quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O Cobrador De Promessa


      
Caipira (bate na porta): -Bom dia, Dotô Pereira, o senhor tá me conhecendo? Político (eleito): - Não, não conheço, mas adivinho o que você está querendo. Deve ser outro mendigo que aqui vem pedir esmola. mas perdeste o vosso tempo, e trate de dar o fora. Caipira: - Eu num sô nenhum mendigo, sô um home trabaiadô os calo da minha mão pode mostrá meu valô Tô descarço porque não pude nem comprá um sapatão De tanto que trabaiei pra enriquecer os patrão Político: - Bem. Mas diga logo o que queres ou eu perco a paciência e mando-o jogar na rua para pagar suas ofensas. Caipira: - Eu tô aqui prá cobrá o que o senhor prometeu Quando pediu o meu voto com que o senhor se elegeu. Eu sou aquele caboclo da Fazenda Viradô Vim sabê o que o senhor fez para os pobre lavradô Político: - Mas eu agora não tenho que lhe dar satisfação Vou sair com meus amigos para uma reveillon. Caipira: - Mas, Dotô, o senhor não disse para nós tê união Para juntos construí a grandeza da Nação? Eu trabaiei o ano inteiro, ajudei a Nação Colhi pro senhor comê o arroizinho e o feijão Agora eu quero sabê onde o senhor aplicô Os seiscentos contos por mês que a nação lhe pagô. Político: - Ora, caipira, você pensa que eu tenho pouca despesa com o meu filho em Londres estudando a língua inglesa com minha dez empregadas, meu copeiro, meu garçom com meu cachorro Lulu que só come filé mignon com minha esposa que usa só os perfumes franceses com meus quatro cadilacs que eu troco todos os meses com os meus tapetes persa que são os mais caros do mundo e que agora você está sujando com o pó de seus pés imundos. Caipira: - Este tapete, Dotô, fui eu que ajudei ganhá trabaiando pro sinhô por isso eu posso sujá esta poeira, Dotô, é o retrato da pobreza me sujei foi pra coiê o feijão da tua mesa a roupa que o senhor veste foi feita com o argodão que foi plantado e colhido pelos homes do sertão. Seu filho estuda em Londres, o meu nem escola tem e o senhor disse que construía uma escola prá nóis também cadê as estrada que o Dotô disse que mandava arrumá cadê as roupa e os remédio que ia baratiá? cadê os tratô que o sinhô pra nóis ia comprá? Cadê as leis pra defendê os lavradô do sertão Que tão passando apertado nas garras dos tubarão? cadê o hospital gratuito que o sinhô prometeu construí? Pra cobrar estas promessa é que hoje eu vim aqui! Político : - Oh, estou sendo insultado no recinto do meu lar Fez perder-me o apetite pra comer meu caviar Vá embora, caipira bobo, não venha mais me amolar Fecho-lhe a porta no rosto, pois preciso descansar. Caipira: - Tu pode batê a porta em minha cara, Dotô Também um dia Jesus em seu santo rosto apanhou Mas isso não faz calá a nossa voz no sertão um dia, se Deus quizé, vai triunfá a razão por isso eu faço um apelo aos nosso governadô pra que faça arguma coisa para os pobre lavradô se não os home do campo vão abandonar o roçado aí eu só quero vê, seus canaia tubarão, vocês comê cadilac e vesti televisão quero vê o Dotô Pereira ir outra vez no sertão pedi voto pro caboclos, eu juro de coração, Vô atirá na cara dele com toda satisfação todos ovos e tomate que encontrá na região.





Cidinho & Cilmar - Mentiras De Pescador



Mentiras de Pescador
José Fortuna
 

Não gosto de bater papo e nem de contar vantagem,       
mas eu num sei o que é medo sou um homem de coragem
Se um tubarão me ataca não corro nem estremeço,          
boto a mão na sua boca, e viro ele no avesso.
Eu nunca vi tanto peixe como no rio dos pinhais,             
um peixe saiu na margem e gritou num güento mais
Por favor vem me pescar aqui está tão apertado,                
eu prefiro morrer frito do que morrer afogado.

Fui na áfrica caçar e peguei fera com a mão,            
construí uma peruca com a juba do leão
Já peguei onça no tapa deixei mansa que nem gato,        
hoje ela tá lá em casa mansinha, pegando rato.
Outro rio não tem mais peixe como no rio cafitó,      
pescador tem que esconder a isca no paletó
Um pescador quando viu que os peixes eram demais,       
de medo saiu correndo e os peixes correram atrás.

Fui fazer uma pescaria contando o povo admira,        
pesquei um peixe gigante que até parece mentira
Com o tamanho do peixe o ribeirão entornou,            
quando tirei ele fora a água do rio secou.
Entrei no rio paraná com tatu no jacaré,                        
peguei casco dum na loca lá do meio do guapé
Eu joguei minha tarrafa pra pescar curimatá,                 
peguei vinte tonelada sem contar peixe-cará.
Eu pesquei um peixe espada tão comprido era o pai dégua                                                                                 
que deu pra fazer um laço com mais de quatorze légua

Passei por uma pinguela que cruzava o rio Moji                
só quando estava no meio vi que era um sucuri.
Fui pescar em alto mar a baleia me engoliu,               
quando estava dentro dela eu senti um calafrio
Cocei a goela da bruta quando a danada tossiu             
quase uma légua distante a baleia me cuspiu.
Vamos parar de conversa esse papo é perigoso,                 
se alguém estiver ouvindo nos chama de mentiroso

Exageramos um pouco pra poder dar mais sabor,                
e ficar mais engraçado mentira de pescador.






Ano: 1981 Composição: (José Fortuna)
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O Candidato e o Caipira


De autoria de Zé Fortuna, com adaptação, apresentação e edição de Jonas Terra. Texto adicional:O analfabeto político (Bertold Brecht); trilha sonora: Tom Oliveira e Zé Ramalho; participação especial: João Oliveira.
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José Fortuna
José Fortuna
http://dicionariompb.com.br/images/icone/nascimento_verbete.gif 2/10/1923 Itápolis, SP
http://dicionariompb.com.br/images/icone/morte_verbete.gif 10/11/1983 São Paulo, SP
                   

