Eu sabia que você um dia Me procuraria em busca de paz Muito remorso, muita saudade Mas afinal o que é que lhe traz? A mulher quando é moça e bonita Nunca acredita poder tropeçar Quando os espelhos, lhe dão conselhos É que procuram em quem se agarrar E você pra mim foi uma delas Que no tempo em que eram belas Viam tudo diferente do que é Agora que não mais encanta Procura imitar a planta As plantas que morrem de pé E eu lhe agradeço por de mim ter se lembrado Entre tantos desgraçados que em sua vida passou Homem que é homem faz qual o cedro Que perfuma o machado que o derrubouE como homenagem visual, uma charge do próprio cronista-inspiração: 🔗 kimcartunista.com.br – Veríssimo por Kim
Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Blah Blah Blah Blah
GO JA JA JA
Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah Blah.
ALL WE EVER HEAR FROM YOU IS BLAH BLAH BLAH
ALL WE EVER DO IS GO JA JA JA
AND WE DON'T EVEN CARE ABOUT WHAT THEY SAY
CAUSE IT'S JA JA JA JA
BLAH BLAH BLAH BLAH
Manhã de Sábado
Uma crônica muito séria sobre um esquecimento, três estações e a tragicomédia da vida urbana, em público e em filas.
Manhã de sábado.
Aquela manhã com gosto de fim de mês e cheiro de segunda-feira ruim, já anunciada na televisão: os preços dos remédios subirão.
Para mais.
Sempre para mais.
Um senhor de idade já negociada com a previdência, empunha sua receita médica como quem leva uma carta da ONU.
Folha de papel ofício, timbrada pela urgência de viver.
Ele percorre o centro de Juiz de Fora com a alma aos pedaços e os bolsos em alerta. Cada farmácia é uma estação. Cada compra, uma concessão ao absurdo.
Última parada: Souza da Batista.
Ritual conhecido.
Primeiro, a fila para o balcão. O balconista examina a receita com olhos clínicos e dedos apressados.
Confere, calcula, separa.
Depois, o caixa.
Pagamento.
Suspira.
A cruz pesa mais com o comprovante.
Terceira estação: o balcão de retirada.
Um funcionário lento, zen e quase transparente, recolhe o papel, organiza os remédios em sacolas e estende ao ar — como quem segura o cálice numa missa.
Mas o senhorzinho sai sem as sacolas.
Esquece.
Minutos depois, o retorno.
Esbaforido, bufando, com o rosto vermelho de indignação e calor, ele vocifera:
— “Por que não me avisaram antes?”
O funcionário, sem sequer franzir a sobrancelha, ergue o braço.
Entrega a sacola.
Silêncio.
A cruz volta para os ombros de quem a carregou.
O senhor sai novamente.
E novamente retorna.
Desta vez, o esquecimento é eletrônico: o celular ficou no balcão.
O funcionário mineiríssimo, quase um haicai em forma de gente, aponta para o aparelho:
— “O senhor esqueceu isso aqui também.”
E mais uma vez, o velho volta.
Mais pesado.
Mais resignado.
Talvez menos zangado.
Ou mais acostumado.
Fim da cena.
O narrador — este fofoqueiro que vos fala — não conseguiu ver o rosto do senhorzinho ao receber o celular.
Estava de costas.
Mas o silêncio falou mais do que qualquer reclamação.
E como não há lição nem moral, só nos resta admitir:
A vida é mesmo esse teatro em três atos, com sacolas esquecidas, celulares largados e funcionários que não se abalam.
É a comédia da vida privada… em público.
Epílogo Musical: Castigo
Lupicínio Rodrigues & Alcides Gonçalves
Interpretada em pensamento, ao fundo, por um rádio antigo na farmácia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário