sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Lula aborda mentiras e ladrões



Populares Bufões / Desanuviando Ideias

''O Lula não é mais só o Lula. O Lula é uma ideia assumida por milhões de pessoas.'' Por ele mesmo em 04/10/2017

“Sabemos que a honestidade é à base de qualquer relacionamento humano. Mas, muitas vezes, as pessoas deixam de ser honestas conosco. É de grande valor estar ciente das verdadeiras intenções de alguém, e isso vai lhe poupar tempo, dinheiro e energia.” Como tornar-se um especialista em detecção de mentiras humano 13/06/2011 por Leandro Maia Gonçalves

"Haverá um dia em que todos os espanhóis ou todos que falam espanhol estarão lendo Machado de Assis. Haverá um dia em que todos os que falam português estarão lendo Cervantes. A integração não será mais ficção, não será mais desejo, mais será realidade", disse Lula ao receber prêmio Dom Quixote de La Mancha por ter instituído o ensino obrigatório do espanhol por O Globo; Agência Brasil 13/10/2008







Lula fala sobre mentira num tom de especialista

Josias de Souza 04/10/2017 02:20

Lula teve um novo encontro com o microfone nesta terça-feira. Discursou num ‘petromício’ defronte do prédio da Petrobras, no Rio de Janeiro. Autoproclamou-se novamente um neo-Tiradentes. Sobre o mártir autêntico, declarou: ''Eles mataram a carne, mas não conseguiram matar as ideias libertárias.'' Sobre si mesmo, afirmou:  ''O Lula não é mais só o Lula. O Lula é uma ideia assumida por milhões de pessoas.''
No discurso de Lula todos mentem, menos o orador. “A imprensa mente muito a meu respeito. A Polícia Federal, sobretudo a turma da Lava Jato, mente muito a meu respeito. O Ministério Público da Lava Jato mente muito a meu respeito. E o Moro aceita as mentiras.” Ironicamente, Lula só não falou sobre o companheiro-delator Antonio Palocci, versão petista de Joaquim Silvério dos Reis.
Organizado por petroleiros, o ato festejou os 64 anos da Petrobras. Para Lula, a estatal não deve ser vista apenas como uma companhia petroleira, mas como instrumento de política econômica. ''Tem mais de 20 mil empresas que dependem dela'', declarou a certa altura.
Considerando-se que o mensalão e o petrolão são dois escândalos que têm raízes nos governos de Lula, é impossível deixar de reconhecer sua autoridade para discursar sobre a mentira e os mentirosos. Excetuando-se o silvério Palocci, ninguém ousaria discutir com tamanho especialista.
Mal comparando, o discurso de Lula às vezes faz lembrar uma galhofa de Tim Maia. O gênio da música brasileira costumava proclamar: “Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouco.”
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/10/04/lula-fala-sobre-mentira-com-tom-de-especialista/




Há exatamente 3 anos, no mesmo local:


Lula mobiliza sindicatos em defesa da Petrobras e de Dilma
Com bandeiras vermelhas e gritos de ordem contra a candidata Marina Silva, cerca de 6.000 sindicalistas e estudantes participaram de comício
Por Da Redação
access_time15 set 2014, 17h57


O Lula de La Mancha na Avenida República do Chile



 Ex-presidente Lula discursa para sindicalistas em comício no centro do Rio (Yasuyoshi Chiba/AFP)