Em 1944, teve sua primeira composição gravada, a moda de viola "Moda das flores", feita em parceria com Raul Torres e gravada pela dupla Raul Torres e Florêncio. Em seus 40 anos de carreira compôs cerca de 2.000 músicas, gravadas pelos mais diversos intérpretes. Fez composições em diversos gêneros, como  marchas, rancheiras, guarânias, tangos, maxixes, sambas-canção, corridos, fox, valsas e arrasta-pés. Em 1947, formou com o irmão Euclides Fortuna a dupla Zé Fortuna e Pitangueira, que, posteriormente, se transformou em trio com a entrada de diferentes sanfoneiros, até a chegada daquele que se constituiria em membro permanente, até a dissolução do trio, o sanfoneiro Zé do Fole, com os quais gravou cerca de 40 discos, entre LPs e 78 rpm. Em 1952, Tonico e Tinoco gravaram o valseado "Carta" e  Zé Carreiro e Carreirinho  a moda de viola "Teu nome tem sete letras". No mesmo ano, Cascatinha e Inhana lançaram  um disco em 78 rpm contendo dois dos maiores sucessos de sua carreira, tendo vendido na época mais de 1 milhão de cópias. As duas guarânias eram versões de sua autoria, e com elas começaria a popularização desse gênero musical no Brasil, intensificando-se a partir de então o intercâmbio musical com o Paraguai. "Índia" e "Meu primeiro amor" seriam regravadas por diversos intérpretes da música popular brasileira, entre os quais Gal Costa, Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, Francisco Petrônio, Paulo Sérgio, Caetano Veloso, Nara Leão, Maria Bethânia, Joanna e Fagner. Outras versões de sua autoria e que se tornariam sucesso na voz de Cascatinha e Inhana foram "Anahy", "Solidão" e "Fronteiriça". Em 1955, Zé Carreiro e Carreirinho gravaram a valsa "Despedida de solteiro", parceria com Zé Carreiro. Em 1956, Sulino e Marroeiro gravaram o cateretê "Laço de amor", parceria com Sulino. Em 1958, Luizinho, Zezinha e Limeira gravaram o samba-canção "Remorso", parceria com Luizinho. No ano seguinte, o mesmo trio gravou o maxixe "Voz do vento", outra parceria com Luizinho. Muitas de suas composições foram gravadas pela dupla Sulino e Marroeiro, entre as quais a canção rancheira "Noite triste", parceria com Sulino. Em 1960, recebeu do então presidente da República, Juscelino Kubitscheck, um cartão de congratulação e mérito pela composição "Sob o céu de Brasília", executada quando da inauguração da nova capital brasileira, sendo então considerada como o hino inaugural de Brasília. Também gravaram composições suas, Leôncio e Leonel, Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico, Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo, entre outros. O jovem violeiro Rodrigo Mattos gravou "Tô entrando, tô saindo" em seu CD de estréia. A dupla Pena Branca e Xavantinho gravou "Vento violeiro", parceria com Carlos César. Algumas de suas composições conheceram mais de 30 regravações.
Apresentou o programa que tinha o seu nome em quase todas as rádios de São Paulo, tendo iniciado na Rádio Pan-americana. Escreveu 30 livros de poemas e literatura de cordel. Foi também autor teatral, tendo escrito 42 peças de teatro  e trabalhado como ator em todas elas. Montou a Companhia Teatral Maracanã, com a qual fazia apresentações em circos, no interior do Brasil e em cidades  da América do Sul. Sua companhia teatral recebeu inúmeros troféus, ficando conhecida como Os Reis do Teatro.
Em 1975, com o fim da companhia teatral, passou a dedicar-se exclusivamente às composições, participando de inúmeros festivais de música sertaneja. Em 1979, obteve os três primeiros lugares no Festival de Música Sertaneja da Rádio Record. A música vencedora, "Riozinho", feita em parceria com Carlos César, foi gravada pelas Irmãs Galvão, tornando-se então um grande sucesso. No mesmo ano,  a Secretaria do Trabalho do Estado de São Paulo oficializou a sua composição em parceria com Carlos César, "Hino do trabalhador brasileiro". Em 1981, tornou a ganhar o primeiro lugar no mesmo festival com a composição "O vai-e-vem do carreiro". Entre seus maiores sucessos estão "Lembrança", "Paineira velha", "Retalhos de amor", "Lenda da valsa dos noivos" e "O selo de sangue". Entre seus principais parceiros estão Carlos César, Paraíso, Dino Franco e Tião Carreiro. Faleceu de doença de chagas em 1983. Em 1985, sua família lançou no programa "Viola, minha viola" o livro "Paineira velha", com poemas, fotos, letras de música e depoimentos de personalidades do rádio e da televisão a respeito de sua vida e sua obra. Deixou cerca de 800 letras de músicas inéditas e um livro de poemas inacabado. Em 1999, a dupla Célia e Celma regravou a valsa "Paineira véia", sendo acompanhada pelo sanfoneiro Zé do Fole, que atuou com ele e Pitangueira por cerca de 25 anos. É considerado por muitos especialistas e estudiosos como um dos melhores letristas da música popular no Brasil. Em 2005, sua versão para a guarânia "Índia" foi regravada por Roberto Carlos e tornou a ocupar as paradas de sucesso. No mesmo ano, teve a música "24 horas de amor", composta em parceria com Carlos Cézar, gravada pela dupla Edson e Hudson, no CD "O melhor de E&H", lançado pela Deckdisc. Essa versão contou com a participação especial da dupla Matogrosso e Mathias. Em novembro de 2006, foi homenageado por Inezita Barroso, no programa "Viola, minha viola", tendo ela interpretado "paineira véia", no encerramento da programação, acompanhada dos artistas que estiveram presentes naquele dia, como a dupla Luís Fernando e João Pinheiro, além do Regional fixo do programa, com o violeiro Joãozinho à frente. Em 2008, teve a sua música "Lembrança" e a versão "Meu Primeiro Amor" (You´re Going To" lançadas por Roberta Miranda no CD "Senhora Raiz", do selo Sky Blue Music e Canto Livre.
Em 2010, Euclides Fortuna, o Pitangueira lançou o livro "Vida e arte de Zé Fortuna e Pitangueira", pela Editora Fortuna. O livro traz uma biografia da vida pessoal e artística do compositor José Fortuna, juntamente com seu irmão Pitangueira, retratando a infância, a luta para alcançar reconhecimento na carreira artística, o sucesso com o Trio "Os Maracanãs", o trabalho nos circos e inspiração, indo até a morte de José Fortuna em 1983. Em 2011, teve a música "Índia", uma versão sua para a composição de J.A. Flores e M.O. Guerrero, regravada pela cantora e compositora Paula Fernandes, no DVD "Paula Fernandes ao vivo", lançado pela Universal Music. A faixa contou com a participação especial do cantor e compositor Leonardo. O álbum ultrapassou a marca de 700 mil cópias vendidas.





