sábado, 2 de abril de 2016

Mutações políticas na mixórdia brasileira

Prestes, Brizola e Jefferson dissecam Lula e PT

Entrevistas na TV:



Veja os melhores momentos do 'massacre' sofrido por ministro do STF no Roda Viva

Luis Carlos Prestes (1898-1992), o Cavaleiro da Esperança, recusou convite de Getúlio Vargas (1882-1954) para comandar militarmente a Revolução de 1930. Morreu, em 1992, ostentando o título de presidente de honra do PDT, de Leonel Brizola (1922-2004), o que dizia vir de longe. Todos gaúchos.

Programa Ferreira Netto - Entrevista com Luiz Carlos Prestes , TV Record 1989





O PDT foi fundado com essa denominação quando, na reorganização partidária pós-ditadura de 1964, a sobrinha de Getúlio Vargas, Deputada por São Paulo, a gaúcha Ivete Vargas (1927-1984), gaúcha de São Borja, foi mais ágil em registrar a legenda PTB, da qual Brizola se julgava herdeiro histórico. Getúlio também era gaúcho.


O QUE O BRIZOLA PENSAVA DO LULA E O PT




Especula-se que Ivete articulou-se com o chefe da casa civil do General Ernesto Geisel (1907-1996), General Golbery do Couto e Silva (1911-1986), também gaúchos, para dar uma rasteira em Brizola.

Brizola vai para a televisão, que julgavam dominar como poucos. Dramaticamente, rasga um pequeno papel onde estava escrito PTB, desliza o T para o lugar do B e enfia um D de cambulhada entre o P e o T. Nasce o PDT que elege Brizola governador no Rio de Janeiro. Nessa esteira, Jaime Lerner é eleito prefeito em Curitiba e Alceu Colares em Porto Alegre. Um cantor popular histriônico, um cacique indígena folclórico e um líder do movimento negro são também eleitos deputados federais por esta sigla.

Rio de Janeiro foi a base do PDT. Como São Paulo foi a do PT e PSDB. O Redentor sempre acolheu de braços abertos os trabalhistas de Vargas nas águas da Guanabara.

São Paulo da garoa recusa-lhe mais uma vez guarida acolhendo para confrontar-lhe irmãos imberbes com fachadas social-democratas.

Brizola teve que seguir a sina de Getúlio em terras paulistanas e delegar ao filho do ex-governador Ademar de Barros, o Filho (1929-2014), a organização de seu projeto de poder no centro mais dinâmico trabalhista e industrial da América Latina.

O caminho estava pavimentado para a futura pupila de Lula da Silva e primeira mulher eleita presidente da República pelo PT sem D no meio.

Ironicamente era o D de democrata que dava um verniz democrático àquela sigla historicamente comprometida com um ranço autoritário e taxado de caudilhismo.

Brizola foi candidato a vice-presidente de Lula em dobradinha PDT/PT. Já haviam sido derrotados na corrida presidencial anterior para Collor/Itamar.

Foram novamente derrotados por Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel, que prometiam acabar com a herança trabalhista Getulista na política brasileira.

Marco Maciel foi líder do General Geisel pela ARENA durante o regime militar. FHC governou dois mandatos com a vice-liderança deste quadro geisista que atuava com discrição e operosidade.

O gaúcho Ernesto Geisel iniciou militância política na década de 1930, como major do exército, por indicação do Presidente Getúlio Vargas, em intervenção do Estado de Pernambuco, de Marco Maciel.

Fernando Collor de Melo é neto do gaúcho Lindolfo Collor (1890-1942), primeiro ministro do trabalho de Getúlio nos anos 1930. Itamar Franco (1930-2011) iniciou sua vida política em Juiz de Fora, MG, no final da década de 1950, como candidato derrotado a vereador pelo PTB de seu mentor, o ideólogo gaúcho Alberto Pasqualini (1901-1960).

No impeachment de Collor de Melo, Roberto Jeferson, presidente então do PTB, foi uma das aves raras a permanecer até o fim da estação no apoio do presidente apeado pelo impeachment.

Na crise do denominado Mensalão, em 2005, Jeferson ainda presidente do PTB defendeu vigorosamente o presidente Lula então considerado o chefe daquele esquema criminoso. Enquadrou o Chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, do PT do presidente, para que o mesmo se afastasse do governo, a fim de salvar um “inocente”.