Rio de Janeiro – Vestindo o uniforme laranja da Petrobras, o ex-presidente Lula foi acompanhado de milhares de sindicalistas nesta segunda-feira em um abraço simbólico no prédio da companhia de petróleo, mobilizando bases para defender a estatal e a reeleição de Dilma Rousseff.
Com bandeiras vermelhas e gritos de ordem contra a candidata Marina Silva, em empate técnico com Dilma, cerca de 6.000 sindicalistas e estudantes participaram do comício, segundo os organizadores e a polícia.
“Quem está contra o pré-sal é contra o futuro”, disse o ex-presidente e ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) no ato em frente ao edifício da Petrobras. “O petróleo é o passaporte do futuro deste país”, afirmou.
Com aproximadamente 80.000 funcionários, a Petrobras conta com investimentos equivalentes a 13% do PIB brasileiro, de acordo com os sindicatos petroleiros.
Marina Silva, candidata do Partido Socialista que defende o desenvolvimento de energias renováveis, afirmou que, caso vença a eleição, não dará prioridade à exploração do pré-sal.
O futuro do pré-sal
Atualmente, meio milhão de barris diários (b/d) são extraídos do pré-sal, com o qual a Petrobras espera duplicar sua produção de petróleo bruto para mais de 4 milhões de b/d em 2020, transformando o Brasil em um exportador.
Lula lembrou que, quando o pré-sal foi descoberto, dizia-se que a Petrobras não teria a tecnologia necessária para explorar petróleo a mais de 7 km de profundidade. “Em oito anos tiramos mais petróleo do pré-sal do que em 31 anos”, ressaltou.
Os sindicalistas encerraram o comício cantando o hino nacional. Para muitos participantes, o governo está fazendo do pré-sal uma importante fonte de recursos sociais. Os ato destacou a lei aprovada por Dilma após as manifestações de junho de 2013 que destina parte dos lucros do pré-sal para os setores de educação e saúde.
“Não tenho vergonha”
Lula saiu em defesa dos funcionários da Petrobras, que tem sido tema recorrente da campanha eleitoral após acusações de maus negócios e de pagamentos de subornos através da empresa que teriam beneficiado o PT.
“Não tenho vergonha desta camisa, que deve orgulhar os trabalhadores e o povo brasileiro pelo que a Petrobras significa para país”, disse Lula em referência às denúncias.
“Se houve erros, tem que investigar. Se for culpado, tem que ir para a cadeia”, completou.
Ailton Ribeiro, operário de 56 anos, disse à AFP que votará em Dilma porque “ela faz o que pode e não venderá a Petrobras”, mas que está insatisfeito com a corrupção. “O Brasil é rico, e tem muitos trabalhadores. Mas há uma minoria que rouba milhões e tem muito poder”, desabafou Ribeiro, que trabalha em um estaleiro perto do Rio.
“O Lula tem razão, não podemos sentir vergonha de sermos petroleiros, de sermos do PT e de sermos brasileiros. Oitenta mil petroleiros não podem pagar por um ou dois com desvio de conduta”, afirmou Auzelio Alves, técnico em segurança do trabalho da Petrobras de 44 anos, que também vestia o uniforme laranja.





Ser Político é uma atividade muito sazonal

“Olha rapaz, ser político é uma atividade muito sazonal, de quatro em quatro anos temos que nos humilhar pedindo votos, fazendo o diabo para ser eleitos e ainda temos que nos expor prestando contas dos nossos atos.” Dr. Gusmão Benemérito de Favela do Morro da Providência J.L.R.


Lula diz que político ladrão é melhor do que um concursado

“Ana, eu de vez em quando falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por que? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja ele tem que ir pra rua, encarar o povo e pedir voto. O concursado não. Se forma na Universidade, faz o concurso e tá com o emprego garantido para o resto da vida.” Ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva Benemérito da República de São Bernardo

Para Lula, político ladrão é melhor que procuradores e juízes concursados

 Josias de Souza 16/09/2016



Com o luxuoso auxílio dos seus advogados, Lula desperdiça tempo numa cruzada contra Sérgio Moro. Para estigmatizá-lo, recorreu até às Nações Unidas. Denunciado, o ex-presidente passou a demonizar também o procurador da República Deltan Dallagnol e os outros “meninos” da Lava Jato. Lula procede assim por acreditar que, tachando seus investigadores de demônios, fica eximido de todo exame do mal. A começar pelo mais difícil: o autoexame,

Nesta quinta-feira, no comício privê que convocou para politizar a denúncia de que foi alvo, Lula potencializou a impressão de que se tornou um típico político brasileiro— grosso modo falando. Ele discursou por uma hora e oito minutos. A certa altura, a pretexto de criticar os procuradores que têm a mania de procurar e o juiz que cultiva o hábito de julgar, Lula saiu em defesa da classe política, sua corporação. Pronunciou a seguinte frase:

“Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego”.

