domingo, 24 de setembro de 2023

Brasília (DF)

---------- A Lição de Anatomia do Doutor Tulp (1632) (Mauritshuis, Amsterdan) --------- Rembrandt Pintor holandês ---------
--------- Auto-retrato, c.1668-9 (óleo sobre tela) (Self Portrait, c.1668-9 (oil on canvas)) Rembrandt van Rijn ---------- ---------- “A pintura de Rembrandt é o drama da própria consciência do pintor que, para maior clareza, na série de pinturas em que retrata a si mesmo e a Titus e a Saskia e a Hendrijke, reproduz o mistério do nascimento e da morte em termos de luz e sombra. Basta olhar-se o seu último autorretrato, de 1668, já próximo de sua morte, que sucedeu um ano depois, para se ver um rosto não mais surgindo, mas se desfazendo na sombra, corroído pela luz“. Joaquim Cardozo, o poeta que calculou as curvas de Brasília ----- ---------- Joaquim Cardozo - Circuito da Poesia do Recife ------------ Soneto Somente Nasci na várzea do Capibaribe De terra escura, de macio turvo, De luz dourada no horizonte curvo E onde, a água doce, o massapé proíbe. Sua presença para mim se exibe No seu ar sereno que inda hoje absorvo, E nas noites com negridão de corvo, Antes que ao porto do céu arribe. A lua assim só tenho essa planície... Pois tudo quanto fiz foi superfície De inúteis coisas vãs, humanamente. De glórias e de alturas e de universos Não tenho o que dizer nestes meus versos: - Nessa várzea nasci, nasci somente. JOAQUIM CARDOZO (1897-1978) Leia outras notícias sobre a região no G1 DF. BRASÍLIA DISTRITO FEDERAL PERNAMBUCO RECIFE ________________________________________________________________________________________________________________ ----------
--------- O conjunto urbanístico-arquitetônico de Brasília, construído a partir do Plano Piloto, um projeto de Lucio Costa, foi inscrito no Livro de Tombo Histórico pelo Iphan em 14 de março de 1990. Primeiro conjunto urbano do século XX a ser reconhecida pela Unesco, em 1987, como Patrimônio Mundial. Sua principal característica é a monumentalidade, determinada por suas quatro escalas: monumental, residencial, bucólica e gregária e por sua arquitetura inovadora. Brasília foi concebida, projetada e construída entre 1957 e 1960. Seu conjunto urbanístico se constitui no principal artefato urbano produzido em consonância com os princípios urbanísticos e arquitetônicos do movimento moderno. Inserida no projeto nacional de modernização do país conduzido pelo então presidente Juscelino Kubitschek, sua construção e consolidação como capital do Brasil compõem um fenômeno geopolítico e social de grande desdobramento para a história brasileira. ---------- ________________________________________________________________________________________________ Leia mais O Plano Piloto e as Escalas Arquitetura, Urbanismo e Artes Plásticas História Monumentos e Espaços Públicos Tombados Documentos Declaração Retrospectiva Dossiê de Candidatura Avaliação Icomos _____________________________________________________________________________________________ ------------ Logo após eleito presidente, Juscelino Kubitschek realizou, em 1957, o Concurso Nacional para o Plano Piloto de Brasília. O vencedor foi o arquiteto e urbanista Lucio Costa que, com o também arquiteto e urbanista Oscar Niemeyer, concebeu uma das maiores realizações culturais do século XX. Inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília cumpriu sua missão histórica de promover a integração do território brasileiro e de interiorizar o desenvolvimento. Destaca-se a excepcional correspondência entre o projeto urbanístico de Lucio Costa e a arquitetura de Oscar Niemeyer, cuja imagem mais forte resulta do cruzamento entre os Eixos Monumental e Rodoviário, que define o seu esquema urbano e enfatiza o caráter representativo dos espaços públicos da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios, expresso nas formas do edifício do Congresso Nacional e do modo de morar concebido, definido pela Unidade de Vizinhança e suas superquadras. Atualmente, com cerca de 2,9 milhões de habitantes (IBGE/2016), Brasília é uma das maiores metrópoles do Brasil. Além de sediar o Governo Federal e ser um grande centro prestador de serviços, com acervo arquitetônico, urbanístico e paisagístico de grande beleza e singularidade. É uma cidade-parque, densamente arborizada, emoldurada pelo Lago do Paranoá. ---------- Conjunto Urbanístico de Brasília (DF) -----------
