quinta-feira, 12 de março de 2020

ARTE E POLÍTICA








“O teatro é um documentário da História.” Bárbara Heliodora




“Eu sou apenas um jovem de 85 anos.” Juca de Oliveira em entrevista ao Morning Show em 12/03/2020




PREFÁCIO
Até agora, os homens formaram sempre idéias falsas sobre si mesmos, sobre aquilo que são ou deveriam ser. Organizaram as suas relações mútuas em função das representações de Deus, do homem normal, etc., que aceitavam. Estes produtos do seu cérebro acabaram por os dominar; apesar de criadores, inclinaram-se perante as suas próprias criações. Libertemo-los portanto das quimeras, das idéias, dos dogmas, dos seres imaginários cujo jugo os faz degenerar. Revoltemo-nos contra o império dessas idéias. Ensinamos os homens a substituir essas ilusões por pensamentos que correspondam à essência do homem, afirma um; a ter perante elas uma atitude crítica, afirma outro; a tirá-las da cabeça, diz um terceiro e a realidade existente desaparecerá. A IDEOLOGIA ALEMÃ (Introdução) Karl Marx e Friedrich Engels













PUTA (perdão pelo termo) entrevista: Juca de Oliveira e Taumaturgo Ferreira, sobre arte e política




OPINIÃO
Expressa a opinião do autor do texto
JUCA DE OLIVEIRA
Regina Duarte será capaz de ampliar o diálogo do governo com a classe artística? SIM
Que importa se ela é de direita? Conhece e tem amor pela arte
7.mar.2020 à 1h00

EDIÇÃO IMPRESSA

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Juca de Oliveira
Embora, a meu ver, a função da Regina Duarte na Secretaria da Cultura não seja a de “ampliar o diálogo do governo com a classe artística”, isso provavelmente acontecerá. Porque Regina é uma operária da arte e da cultura brasileiras, grande atriz, sensível e com objetivos muito claros e determinados.

Estreou na televisão e no teatro em 1965. Ficamos amigos quando tive o privilégio de ver Regina no palco em “A Megera Domada”, de Shakespeare, sob direção de Antunes Filho. Era a sua estreia no teatro —um enorme sucesso, ruidosamente comentado pela imprensa e pelo meio artístico daquela época.




O ator e dramaturgo Juca de Oliveira em sua casa, em São Paulo - Karime Xavier - 8.out.19/Folhapress

Ali estava, sem dúvida nenhuma, uma menina de 18 anos de excepcional talento, o que veio se comprovando pelo seu trabalho ao longo dos últimos 55 anos. Seu carisma pessoal, o fascínio exercido sobre um público fiel por décadas, acabou lhe conferindo o afetuoso título de “Namoradinha do Brasil”.

Foi a condecoração de milhões de fãs por ela se manter durante tantos anos no foco das grandes e bem-sucedidas produções de telenovelas, filmes e peças teatrais.

Inteligente, culta, simpática, muitíssimo bem-humorada, absolutamente fiel aos seus amigos e colegas. Tais qualidades seriam, enfim, o limite máximo que se poderia esperar de uma atriz de enorme talento.

Mas não para Regina, que vai muito além. Porque há nela também uma personalidade política e constante preocupação com o destino político e social do país. Desde muito jovem, espontaneamente, escolheu, além do teatro, da televisão e do cinema, participar de todos os grandes movimentos políticos pela liberdade, democracia e elevação cultural.

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Confira a posse de Regina Duarte na Secretaria Especial da Cultura
Ministra Damares Alves e a primeira-dama Michelle Bolsonaro participaram da cerimônia de posse de Regina Duarte Pedro Ladeira/Folhapress

Para a nossa surpresa revelou-se também uma precoce oradora, discursando nas grandes concentrações públicas, pela democracia e pelos direitos do artista e do cidadão. Tive o privilégio de participar da campanha das Diretas Já, em 1983, e presenciar seu contagiante entusiasmo nos grandes eventos da praça da Sé.

Testemunhei também inúmeros e brilhantes discursos de Regina nas grandes concentrações políticas da avenida Paulista. Há algum tempo, ao nos encontrarmos por acaso num evento cultural, não resisti e lhe disse: “Regina, querida, permita-me, mas você não tem apenas vocação para a política, você tem também talento, menina! Se fosse você começaria candidatando-me nas próximas eleições para a Assembleia Legislativa ou para o Senado. Nós precisamos de você na política!”.

Ela riu muito, não disse sim, mas também não disse não. E agora não é que Regina é escolhida pelo presidente da República para assumir a Secretaria de Cultura? Na minha opinião, a melhor escolha. Repetindo: Regina é representativa da classe, tem enorme popularidade, boa vontade política, uma visão ampla do panorama cultural do país. Inteligente, sensível, sabe o que quer e, sem dúvida, não está apenas aceitando o cargo por mera aventura.

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Espelho da Arte - A Atriz e Seu Tempo
Regina Duarte como a viúva Porcina, em "Roque Santeiro" Divulgação

Aceitou, sim, por claríssima determinação, uma meta a ser atingida —e que tem tudo a ver com a sua personalidade e paixão de ativista social. Ela na secretaria é um bem para a cultura e uma alegria para nós, artistas.

“Mas ela é de direita!”, dirão alguns. Mas que importância tem isso? Nós, atrizes e atores, nascemos da religiosidade num templo grego lá pelos 550 anos a.C com o sacerdote Téspis, o primeiro ator da história!

Apesar de nosso trabalho artístico ter perdido aquele caráter litúrgico, sua função social continua a mesma: melhorar o homem, torná-lo mais generoso, mais afetivo, mais íntegro e, sobretudo, mais solidário. Portanto, não importa se o secretário é liberal, de centro, de esquerda ou de direita.

Importa que ele seja competente, tenha consciência da responsabilidade, conhecimento do trabalho, amor pelo país, pela arte e pela cultura, a exemplo de Regina Duarte. Tenho certeza de que em pouco tempo ela terá o apoio de todos nós.

Juca de Oliveira
Ator e dramaturgo

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.










Entrevista com Juca de Oliveira e Taumaturgo Ferreira | The Noite (12/11/19)





The Noite com Danilo Gentili

Nesta terça-feira Danilo Gentili recebe Juca de Oliveira e Taumaturgo Ferreira. Os atores falam sobre suas carreiras e sobre a peça ?Mãos Limpas?, na qual contracenam juntos. *Trechos removidos de acordo com as políticas do youtube*










Direitos e deveres: artigo 5º e AI-5




Liberdade e igualdade no art. 5º da CRFB/88




O art. 5º da CRFB/88 ressalta o núcleo principal dos direitos fundamentais e os seus destinatários. O direito à vida, à igualdade, à liberdade, a segurança e à propriedade são desdobrados nos setenta e oito incisos e nos quatro parágrafos que com ele se relacionam e ainda em uma série de dispositivos constitucionais e infraconstitucionais que reforçam a proteção ao núcleo.




A liberdade interna é o próprio livre-arbítrio, a liberdade de escolher entre as opções existentes, enquanto a liberdade externa é a expressão externa do querer individual, que deve ser limitada, sob pena de gerar o desequilíbrio social.




Na isonomia formal fica proibida a discriminação arbitrária, é a igualdade perante a lei, enquanto que na isonomia material é exigido do Poder Público que tome providências concretas que diminuam a desigualdade em busca de uma igualdade real.




O art. 5º da CRFB/88 ousou afrontar o AI-5











Brasil. Entrevista do domingo: Juca de Oliveira
Por Alex Solnik Publicado el Sep 20, 2015


«O teatro é um documentário da história» Essa frase da Barbara Heliodora é genial. Tanto é que eu falei agora em Aristófanes(«As rãs») no século V antes de Cristo. E nós estamos analisando a política no século V antes de Cristo


«O Ministro»
O ministro é fictício, mas os personagens do mundo que habita são reais: Dilma, Lula, Eduardo Cunha. Pergunto se é comédia e ele confirma: «Quando você escreve sobre o Lula a história se torna comédia necessariamente». É o que ensina Aristóteles que, em sua célebre «Poética» definiu o que é comédia e o que é tragédia alguns séculos antes de Cristo. E Dilma?

«Dilma é pândega» diz o autor de «Meno Male», «Caixa 2», «Às favas com os escrúpulos» e outros sucessos teatrais. Ele diz que, assim como no reino animal, o homossexualismo se expande quando se torna necessário controle da natalidade para «preservação da espécie».

E defende o fim da Lei Rouanet por questão de sobrevivência: «Ela está matando o teatro brasileiro»! Juca recebeu 247 no apartamento de São Paulo onde escreve a sua nova comédia em meio ao terrível barulho de britadeira – reformam a guarita do prédio – enquanto espera convocação para as próximas gravações de mais uma novela.