O raciocínio de Lula é límpido como água de bica. Mas vale a pena clareá-lo um pouco mais. Para o morubixaba do PT, política não é sacerdócio, mas profissão. E se parece muito com a profissão mais antiga do mundo. O político, ainda que seja um biltre, um pulha, um larápio será sempre mais honesto do que alguém capaz de molhar a camisa numa universidade para ingressar por concurso no Ministério Público ou na magistratura. Toda vilania, toda calhordice, toda ladroagem será perdoada se o político for para a rua “encarar o povo e pedir voto.”

De acordo com a força-tarefa de Curitiba, Lula é o “comandante máximo” da corrupção. Presidiu uma “propinocracia” urdida para assegurar o enriquecimento ilícito, a governabilidade corrompida e a perpetuação no poder. Lula abespinhou-se com a acusação de que comprou apoio congressual.

“Ontem eu vi eles falarem dos partidos políticos, dos governos de coalisão, vocês sabem que muita gente que tem diploma universitário, que fez concurso, é analfabeto político”, declarou. “O cara não entende do mundo da política. Não tem noção do que é um governo de coalizão. Ele não tem noção do que é um partido ser eleito com 50 deputados de 513 e que tem que montar maioria.” Foi como se o pajé petista dissesse: “Num Legislativo em que todos os gatunos são pardos, mensalões e petrolões não são opcionais, mas imperativos.”

A esse ponto chegou o mito. Assumira o poder federal, em 2003, ostentando uma biografia que empolgava o mundo. Imaginou-se que reformaria os maus costumes. Hoje, convoca a imprensa nacional e estrangeira para informar que foi reformado por eles. E concluiu: 1) que a oligarquia política com o rabo preso no alçapão da Lava Jato é inimputável. Recebeu licença das urnas para roubar. 2) que ‘governabilidade’ virou uma grande negociata para justificar qualquer aliança ou malandragem destinada a fazer da discussão política uma operação de compra e venda.

No fim das contas, um comício que serviria para contestar acabou confirmando as formulações dos analfabetos políticos da Lava Jato. Enquanto procura demônios de ocasião para os quais possa transferir suas culpas, Lula revela o porquê do surgimento de fenômenos como o mensalão e o petrolão. Se a urna é um sabão em pó moral, nada mais natural que políticos como Collor, Renan, Cunha e um incômodo etcétera recebessem, sob Lula, licença para plantar bananeira dentro dos cofres da Petrobras e adjacências,

Lula gosta de citar sua mãe, dona Lindu, para informar que aprendeu com ela a “andar de cabeça erguida por esse país.” Está claro que Lula não apreendeu os ensinamentos de sua mãe. Um governante pode até conviver com certos políticos por obrigação protocolar. Qualquer mãe entenderia isso. Mas ir atrás do Collor, adular o Cunha, entregar a viabilidade do seu governo à conveniência de tipos como Renan… Está na cara que Dellagnol e os outros ''meninos'' de Curitiba precisam assumir a função da mãe de Lula, denunciando-o de vez em quando, nem que seja para dizer: “Olha as companhias, meu filho. É para o seu próprio bem. Certos confortos podem acabar na cadeia.”


O conceito de animal político em Aristóteles



Para Aristóteles cidadão é aquele que tem o poder executivo, legislativo e judiciário

