quarta-feira, 8 de maio de 2019

Dia da Vitória Europa 8.5.1945




8 DE MAIO DIA DA VITÓRIA

O dia 8 de maio de 1945 marcou o momento em que o mundo celebrou a rendição incondicional das forças germânicas na Segunda Guerra Mundial, assinalando o fim de um dos conflitos mais sangrentos pelo qual passou a humanidade.

Em 1939, a rápida invasão da Polônia pelas Divisões Panzer de Hitler deu início à contenda que, em pouco tempo, adquiriu proporções globais. O afundamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães em nosso litoral foi decisivo para que, em 31 de agosto de 1942, Getúlio Vargas declarasse guerra às potências do Eixo.

O esforço empreendido pelo Brasil junto aos Aliados não se resumiu somente ao apoio logístico. Lutamos em solo europeu com arrojo e determinação. O 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB) partiu para o Teatro de Operações da Itália no dia 2 de julho de 1944, sob a escolta vigilante das belonaves da Marinha do Brasil e tendo à frente o General Mascarenhas de Moraes.

No contexto da guerra, a FEB participou decisivamente do rompimento das duas últimas linhas de defesa alemãs que barravam o acesso ao norte da Itália e ao sul da Alemanha. Essas posições fortificadas nos Montes Apeninos, região montanhosa de difícil progressão, foram o palco principal onde nossos pracinhas conquistaram inúmeras vitórias, mas também deixaram seu suor e seu sangue.

Em 239 dias ininterruptos de intensos combates, com o apoio aéreo preciso dos ases da Força Aérea Brasileira, destacam-se as vitórias em Monte Castelo, após quatro tentativas; Montese, uma das mais sangrentas, com 426 baixas brasileiras; Collecchioe Fornovo, quando aproximadamente 20 mil experientes combatentes, a maioria da 148ª Divisão de Infantaria Alemã, além da 90ª Divisão Panzer Granadier e de italianos, da Divisão Bersaglieri, renderam-se à FEB.

Na Europa, quase 500 brasileiros tombaram em combate, entre eles o jovem Aspirante Francisco Mega e o experiente Sargento Max Wolf Filho, bravos heróis brasileiros aos quais dedicamos toda a reverência e inspiração. A paz que hoje prevalece é fruto do sacrifício de bravos soldados que, como eles, deram suas vidas pela paz e liberdade.

Passados 74 anos, fica aos brasileiros a certeza de que os militares do seu Exército, força singular de hoje e de sempre, específica e peculiar, estarão sempre prontos para cumprir o chamado da Pátria, para defender seu povo e sua soberania com o sacrifício da própria vida.

Aos soldados de Caxias, que o grito de vitória que ecoou nas escarpas do norte da Itália continue a empolgar cada um, e que a lembrança dos feitos dos nossos pracinhas permaneça inesquecível em nossos corações.

Salve a Força Expedicionária Brasileira!

Salve o Exército de Caxias!

Viva o Dia da Vitória!




Comemoração ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial





D-Day to V-E Day

World War II continued for almost 11 months after the successful Normandy landings in France on June 6, 1944, commonly known as D-Day. Here are some of the key moments that led to Victory in Europe Day on May 8, 1945.



BATALHA DE MONTESE: 70 ANOS DA HISTÓRICA ATUAÇÃO BRASILEIRA EM UM DOS MAIS SANGRENTOS COMBATES DA II GUERRA

Brasília, 14/04/2015 – Há 70 anos, durante a II Guerra Mundial, o Brasil deu um importante passo que marcaria para sempre a história de suas Forças Armadas. No dia 14 de abril de 1945, teve início um dos mais árduos combates travados pelos brasileiros contra os nazistas na Itália: a Batalha de Montese, na qual a atuação de tropas brasileiras foi considerada essencial para retomada da Itália e posterior vitória dos aliados contra as tropas alemãs.

