“(...)
o charivari nacional que nos atordoa tem sua fonte original na própria política
e em suas instituições e atende pelo nome de sucessão presidencial. (...)”
“(...)Ainda
há tempo para uma ação política racional que interrompa essa corrida às cegas
rumo ao abismo, sacrificando nossa incipiente democracia, que tanto nos custou,
às ambições dos que perderam o fio terra com o mundo real e se entregaram às
artes da feitiçaria política, esquecidos de que feitiços podem virar-se contra
os feiticeiros. (...)”
Luiz
Werneck Vianna*:
A
política, os feitiços e os feiticeiros
O Estado de S.Paulo
Ainda há tempo para uma ação nacional que interrompa
essa corrida às cegas rumo ao abismo
Qual o significado da campanha sem quartel para a
derrubada do governo Temer vinda de círculos da direita em convergência com
setores que reivindicam uma identidade à esquerda do espectro político?
Certamente deve haver um. Mas qual? A esta altura parece claro que a via
parlamentar não é propícia a esses propósitos, dado que o governo dispõe de
folgada maioria nas duas Casas congressuais.
De outra parte, as ruas têm feito ouvidos moucos, ao
menos até então, às incitações a manifestações de protesto contra o governo que
lhes vêm dos meios de comunicação, em particular de sua rede mais poderosa e de
ação mais capilar sobre a opinião pública, mantendo-se silenciosas. A
intervenção militar, uma possibilidade teórica no quadro caótico que aí está, a
quem serviria? Além de serem poucos os que a preconizam e de os militares não a
desejarem, a experiência de 1964 deixou patente que as elites políticas que
atuaram em favor de uma intervenção desse tipo foram logo decapitadas ou
cooptadas pelo regime militar. Tais lições amargas não terão sido esquecidas,
mesmo pelos que ora flertam com ela.
Então, o que é isso que temos pela frente? Dado que
não é de todo plausível a hipótese de que a sociedade tenha ensandecido, como
se faz demonstrar na vida cotidiana dos brasileiros que tocam sua vida no
trabalho e nos estudos, em sua imensa maioria à margem de uma cena política que
avaliam estar fora do seu raio de influência, o charivari nacional que nos
atordoa tem sua fonte original na própria política e em suas instituições e
atende pelo nome de sucessão presidencial.
Faz parte da nossa tradição republicana que as
sucessões presidenciais, incluídas as que tiveram seu curso no regime militar,
importem em crise, variando com as circunstâncias uma maior ou menor
mobilização social suscitada por elas. Foi assim na sucessão de 1930, que pôs a
nu, mais do que uma crise conjuntural, uma crise orgânica da ordem burguesa –
para usar as categorias de Gramsci, um fino estudioso das crises políticas –,
manifesta nas rebeliões tenentistas dos anos 20 e culminando com a Revolução de
1930, que importou a ultrapassagem do sistema agrário-exportador pelo
urbano-industrial.
Igualmente na de 1955 – esta, de fato, apenas uma
crise conjuntural –, assim como nas vésperas da sucessão de 1965, que prometia
levar à vitória uma coalizão de centro-esquerda portadora de um programa de
governo nacional popular, cujo desenlace dramático se efetivou no golpe de 1964
– outra crise de natureza orgânica. O regime militar que então se instalou veio
a cumprir um programa de plena imposição do capitalismo no País, atraindo para
a sua órbita o mundo agrário com políticas públicas que vieram a favorecer a
emergência do agronegócio em regiões de conflitos por terra no hinterland.
Fechavam-se, assim, as possibilidades, então presentes, para uma reiteração dos
casos clássicos das revoluções no Terceiro Mundo que contaram com a presença
decisiva do campesinato e dos trabalhadores do campo.
Nesta sucessão de 2018 não há fumaças no ar de
crises orgânicas, além de estarem caindo no vazio as ordens de comando que nos
chegam sem parar dos meios de comunicação que reclamam a imediata derrubada por
fas ou nefas do governo constitucional. No caso, aliás, chama a atenção o fato
esquisito de que a agenda da direita dita moderna, que tem sua ponta de lança
em empresas de comunicação, guarda similitudes em vários aspectos com a
governamental. Ademais, como notório, os atuais quadros dirigentes da economia
têm sua origem no que se designa como o mercado e contam com sua confiança.