ENTREVISTA
O que você estava fazendo no Rio?
Novela. Gravei algumas cenas e vou voltar num outro momento. Então, estou esperando…
Está fazendo a novela número qual?
Não sei. Isso eu não sei.
Trinta novelas?
Talvez. Fiz bastante. Podemos até ver no google.
As informações correm tanto hoje que eu entrei no google para ver onde fica teu prédio e apareceu o valor do apartamento.
Mentira!
Dois milhões meio e alguns quebrados!
Dois milhões e meio?!
Sim… você não estava sabendo?
Imagina se eu estou sabendo!
Vale dois e meio…
Então vamos vender… estou passando dificuldades com um apartamento de dois milhões e meio!
É só achar o comprador.
Esse é que é o problema. Hoje ninguém compra absolutamente nada!
Você está preocupado com a situação?
Olha… eu acho que todo mundo está preocupado, está todo mundo em pânico com a história. (Olhando para a tela.) Aqui eu tenho uma biografia, posso até te imprimir. Eu sou mais ligado a teatro, mas fiz muita novela, agora estou fazendo uma novela – «Além do tempo» – estou terminando uma peça também, terminei a temporada do «Rei Lear», né? Foram três meses em São Paulo, depois fiz mais três meses no Teatro dos 4, no Rio e depois voltei para cá, mais três meses. Foi uma peça surpreendentemente bem sucedida, ela lotou do primeiro ao último dia…
E uma das mais difíceis que você já fez.
Realmente. Foi uma audácia, um desafio muito grande, uma coisa deslumbrante ter feito o «Rei Lear». Ninguém jamais tinha feito em forma de monólogo.
Quem inventou isso?
Foi o Geraldinho Carneiro.
O último hippie… usa o mesmo corte de cabelo desde os anos 60.
Grande poeta, um inspirado tradutor de Sheakspeare. Eu já tinha feito Hamlet, Ricardo III e Otelo. Ele me disse que estava escrevendo um espetáculo solo do «Rei Lear» e tinha pensado em mim. Perguntou: «Você topa»? «Topo»! Começamos a trabalhar, foi difícil, cheguei a desistir pela extrema dificuldade que era trabalhar todas aquelas personagens…
E um texto imenso também… e para decorar um texto desses, como você faz?
Bom, decorar não é um problema gravíssimo, né? Decorar significa você memorizar mesmo, palavra por palavra. Qualquer pessoa pode decorar. O que você precisa é de tempo e paciência.
E um método…
Olha, eu estava fazendo uma peça, «De braços abertos», com a Irene Ravache, que, aliás foi um enorme sucesso também, ficamos quatro anos fazendo a peça, a autora é a Maria Adelaide Amaral. Direção do José Possi Neto. Cenário do Rui Crescenti. Cenário maravilhoso. E quando estávamos ensaiando a Irene falou assim: «Juca, você não sabe de cor a peça»? Eu falei: «Como não sei de cor»? Estávamos a vinte dias da estreia, eu sabia o texto de cor. E ela disse: «Não sabe, não; quer ver? Diz aí». Eu comecei a dizer o texto e ela me corrigia: «Não é essa a palavra… não, você mudou aqui, é outra palavra… não é ‘daqui a dez minutos estou lá fora’ e sim ‘me espere daqui a dez minutos’, está escrito aqui». E ela falou: «Não, você não sabe decorar, vou te ensinar a decorar». Decorar é você fazer uma coisa que qualquer pessoa pode fazer. Por exemplo. (Pega uma página de jornal com lista de filmes que estão passando. Lê.) «Dublado. Anália Franco. Boa Vista». Então é «dublado… Anália Franco… Boa Vista». «Espaço Itaú… Pompéia»… Então é «dublado… Anália Franco… Boa Vista… Espaço Itaú… Pompéia»… E vai indo. E você nunca desiste enquanto não souber tudo de cor. E aí você vai indo. Eu fiz isso e agradeço profundamente a Irene Ravache que me ensinou como se decora e hoje eu sei decorar. Eu estava no final da minha carreira e não sabia decorar.
E qual é o seu método?
Não tem método! Você vai pedaço por pedaço.
Mas vai repetindo mentalmente ou em voz alta?
É um conjunto de coisas. É o rei. É o rei que está falando… «Meu nome é Lear. Minha história começa com um gesto de grandeza». Então não é a personagem ainda, está contando para as pessoas que estão ali. «Meu nome é Lear. Minha história começa com um gesto de grandeza». Aí você fala: «que gesto»? «Reuni minha corte, minhas três filhas, duas delas já casadas e proclamei»… Então… «Meu nome é Lear. Minha história começa com um gesto de grandeza. Reuni minha corte, minhas três filhas, duas delas já casadas e proclamei». Quando você souber isso passa para a frase seguinte. «Saibam que dividi meu reino em três e tenho a intenção»… E assim você vai até o final. Não tem método! As pessoas mentem muito, alguns dizem «eu leio e digo de cor». E é mentira! Tem, realmente, algumas pessoas assim. Percy Aires, na TV Tupi. A Guy Loup, a Guylene era um fenômeno. E o Percy Aires, grande ator, era um fenômeno. Certa vez faltou um ator no «Hamlet», que estava sendo feito pelo Rildo Gonçalves. Chamaram o… ô, meu Deus, como eu falei?
O Percy…
O Percy! E o Percy estava na casa dele, descansando, era um sábado. Foi lá, pegou o texto, deu uma olhada, deixou o texto de lado, foi fazer a maquiagem e fez a peça. A Guy Loup, nós brincávamos com ela de uma forma muito curiosa. Todo o pessoal no estúdio para gravar… o «Meno Male», fazendo aquelas gravações das grandes peças… Eu confundi agora. «Meno Male» é uma peça minha. Confundi com «Nino, o italianinho», do Geraldo Vietri, aquele enorme escritor. Nós ficávamos ali, esperando para gravar, era um intervalo para tomar um café. Eu dizia «Guy Loup, é o seguinte». Cada um dava uma palavra e a gente escrevia numa folha de papel. «Assistência… resistência… amoroso…fidedigno». E cada palavra tinha um número. Cem palavras. «Guy Loup, você pega isso daí, vai ler (ela não sabia que palavras eram) e aí você diz». Ela pegava o papel, lia rapidamente. E a gente começava: «Número 100»? «Fidedigno». «Número 42»? «Hortência». «Número 6»? «Você». Ela dizia qual era a palavra pelo número. Mas ela era um fenômeno. A maioria dos atores mente que faz.
Eu conheci um ex-governador da Paraíba que tinha memória fotográfica. Pai do atual senador Cássio Cunha Lima. Ronaldo Cunha Lima. Ele escutava discurso de meia hora e em seguida repetia inteirinho, palavra por palavra.
São fenômenos. Flávio Rangel também. Quando eu fazia peça com ele, no primeiro ensaio ele sabia todos os papéis de cor. Sem ter decorado. Ele ficou lendo, lendo e sabia de cor tudo.
Você memoriza as peças que já fez? Por quanto tempo? Consegue guardar quantas?
Algumas peças você memoriza. Existe uma diferença muito grande entre você fazer televisão e teatro, por exemplo. Na televisão você não tem tempo para memorizar. Procura decorar o máximo e quando você vai contracenar você substitui algumas palavras por outras que lhe venham à mente. Você improvisa algumas situações. Não tem como memorizar vinte páginas de hoje para amanhã. É impossível. O teatro é diferente. Por que? No teatro você tem que memorizar absolutamente. Significa o que? Significa que o texto tem que se tornar um ato reflexo. Significa que você não pode pensar no texto. Você não pode pensar nas palavras porque se você pensar nas palavras você esquece a personagem. Outra coisa: você improvisa no teatro situações, conflitos de maior ou menor intensidade, mas a emoção contida no conflito e não palavras. Você não muda. Não improvisa. Não pode improvisar. No caso do «Rei Lear» eu decorei tudo. Depois que você memoriza, você memoriza absolutamente.
Quantas peças você tem guardadas na cabeça?
Uma novela, por exemplo, eu não lembro de nenhuma frase de novela. Quase nenhuma frase. Fiz «Nino, o italianinho… fiz «Saramandaia»… fiz «Avenida Brasil»…e eu não me lembro das minhas falas. Mas, por exemplo, quando estávamos fazendo um espetáculo em homenagem a Maria Bethânia, no Rio de Janeiro, faz mais ou menos um mês, eles pediram que eu fizesse a apresentação no Teatro Municipal. E eu fiz a apresentação, me deram o texto, eu li, era para ler mesmo. Enquanto nós esperávamos eu falei «olha que engraçado: nós estamos todos com microfones, mas nós fizemos aqui o Júlio César, do Sheakspeare, sem microfone, eu me lembro que eu fazia o discurso do Júlio César naquele camarote lá em cima». E eles perguntaram: «Quando foi isso»? «Sei lá, há 30 anos, 40″… «Mas você não sabe como é que era o texto»!? E eu falei: «Acho que sei». Eu então falei o texto a toda voz. «Romanos! Compatriotas! Amigos! Eu vim para enterrar César e não para exaltá-lo! O Bem que os homens fazem vive para depois deles… o Mal»… e assim vai. Eu sei de cor. Eu sei praticamente de cor os discursos que fiz há quarenta anos. Agora, o que é necessário é dar uma lida de vez em quando. Como eu vou continuar com o «Rei Lear», de vez em quando eu dou uma lida para fixar e aí volta tudo.