---------- Conjunto Urbanístico de Brasília (DF) Vista aérea da Esplanada dos Ministérios O conjunto urbanístico-arquitetônico de Brasília foi construído a partir do Plano Piloto de Lucio Costa http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/31 ___________________________________________________________________________________ ----------- ------------- NO PRINCIÍPIO ERA O ERMO ----------- ------------- "Imagine-se em um hotel no Setor Hoteleiro Sul, na capital federal do Brasil, Brasília. Do último andar do hotel, você tem uma visão privilegiada do majestoso Congresso Nacional, localizado na Praça dos Três Poderes, no final da Esplanada dos Ministérios. Lá, você contempla as imponentes cúpulas das duas casas legislativas, uma voltada para baixo, por questões estruturais e de perspectiva simétrica. O Palácio do Congresso se estende sobre a plataforma, acolhendo calorosamente os representantes de todos os estados do país. No Salão Azul, do Senado, 83 senadores se reúnem, enquanto na vasta Esplanada, 17 prédios abrigam os ministros escolhidos pelo presidente eleito democraticamente. O número 17, curiosamente, é uma representação simbólica, onde 10 à esquerda simboliza uma dezena com dez unidades, e 7 à direita, sete unidades simples. Uma combinação numérica que ecoa eventos históricos, como o ano de 1917, marcado pela primeira revolução socialista do mundo." Nesta breve descrição, enfatizamos a grandiosidade e a simbologia por trás dos edifícios e monumentos de Brasília, conectando números e eventos históricos para criar uma narrativa envolvente e educativa. ___________________________________________________________________________________________ ----------
------------ Praça dos Três Poderes, em Brasília, com o prédio do STF ao fundo. Crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado A descrença no Judiciário trará impactos legislativos? -----------
---------- Nas Entrelinhas: O voto histórico de Rosa Weber pelo direito ao aborto Publicado em 24/09/2023 - 07:00 Luiz Carlos AzedoBrasília, Comunicação, Congresso, Ética, Justiça, Memória, Partidos, Política, Política, Religião, Saúde O Código Penal brasileiro, que criminaliza a interrupção da gravidez, é da década de 1940 do século passado, quando as mulheres tinham uma ‘cidadania de segunda classe'”, lembrou a presidente do STF O conceito de “lugar de fala” ficou famoso após a publicação do livro da filósofa paulista Djamila Ribeiro, O que é lugar de fala, principalmente no movimento negro, sendo adotado como uma espécie de atestado de legitimidade para qualquer tese identitária. Muitas vezes, é desvirtuado e usado como um meio para desqualificar o interlocutor que não vive o mesmo problema ou situação, com o argumento categórico do tipo “você não pode falar sobre isso porque não tem lugar de fala”. Djamila ampliou a questão do feminismo negro (Quem tem medo do feminismo negro?) na perspectiva de criticar e superar as cisões da sociedade causadas pelas desigualdades e pensar novos marcos civilizatórios. A partir do conceito de “lugar de fala”, a filósofa destaca as denúncias sobre a esterilização forçada de mulheres negras, na década de 1980, que resultaram numa comissão parlamentar de inquérito na Câmara dos Deputados, como uma espécie de gênese do feminismo negro no Brasil. A esterilização forçada de mulheres nos estertores do regime militar era uma forma de controle da natalidade, com objetivo de limitar a taxa de crescimento da população aos níveis de expansão da economia, ou seja, abaixo do Produto Interno Bruto (PIB), com o óbvio propósito de mitigar as desigualdades sociais pela redução compulsória do tamanho das famílias pobres, principalmente negras. Era uma violência contra uma parcela da população que já era vítima, como continua sendo, do nosso secular racismo estrutural. A esterilização forçada era uma alternativa autoritária ao direito ao aborto, questão que agora está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Às vésperas de se aposentar, a presidente do Corte, Rosa Weber, na sexta-feira, votou para que o aborto realizado até 12 semanas de gestação não seja mais considerado crime no país. A ministra argumenta que a criminalização fere direitos fundamentais das mulheres, como os direitos à autodeterminação pessoal, à liberdade e à intimidade, porém reconhece que a discussão do aborto “é uma das questões jurídicas mais sensíveis, porquanto