Aristóteles observa que o homem é um ser que necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade para alcançar a completude. E a partir disso, ele deduz que o homem é naturalmente político. Além disso, para Aristóteles, quem vive fora da comunidade organizada (cidade ou Pólis) ou é um ser degradado ou um ser sobre-humano (divino).
Conforme Aristóteles, o conceito de cidadão varia de acordo com o tipo de governo. Isso porque o cidadão é aquele que participa ativamente da elaboração e execução das leis, sendo estas elaboradas pelo rei (monarquia), por poucos (oligarquia) ou por todos os cidadãos livres (democracia). No entanto, nem todos os que moram na cidade são cidadãos. Aristóteles diferencia habitante de cidadão, pois aqueles apenas moram na cidade, não participam dela, enquanto que esses dos que realmente pensam sobre ela tem o direito de deliberar e votar as leis que conservam e salvam o Estado. Dito de outro modo, cidadão é aquele que tem o poder executivo, legislativo e judiciário. Os velhos e as crianças não são realmente cidadãos. Os velhos pela idade estão isentos de qualquer serviço e as crianças não têm idade ainda para exercer as funções cívicas.
Seguindo a etiologia estabelecida em sua metafísica, Aristóteles concebe, também, as quatro causas que determinam uma comunidade. Estas são agrupamentos de homens unidos por um fim comum, relacionando-se pela amizade e justiça, isto é, por um vínculo afetivo. São características da comunidade:
- Causa Material: Lares, vilarejos, etc. É a partir de onde nasce a cidade;
- Causa Formal: O regime ou a Constituição que ordena a relação entre suas partes, dando forma a ela;
- Causa Eficiente: Desenvolvimento natural. Para Aristóteles a cidade é um ser natural, um organismo vivo;
- Causa Final: A finalidade da cidade é a Felicidade, ou seja, alcançar o bem soberano.
Para Aristóteles, “toda comunidade visa um bem”. O bem de que se trata aqui é na verdade um fim determinado. Não se refere ao bem correto, universal, mas a todo ato que tem como finalidade um certo bem. Sendo assim, toda comunidade tem um fim como meta, uma vantagem que deve ser aquela principal e que contém em si todas as outras. Portanto, a maior vantagem possível é o bem soberano.
A comunidade política, afirma Aristóteles, é aquela que é soberana entre todas e inclui todas as outras (Política, 1252 a3-5). Isto significa que a comunidade política é a cidade, que inclui todas as outras formas de comunidade (lares e vilarejos) que a compõe. A cidade é o último grau de comunidade. Além disso, a cidade é soberana dentre todas as comunidades e visa o bem soberano, existindo, portanto, uma analogia.
O fim de cada coisa é justamente a sua natureza, assim como o todo é anterior às partes. Dessa forma, além da comunidade política ser a natureza de todas as outras comunidades, ela é lógica e ontologicamente anterior a estas. Por isso ela deve prevalecer sobre as outras partes. Do mesmo modo, o cidadão é aquele que, por deliberar e criar leis, é um homem melhor do que os outros que não participam do governo, diferenciando, naturalmente os homens entre senhores e escravos.
Portanto, o animal político ou cidadão é o homem livre que goza de direitos naturais por sua competência em comandar, enquanto que aos homens dotados apenas de robustez física e pouco intelecto são aptos para obedecer, e essa analogia se estende a relação entre a soberania da cidade e as comunidades que participam dela com seus fins específicos. A cidade é soberana porque visa o bem comum, soberano. O homem livre é soberano porque é senhor de si.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP


3. O SER POLÍTICO-SOCIAL




Ultrapassada esta fase primária, o homem adquire uma nova dimensão. O pensamento dirigido para a auto-sobrevivência volta-se, então, para a intersobrevivência. Estamos perante o ser humano enquanto ser social, que, entre diversas acepções e em sentido restrito, pode traduzir-se em “consciência comum dos elementos de um grupo ou sociedade sobre os problemas sociais, posição social do homem e governo ou regulamentação da vida social”.[1] Um ser social que incorpora, entre outros, o elemento político, pois não se pode falar de sociedade sem que se fale da sua organização, regulamentação, o que poderá em última análise levar à célebre frase “o Homem é um animal político”.

Aristóteles[2] surge aqui com fundada actualidade. Não só como memória de que o Homem é um ser social por natureza ou que, por natureza, o Homem é um animal político, mas pela reflexão que faz sobre a política, cerca de 300 anos antes de Cristo; usamo-la a pretexto da abordagem a questões caras ao multiculturalismo, e ao multiculturalismo ele próprio.

Para Aristóteles, o Estado - cuja função é proporcionar o mais alto bem, uma vida boa - é a mais elevada forma de comunidade, na base da qual se encontra a família, estruturada em duas relações fundamentais: homem e mulher e senhor e escravo. É no seio da família que deve promover-se a discussão da política. Porque não abordar na família, as questões da polis, de que ela própria faz parte? O escravo faz parte da família e, como tal, um dos temas políticos é a escravatura, tida como necessária e justa. O escravo deve ser inferior ao dono, porque, por natureza, senhor e escravo estão no âmbito do que é natural. E escravo é aquele que, por natureza, pertence a outro e não a si mesmo, já que uns nascem para a sujeição e outros para o mando. Aristóteles introduzia a questão da raça, defendendo que os escravos não devem ser gregos, mas de raça inferior, com menos espírito. Sustenta também a discriminação sexual, acreditando que o homem governa melhor os animais domésticos do mesmo modo que os inferiores quando são governados pelos superiores. A construção que desenvolveu sobre escravos e mulheres não permite poder acreditar na igualdade.