E essa novela da vida real que estamos assistindo todos os dias?
Qual novela? Ah, a novela política? É verdade, é uma grande novela. Uma novela de um suspense que não se interrompe nunca. Porque você pega um texto e você vê a maldade, a falta de caráter, a falta de integridade das pessoas e fica trabalhando com elas. Mas à medida em que passa o tempo há uma surpresa e um suspense que não para nunca. Você diz: «Mas como é que foi possível»??? Todo dia muda alguma coisa. De repente, o ministro Edinho está envolvido… meu Deus!!! O Mercadante, que, afinal de contas é o ministro-chefe… a eminência parda da presidente… está envolvido! Claro que a presidente também está envolvida, evidente. E o que é curioso para quem escreve – eu escrevo sobre coisas que me incomodam muito, então as minhas peças, a maioria delas tem um sentido político, crítica, análise, justamente porque a falta de integridade é uma coisa que me toca muito.
Eu digo sempre à minha filha… é curioso isso… agora, recentemente, ela estava trabalhando numa empresa, e ela era a chefe do departamento, mas acontece que, como eles estavam preparando um teatro que seria construído e como o alvará demoraria mais tempo do que eles pensavam, ela falou «eu vou ficar ganhando, mas eles vão ter prejuízo, porque o meu trabalho só vai ser necessário daqui a alguns meses, não agora». Então, ela mandou um e-mail para o patrão dizendo «olha, enquanto nós estamos parados, não tenha nenhum pejo, eu estou fora e depois você me convida, eu volto». O sujeito disse: «Claro que não, querida, eu preciso de você agora»… Ela falou comigo e eu falei para ela uma coisa que eu tenho dentro de mim que é o seguinte: o maior ativo de um homem é a sua integridade. Porque se você for íntegro, se você tiver caráter, se você tiver honra você sempre tem uma situação na qual você sobrevive de maneira maravilhosa, porque vão dizer… «mas e o Alex»? «O Alex é um cara fantástico». «E Fulano»? «Fulano é ótimo»! «Hum… cuidado com aquele… meu Deus do Céu»! «Esse não… pelo amor de Deus… nem me fale desse cara»! Falando desse suspense do qual falávamos, da Lava Jato, você vê que de repente alguém devolve 40 milhões de dólares!
O Barusco… coitado, ele nem mexia com o dinheiro! Nem usou. Ele nem sabia usar. Era muito dinheiro. 40 milhões dólares! Como é que você vai usar 40 milhões de dólares? Aí, você está escrevendo uma peça… eu estou escrevendo uma peça sobre esse tema… mas, todos os dias eu tenho que mudar…
Como se chama a peça? «Impeachment»?
Não, por enquanto é «O ministro». É título provisório. Só para procurar no computador. Não sei como vai chamar. É curioso, porque…
É uma comédia?
Aí que tá. É uma comédia. Não que eu escreva necessariamente comédias. Tem uma explicação muito técnica e teórica sobre o que é uma tragédia e o que é uma comédia. Quando nós estudamos, na Escola de Arte Dramática, nós estudamos os clássicos. Começamos com os gregos, passamos pelos romanos, a gente vai estudando todos os clássicos. Então, você apanha as tragédias. As tragédias gregas.
Ésquilo!
Ésquilo! Sófocles! Eurípedes!
Foi traduzida agora para o português uma peça inédita de Ésquilo no Brasil, «Os Persas».
Manda para mim.., você tem? Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, eles são os trágicos. Édipo! «Édipo» é a maior obra da criação espiritual da humanidade. Você estuda detalhadamente. O primeiro livro de técnica de construção dramática, como se fosse um play writing é a «Poética», de Aristóteles. É como «How to write a play». E lá está. Tragédia é a história de um homem tão cumulado de virtudes, tão cheio de benesses que ele prefere a morte a viver sem honra. Ele é um repositório de virtudes humanas. E quando ele incorre num erro ele prefere morrer a viver sem honra. Esta é a história da tragédia. Édipo, chefe de uma nação, de repente toma conhecimento que uma peste grassou em Tebas e está praticamente destruindo a população. Seus súditos morrendo.
Aí vem um oráculo e diz o seguinte: «Um crime foi cometido; um indivíduo matou o pai e se casou com a mãe; é necessário que ele seja destruído para que se retome a felicidade, a saúde e a paz desse reino». E o Édipo começa a investigar. Ele começa a investigar desesperadamente quem é esse homem. À medida que ele vai investigando… «não, foi deixado num cestinho no rio»… E quem é que pegou? «Não, levaram porque era para matar, mas não mataram porque um grande estigma estava marcando o futuro dessa criança»… A cada informação a descrição vai se aproximando dele mesmo. E ele continua investigando. E, de repente, ele tem quase certeza que é ele, mas continua investigando.
Veja bem. Um chefe de estado, em se dando conta de que ele é o culpado e que isso lhe causará a morte, poderia lhe ocorrer um discurso semelhante a esse: «Olha, é o seguinte: não tem nada conosco, essa investigação foi dissolvida, sim, acabou, não é nada do que pensávamos, não houve morte, isso é uma besteira, ninguém matou o pai e casou com a mãe, chega, acabou, vamos continuar a nossa vida normal». E ele continuaria lá, casado e tal, numa boa. No entanto, como ele é um herói trágico, ele prefere morrer a viver sem honra, ele vai até o fim! E quando descobre que é ele, ele arranca os olhos, e essa é a imagem da sua morte. É uma personagem trágica, não é verdade? Por causa do excesso de virtude. Vamos pegar, por exemplo, uma personagem nossa. Vamos pegar, por exemplo, Lula. Eu digo isso porque eu escrevi sobre o Lula. Então, quando você começa a escrever sobre o Lula, você sabe que não fica um drama. Começa a resvalar para a comédia. Por que? Aí você fala assim: «Vou no Aristóteles». E o que é a comédia? Então você vê no Aristóteles que a comédia é o oposto.
É a história de um homem totalmente defeituoso, cheio de defeitos, cheio de imperfeições e sem nenhum caráter. Então, todo homem que não tiver caráter, que não tiver honra, sobre o qual você for escrever, é sempre uma comédia. É sempre engraçado. Aí, você lembra Aristófanes. Aristófanes, que é a comédia grega, em «As rãs» descreve uma eleição em Atenas. E duas pessoas estão disputando a eleição. Um deles é um bucheiro, que vende bucho, escrotésimo e o outro, me fugiu o nome, é o chefe de estado de Atenas. E o bucheiro diz «eu não tenho caráter, eu sou defeituoso». E o outro diz: «Eu sou infiel, eu roubo». E o bucheiro: «Não, mas eu estupro! Faço muito pior do que você»! «Não, não, mas eu estupro e mato»! É uma disputa para ver quem é o pior. Olha, o Aristófanes estava escrevendo uma coisa sobre os nossos dias! No quinto século antes de Cristo. Uma disputa para chefe de estado em que eles disputam, para obter o beneplácito da população, dizendo que um é pior que o outro, porque o povo votará no pior. Segundo o Aristófanes.
O que Lula deveria fazer para ser um personagem trágico?
O Lula, por exemplo, está com o mensalão. Ou está com o petrolão. Então, ele poderia dizer assim… «Sou chefe de estado… alguns assessores da minha corte parece que estão envolvidos em alguns pecados… então, se eles estão envolvidos em alguns pecados, eu sou o chefe da nação e devo satisfação aos que me colocaram aqui, eu vou investigar… eu vou investigar até o fim… e vou descobrir quem são esses delinquentes que estão maculando o meu governo e vou expulsá-los»! Se ele fizesse isso, ele seria uma figura trágica, uma figura dramática, uma figura sobre a qual não se faria piada… ele é um homem honrado! Não! Ele botou pra quebrar. «Não… não sei o que…» Pedia perdão naquele discurso de Paris, depois voltava atrás… Até hoje, até recentemente, ele dizia que ia contar a verdadeira história do mensalão e que os grandes heróis da pátria, os guerreiros, seriam, enfim, redimidos. Os heróis do povo brasileiro! Até agora, recentemente. Você entende? Então, quando você fala sobre ele… é uma comédia! Não é culpa de ninguém, não é culpa do escritor, não é culpa dele. A culpa é do Aristóteles que explica como é que é a comédia e como é que é a tragédia.