Reprodução FEB
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Tomada de Montese
Depois de entrar oficialmente na Guerra, graças aos ataques de submarinos alemães a navios brasileiros, o Brasil passou a preparar seus militares para o combate.  O adestramento da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocorreu inicialmente na Vila Militar, no Rio de Janeiro, e seguiu com a chegada do 1º Escalão à Itália, em 16 de julho de 1944.
Além do terreno complicado e do clima extremamente frio, os soldados brasileiros tiveram que se adaptar ainda a novos armamentos, equipamentos e uniformes, bem diferentes dos que estavam acostumados a manusear no Brasil. Após uma intensiva preparação em território europeu, os chamados pracinhas já estavam aclimatados e adaptados ao ambiente operacional.
As tropas aliadas avançavam, desde o início do ano de 1945, contra os inimigos na Itália, mas, para conquistar o norte, era preciso dominar a região estratégica de Montese. “A posse de Montese era decisiva para a vitória final, pois, determinaria a evolução do cenário e o prosseguimento da Guerra na Itália”, explica o general Gerson Menandro, chefe de Assuntos Estratégicos do Ministério da Defesa (MD) e especialista no tema.
Segundo o general, para retomar a região, a missão dos brasileiros foi dividida em duas fases: uma com o lançamento de fortes patrulhas destinadas a capturar a primeira linha de alturas de posse do inimigo, e outra de ataque, precedida de intensa preparação de artilharia, apoio de blindados e cortina de fumaça.
De acordo com o general da reserva do Exército, Luiz Eduardo Rocha Paiva, a Vila de Montese foi a parte mais significativa da ação brasileira. "O ataque começou às 9h35, do dia 14 de abril de 1945, feito pelo 11º Regimento de Infantaria de São João Del Rei, e se prolongou até as 15 horas.  Para ele, a conquista de Montese é significativa porque rompeu as linhas inimigas “Gótica” e “Gengis Khan”, permitindo que os aliados cercassem 148ª Divisão e aprisionando cerca de 21 mil homens.

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Apesar da vitória, a Batalha de Montese foi uma das mais sangrentas da história das Forças Armadas, com mais de quatrocentas baixas (mortos e feridos). A topografia favorecia o defensor alemão, que ocupava posição dominante no terreno. Outro fator relevante foi a forte resistência alemã, por causa da importância estratégica da área. Eles reagiram minando campos, e por contra-ataques com blindados, bombardeios e morteiros. “O Brasil lutou contra a maior máquina de guerra que era o Exército alemão”, explica o professor Thiago Tremonte de Lemos, que ministra História Contemporânea na Universidade de Brasília.

Foto: Jorge Cardoso
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“A posse de Montese era decisiva para a vitória final", explica o general Gerson Menandro, do MD.

A repercussão da vitória
O professor - cuja especialidade é a instrução militar do Exército Brasileiro - destaca como a derrota alemã em solo italiano foi importante. “Ao final da guerra, o Brasil adquire um novo conhecimento em doutrina militar e isso foi fundamental para as nossas Forças Armadas".
A vitória em Montese, e a consequente retomada da região do rio Panaro, foi fundamental para que os aliados conseguissem vencer a Guerra. Por isso, a atuação dos pracinhas brasileiros foi enaltecida pelos comandantes aliados.

Foto: PH Freitas
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General Luiz Eduardo Rocha Paiva: "a Vila de Montese foi a parte mais significativa da ação brasileira".

O general Crittenberger, comandante do IV Corpo-de-Exército Norte-Americano, entusiasmado com a atuação brasileira, chegou a declarar: “na jornada de ontem, 14 de abril, só os brasileiros mereceram as minhas irrestritas congratulações; com o brilho do seu feito e seu espírito ofensivo, a Divisão Brasileira está em condições de ensinar às outras como se conquista uma cidade.”
Após a atuação na II Guerra, com destaque para a violenta Batalha de Montese, o Brasil passou a ter outra visão com relação ao preparo de suas tropas. “As Forças Armadas tiveram como ensinamento que devemos manter nossas Forças Armadas fortes, bem preparadas e equipadas, atentas aos avanços tecnológicos do mundo na área de Defesa”, afirma o general Menandro.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa
61 3312-4071





14-04-1945 - A Batalha de Montese - 1º Dia


Comemoração da liberação de Montese-Itália / FEB. Em 2014.



