quarta-feira, 24 de maio de 2017

O HOMEM...

... Vida, História e Arte

A MULHER...

... Arte, História e Vida






THE MAN JAMES EARL JONES 1972


IRVING WALLACE


... a si própria porquê e, instantaneamente, a memória levou-a até à fonte das suas preocupações.


 Em relação ao passado — a sua memória, um eficiente arquivo, recuou no tempo — ...


 “A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, .... Já tinha lido O Homem sem saber que Irving Wallace era Irving ...


Já tinha lido O Homem sem saber que Irving Wallace era Irving Wallace e soube desde então que precisaria ler outro. O Milagre recomendo com 5 estrelas e mais uma para o preço que se pode encontrar o livro em um sebo. Cassiano Couto


Escritor norte-americano, Irving Wallace nasceu a 29 de Junho de 1916 na cidade de Chicago. Filho de emigrantes russos, o seu pai trabalhava como empregado de loja. Cresceu e estudou em Kenosha, no estado do Wisconsin e, com apenas quinze anos de idade, deu início a uma carreira como jornalista, publicando regularmente artigos em publicações periódicas. Terminados os seus estudos secundários, deu ingresso no Instituto Williams, onde estudou Escrita de Criação, prosseguindo depois no Los Angeles City College . Passou depois a trabalhar como jornalista independente, chegando a ser correspondente.
Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, serviu na Força Aérea como escritor para a imprensa e cinema militares, escrevendo em simultâneo artigos de propaganda para revistas como a American Legion Magazine e a Liberty . Após a guerra passou a escrever para publicações de gabarito, como o The Saturday Evening Post , a Cosmopolitan e a Esquire and Collier's .
A partir de 1948 passou a trabalhar como argumentista para a indústria cinematográfica de Hollywood, escrevendo, em co-autoria com Horace McCoy, títulos como The West Point Story (1950), Bad To Each Other (1953) e Jump Into The Hell (1955).
Em 1959 publicou o seu primeiro romance, The Sins Of Philip Fleming, obra que passou despercebida pela crítica. Seguiu-se The Chapman Report (1960, O Relatório Chapman ), romance que contava a história de um psiquiatra que decide levar a cabo um estudo sobre o comportamento sexual feminino, descobrindo que, afinal há subtilezas que não podem ser abrangidas.
Seguiu-se então um período em que Wallace se dedicou à produção de romances de agrado popular, procurando ingredientes que pudessem cativar o público, como o sexo, a alta finança e o antagonismo dirigido à União Soviética, bastante frequente nessa época em que a Guerra Fria mantinha o seu auge. Assim, em 1962 publicou The Prize (O Prémio ), em que contava a história de um grupo de sábios galardoados com o Prémio Nobel, e que são procurados por comunistas da então República Democrática Alemã. A obra foi adaptada para o cinema logo no ano seguinte, contando com a participação de nomes como Paul Newman e Elke Sommers no elenco.
Grande parte da sua obra foi convertida para a Sétima Arte, com destaque particular para o filme realizado em 1971 por Russ Meyer a partir do romance The Seven Minutes (1969, Os Sete Minutos ) e The Man (1964), realizado em 1972 por Joseph Sargent.
A publicação deste último romance em 1964, que imaginava o que aconteceria se um negro fosse eleito presidente dos Estados Unidos da América, valeu a Wallace o Supremo Prémio de Mérito do Instituto Memorial George Washington Carver, juntamente com uma tença oferecida pela mesma fundação. Entre muitos outros galardões atribuídos ao seu trabalho, salientam-se uma medalha de prata pelo Commonwealth Club em 1965 e a Rosa D'Oro de Veneza em 1975.
No ano de 1972 passou a desempenhar as funções de repórter na agência noticiosa dos periódicos Chicago News e Sun Times, tendo como missão a cobertura das convenções dos partidos Democrático e Republicano. Também nesse ano publicou The Word (1972, A Palavra ), romance em que contava a história da descoberta de um evangelho alegadamente escrito pelo irmão de Jesus Cristo. Em 1979 publicou The Pigeon Project (Projecto Pombo-Correio), obra em que procedia a uma reflexão sobre o sonho da invenção do elixir da juventude e, em 1984 seria a vez de The Miracle (O Milagre), romance que girava em torno da aparição de Lurdes em 1958.
Irving Wallace faleceu a 29 de Junho de 1990 em Los Angeles, vítima de um cancro no pâncreas.

