lhe mereceu propriamente o convite formal da Direção da Universidade da Bahia a permanecer entre nós e continuar como pesquisador e como catedrático.

A obra constitui um "a solo" nesta literatura afro-brasileira, que tende a progredir em número e qualidade de produção, porque Donald Pierson é um dos primeiros e um dos únicos sociólogos norte-americanos, vindo dum país do racismo legalizado, compreender com precisão a posição do Negro no Brasil, expor com serenidade as conquista "do campo", entusiasmar-se com os valores descobertos, corroborar a sua opinião com os autores brasileiros, regozijando- -se com a identidade das conclusões alcançadas por caminhos tão diferentes.

Após vários introduções e a apresentação do próprio mestre no assunto, Arthur Ramos, o autor, a começar da pág. 91, inicia o trabalho propriamente dito, numa sequência de cinco partes: O Cenário, A Escravidão, Miscigenação, Raça e status social, Herança africana, A Situação racial baiana . Somente na quinta parte desenvolve diretamente o título da obra: "Brancos e Pretos na Bahia" .

Impressionam duas soberbas "bibliografias", que ocupam numa sequência alfabética bem trinta páginas, de 398 a 429. Trata-se dum "Bibliografia Selecionada", da primeira edição, e uma "Bibliografia Adicional" . Isso constitui algo

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de novo: um autor estrangeiro e sobretudo um norte-americano, a citar tantos autores e sobretudo brasileiros!
Enriquece a obra um "Apêndice" de Ditos comuns relativos à Gente de cor, (pág. 384 e ss. ), fruto de longas observações e aplicações ininterruptas de centenas de questionários.

E, como conclusão lógica deste trabalho sistemático, o autor sintetiza o problema racial no Brasil numa sequência de 26 itens, chamadas, por modéstia científica (?) de "hipóteses" conclusivas, (págs. 345-371) .

Por todos esses motivos afirmamos que a obra de Donald Pierson é a primeira obra científica que surge no Brasil, de estudo sistematizado e objetivo das relações de raça, reconhecendo o nosso racismo ou criptoracismo, mas bem diferente do racismo legalizado dos Estados Unidos.

E ainda, fazendo nossas as palavras lúcidas e serenas de Arthur Ramos, diremos que

"O que é inegavel é que o livro de Pierson abre horizontes novos na sociologia brasileira no capítulo das relações de raça. De hoje em diante, nenhum estudioso brasileiro poderá dispensar na sua mesa de trabalho este livro do Professor Donald Pierson, em que devemos enxergar um sociólogo americano da geração moderna, que chega ao Brasil, não para lançar sobre nós aqueles terríveis anátemas dos velhos e intransigentes scholars, mas para compreende-lo com espírito objetivo, integrado que se acha hoje dentro de nossos problemas e das nossas aspirações".

Por isso é bom não esquecer que esta segunda edição foi inteiramente revista e muito enriquecida e aparece com uma nova introdução preparada pelo autor especialmente para esta edição. Porem, já a primeira edição, em 1942, entre muitas outras obras de vários autores, que entraram em competição, foi premiada com o Anisfield Award, como o melhor livro científico e erudito publicado naquele ano no campo das relações raciais, pela quantidade de dados organizados sistematicamente, como tambem pela compreensão de abordar o problema, e clareza da apresentação.










Resenha de: Brancos e negros em São Paulo
Article (PDF Available) in Revista de história 49(99):337 · September 1974 
Frei Giovanni Bozic
Abstract
BASTIDE (Roger) e FERNANDES (Florestan) . — Brancos e negros em São Paulo. São Paulo. Companhia Editora Nacional. Brasiliana n9 305. 3a edição. 305 pp.

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de novo: um autor estrangeiro e sobretudo um norte-americano, a citar tantos autores e sobretudo brasileiros!