Ele jamais será um personagem trágico na vida real?
Trágico não.
E a Dilma?
A Dilma pior do que ele, porque a Dilma é pândega. Ela diz uma coisa, depois diz outra. «Ah, não, nós seremos felizes, o Bolsa Família vai ter um acréscimo extraordinário»…. «o desemprego, que é fantástico, vai cair mais ainda, nós teremos emprego absoluto»…»temos dinheiro»… «vamos dar um banho na história com nosso país»… Ela falou isso e todo mundo votou nela, claro, pelo menos 51% votou. Aí ela disse que não disse isso, disse outra coisa. Ontem ou anteontem ela disse que é possível que ela tenha errado. Como é que você vai fazer uma história sobre a Dilma? Ela era ministra da Energia sob cujo ministério está a Petrobrás; ela foi chefe do conselho da Petrobrás; presidente da República. A Petrobrás também é a maior empresa do Brasil, faz parte do estado que ela dirige. E ela diz que não sabia de nada. Jamais. Isso que aconteceu…Ninguém soube de nada.
O Sergio Gabrielli não viu nada…a Graça Foster não viu nada… o Lula, então! E ela também não viu nada, não sabia. Não sabia que Pasadena é um desastre em que nós perdemos mais de 1 bilhão! Ela é uma personagem de comédia. Quando você coloca ela, é uma comédia. Eu estava escrevendo uma cena, aí o cara falou assim: «O ministro não está. Ele foi ao aniversário do Maduro com a presidenta. E ainda não chegou». Então, quando você diz «foi ao aniversário do Maduro com a presidenta» é uma piada, porque o Maduro é uma piada e a presidenta é uma piada. É uma coisa simples. Um amigo meu, o Rovai leu e riu. Eu perguntei: «Por que você riu? Não tem nenhuma graça»!
Quer dizer que tua peça tem personagens reais com nomes reais?
Eu sempre faço com os nomes atuais. Eu nunca mudei nome. O meu problema é que eu nunca invento. Eles não podem me punir por falsidades. Difamação. Eu escrevo aquilo que está em todos os jornais. Todo mundo sabe, todo mundo diz. Agora, eu acho que é minha obrigação, meu dever, como escritor de teatro, sou um homem de teatro, a minha vida toda, quase 60 anos no teatro, o teatro é sempre… como é que disse a Barbara Heliodora? Ela disse uma coisa fantástica. Ela disse que o teatro é tão importante… e ela falou uma frase que eu falei «puta que pariu por que é que eu não inventei essa frase»?
Essa frase é genial. «O teatro é um documentário da história». Tanto é que eu falei agora em Aristófanes no século V antes de Cristo. E nós estamos analisando a política no século V antes de Cristo Não é uma loucura? Perfeito! Você sabe exatamente como são os personagens. Molière… Tartufo… Tartufo é uma peça política. No Ricardo III você vê como eram as relações de poder… É um documentário sobre a história! E eu vivo nessa época. Eu tenho que documentar isso de alguma forma, pelo amor de Deus! É minha responsabilidade, eu tenho que dizer alguma coisa! Deixar alguma coisa. Para que daqui a algum tempo alguém diga «olha, teve uma peça que mostrou aquele episódio».
É estranho, ninguém faz um filme a respeito.
Nada! Não tem nada sobre isso!
E como é que termina a sua comédia?
Não sei, porque eu mudo toda hora! A mulher do ministro, por exemplo, chega lá e diz preocupada «meu Deus, querido, olha a situação, esse negócio do petrolão»… E o ministro diz: «Pelo amor de Deus, nem pensa uma coisa dessas, você me conhece, sou um homem íntegro, não tenho nada a ver com isso, acabei de chegar com a Dilma da viagem, você acha que se eu fosse um corrupto ela me levaria na viagem»? Aí ela fala: «Nossa… estou tão preocupada, porque você veja, o Ricardo Pessoa, teu amigo»… Aí, acontece que todo dia muda alguém! Aí, de repente, entra o Dirceu… e esses últimos que entraram… todo dia eu tenho que mudar… Eu vou mudando a peça! Não é que eu vou mudando. Quando escrevi o «Meno Male», o «Caixa 2», as peças políticas, nós tínhamos momentos de atualidades. O Tatá, por exemplo, no «Meno Male», lia no começo as manchetes dos jornais. Eram cinco minutos de riso, mas eram cinco minutos falando sobre o momento. E durante a peça também tinha módulos, onde você modificava à medida que passava o tempo e as notícias. Como essa também vai ter.
Tem Eduardo Cunha na tua peça?
Tem todo mundo. Claro.
Eduardo Cunha com o nome dele?
Olha, eu não sei se vai entrar o Eduardo Cunha. Eu vou esperar o resultado. Como eu disse a você, a minha posição é em relação a integridade, não é posição política, não sou contra o PT, não sou contra a Dilma. Eu acho que todo mundo que mete a mão deve entrar na peça.
O mais chocante é ver pessoas que estiveram conosco nas Diretas Já envolvidas, como o Zé Dirceu…
Agora também tem esse negócio em Portugal. De repente o homem é amigo do Lula. E a Odebrecht está lá também. De repente, o que é que é? Uma quadrilha internacional? Esse problema de Portugal mexeu comigo. Eu falei: «peraí… peraí»… E o pior é que um personagem ligado ao Zé Dirceu está lá em Portugal, o Lula…
A Odebrecht está em muitos países… e o nome é teatral. Bertolt Odebrecht.
É verdade. Eu acho que é um momento terrível, né. Eu acho que ninguém tem uma perspectiva. Você não sabe o que vai acontecer. Existe uma coisa que eu acho positiva. O que eu acho positivo… eu sou advogado,,, quer dizer, advogado, não, estudei Direito… Miguel Reale, Gofredo da Silva Telles foram meus mestres e eu tenho um apreço muito grande pela Justiça. E eu acho que nós estamos vivendo um momento – parece que Portugal também, parece que lá também tem uma Lava Jato…- que é não a supremacia, mas a essência da Justiça funcionando. E aqui parece que agora a coisa está começando a funcionar. Eu tenho muita esperança de que essa coisa vá para a frente porque você tem um Legislativo que é uma bagunça generalizada, você tem um Executivo que não é nada, então ou você tem um Judiciário que funcione e que nos dê soluções e respostas ou então nós entramos num absoluto e total caos. Se o Supremo Tribunal Federal não encampar a sua missão de salvaguardar o direito à Justiça, nós estamos fodidos. Então, eu tenho esperança de que essa coisa vá para frente. Até o momento o Supremo não tem se colocado contra o Moro.
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Escuta, o que você está achando dessa revolução sexual em curso? Eu acho que a grande revolução hoje são esses homens virando mulheres, essas mulheres virando homens, todos assumindo a sua sexualidade verdadeira e a descoberta de que as possibilidades são inúmeras no que tange ao sexo.
Eu acho que… eu acho… (silêncio)
Eu conheci uma pessoa… um homem… era homem, depois dos 40 anos passou a ser mulher… e gosta de mulher… e sua atual namorada é uma lésbica… o que te parece? Não é diferente de tudo que a gente viu?
