Numa noite, numa noite em uma viagem entre Niterói e
Rio de Janeiro. Grande Othelo
Os
negros protestaram no carnaval de 1941, com a marcha “Praça Onze”, de Herivelto
Martins e Grande Otelo, que lamentava o fim do logradouro: “Vão acabar com a
Praça Onze/Não vai haver mais Escola de Samba...”.
Praça
Onze, 1930. No destaque, a capa do livro "Negros e Judeus na Praça Onze. A
história que não ficou na memória".
Praça
Onze
Herivelto
Martins
Vão acabar com a Praça Onze
Não vai haver mais Escola de Samba, não vai
Chora o tamborim
Chora o morro inteiro
Favela, Salgueiro
Mangueira, Estação Primeira
Guardai os vossos pandeiros, guardai
Porque a Escola de Samba não sai
Adeus, minha Praça Onze, adeus
Já sabemos que vais desaparecer
Leva contigo a nossa recordação
Mas ficarás eternamente em nosso coração
E algum dia nova praça nós teremos
E o teu passado cantaremos
Composição:
Grande Otelo / Herivelto Martins
Grande
Otelo: O "Praça Onze" eu já fazia os
versos, conforme eu fiz "Desperta Brasil". Eu fiz uns versos que
diziam assim, porque o Davi Nasser fez uma crônica a propósito dos projetos que
existiam na época, fazer ali na Praça Onze o busto do Dr. Getúlio Vargas e
fazer a [avenida] presidente Getúlio Vargas [A Praça Onze, situada no Rio de
Janeiro, é considerada o berço do samba, tendo sido ponto de encontro dos
negros, músicos e compositores anônimos, autores de maxixes e marchinhas. Era
também o local onde as camadas populares festejavam o carnaval]. Então, eu
fiquei muito sentido, porque eu tinha visto samba na Praça Onze e sabia como
era gostoso, animado e entusiasmado. Eu fiz: "Meu povo, este ano a escola
não sai. Vou lhes dar explicações: não temos mais a Praça Onze para as nossas
evoluções. Ali, onde a cabrocha mostrava o seu requebrado, um grande homem no
bronze será por todos lembrado", e queria que isso fosse um samba, mostrei
para vários compositores e nenhum deles se interessou. O Herivelto Martins, por
acaso, nessa época, entrou para o Cassino da Urca onde eu já estava, e eu toca
aborrecer a paciência do Herivelto Martins. Um dia, o Herivelto diz: "Me
dá aqui essa porcaria!" Pegou, botou na perna, pegou o violão e: "Vão
acabar com a Praça Onze, não vai haver mais escola de samba, não vai..."
[cantando]. E saiu a primeira parte. Naquela época, nós viajávamos para Niterói
numa barquinha e voltávamos numa lancha, e voltávamos de barca, e na volta da
barca o Herivelto Martins pegou o violão novamente e fez a segunda parte. Esse
samba "Praça Onze" nasceu num dia... numa noite, numa noite em uma
viagem entre Niterói e Rio de Janeiro.
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/203/entrevistados/grande_otelo_1987.htm
Grande
Othelo - 15/06/1987
NASSER,
Davi
*jornalista.
Davi Nasser nasceu na cidade de São Paulo no
dia 1º de janeiro de 1917, filho de um casal de imigrantes libaneses.
Tinha poucos meses de idade quando sua família
mudou-se para Mato Grosso e depois para o Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, onde permaneceu até 1923. Transferindo-se para Caxambu (MG), fez o
curso primário no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. De volta ao Rio aos
14 anos, aos 16 iniciou sua carreira jornalística como repórter do
matutino O Jornal, da cadeia dos Diários Associados, de cujo condomínio
acionário viria a participar.
De 1936 a 1944 foi repórter de O Globo, do Rio
de Janeiro, ocasião em que combateu o nazismo, o integralismo e o regime do
Estado Novo (1937-1945). Em 1944 voltou aos Diários Associados. Realizou
reportagem, quase sempre em colaboração com o fotógrafo Jean Manzon, pelo
Brasil e por outros países americanos. Escreveu por muito tempo na revista
carioca O Cruzeiro. Em 1965 foi eleito presidente de honra da Escuderie Le
Cocq, formada por policiais do Rio de Janeiro para homenagear um detetive morto
em serviço. Em maio de 1975 desligou-se do condomínio acionário das Emissoras e
Diários Associados, alegando discordar da orientação imprimida por seu
presidente, o então senador João Calmon. Passou então a escrever na
revista Manchete, do Rio de Janeiro.
Além de jornalista, foi historiador, panfletista,
cronista, poeta e compositor.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 10 de dezembro de
1980.
Era casado com Isabel Audi Nasser.
Publicou Mergulho na aventura (reportagens, em
colaboração com Jean Manzon, 1945), Falta alguém em Nuremberg: torturas da
polícia de Filinto Strubing Müller (1947), Para Dutra ler na cama (1947), Só
meu sangue é alemão (1949), A revolução dos covardes — diário secreto de Severo
Fournier (reportagens, 1949), A vida trepidante de Carmen Miranda (1951), O
velho capitão e outras histórias reais (1961), Portugal meu avozinho (1965),
Jânio, a face cruel (1966) e A cruz de Jerusalém.
FONTES: CONSULT. MAGALHÃES, B.; Grande encic. Delta;
Jornal do Brasil (11/6/75, 11 e 12/12/80); MELO, L. Dic.; MENESES, R. Dic.;
Última Hora (22/5/75).
David
Nasser, o repórter que inventava a notícia
Dois anos de trabalho, encerrados em junho, mais de
cem entrevistas, algumas com duração de horas, trabalho exaustivo de pesquisa
em arquivos públicos e particulares deram corpo ao livro Cobras Criadas - David
Nasser e O Cruzeiro - uma biografia do jornalista David Nasser que é, ao mesmo
tempo, a história dos tempos áureos da revista em que trabalhou entre 1943 e
1974, carro-chefe das publicações do império de Assis Chateaubriand, escrita
pelo também jornalista Luiz Maklouf Carvalho (Editora Senac São Paulo, 600
págs., R$ 45,00). David Nasser foi o repórter mais famoso de seu tempo - entre
os anos 50 e os 70. Não deve ser aplicado a ele - embora eventualmente seja
aplicado - o adjetivo "polêmico". Não era polêmico. Era uma figura de
poucos escrúpulos, que dava pouca importância para os fatos e muita importância
para o efeito de suas reportagens. Inventava, alterava, adequava a realidade à
carga de efeito que seus escritos pudessem trazer. Era mais importante do que a
notícia - opinião corroborada por seus companheiros de trabalho - tanto por
aqueles que dele gostavam quanto pelos que o detestavam -, pelos amigos, pelos
parceiros circunstanciais. Era um homem de imenso talento para escrever e com
capacidade aparentemente inesgotável de trabalho. Escreveu livros de grande
repercussão - quase sempre apoiados ou baseados em suas próprias reportagens -
e compôs cerca de 300 músicas, algumas de muito sucesso, como Nêga do Cabelo
Duro (com Rubens Soares), Canta Brasil (com Alcir Pires Vermelho), Camisola do
Dia, Hoje Quem Paga Sou Eu, Atiraste uma Pedra (com Herivelto Martins), Confete
(aquela do "pedacinho colorido de saudade", com Jota Júnior),
Normalista (com Benedito Lacerda, grande sucesso na voz do amigo Nelson
Gonçalves), A Coroa do Rei (com Haroldo Lobo) e até a valsa que ainda hoje
serve de vinheta para o fim de ano da Rede Globo: Fim de Ano ( "Adeus ano
velho, feliz ano-novo..."), parceria com Francisco Alves. Foi ativista e
membro de diretoria de órgãos de defesa de direitos autorais - União Brasileira
de Compositores (UBC) e Serviço de Defesa do Direito Autoral (SDDA). As duas
sociedades são desacreditadas. O SDDA foi alvo de uma CPI em 1967, durante o
governo Costa e Silva. David Nasser foi amigo de políticos, artistas, atletas.
Orgulhava-se de ser diretor de honra da tristemente famosa Scuderie Le Cock,
nome de fantasia - expressão empregada por Luiz Maklouf - do Esquadrão da Morte
que atuou no Rio de Janeiro. O caixão de Nasser, em seu enterro, estava coberto
pela bandeira - uma caveira, duas tíbias cruzadas - do Esquadrão. Os negócios
musicais de Nasser eram administrados por duas firmas de sua propriedade, que
tiveram forte atuação no lobby que conseguiu, nos anos 60, a isenção fiscal
para os produtos fonográficos (o então ministro Delfim Netto entrou na defesa
da causa). Para tanto, aplicou-se, na capa dos discos, a frase "Disco É
Cultura". A lei foi aprovada; nos anos 90, foi revogada e voltou a valer.
Ganham com ela, principalmente, as multinacionais do setor. Os pais de Nasser
eram libaneses. David nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 1917. Os
primeiros anos de vida foram passados em Caxambu, Minas Gerais, e, quando era
adolescente, foi com a família para o Rio de Janeiro. Ajudava na renda como
camelô, vendendo bugigangas - pentes, giletes, na Central do Brasil. Teve
meningite, que lhe deixou seqüelas. Andava com dificuldade ("como se
estivesse bêbado"), tinha os movimentos das mãos atrapalhados - derrrubava
coisas, sujava-se e sujava tudo em volta quando comia, enxergava mal. Escrevia com
dois dedos. Para concorrer com Nelson Rodrigues, que publicava o folhetim Meu
Destino É Pecar, em O Jornal, sob o pseudônimo de Suzana Flag, aumentando a
tiragem do diário, David Nasser inventou uma personagem para o Diário da Noite,
outra publicação dos Diários Associados, de Chateaubriand. Os que têm mais de
50 anos não esqueceriam Giselle - A Espiã Nua Que Abalou Paris. Giselle era
tratada como personagem de fato: o Diário da Noite anunciou que comprara
"com exclusividade" as memórias da bela mulher que passara de cama de
nazista em cama de nazista obtendo informações para as forças aliadas. Para
garantir a verossimilhança, o Diário chamou a série de "documentário"
traduzido do original francês por um certo jornalista italiano chamado Carlos
Tancini, que estaria de passagem pelo Rio - e que nunca existiu. A série
escrita por David Nasser teve 59 capítulos. Seu parceiro de nove anos de
trabalhos bombásticos, o fotógrafo francês Jean Manzon, era o encarregado de
produzir as fotos de Giselle. Sobre ela, fala Freddy Chateaubriand, sobrinho de
Assis, chefe de Nasser e Manzon: "Nunca houve Giselle, ela nunca abalou
Paris, mas o Diário da Noite foi o jornal de maior circulação daquela época. O
Manzon trazia aquelas fotos não sei de onde, e o David escrevia com aquela facilidade."
Mais tarde, uma editora comprou os direitos sobre a personagem e publicou
livrecos que eram vendidos em bancas de jornais, com altas tiragens. Era o que
mais próximo se aproximava da literatura erótica disponível para os
adolescentes dos anos 60. O poeta Augusto Frederico Schmidt chegou a escrever
uma história, como revela Maklouf. Freddy não é o único a revelar o método de
trabalho de David Nasser. Seus companheiros de redação - ou os parceiros,
conhecidos - são unânimes: um homem brilhante, mas sem escrúpulos. A dupla
Nasser-Manzon funcionou de 1943 a 1951. Produziu material que espantou o País,
entre eles a intitulada Barreto Pinto sem Máscara, de 1946, em que o deputado,
amigo de Getúlio, aparece de fraque e cuecas. Na versão de Barreto Pinto, a
dupla havia prometido que só usaria a imagem da barriga para cima. O deputado
foi cassado. Eles teriam fotografado pela primeira vez - é fato, as imagens
apareceram pela primeira vez - uma tribo xavante (Nasser escrevia
"chavante"). A descrição do "ataque" dos índios ao avião
são belos exemplos de má ficção. Parece que Nasser não estava no vôo. Duvida-se
que Manzon tenha de fato feito as fotos. Parece que o material foi aproveitado
de um filme feito pelo DIP, departamento de propaganda do Estado Novo, em que
Manzon trabalhou. A dupla consegiu fotografar a mulher de Chiang Kai-shek,
mulher do líder chinês anti-comunista, que esteve no Brasil , em 1944. Era um
furo. Ao que se apura, o próprio David Nasser, vestido de mulher, se fez passar
pela chinesa. Uma das mais longas séries de reportagem de David Nasser, já sem
Manzon como companheiro, foi sobre o assassinato de Aída Cúri, em julho de
1958. Ela era uma menina de 18 anos, que passara 12 num colégio de freiras. Foi
abordada por um grupo de rapazes, em Copacabana. Dois deles a convenceram a
subir ao terraço de um prédio, entrada facilitada pelo fato do padrasto de um
deles ser síndico do edifício. Aída Cúri foi currada e caiu morta na calçada. O
crime rendeu um livro, além da série de reportagens, e foi assunto constante no
programa que David Nasser teve na TV Tupi: começava com um grito, supostamente
de uma mulher caindo. David Nasser morreu rico - tornou-se empresário
bem-sucedido - aos 63 anos. Praticou um tipo de jornalismo que não existe mais
na grande imprensa - até porque há mecanismos que permitem identificar a
veracidade das informações publicadas. Mas houve um tempo em que era possível.
Agencia Estado,
04 Novembro 2001 | 11h28
50
anos do assassinato de Aída Curi – O fotojornalismo fazendo escola na revista O
Cruzeiro
Leandra
Francischett∗
Resumo
A revista O Cruzeiro é conhecida pela sua
contribuição ao fotojornalismo nacional ao destacar as fotos em relação aos
textos. A cobertura do assassinato da jovem Aída Curi, em 1958, demonstra o
caráter sensacionalista desse veículo, principalmente com a divulgação de fotos
da moça logo após ser jogada do 12o andar, incluindo a poça de sangue ao redor da
sua cabeça e as vestes rasgadas. Esse crime aconteceu num momento em que o
cinema estimulava atitudes fora da lei, como no filme “Juventude Transviada”.
Mesmo assim, esse crime não foi elucidado, os culpados não foram condenados e,
50 anos mais tarde, a morte da menina Isabella Nardoni, jogada do 6o andar,
ocupa a atenção da imprensa.
Biografia
http://www.conib.org.br/admin//media/images/1436193758-Praca%20Onze%201930.jpg
http://www.conib.org.br/blog/noticias/1061/negros_e_judeus_na_praa_onze_rio_de_janeiro_a_histria_que_quer_ficar_na_memria
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/203/entrevistados/grande_otelo_1987.htm
https://youtu.be/rcDCPDrOj2Q
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/nasser-davi
https://youtu.be/rcDCPDrOj2Q
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,david-nasser-o-reporter-que-inventava-a-noticia,20011104p4531
http://www.bocc.ubi.pt/pag/francischett-leandra-assassinato-de-aida-curi.pdf
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