A referência ao texto de Marx sobre o 18 Brumário é
batida, mas necessária, até por sua comicidade. Na França da Segunda República,
duas dinastias, a dos Bourbons e a de Orleans, porfiavam em favor do retorno ao
regime monárquico, mas como somente uma delas poderia beneficiar-se dessa troca
de regime, acabaram tendo de se comportar como fiadoras da República de 1848 –
que ambas odiavam –, enquanto uma delas não lograsse impor-se à facção rival.
Desse imbróglio, como se sabe, não resultou nem República nem monarquia, mas a
ordem imperial de Luís Bonaparte.
Aqui, nesta miserável conjuntura em que se vive,
também os extremos que se repelem reciprocamente – a direita moderna e o PT e
seus satélites – se veem compelidos a ações convergentes a fim de que na liça
da sucessão, defenestrado o governo Temer, um quadro do PMDB de históricas
relações com a nossa tradição republicana, só reste caminho para eles.
Contudo, como paira sobre a cabeça de um deles a
ameaça real de o Judiciário tornar inviável sua candidatura, a direita dita
moderna descortinaria à sua frente uma larga via aberta para seu velho projeto
de se assenhorear plenamente do Estado, a fim de redesenhar a seu serviço as
relações entre ele e a sociedade. Restaria o problema difícil, talvez
insolúvel, de encontrar um candidato com o perfil adequado para a missão.
Mas há método nesta loucura em que estamos imersos,
não estamos inteiramente à deriva sob o domínio dos fatos, pois há quem tenha a
pretensão de dirigi-los. Todavia a arrogância do ator de querer submeter o
destino a seus desígnios pode – como entre os gregos, que a denominavam húbris
– ser considerada como um desafio aos deuses passível de punição, destinando a
um outro, que se mantém em serena prudência em meio ao tumulto dessas paixões
desvairadas, mesmo que não o queira, o objeto de suas ambições.
Ainda há tempo para uma ação política racional que
interrompa essa corrida às cegas rumo ao abismo, sacrificando nossa incipiente
democracia, que tanto nos custou, às ambições dos que perderam o fio terra com
o mundo real e se entregaram às artes da feitiçaria política, esquecidos de que
feitiços podem virar-se contra os feiticeiros.
-------------------
* Luiz Werneck Vianna é sociólogo, PUC-Rio
Velho
sim, velhaco não. Ulysses Guimarães
Bolsonaro
é um ‘populista perigoso’, diz professor de Stanford
Defensor intransigente da Lava-Jato, cientista
político criou aula específica sobre populismo em curso sobre democracia
POR GUILHERME AMADO
04/11/2017 4:30 / atualizado 04/11/2017
16:36
Francis
Fukuyama, cientista político norte-americano no Teatro Cetip-Complexo Ohtake
Cultural - Greg Salibian / Agência O Globo
STANFORD - Francis Fukuyama está
preocupado com o Brasil. Mundialmente conhecido pelo ensaio "O fim da
História e o último homem (1992)", o cientista político, professor
da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e um dos mais célebres
intelectuais de sua geração, incluiu o Brasil no rol dos países em que ele vê o
risco da ascensão de um representante do que chama de “Internacional Populista”:
políticos de extrema-direita com pouco ou nenhum apreço pela democracia e que
seduzem o eleitorado com promessas fáceis para problemas complexos.
O impacto das descobertas da Lava-Jato sobre a
contaminação do sistema político, diz Fukuyama, pode levar os eleitores
brasileiros a optarem por alguém que prometa ter mão de ferro contra a
corrupção. Na semana passada, Jair Bolsonaro, o intrépido deputado do PSC
do Rio de Janeiro, tornou-se um dos personagens sobre quem Fukuyama discorre na
nova aula sobre populismo que, em tempos de Donald Trump,
decidiu incluir em seu tradicional curso sobre democracia. Um dos expoentes do
pensamento conservador, o professor é enfático sobre Bolsonaro: “Seria um
grande desastre se ele fosse eleito. Ele parece ser um populista genuinamente
perigoso”.
Em entrevista ao GLOBO, em sua sala no Centro de
Democracia, Desenvolvimento e Estado de Direito, que dirige, em Stanford,
Fukuyama criticou a proteção do Congresso a Michel Temer, lamentou a falta de
protestos contra a corrupção este ano no Brasil, nos mesmos moldes dos que
ocorreram em 2015 e em 2016, e, aos descrentes sobre o futuro da democracia,
fez um alerta: “As pessoas precisam entender que a democracia depende delas.
Precisam sair às ruas, protestar contra a corrupção e se insurgir contra o
populismo”.
Perto de se completarem quatro anos de Lava-Jato,
qual sua visão sobre a operação?
Eu tenho sido em geral muito mais positivo sobre a
operação do que alguns brasileiros e mesmo observadores internacionais porque
sei que não há muitos países com Judiciários que consigam fazer a lei valer
para todos. Na América Latina, isso tem sido especialmente problemático. No
Brasil, agora parece que todo mundo é corrupto. Não acredito que isso seja algo
novo. Acho que sempre foi desse jeito. Pelo menos, agora você tem um sistema
judiciário que está colocando alguns deles na cadeia. E você tem a imprensa
livre, que está fazendo um trabalho muito bom, expondo a corrupção e apoiando o
sistema judicial. Eu tenho conhecimento das acusações que políticos da direita
e da esquerda fazem contra o Judiciário, dizendo que há razões políticas por
trás das acusações. E sei que há críticas por influência política no Judiciário
e por terem deixado Michel Temer (no cargo). Mas tudo é relativo e, em relação
ao padrão predominante na América Latina, é bom o Brasil ter feito o que fez. O
que eu considero perigoso é que foi revelado um nível tão grande de corrupção
que todos vão ficando cínicos e podem pensar que não há como fazer a lei valer
para todos e que é necessária uma solução populista para acabar com o sistema e
recomeçar tudo. Isso é muito perigoso.
‘(Bolsonaro)
parece ser um populista genuinamente perigoso. Seu histórico mostra que ele não
defende a democracia’
- FRANCIS FUKUYAMA Professor de Stanford
Mas o mesmo país que produziu a Lava-Jato tem uma
corte eleitoral que ignorou provas e absolveu o presidente e sua antecessora da
acusação de financiamento ilegal na eleição de 2014 e um Congresso que protegeu
durante duas vezes o presidente de acusações de corrupção. Esses recuos
significam que políticos estão conseguindo interromper as mudanças?
Esses fatos constroem a narrativa de que o
Judiciário tem uma atuação política, e isso é perigoso, porque a Justiça só
funciona se as pessoas acreditarem que ela é imparcial. Eu entendo o cálculo de
muitas pessoas da direita e de observadores internacionais de que Michel Temer
está fazendo reformas importantes e que, se ele for para a cadeia, todo o
sistema vai parar, nada mudará e não haverá progresso. Essas pessoas estão
dispostas a aceitar, portanto, a falta de prestação de contas de um governante.
Eu não acho que esse raciocínio seja bom, porque é preciso que o Judiciário
seja visto como imparcial e acredito que absolvê-lo mine essa sensação.
Na introdução do seu último livro (“Political order
and political decay”, ainda não lançado no Brasil), o senhor descreve os
protestos de junho de 2013 como manifestações anticorrupção e por melhores
serviços básicos. De lá para cá, tivemos protestos de massa em 2015 e em 2016,
em parte contra a corrupção, em parte contra o PT. Entretanto, não houve
grandes protestos em 2017, quando os escândalos atingiram o PSDB e o PMDB. Por
quê?
Isso é muito ruim. Quando os protestos começaram,
contra corrupção e por melhores serviços públicos, ganharam publicidade e
passaram a ser vistos como protestos contra Dilma Rousseff e contra Lula. Isso
foi muito ruim porque, se o foco tivesse continuado a ser contra a corrupção,
brasileiros de diferentes posições no espectro ideológico estariam dispostos a
apoiar. Uma vez que se tornou uma questão ideológica de direita e esquerda,
você retomou a antiga divisão ideológica brasileira. Por isso também é ruim
você não ter mais políticos de direita sendo presos, como o atual presidente,
ou pelo menos o processo contra ele prosseguindo, porque teria tornado tudo
mais equilibrado e deixado claro que isso não é contra um partido, mas contra
toda a classe política envolvida em corrupção.
A última pesquisa presidencial no Brasil (do Ibope,
publicada no último domingo) mostrou Lula à frente das pesquisas, com 35%, e
Jair Bolsonaro em segundo lugar, com 13%. Como o senhor vê essa previsão?
O mais problemático é o apoio a Bolsonaro. Ele
parece ser um populista genuinamente perigoso. Seu histórico mostra que ele não
defende a democracia e que está usando esta oportunidade para tomar o poder.
Seria um grande desastre se ele fosse eleito. Mas acho que isso reflete um
crescente cinismo em todo o espectro eleitoral de que todos os políticos são
ruins e de que você precisa de uma figura forte que vai consertar todos esses
problemas. Isso nunca funciona. Se você opta por políticas de mão de ferro,
você acaba numa ditadura e em violações de direitos humanos. O Brasil não
precisa desse recuo. O país já teve uma experiência dessas quando os militares
comandavam o país, e não acho que ajude voltar a esse tipo de governo.
‘O Brasil precisa se tornar capaz de processar
uma pessoa (Lula) que, embora tenha beneficiado os pobres e criado programas
sociais, violou as leis’
- FRANCIS FUKUYAMA Professor de Stanford
E Lula, mesmo condenado por corrupção, em primeiro
lugar?
É muito ruim, porque de novo é a ideologia
prevalecendo sobre o combate à corrupção. Seus eleitores querem protegê-lo
porque ele é visto como tendo sido bom para os pobres. É compreensível. Mas o
Brasil precisa se tornar capaz de processar uma pessoa que, embora tenha
beneficiado os pobres e criado programas sociais, violou as leis.
Por que o populismo está florescendo especialmente
nesta segunda década do século XXI?
É diferente em diferentes partes do mundo. O
populismo na América Latina é diferente do populismo europeu. Na Europa, é
baseado naquela classe média que sofre com a globalização e com a perda de
empregos. Na América Latina, o populismo é baseado nos pobres, que basicamente
querem um governo forte que possa dar serviços sociais e benefícios. Isso
explica (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa e Evo Morales. Bolsonaro é um pouco mais
complicado, porque ele vem num período em que o populismo de esquerda está em
declínio na América Latina. Ele obviamente é um homem da direita. É um novo
fenômeno, que remonta aos anos 1960, ao desejo de políticas de um punho de
ferro. Vamos ver se é uma tendência ou não, porque o fato de ele conseguir 13%
nas pesquisas não significa que ele será eleito.
O que falta ao Brasil em termos de políticas
anticorrupção?
Uma grande mudança no sistema eleitoral, porque o
tipo de representação proporcional que permite que um partido como o PMDB possa
ter tantas cadeiras ocupadas por indivíduos sem plataformas partidárias, mas
que atuam como agentes livres que sempre precisam receber algum tipo de
dinheiro ou favor para que votem com o governo. O sistema precisa diminuir o
número de partidos e ter uma disciplina partidária maior, reduzindo os
incentivos atuais para os diferentes tipos de compra de votos de parlamentares.
A Itália fez um pouco isso. Era um governo instável, porque era difícil
construir uma coalizão. Uma das coisas que (Mateo) Renzi estava tentando fazer
era mudar o sistema político para criar uma maioria mais ampla para que você
pudesse ter um grande partido governista. Não sei se o Brasil conseguiria fazer
isso porque o sistema é muito dividido, mas vocês podem mudar as leis
eleitorais para encorajar a formação de dois, três ou quatro grandes partidos
para formar coalizões estáveis. Isso acima de tudo reduziria os incentivos para
a corrupção no Congresso. Além disso, vocês precisam de uma mudança geracional
na classe política, com accountability eleitoral e judicial que
permita substituir a geração atual por pessoas novas com novas atitudes em
relação ao serviço público.
Mas e quando até o presidente é denunciado por
corrupção, o que a sociedade pode fazer?
É o que já está acontecendo até agora. A liderança
não tem que vir do presidente. Há a sociedade civil, há a mídia apoiando as
mudanças. Uma agenda que inclui reforma eleitoral, a blindagem do Judiciário
contra influência política, a profissionalização do serviço público. Tudo isso
faz parte de um pacote reformista e a sociedade precisa desenvolver apoio
social para isso.