Cristiane Brasil, presidente nacional do PTB, filha de Jeferson, hoje se alinha na frente de oposição ao governo dilmalulopetista pelo impeachment em tramitação no Congresso Nacional.

Ombreia-se nesta missão ao lado do piauiense Wellington Moreira Franco, ex-genro de Alzira Vargas (1914-1992) e Amaral Peixoto (1905-1989), filha e genro de Getúlio Vargas.

Pai Roberto reassume.

JEFFERSON VOLTA À POLÍTICA E PREVÊ QUE
LULA E CUNHA SERÃO PRESOS





Posted on abril 1, 2016 by Tribuna da Internet 29 comments





Luciana Nunes Leal

Estadão

Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson obteve perdão da pena e se prepara para reassumir em 14 de abril, a presidência do PTB. Quer voltar ao comando partidário ainda durante o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao qual é favorável.

Pelos cálculos do petebista, 17 dos 19 deputados do partido deverão votar contra Dilma. O indulto acabou com proibições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como falar de política e só viajar com autorização judicial. Em entrevista ao Estado, Jefferson, de 62 anos, diz que, na época do mensalão, não sabia, mas agora tem certeza de que o ex-presidente Lula tinha conhecimento da corrupção que envolvia o PT e parlamentares da base.

Sobre deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Jefferson diz não ter dúvida de que o peemedebista será preso. “Eduardo é o bandido pelo qual eu mais torço”, diz. “Ele foi o adversário mais à altura do Lula. Lula nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele”, ironiza, prevendo que Lula também cumprirá pena.



A ainda presidente do país, Dilma Rousseff, hoje mais do que nunca isolada e hostilizada por seu partido político PT, é egressa do mesmo PDT gaúcho de Brizola, Prestes e seu atual presidente Carlos Lupi.


quinta-feira, 31 de março de 2016

1964: A luta política pela democracia - Raimundo Santos:

O golpe de 1964 depôs João Goulart e interditou as liberdades democráticas. O seu governo refletia as lutas em favor das "reformas de base" e pela ampliação de direitos. Crescia o movimento de opinião pública em defesa da economia e das riquezas nacionais, inclusive com repercussão nas Forças Armadas. Fortaleciam-se o sindicalismo urbano, os sindicatos rurais, as ligas camponesas e o associativismo de diversas categorias. Intelectuais, áreas do mundo da cultura e estudantes dinamizavam o campo progressista dessa época.

Goulart enfrentou dura oposição da União Democrática Nacional (UDN) e de setores reacionários. Áreas da sua base de apoio, nucleada pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e pelo Partido Social Democrático (PSD), oscilavam diante das dificuldades, sobretudo econômicas. As esquerdas se dividiram, parte dela se radicalizou, passando a combater o que chamava de “conciliação” do governo com os conservadores. Goulart chegou ao final de março de 1964 politicamente isolado.

Diferentemente dessa experiência da frente nacional e democrática (expressão daqueles anos), o campo da resistência ao regime de 1964 iria ter como norte as liberdades democráticas (cf. Resolução política do PCB, maio de 1965) e iria se firmar a valorização da democracia política como caminho para alargar direitos e realizar reformas estruturais.

A ditadura logo se deparou com oposição. Em 1965, foi derrotada nos estados da Guanabara e Minas Gerais nas eleições para governador. Entre 1966 e 1968 se formou um campo oposicionista ativado pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), pelas ações de intelectuais e de áreas da vida cultural e artística e pelos estudantes. Os sindicatos recuperavam suas entidades sob intervenção. Essa animação teve o seu ponto alto na passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro.

A ditadura impôs o Ato Institucional n. 5 (AI-5) em 13/12/68, fechou o Congresso, cassou mandatos e direitos políticos e extremou a repressão. Nos anos de chumbo (1969-1975), a tortura teve uso sistemático, numerosos opositores desapareceram e os exílios aumentaram.

Ao contrário das correntes que não viam saída que não fosse o confronto direto, na frente democrática se acreditava, principalmente no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que o endurecimento do AI-5 poderia ser barrado por meio da política. O MDB amplia sua atividade nas eleições controladas e até na eleição indireta para Presidente da República de 1973, quando Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho se lançaram anticandatos. A oposição se fortalece com outras mobilizações (trabalhistas, sobretudo do ABC paulista e do associativismo variado (professores, servidores públicos, comunitário etc.), e com as Diretas Já, até derrotar a ditadura ao eleger em 1985, no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves e José Sarney. Em 1988, a nova constituição consolidou a forma democrática de vida dos brasileiros e definiu marcos para as mudanças.

Ir a esse passado ajuda a defender a cultura democrática neste tempo de desvalorização da política e da democracia representativa e suas instituições. E traz até nossos dias um padrão de agir das esquerdas referido ao conjunto da sociedade brasileira, cujos marcos se desenvolveram no contexto da frente democrática de resistência ao regime de 1964.

Raimundo Santos, professor do UFRRJ




Entrevista. Roberto Jefferson

Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão e com pena recém-perdoada pelo STF, o ex-deputado quer voltar ao comando do PTB ainda durante o processo do impeachment de Dilma, ao qual é favorável


Luciana Nunes Leal

31 Março 2016 | 18h 19


O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ)

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RIO - Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson obteve perdão da pena no último dia 22 e se prepara para reassumir em 14 de abril, a presidência do PTB, atualmente ocupada por sua filha, a deputada Cristiane Brasil. Quer voltar ao comando partidário ainda durante o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao qual é favorável.

Pelos cálculos do petebista, 17 dos 19 deputados do partido deverão votar contra Dilma. O indulto acabou com proibições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como falar de política e só viajar com autorização judicial. Em entrevista aoEstado, Jefferson, de 62 anos, volta à velha forma: mistura acusações a antigos aliados, ironia e lembranças do período de pouco mais de um ano em que ficou na prisão.

Jefferson diz que, na época do mensalão, não sabia, mas agora tem certeza de que o ex-presidente Lula sabia da corrupção que envolvia o PT e parlamentares da base. “Eu tive a impressão de que o mentor intelectual do mal era o Zé Dirceu (ex-deputado federal, condenado pelo mensalão e preso por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás). Mas hoje (...) não tenho mais dúvida de que o Lula estava a par de tudo. Não aconteceu sem que o Lula soubesse. O Lula realmente sabia de toda essa corrupção e ele institucionalizou essa corrupção a partir dessa chefia do governo.”

Embora veja legitimidade no deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é investigado na Operação Lava Jato, para presidir a Câmara durante o processo do impeachment, Jefferson diz não ter dúvida de que o peemedebista será preso. “Eduardo é o bandido pelo qual eu mais torço”, diz. “Ele foi o adversário mais à altura do Lula. Lula nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele”, ironiza.

Como foram os primeiros dias depois do indulto?

Quarta-feira à noite o pessoal foi lá e tirou a tornezeleira. Quinta-feira de manhã cedinho peguei a moto e fui embora (para Levy Gasparian, cidade no interior do Estado). Fiquei tão tenso que a minha mão direita doía. Eu andava dentro do condomínio (onde mora, na Barra da Tijuca, zona oeste carioca), mas é diferente. Rodei 600 quilômetros só para matar a saudade do asfalto.

O senhor vê paralelo do processo de impeachment da presidente Dilma e do ex-presidente Fernando Collor de Melo, que acompanhou de perto?

A questão moral é a mesma. O que motivo o impeachment do presidente Collor foi uma acusação de corrupção. O que motiva o impeachment contra a presidente Dilma e o PT é o sentimento de corrupção. Contra o Collor havia uma mobilização da empresa paulista, que havia sofrido a queda do monopólio, a indústria automobilística, que teve que abrir para ter uma competição com carros mais modernos. Havia uma grande contrariedade da Fiesp, da Febraban. Havia o ódio petista das derrotas sofridas, o ressentimento da elite do PSDB de São Paulo, que havia perdido a eleição para o Collor. Era mais conduzido partidariamente e mais ligado ao movimento econômico. Hoje a diferença, apesar da corrupção, é que é uma coisa da classe média, A, B, C, que foi para a rua espontaneamente. O povo quer fora PT, fora Lula, fora Dilma, o fim da corrupção. O impeachment do Collor foi mais político, nasceu dentro do Congresso Nacional. O impeachment que movimenta a sociedade contra a Dilma é judicial. Não é um impeachment com motor político. O herói é o juiz Sérgio Moro, os promotores do Paraná.

Os defensores da presidente apontam golpe, no sentido de que a Constituição não está sendo respeitada. Como o senhor vê essa reação?

Eles querem fazer um paralelo com João Goulart (presidente deposto no golpe de 1964). Ali podemos dizer que foi um golpe, não uma revolução. Agora não há um movimento para derrubar o governo com uma ruptura constitucional. O impeachment é legal, é constitucional, tem o rito constitucional fiscalizado pelo Supremo Tribunal Federal. Não há golpe. Dilma não pode se comparar ao Jango. O impeachment da Dilma se compara ao do Collor.

Quando o senhor, que fazia parte da “tropa de choque” do Collor, percebeu que o impeachment seria aprovado na Câmara?

Eu sempre achei que o Collor não sairia do impeachment, ele era muito mal visto. Era uma espécie de Dilma de saco roxo, como ele costumava dizer. A Dilma é autoritária, arrogante, o Collor era assim no passado. Ninguém gosta dela. Quando a pessoa vê a oportunidade de dar um pontapé, vai dar.

Mas é preciso haver crime para haver impeachment. Há prova de crime?

Tem a pedalada fiscal, tem essa questão eleitoral, o esquema montado para financiamento da campanha. Aquele PC Farias era menino de procissão perto dessa turma do PT.

O senhor acredita que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula sabiam da forma como chegavam os recursos para as campanhas eleitorais?

À época do mensalão, eu não acreditava, eu achava que parava na Casa Civil. Eu tive a impressão de que o mentor intelectual do mal era o Zé Dirceu. Mas hoje, com as provas colhidas, com a abertura que a imprensa fez do material colhido, tenho absoluta certeza de que o Lula era senhor de tudo que havia no País.

Existem provas disso?

Essas delações premiadas, o (ex-deputado) Pedro Corrêa dizendo isso, o senador Delcídio Amaral (ex-líder do governo no Senado) dizendo isso. Não tenho mais dúvida de que o Lula estava a par de tudo. Não aconteceu sem que o Lula soubesse. O Lula realmente sabia de toda essa corrupção e ele institucionalizou essa corrupção a partir dessa chefia do governo.

Essa tese vale para o mensalão e para o petrolão?

Posso falar agora que vale para  o mensalão. Naquela época eu não poderia falar. Vi outro dia o Pedro Corrêa dizendo que o financiamento do mensalão vinha do petróleo, uma das fontes do mensalão era o petróleo. Era muito dinheiro para ser apenas o Marcos Valério através de uma conta de publicidade.

Quando o senhor deixou a prisão, em maio do ano passado, o senhor fez um gesto indicando que estava entalado com o petrolão, mas estava impedido de falar pelo STF. O que isso significa? O senhor conhecia a conexão entre o petrolão e o mensalão?

Não conhecia, não. Não imaginei que chegasse tão longe o processo de corrupção instituído pelo PT. Foi inusitado para mim.

O senhor tinha conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás?

Eu não soube dessas coisas da Petrobrás naquela época. O que eu sei é que a Petrobrás sempre foi a empresa elite dos partidos mais poderosos. As estatais no Brasil são o braço financeiro das corporações sindicais e dos partidos. Quem financia partido político são as estatais. Vamos ter que repensar isso. Se queremos país moderno, vamos ter que fazer privatização, porque não vai permitir a concentração da corrupção. Um assalto de US$ 1 bilhão como o (da refinaria) de Pasadena você não ia escutar em lugar nenhum. Só na concentração de poderes que a Petrobrás tem. O Brasil vai ter que enfrentar a privatização. A estatal é a semente da corrupção no Brasil. Os partidos políticos disputam os cargos nas estatais para seu financiamento. No fragor dessas denúncias está Dona Dilma, pegando de volta as estatais do PMDB para distribuir no varejo para os deputados. Isso é corrupção. O que vão assaltar nos seis meses enquanto durar o processo de impeachment dela é uma loucura. Vai todo mundo querer fazer caixa, porque ela cai em seis meses. “Cobra 100% de comissão aí!” Tem que ser rapidinho, vai ser igual dinamite em caixa de banco.

O PTB pleiteou alguma diretoria ou gerência importante na Petrobrás?

Nunca, nós éramos muito pequenos. O PTB teve a presidência da Eletronorte, a diretoria do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e aquela diretoria dos Correios.

E Furnas?

Uma diretoria nos foi oferecida pelo presidente Lula, para compensar a não transferência dos recursos nas eleições em que PT fechou acordo com PTB. O PTB fechou uma grande aliança com o PT nas capitais, a Marta (Suplicy) foi eleita com apoio do PTB em São Paulo. Eles ofereceram R$ 20 milhões para financiamento do PTB e deram R$ 4 milhões. Foram os R$ 4 milhões que o Marcos Valério levou. Como eles não cumpriram os R$ 16 milhões e no PTB ficamos com uma grave dívida e uma crise interna, o presidente Lula tentou montar para o PTB um caminho de financiamento para suprir esse gasto, a diretoria de Furnas (de Engenharia), onde estava o Dimas Toledo. Mas não se concretizou.

O que aconteceu? Havia um esquema anterior?

Havia. Eu soube disso quando indicamos doutor Francisco Spirandel para ocupar o lugar do Dimas. Recebi contato do Zé Dirceu para que eu fosse conversar com ele na Casa Civil. Ele disse “em vez de trocar o Dimas, por que a gente não faz um acordo, você mantém o Dimas e ele passa a ajudar o PTB?” Eu disse “da minha parte, sem problema”. Dimas foi à minha casa conversar, foi quando conheci o Dimas. Dimas disse “minha diretoria rende de apoio R$ 3 milhões por mês, mas eu tenho comprometidos R$ 1 milhão com o PT de Minas, R$ 1 milhão com o PT Nacional, dou R$ 600 mil a 12 deputados do PSDB, R$ 50 mil a cada um, eles apoiam de vez em quando o governo federal. E R$ 400 mil para a diretoria.

E qual era a origem desse dinheiro?

Os contratos que ele gerenciava lá na Engenharia. Comissão da Engenharia. Então combinamos: a gente mantém o apoio ao PT de Minas, aos 12 deputados que ajudam nas votações mais  importantes do governo do Lula e passa a dar R$ 1 milhão para financiar o PTB Nacional. Eu falei “da minha parte, perfeito”. Estava fechado e marcamos encontro com o presidente Lula para comunicar que não precisava trocar o Dimas, que tinha esse acordo. Eu, Zé Dirceu, Walfrido dos Mares Guia, que era ministro do PTB, e o presidente Lula. Lula perguntou “quando esse cara de vocês, Spirandel, assume?” Eu disse que havia o acordo de convivência do PTB com o PT. (Lula disse) “Quero ouvir de você”. E eu contei o que acabei de dizer para você. Lula disse “não estou de acordo, porque esse Dimas é o cara do Aécio, só faz propaganda para o governo de Minas, do Aécio, se vocês não trocarem eu vou trocar”. Eu disse “então bota o Spirandel”. Quando acabou a reunião, Zé Dirceu me interpela “você quis o boi com chifre e tudo, se você bate o pé, ele mantém o Dimas’. Eu disse “Zé, por que você não interveio?” Desci com Walfrido para a garagem, ele segurou meu braço e disse “você foi para o céu”. Eu disse “acho que eu fui para o inferno, a reação do Zé Dirceu foi muito ruim”. Uma semana depois veio a matéria da Veja (que exibiu gravação de um funcionário dos Correios cobrando propina e dizendo que falava em nome de Jefferson), que se assemelha à verdade, mas não é a verdade. Zé Dirceu montou com a Veja aquela matéria.

E o movimento seguinte foi o senhor revelar o esquema do mensalão?

Tentaram segurar, disseram para eu deixar a presidência do PTB, iriam nomear um deputado ferrabrás, mas que faria um relatório final não me indiciando. Eu disse “não conta comigo não, entrei pela porta da frente e é de onde vou sair, mas prepara porque vai ter tiro daqui, vou pegar vocês, o que eu tenho vou botar para fora”. Deu no que deu. Ali foi a origem de tudo, a origem desse momento que o Brasil vive hoje. Eu te confesso que até aquele momento eu achava que o PT, que o Lula, tinham ética. Um partido igrejeiro, quase de batina, de barba preta e sotaina, nascido do útero da Igreja.

Quem eram os 12 deputados do PSDB que recebiam propina de Furnas?

Não sei, não perguntei. Devem ter ajustado um grupo de 12 deputados federais que, naquelas votações mais importantes, votava com o governo.

O senhor foi indiciado pela Polícia Civil do Rio por corrupção e lavagem de dinheiro relacionado a Furnas. Como vai responder?

Pedi ao Ministério Público para me ouvir. Uma delegada pediu meu indiciamento indireto sem me ouvir. Não me furto a nada. Ela disse que eu confessei. Nós não recebemos. Eu pensei que a lei punisse só fato consumado. Nunca vi a lei punir intenção. O PTB nunca recebeu nenhum recurso de Furnas, do Dimas Toledo, ele não chegou a operar para ajudar do PTB. Vou esclarecer. Faz parte da vida. Eu tive que me eviscerar para dar essa partida, para tirar a máscara da face do PT, botar o rei nu. E a evisceração provoca esse tipo de julgamento açodado. “Esse cara é Judas, vamos malhar”. Eu tenho que compreender.

Como petrolão e mensalão se conectavam?

Hoje eu leio o petrolão como fonte de financiamento do mensalão. Um dos graves problemas do PT foi o financiamento dos partidos políticos. Hoje pode fazer PMB, PSD, P não sei o quê...tem 40 partidos. Quando o PT encontra resistência em uma direção partidária, dissolve aquele partido, pega um grupo, faz outro partido. Quem se manteve firme e não se fragmentou foi o PMDB. Quando o PMDB viu que o PT estava tentando esfacelar o partido, criando esse PSD com o ex-prefeito de São Paulo (Gilberto Kassab) começou ali a reação. Eduardo Cunha vem reagindo a partir dali. Essa janela que abriram agora (que permitiu troca de partido) é mensalão de novo. Os caras que se aproximavam para conversar pediam luvas de R$ 1 milhão, R$ 600 mil e mensalão de R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 50 mil por mês. É a mesma coisa do mensalão. Aconteceu tem dez dias. O PTB foi assediado.

Por quem?

Teve gente que me procurou (para ir para o PTB). “Preciso de R$ 1 milhão”. Eu disse “aqui no PTB não se paga mensalão para ninguém”. Eram deputados de outra legenda que vinham com essa conversa para passar para o PTB. Perdemos alguns deputados e sei que cantaram na orelha deles essa conversa. Quem patrocina? O PT, o governo. Não vou citar ninguém. Está na raiz do PT a corrupção. Pelo que vejo, (o dinheiro que abastecia o mensalão) vinha de vários lugares. As estatais estão sempre na corrupção e as para estatais, que são as empreiteiras. Não tenho pena da Odebrecht, tinha que fechar.  Dá chance às pequenas que estão começando no Brasil. Não pode importar uma empresa de fora. Que conversa é essa de ‘o petróleo é nosso, a ponte é nossa’. Quem vier para cá vai ter que contratar a mão de obra aqui.

Por que o PTB não tinha espaço na Petrobrás?

Tinha um senador do PTB, não em acordo de partido, que mandava na BR, nessas cooptações que o PT fez no Senado, no varejo. Mas o PTB nunca esteve em direção de qualquer empresa desse porte. Não sou santo nem quero fingir que sou. Mas eu sempre tive limites, nunca passei da linha amarela. Quando sentava um empreiteiro na minha frente, levado, vamos dizer, pelo presidente da Eletronorte. Eu dizia “leve em consideração três coisas para ajudar o PTB: primeiro, o interesse da empresa estatal; segundo, o interesse da sua empresa; terceiro o que você puder dar”. Sempre a conversa foi confortável. “Naquela época tinha caixa 2. Hoje não existe mais. Ele perguntava “como o senhor quer receber?” Eu dizia “como você quiser dar ao PTB, por dentro, por fora”. As coisas eram tratadas dessa maneira.

Por que o senador e ex-presidente Fernando Collor deixou o PTB?