envolve uma teia de razões de segunda ordem de natureza ética, moral, científica, médica e religiosa”. No seu voto histórico, Rosa exerceu um duplo lugar de fala: o de mãe e de guardiã da Constituição. Nessa condição, argumentou que a proibição não é eficiente para evitar abortos, sendo mais adequado políticas públicas de prevenção à gravidez indesejada, como educação sexual. “A maternidade é escolha, não obrigação coercitiva. Impor a continuidade da gravidez, a despeito das particularidades que identificam a realidade experimentada pela gestante, representa forma de violência institucional contra a integridade física, psíquica e moral da mulher, colocando-a como instrumento a serviço das decisões do Estado e da sociedade, mas não suas.” Prerrogativas O Código Penal brasileiro, que criminaliza a interrupção da gravidez, é da década de 1940 do século passado, quando as mulheres tinham uma “cidadania de segunda classe”, na expressão de Rosa. Nessa época, o movimento feminista sequer havia entrado na sua “segunda onda” — o Brasil estava em pleno Estado Novo. “Não tivemos como participar ativamente da deliberação sobre questão que nos é particular, que diz respeito ao fato comum da vida reprodutiva da mulher, mais que isso, que fala sobre o aspecto nuclear da conformação da sua autodeterminação, que é o projeto da maternidade e sua conciliação com todas as outras dimensões do projeto de vida digna”, sustentou a presidente do Supremo. Hoje, o aborto é permitido em caso de gravidez por estupro, risco para a vida da gestante e feto anencéfalo (sem cérebro). A votação será retomada quando o novo presidente da Corte, Luis Roberto Barroso, decidir dar continuidade ao julgamento, cujo desfecho ainda é imprevisível. Além de Rosa, Barroso, Cármem Lúcia e Édson Fachin são ministros a favor da descriminalização. Os ministros Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro, votarão contra. A decisão final dependerá dos ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin. Há uma polêmica sobre a competência de rever o dispositivo que proíbe o aborto no Código Penal de 1940: caberia ao Congresso ou ao Supremo? Os que são contra o aborto argumentam que a atribuição é do Legislativo, hoje majoritariamente conservador e sob forte influência dos evangélicos, que podem, inclusive, vir a eleger um bispo licenciado da Igreja Universal para a presidência da Câmara, o deputado Marcos Pereira (SP), presidente nacional dos Republicanos. Rosa contestou esse argumento: “Assim como em praticamente todas as democracias liberais (com raras exceções das democracias puramente majoritárias), também na democracia brasileira a função de controlar as leis e atos do poder público para garantir que elas estejam em conformidade com a Constituição é exercida por órgão independente daqueles responsáveis por aprovar as leis. Este órgão é tipicamente uma Suprema Corte ou Tribunal Constitucional. Isso é importante porque a democracia não se resume à regra da maioria. Na democracia, os direitos das minorias são resguardados, pela Constituição, contra prejuízos que a elas (minorias) possam ser causados pela vontade da maioria.” Compartilhe: _____________________________________________________________________________________________________________ -----------
---------- Luiz Sérgio Henriques* - Contra a lógica das guerras frias O Estado de S. Paulo Além de reafirmar o lugar do trabalho nas sociedades de informação, Biden e Lula demonstram saber que é preciso atrair os que se sentem deixados de lado na globalização Para os adeptos de choques frontais, a passada guerra fria terá sido uma época dourada cujos cacoetes e hábitos mentais carregarão pela vida afora. De fato, capitalismo e comunismo se enfrentavam como sistemas quase fechados e antagônicos num jogo de soma zero. A passagem de um país ao “campo socialista” era uma perda irreversível para o que se chamava de mundo livre, prenunciando um catastrófico efeito dominó, uma vez que outras peças logo seriam derrubadas num movimento sem volta. E posições como a dos não alinhados patinavam sem maior identidade, em busca de uma jamais bem definida via não capitalista de desenvolvimento. Os atores desse drama tiveram sua dose de razão, quando menos até o ponto em que a rivalidade russo-chinesa, estrategicamente explorada por Nixon-Kissinger, fragmentou o tal campo socialista. Mas antes disso, bem menos visível, a