Em que medida existe uma ligação entre populistas
pelo mundo?
Há algumas ligações entre o populismo europeu e o
entorno de Trump. (Vladimir) Putin deu um empréstimo para Marine Le Pen (da
Frente Nacional, da extrema direita francesa). Ela conversa com o holandês
Geert Wilders (do Partido para a Liberdade, de extrema direita). Trump gosta de
Nigel Farage (ex-líder do Partido da Independência do Reino Unido, de extrema
direita). Steve Bannon (ex-estrategista de Trump) gosta de todos eles. Eles se
falam, compartilham experiências. Há uma “Populista Internacional” em atuação
hoje, o que torna tudo ainda mais ameaçador, porque um apoia o outro.
No Brasil, a imprensa e os repórteres
individualmente têm sido alvo de ataques de políticos de diferentes correntes,
a exemplo do que Trump faz. Como os Estados Unidos vêm lidando com os ataques do
presidente à imprensa?
Não há precedente nos Estados Unidos de um
presidente atacar a grande mídia como a inimiga do povo americano. Esse tipo de
linguagem parece mais a Itália de Mussolini ou a Alemanha de Hitler. Não é um
linguajar que algum político americano tenha usado antes. Mas isso tudo está se
mostrando pouco efetivo, porque a grande mídia está ganhando assinantes por
estar sendo objeto de ataque por parte de Trump, que é muito impopular. A CNN,
o “Washington Post” e o “New York Times” estão indo muito bem e eles não estão
intimidados. Há o perigo que eles se tornem tão anti-Trump que isso possa dar
força à narrativa de que eles fazem parte de uma conspiração. Temos que esperar
e ver, porque, se Trump continuar presidente por muito tempo, essa situação
pode mudar. Eu espero que não, porque a imprensa tem se mostrado uma
instituição duradoura.
Um ministro do STF (Alexandre de Moraes) afirmou em
entrevista ao GLOBO que o jornalista que publica um documento sigiloso está
cometendo um crime. Como o senhor vê esse tipo de afirmação?
Jornalismo em geral é uma importante instituição de
fiscalização em qualquer democracia. O jornalismo controla os poderosos e dá
limite a seus poderes. A razão desse tipo de ataque populista é porque os
populistas querem poder e jornalistas estão expondo as coisas erradas. Isso os
enfraquece. Esses populistas fazem da imprensa o foco de suas hostilidades, com
o objetivo de mobilizar suas bases para atacar a imprensa e desacreditá-la aos
olhos das pessoas. Por isso vejo populistas como tão perigosos para a
democracia, porque não podemos ter democracia sem a imprensa livre para ser um
mecanismo de controle dos poderosos.
Fake news também já são um problema no Brasil.
Como, a um ano das eleições nacionais, podemos criar mecanismos para lidar com
o problema e evitar um prejuízo eleitoral semelhante ao que ocorreu nos Estados
Unidos?
Esse é um tema novo e não acho que alguém saiba
realmente como resolver. Os europeus estão tentando lidar com isso por meio da
regulação, especialmente essa lei alemão que vai tentar criminalizar fake news.
Muitas pessoas acham que isso é demais, porque as penas são tão pesadas que
isso vai na verdade afetar a liberdade de expressão. Nos Estados Unidos, não
poderíamos regular as fake news dessa maneira porque o país é muito polarizado
e, se o próprio presidente é um que publica todas essas fake news, é difícil
imaginar que o governo dele vá concordar com algum tipo de limite a isso. Então
nos resta as plataformas de internet regularem por si só. Eu acredito que o
Facebook foi o principal responsável porque ele é o menos transparente e eles
tentaram negar que houvesse um problema. As plataformas precisarão ser
obrigadas a ser mais responsáveis e a entender que elas simplesmente não podem
vender anúncios para russos que estão tentando interferir nas eleições
americanas. Um tipo de regulação que pode ser possível é obrigar a haver a
transparência sobre dinheiro estrangeiro que vá para uma campanha eleitoral.
Nos Estados Unidos, isso é ilegal nas campanhas de televisão, mas, até agora,
não é ilegal na campanha digital. Não é muito difícil mudar a lei para incluir a
internet.
O senhor vê os gigantes digitais, como Facebook,
Google, Apple e Amazon, como uma verdadeira ameaça à democracia ou vê nessa
crítica um exagero?
Toda companhia muito grande que tenha um monopólio
virtual em sua área, como é o caso do Facebook, é um problema. Até agora, as
pessoas confiaram no Facebook porque elas entendem que é uma empresa lucrativa.
Se eles colocarem as visões políticas deles na plataforma, isso vai incomodar
muitos de seus usuários e vai prejudicar os lucros da empresa. Você tem essa
indústria imensamente concentrada não só nos Estados Unidos, mas em todo o
mundo. Há países em que as pessoas só se comunicam na internet usando Facebook.
É muito poder para dar a uma única empresa. Em geral eu sou sempre a favor de
algum tipo de medidas antitruste para tentar limitar o tamanho dessas empresas
e possivelmente dividí-las. Eu entendo que é difícil fazer isso porque o tipo
de rede social que é o Facebook não é algo que você possa dividir em diferentes
partes. Mas eles estão sempre comprando start-ups que os ameaçam.
Para evitar a competição, eles compram os concorrentes e isso certamente é algo
que o governo, se quiser, pode frear.
O ataque terrorista da semana passada em Manhattan
pode mudar a política antiterror dos Estados Unidos?
Não acredito que o ataque por si só vá ter tanto
efeito. O que eu me preocuparia mais é um ataque de grandes proporções, com
armas biológicas ou químicas ou alguma coisa muito espetacular, na escala do 11
de setembro. Porque eu acredito que os Estados Unidos na verdade reagiram ao 11
de setembro de maneira muito moderada dentro de casa. Nós não começamos a
correr atrás de muçulmanos e a colocá-los em campos de concentração e esse tipo
de coisa. Mas agora você tem um presidente e um bando de seguidores que estão
dispostos a fazer coisas assim. Então, acredito que, se houve um ataque mais
grave, pode ser muito perigoso para as liberdades individuais nos Estados
Unidos.
O que o senhor diria para os que estão pessimistas
com o futuro da democracia no mundo?
Já tivemos outros períodos ruins, obviamente os anos
1930 e depois nos anos 1970, quando havia muito descontentamento com a vida nas
sociedades democráticas. Mas as democracias ajustaram suas políticas e elas
conseguiram superar esses momentos de crise, e eu suspeito que vamos fazer o
mesmo agora.
Político,
sou caçador de nuvens. Já fui caçado por tempestades.
Ulysses Guimarães
Ulysses Guimarães
HAVE
WE REACHED THE END OF HISTORY?'
Francis Fukuyama
The RAND Corporation
In watching the flow of events over the past decade
or so, it is hard to avoid the feeling that something very fundamental has
happened in world history. The past year has seen a flood of articles
commemorating the end of the Cold War, and the fact that 'peace" seems to
be breaking out in many regions of the world. Most of these analyses lack any
larger conceptual framework for distinguishing between what is essential and
what is contingent or accidental in world history, and are predictably
superficial. If Mr. Gorbachev were ousted from the Kremliih or a new Ayatollah
proclaimed the millennium from a desolate Middle Eastern capital, these same
commentators would scramble to announce the rebirth of a new era of conflict.
And yet, all of these people sense dimly that there
is some larger process at work, a process that gives coherence and order to the
daily headliies. The Twentieth Century saw the developed world descend into a
paroxysm of ideological violence, as liberalism contended first with the
remnants of absolutism, then bolshevism and fascism, and finally an updated
Marxism that threatened to lead to the ultimate apocalypse of nuclear war. But
the century that began full of self-confidence in the ultimate triumph of
Western liberal democracy seems at its close to be returning full circle to
where it started: not to an "end of ideology" or a convergence
between capitalism and socialism, as earlier predicted, but to an unabashed
victory of economic and political liberalism.
'This article is based on a lecture presented at the
University of Chicago's John M. Olin Center for Inquiry Into the Theory and
Practice of Democracy in February 1989. It will appear in the summer 1989 issue
of the National Interest. The author would like to pay special thanks to the
Olin Center and to Professors Nathan Tarcov and Allan Bloom for their support
in this and many earlier endeavors.
The opinions expressed in this article are the
author's alone and do not reflect those of the RAND Corporation or of any
agency of the U.S. government.
JOURNAL ARTICLE
Reflections
on the End of History, Five Years Later
Francis Fukuyama
History and Theory
Vol. 34, No. 2, Theme Issue 34: World Historians and
Their Critics (May, 1995), pp. 27-43
Published by: Wiley for Wesleyan
University
DOI: 10.2307/2505433
Stable URL: http://www.jstor.org/stable/2505433
Page Count: 17
Submerso
nas águas de Angra, me quedo.
CHARIVARI
E RITUAL JUDICIÁRIO:
A CAVALGADA INFAMANTE NA EUROPA MEDIEVAL
José Rivair Macedo (Depto. de História – UFRGS)
“(...)Além disso, ao contrário do charivari das
segundas núpcias, sua ocorrência parece dizer respeito tanto a desvios em
ambito «doméstico» (adultério; inversão de papéis no interior do lar) quanto
àqueles que, na atualidade, denominaríamos de ambito «público» (punição de
autoridades civis e religiosas; hereges; feiticeiros). (...)”
As práticas do charivari, realizadas nos quatro
cantos da Europa até pelo menos o século XIX, foram amplamente estudadas por
folcloristas, antropólogos e historiadores. Embora as evidências documentais
tenham sido mais abundantes quando se tratava de manifestações coletivas
desencadeadas por ocasião das segundas núpcias de viúvas ou viúvos, sabe-se da
organização do desfile jocoso para execrar indivíduos que de algum modo
ameaçavam as normas familiares ou comunitárias, como : moças que trocavam um
rapaz da comunidade por estrangeiro; moças de vida desregrada; noivas que se
casavam grávidas usando véu ou outras insígnias da virgindade; rapazes que se
entregavam à viúvas; mulheres declaradas adúlteras; moças envolvidas com homens
casados; maridos enganados pela esposa; maridos excessivamente violentos ou
excessivamente fracos – sobretudo aqueles surrados pela mulher1 . Nestes casos,
havia o costume de fazer o indivíduo a ser execrado montar ao contrário num
asno e expô-lo desta maneira diante de toda a comunidade. Era o que, na França,
denominava-se « asouade » ou «asoada » 2 , e, na Inglaterra, riding the stang
ou skimmington ride3 .
1 Ver, em particular, Jacques LE GOFF &
Jean-Claude SCHMITT (orgs). Le Charivari. Actes de la table ronde organisée à
Paris (25-27 avril 1977). Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales;
Paris: Mouton Éditeur; New York: La Haye, 1981; Claude GAUVARD & Altan
GOKALP. “Les conduites de bruit et leur signification à la fin du Moyen Age: le
charivari”. Annales ESC, 29-3, 1974, pp. 693-704; Jean-Claude MARGOLIN. “Charivari
et mariage ridicule au temps de la Renaissance”. In: Jean JACQUARD & Elié
KONIGSON (éds). Les fêtes de la Renaissance. Paris: Éd. du CNRS, 1975, t. 2, pp
579-601; Natalie Zemon DAVIS. “Razões do desgoverno”. In: IDEM. Culturas do
povo: sociedade e cultura no início da França moderna. Trad. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1990, pp. 87-106.
2 Neste aspecto, ver Arnold VAN GENNEP. Manuel de
folklore français contemporain. Paris: A. et J. Picard, 1946, t. I-2, p. 618 e
Arlette LEBIQUE. “Scaramouche ou les infortunes de l’adultère”. L’Histoire
(Paris), n. 41, 1982, pp. 82-84.
3 Ver E. P. THOMPSON. “Rough music”. In: IDEM.
Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. Trad. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998, pp. 353-397; Auguste BRICTEUX. “Le chatiment
populaire de l’Infidelité conjugale”. Revue Anthropologique (Paris), v. 33, 1922,
pp. 322-328.
Referências
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/11/luiz-werneck-vianna-politica-os.html#more
http://mundovelhomundonovo.blogspot.com.br/2015/03/velho-sim-velhaco-nao-ulysses-guimaraes.html
https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-um-populista-perigoso-diz-professor-de-stanford-22029047
file:///D:/Usu%C3%A1rio/Downloads/ADA228233.pdf
http://www.jstor.org/stable/2505433?seq=1#page_scan_tab_contents
http://www.pem.historia.ufrj.br/arquivo/joserivair005.pdf
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