Enriquece a obra um "Apêndice" de Ditos comuns relativos à Gente de cor, (pág. 384 e ss. ), fruto de longas observações e aplicações ininterruptas de centenas de questionários.

E, como conclusão lógica deste trabalho sistemático, o autor sintetiza o problema racial no Brasil numa sequência de 26 itens, chamadas, por modéstia
científica (?) de "hipóteses" conclusivas, (págs. 345-371) .

Por todos esses motivos afirmamos que a obra de Donald Pierson é a primeira obra científica que surge no Brasil, de estudo sistematizado e objetivo das relações de raça, e conhecendo o nosso racismo ou criptoracismo, mas bem diferente do racismo legalizado dos Estados Unidos.

E ainda, fazendo nossas as palavras lúcidas e serenas de Arthur Ramos, diremos que
"O que é inegavel é que o livro de Pierson abre horizontes novos na sociologia brasileira no capítulo das relações de raça. De hoje em diante, nenhum estudioso brasileiro poderá dispensar na sua mesa de trabalho este livro do Professor Donald Pierson, em que devemos enxergar um sociólogo americano da geração moderna, que chega ao Brasil, não para lançar sobre nós aqueles terríveis anátemas dos velhos e intransigentes scholars, mas para
compreende-lo com espírito objetivo, integrado que se acha hoje dentro de nossos problemas e das nossas aspirações".

Por isso é bom não esquecer que esta segunda edição foi inteiramente revista e muito enriquecida e aparece com uma nova introdução preparada pelo autor especialmente para esta edição. Porem, já a primeira edição, em 1942, entre muitas outras obras de vários autores, que entraram em competição, foi premiada com o Anisfield Award, como o melhor livro científico e erudito publicado naquele ano no campo das relações raciais, pela quantidade de dados organizados sistematicamente, como tambem pela compreensão de abordar o problema, e clareza da apresentação.
FREI GIOVANNI BOZIC
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BASTIDE (Roger) e FERNANDES (Florestan) . — Brancos e negros em São Paulo. São Paulo. Companhia Editora Nacional. Brasiliana n9 305. 3a edição. 305 pp.

É a terceira edição de um dos mais delicados e corajosos, completos e vibrantes trabalhos da dupla que honrou, num recente passado, a Universidade de São Paulo: Roger Bastide e Florestan Fernandes, em colaboração inteligente e exaustiva de vários outros especialistas, incluindo o trabalho de alunos e ex-alunos.

É bem verdade que o subtítulo reza: "Ensaio sociológico sobre aspectos de formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana" .

Acontece, porem, que não se trata apenas dum ensaio. Pois, cada capítulo leva o leitor a conclusões cientificamente válidas, abrindo caminho para novos estudos e tomadas de posições definitivas.

Trata-se, portanto, dum trabalho digno da seriedade e objetividade, finali-dade e atualidade e contribuição financeira da UNESCO, da Reitoria da Uni-versidade de São Paulo e da revista Anhembi.

Como aparece veladamente no prefácio (pág. 9), houve quem considerasse este ensaio sociológico quase uma contriblução perigosa, como se õs investigadores fossem responsáveis pelas tensões latentes ou abertas, que eles se limitaram a descrever e a interpretar. Houve tambem quem lamentasse as lacunas resultantes do próprio teor de trabalho, por esperarem algo parecido com o que os autores desejavam fazer em seu projeto original. Houve, por fim, quem se insurgisse contra o emprego de conceitos, como "preconceito" e "discriminação" a uma situação de contacto inter-racial, como a de São Paulo.

Foi-nos possivel descobrir e sublinhar a filosofia dos autores pela leitura desapaixonada e a análise minuciosa da obra. É uma filosofia sem preconceitos raciais, focalizando um ponto de vista sociológico, numa pespectiva única: a descoberta da verdade, na certeza de que a verdade será mais util à melhoria das relações entre "negros" e "brancos" no Brasil, que as avaliações etnocêntricas, herdadas, consciente ou inconscientemente, do passado escravocrata. E, diante da constatação da existência dum criptoracismo brasileiro, os autores querem contribuir para o esclarecimento dos espíritos, julgando isso indispensavel e urgente. Pois
"tanto os brancos, quanto os negros precisam ser reeducados para conviverem de modo construtivo no mundo que está surgindo da nova ordem social igualitária, implantada com a Abolição e com a República" (pág. 12) .

Esta "Filosofia do sem-preconceito" aparece numa luz meridiana ao longo dos cinco capítulos da obra.

Capítulo 1°: "Do Escravo ao Cidadão", de autoria de Florestan Fernandes. É um trabalho de síntese, no qual, em rápidas, mas certeiras pinceladas o autor no dá a história do Negro em São Paulo, a evolução do seu sistema econômico e o reflexo dela na alteração da situação econômica do Negro.

Quem conhece o estilo de Florestan Fernandes, encontrará aqui um pedaço de sua mentalidade de pesquisador sério e construtivo, baseando-se em datas, números, esquemas e quadros sinóticos, fruto de centenas de fichas e duma grande variedade de colaboradores.

Capítulo 2°: "Cor e Estrutura Social em Mudança", redigidos igualmente por Florestan Fernandes, examina mais de perto a evolução do sistema social de São Paulo, elevando-se do nivel mais baixo da sociedade paulistana. Alem disso, o autor responde duma maneira exaustiva à pergunta fundamental: "Houve mesmo mudança nas inter-relações raciais a partir da Abolição (1888) com a advento da indústria, criando um "Negro Novo", ou provocando apenas "Tendências Emergentes"?

Capítulo 3º: "Manifestações do Preconceito de Cor", redigido por Roger Bastide, quer-nos parecer um trabalho exaustivo, honesto e corajoso, apontando facetas várias de preconceito de cor em São Paulo. Num estilo vivo,
graças à inserção de muitas entrevistas, com uma distinção válida entre preconceito de classe e preconceito de cor, e aplicando esta "subtileza psicológica" aos sírios, aos portugueses e aos italianos, denuncia as barreiras nas promoções nos vários setores.

Capítulo 4º: "Efeitos do Preconceito de Cor", é uma aplicação prática das constatações do capítulo anterior, de autoria de Roger Bastide, com referências corajosas aos órgãos de fiscalização social: Igreja e Política. A começar da página 190 o autor examina mais detalhadamente os efeitos do preconceito sobre a personalidade do Negro, sublinhando as consequências sociais, psico-sociais, econômicas e sócio-culturais. É de se sublinhar a coragem e a hones-tidade em tratar da "Parêntese sobre a religião dos Pretos na sua relação com preconceito de cor" (pág . 215) .

Capítulo 5°: "A Luta contra o Preconceito de Cor", redigido por Florestan Fernandes, é o último dos cinco capítulos, numa sequência lógica, preparando a pesquisa sociológica para uma conclusão construtiva. O autor se propõe a desmantelar esta dimensão incômoda do sistema sócio-cultural brasileiro, pondo em relevo as principais tendências ou medidas de combate à discriminação racial e ao preconceito de cor, levada a cabo pelos negros, pelos brancos ou por orgão do governo brasileiro. Na página 246 nos oferece duas tabelas muito interessantes: "O que os negros dever ter ou fazer para ocupar os cargos que somente são concedidos aos brancos e para conseguir oportunidades de ascensão social e econômica" (conforme a opinião das mulheres e conforme a opinião dos homens) . Finalmente, na página 255 o autor nos comunica que a reação legal contra o preconceito de cor, contra a mística da branquidade, apesar de toda a tradição brasileira, e somente do ano de 1951.

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Finalmente (págs. 269-310), há um Apêndice: "O Preconceito Racial em São Paulo" .

É um projeto de estudo, elaborado e redigido, originalmente, por Florestan Fernandes. Lido e discutido por Roger Bastide, foi publicado a partir da segunda edição, com uma análise suplementar de atitudes raciais representáveis quantitativamente.

Em resumo, trata-se dum livro que mereceu os mais amplos elogios de crítica especializada, pela sua seriedade de pesquisa, coragem dos autores e evidência das conclusões.

Acreditamos, e os leitores hão de concordar conosco, que a aceitação merecida do livro prende-se tambem aos seguintes fatores internacionais e nacionais. No cenário internacionais assistimos à intensificação de conflitos raciais. E no cenário nacional?

"Será preciso recorrer, muitas vezes, não à análise de comportamentos, mas à da ausência de comportamento..." (pág. 149).

Nós, brasileiros, temos o preconceito de não ter precon-ceito. E esse simples fato basta para mostrar a que ponto está arraigado no nosso meio social" (pág. 148) .

Há uma espécie de pecado de omissão que os "brancos" cometem contra o homem de cor, cortando-lhe a ascensão na sociedade.
FREI GIOVANNI BOZIC


ABRANCHES (Dunshee) . —
Como se faziam presidentes. Rio de Janeiro.
Livraria José Olympio Editora. 1973. 351 pp.

"A historiografia republicana foi enriquecida neste fim de ano (1973) pela publicação de obras que muito contribuirão para o melhor estudo e a melhor compreensão da vida política republicana.

Os três livros, Rodrigues Alves. Apogeu e Declínio do Presidencialismo, de Afonso Arinos de Melo Franco, Como se Fazem Presidentes, de Dunshee de Abranches, e Rui e a Economia Brasileira, de Pinto de Aguiar são diferentes na sua metodologia, representam pesquisas reconstrutivas, ou registros memorialistas, tem valores distintos, mas todos beneficiam muito o conhecimento histórico republicano.

Sobre o primeiro já tive oportunidade de dizer um pouco — menos que merece — sobre o grande valor da obra de Afonso Arinos, uma biografia política que reconstitui a vida política republicana brasileira até à morte de Rodrigues Alves em 1919."












Dia da Consciência Negra é uma farsa | Marco Antonio Villa
Jovem Pan News












Milton Nascimento & Chico Buarque: O Que Será A Flor da Pele





“Artista: Chico Buarque e Milton Nascimento Diretor: Roberto de Oliveira Produção Artística: Vinicius França Direção de Fotografia: João Wainer Edição: André Wainer Produtora: R.W.R Ano: 2005”










Como nossos pais






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Fernando Henrique Cardoso: Negros, preconceitos e ideologias





A dualidade entre a existência da discriminação e sua negação oficial caracteriza o estilo de nossas relações raciais
Na segunda metade dos anos 1950 houve um seminário internacional no Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro sobre raça e preconceito. Apresentei alguns dados da pesquisa que fizéramos no Rio Grande do Sul, na sequência dos estudos sobre os negros em São Paulo comandados por Roger Bastide e Florestan Fernandes. Os dados eram eloquentes: não se precisava de muito número ou de retórica para comprovar a fragilidade da noção de que o Brasil era um país sem preconceitos raciais. No Sul, como em toda parte, as coisas eram mais complicadas.
Conto isso não para reafirmar um truísmo, mas porque, ao fim da reunião, o embaixador que a presidia me chamou e disse secamente: “Eu quase o expulsei da reunião”. “Por quê?”, perguntei. “Porque isso não é coisa que se diga diante de estrangeiros!” Deveria prevalecer a noção de que não temos preconceitos raciais…
Contudo, não devemos tratar as afirmações sobre nossa democracia racial como “mera ideologia”, disfarces da realidade. As ideologias contam no comportamento das pessoas. De alguma maneira os que dizem ao mundo que no Brasil não existe preconceito contra os negros confessam inconscientemente que seria melhor que não o tivéssemos. Repetem um chavão, que tem consequências: empurram o preconceito para a área não pública. Em privado, nas relações cotidianas, ele é o feijão com arroz; nas palavras oficiais não é permitido. Não por acaso o preconceito “é crime”, capitulado no código penal.
Estamos longe, portanto, do “apartheid” sul-africano ou de quando havia nos Estados Unidos, legalmente, o lugar para os negros nos ônibus, nas escolas ou onde mais a discriminação fosse posta em prática. A dualidade entre a existência do preconceito e sua negação oficial e mesmo cultural caracteriza o estilo de nossas relações raciais. Melhor ou pior do que nos países considerados racistas? Apenas diferente. O convívio se torna mais ameno (uma pessoa “educada” nem sequer se refere a “negros”, ou mesmo “mulatos”, sobretudo na presença deles). Ao mesmo tempo se torna mais difícil o reconhecimento da categorização racial, a menor ascensão social dos não brancos fica obscurecida e se torna mais dificultoso tomar medidas corretivas.
Os dados são gritantes: as pesquisas genéticas comprovam, primeiro, que “raça” não se sustenta como conceito; segundo, que, no caso brasileiro, metade dos negros possui alguma dose de ancestralidade paterna europeia, e que os negros e mulatos, como também muitos brancos, têm altas dosagens de ancestralidade materna africana ou indígena. Nos estados do Sul, pode predominar a ancestralidade europeia por parte de pai e mãe; já nos estados em que houve exploração canavieira ou mineradora, a participação africana é maior, sobretudo na linhagem materna. Nos amazônicos, o mesmo ocorre com a participação indígena. A miscigenação é a regra. Logo, melhor afirmá-la como um valor e tratar de combater a discriminação e o preconceito, reconhecendo-os como parte negativa de nossa herança cultural.
O preconceito e o grau de discriminação prevalecentes no Brasil não são iguais, porém, ao que ocorreu nos Estados Unidos antes das lutas pelos direitos civis, ou ao que ainda ocorre em setores da sociedade e da cultura americana. As distinções no Brasil sempre foram mais de “marca” (a cor da pele ou o tipo de cabelo etc.) do que de sangue. Em certa época nos Estados Unidos bastava uma gota de sangue negro para que a pessoa fosse considerada como tal. A esse respeito há um diálogo (não sei se real ou imaginário) entre um diplomata europeu e um brasileiro. O europeu reparou criticamente: “Vocês não têm diplomatas negros”; ao que o brasileiro replicou: “Tampouco brancos”. O mesmo ocorre se olharmos com atenção a galeria de retratos dos presidentes da República, eu incluído… Alguns são mestiços, mesmo que não se reconheçam como tal.
Não há entre nós, por outro lado, distinções culturais nítidas entre uma “cultura branca” e uma “cultura negra”. Nossa miscigenação cultural é até maior do que a de sangue. Sem falar da religião ou da música, na qual há forte influência africana (embora também exista o “rock brasileiro”…), também o português falado no Brasil, tanto no vocabulário como na fonética, incorporou expressões e modos de dizer provenientes das várias línguas dos escravos, que vieram de etnias com línguas diferentes. Frequentemente se comunicavam entre si em português e, ao falar português com os brancos da terra, transmitiram a eles algo de seus idiomas. A essa mistura fonética e vocabular se somaram os modos de falar dos indígenas, dos italianos, espanhóis, alemães, poloneses, ucranianos, japoneses e de outros mais, como os que falam iídiche. Variavelmente, dependendo da região do país, eles deram tonalidades específicas ao português do Brasil. Essa variabilidade e diversidade nos são próprias.
Distintos segmentos da sociedade terão caracteres culturais específicos e mesmo estratificados. Contudo, não estamos lidando com “mera ideologia” ao afirmar nossa plasticidade cultural. Ela é, ao mesmo tempo, real e mistificadora. O preconceito continua jogando papel negativo. É importante lutar contra sua insidiosa presença até mesmo nos livros escolares e em múltiplas situações da vida brasileira. Assim como é importante a defesa de “cotas” para “negros” (autodefinidos) no serviço público ou nas universidades.
Em uma sociedade minimamente democrática, todos devem ser iguais. Entretanto, tratar os desiguais como se fossem iguais é perpetuar as desigualdades. Os censos mostram que os “não brancos”, especialmente os negros, têm renda menor, menores oportunidades de emprego e acesso seletivo às posições mais importantes da sociedade. Há os que furam a barreira e chegam a ser governadores, prefeitos, artistas de renome, futebolistas ou empresários. A ascensão, entretanto, é recente e dificultosa. Só nas últimas décadas as TVs, por exemplo, mostram atores negros em papéis de destaque ou nos anúncios de propaganda. E a entrada nos clubes “exclusivos” e mesmo em locais sociais de prestígio, sem ser oficialmente proibida, é rara.
Melhor, portanto, denunciar os disfarces da desigualdade que repetem que “entre nós não há preconceitos” e valorizar o fato de sermos social, racial e culturalmente mestiços, sem transformar os “não mestiços” em objeto de discriminações. A democracia é também uma forma de integrar a sociedade em sua diversidade.
* Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente da República



Fundação Astrojildo Pereira
Fonte:
http://veja.abril.com.br/revista-veja/negros-preconceitos-e-ideologias/






O Fino da Bossa





Programa de TV
Descrição
Descrição
O Fino da Bossa foi um programa produzido e exibido pela TV Record São Paulo, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, e com a direção musical de Walter Silva. Wikipédia






Episódio final: 1967
Apresentador(es): Jair Rodrigues e Elis Regina
Emissora de televisão original: Record
Produtor(es): Manoel Carlos
Transmissão original: 1965 – 1967






Elis, A Musical - Elis e Jair na cena 'O Fino da Bossa'









“Uma das coisas que o Autor de O HOMEM possui e mais estima é um manuscrito autografado, escrito com a maior convicção em papel vulgar e assinado por um antigo escravo negro que se tornou um ilustre reformador, escritor e conselheiro do Presidente Abraham Lincoln, Ministro dos Estados Unidos no Haiti e candidato a Vice-Presidente da grande república norte-americana pelo “Partido da Igualdade de Direito” em 1872” O HOMEM, IRVING WALLACE













Referências



https://youtu.be/EZNT8ftgCa0
https://www.youtube.com/watch?v=EZNT8ftgCa0
https://youtu.be/VMq6EMpLi4E
https://www.youtube.com/watch?v=VMq6EMpLi4E
https://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2017/11/sidney-amaral-ref4563-sem_titulo-oleo_sobre_tela-130x100cm-ano2015-kids.jpg
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz05029910.htm
file:///C:/Users/User/Downloads/132605-Texto%20do%20artigo-253499-1-10-20170518.pdf
https://www.researchgate.net/publication/322609248_Resenha_de_Brancos_e_negros_em_Sao_Paulo
https://youtu.be/NBTZHNrfQdo
https://www.youtube.com/watch?v=NBTZHNrfQdo
https://youtu.be/GPTOAYyt8BU
https://www.youtube.com/watch?v=GPTOAYyt8BU&feature=youtu.be
https://youtu.be/VMq6EMpLi4E
https://www.youtube.com/watch?v=VMq6EMpLi4E
http://veja.abril.com.br/revista-veja/negros-preconceitos-e-ideologias/
https://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2017/11/20/15615/
https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTSIIYHGvRylMoAw6TzcmXIs-Y63eJOkUKfa3jbdgSc5-RezrRj&usqp=CAU
https://youtu.be/Bb5pKevUrhk
https://www.youtube.com/watch?v=Bb5pKevUrhk
http://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2016/11/capitao-moro.html

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