BIBLIOGRAFIA

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ordenação
DATA EDIÇÃO
RANKING



O Maior Espectáculo do Mundo
Livros do Brasil
Edição: 09-2005


O Relatório Chapman
Livros do Brasil
Edição: 04-2003


O Homem
Livros do Brasil
Edição: 04-2003


O Prémio
Livros do Brasil
Edição: 04-2001


As Três Sereias
Livros do Brasil
Edição: 04-2000



Pecados Conjugais
Livros do Brasil
Edição: 04-1996


A Convidada de Honra
Livros do Brasil
Edição: 04-1993


O Salão Dourado
Livros do Brasil
Edição: 04-1993


A Conspiração
Livros do Brasil
Edição: 05-1992


A Vigésima Sétima Mulher
Livros do Brasil
Edição: 04-1991


Os Sete Minutos
Livros do Brasil
Edição: 04-1988


O Leito Celestial
Livros do Brasil
Edição: 04-1987


O Sétimo Segredo
Livros do Brasil
Edição: 04-1986



O Milagre
Livros do Brasil
Edição: 04-1984


A Segunda Dama
Livros do Brasil
Edição: 04-1983


O Todo - Poderoso
Livros do Brasil
Edição: 04-1983


A Palavra
Europa-América
Edição: 04-1981


Projecto Pombo - Correio
Publicações Europa-América
Edição: 04-1980


A MULHER...

...Arte, História e Vida





CLARICE LISPECTOR




O Triunfo, 2007, 10 min.


Curta inspirado no 1º conto de Clarice Lispector. Luísa desperta sozinha onde morava com o amante. Ambiente de um silêncio de morte, no qual ela passa a ver e ouvir, o que já existia, de um modo que não se dava antes.

Ficha Técnica:

Roteiro e direção: Geórgia Alves
Produção: Sérgio Montenegro Filho
Fotografia: Marcelo Lordello
Montagem: Marcelo Pedroso
Still: Larissa Alves
Atores e Bailarinos: Ana Paula Ferrari (Luísa) e Davison Carvalho (Jorge)
Criança: Enrico Mello
Participação Especial: Raimundo Carrero
Apoio: Símio Produções e Trincheira Filmes
Agradecimento Especial a Paulo Gurgel Valente

Músicas:

Piano Concierto A Minor - Schuman
God Bless the Child - Billie Holiday
Sinfonia N.3 "Heroica" - Ludwig Van Beethoven

Histórico: 1º Lugar Concurso ParaAmarClarice (1o.Lugar), Menção Honrosa no CinePe 2008 (Prêmio SINDICINE - Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Além de 3o. Festival de Vídeo do Recife (2007) e Participação no Festival do Caribe, Mostra Pernambuco em Cuba (2010). Para que endereço devo encaminhar o filme. Tenho cópia em DVD e miniDV. Outras informações e fotos de divulgação no endereço: http://otriunfofilme.blogspot.com/
Categoria
Filmes e desenhos
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Música
"Eroica. Symphony No. 3 in E flat major op. 55 - Allegro con brio (Beethoven)" por Symphonisches Orchester Berlin, Carl-August Bünte ( • )


A Paixão segundo G.H.

Clarice Lispector
Editora Rocco

Digitalizado por Michele


A POSSÍVEIS LEITORES

 Este livro é como um livro qualquer.
Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada.
Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém.
A mim, por exemplo, o personagem G. H. foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria.
 C.L.