Em pleno coração do meu Brasil, de selvas e florestas sem igual surgiu com esplendor a mais sublime flor, que amamos com fervor Brasília, nova Capital A Pátria no porvir confia em ti Brasília, estrela guia do sertão, tu és o pedestal da glória nacional o marco inicial da nossa emancipação Tuas noites são lindas e no céu anil forrado de estrelas o cruzeiro brilha é o divino Criador abençoando as glórias e o futuro de Brasília.






Dilermando Reis ♠ SOB O CEU DE BRASILIA

      
Dilermando Reis (1916-1977) nasceu Guaratinguetá, São Paulo, no dia 22 de setembro de 1916. Começou a estudar violão com o pai, o violonista Francisco Reis, ainda na infância. Em 1931, aos 15 anos de idade, já era conhecido como o melhor violonista de Guaratinguetá. Neste mesmo ano, conheceu o violonista Levino da Conceição, que se apresentava na cidade. Tornou-se seu aluno e passou a acompanhá-lo em suas excursões.


Dilermando reis (1916-1977) was born Guaratingueta, São Paulo on September 22, 1916.
He began studying guitar with his father, the guitarist Francisco Reis, still in its infancy. In 1931, at age 15, he was known as the best guitarist of Guaratingueta. That same year he met the guitarist Levino da Conceicao, who performed in the city. It became his student and went on to accompany you on your excursions.


Acompanhamento: Radamés Gnattali e Orquestra:
Full Album: 
https://www.youtube.com/watch?v=6Ogmn...

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Francisco Petrônio - Sob o Céu de Brasília


Francisco Petrônio - Sob o Céu de Brasília
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Sob o Céu de Brasília


Fotos do Dimas - Ipês
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O Candango de Brasília


Um dos autores que se destacaram foi Bruno Giorgi, pintor e escultor que nasceu no ano de 1905. Dentre as várias obras de Giorgi, destaca-se a escultura “Os guerreiros” ou popularmente conhecida como “Os Candangos”. “Candango” era o nome que os africanos usavam para referir-se a seus colonizadores portugueses, termo pejorativo, que significa “indivíduo ordinário, ruim”. Contudo, no Brasil, a palavra mudou sua conotação, agora se referindo positivamente as pessoas que trabalhavam na construção da capital. Sobre isso, o próprio Giorgi revelou: “Eu fiz os guerreiros que foram fundidos aqui no Rio de Janeiro. E eu tinha feito uma maquete de um metro e meio ai eles aprovaram, a comissão aprovou, inclusive o Oscar Niemeyer aprovou. Então depois eu ampliei aqui, fiz com 9 metros de altura. Depois tem um pequeno pedestal, depois tem dois elementos que se abraçam que chamam de guerreiro, mas o meu sonho era fazer uma homenagem ao candango. Tanto que depois veio pôr nome de candango. Isso aqui é um monumento aos candangos”.



Figura 4: Os Candangos

A escultura foi erguida no ano de 1959, na praça dos três poderes em Brasília, como homenagem aos 80 mil trabalhadores responsáveis pela construção da capital. A obra mede oito metros de altura e é toda feita em bronze. Ainda em Brasília, além da obra citada, temos o “Meteoro” (1967), no lago do edifício do Ministério das Relações Exteriores, localizado no espelho d’água em frente ao Palácio do Itamaraty. Uma de suas obras em bronze, “Herma de Tiradentes” (1986), se encontra à esquerda da rampa de acesso ao Panteão da Pátria Tancredo Neves, uma justa homenagem a Tiradentes. Um dos seus últimos trabalhos foi o monumento “Integração” (1989), no Memorial da América Latina, em São Paulo. Bruno morreu em 1993.



Figura 5: Os candangos

O Estilo de Bruno Giorgi foi subdividido em três fases que compreendem sua produção nas décadas de 1940 a 1950. A primeira fase teve bastante influência acadêmica com vários retratos, bustos e corpos femininos, ora gordos e opulentos, ora alongados e líricos. Esta fase é conhecida como figurativa. Na segunda fase, chamada vegetativa, Bruno Giorgi mantém a utilização de figuras com hastes e preocupa-se com o dinamismo das obras. E na terceira fase (a mais conhecida), chamada tectônica, as esculturas assumem um significado mais abstrato e um caráter mais arquitetônico.
Uma exposição com 80 de suas obras e o lançamento de livro sobre a sua produção abrem comemorações na Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro. Uma homenagem às comemorações do centenário de nascimento do artista que apresenta esculturas inéditas deste escultor apaixonado por sua profissão e traça um panorama de sua vida e obra através de uma foto-cronologia e uma impressionante seleção de excertos de críticas e textos publicados ao longo de sua carreira. Com prefácio de Ferreira Gullar, o livro apresenta ainda relação de obras, bibliografia e versão para o inglês. Um dos motes da exposição e do livro é apresentar também o homem artista e não somente sua obra. Em texto de Aracy ficamos sabendo de um calado Giorgi em sua casa no Rio, em almoço com o grande amigo Volpi. Na mostra há a reconstrução do ateliê de Petrópolis e de uma das salas da casa – estão lá ferramentas, desenhos, a referência ao biscoito Maizena, o cachecol e o pano que ele limpava suas mãos de “mestre escultor”.
O escolhemos, pois foi um artista de grande destaque na era do modernismo, tendo em vista que foi agraciado com o primeiro prêmio governo do estado, isso no ano de 1951. Já no ano de 1953 recebe a distinção de melhor escultor nacional.



Figura 6: Bruno Giorgi







Luisa Videsott
Arquiteta formada no Departamento de Analisi e Critica Storica dell’Istituto Universitario di Architettura di Venezia, Itália, doutoranda no Departamento de Arquitetura e do Urbanismo da EESCUSP, luides@sc.usp.br

Revisão da tradução:

Fábio Lopes de Souto Santos

Arquiteto e urbanista, professor doutor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Avenida Trabalhador Sancarlense, 400, CEP 13.566.590, São Carlos, SP, (16) 33739294, sotosantos@uol.com.br

Lorenza Pavesi Designer gráfico formada pela Coventry University (Grã-Bretanha), pós-graduanda na área de Teoria e História da Arquitetura da EESC-USP, Rua Madre Saint Bernard 151, Santa Mônica, São Carlos, SP, lore@ukonline.co.uk


Resumo

O monumento “Os Candangos”, de Bruno Giorgi é um símbolo de Brasília. Inspirou desde propagandas até a letra da “Sinfonia da Alvorada”, servindo de emblema da nova capital, como as colunas do Palácio da Alvorada ou a arquitetura do Congresso Nacional. O artigo indaga o significado da escultura na construção da capital. Inicia observando a evolução da palavra candango e o processo de re/nomeação da obra, “conversa” com o depoimento de seu autor, indaga o significado da sua colocação original, analisa a composição, as obras às quais se refere e pergunta sobre a identidade dos trabalhadores que edificaram Brasília.

