domingo, 26 de janeiro de 2020

Tédio à falsas polarizações








“Diante da revolução tecnológica global, a subordinação da ciência à religião e da razão à fé não tem a menor chance de dar certo. É um tiro no próprio pé. ‘Eppur si muove!’”






Ele aproveita para cutucar os que acreditam que a terra é plana. ... com certeza que a terra é redonda e azul, como diziam os astronautas." ... Foi a última obra citada na novela, que incentivou a leitura ao falar de ... O capítulo final também teve espaço para as trapalhadas de Diogo (Armando Babaioff).




"Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".




Duvida-se se Machado de Assis as suportaria quase 200 anos após sua morte.




"A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação".




Confiando na sapiência e admiração de Astrojildo Pereira pelo mestre:



“...Quando, porém, a matéria o agravava, aborrecia ou obrigava, aí a coisa mudava de figura, e então aceitava o debate e sustentava sem temor a sua opinião — inclusive em questões de natureza política.”.




“Tédio à controvérsia




Seja sob a pena do ficcionista, do jornalista, do folhetinista ou do crítico, Machado de Assis notabilizou-se pelo “tédio à controvérsia”, atitude recorrente em muitas de suas personagens, a exemplo do Conselheiro Aires, um dos narradores do romance Esaú e Jacó, romance de 1904, e, respectivamente, de Memorial de Aires, de 1908, ano de falecimento do autor. Diplomata de carreira, Aires regressa à pátria, depois de servir a embaixada brasileira em Bogotá por cerca de trinta anos. O suposto “tédio à controvérsia” estimulou não raros críticos, sobretudo os contemporâneos de Machado, a atribuir-lhe a pecha de “absenteísta”, ou seja, não comprometido política, social e ideologicamente com questões capitais para a modernização e a liberalização do Estado brasileiro. O contexto histórico é o da passagem da monarquia para a república, da abolição da escravatura, dentre outros acontecimentos polêmicos. As posições político-filosóficas atribuídas ao autor de Memórias póstumas de Brás Cubas de certo modo o estigmatizaram como um escritor e intelectual omisso. Não obstante, o conteur carioca, ainda que sob o disfarce dos eufemismos ou da ironia, nunca deixou de marcar firmemente suas posições críticas fosse frente à política, fosse frente a discriminações econômicas, sociais ou raciais.


Astrogildo(sic) Pereira, leitor crítico de Machado, assevera que o “tédio à controvérsia”, de fato patente tanto em produções ficcionais quanto em posições pessoais do escritor, deveu-se muito menos à indiferença ou à omissão em face de provocações do que à sua aversão ao vício da “controvérsia pela controvérsia”, ao bate-boca sem propósito engendrado pelo “furor polemístico” que constituía uma forte tônica do contexto intelectual em que ele esteve, a seu tempo, cabalmente envolvido.”




“Convém lembrar que Machado de Assis viveu num tempo em que a ‘polêmica’ literária e jornalística era o pão nosso de cada dia do público ledor, divertimento, mania e vício, vulgarizados e aviltados sob a forma de ‘a pedidos’ nas colunas pagas dos grandes jornais. [...] Baste-nos conjeturar que Machado de Assis ter-se-ia provavelmente fatigado de tantas e tamanhas controvérsias quase sempre de resultados estéreis. O enjoo delas é o que o teria firmado no propósito de evitá-las [...] em boa concordância com seus modos polidos e comedidos. Quando, porém, a matéria o agravava, aborrecia ou obrigava, aí a coisa mudava de figura, e então aceitava o debate e sustentava sem temor a sua opinião — inclusive em questões de natureza política (PEREIRA, 1991, p. 84-85).”
Recepção de Eça de Queirós por Machado de Assis The reception of Eça de Queirós by Machado de Assis Marli Fantini Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil










Recepção de Eça de Queirós por Machado de Assis
Marli Fantini

Resumo

Este ensaio visa demonstrar que, não obstante a agudeza de sua recepção crítica ao romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, Machado de Assis, de certa forma equivocou-se ao classificar a obra eciana como apenas mais um “romance de tese”, o que contribuiu para estigmatizar essa obra e reduzir-lhe o valor. Diferentemente, acreditamos que o surpreendente desnudamento da ficcionalidade encenado em O Primo Basílio faz dele menos um romance de tese do que uma tese sobre o novo romance a se inscrever no experimentalismo flaubertiano do metarromance sem telos e sem outra finalidade senão conter, em seu modo de estruturação, o próprio sistema explicativo.