 Liberatori - Cap 4 - A conquista de Montese, a rendição alemã e o fim da guerra




Memória: Jacob Gorender - O PCB, a FEB e o marxismo
Teoria e Debate nº 11 - julho/agosto/setembro de 1990

A trajetória do ex-dirigente do PCB sempre esteve ligada à do país. Crítico do stalinismo, ele não poupa as figuras de Diógenes de Arruda e Luís Carlos Prestes, seus contemporâneos na Direção do partidão. E, apesar de reconhecer a crise do socialismo, declara: "Eu continuo marxista".
por Alípio Freire e Paulo de Tarso Venceslau*

Comunista, judeu, filho de imigrantes russos, Jacob Gorender nasceu em Salvador, em 20 de janeiro de 1923. Sua trajetória passa pela campanha expedicionária, na Itália; por Moscou, durante o 20º Congresso do PCUS; e deságua no presídio Tiradentes, nos anos 70. Autodidata, é autor de diversos livros, entre os quais O escravismo colonial, Combate nas trevas, A escravidão reabilitada e Marcino e Liberatore (diálogos sobre marxismo, social-democracia e liberalismo). Nos últimos anos, Gorender vem se dedicando ao estudo de temas da política e da economia internacional. Tornou-se professor visitante do Instituto de Estudos Avançado da Universidade de São Paulo e ministrou em 1997 um curso de pós-graduação sobre "História e Marxismo", no Departamento de História da USP. Jacob Gorender é casado com Idealina da Silva Fernandes, filha de Hermogênio da Silva Fernandes, um dos fundadores do Partido Comunista. Filiado desde 1994 ao Partido dos Trabalhadores, Jacob concedeu esta entrevista, em 1990, a Alípio Freire e Paulo de Tarso Venceslau.