Palavras-chave: Bruno Giorgi, candango, Brasília.






Hino do Trabalhador Brasileiro - Carlos César Zé Fortuna



hino do trabalhador- vinil- 1980


carlos cezar com orquestra e coro
hino do trabalhador
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ZÉ FORTUNA





Tom Jobim & Vinicius de Moraes - "O Planalto Deserto" do disco "Sinfonia da Alvorada" (LP 1960)
                            



Vinicius de Moraes
 
No príncipio era o ermo
Eram antigas solidões sem mágoa.
O altiplano, o infinito descampado
No princípio era o agreste:
O céu azul, a terra vermelho-pungente
E o verde triste do cerrado.
Eram antigas solidões banhadas
De mansos rios inocentes
Por entre as matas recortadas.
Não havia ninguém. A solidão
Mais parecia um povo inexistente
Dizendo coisas sobre nada.
Sim, os campos sem alma
Pareciam falar, e a voz que vinha
Das grandes extensões, dos fundões crepusculares
Nem parecia mais ouvir os passos
Dos velhos bandeirantes, os rudes pioneiros
Que, em busca de ouro e diamantes,
Ecoando as quebradas com o tiro de suas armas,
A tristeza de seus gritos e o tropel
De sua violência contra o índio, estendiam
As fronteiras da pátria muito além do limite dos tratados.
- Fernão Dias, Anhanguera, Borba Gato,
Vós fostes os heróis das primeiras marchas para o oeste,
Da conquista do agreste
E da grande planície ensimesmada!
Mas passastes. E da confluência
Das três grandes bacias
Dos três gigantes milenares:
Amazonas, São Francisco, Rio da Prata ;
Do novo teto do mundo, do planalto iluminado
Partiram também as velhas tribos malferidas
E as feras aterradas.
E só ficaram as solidões sem mágoa
O sem-termo, o infinito descampado
Onde, nos campos gerais do fim do dia
Se ouvia o grito da perdiz
A que respondia nos estirões de mata à beira dos rios
O pio melancólico do jaó.
E vinha a noite. Nas campinas celestes
Rebrilhavam mais próximas as estrelas
E o Cruzeiro do Sul resplandecente
Parecia destinado
A ser plantado em terra brasileira:
A Grande Cruz alçada
Sobre a noturna mata do cerrado
Para abençoar o novo bandeirante
O desbravador ousado
O ser de conquista
O Homem!

II / O HOMEM

Sim, era o Homem,
Era finalmente, e definitivamente, o Homem.
Viera para ficar. Tinha nos olhos
A força de um propósito: permanecer, vencer as solidões
E os horizontes, desbravar e criar, fundar
E erguer. Suas mãos
Já não traziam outras armas
Que as do trabalho em paz. Sim,
Era finalmente o Homem: o Fundador. Trazia no rosto
A antiga determinação dos bandeirantes,
Mas já não eram o ouro e os diamantes o objeto
De sua cobiça. Olhou tranqüilo o sol
Crepuscular, a iluminar em sua fuga para a noite
Os soturnos monstros e feras do poente.
Depois mirou as estrelas, a luzirem
Na imensa abóbada suspensa
Pelas invisíveis colunas da treva.
Sim, era o Homem...
Vinha de longe, através de muitas solidões,
Lenta, penosamente. Sofria ainda da penúria
Dos caminhos, da dolência dos desertos,
Do cansaço das matas enredadas
A se entredevorarem na luta subterrânea
De suas raízes gigantescas e no abraço uníssono
De seus ramos. Mas agora
Viera para ficar. Seus pés plantaram-se
Na terra vermelha do altiplano. Seu olhar
Descortinou as grandes extensões sem mágoa
No círculo infinito do horizonte. Seu peito
Encheu-se do ar puro do cerrado. Sim, ele plantaria
No deserto uma cidade muita branca e muito pura...