Considerado por muitos o grande livro de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H. tem um enredo banal. Depois de despedir a empregada, uma mulher vai fazer uma faxina no quarto de serviço. Mal começa a limpeza, depara com uma barata. Tomada pelo nojo, ela esmaga o inseto contra a porta de um armário. Depois, numa espécie bárbara de ascese, decide provar da barata morta.
Ao esmagar a barata, e depois degustar seu interior branco, operou-se em G.H. uma revelação. O inseto a apanhou em meio a sua rotina “civilizada”, entre os filhos, afazeres domésticos e contas a pagar, e a lançou para fora do humano, deixando-a na borda do coração selvagem da vida. Esse desejo de encontrar o que resta do homem quando a linguagem se esgota move, desde o início, a literatura de Clarice.
Mesmo sem ser um livro de inspiração religiosa, G.H. tem, ainda, um aspecto epifânico. Ao degustar a pasta branca que escorre da barata morta, a protagonista comunga com o real e ali o divino - a força impessoal que nos move - se manifesta. E só depois desse ato, que desarruma toda a visão civilizada, G.H. pode enfim se reconstruir.
O escritor argentino Ricardo Piglia disse certa vez que toda a literatura pode ser reduzida a dois gêneros fundamentais: as narrativas de amor e as narrativas de mistério. Em G.H., essas duas claves básicas da ficção se entrelaçam. Pois é justamente a mistura letal de amor e mistério que chamamos de paixão.
JOSÉ CASTELLO
Jornalista, escritor e Mestre em Comunicação pela UFRJ.









Panorama com Clarice Lispector


Além da entrevista da escritora para Júlio Lerner, pouco antes de morrer, o especial traz ainda depoimentos de admiradores de Clarice.
Categoria
Entretenimento
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POR CARLOS WILLIAN LEITE
EM ENTREVISTAS


A ÚLTIMA ENTREVISTA DE CLARICE LISPECTOR


Uma rara entrevista de Clarice Lispector, concedida em 1977, ao repórter Júlio Lerner, da TV Cultura. Depois de gravada, Clarice pediu que a entrevista só fosse divulgada após sua morte. Foi ao ar dez meses depois. Clarice morreu em dezembro de 1977, aos 57 anos
De minha sala até o saguão dos estúdios tenho que percorrer cerca de 150 metros. Estou tão aturdido com a possibilidade de entrevistá-la que mal consigo me organizar naquela curta caminhada. Talvez falar sobre “A Paixão Segundo G.H”… Ou quem sabe sobre “A Maçã no Escuro” e “Perto do Coração Selvagem”… Vou recordando o que Clarice escreveu. Será que li tudo? Em apenas cinco minutos consegui um estúdio para entrevistá-la.
São quatro e quinze da tarde e disponho de apenas meia hora. Às cinco entra ao vivo o programa infantil e quinze minutos antes terei de desocupar o estúdio. Estou correndo e antes mesmo de vê-la a pressão do tempo começa a me massacrar. Não terei condições de preparar nada antes, nem mesmo conversar um pouco. Não poderei sequer tentar criar um clima adequado para a entrevista. Eu odeio a TV brasileira! Só meia hora para ouvir Clarice. O pessoal da técnica foi novamente generoso e se empenhou para conseguir essa brecha. Olho o relógio, não consigo me organizar, estou correndo, olho novamente o relógio. Estou desconcertado, atinjo o saguão dos estúdios e a vejo ali, dez metros adiante, Clarice de pé ao lado de uma amiga, perdida no meio do vaivém dos cenários desmontados, de diversos equipamentos e de técnicos que falam alto, no meio de um grande alvoroço.
Paro diante dela, estou um pouco ofegante, estendo-lhe a mão e sou atravessado pelo olhar mais desprotegido que um ser humano pode lançar a semelhante. Ela é frágil, ela é tímida, e eu não tenho condições para explicar que o problema do tempo elevou meus níveis de ansiedade. Clarice me apresenta Olga Borelli, entramos e a conduzo ao centro do pequeno estúdio. Peço para que ela sente numa poltrona de couro de tonalidade café-com-leite. Clarice segura apenas um maço de Hollywood e uma caixa de fósforos, providencio um cinzeiro, os refletores malditos são ligados. Clarice me olha. O olhar de Clarice me interroga, só disponho de uma única câmera, o olhar de Clarice suplica, Olga se ajeita numa lateral escurecida, chega Miriam, a estagiária do programa e fica encolhida e calada, o calor está ficando insuportável e o ar-condicionado não está ajustado, são apenas quatro e vinte, Clarice tenta me dizer alguma coisa mas não falo com ela, preocupado em ajustar uma questão de iluminação, o hálito da fornalha já nos atinge a todos, devemos ter agora no estúdio uns 50 ou 60 graus, maldita TV, bendita TV do terceiro mundo que me possibilita estar agora frente a frente com ela, Clarice me olha melindrosa, assustada e seu olhar me pede para que a tranquilize.
“OK, Júlio, tudo pronto”, a voz metálica vem da caixa dos alto-falantes. Peço a toda equipe para sair, cabo man, iluminador, assistente de estúdio, agradeço. Clarice percebe que caiu numa arapuca e já não há como voltar atrás. Peço silêncio e depois de uns dez segundos ecoa um “gravando”.
Não conversamos antes e disponho apenas de 23 minutos. Estou completamente desconcertado, fico um minuto em silêncio fitando Clarice. Estou oco, vazio, não sei o que dizer. Clarice me olha curiosa, mas vigilante, defendida. Sou o senhor do castelo e — prepotente — guardo comigo a chave desta prisão. Ninguém pode entrar ou sair sem meu expresso consentimento. Todos devem se submeter à minha autoritária vontade.
A fornalha arde, meu coração dispara, minha boca está seca e debaixo destes tirânicos mil sóis sou o maior dos tiranos. Começa a entrevista. A entrevista avança. Seus olhos azuis-oceânicos revelam solidão e tristeza. Clarice está nua, não há perdão, Clarice agora está encapotada, ela se deixa agarrar, mas logo escapa, e volta, e me pega, e me sugere o longe, o não dizível, depois se cala. E quando nada mais espero, ela volta a falar. Faço uma antientrevista, pausas, silêncios, Clarice agora está fugindo para uma galáxia inabitada e inatingível, mas volta em seguida e, tolerante, suporta toda a minha limitação.
Acho que ela vai se levantar a qualquer instante e me dizer: “Chega!”. Clarice pressente que por trás de meu sorriso aparentemente compreensivo e de minha fala suave esconde-se um ser diabólico autodenominado “repórter” e que quer possuir sua intimidade. Seu corpo exprime receios, ela me afasta, mas de novo me atrai, suas pernas se cruzam e se descruzam sem parar e telegrafam que de repente ela poderá se levantar e partir.