Como foi seu processo de formação? A sua ida para a Itália, como voluntário na Força Expedicionária, foi resultado de uma reflexão político-ideológica?
Sem dúvida, a apresentação como voluntário para a FEB, em 1943, quando tinha 20 anos, já é conseqüência de todo um processo anterior da minha formação política. Eu nasci numa família judia, muito pobre. Meus pais vieram do antigo Império Russo. Meu pai, da Ucrânia. Minha mãe, da Bessarábia. Meu pai morou um tempo em Odessa, onde viveu os acontecimentos formidáveis de 1905. Estava no cais do porto, quando ali ancorou o encouraçado Potemkim. No mesmo ano ele lutou, de armas na mão, ao lado de revolucionários russos, contra os bandos de reacionários que pretendiam massacrar os judeus. Depois, com o fracasso da Revolução de 1905, com os pogroms e toda a repressão terrível que se desencadeou, ele se incorporou à grande vaga judaica que saiu da Rússia. Afinal, Nathan Gorender veio ter a Salvador. Ali se fixou e se casou com minha mãe, Anna, que chegou mais tarde. Os cinco filhos e meus pais pertenciam àquela categoria dos judeus sem dinheiro descritos num romance de Michael Gold, célebre nos anos 30. Morávamos em cortiços e, às vezes, tínhamos dificuldades sérias até para atender necessidades elementares, como alimentação e roupa. Isso marcou minha mentalidade em formação. Mas não só isso: meu pai era um homem de esquerda, anti-sionista — como, aliás, a maioria dos judeus daquela época —, e me falava do movimento revolucionário russo. Fizera apenas o curso primário, mas lia avidamente. Exerceu forte influência nas minhas inclinações. Interessante é que me tornei materialista não por via do marxismo, mas do darwinismo. Aos 12 anos, aproximadamente, comprei, num sebo da praça da Sé, em Salvador, um volume de Haeckel, um darwinista alemão. Aquela leitura me transformou. Procurei informações em outras fontes e aderi ao darwinismo. Sem conhecer nada ainda a respeito do marxismo. A concepção darwinista a respeito da origem do homem erradicou a visão religiosa. Daí porque me desprendi da religião muito cedo. E adquiri uma concepção materialista evolucionista, posteriormente fortalecida pelo marxismo. Com grandes dificuldades, consegui terminar o curso que, naquela época, se chamava ginasial e entrar na faculdade de direito. No ginásio, depois na faculdade, meu horizonte político e cultural ampliou-se. A essa altura, já nos encontrávamos na época do Estado Novo: censura à imprensa, prisões, perseguições. De tudo isso eu ouvia falar.
Duas circunstâncias também tiveram importância na minha formação: a primeira — o fato de ter crescido em Salvador — me proporcionou contato íntimo com a cultura afro-brasileira. Fui impregnado pela sensibilidade estética de origem africana no que diz respeito à música, à visão plástica, à escultura, às cores e à coreografia, sem falar no paladar. A outra circunstância é que a Bahia foi um estado de participação pequena nos acontecimentos de novembro de 1935, quando se deu o levante militar revolucionário em Natal, Recife e Rio de Janeiro. Levante aliancista, mas dirigido pelos comunistas. Em Salvador, a repressão também foi pequena e, como o ambiente na capital da Bahia era menos opressivo do que em outras partes, lá vieram ter comunistas de vários estados, sobretudo do Nordeste. Este afluxo de militantes politizados iria converter Salvador em um centro de esquerdismo com influência nacional nos anos posteriores. E daí se falar até em Grupo Baiano, e coisas do gênero.
O nome de Luís Carlos Prestes se irradiava de forma lendária. Ele estava na prisão e quem fosse de esquerda ou anti-Estado Novo não podia deixar de reverenciá-lo. Ao mesmo tempo, crescia na Europa a vaga nazista, causando preocupações e ansiedade, particularmente entre a comunidade judaica da Bahia.
Comecei a trabalhar aos 11 anos, dando aulas particulares. Em 1940, consegui emprego em um jornal hoje extinto, chamado O Imparcial. Iniciei-me como arquivista aos 17 anos, passei a repórter e depois a redator. Mais tarde, trabalhei em outros jornais em Salvador. Aí, minha politização avançou. Eu era decididamente antifascista e admirava sem reservas a União Soviética. Para esclarecer bem o quadro político e cultural de Salvador, ali não havia nenhum trotskista, tanto quanto pude saber. Quem fosse antifascista e de esquerda admirava a União Soviética e, conseqüentemente, aplaudia Stalin.
No movimento estudantil, já como universitário, foi intensa minha atividade na União de Estudantes da Bahia. Eleito membro de sua diretoria, fui contatado por Mário Alves, já militante do Partido Comunista. Assim, por intermédio de Mário, me tornei militante do PC.
Em que ano foi isso?
No início de 1942. Constituímos uma célula universitária. O PC estava desarticulado do ponto de vista nacional. Em 1940-41, Filinto Müller, o sinistro chefe de polícia [do Estado Novo], tinha conseguido prender quase todos os membros do Comitê Central. Sobreviveram núcleos comunistas em poucos estados, que agiam por conta própria. Na Bahia, os comunistas tiveram uma articulação bastante desenvolvida. Inclusive, fundaram e faziam circular uma revista chamada Seiva, de edição irregular, publicada desde 1939. Foi uma revista para a qual escreveram grandes nomes de orientação liberal, anti-Estado Novo, que iriam se projetar nacionalmente nos anos posteriores, como, por exemplo, Luís Viana Filho, Aliomar Baleeiro, Nestor Duarte e Orlando Gomes. Eu me tornei secretário dessa revista em 1942. Foi sua última fase e a mais intensa, porque se tornou possível editá-la com razoável regularidade.
Em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Eixo e passou a colaborar com os Estados Unidos. Como represália da Alemanha nazista e a Itália fascista, em agosto, navios mercantes brasileiros foram torpedeados no litoral de Sergipe e da Bahia por submarinos, e centenas de mortos vieram ter às praias. A notícia causou comoção. Em Salvador, as massas espontaneamente se lançaram às ruas, atacando e saqueando estabelecimentos comerciais e residências de alemães e italianos. Os estudantes, que tinham certa organização, procuraram tomar a frente dos protestos e evitar atos dessa natureza. Eu me empenhei muito no movimento, fiz discursos em praça pública, concitando à declaração de guerra contra as potências do Eixo.