Olha, Conrad Lawrence é um etólogo, morto já, há tempos, tem alguns livros dele aqui, estudei bastante isso, ele estuda o comportamento animal. E ele escreveu coisas absolutamente fabulosas e tem uma tese de 1973, ele ganhou o Nobel de Medicina em 73. E tem um estudo dele, muito interessante, sobre a mudança, as experiências que ele fez com animais. Então, ele observou que, em determinadas ilhas britânicas, onde os nobres que caçam guardavam as suas renas, como elas ficavam confinadas e não tinha nenhum controle de natalidade, à vontade, elas se multiplicavam muito. E na medida em que elas se multiplicavam havia um pouco de conflito, um pouco de violência e uma mudança de sexo. Então, ele fez uma experiência com camundongos num lugar específico e deixou uma quantidade determinada de alimento, de água, de calor para eles sobreviverem. Sem nenhum predador, sem nada, apenas eles. E com o tempo ele foi observando coisas inacreditáveis. Isso está no livro, você pode até consultar. Ele observou que as cobaias se comportavam diferentemente da sua genética. Por exemplo: elas combatiam aquelas que estavam sobre uma camada de calor como falange romana, se organizavam e atacavam. Não tinha nada a ver com o comportamento normal delas. Aí começou a surgir a violência e começou a surgir o homossexualismo. E esse homossexualismo é extremamente bem-vindo porque ele é a própria natureza que controla a natalidade para evitar a extinção da espécie. Isso é uma coisa que você observa na natureza inteira. Quando há uma superpopulação há uma mudança de gênero no reino animal. Então, do meu ponto de vista, como nós não temos controle populacional, e como já estamos no limite, já estamos gastando duas Terras, eu acho que essa superpopulação leva a várias coisas. Uma coisa que ele relatou dessa experiência é que as cobaias morreram de uma peste, ficaram apenas dois casais, que era a Aids, ele tinha detectado a Aids em 1973. Que a Aids também era uma forma de controle de natalidade; a violência, a Aids e o homossexualismo. Então, quando você observa o que está acontecendo, o aumento da violência, tivemos a Aids que foi controlada pelo homem e que teoricamente devastaria dois terços da humanidade, todos nós achávamos isso, que seria wellcome. Por que? Porque nós não suportamos nove bilhões! Estamos no limite absoluto! Nós estamos destruindo a Terra! Os mares estão praticamente inutilizados, a extinção de espécimes marítimas é de centenas de milhares.
Eu gosto muito de linguado. Aí o peixeiro me diz «está ficando difícil». Claro, os mares estão contaminados, imundos. O que está acontecendo agora no Oriente… os imigrantes… a tentativa de entrada dos sírios… dos africanos… é uma coisa absurda. A criança degolando o cara. O Estado Islâmico degolando dezenas de pessoas. Se você levar em conta que o animal não destrói um outro da mesma espécie, ele briga, oferece a garganta e sai e abandona a tribo para aquele que venceu nós somos mais cruéis que eles. Nós matamos! As mães estão matando os filhos! Os filhos estão matando as mães! Nós não tínhamos isso! Quando se matou o pai foi considerado o maior crime da humanidade, que é o Édipo. Então, eu tenho impressão que é o seguinte. Se o Conrad Lawrence estava certo e eu tenho a sensação que ele está o homossexualismo é wellcome! É bom. Porque ele vai limitar a natalidade. E vai preservar a espécie. Pelo menos em função da experiência do Conrad Lawrence. Então, eu acho que é uma solução biológica. Biologicamente necessária.
Homossexualismo, tudo bem. Mas por que os homens estão virando mulheres?
Mas é um fenômeno biológico.
Essa pessoa de que eu te falei, a Márcia Rocha, advogada, empresária e que faz questão de dizer que é travesti, porque se traveste de mulher, não porque roda bolsinha, tem uma filha biológica e tem pinto! Ela se sente mulher, ela se veste como mulher, mas quer ter o pênis, não abre mão do pênis que é totalmente masculino!
Eu acho que comportamento inusitado é decorrente da própria composição inusitada do mundo. Do universo, hoje. Analise um pouco o que está acontecendo. Eu citei os assassinatos. Perto dos assassinatos do Estado Islâmico e a destruição das grandes obras artísticas da humanidade esse negócio da moça com o pinto não é nada. Não é inusitado. Não é uma coisa chocante. Eu prefiro mil mulheres com pinto do que um Estado Islâmico.
Claro!
Eu acho que existe uma mutação. Existe uma mutação.
Os anos 60 foram os anos da revolução sexual. Amor livre. Pílula. Sem sutiã. Agora é diferente. Toda hora tem mais um homem que vira mulher.
Sabe como eu vejo? Na peça «Qualquer gato vira lata tem uma vida sexual mais saudável que a nossa», eu escrevi sobre genética. Sobre mutação genética. É uma coisa que me fascina muito. Sou caipira, vivo no mato, vivo na floresta, vivo em função dos bichos…
Está morando em Itapira (SP)?
Moro lá. Eu vivo na fazenda em contato com a natureza, nasci em São Roque, sou caipira, nunca me acostumei muito a cidade. Como eu sou muito ligado a esse problema… Charles Darwin disse que a evolução se dá por adaptação e sobrevivência do mais apto. Darwin não foi revogado e hoje ele é considerado uma referência sobre genética. O que significa isso? Significa que o indivíduo que está na sociedade tem que se adaptar àquela sociedade, seja um veado, seja um leão, seja uma corsa, seja um coelho. E essa adaptação implica em solidariedade, em afeto com o outro. Algumas doninhas, por exemplo, chamam atenção do predador, deixam os filhos longe e se oferecem em holocausto. Veja você o nível do afeto, da paixão pela evolução. Como é importante para esse bicho a evolução da espécie! Então, existe na natureza, e eu que vivo numa fazenda, no meio de bicho, vejo isso, lobo guará, onça, etc e tal eu vejo como é feita a adaptação, a harmonia da vida animal. E a sobrevivência do mais apto. Por que? Porque é necessário que esse que sobreviva tenha aptidão para manter a espécie em evolução. Você veja, por exemplo, que alguns animais têm um comportamento muito violento no acasalamento. O gato… o cavalo… o orangotango… é uma loucura o acasalamento. Por que? Porque como a vida é muito conflituada e hierarquizada e ele tem que se preservar no seu habitat o ato sexual tem que ser severo e ele tem que demonstrar que tem capacidade para sobreviver. Ele tem que ser apto. Alguns símios, não sei se o orangotango, o ato sexual dentro da tribo é quase ume estupro! Porque ele tem que praticar o ato sexual e sair correndo, senão ele é assassinado pelo líder. Ele insemina e sai. Para preservar a espécie. Então, é a sobrevivência desse apto. Os mais aptos sobrevivem. Quando o leão fica no charco olhando os animais que estão ali, até numa aparente calma, por que essa calma dele? Porque ele não se preocupa, ele vai apanhar o… inapto! Aquele que não tem condições de fugir é que não vai sobreviver. Então, o que aconteceu conosco? Aconteceu conosco a sobrevivência do inapto! Você está falando com um. Eu fiz duas cirurgias, eu deveria ter morrido há… 40 anos…
Coração?
Não. Fiz coluna… fiz próstata… entende? Então, você mantém a sobrevivência do inapto e a sobrevivência do inapto é que dá essa total confusão. Se tivesse o equilíbrio natural não teria nada disso. Se tivesse equilíbrio estaria correndo tudo maravilhosamente bem. Então, a meu ver, é tudo mutação genética. A transmissão do mal é mutação genética. Se um animal, se um mamífero qualquer não destrói o outro para assassiná-lo, mas só para dominar o território, o que percebe que vai perder oferece a garganta e se afasta por que o homem não faz assim? Por que o garoto pega a bolsa da mulher, etc, e dá quatro tiros na testa dela? Estupra a mulher, faz o namorado ficar vendo e depois dá um tiro nela e nele! Sem nenhuma razão! Já roubou, não é verdade? O que é que é isso? É o comportamento oposto ao da doninha. Porque ela faz por uma necessidade biológica. E aqui… você perdeu… não tem mais nenhum valor a vida. Do ponto de vista do relacionamento humano ela não tem nenhum valor. Nenhum valor. Um cara pode chegar aqui agora e dar um tiro em mim e em você e dizer «não, eu estava passando por aqui e fiquei com vontade de matar duas pessoas nesse prédio, achei que seria engraçado»…Na minha concepção é mutação genética, é a sobrevivência do inapto. Você transmite geneticamente essa incapacidade de reconhecer no outro a sua própria necessidade.
E a Câmara insiste nesse debate inócuo de baixar a maioridade penal quando o buraco é mais em cima…