Palavras-chave

Eça de Queirós: O primo Basílio; Atos de fingir; Desnudamento da ficcionalidade; Nova sensação estética

Texto completo:
Referências

BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoievski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
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COLEMAN, Alexander. Uma reflexão a respeito de Eça de Queirós e Machado de Assis. In: Actas do 1º Encontro Internacional de Queirosianos. Porto: Edições ASA, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 22 a 25 de novembro de 1988.
FREUD, Sigmund. Uma neurose infantil e outros trabalhos. Tradução de Adelheid Koch et al. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v.17.
ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
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MACHADO DE ASSIS, J. M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. Eça de Queirós: O primo Basílio.
MINÉ, Elza. Páginas flutuantes: Eça de Queirós e o jornalismo do século XIX. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000a.
PEREIRA, Astrogildo. Machado de Assis: ensaios e apontamentos avulsos. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1991.
QUEIRÓS, Eça de. Obra completa. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1970. O Primo Basílio.
QUEIRÓS, Eça de. O brasileiro. In: ABDALA JUNIOR, Benjamin (Org.). Ecos do Brasil: Eça de Queirós, leituras brasileiras e portuguesas. São Paulo: Senac, 2000.
QUEIRÓS, Eça de. Uma campanha alegre (de “As farpas”). Lisboa: Edição “Livros do Brasil”, 2000b.
REIS, Carlos. Leitores brasileiros de Eça de Queirós: algumas reflexões. In: ABDALA JUNIOR, Benjamin (Org.). Ecos do Brasil: Eça de Queirós, leituras brasileiras e portuguesas. São Paulo: Senac, 2000.
ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: Estudo comparativo de literatura brasileira. São Paulo: Ed. da UNICAMP, 1992.
SIMÕES, João Gaspar. Estudo crítico-biográfico. In: QUEIRÓS, Eça de. Obra completa. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1970.









O que significa a frase "ao vencedor, as batatas"?

Se você vencesse uma batalha, gostaria de receber homenagens e medalhas ou conseguiria contentar-se com batatas como prêmio pelo triunfo? Pois é exatamente isto o que sugere Machado de Assis no romance Quincas Borba: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".




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O livro narra a trajetória de Rubião, professor que se torna rico de uma hora para outra ao receber uma herança deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada Humanitismo.

Após receber a herança, Rubião deslumbra-se com a nova vida e acaba traído por um casal de amigos, que rouba sua fortuna. No final da vida, pobre e doente, ele relembra um ensinamento de Quincas Borba, que sintetiza o Humanitismo.

Para explicar sua teoria, o filósofo evoca uma história sobre duas tribos famintas diante de um campo de batatas, suficientes apenas para alimentar um
 dos grupos. Com as energias repostas, os vencedores podem transpor as montanhas e chegar a um campo onde há uma grande quantidade de batatas. Então, Quincas Borba finaliza: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".






Machado de Assis
Foto: Reprodução




Quincas Borba faz, ainda, um comentário: "A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação". Para a professora de Literatura Brasileira Ana Maria Lisboa Mello, "a vitória de uma das tribos provoca hinos, alegrias e outros efeitos das ações bélicas e aponta para a conquista de outro território. Essas demonstrações revelam que o homem comemora aquilo que lhe é vantajoso ou aprazível, ainda que isso implique a ruína de outros".

De forma bastante resumida, a frase significa que os vencedores podem desfrutar das batatas nos campos de guerra, simplificando ao máximo o Humanitismo e seu preceito básico de que, na luta pela sobrevivência, quem vence é o mais forte.

Conforme a professora Ana Maria Lisboa Mello, "a teoria do Humanitismo é pessimista e aponta para o absurdo da existência, opondo-se à filosofia do Humanismo, que valoriza o homem, colocando-o no centro de tudo".

Com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899), o romance Quincas Borba, publicado em 1891, é considerado uma das obras-primas de Machado de Assis (1838-1908).

A filosofia do Humanitismo, desenvolvida de maneira mais detalhada em Quincas Borba, havia sido introduzida por esse mesmo personagem em Memórias Póstumas de Brás Cubas.









domingo, 26 de janeiro de 2020
Luiz Carlos Azedo - Criacionismo no poder
- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Diante da revolução tecnológica global, a subordinação da ciência à religião e da razão à fé não tem a menor chance de dar certo. É um tiro no próprio pé. ‘Eppur si muove!’”

Houve vários momentos históricos de resultados desastrosos em consequência de políticas que, por razões religiosas e/ou dogmáticas, trataram a ciência com censura ou indução ideológicas. Por exemplo, a perseguição do Colégio de Roma aos monges matemáticos italianos, porque consideravam uma heresia o cálculo infinitesimal, que foi fundamental para o desenvolvimento da Ciência e a Revolução Industrial na Inglaterra. O mesmo aconteceu com a medicina europeia na Idade Média, com a perseguição aos médicos seculares e o desprezo pelas culturas judaica e islâmica por parte da Inquisição espanhola.

O fundamentalismo ideológico pode ser um desastre para o desenvolvimento, como na agricultura soviética, em razão das teorias genéticas de Trofim Lizenko. Ainda mais num momento em que o mundo passa por aceleradas transformações, em razão de novas descobertas da ciência e da permanente inovação tecnológica, em todas as áreas de atividades produtivas, que são impactadas pelos novos conhecimentos. No Brasil, que já enfrenta um retardo científico e tecnológico considerável, pelos mais diversos motivos, esse risco aumenta porque o governo Bolsonaro promoveu a algumas posições estratégicas de mando pessoas obscurantistas e reacionárias, algumas das quais se ufanam do seu próprio “analfabetismo científico”, a ponto defender a tese estapafúrdia de que a Terra é plana.

O falecido astrofísico norte-americano Carl Sagan dizia que a ignorância em ciência e matemática nos dias atuais é muito mais danosa do que em qualquer outra época. Essa é a raiz, por exemplo, da negação de fatos cientificamente comprovados, como o aquecimento global, a diminuição da camada de ozônio, a poluição do ar, o lixo tóxico e radioativo, a chuva ácida, a erosão da camada superior do solo e o desflorestamento da Amazônia, temas que estiveram no centro dos debates do recém-realizado Fórum Econômico Mundial, em Davos.

A nomeação de Benedito Guimarães Aguiar Neto, reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, para presidir a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes), é mais uma decisão do presidente Bolsonaro na linha de subordinação das políticas públicas do governo federal ao crivo ideológico-religioso, embora o Estado brasileiro seja laico, segundo a Constituição de 1988. A Capes é o principal órgão responsável por conceder bolsas de pós-graduação e fomentar pesquisas; boa parte do conhecimento científico produzido no país deve-se a isso.

Benedito pavimentou sua ascensão ao cargo com declarações e frases de efeito que agradaram ao presidente da República, principalmente, sua enérgica intervenção no congresso da instituição, em novembro passado, na qual defendeu “um contraponto à teoria da evolução”. Na ocasião, propôs que se discutisse o criacionismo a partir da educação básica, com “argumentos científicos”, o chamado “design inteligente”. O ensino do criacionismo em instituições oficiais, porém, é contestado no mundo inteiro. A discussão proposta pelo presidente da Capes, na verdade, é uma cortina de fumaça para o profundo golpe sofrido pela pesquisa científica no Brasil: o MEC cortou pela metade o orçamento do órgão, reduzindo-o de R$ 4,25 bilhões, em 2019, para R$ 2,2 bilhões, em 2020. Além disso, a Capes teve R$ 300 milhões contingenciados no ano passado, deixando de oferecer 2,7 mil bolsas.