Isso já dentro do PC?
Eu já estava dentro do PC. Havia uma direção estadual organizada, que tinha ramificações por meio de algumas dezenas de militantes em sindicatos e associações diversas. Alguns desses militantes eram intelectuais, outros eram artesãos e uns poucos propriamente operários. Com escassas indústrias, a Bahia tinha um proletariado pequeno. Depois de uma semana de vigorosas agitações, que ocorreram não somente em Salvador, mas em todo o país, Getúlio Vargas declarou estado de beligerância contra a Alemanha e a Itália, de maneira muito morna, pelos próprios termos da declaração. A atuação dos estudantes, dos antifascistas e dos comunistas se ampliou. Tivemos um campo maior para fazer propaganda, difundir idéias etc.
Em maio de 1943, passou por Salvador o general Manuel Rabelo, então ministro do Superior Tribunal Militar. Juntamente com Oswaldo Aranha, havia fundado a Sociedade dos Amigos da América e estava criando núcleos dessa entidade em vários pontos do país. Ele veio à Bahia e ali foi recepcionado por todas as correntes democráticas e antifascistas que faziam oposição ao Estado Novo. Eu já o tinha entrevistado para um dos jornais do qual era repórter, O Estado da Bahia, mas procurei obter uma entrevista especial para a revista Seiva. O general percebeu que tinha oportunidade de falar com mais amplitude e fez uma crítica direta à condução da política de guerra por Getúlio Vargas e seu ministro, general Eurico Dutra. Já estávamos em 1943 e o general Rabelo declarou (repito de memória): "Nada foi feito. Precisamos estar na frente de guerra, é o nosso dever. Precisamos preparar nossos soldados para combater na Europa contra o nazismo, inimigo da humanidade." E mais: "Tem-se feito o possível para sabotar a nossa participação. Soldados são convocados e submetidos à humilhação de limpar latrinas e estrebarias nos quartéis, sem receber treinamento militar. Urge reverter essa política, desmistificar o anticomunismo e realmente cumprir o nosso dever de participar da abertura da segunda frente." A segunda frente era a ofensiva aliada na Europa Ocidental, que devia ser aberta porque, com isso, o final do conflito mundial seria abreviado. Eu tive o cuidado de mostrar a entrevista na sua forma final ao general e ele aprovou o texto. Todas as publicações estavam sob censura, mas nós driblamos o censor de nossa revista, que era um tanto relaxado, e a entrevista saiu. É evidente que ela chegou logo ao conhecimento das autoridades policiais e militares, na Bahia e no Rio de Janeiro. Provocou escândalo. Considero que esta entrevista do general Manuel Rabelo é a primeira manifestação impressa contra o Estado Novo. Ela é anterior ao famoso "Manifesto dos Mineiros", que começou a circular meses depois. A entrevista não contém uma condenação explícita ao Estado Novo, mas ataca de maneira contundente a sua política, diretamente no que se refere ao esforço de guerra e, indiretamente, às suas inclinações pró-fascistas. Em conseqüência, a revista foi apreendida nas bancas e eu, mais os dois diretores, João e Wilson Falcão, fomos parar na cadeia, indiciados num processo perante o Tribunal de Segurança Nacional. Interpelado a respeito da entrevista, a atitude do general Rabelo foi de irreprochável dignidade: confirmou integralmente o texto. Isso criou uma situação esdrúxula: o entrevistado não podia ser levado a julgamento — tratava-se de um ministro do Superior Tribunal Militar de grande prestígio — mas os jornalistas eram indiciados em processo judicial. Em julho, reuniu-se o Congresso da UNE. Como nos anos anteriores, Getúlio concedeu audiência aos congressistas. Nesse encontro, a nova direção da UNE levantou a questão da nossa prisão. Getúlio mandou anotar e determinou a nossa libertação. O processo foi arquivado, mas a revista deixou de circular. Logo em seguida, o general Dutra viajou para os Estados Unidos. Ali, ele "desceu do muro" e concordou com a formação e envio à Europa de uma Força Expedicionária Brasileira. O comandante militar da região da Bahia, general Demerval Peixoto, esteve no Rio e, na volta, declarou que estava aberto o voluntariado para a FEB. Eu me apresentei voluntário.
E quantos baianos se apresentaram?
Ignoro o total. Passaram pelos exames médicos e foram incorporados à tropa talvez uns 600. Quase nenhum universitário e um certo número de secundaristas. A maioria era gente do povo. Uma parte deles se apresentou como voluntário até como quem procura trabalho, porque o desemprego maciço era crônico na Bahia. Foi no campo de batalha que esses voluntários ganharam motivação ideológica. Alguns deles morreram lutando com valentia.
Você se apresentou como voluntário por orientação do PCB?
Nessa época, o PCB estava desarticulado no plano nacional. Criou-se no Rio, em 1942, a chamada Comissão Nacional de Organização Provisória, celebrizada pela sigla CNOP, a qual tinha à sua frente Maurício Grabois. Depois, juntaram-se a ela João Amazonas e Pedro Pomar, fugitivos do Pará, e Diógenes de Arruda, da Bahia, além de militantes que atuavam no eixo Rio-São Paulo. A CNOP procurou atrair a direção da Bahia, mas esta não aceitou o contato. Havia infiltração policial na esquerda, as quedas de 1940-41 repercutiam e se reproduziam. Considerava-se imprudente ligar-se com qualquer grupo do qual não se tivesse informações seguras. Os dirigentes da CNOP não eram naquela época homens de prestígio nacional. Daí a atitude da direção do PC na Bahia ter sido refratária.
Em julho de 1943, a CNOP resolveu promover uma conferência nacional, obviamente clandestina, em um local da Serra da Mantiqueira. Mário Alves estava no Rio de Janeiro, tomando parte do Congresso da UNE. Contatado por Diógenes de Arruda — que já o conhecia —, aceitou participar da Conferência da Mantiqueira. Embora não tivesse autorização da direção baiana, ele tomou parte na conferência e isso causou irritação em Salvador.