Comparando diferentes formas de governo, considera a democracia má, porque o poder está nas mãos dos carenciados que não atendem aos interesses dos ricos. Um governo bom é o que procura o bem estar da comunidade e não apenas o seu. No entanto, no desencanto que todas as formas de governo lhe trazem, acaba por defender a democracia, porque nada melhor havia ainda sido inventado.





O Homem de La Mancha - Trailer


O Homem de La Mancha na Avenida Paulista



Crônicas de Dom Quixote e Sancho Pança – a acumulação capitalista e o direito à propriedade em Marx



Por Alexandre Pimenta
“Todos os economistas, tão logo discutem a relação existente entre capital e trabalho assalariado, entre lucro e salário, e demonstram ao trabalhador que ele não tem nenhum direito a participar das oportunidades do lucro, enfim, desejam tranquilizá-lo sobre seu papel subordinado perante o capitalista, sublinham que ele, em contraste com o capitalista, possui certa fixidez da renda mais ou menos independente das grandes aventuras do capital. Exatamente como Dom Quixote consola Sancho Pança [com a ideia] de que, embora certamente leve todas as surras, ao menos não precisa ser valente.” Marx (2011 p. 35)

Está em qualquer edição da Veja: lucrar é bom. Está no sucesso editorial Ayn Rand: o único explorado da sociedade é o capitalista. Está na nova direita que grita nas ruas: o empresário é a maior vítima do sistema. Seria o mundo que está de cabeça para baixo? A ofensiva ideológica de direita estaria parindo um monstro novo e irracional? Aos mais novos e desavisados seria bom lembrar de que um constructo ideológico de legitimação da função do capitalista, e consequentemente de seu lucro e apropriação privada, é um aspecto estruturante do próprio modo de produção capitalista, observável desde que time se tornou money – como disse o bolso do capitalista através da boca de Benjamin Franklin. E para dissecar um dos mitos mais constitutivos do capitalismo, quer seja, o direito do capitalista ao assim chamado lucro (ou apropriação do mais-valor/trabalho não-pago gerado na produção), nada melhor que voltar a Marx.
Na epígrafe vemos os personagens principais da trama: Dom Quixote, cavaleiro deslocado (aqui, mais futurista que nostálgico) que sai em busca de aventura, com suas armas e coragem – concretamente: atrás de lucro com seu capital e papel de capitalista. Do outro lado, um sujeito um tanto estranho e acomodado, que só tem seu couro para ser esfolado – concretamente: o proletário sem meios de produção, vítima do assalariamento. Aparentemente, um possui a vontade, a ação, e o mérito – eis o merecedor de todo lucro, outro nome para o preço do risco; o outro, a paralisia, a passividade, cuja recompensa é um salário fixo e rebaixado.
Nesse imaginário da sociedade burguesa, Dom Quixote chegou a tal posição pela virtude e inteligência: mais propriamente pela abstinência calculada. Fechou a boca, batalhou e aproveitou racionalmente as oportunidades. Um ethos racional e ascético peculiar que, como apontou Weber, coadunou com o protestantismo. Tendo já o capital em suas mãos vai ao mercado e lá encontra seus futuros empregados. O laço contratual entre as duas figuras jurídicas marcadas pela igualdade e liberdade são a cereja do bolo: não só da palavra do capitalista ele pode mostrar quão justa é sua posição, mas também pelas letras douradas da lei.
Marx possui ao menos dois dispositivos para desarticular esse mito: o primeiro, e mais conhecido é a revelação das marcas de “sangue e fogo” que caracterizam a chamada “acumulação primitiva”, que nada mais é que o processo concomitante de proletarização, num lado, e concentração de meios de produção noutro. (Processo constante já que o capitalismo não só produz mercadoria, ou mais-valia, mas também: “a própria relação capital, de um lado o capitalista, de outro o trabalhador assalariado”. [MARX, 1997, p. 211]). O autor mostra, n’O capital, a partir do caso inglês, o quão essa acumulação inicial se baseou na violência, no auxílio direto do Estado, e em diversas formas de desapropriação de antigos produtores. Essa via de argumentação requer reconstruções histórico-geográficas específicas da expropriação de comunidades e povoações para a construção dos atuais impérios privados que atravessam gerações na forma legal da herança.