Citação de Oscar Niemeyer

- "... como uma flor naquela terra agreste e solitária…"
- Uma cidade erguida em plena solidão do descampado.
Niemeyer
- " ... como uma mensagem permanente de graça e poesia..."
- Uma cidade que ao sol vestisse um vestido de noivado
Niemeyer
- " ... em que a arquitetura se destacasse branca, como que flutuando na imensa escuridão do planalto..."
- Uma cidade que de dia trabalhasse alegremente
Niemeyer
- "…numa atmosfera de digna monumentalidade..."
- E à noite, nas horas do langor e da saudade
Niemeyer
- " ... numa luminação feérica e dramática..."
- Dormisse num Palácio de Alvorada!
Niemeyer
- " ... uma cidade de homens felizes, homens que sintam a vida em toda a sua plenitude, em toda a sua fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas puras..."
- E que fosse como a imagem do Cruzeiro
No coração da pátria derramada.

Citação de Lucio Costa

- "…nascida do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos que se cruzam em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz."

III / A CHEGADA DOS CANDANGOS

Tratava-se agora de construir: e construir um ritmo novo.

Para tanto, era necessário convocar todas as forças vivas da Nação, todos os homens que, com vontade de trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer, num tempo novo, um novo Tempo.
E, à grande convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa começaram a chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra, e que, no calcanho, em carro de boi, em lombo de burro, em paus-de-arara, por todas as formas possíveis e imagináveis, começaram a chegar de todos os lados da imensa pátria, sobretudo do Norte; forarn chegando do Grande Norte, do Meio Norte e do Nordeste, em sua simples e áspera doçura; foram chegando em grandes levas do Grande Leste, da Zona da Mata, do Centro-Oeste e do Grande Sul; foram chegando em sua mudez cheia de esperança, muitas vezes deixando para trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de melhores dias; foram chegando de tantos povoados, tantas cidades cujos nomes pareciam cantar saudades aos seus ouvidos, dentro dos antigos ritmos da imensa pátria...

Dois locutores alternados

- Boa Viagem! Boca do Acre! Água Branca! Vargem Alta! Amargosa! Xique-Xique! Cruz das Almas! Areia Branca! Limoeiro! Afogados! Morenos! Angelim! Tamboril! Palmares! Taperoá! Triunfo! Aurora! Campanário! Águas Belas! Passagem Franca! Bom Conselho! Brumado! Pedra Azul! Diamantina! Capelinha! Capão Bonito! Campinas! Canoinhas! Porto Belo! Passo Fundo!
Locutor no 1
- Cruz Alta...
Locutor no 2
- Que foram chegando de todos os lados da imensa pátria...
Locutor no 1
- Para construir uma cidade branca e pura...
Locutor n 2
- Uma cidade de homens felizes...

IV / O TRABALHO E A CONSTRUÇÃO

- Foi necessário muito mais que engenho, tenacidade e invenção. Foi necessário 1 milhão de metros cúbicos de concreto, e foram necessárias 100 mil toneladas de ferro redondo, e foram necessários milhares e milhares de sacos de cimento, e 500 mil metros cúbicos de areia, e 2 mil quilômetros de fios.
- E 1 milhão de metros cúbicos de brita foi necessário, e quatrocentos quilômetros de laminados, e toneladas e toneladas de madeira foram necessárias. E 60 mil operários! Foram necessários 60 mil trabalhadores vindos de todos os cantos da imensa pátria, sobretudo do Norte! 60 mil candangos foram necessários para desbastar, cavar, estaquear, cortar, serrar, pregar, soldar, empurrar, cimentar, aplainar, polir, erguer as brancas empenas...
- Ah, as empenas brancas! -
- Como penas brancas...
- Ah, as grandes estruturas!
- Tão leves, tão puras...
Como se tivessem sido depositadas de manso por mãos de anjo na terra vermelho-pungente do planalto, em meio à música inflexível, à música lancinante, à música matemática do trabalho humano em progressão ...
O trabalho humano que anuncia que a sorte está lançada e a ação é irreversível.

Cantochão

E ao crespúsculo, findo o labor do dia, as rudes mãos vazias de trabalho e os olhos cheios de horizontes que não têm fim, partem os trabalhadores para o descanso, na saudade de seus lares tão distantes e de suas mulheres tão ausentes. O canto com que entristecem ainda mais o sol-das-almas a morrer nas antigas solidões parece chamar as companheiras que se deixaram ficar para trás, à espera de melhores dias; que se deixaram ficar na moldura de uma porta, onde devem permanecer ainda, as mãos cheias de amor e os olhos cheios de horizontes que não têm fim. Que se deixaram ficar muitas terras além, muitas serras além, na esperança de um dia, ao lado de seus homens, poderem participar também da vida da cidade nascendo em comunhão com as estrelas. Que viram, uma manhã, partir os companheiros em busca do trabalho com que lhes dar uma pequena felicidade que não possuem, um pequeno nada com que poder sentir brilhar o futuro no olhar de seus filhos. Esse mesmo trabalho que agora, findo o labor do dia, encaminha os trabalhadores em bando para a grande e fundamental solidão da noite que cai sobre o planalto…

" Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantávele uma confiança sem limites no seu grande destino."
(Brasília, 2 de outubro de 1956)
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

V / CORAL

I II III
Coro Coro Coro
Masculino Masculino Misto
Brasília Brasília Brasília
Brasília Brasília Brasília
Brasília Brasília Brasília
Brasília Brasília Brasília
Brasília Brasília Brasília
BRASIL! BRASIL! BRASIL!

VI

Terra de sol
Terra de luz
Terra que guarda no céu
A brilhar o sinal de uma cruz
Terra de luz
Terra-esperança, promessa
De um mundo de paz e de amor
Terra de irmãos
Ó alma brasileira ...
... Alma brasileira ...
Terra-poesia de canções e de perdão
Terra que um dia encontrou seu coração

Brasil! Brasil!
Ah... Ah... Ah...
B r a s í 1 i a!
Dlem! Dlem!
Ô ... ô... ô... ô
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Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim





O disco : "Brasília - Sinfonia da Alvorada"
Música: Antonio Carlos Jobim
Poesia: Vinicius de Moraes
Orquestra sinfônica dirigida por Antonio Carlos Jobim
Poemas ditos por Vinicius de Moraes (alguns trechos com participação de Tom Jobim)
"Côro Dante Martinez" sob a direcção de Roberto de Regina
Piano: Radamés Gnattali
Capa: Oscar Niemeyer

Esta sinfonia, foi encomendada a Vinicius e Tom pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1958, mas foi adiada por causa de protestos contra a contrução da cidade vindos principalmente da área de oposição ao governo. Mais tarde, um novo convite foi feito através do arquiteto Oscar Niemeyer, que transmitiu a Vinicius a vontade do presidente de ter a Sinfonia pronta antes de 21 de abril de 1960, o dia da inauguração...mas Brasília foi inaugurada sem a Sinfonia (os altos custos do evento assim ditaram) e a primeira audição só aconteceu em 1966 em S. Paulo.
Disco na integra c/ detalhe de capa, (desenho de Oscar Niemeyer). 1/5
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OSN - Brasília, Sinfonia da Alvorada - Antonio Carlos Jobim


Brasília, Sinfonia da Alvorada, de Antonio Carlos Jobim - Espaço Tom Jobim - 11 de dezembro de 2013.
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