Mário Alves conversou comigo e eu aceitei os argumentos dele, de que a CNOP constituía a representação idônea do PC. Então, comecei a saber o que era a famosa luta interna dos meios de esquerda. Tentamos formar um núcleo da CNOP na Bahia mas, é claro, a direção tinha influência muito maior e o que conseguimos naqueles primeiros meses foi pouco significativo. Entretanto, fizemos uma ligação especial com os marinheiros do encouraçado Minas Gerais, ancorado na Baía de Todos os Santos. Era um pequeno grupo, e um líder deles contatou Giocondo Dias, membro da direção do PC na Bahia. Mas Giocondo o desaconselhou a formar uma base comunista, porque se fosse descoberta daria pretexto a uma provocação policial. Os marinheiros não desistiram e conseguiram contato com a gente da CNOP do Rio de Janeiro, que, por sua vez, os encaminhou para Mário Alves. Eles eram sete ao todo. Esse núcleo, depois, alcançou notável expansão na Marinha, vindo a ter mais de 40 militantes. Por ocasião das quedas no setor militar do PC em 1951-52, alguns sofreram prisão e torturas e outros foram expulsos.
Então, na verdade, minha atitude de ir para a FEB não tem a ver com a direção do PC na Bahia. Tem mais a ver com esse núcleo da CNOP que atuava em Salvador. É fruto, também, da convicção de que constituía o nosso dever o combate ao nazi-fascismo, mesmo com risco de vida. Não iríamos ficar à margem do esforço de guerra brasileiro. E, assim, em novembro de 1943, me incorporei a uma unidade convencional do Exército. Em março de 1944, finalmente, o nosso contingente de algumas centenas de soldados foi transferido para o sul, num navio pessimamente aparelhado, sob a proteção de navios de guerra. Chegamos ao Rio e, depois de um curto período de treinamento, fomos para a Europa. Desembarcamos em setembro em Nápoles. Éramos 10 mil soldados, em dois navios norte-americanos. O segundo contingente da FEB. Durante a viagem, a escolta naval precisou intervir e atacou submarinos alemães, que se aproximavam do comboio.
Qual era a linha do PCB nessa época?
A linha que a CNOP adotava era de união nacional em torno do governo de Getúlio Vargas, na guerra contra o nazi-fascismo e na paz, o que revelava forte inclinação adesista. Para que se faça justiça, deve-se esclarecer que isso era decorrência de uma direção sobre a qual Prestes não tinha influência, porque estava preso e impossibilitado de fazer contatos. Os principais responsáveis por essa palavra de ordem de apoio a Getúlio, na guerra e na paz, eram homens que depois se tornaram ultra-esquerdistas, como João Amazonas, Diógenes de Arruda, Maurício Grabois e Pedro Pomar.
Como foi na Itália?
A minha participação no combate se deu como soldado de um pelotão de transmissões de infantaria. Eu estive sete meses na linha de frente, não raro nos postos mais avançados, para instalar telefones e reparar linhas interrompidas. Passamos quatro meses nos Apeninos, debaixo do fogo da tropa alemã em Monte Castelo e arredores. Não vou dizer que a FEB teve um papel decisivo na guerra. Dos 25 mil brasileiros que partiram para a Itália, cerca de 15 mil estiveram em combate. Muito pouco em comparação aos milhões que lutaram na Europa. Nem por isso subestimamos a contribuição de sangue dos pracinhas brasileiros, sua tenacidade e heroísmo.
Mas o que nos interessa aqui é que a FEB teve uma base comunista. Nunca se falou nisso: é um aspecto da história da FEB abordado pela primeira vez. Essa base comunista incluía soldados e oficiais. Evidentemente, os contatos entre os seus membros eram precários, porque pertencíamos a unidades diferentes e atuávamos num front de 20 quilômetros. Contudo, vez por outra, conforme as circunstâncias, tornavam-se possíveis os contatos. Dessa base comunista na FEB saíram duas iniciativas relevantes. Uma delas foi a de um manifesto, em princípios de 1945, pelo restabelecimento do regime democrático no Brasil, argumentando que a FEB, que lutava contra o nazi-fascismo na Europa, não podia aceitar um regime antidemocrático em nosso próprio país. O manifesto recebeu a assinatura de cerca de 200 oficiais, o que causou enorme repercussão e, decerto, contribuiu para o desmoronamento do Estado Novo.
A outra iniciativa foi a da fundação de uma Associação de Ex-combatentes, quando do nosso regresso ao Brasil. A associação não era comunista, como afirmaram oficiais reacionários, mas os comunistas tinham uma participação importante na diretoria. Possuía tanto prestígio que, depois de sua fundação, no Distrito Federal, surgiram outras associações em diversos estados. Realizamos, em 1947, um grande desfile no Rio de Janeiro, o primeiro dos ex-combatentes, em protesto contra a incúria do governo em relação aos pracinhas. A maioria era de gente pobre, com dificuldades de reintegrar-se à vida civil e encontrar empregos. Não poucos sofriam as seqüelas físicas e psíquicas da guerra. Tinham direito ao amparo do Estado.
A esta altura, desejo manifestar-me sobre uma questão que suscitou controvérsias internacionais. Os comunistas italianos e franceses foram criticados porque não tomaram o poder, no momento do colapso do exército alemão em seus países. Sem avalizar a linha política dos comunistas italianos e franceses — antes, durante e após a guerra —, considero a crítica infundada. Exagera-se a força política e militar de que dispunham os comunistas da Resistência. A iniciativa da tomada do poder implicaria confronto com as numerosas e bem armadas unidades militares dos EUA e da Inglaterra, prestigiadas diante das massas populares como libertadoras da ocupação nazista. Além disso, o Japão ainda não estava derrotado. Terrivelmente sangrada pelo conflito, seria fatal para a União Soviética virar as armas contra os aliados para apoiar insurreições fora de sua área de controle. Observei diretamente a conjuntura, porque me encontrava na Itália.