Mas o outro dispositivo, que desdobraremos aqui, é através da análise da reprodução contínua do capital. Nesse ponto, para sua argumentação, Marx não desconsidera casos individuais de acúmulo inicial de capital por trabalho próprio: “é provável que alguma vez o capitalista se tornou possuidor de dinheiro em virtude de uma acumulação primitiva, independente de trabalho alheio não-pago” (MARX, 1997, p. 202).
No entanto, Marx busca fundamentar que, mesmo essa hipótese sendo real, a continuidade da acumulação do seu capital só será possível através do trabalho não-pago da mão-de-obra. Em um tempo mais ou menos longo, a mais-valia reinvestida no capital será superior ao seu capital inicial, fazendo que em seu capital atual não sobre “nenhum átomo de valor de seu antigo capital” (MARX, 1997, p. 203). A partir desse momento, o capitalista nada mais faz que extrair mais-trabalho alheio através de antigo trabalho alheio (na forma de valor) já expropriado. Situação semelhante a um caso de endividamento que excede as propriedades do indivíduo em questão, anulando, assim, suas posses.
Interessante citar que Harvey (2013, p. 240) vê aqui um diálogo oculto de Marx com Locke. Segundo o inglês, o direito à propriedade “cabem àqueles que criam valor” ao trabalhar com os meios de produção. Irônico e trágico é saber que não são os liberais que defendem historicamente essa tese, muito mais presente, por exemplo, no movimento camponês (“terra para quem nela trabalha”).
As duas posições da trama são tão desiguais economicamente enquanto capital e trabalho, que também não se pode falar de propriedades e rendimentos apenas quantitativamente diferentes. Para Marx (1997, p. 216), “quanto mais o capitalista houver acumulado, tanto mais poderá acumular”, ou como diz uma famosa tese de Kalecki “os trabalhadores gastam o que ganham e os capitalistas ganham o que gastam”. Ou seja, é Sancho Pança que na realidade está preso ao nível da subsistência continuamente, da abstinência e risco forçados, por sua posição nas relações de produção – ele próprio propriedade dos capitalistas “de todo o mundo”.
Obviamente a estrutura ideológica que decorre do assalariamento é muito mais profunda e complexa, fazendo da exploração algo muito mais invisível e sutil neste modo de produção que, por exemplo, no escravagismo. A compra da força de trabalho abre a possibilidade de usar essa mercadoria de tal forma a superar seu valor de troca, sem corromper o contrato ou a equivalência das trocas. Assim como o “trabalho” do capitalista na expropriação de mais-valia faz este enxergar o lucro como um “salário” para si, e mesmo a produção de bens e serviços que surge através de sua sede por acumulação de capital como “função social”.
A nosso ver, a figura ideológica do capitalista poupador é ideológica por si só, pois imaginária, e que possui a clara função de camuflar a real carga patrimonial e predatória do capital – tão distante de qualquer coisa que se possa entender por mérito.

Referências
HARVEY, David. Para entender O capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, Karl. Grundrisse. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2011.
______.  O capital: Crítica da Economia Política. Livro Primeiro. Tomo II. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997.











Referências



https://eusouleandromaia.wordpress.com/2011/06/13/como-tornar-se-um-especialista-em-deteccao-de-mentiras-humano/
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/10/04/lula-fala-sobre-mentira-com-tom-de-especialista/
https://exame.abril.com.br/brasil/lula-mobiliza-sindicatos-em-defesa-da-petrobras-e-de-dilma/
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2016/09/16/para-lula-politico-ladrao-e-melhor-que-procuradores-e-juizes-concursados/
CABRAL, João Francisco Pereira. "O conceito de animal político em Aristóteles"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-conceito-animal-politico-aristoteles.htm>. Acesso em 06 de outubro de 2017.
http://mc.jurispro.net/I3SerPoliticoSocial.htm
https://lavrapalavra.com/2017/05/03/cronicas-de-dom-quixote-e-sancho-panca-a-acumulacao-capitalista-e-o-direito-a-propriedade-em-marx/

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