Eu acho que é o seguinte. Nós não temos saída. Nós temos que nos proteger. Agora eles estão assaltando consultórios dentários. Você pode esperar tudo. Um cara bate na porta da mulher, sai com ela no meio de todo o movimento e acaba com ela na frente de todo mundo. Não sei para onde vamos. Estamos num momento de mutação genética. Não tivemos controle de natalidade. Acharam que era um absurdo, que era tolice. Outro dia atiraram num menino na USP. Mas «não pode polícia, não queremos polícia». «Não queremos polícia» enquanto estamos sendo assassinados! Quando estamos sendo assassinados seria ótimo se a polícia estivesse por perto! Os pais desse menino vão achar o que? Que é ótimo que não tenha polícia?
Vivemos no meio de várias confusões.
Confusões… confusões… Existe apenas um fator que é otimista nessa análise toda. É que, em alguns casos, eu não sei por que a solidariedade está presente. Você veja, é uma coisa incrível. Por exemplo, o cãozinho ficou preso num esgoto no centro de Nova York. E de repente se mobiliza toda a população que fica desesperadamente em torno dos bombeiros que fazem o resgate até que finalmente tiram o cãozinho em meio a grande júbilo! Esse cara, por exemplo, que se ofereceu em holocausto lá na Praça da Sé. De repente ele se torna herói, é aclamado por todo mundo, não é verdade? A solidariedade em momentos terríveis é que dá a medida de que nem tudo estaria perdido. Os movimentos, as marchas que têm sido feitas dão ideia de que, afinal de contas, as pessoas estão procurando alguma coisa, porque é uma unanimidade contra a corrupção. Então, há pessoas contra a corrupção! Pensei que fosse só eu! Não, tem muita gente contra. É uma esperança. Tênue. Porém uma esperança.
Há vinte anos também achamos que o Brasil tinha sido passado a limpo e hoje vemos Collor aí, acusado de fazer as mesmas coisas de vinte anos atrás…isso não desanima?
Há contradições chocantes. Por exemplo: o que seria justo desejar? Seria justo desejar que a Lava Jato ou seja, a Justiça, ou seja o Poder Judiciário finalmente encontrasse uma fórmula para diminuir a corrupção em todos os níveis da sociedade. A delação premiada é fantástica porque finalmente nós pegamos as pessoas. Se não tivesse a delação premiada não pegaríamos ninguém. No entanto, há um número grande de pessoas que são contra a Lava Jato! Contra o Moro! Contra o Poder Judiciário! São favoráveis a o que? A liberar a corrupção? Isso, é claro, é uma aberração social, porque propugnar pela corrupção, pela delinquência, para que todos se locupletem é uma aberração… «como, mas como assim? A Camargo Corrêa, a Odebrecht envolvidas nisso?! Que absurdo! Vamos deixar assim! Deixa a empresa trabalhar»! Eles querem que a empresa trabalhe! «Para com isso! Para esse Moro! Manda ele à puta que pariu» Prende esse Moro e vamos viver normal»! «Esses caras que voltem para a Petrobrás, vamos trabalhar com petróleo, precisamos de dinheiro para as eleições»! Não é isso? São contradições. São contradições chocantes. Aberrações de pensamento.
Circulam muitas informações, nunca se sabe quais são verdadeiras, o que aumenta a confusão mental, concorda?
Aumenta por um lado e esclarece do outro. Por exemplo: tem uma coisa sobre a qual não há nenhuma dúvida. Destruíram o país! Roubaram a Petrobrás! Perdemos 240 bilhões de dólares! Porque ela valia mais 240 bilhões de dólares! Isso existiu. Não dá para dizer que não. «Ah, eu fui enganado pelas redes sociais»… Não… eles meteram a mão. Como é que o Sérgio Gabrieli não viu? Como é que a Graça Foster não viu? Como é que Lula não viu? Como é que a Dilma não viu? Olha, eu vou contar um exemplo. De repente eu estou num teatro. Isso, digamos há quarenta anos. Pego o borderô no fim do espetáculo e digo assim: meu Deus… 174 espectadores… mas embaixo tinha cento e poucos… em cima estava lotado… e o gerente diz que só tinha 174… No dia seguinte eu botei na porta do teatro um cara – e eu que não entendo nada, não vou nem a banco, minha mulher é que vê todo meu problema administrativo, eu sou incompatível – pois eu botei um cara com um aparelho de contar gado, sou fazendeiro e ele ficou na porta do teatro, disfarçado, com o aparelhinho no bolso, fazendo tic-tic-tic a cada pessoa que entrava. Terminou. Quantos entraram? 412. No que o gerente me disse «359», eu disse «não, querido, foram 412». Eu que não entendo nada! Quando você vê o seu negócio sendo mexido você imediatamente descobre! Minha mulher volta e meia percebe: «roubaram aquele tapete… cadê aquele vaso… ela vê tudo»! O Anarelo, lembra do Anarelo?
Giovanni Bruno!
No restaurante dele tinha aquelas linguiças e salames pendurados no teto, queijos… os garçons servindo aqueles camarões enormes… e um dia eu falei, Anarelo, me diz uma coisa: «como é que… o cara…se o cara pega lá um pedaço de carne, um pouco de camarão e leva para casa? Chega uma hora que você vai dormir…Você vai embora às 2 e até às 4 e meia ficam os empregados»…Ele falou assim: «Se eles pegam um camarão eu sei»! É lógico! O boi engorda com o olho do dono! Se eu que não entendo nada percebo que me roubaram alguns ingressos, eu corrijo no dia seguinte! Nunca mais! Como é que eles ficaram lá anos sendo roubados…? Todo mundo metendo a mão… E amigos. Companheiros. Tesoureiros. Ministros. Tudo lá. São coisas tão absurdas que elas não são dramaticamente interessantes. Só é possível escrever sobre o que é factível.
Você pode escrever sobre o que quiser. Mas tudo tem que ter credibilidade e verossimilhança. Tem que ser verossímil e crível para o espectador. Quando a pessoa diz assim «eu não sabia de nada» você está numa enorme comédia. Porque não é crível nem verossímil. O teatro nos ensina muito. Porque o teatro nasceu da religiosidade. Ele é o sacerdote. O primeiro ator é o sacerdote. Ele nasceu da religiosidade, do mito. Por isso é que ele dá meio uma geral na sociedade de vez em quando. Então, não sei para onde nós vamos. Nesse momento não sei. Eu espero que a gente meta todo mundo na cadeia quem deva ser metido na cadeia. Que a gente tenha uma «Operação Mãos Limpas» como na Itália. Para a gente recomeçar, devagarzinho, para a gente ser uma sociedade simples, mas, pelo menos, estado de direito! Liberdade de expressão! Nenhuma censura! Publica! Não, porque Fulano disse…Ué, publica a sua vez! Faz uma revista sua! Publica, conta. Não gosta? Não é verdade? Não adianta ficar brigando.
Não precisa proibir nada. Não gosta do livro, é só não ler. Não gosta da revista, não compre. Não gosta do programa, mude de canal ou desligue.
Tem pessoas que acham que existe a mídia golpista! Aí, de repente, a mídia está tecendo loas à presidenta!
Só dá golpe, só é golpista quem tem armas. E ponto final. O resto é conversa. Nenhum jornal faz uma revolução. Quem tem armas são os militares.
Os militares e o Stédile. Mas eu não quero golpe. A história do golpe não é boa. Por exemplo: eu fui comunista. Fui exilado na Bolívia, eu e o Guarnieri, combatemos a ditadura etc etc e teve um episódio tão engraçado… Uma ocasião nós estávamos com uns amigos e a gente comia no «Papai», isso em 1961…
Na São João?
Na São João.
Restaurante do Papai.
E a gente passava na banca e comprava a «Última Hora». Chegamos ao restaurante, sentamos e ficamos lendo enquanto esperávamos a comida chegar. Era um grupo de atores. Um deles – não vou dizer o nome porque ele já nos deixou – estava lendo (não é o Guarnieri, Guarnieri é outro padrão), ele estava lendo e nós tomando um aperitivo, pinga, caipirinha. Bom. De repente, esse rapaz começa a chorar. Fechou o jornal e desabou numa choradeira absolutamente impressionante. E nós falávamos: «O que aconteceu com ele!?» Ele chorava copiosamente. O restaurante começou a prestar atenção em nós. Não era muita gente que tinha, era meia noite e meia. Tentamos acalmá-lo. «Fica calmo… a gente resolve… podemos ajudar em alguma coisa? Você quer falar sobre isso»? O que que era? Tinham tirado Stalin do túmulo dele e tinham levado para fora da cidade! Já tinha havido a dessestalinização, mas ele estava chorando como um louco por causa disso. Por que é que ele chorava por causa disso e eu percebi depois? Eles cristalizaram em algumas pessoas o seu deus. Tem os católicos, os religiosos, e tem aqueles que se tornaram ateus e que antes eram católicos, os comunistas têm que ser necessariamente ateus. Como você é comunista e tem que ser ateu você tem que ter um deus, tem que ter alguém que te oriente, que dê sentido à sua vida, aos seus gestos, aos seus atos, às suas passeatas, às suas bobagens. Alguém tem que dar um sentido! Alguém tem que dizer «vai em frente porque isso tem sentido e eu estou dizendo para você»! E é o Stalin! Aconteceu o seguinte: quando houve a dessestalinização uma coisa que eu observei foi a seguinte. Primeiro teve a denúncia, a verificação e quem era aquela pessoa. Que tinha sido um genocida no nível do Hitler! E, sob certo aspecto, até mais ainda! Muito bem.
Só de fome na Ucrânia morreram vinte milhões.
Aí tem o seguinte: dissolve-se a União Soviética… cada país fica independente… então eu, como comunista, pensei: «Bom, mas cada país ficará com o socialismo». Mas não. Ninguém quis ficar! Todos quiseram a democracia. Todos os países se tornaram países democráticos. Então eu pensei: «Olha… eles não gostavam»! Então muitos têm um Deus. Mataram… roubaram… mas temos um Deus que nos orienta… há um projeto de poder… e nós precisamos… «Não, não é roubo… é estratégia de luta»!
Niemeyer é que dizia: se Stalin fez é porque ele sabia o que estava fazendo.
Claro! Eu vou colocar o Stalin na peça. Porque um personagem é petista, mas quer resolver. Então o outro diz… não posso falar agora porque é segredo… E aí tem aquela frase: se você não for um comunista até os 20 anos você não tem coração; se continuar sendo dep0is dos 25 você não tem cérebro. Eu li isso e falei «meus Deus do Céu, será que foi isso que aconteceu comigo»? Eu sou pela democracia, pelo estado de direito, pelas liberdades democráticas, pelo homem. Eu não sou de extrema-direita. E já falei de amigos meus que estão na direita nas minhas peças. Gritaram etc e tal. Porque eu não escondo muito. O que me irrita eu ponho. Seja de direita, seja de esquerda. Não importa. É isso, seu Solnik! E aí, o que você quer saber mais? Você manda a matéria para eu dar uma lida antes?
Claro!
Por e-mail? Ótimo! Para ver se não tem uma incongruência grande minha.
Quando meu filho era pequeno eu o levava todo dia para ver uma determinada peça. Porque a atriz era linda e eu me apaixonei por ela. Veja o que é a força do teatro. Era uma loira… engraçado como somos atraídos por loiras.
As loiras são lindas! Sua mulher, por exemplo…Eu fui assistir agora Claudia Maura, fui assistir ao Tarcísio…agora, o teatro está numa fase muito ruim, eu acho.
O que está acontecendo, hein?
O teatro está numa fase ruim e a razão fundamental da fase ruim do teatro, embora ninguém tenha tido a intenção de que isso fosse um desastre é a Lei Rouanet. A Lei Rouanet destruiu o teatro! Porque tudo se tornou absolutamente impossível! Como você tem 800 mil, 1 milhão… eu digo isso porque as minhas duas últimas peças foram montadas pela Lei Rouanet. Ocorre que, como existe a Lei Rouanet os preços são totalmente exorbitantes! O aluguel do teatro se multiplicou, o cenário se multiplicou, a direção se multiplicou, a roupa se multiplicou. Os jornais… Para você lançar uma peça hoje com possibilidade de alguma frequência você precisa ter, no mínimo, 300 mil reais! Quando na verdade nós sempre fizemos teatro e não tínhamos dinheiro para divulgação. Existia o quadradinho do «Estadão», da «Folha», «Jornal da Tarde», «Diário de São Paulo», púnhamos nos quadradinhos, íamos às rádios dar entrevista e uma ocasião, até saímos num carro de som, pela cidade, eu e o Guarnieri anunciando «Hoje à noite! Eles não usam black-tie! Com Gianfrancesco Guarnieri, Juca de Oliveira, Gracinda Freire»!, E havia uma cooperativa. Cada ator entrava com uma porcentagem no espetáculo. Fazíamos permuta. Outro problema: a Lei Rouanet funciona na base da renúncia fiscal. Só dá renúncia fiscal a peça que têm grandes atores, conhecidos que possam dar marketing àqueles que fazem a renúncia fiscal. Então, na verdade, ela só existe para grandes atores. Como é tudo caríssimo, as carreiras das peças são curtíssimas. De um mês e meio, dois. Porque é tão caro tudo que ele investe o dinheiro daquela forma tal e no fim dos dois meses o dinheiro acaba, não tem mais dinheiro para divulgação. E para continuar pagando os atores, porque quem pagou os atores nesse período foi a Lei Rouanet. Outro problema: fica Rio – São Paulo. Ninguém pega um ator de Minas.
Outro problema: a empresa abdica de parte do imposto. Então, ela não dá nada, ao contrário, ela só ganha, porque ela não vai pagar o imposto. Quem perde é o povo. Porque aquele dinheiro iria para o governo, iria para a Saúde, a Educação…e aquele dinheiro é desviado do imposto que iria para os cofres públicos. Para nós fazermos o marketing das pessoas, não é verdade? Outro problema: nós fazíamos teatro e o teatro era feito com uma enorme paixão. Você lê um texto, você se apaixona e você faz aquele texto. E como tem paixão sua e do diretor e do cenógrafo e do figurinista é um fluxo de paixão e tanta que você acaba fazendo sucesso. Agora, assim como é feito… «Ah, eu tenho dois meses… eu vou fazer… eu estou fazendo a novela, mas durante esse período eu faço»… Eu me lembro que uma ocasião eu vendi um carro para acabar o pagamento da montagem de uma peça. Com o carro eu paguei tudo! Eu me lembro que vendi o carro por 18 mil.
Hoje, se você vende um carro por 70 mil você não paga um terço da divulgação! O que me leva a uma perplexidade muito grande é analisar o que acontece em Buenos Aires. Em Buenos Aires existe uma Broadway bombando! Eu li um crítico argentino que disse «como é possível um crítico se comportar aqui nessa cidade se tem 400 peças em cartaz que vão de domingo a domingo»! Uma Broadway ululante! Não tem Lei Rouanet. Teve uma peça minha, «Baixa Sociedade» que foi encenada na Argentina e o ator principal era Dario Vitor, um grande ator. Depois, mais tarde fizemos «Gato vira-lata». Depois o Dario quis montar o «Meno Male». Começaram a fazer as discussões etc e eu fui lá para uma reunião. Quando eu ia indo para a reunião passei em frente do Lloyds Bank. E o Lloyds Bank aqui no Brasil durante o «Meno Male» tinha dado a divulgação para nós.
Não nos dava dinheiro, era uma permuta. Eles davam a divulgação e a gente colocava o nome da empresa no programa. Cheguei na reunião, falei «Dario, olha que coisa engraçada, a peça não é tão custosa, mas pressupõe um certo investimento, eu passei agora em frente ao Lloyds Bank e me lembrei que o Lloyds Bank nos ajudou. Então, porque vocês não passam no Lloyds Bank contam o que houve no Brasil e pedem a ajuda deles»? Dario reagiu assim: «Que es? Es loco? Quer poner el nombre del banco en la cartelera? Que tiene usted em la testa»?
Eles nem sequer cogitaram. O teatro lá é feito com produtor, com atores que são produtores, como sempre fizemos. Um sucesso absoluto! Outra coisa é o cinema. Eu não falo sobre cinema porque o cinema não é minha área, então não posso falar sobre cinema. Mas eu acho que o mesmo fenômeno aconteceu com o cinema na Argentina. Eu acho que eles têm, senão o melhor, um dos melhores cinemas do mundo!
Alex Solnik, ao 247

Fotoarte: «Espelho do Juca»












Referências





https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/praxis/484/ideologia%20alem%C3%A3.pdf?sequence=1
https://youtu.be/KA5O5U_Etlc
https://www.youtube.com/watch?v=KA5O5U_Etlc
https://f.i.uol.com.br/fotografia/2019/12/13/15762790915df41c3360cfb_1576279091_3x2_xl.jpg
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/03/regina-duarte-sera-capaz-de-ampliar-o-dialogo-do-governo-com-a-classe-artistica-sim.shtml
ttps://youtu.be/rUOcezQKuXo
https://www.youtube.com/watch?v=rUOcezQKuXo
https://kaosenlared.net/wp-content/uploads/2015/09/BrasiljucaOliveira4.jpg
https://kaosenlared.net/brasil-entrevista-do-domingo-juca-de-oliveira/

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