Clarice Lispector, de onde veio esse Lispector?
É um nome latino, não é? Eu perguntei a meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando outra coisa que parece “Lis” e “peito”, em latim. É um nome que quando escrevi meu primeiro livro, Sérgio Milliet (eu era completamente desconhecida, é claro) diz assim: “Essa escritora de nome desagradável, certamente um pseudônimo…”. Não era, era meu nome mesmo.
Você chegou a conhecer o Sérgio Milliet pessoalmente?
Nunca. Porque eu publiquei o meu livro e fui embora do Brasil, porque eu me casei com um diplomata brasileiro, de modo que não conheci as pessoas que escreveram sobre mim.
Clarice, seu pai fazia o que profissionalmente?
Representações de firmas, coisas assim. Quando ele, na verdade, dava era para coisas do espírito.
Há alguém na família Lispector que chegou a escrever alguma coisa?
Eu soube ultimamente, para minha enorme surpresa, que minha mãe escrevia. Não publicava, mas escrevia. Eu tenho uma irmã, Elisa Lispector, que escreve romances. E tenho outra irmã, chamada Tânia Kaufman, que escreve livros técnicos.
Você chegou a ler as coisas que sua mãe escreveu?
Não, eu soube há poucos meses. Soube através de uma tia: “Sabe que sua mãe fazia um diário e escrevia poesias?” Eu fiquei boba…
Nas raras entrevistas que você tem concedido surge, quase que necessariamente, a pergunta de como você começou a escrever e quando?
Antes de sete anos eu já fabulava, já inventava histórias, por exemplo, inventei uma história que não acabava nunca. Quando comecei a ler comecei a escrever também. Pequenas histórias.
Quando a jovem, praticamente adolescente Clarice Lispector, descobre que realmente é a literatura aquele campo de criação humana que mais a atrai, a jovem Clarice tem algum objetivo específico ou apenas escrever, sem determinar um tipo de público?
Apenas escrever.
Você poderia nos dar uma ideia do que era a produção da adolescente Clarice Lispector?
Caótica. Intensa. Inteiramente fora da realidade da vida.
Desse período você se lembra do nome de alguma produção?
Bem, escrevi várias coisas antes de publicar meu primeiro livro. Eu escrevia para revistas — contos, jornais. Eu ia com uma timidez enorme, mas uma timidez ousada. Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo. Chegava lá nas revistas e dizia: “Eu tenho um conto, você não quer publicar?” Aí me lembro que uma vez foi o Raimundo Magalhães Jr. que olhou, leu um pedaço, olhou para mim e disse: “Você copiou isso de quem?” Eu disse: “De ninguém, é meu”. Ele disse: Você traduziu?” Eu disse: “Não”. Ele disse: “Então eu vou publicar”. Era sim, era meu trabalho.
Você publicava onde?
Ah, não me lembro… Jornais, revistas.
Clarice, a partir de qual momento você efetivamente decidiu assumir a carreira de escritora?
Eu nunca assumi.
Por quê?
Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro, em relação ao outro. Agora eu faço questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade.
A sua produção ocorre com frequência ou você tem períodos?
Tenho períodos de produzir intensamente e tenho períodos-hiatos em que a vida fica intolerável.
E esses hiatos são longos?
Depende. Podem ser longos e eu vegeto nesse período ou então, para me salvar, me lanço logo noutra coisa, por exemplo, eu acabei uma novela, estou meio oca, então estou fazendo histórias para crianças.
Como você explica a Clarice Lispector voltada para a literatura infantil?
Começou com meu filho quando ele tinha seis anos, seis ou cinco anos, me ordenando que escrevesse uma história para ele. E eu escrevi. Depois guardei e nunca mais liguei. Até que me pediram um livro infantil. Eu disse que não tinha. Eu tinha inteiramente esquecido daquilo. Era tão pouco literatura para mim, eu não queria usar isso para publicar. Era para o meu filho. Aí lembrei: “Bom, tenho, sim”. Então foi publicado. Foram publicados três livros de literatura infantil e estou fazendo o quarto agora.
