sexta-feira, 27 de julho de 2018

Repercussões do Fórum Estadão Sobre Corrupção


O jornalista do Estadão José Fucs foi o mediador do debate

“Só prisão não é suficiente para o combate à corrupção”

25 JUL2018

Em painel organizado pelo 'Estado', juiz Sérgio Moro, criminalista Antonio Mariz e promotor Marcelo Mendroni debateram soluções para reduzir a corrupção no País”


'Por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo', diz Moro



“Devido a certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo”, diz Moro
Posted on julho 25, 2018 by Tribuna da Internet


Prisão na segunda instância é um avanço, diz Moro
Deu em O Tempo
(Estadão Conteúdo)

Ao atuar como moderador no debate entre o promotor de Justiça Marcelo Mendroni e o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, sobre as prisões preventivas como forma de combater a corrupção, durante o quinto Fórum Estadão, nesta quarta-feira (25) em São Paulo, o juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, afirmou que “por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo” no Brasil.

“Só para esclarecer, estamos fazendo essa discussão no mais absoluto nível de respeito”, disse o juiz ao citar que os três participantes do debate, realizado pela manhã, se conheciam pessoalmente, tinham uma relação de “profundo respeito” e seria “muito fácil fazer as discussões” sem exaltação.

A CRÍTICA – “Todas as posições são respeitáveis, o diálogo é muito importante, nós perdemos um pouco no Brasil essa nossa… por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo”, disse Moro, que deixou claro que a crítica não era dirigida aos parceiros de debate.

O evento abordou os caminhos para reconstrução do País. No painel sobre corrupção, o debate esquentou quando Mendroni colocou no mesmo padrão um “serial killer”, que comente assassinatos em série, e um corrupto contumaz.

“Eles não param de praticar corrupção se eles não vão para a cadeia”, afirmou Mendroni, ao defender a prisão preventiva como forma de combate à corrupção.

COMPARAÇÃO – “Na minha opinião esse tipo de gente, que pratica esse tipo de corrupção, se equipara indiretamente a um serial killer”, afirmou o promotor. “Um serial killer mata as pessoas diretamente, enquanto que o corrupto desse viés mata as pessoas indiretamente. Porque esse dinheiro que ele rouba dos cofres públicos falta depois na saúde, no transportes, em todas as assistências sociais.”

Mendroni afirmou: “A diferença que eu vejo entre um serial killer e um corrupto dessa natureza, principal, é que o corrupto é mais covarde que um serial killer”.

“Ora doutor, o que é isso?”, questionou Mariz, em tom de indignação. “Eu também quero ele na cadeia, só que eu queria saber como o senhor vai descobrir logo no início das investigações se alguém é culpado ou se é inocente, se ele não se defendeu?”.

MORO INTERFERE– Mendroni continuou sua explanação sobre o direito de prender e Mariz a sua sobre a inconformidade da medida, fora do microfone. Foi quando, em um quebra-clima, Moro entrou na discussão: “Eu como juiz vou interferir no conflito entre o Ministério Público e a advocacia”.

O jornalista do Estadão José Fucs, mediador do debate, no tom dos risos que dissiparam o “climão”, brincou: “Por favor doutor Moro, fique à vontade aí”.

O tema do debate foi “Mais governança e mais segurança”. O evento foi dividIDo em dois painéis: pela manhã. “O Combate à Corrupção” contou com Moro, Mariz e Mendroni; à tarde, “Alternativas à Segurança Pública” teve a presença do secretário nacional de Segurança Pública Raul Jungmann, do coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho e do diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.

SEGUNDA INSTÂNCIA – Durante o primeiro painel, Sérgio Moro afirmou que a execução de pena em segunda instância “foi um passo fundamental” para que a Justiça penal seja efetiva e prospere o combate à corrupção. Para o magistrado, não há como a Justiça funcionar “sem que os processos cheguem ao fim”.

No debate, Mariz sugeriu que a execução provisória de pena esperasse uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Mas na avaliação de Moro, a sugestão “não resolve”. De acordo com o juiz da Lava Jato, a Corte superior tem “nível absurdo” de processos. “Solução intermediária não resolve, permanecemos no mesmo quadro”, afirmou.

E o promotor Marcelo Mendroni avalia que a prisão em segunda instância “é tardia”. O investigador defende prisão preventiva “desde logo” e o bloqueio de bens. “Prisão faz com que cesse a prática do crime”, disse.




25/07/2018 17:07
Fórum Estadão: Só prisão não é suficiente para o combate à corrupção


© Foto: Eraldo Peres/AP


Com a intenção de contribuir para uma escolha consciente dos brasileiros nas eleições 2018, o quinto Fórum Estadão - promovido para debater caminhos para a reconstrução do Brasil - teve em seu primeiro painel, na manhã desta quarta-feira, 25, a participação do juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal, em Curitiba, e responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, do advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira e do promotor de Justiça Marcelo Mendroni, do Ministério Público de São Paulo. O tema da discussão: "O Combate à Corrupção".
Em sua primeira pergunta aos participantes, o jornalista José Fucs, repórter especial do Estado e mediador do debate, questionou a importância e a necessidade da aplicação das penas de prisão aos condenados em segunda instância. Para o juiz Sérgio Moro, "a prisão não é condição suficiente para a superação de corrupção sistêmica".
"A efetividade do sistema de Justiça criminal em relação à corrupção é necessária para superar o problema. Precisa-se mandar a mensagem de que as condutas graves não ficarão impunes. Mas é evidente que só punição não resolve o problema. São necessárias políticas públicas mais gerais e exemplos de lideranças com atuação íntegra para que esse quadro de corrupção disseminada seja reconhecido."
Para o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, "não se combate corrupção e crimes com cadeia". "Por que não se adotar medidas que previnam o crime? Por que não haver medidas legislativas que protejam o bem público, medidas legislativas no campo das licitações? Não se discute isso", criticou. Ele acredita que a visão de que prisões evitam crimes é uma "falácia". "O que evita o crime são medidas que deveriam ser adotadas antes. Deveríamos ter cuidado com as crianças carentes. Temos de atacar as raízes do crime."
O promotor Marcelo Mendroni foi aplaudido ao discordar de Mariz. "A prisão é tardia depois da segunda instância. Para a grande corrupção, que desvia milhões, deveria ter prisão preventiva", disse. Mendroni afirmou que o efeito da prisão preventiva é "didático" e que o acusado de corrupção deveria ser “preso imediatamente no começo da investigação”. Para o promotor, o corrupto continua atuando mesmo quando está sendo investigado - e só a prisão faz com que a prática cesse. “Esperar o trânsito em julgado no STF (Supremo Tribunal Federal), é admitir que não existe punição para corrupção no Brasil.”
Decisões monocráticas
Em seguida, o mediador de debate questionou os participantes sobre "uma série de decisões monocráticas de ministros do STF determinando a libertação de condenados e investigados, incluindo pessoas com relações pessoais com os ministros da Corte". "Em que medida isso aumenta a insegurança jurídica no Brasil?", perguntou Fucs.
Para Mendroni, algumas decisões monocráticas são incoerentes. "Temos dificuldade de entender a lógica dessas decisões. Fica parecendo que alguns ministros do Supremo se consideram acima da lei", disse, sob aplausos da plateia.
Moro defendeu decisões do STF que chamou de "louváveis", como a restrição na legislação eleitoral e a prisão após segunda instância. O juiz cogitou a possibilidade de uma solução intermediária à prisão após segunda instância, em que o STJ analisaria os casos. Para ele, porém, isso não seria possível, porque há “um nível absurdo de processos que chega ao STJ”. Os crimes, acredita o magistrado, prescreveriam.
Mariz argumentou que o direito penal não é “punitivo por excelência” - e que a lei garante a dignidade de quem está sendo processado. “O banco dos réus também é para inocentes”, declarou o criminalista. Moro rebateu Mariz dizendo que ninguém “tem advogado pela supressão do direito de defesa” . Para o juiz, as ações que levam à prisão preventiva se fizeram presentes porque foi “diagnosticada a impunidade como tradição “ .
Sobre as críticas que recebe por sua atuação como juiz, Moro garantiu diz que seus métodos têm base no que a lei já prevê. A prisão preventiva só seria uma opção quando existe risco de ocultação de provas, possibilidade de fuga ou até continuidade na corrupção. “Como isso pode ser considerado métodos reprováveis?”, perguntou Moro.
O juiz não quis comentar a atuação do desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF-4), que determinou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato, em 8 de julho. Em relação às críticas por ter “trabalhado” nas férias durante o domingo em que o petista quase foi solto, Moro ironizou: “Os juízes são criticados porque têm férias muito longas. Aí, quando trabalham nas férias, são criticados também”.
Os fóruns organizados pelo Estadão têm como parceiros a Unibes Cultural, o Centro de Liderança Pública (CLP), o (Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e a Tendências Consultoria Integrada.
Já participaram dos fóruns o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros Pedro Malan e Celso Lafer, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, o economista Delfim Netto, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, entre outros.