derrota daquele comunismo estava como que inscrita nas coisas. Não importa, aqui, o impacto geral da Revolução Russa, inclusive na vitória sobre o nazismo e no aprofundamento das democracias ocidentais – o fato é que, com as estruturas moldadas pelo stalinismo, a batalha propriamente hegemônica estava desde logo perdida. De um ponto de vista civilizatório, eram pouco atraentes um partido-Estado absoluto e uma sociedade civil vigiada, incapaz de pensar e agir por conta própria. No entanto, simultaneamente ao malogro da URSS, a longa marcha do socialismo de Estado chinês não se deteve, fazendo com que os partidários da confrontação passassem a deslocar a data mágica da ruptura de 1917 para 1949. De fato, enquanto o sistema soviético se mostrava incapaz de se atualizar tecnologicamente, a não ser no âmbito militar, com as reformas de mercado da era Deng Xiaoping a China Popular demonstraria dinamismo crescente. Chegada a hora da globalização, estava pronta para aproveitar as possibilidades que esta lhe abria, integrando-se à economiamundo e dando lastro e rosto à mencionada via não capitalista, ao menos no plano das intenções e das justificativas. O mundo que agora habitamos é qualitativamente novo, com riscos e perigos inéditos. Há todo um léxico recentíssimo – desacoplagem, near e friendshoring, etc. – que busca dar conta do grave recuo da integração das economias e, portanto, do seu caráter tendencialmente cosmopolita. O conflito entre a potência dominante e a potência emergente parece caber como uma luva no modelo estabelecido pela multissecular “armadilha de Tucídides”. E os focos de guerra ou já estão acesos, como na bárbara invasão da Ucrânia, ou podem surgir de uma hora para outra. Os mais recentes guerreiros frios apregoam, de um lado, a decadência do Ocidente, incapaz de reviver o heroísmo da sua fase formativa e já definitivamente entregue à dissolução moral. De outro, na nossa margem do mundo, afirmam uma contraposição pura e dura entre democracia e autocracia, como se nossas democracias, elas mesmas, não estivessem sofrendo com a perda do centro de gravidade e a consequente difusão dos extremismos de tipo nacional-populista, de que Donald Trump é a face mais ameaçadora. Expressão imperfeita, mas ainda assim essencial, do cosmopolitismo da política, a ONU é um desses palcos cuja quarta parede termina por ser explicitamente devassada por um público global. O que lá se passa tem dimensão simbólica evidente. Líderes políticos não são propriamente teóricos – e raramente convém que o sejam, sob o risco de nos virmos sob a mão pesada de guias geniais –, mas o que dizem tem importância e significação. Com oscilações e ambiguidades, apresentam em cena aberta sentimentos e aspirações profundos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, deu oportuna indicação, ao apontar a desigualdade como a fonte decisiva do conflito moderno e, ao mesmo tempo, celebrar a democracia (política) como o meio por excelência para vencê-la e também superar “o ódio, a desinformação e a opressão”. Associando a luta pela igualdade e a democracia política como terreno privilegiado desta mesma luta, o presidente brasileiro afasta-se, afortunadamente, tanto dos “aventureiros de extrema direita”, que menciona, quanto dos de extrema esquerda, que por lapso não menciona. Na mesma viagem, precioso o encontro com o presidente Joe Biden, em que os direitos do trabalho na reconfiguração da economia foram colocados no centro das preocupações do democrata e do petista. Não é de hoje que a esquerda brasileira precisa descobrir vida inteligente entre os liberals norte-americanos, arquivando clichês sobre o imperialismo e descobrindo formas de cooperação. Além de reafirmar o lugar do trabalho nas sociedades de informação, os dois presidentes demonstram saber que é preciso atrair os que se sentem deixados de lado na globalização. Trata-se de compromissos que, adotados com coerência, contêm elementos essenciais daquela disposição hegemônica para dar conteúdo social a todas as democracias, revigorar as respectivas sociedades civis e projetá-las como capazes de superar pacificamente novas e antigas autocracias. *TRADUTOR E ENSAÍSTA, É UM DOS ORGANIZADORES DAS OBRAS DE GRAMSCI NO BRASIL ____________________________________________________________________________________________________________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário