De Presentão a lembrancinhas
O Mundo Velho
Antônio Gomes Leal
Nas
crises deste tempo desgraçado,
Quando nos pomos tristes a espalhar
Os olhos pela história do passado...
Quem não verá, contente ou consternado,
- Mundo velho que estás a desabar - ?!...
Quando nos pomos tristes a espalhar
Os olhos pela história do passado...
Quem não verá, contente ou consternado,
- Mundo velho que estás a desabar - ?!...
Não há sociedade que não dependa de fantasias para se firmar e se reproduzir. O problema é saber quais são os desarranjos que as fantasias promovem.
José
de Souza Martins: Os dois Natais
- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana
Nos dias de hoje, ninguém se dá conta das
consequências da chegada da árvore de Natal e de Papai Noel ao Brasil. Chegada
como coisas, encaixotadas. Vieram em troca do dinheiro que dava em árvore nos
cafezais do Rio, de Minas e de São Paulo, nas últimas décadas do século XIX.
Vieram como coisas supérfluas (uma caixa de árvores de Natal e outra de
quinquilharias, diz o manifesto de um navio alemão, em dezembro de 1890).
Mediações de um novo enredo social gerado pelo esvaziamento do que éramos para
sermos o inacabado do que nunca conseguiríamos ser. O enredo do faz de conta,
das ilusões que se compra em loja, sonho empacotado e perecível.
Fantasias propriamente brasileiras deram
revestimento nativo ao bom velho e à árvore. Adaptações. Aqui, tempo de dar
presentes para crianças e mesmo adultos não era o dia de Natal, e sim o dia dos
Santos Reis, os magos que fizeram a longa viagem para oferecer ao menino da
manjedoura incenso, ouro e mirra.
As informações daquela época indicam que os
brasileiros não sabiam onde encaixar a árvore, primeiro, e o simpático barbudo,
depois. Havia uma certa tendência em favor do dia 1º de janeiro, muitos
insistiam no dia 6 de janeiro e alguns começavam a se agarrar ao 25 de
dezembro, que afinal venceu. O dia dos Santos Reis foi sendo esquecido, e hoje
são poucos os que o celebram.
A dádiva feita em casa, como expressão religiosa de
amor e fraternidade, perdeu para o presente comprado em loja. A dádiva natalina
era uma forma de comunhão. Vizinhos e parentes trocavam comida: quitandas,
arroz-doce, rabanadas, pastéis e até assados, doces para as crianças.
Com a República e o desembarque do Papai Noel
imaginário em nossas vidas, o sentido comunitário e propriamente familiar
dessas festas encolheu. O presente-mercadoria materializou as relações e
reduziu os relacionamentos sociais aos vínculos de indivíduos, não de pessoas.
No padrão que desaparecia não era econômica a
motivação das famílias na distribuição de regalos. Dependiam da economia
doméstica, de pessoas que tinham cara e nome. Já no novo padrão natalino era o
perfil de um Papai Noel interesseiro que entrava furtivamente nas casas, altas
horas da véspera de Natal ou do Ano Novo. Assim, fingia modéstia e
generosidade. O que excluía do imaginário papanoelino a imensa maioria das
pessoas, as precariamente situadas à margem da economia monetária. Ao agir em
nome da mercadoria e do dinheiro, Papai Noel introduzia um elemento igualitário
nas relações festivas do Natal, sem dúvida. Mas era igualdade abstrata,
condição da desigualdade econômica.
Há evidências de um esforço da sociedade brasileira
no sentido de reinventar as festas natalinas no novo marco de sua
mercantilização, minimizando as perdas simbólicas e rituais. Ainda assim, Papai
Noel, à luz da consciência religiosa da sociedade tradicional, tornou-se
expressão das iniquidades próprias da modernidade. Crianças ricas eram melhor
ouvidas do que as pobres.
A "Revista do Jardim da Infância", da
Escola Caetano de Campos, em São Paulo, publicou às vésperas do Natal de 1892
um conto do poeta Gomes Leal em que quatro pequeninas fadas, à meia-noite de 31
de dezembro, aparecem para uma menina pobre, trazendo nas mãos minúsculos
presentes. A avó, então, lhe explica, "as filhas dos ricos devem ser as
pequenas fadas dos pobrezinhos".
Em 1912, a poetisa parnasiana Francisca Júlia da
Silva publica o poema "Duas Bonecas". Uma boneca rica de cera e uma
boneca pobre de louça conversam na vitrina de uma loja de brinquedos. A de cera
expressa todo seu desprezo pela de louça, o desprezo da boneca rica pela boneca
pobre, no confronto óbvio de mercadorias de preço distinto, com qualidades
distintas: "Gênero de pouco peso,/ Artigo que vale nada... /Aí tens agora
explicada /A causa do meu desprezo".
Papai Noel mudou radicalmente a concepção da alegria
infantil dos inocentes. Mas, nas contradições profundas de uma sociedade como a
nossa, de riqueza muito concentrada, subjugada por meios moralmente
condenáveis, longe do que é próprio do capitalismo, é ele um ser bifronte e
ambíguo. Sua suposta bondade revela a crianças e adultos um mundo de maldades e
injustiças. Prisioneiro de um mundo de rapina, não tem como superá-las.
O verdadeiro Natal, o da manjedoura, quase sufocado
na pequenez restritiva de uma visão de mundo confinada no simplismo da compra e
da venda, é o Natal do contraponto crítico no mundo das mercadorias. Não há
sociedade que não dependa de fantasias para se firmar e se reproduzir. O
problema é saber quais são os desarranjos que as fantasias promovem. Não se
trata de optar entre um e outro, mas de ver o falso através do confronto com o
verdadeiro.
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da
Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “A Política do
Brasil Lúmpen e Místico” (Contexto).
Papai
Noel: um dos mais importantes símbolos do Natal
10
Embalagens para Presentes de Lembrancinhas de Natal
A
Origem do Natal
25
de dezembro era uma data "pagã, podendo ser de origem solar... A Saturnal
dos Romanos a precedia" (Nelson*'s Encyclopedia). Era ainda a data "da
antiga festa Romana em homenagem ao Sol" (celebrando o nascimento do
deus-Sol), segundo a American Encyclopedia. "A Saturnal era uma festa
de prazeres desenfreados... A data do Natal foi fixada na mesma época" (M
de Beugnot - História, Vol 2, pág 265). "A Igreja... voltando ao
paganismo... precisava ter suas festas, e acabou por dar nomes
cristãos às festas pagãs já existentes... identificando o Natal à pior das
festas pagãs... fixaram para aquela data o nascimento de Cristo.(Aquela
data) representava um dos piores princípios do paganismo -- o poder
reprodutivo da natureza... A Igreja criou as festas chamadas cristãs, para
substituir as pagãs... paganizando o Cristianismo... a fim de manter
satisfeitas as mentes carnais do povo" (J. N. Darby - Col. Writtings,
Vol. 29). Agostinho registrou que o povo estava tão determinado a ter
festas que o clero se sujeitou a isso!
A primeira canção
de Natal brasileira a estourar em disco foi “Boas festas”, de Assis
Valente, gravada em 1933, por Carlos Galhardo, com arranjo de um
orixá: Pixinguinha. A letra é triste pra dedéu e joga água no chope da
euforia natalina, afirmando que “Papai Noel com certeza já morreu ou
então ...
Boas
Festas
Assis
Valente
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Composição: Assis Valente
Boas
Festas
Assis
Valente
Papai Noel é uma miragem de Natal e depois da
passagem de seu trenó ficto Assis Valente voltava a cantar novamente a ALEGRIA
Alegria
Assis
Valente
Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer.
Da tristeza não quero saber,
A tristeza me faz padecer,
Vou deixar a cruel nostalgia,
Vou fazer batucada,
De noite, e de dia vou cantar.
Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer.
Esperando a felicidade,
Para ver se eu vou melhorar,
Vou cantando, fingindo alegria,
Para a humanidade,
Não me ver chorar.
Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer.
Composição: Compositor: Assis Valente, Durval Maia
Alegria
Orlando Silva
Referências
https://www.mensagenscomamor.com/mensagem/111460
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/12/jose-de-souza-martins-os-dois-natais.html
https://www.suapesquisa.com/uploads/site/156x133_papai-noel.jpg
https://www.suapesquisa.com/historiadopapainoel.htm
http://www.comofazeremcasa.net/wp-content/uploads/2017/11/lembrancinhas-e-presentes-para-dar-a-amigos-e-parentes-no-natal-9.jpg
http://www.stories.org.br/textos/vsn.html
https://youtu.be/mC0EvZFn3lc
https://youtu.be/BXKGATv3iPI
https://youtu.be/SO88rNE3pBk
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