Fórum Estadão: Só prisão não é suficiente para o combate à corrupção
Em painel organizado pelo 'Estado', juiz Sérgio Moro, criminalista Antonio Mariz e promotor Marcelo Mendroni debateram soluções para reduzir a corrupção no País
25 JUL2018
11h17
atualizado às 23h20

Prisão não é suficiente para combater corrupção no Brasil. A conclusão é do juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal, em Curitiba, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, e do advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que foram questionados sobre o tema durante o Fórum Estadão, realizado nesta quarta-feira, 25, em São Paulo. Por sua vez, o promotor de Justiça Marcelo Mendroni, do Ministério Público de São Paulo, que também participou do painel, se mostrou a favor da prisão preventiva em casos de corrupção.
"A prisão não é condição suficiente para a superação de corrupção sistêmica", disse Moro. "Precisa-se mandar a mensagem de que as condutas graves não ficarão impunes, mas é evidente que só punição não resolve o problema. São necessárias políticas públicas mais gerais e exemplos de lideranças com atuação íntegra para que esse quadro de corrupção disseminada seja reconhecido", afirmou o juiz.
Os participantes do fórum tinham sido questionados sobre a possibilidade de a execução de penas após condenações em segunda instância contribuir para o combate à corrupção no Brasil, segundo a atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, "não se combate corrupção e crimes com cadeia". "Por que não se adotar medidas que previnam o crime? Por que não haver medidas legislativas que protejam o bem público, medidas legislativas no campo das licitações? Não se discute isso", criticou. Ele acredita que a visão de que prisões evitam crimes é uma "falácia". "O que evita o crime são medidas que deveriam ser adotadas antes. Deveríamos ter cuidado com as crianças carentes. Temos de atacar as raízes do crime", sugeriu.
O promotor Marcelo Mendroni foi aplaudido ao discordar de Mariz. "A prisão é tardia depois da segunda instância. Para a grande corrupção, que desvia milhões, deveria ter prisão preventiva", disse. Mendroni afirmou que o efeito da prisão preventiva é "didático" e que o acusado de corrupção deveria ser "preso imediatamente no começo da investigação". Para o promotor, o corrupto continua atuando mesmo quando está sendo investigado - e só a prisão faz com que a prática cesse. "Esperar o trânsito em julgado no STF é admitir que não existe punição para corrupção no Brasil."

Decisões monocráticas
Em seguida, os participantes foram questionados sobre as decisões monocráticas de ministros do STF. Para Mendroni, algumas decisões foram incoerentes. "Temos dificuldade de entender a lógica dessas decisões. Fica parecendo que alguns ministros do Supremo se consideram acima da lei", disse, sob aplausos da plateia.
Moro, por outro lado, defendeu decisões do STF que chamou de "louváveis", como a restrição na legislação eleitoral e a prisão após segunda instância. O juiz cogitou a possibilidade de uma solução intermediária à prisão após segunda instância, em que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisaria os casos. Para ele, porém, isso não seria possível, porque há "um nível absurdo de processos que chega ao STJ". Os crimes, acredita o magistrado, prescreveriam.
Mariz argumentou que o direito penal não é "punitivo por excelência" - e que a lei garante a dignidade de quem está sendo processado. "O banco dos réus também é para inocentes", declarou o criminalista. Moro rebateu Mariz dizendo que ninguém "tem advogado pela supressão do direito de defesa". Para o juiz, as ações que levam à prisão preventiva se fizeram presentes porque foi "diagnosticada a impunidade como tradição".