As origens
A polêmica “criação versus evolução” é uma disputa cultural, política e teológica recorrente sobre as origens da Terra, da humanidade, da vida e do universo, que envolve os campos da geologia, paleontologia, termodinâmica, física nuclear e cosmologia. Hoje, é protagonizada pelos Estados Unidos, com apoio de Donald Trump. Envolve a definição da ciência, a educação científica, a liberdade de expressão, a separação entre Igreja e Estado e a teologia. É um debate rejeitado pela maioria dos cientistas. Mesmo entre os teólogos, não é uma discussão simples. No fim do século 18, com o avanço da ciência e do Iluminismo, os teólogos foram em busca de novas explicações para os fenômenos que preservassem a coexistência entre a religião e a ciência, a razão e a fé, para evitar que o cristianismo fosse ultrapassado pelo materialismo.

O pulo do gato foi equiparar a crença aos sentimentos, seguindo a trilha do romantismo, que colocava a emoção acima da razão, em vez de utilizar os mesmos critérios do conhecimento científico, equiparando experimentação e “revelação”, para provar a verdade do cristianismo. A ciência usa a razão humana para descobrir as coisas do mundo e explicar como ele existe; a Bíblia registra a experiência religiosa de seus autores, explica por que o mundo existe como ele é. Dessa forma, a ciência pertence ao conhecimento, a ação à ética e o sentimento, à religião. “Deus existe” é um sentimento que depende de algo maior do que nós mesmos, não precisa de comprovação.

Essa visão foi batizada como “liberalismo protestante”, mas acabou sendo muito contestada por teólogos neo-ortodoxos, porque afastava a autoridade religiosa do âmbito público. Esse debate estava apartado da nossa política, mas não está mais, porque o governo Bolsonaro é “terrivelmente evangélico”. Diante da revolução tecnológica global, porém, a subordinação da ciência à religião e da razão à fé não tem a menor chance de dar certo. É um tiro no próprio pé. “Eppur si muove!” (Mas ela se move), como disse Galileu Galilei, referindo-se à Terra, perante a Inquisição Católica.











Autor desconhecido

Na Câmara Municipal de Araraquara os vereadores devem ler um trecho da Bíblia antes do início de cada sessão parlamentar. O vereador escolhe o trecho que vai ler.

Eu escolheria a passagem quando Moisés mandou matar a pedradas um homem que colhia lenha no sábado.

Ou quando Deus mandou duas ursas matarem 42 crianças que zombavam da calvície de Eliseu.

Ou quando as filha de Ló deram um porre no pai e transaram com ele.

Ou quando Deus matou todos os seres vivos do planeta, exceto a turma que estava na Arca do Noé.

Ou quando Deus dizimou as cidades de Sodoma e Gomorra, inclusive as crianças.

Ou quando Deus matou os filhos mais velhos de todos os egípcios.

Ou quando o sujeito entregou sua filha para ser estuprada e morta por um grupo de homens.

Ou quando Davi arrancou o prepúcio de 200 homens para dar de dote do seu casamento.

Ou quando Deus mandou as pessoas matarem seus irmãos e amigos e, como resultado, 3 mil foram mortos em um único dia.

Ou quando Paulo disse que tudo bem ter escravos e matá-los, desde que a morte não seja lenta e sofrida.

Ou quando Deus tornou uma mulher leprosa por ter criticado Moisés.

Ou quando Deus mandou exterminar os cananeus.

Ou quando Moisés mandou matar todos os midianitas.

E por aí eu seguiria, só com histórias bacanas do livro sagrado.






*O tempo voa !!* No inicio de 2020 será comemorado o aniversário de 35 anos de "We Are The World".





Referências




https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/12209/7603
https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/12209
https://p2.trrsf.com/image/fget/cf/460/0/images.terra.com/2017/09/05/o-olhar-de-machado-de-assis.jpg
https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/o-que-significa-a-frase-ao-vencedor-as-batatas,fe4307573f43348c8a6f8f30a8125f9b1tz1rywo.html
http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/01/luiz-carlos-azedo-criacionismo-no-poder.html
https://youtu.be/wdDEkXq50ds

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