Porque não está conformado, porque a direção nacional do partido se posiciona pelo impeachment. Ele pediu um pouco de moderação, achava que a Cristiane(Brasil, filha de Jefferson, deputada federal e presidente nacional do PTB) estava sendo muito dura com a presidente Dilma, com o presidente Lula. Eu falei: “ela não vai mudar o discurso e eu não vou pedir a ela para mudar”. Essa foi a principal razão. Eu aproveitei e cobrei que ele organizasse o PTB em Alagoas. Só ele tem se elegido. Tem que fazer vereador, prefeito. Fomos cordiais um com o outro. Realmente a Cristiane tem que moderar um pouquinho.

Acredita que haverá condenações e prisões no petrolão como houve no mensalão?

Penso que o Lula não vai escapar. O mensalão parou na antessala dele, na Casa Civil. Mas o petrolão entrou dentro do Palácio (do Planalto). Ou esse (Marcelo)Odebrecht fala ou vai levar 30 anos na cadeia. Marcos Valério levou uma martelada de 40 anos. O processo do petrolão é diferente do mensalão. O mensalão surgiu do embate político, de uma denúncia que eu fiz. No petrolão não tem nem voz da oposição. A oposição está em silêncio porque muito dos seus estão comprometidos, tem muita gente da oposição enroscada nas empreiteiras.

Já houve um comentário de que o senador Delcídio Amaral seria um novo Roberto Jefferson, por causa da delação premiada que ele fez. O que o senhor acha?

Vejo com bons olhos, apesar de eu não ter feito delação premiada. Nem pleiteei isso. Arquei com as consequências das minhas atitudes. Eu fiz uma luta política. O juiz perguntou se eu queria fazer e eu disse que delação premiada é conversa de canalha. Hoje tenho até outra visão disso. Penso que Delcídio fez uma bela contribuição. O gesto dele de tentativa de obstrução à Justiça foi menos grave que o ministro (Aloizo) Mercadante. Mas houve dois pesos e duas medidas. Delcídio foi preso, e Mercadante sequer foi incomodado.

Por que o senhor mudou de opinião em relação às delações?

A Lava Jato não teria avançado (se não fossem as delações). Eu fui condenado até mais que o Genoino (José Genoino, ex-presidente do PT), que assinava as promissórias do PT e dizia que assinou sem ver. Isso é conversa de petista. “O sítio é do meu amigo, o apartamento é do meu amigo, o barquinho é do meu amigo." Isso é conversa de petista. O que eu fiz eu assumi. Mas não me abati, nunca reclamei, respeitei a decisão, cumpri a decisão. Se tivesse que fazer, fazia tudo de novo. É o preço que eu tive que pagar pelas atitudes que cometi. Hoje eu não repetiria essas atitudes.

O que o senhor não repetiria?

Não faria parceria com o PT. O PT não dá, quer se aboletar no poder, quer transformar o País em uma ditadura comunista, socialista. Isso eu repilo, tenho pavor, acho um atraso.

O senhor vai voltar para a política?

Para a política eleitoral, talvez não. Lá em casa já tem deputada federal. Prefiro presidir o partido. Depois do indulto, está uma pressão para que eu reassuma. Minha filha quer me reconduzir à presidência do PTB. Preciso chegar agora, tanto para ajustar minha biografia, como para participar desse movimento que é um ponto final da corrupção institucionalizada.

Como o senhor vai orientar o PTB? O partido está dividido em relação ao impeachment?

Você vai ter uma surpresa. Divisão é meio a meio. São 19 deputados, eu penso que no máximo o PTB dará dois votos a Dilma.

E o relator do processo, deputado Jovair Arantes, que é do PTB?

O relator vai acompanhar o sentimento da maioria da comissão (do impeachment). Penso que o Jovair não fará um relatório ofensivo à presidente. Ele vai se basear tecnicamente. Não é o que ele está me dizendo, é minha maneira de ver. Jovair é hábil e equilibrado. Relator tem que ouvir todos, tirar a média ponderada. Se ele se expressar pelo impeachment, não será com uma linguagem panfletária, ofendendo a presidente, a memória, o currículo da presidente.  As pessoas vão se surpreender com o relatório do Jovair.

Na Comissão do Impeachment, como está o peso de deputados a favor e contra?

Acho que dá dois terços a favor do impeachment. No plenário, penso que Dilma não chegará a 150 votos.