Sobre as críticas que recebe por sua atuação como juiz, Moro garantiu que seus métodos têm base no que a lei prevê. Para ele, a prisão preventiva só seria uma opção quando existe risco de ocultação de provas, possibilidade de fuga ou até continuidade na corrupção.
O juiz não quis comentar a atuação do desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF-4), que determinou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato, em 8 de julho. Em relação às críticas por ter "trabalhado" nas férias durante o domingo em que o petista quase foi solto, Moro ironizou: "Os juízes são criticados porque têm férias muito longas. Aí, quando trabalham nas férias, são criticados também".
Os fóruns organizados pelo Estadão têm como parceiros a Unibes Cultural, o Centro de Liderança Pública (CLP), o (Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e a Tendências Consultoria Integrada.
Já participaram dos fóruns o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros Pedro Malan e Celso Lafer, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, o economista Delfim Netto, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, entre outros.



Resultado das eleições pode ameaçar Lava Jato, diz Moro
Por
 CBN1
26 de julho de 2018

Foto: Gil Ferreira/CNJ

O juiz federal Sérgio Moro participou ontem (25) do Fórum Estadão Mais Governança e Mais Segurança, realizado pelo jornal O Estado de São Paulo. Moro foi um dos debatedores do painel “O Combate à Corrupção”.
Além do magistrado, participaram da mesa redonda o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira e o promotor de Justiça Marcelo Mendroni, do Ministério Público paulista.
Moro afirmou no bate papo que só a prisão não resolve para coibir a corrupção sistêmica.
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Moro falou também sobre a execução da condenação em segunda instância o que, para o magistrado, foi um passo fundamental.
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O mediador questionou o juiz sobre os métodos empregados pela Lava Jato e citou a polêmica, de 15 dias atrás, em que Moro não acatou a decisão do plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), desembargador Rogério Favreto, de libertar o ex-presidente Lula.
Moro não pode responder ao questionamento por questões legais, mas garantiu que sempre agiu com transparência.
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Com relação a ter decidido manter Lula preso durante as férias, o magistrado criticou o posicionamento da imprensa.
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Por fim o magistrado admitiu que há “risco de retrocesso” no combate à corrupção, a partir do resultado das eleições deste ano. Para Moro, o país precisa do exemplo de lideranças honestas.
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Repórter Lucian Pichetti



Juiz Sérgio Moro diz que eleições trazem risco à Lava Jato

Magistrado destacou que para que as ações contra a corrupção tenham efetividade no país, além da punição, são necessárias mudanças na legislação
FOLHA DE SÃO PAULO, SÃO PAULO (SP)
26/07/2018 15H27 - ATUALIZADO EM 26/07/2018 ÀS 15H27

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O juiz federal Sérgio Moro afirmou que existe sempre um risco de retrocesso no cenário eleitoral em relação aos avanços da Operação Lava Jato. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o magistrado defendeu "lideranças honestas" e "reformas de políticas mais gerais para diminuir os incentivos e oportunidades à corrupção". 
"A dúvida é o que vai acontecer daqui para a frente. Vamos retomar aquela tradição de impunidade ou isso representou uma quebra significativa? Nessa perspectiva existe sempre um risco de retrocesso em relação a esses avanços. E há um risco, ainda, que nós não avancemos mais", afirmou.