(...)



Assista a "Liverpool 4 x 0 Barcelona: vitória épica do futebol, da fé e daquele que, historicamente, é maior" no YouTube


Liverpool 4 x 0 Barcelona: vitória épica do futebol, da fé e daquele que, historicamente, é maior


Mauro Cezar
Publicado em 7 de mai de 2019
Fenômeno mais recente, o Barça coleciona títulos há poucos anos, enquanto os Reds foram hegemônicos na Europa e têm uma trajetória gigantesca além de suas fronteiras há mais tempo




Assista a "Hino do Liverpool FC (legendado) ao vivo/Liverpool FC anthem live" no YouTube


Hino do Liverpool FC (legendado) ao vivo/Liverpool FC anthem live


Hino do Liverpool FC( legendado)cantado ao vivo por mais de 95 mil pessoas na Austrália.



Assista a "Liverpool FC 120 anos: reportágem especial Espn-Brasil parte1" no YouTube


Liverpool FC 120 anos: reportágem especial Espn-Brasil parte1

Primeira parte da reportágem especial do videorreporter João Castelo-Branco dos canais ESPN, contando a história do clube no dia do aniversário de 120 anos (15/03/12).




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Referências

http://d30p9ca83oqyng.cloudfront.net/defesanet/site/upload/news_image/2019/05/43482_resize_620_380_true_false_null.png
http://www.defesanet.com.br/ecos/noticia/32809/Dia-da-Vitoria-Europa-%E2%80%93-8-de-maio-/
https://youtu.be/uqPg9C4Rnc8
https://www.youtube.com/watch?v=uqPg9C4Rnc8&feature=youtu.be
https://youtu.be/BBwRc4ig4qE
https://www.youtube.com/watch?v=BBwRc4ig4qE&feature=youtu.be
https://www.defesa.gov.br/arquivos/2015/mes04/montese_inter1.jpg
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https://www.defesa.gov.br/noticias/15466-batalha-de-montese-70-anos-da-historica-atuacao-brasileira-em-um-dos-mais-sangrentos-combates-da-ii-guerra
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https://youtu.be/-PsD_cZxS6o
https://youtu.be/tUPjren1yHE
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http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/memoria-jacob-gorender-o-pcb-feb-e-o-marxis
https://youtu.be/o1OyWdS4WP8
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https://youtu.be/6zT8AyfsFmA
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