É mais difícil você se comunicar com o adulto ou com a criança?
Quando me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com o adulto, na verdade, estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma.
O adulto é sempre solitário?
O adulto é triste e solitário.
E a criança?
A criança tem a fantasia solta.
A partir de que momento, de acordo com a escritora, o ser humano vai se transformando em triste e solitário?
Ah, isso é segredo. Desculpe, não vou responder. A qualquer momento da vida, basta um choque um pouco inesperado e isso acontece. Mas eu não sou solitária. Tenho muitos amigos. E só estou triste hoje porque estou cansada. No geral sou alegre.
Normalmente o contato do jovem estudante com você revela que tipo de preocupação?
Revela coisas surpreendentes, que eles estão na minha.
O que significa “estar na sua”?
É que eu penso às vezes que eu estou isolada e quando eu vejo estou tendo universitários, gente muito jovem, que está completamente ao meu lado e é gratificante, não é?
Nós ouvimos com frequência que as novas gerações pouco leem no Brasil. Você confirma isso?
Bem, os universitários são obrigados a ler porque impõem a eles a obra. Agora não estou a par dos outros.
De seus trabalhos qual aquele que você acredita que mais atinja o público jovem?
Depende. Por exemplo, o meu livro “A Paixão Segundo G.H”, um professor de português do Pedro II veio até minha casa e disse que leu quatro vezes e ainda não sabe do que se trata. No dia seguinte uma jovem de 17 anos, universitária, disse que este é o livro de cabeceira dela. Quer dizer, não dá para entender.
E isso acontece em relação a outros trabalhos seus?
Também em relação ao outros trabalhos, ou toca ou não toca. Suponho que não entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Tanto que o professor de português e literatura, que deveria ser o mais apto a me entender, não me entendia. E a moça de 17 anos lia e relia o livro, não é? O que é um alívio.
Antes de nos encontrarmos aqui no estúdio você me dizia que está começando um novo trabalho agora, uma novela…
Não, eu acabei a novela.
Que novela é essa, Clarice?
É a história de uma moça que só comia cachorro-quente. A história é de uma inocência pisada, de uma miséria anônima…
O cenário dessa novela é…
É o Rio de Janeiro… Mas o personagem é nordestino, é de Alagoas…
Onde você foi buscar a inspiração, dentro de si mesma?
Eu morei no Recife, me criei no Nordeste. E depois, no Rio de Janeiro tem uma feira de nordestinos no Campo de São Cristóvão e uma vez eu fui lá. E peguei o ar meio perdido do nordestino no Rio de Janeiro. Daí começou a nascer a ideia. Depois eu fui a uma cartomante e ela disse várias coisas boas que iam acontecer e imaginei, quando tomei o táxi de volta, que seria muito engraçado se um táxi me atropelasse e eu morresse depois de ter ouvido todas aquelas coisas boas. Então a partir daí foi nascendo também a trama da história.
Qual o nome da heroína da novela?
Não quero dizer. É segredo.
E o nome da novela, você poderia revelar?
Treze nomes, treze títulos.
Rilke, em seu livro “Cartas a um Jovem Poeta”, respondendo a uma das missivas, pergunta a um jovem que pretendia se tornar escritor: se você não pudesse mais escrever, você morreria? A mesma pergunta eu transfiro a você.
Eu acho que, quando não escrevo estou morta.
Esse período?
É muito duro, esse período entre um trabalho e outro, e ao mesmo tempo é necessário para haver uma espécie de esvaziamento para poder nascer alguma outra coisa, se nascer. É tudo tão incerto…
Clarice, mas como é que você escreve? Existe algum horário específico?
Em geral de manhã cedo. As minhas horas preferidas são as da manhã.
Você acorda a que horas?
Quatro e meia, cinco horas. Fico fumando, tomando café, sozinha sem nenhuma interferência. Quando estou escrevendo alguma coisa eu anoto a qualquer hora do dia ou da noite, coisas que me vêm. O que se chama inspiração, não é? Agora quando estou no ato de concatenar as inspirações, aí sou obrigada a trabalhar diariamente.
Você se considera uma escritora popular?
Não.
Por qual razão?
Me chamam de hermética. Como é que eu posso ser popular sendo hermética?
E como você vê esta observação “hermética”?
Eu me compreendo. De modo que não sou hermética para mim. Bom, tem um conto meu que não compreendo muito bem…
Que conto?
“O ovo e a galinha”.
Entre seus diversos trabalhos existe um filho predileto. Qual aquele que você vê com maior carinho até hoje?
“O ovo e a galinha”, que é um mistério para mim. Uma coisa que eu escrevi sobre um bandido, um criminoso chamado Mineirinho, que morreu com três balas quando uma só bastava. E que era devoto de São Jorge e que tinha uma namorada.
Sobre esse seu trabalho em torno de Mineirinho, qual o enfoque você deu?
Eu não me lembro muito bem, já faz bastante tempo. Há qualquer coisa assim como “o primeiro tiro me espanta, o segundo tiro não sei o que, o terceiro tiro…” Eu me transformei no Mineirinho, massacrado pela polícia. Qualquer que tivesse sido o crime dele uma bala bastava, o resto era vontade de matar. Era prepotência.
Em que medida o trabalho de Clarice Lispector no caso específico de Mineirinho pode alterar a ordem das coisas?
Não altera em nada. Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
No seu entender, qual é o papel do escritor brasileiro hoje?
De falar o menos possível
Você tem mantido contato como outros escritores?
Eventualmente.
Quais aqueles que você acredita serem os mais significativos?
Eu prefiro não citar nomes porque eu vou esquecer alguns e vai ofender, vai ferir. Assim, eu não cito ninguém.
Você discute muito com a Clarice Lispector escritora?
Não. Eu me deixo ser…
E convivem em paz?
Ás vezes não em paz, mas…
Normalmente, que tipo de problema a Clarice Lispector escritora traz a você?
Às vezes o fato de me considerar escritora me isola.
Por qual razão?
Me põe um rótulo.
E você acredita que as pessoas olham para você através desse rótulo?
Às vezes através desse rótulo. Tudo o que eu digo, a maior bobagem, é considerada como uma coisa linda ou uma coisa boba. É por isso que não ligo muito para essa coisa de ser escritora e dar entrevistas e tudo.
Você acredita que uma pessoa vá a uma livraria comprar especificamente um livro de Clarice Lispector?
Parece que isso acontece. Eu sei porque às vezes me telefonam e me perguntam em que livraria encontram meu livro. Então eu sei que tem pessoas que vão procurar exatamente o meu livro. É que no fundo eu escrevo muito simples, sabe?
Será que as coisas simples hoje são recebidas de maneira complicada?
Talvez, talvez… Eu escrevo simples. Eu não enfeito.
Na sua formação como escritora quais aqueles autores que você sente que realmente lhe influenciaram, que marcaram?
Eu não sei realmente porque misturei tudo. Eu lia romance para mocinhas, livro cor-de-rosa, misturado com Dostoiévski. Eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores. Misturei tudo. Fui ler, aos treze anos, Hermann Hesse, [o romance] “O Lobo da Estepe”, e foi um choque. Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca mais. Terminei rasgando e jogando fora.
Isso ainda acontece de você produzir alguma coisa e rasgar?
Eu deixo de lado… Não, eu rasgo sim.
É produto de reflexão ou de uma emoção?
Raiva, um pouco de raiva.
De quem?
De mim mesma.
Por que, Clarice?
Sei lá, estou meio cansada.
Do quê?
De mim mesma.
Mas você não renasce e se renova a cada trabalho novo?
Bom, agora eu morri. Mas vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto eu estou morta. Estou falando do meu túmulo.

Entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner, em 1 de fevereiro de 1977, para o programa “Panorama”, da TV Cultura, de São Paulo.







A Hora da Estrela (filme completo)

A Hora da Estrela(1985). Direção: Suzana Amaral

Macabéa, uma nordestina de dezenove anos, orfã de pai, mãe e da tia que a criou, vai para o Rio de Janeiro ser datilógrafa. Ela vai morar numa pensão e tem uma vida sem muitas emoções, pois é indiferente a elas.

Elenco:

Marcélia Cartaxo .... Macabéa
José Dumont .... Olímpico de Jesus
Fernanda Montenegro .... madame Carlota, a cartomante
Tamara Taxman .... Glória
Umberto Magnani .... seu Raimundo
Denoy de Oliveira .... Pereira

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Jogos
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"Espelho I" por Marcus Vinícius ( • )


DEVIR EM ÁGUA VIVA E NA ESCRITA DA HISTÓRIA
Lohanne G. Silva1

RESUMO O objetivo do trabalho é investigar as proximidades entre o processo de criação de Clarice Lispector e a escrita da história. Para isso destaco como fontes e objetos de estudo o livro Água viva (1973), o datiloscrito desta obra guardado na Fundação Casa de Rui Barbosa e os quadros pintados por Clarice nas décadas de 1960 e 1970, pertencentes ao acervo da mesma instituição e ao Instituto Moreira Salles. Por meio dos documentos referentes ao percurso criativo de Clarice Lispector, pude perceber que Água viva é uma obra elaborada detalhadamente, contrapondo-se a uma visão de uma escrita automática. Por isso destaco a importância da análise do processo de criação para o estudo da obra. Neste trabalho, procuro tecer as relações entre história e literatura que se aproximam na dimensão de uma escrita em devir e no processo criativo da produção textual, no qual há simultaneamente inspiração e trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector. Água viva. História. Literatura. Processo de criação.

[...] não há quase história senão da percepção, enquanto que aquilo do que se faz história é antes a matéria de um devir, não de uma história.2
História não te prometo aqui. Mas tem it.3
Isto não é história porque não conheço história assim, mas sei só ir dizendo e fazendo: é história de instantes que fogem como os trilhos fugitivos que veem da janela do trem.4
Entende-me: escrevo-te uma onomatopeia, convulsão da linguagem. Transmito-te não uma história mas apenas palavras que vivem do som.5

Água viva, de Clarice Lispector, é, sobretudo, um exercício de pensar diferente, de escrever diferente. O tempo neste livro é o “já”, o “já” que é o tempo dos instantes que se seguem, é o presente em contínuo movimento. Seu livro é formado por devires, é movimento,

1 Doutoranda no Curso de História da Universidade Federal de Uberlândia.
2 DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Tradução Suely Rolnik. v. 4. São Paulo: Ed 34, 1997. p. 165.
3 LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 38.
4 Idem, ibidem. p. 73.
5 Idem, ibidem. p. 27. 2 é linha de fuga, de desterritorialização. Não pretende contar uma história, não tem uma narrativa delineada. Com isso Clarice procurou vencer os instantes na intenção de falar apenas no presente, de escrever improvisando: “Estou improvisando e a beleza do que improviso é fuga”6 .






Clarice Lispector
Escritora e jornalista brasileira

Biografia de Clarice Lispector
Clarice Lispector, (1920-1977) foi uma escritora e jornalista brasileira, de origem judia, foi reconhecida como uma das mais importantes escritoras do século XX. "A Hora da Estrela" foi seu último romance, publicado em vida.
Clarice Lispector (1920-1977) nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Filha de família de origem judaica, seu pai Pinkouss e sua mãe Mania Lispector emigraram para o Brasil em março de 1922, para a cidade de Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Nascida Haia Pinkhasovna Lispector, por iniciativa do seu pai todos mudam de nome e Haia passa a se chamar Clarice.
Em 1925 muda-se com a família para a cidade do Recife onde Clarice passa sua infância no Bairro da Boa Vista. Aprendeu a ler e escrever muito nova. Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais o iídiche. Com 9 anos fica órfã de mãe. Em 1931 ingressa no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio público da cidade.
Em 1937 muda-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar no Bairro da Tijuca. Ingressa no Colégio Sílvio Leite, onde era frequentadora assídua da biblioteca. Ingressa no curso de Direito. Com 19 anos publica seu primeiro conto "Triunfo" no semanário Pan. Em 1943 forma-se em Direito e casa-se com o amigo de turma Maury Gurgel Valente. Nesse mesmo ano estreou na literatura com o romance "Perto do Coração Selvagem", que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência, e teve calorosa acolhida da crítica, recebendo o Prêmio Graça Aranha.
Clarice Lispector acompanha seu marido em viagens, na carreira de Diplomata do Ministério das Relações Exteriores. Em sua primeira viagem para Nápoles, Clarice trabalha como voluntária de assistente de enfermagem no hospital da Força Expedicionária Brasileira. Também morou na Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, sempre acompanhando seu marido.
Em 1949, nasce na Suíça seu primeiro filho, Pedro, e em 1953 nasce nos Estados Unidos o segundo filho, Paulo. Em 1959, Clarice se separa do marido e retorna ao Rio de Janeiro, com os filhos. Logo começa a trabalhar no Jornal Correio da Manhã, assumindo a coluna Correio Feminino. Em 1960 trabalha no Diário da Noite com a coluna Só Para Mulheres, e lança "Laços de Família", livro de contos, que recebe o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Em 1961 publica "A Maçã no Escuro" pelo qual recebe o prêmio de melhor livro do ano em 1962.
Clarice Lispector sofre várias queimaduras no corpo e na mão direita, quando dorme com um cigarro aceso, em 1966. Passa por várias cirurgias e vive isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publica crônicas no Jornal do Brasil e lança "O Mistério do Coelho Pensante". Passa a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Em 1969, já tinha perto de doze volumes publicados. Recebeu o prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.
A melhor prosa da autora se mostra nos contos de "Laços de Família" (1960) e de "A Legião Estrangeira" (1964). Em obras como "A Maçã no Escuro" (1961), "A Paixão Segundo G.H." (1961) e "Água-Viva" (1973), os personagens, alienados e em busca de um sentido para a vida, adquirem gradualmente consciência de si mesmos e aceitam seu lugar num universo arbitrário e eterno.
Clarice Lispector, escreveu "Hora da Estrela" em 1977, onde conta a história de Macabéa, moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande. A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata em Berlim em 1986.
Clarice Lispector morreu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.

Obras de Clarice Lispector

Perto do Coração Selvagem, romance, 1944
O Lustre, romance, 1946
A Cidade Sitiada, romance, 1949
Alguns Contos, conto, 1952
Laços de Família, conto, 1960
A Maçã no Escuro, romance, 1961
A Paixão Segundo G.H., romance, 1961
A Legião Estrangeira, conto, 1964
O Mistério do Coelho Pensante, literatura infantil, 1967
A Mulher Que Matou os Peixes, literatura infantil, 1969
Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, romance, 1969
Felicidade de Clandestina, conto, 1971
Água Viva, romance, 1973
Imitação da Rosa, conto, 1973
A Via Crucis do Corpo, conto, 1974
A Vida Íntima de Laura, literatura infantil, 1974
A Hora da Estrela, romance, 1977







Referências


https://www.wook.pt/autor/irving-wallace/7857

http://www.congressohistoriajatai.org/anais2014/Link%20(157).pdf

https://www.ebiografia.com/clarice_lispector/

http://www.carlaportugues.com.br/site/wp-content/uploads/2013/04/apaixaosegundogh.pdf

http://www.revistabula.com/503-a-ultima-entrevista-de-clarice-lispector/

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