Sergio Moro participou nesta quarta-feira do painel "O combate à corrupção" - Agência Brasil/Divulgação/ND

O magistrado destacou que para que as ações contra a corrupção tenham efetividade no país, além da punição, são necessárias mudanças na legislação. 
"Para avançar mais, precisamos, além de processos efetivos contra a corrupção, de mudanças políticas mais gerais nas leis para diminuir os incentivos e oportunidades para a corrupção. Mas os riscos sempre permanecem. Isso é algo que não vai ser dessa eleição, nem da próxima, sempre vai existir esse risco. Eu espero que não se concretize."
O magistrado participou nesta quarta-feira (25) do painel "O combate à corrupção" em evento promovido pelo jornal, ao lado do advogado criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira e do promotor do Ministério Público de São Paulo Marcelo Mendroni. 
Durante o debate, o juiz responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba, falou sobre o despacho enviado durante as férias para barrar o habeas corpus concedido ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz de plantão do TRF-4 (Tribunal Regional da 4ª Região), Rogério Favreto. Após uma sequência de decisões, o presidente do tribunal determinou que Lula permanecesse preso. 
 "A imprensa vive questionando o juiz porque as férias são muito longas, com alguma razão, aí quando o juiz trabalha nas férias também critica", disse, em meio a risos da plateia, em teatro na zona oeste da capital paulista.



No tempo em que Gilmar bradava contra a impunidade
Brasil 03.04.18 20:53

O Jornal Nacional acaba de dedicar longos minutos de sua edição ao Gilmar Mendes que, em 2016, era inteiramente favorável à execução da pena após condenação na segunda instância.
O ministro do STF falava em “levar em conta a própria realidade, que permite que exigir o trânsito em julgado formal transforme o sistema num sistema de impunidade”.
Clique abaixo para assistir.


Ministro do STF Gilmar Mendes vota a favor de prisão após condenação na segunda instância



sexta-feira, 27 de julho de 2018
José de Souza Martins: A corrupção lúdica
- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

Em 1994, participei, na Universidade de Londres, de um seminário sobre corrupção política com uma exposição sobre "clientelismo e corrupção no Brasil contemporâneo". Foi interessante descobrir que a preocupação com o assunto era uma preocupação disseminada entre os cientistas sociais da nova geração. Os organizadores, W. Little e E. Posada-Carbó, reuniriam as palestras do evento no livro "Political Corruption in Europe and Latin America", publicado pela Macmillan Press, em 1996. Um panorama da esquisita função da corrupção nos rumos que estavam tomando a economia e a política da pós-modernidade.

Os trabalhos e os debates prenunciaram que o que era deslize ocasional de políticos se tornava instrumento regular de uma aliança incestuosa entre riqueza e poder. O novo capitalismo do pós-guerra e da era pós-colonial abria mão da ética que fora constitutiva da economia na sociedade pós-feudal. A corrupção se tornaria o que posso chamar de "corruptismo", um sistema de ganhos moralmente ilícitos e de poder ilícito neles baseado. Um sistema de democracia bloqueada e limitada, apoiado em cidadania relativa, não mais a cidadania dos princípios e valores da Revolução Francesa. Um mundo mais rentável e menos decente está nascendo.

A disseminação política da corrupção não veio do nada. Diferentes sociedades, a partir de práticas já condenadas pelos respectivos valores tradicionais tinham brechas culturais e práticas geralmente dissimuladas que permitiam a multiplicação privada da riqueza à custa do que era público e do Estado. Em todas as partes, e aqui no Brasil também, o que contribuiu para a aceitação da corrupção como algo tolerável foi a progressiva reeducação da população para aceitar a precedência do lucro sobre a vida, que disseminou a irrelevância dos valores morais em relação aos valores materiais.

Não é surpresa que, no Brasil, muitos dos apanhados com a boca na botija da corrupção não sejam pobres que, eventualmente, tenham descoberto caminhos alternativos e ilícitos para enriquecer. Os de maior visibilidade no cenário das condenações e dos aprisionamentos são ricos e poderosos ou gente de classe média que se tornou poderosa e, por isso, rica.

Nos detalhes de cada caso, vê-se que a corrupção é aqui uma prática lúdica, uma diversão, um jogo de quem tem tudo e ainda quer ter mais. Neste momento, os corruptos locais querem também ser reconhecidos como honestos e santos, pretendem passar por presos políticos, por inocentes de crimes que entendem não ser crimes porque são deles. Tentam criminalizar a prática da Justiça, os juízes e os tribunais, a ação dos funcionários da lei e da Constituição. Querem com isso descriminalizar o crime e incriminar os honestos.

As ciências sociais precisam incorporar, com urgência, esse mundo invertido e pervertido, o da sociedade do absurdo e do avesso, como objeto de conhecimento e de deciframento. A começar do reconhecimento de que os fundamentos estruturais e históricos da perversão estão aí há muito tempo, desde quando os bem-nascidos podiam se apropriar legalmente do que era público. O Estado e os poderosos eram reciprocamente cúmplices. O que hoje consideramos corrupção não o era então. Agora é. O sistema partidário de pseudocoalizões e negocista é seu instrumento.

Desde antes de ser oficialmente corrupto, o Brasil já mantinha uma relação promíscua e comprometedora entre os particulares e o governo. Era um tira lá, dá cá, que não envergonhava ninguém nem causava espanto. É que dantes como agora, o que chamamos de corrupção era e continua sendo um modo de fazer política inscrito nos próprios alicerces do Estado. Nessas bases, fazer política já é um convite à corrupção, dadas as facilidades e facilitações da troca de favores num país em que o voto é um leilão de consciências. Pode ser comprado e pode ser abduzido pelo populismo rastaquera. Os que não têm como se defender contra o assédio eleitoral inescrupuloso, a propaganda para acobertar e não para revelar, não percebem que, não raro, o voto do brasileiro é um voto saqueado.

A palavra sebaça chegou-me ao vocabulário de jovem adulto, há muitos anos, quando li, pela primeira vez, "O Tronco", o belo livro do escritor goiano Bernardo Élis. Nele, narra o autor a saga de uma família envolvida nos dilemas das irregularidades, ilegalidades e arcaísmos da dominação oligárquica e das práticas extralegais da República Velha na Vila do Duro, hoje Dianópolis. Foi caso acontecido. Uma das práticas era a de impor aos vencidos a sebaça, o saque de seus bens, algo dado como normal e lícito em muitos lugares deste país até hoje. Os agentes e beneficiários da sebaça de hoje nos tratam como um país de vencidos.
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José de Souza Martins é sociólogo e Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “A Política do Brasil Lúmpen e Místico” (Contexto).


Referências

https://politica.estadao.com.br
https://www.otempo.com.br/image/contentid/policy:1.1950032:1532558074/image/image.jpg?f=3x2&q=0.6&$p$f$q=4836623
http://carlosnewton.com.br/devido-a-certos-radicalismos-perdemos-a-capacidade-de-dialogo-diz-moro/
http://cdn.agensite.online/img/350x350/1/0//arquivos/853/conteudo/posts/775448.jpg?1532553120
http://www.nativanews.com.br/conteudo/id-775448/forum_estadao__so_prisao_nao_e_suficiente_para_o_combate_a_corrupcao
https://www.terra.com.br/noticias/forum-estadao-so-prisao-nao-e-suficiente-para-o-combate-a-corrupcao,090c889cb9a5584adc7ed08592bc944cfsckfu94.html
https://i1.wp.com/cbncuritiba.com/wp-content/uploads/2017/08/juiz_sergio_moro_foto_gil_ferreira.jpg?resize=696%2C421&ssl=1
https://cbncuritiba.com/resultado-das-eleicoes-pode-ameacar-lava-jato-diz-moro/
https://app1.ndonline.com.br/files/images/2018/07/cropped/cf9ce88ce6b779a7046c91a18b574660d7151897.jpg
https://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/juiz-sergio-moro-diz-que-eleicoes-trazem-risco-a-lava-jato
https://youtu.be/8KEYJu7nrho
https://www.oantagonista.com/brasil/no-tempo-em-que-gilmar-bradava-contra-impunidade/
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/07/jose-de-souza-martins-corrupcao-ludica.html

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