Se houver impeachment, qual será a posição do PTB em um possível governo de Michel Temer?

Michel não pode errar, tem que ter um ministério acima do bem e do mal, de gente capaz, qualificada. Não pode ter suspeita. Vai ter que ser um governo tipo Itamar Franco. Temer tem que fugir dos que vão com goela aberta. Minha sugestão para preenchimento de vagas em estatal é chamar uma comissão do Ministério Público. Senado não adianta, porque é o senador que indica.

O PTB vai fazer parte do governo?

O PTB não é de gente oferecida. Queremos uma pauta moderna, de privatização. Acho que Temer tem que ser estadista, tem que levar esse governo com cautela, apresentar emenda do fim da reeleição com mandato de cinco anos.

O deputado Eduardo Cunha tem legitimidade para presidir a Câmara no momento em que está em curso o processo de impeachment?

Tem legitimidade, sim. Ele responde a vários inquéritos, tem que ter cuidado. Minha preocupação é que a prisão humilha muito as pessoas. Para ele a situação vai complicar. Vai levantar de manhã cedo... chinelo de dedo, bermuda azul, camiseta branca. Está lá no coletivo dos presos, aquele cheiro de gente doente, com tuberculose, com Aids. Banheiro com cheiro terrível, banho frio. De manhã cedo, todo mundo em fila. “Senhor Roberto Jefferson!” “Presente, senhor.” Cabeça baixa, mão para trás. De noite, o “confere”, aquela averiguação que se faz. É duro. Dinheiro contadinho, R$ 100 por semana para comprar na cantina. E quem tem R$ 100 tem que comprar para todo mundo. Se furar a bola, tem que dar uma bola nova. Tem que aturar isso. Limpar privada, varrer o chão. O que me preocupa são as filhas e a esposa, mulheres bonitas, cheirosas, entram lá naquele meio, vão ser assediadas. Vão acordar (na prisão) com aquelas mulheres deitadas na cama, vão apanhar na cara, vão denunciar, vão apanhar de novo. O cara vai ter que aturar isso. O ambiente prisional é muito duro, muito triste, muito pesado. O cara não pode expor a esposa, a filha. Não ataca a Justiça, não ataca o Ministério Público, o Judiciário. Respeita. O cara tem 20 contas no exterior, nunca declarou. Gastos milionários em cartão de crédito. Traz para si, tira a esposa e a filha. Ele não pode permitir a filha e a esposa passarem por isso. É a preocupação que eu tenho. As coisas são muito evidentes.

É possível Cunha responder aos inquéritos e continuar no comando da Câmara?

É ele que tem que conduzir (o processo do impeachment). Ele está lá (na presidência da Câmara). Ele foi o adversário mais à altura do Lula. Lula nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele. O bandido pelo qual eu mais torço é o Eduardo Cunha. Vai puxar a barba do Rasputin. Gelado, frio, equilibrado. O Lula , o PT e esse fórum de São Paulo(conferência de partidos de esquerda latino americanos) são bandidos da laia do Eduardo Cunha, topam tudo. Como Deus faz as coisas. Botou um cara ali que qualquer jogo ele joga, qualquer parada ele topa e sabe onde aperta o calo do outro bandido. Pega o outro bandido na esquina. Dudu é o bandido que eu mais gosto, o vilão que eu torço por ele, o vilão da minha novela. E estou doido para ele puxar a barba do Rasputin.

O senhor viu as mudanças que aconteceram no Conselho de Ética e atrasaram o processo contra o presidente da Câmara?

Tenho horror ao Conselho de Ética. Conselho de Ética e CPI são coletivos de donzelas furadas. Sabe o que é? Uma vez fui ao mercado de Salvador e o menino dizia “donzela furada, três por cinco reais”. É uma rosquinha de polvilho, que aqui a gente trata de mentirinha. Aquela comissão de ética e as CPIs são impregnadas de donzelas furadas, tudo mentirinha. Todo mundo rabudo querendo pisar no rabo do outro para se lavar. Tenho aversão.



Roberto Jefferson fala sobre Mensalão, Lava-Jato, Lula e Cunha (Entrevista Completa 01/04/16)



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Roda Viva | Marco Aurélio Mello | 04/04/2016


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