Relator Antonio Anastasia dá
parecer favorável ao Impeachment em desfavor de Dilma Rousseff:
Publicado
em 4 de mai de 2016
"Em
face do exposto, a denúncia apresenta os requisitos formais exigidos pela
legislação de vigência, especialmente pela Constituição Federal, para o seu
recebimento. O voto é pela admissibilidade da denúncia, com a consequente
instauração do processo de impeachment, a abertura de prazo para a denunciada
responder à acusação e o início da fase instrutória, em atendimento ao disposto
no art. 49 da Lei no 1.079, de 1950", diz o texto escrito por Anastasia.
Licença padrão do
YouTubequinta-feira, 5 de maio de 2016
Débora Álvares, Leandro Colon,
Mariana Haubert – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA
- O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) apresentou nesta quarta (4) à comissão
especial do impeachment relatório a favor do afastamento da presidente Dilma
Rousseff.
Relator
do caso na comissão do Senado, Anastasia aponta que há elementos suficientes
para que o processo seja aberto e petista julgada por crime de
responsabilidade. Dilma é acusada de editar, em 2015, créditos suplementares e
de usar dinheiro de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas
"pedaladas fiscais".
"Em
face do exposto, consideramos que os fatos criminosos estão devidamente
descritos, com indícios suficientes de autoria e materialidade, há
plausibilidade na denúncia e atendimento aos pressupostos formais, restando,
portanto, atendidos os requisitos exigidos pela lei para que a denunciada
responda ao processo de impeachment", diz Anastasia.
"É
importante colocar em relevo que a denúncia em exame se refere a matéria da
mais alta relevância para o país, qual seja, o da avaliação da responsabilidade
na gestão fiscal e orçamentária", afirma o relator.
"Esta
Comissão não está apreciando meros tecnicismos. Tratamos da admissibilidade de
uma denúncia centrada em indícios de irregularidades que, por sua natureza,
podem colocar em xeque o próprio regime de responsabilidade fiscal",
ressalta o tucano.
Anastasia
critica no relatório as alegações de Dilma de que é vítima de um
"golpe". Para ele, é uma acusação "absolutamente descabida e
desprovida de amparo fático e legal".
"Nunca
se viu golpe com direito a ampla defesa, contraditório, com reuniões às claras,
transmitidas ao vivo, com direito à fala por membros de todos os matizes
políticos, e com procedimento ditado pela Constituição e pelo STF", diz
trecho de seu parecer. "Demais disso, o que se quer é deslegitimar a própria
figura do impeachment, como se ela fosse estranha ao presidencialismo, ou sua
antítese, o que é objetivamente falso", ressalta.
Em
seu relatório, Anastasia diz que a linha de defesa de Dilma tenta atribuir a
ela "um salvo conduto" para que ela entre para a história como uma
"senhora de bem, que paira além da linha dos anjos".
"Por
outro lado, não se cuida, neste mister, de abonar a linha de defesa da Senhora
Chefe do Poder Executivo, que pretende, por estratégia retórica, a ela atribuir
um salvo conduto para que transite pela história como a Senhora do bem, que
paira além da linha dos anjos", disse.
Ao
defender o afastamento de Dilma, Anastasia afirmou que defender o
presidencialismo sem impeachment é "monarquia absoluta" e
"ditadura".
"Querer
defender o presidencialismo sem impeachment é querer, mais uma vez, o melhor
(para o governo) de dois mundos: o Executivo forte do presidencialismo, mas sem
a possibilidade de retirada do poder em caso de abuso. Presidencialismo sem
possibilidade de impeachment é monarquia absoluta, é ditadura, por isso que o
mecanismo foi previsto em todas as nossas Constituições, e inclusive já
utilizado sem traumas institucionais", escreveu em seu parecer.
Ele
também abriu espaço para que os senadores alterem, durante o julgamento da
presidente, a tipificação dos crimes atribuídos a Dilma na denúncia original,
desde que em cima dos mesmos fatos analisados: a edição de créditos
suplementares e as chamadas "pedaladas fiscais.
"Durante
a instrução probatória, o julgador pode, conforme previsão expressa do CPP
(art. 383), alterar essa tipificação, propor distinta classificação jurídica
para os fatos postos", disse o relator.
O
relatório não menciona a Operação Lava Jato, o esquema de corrupção na
Petrobras, ou algo referente ao tema. A intenção de Anastasia foi focar nos
itens da denúncia original, ligados a possíveis manobras fiscais, e evitar uma
espécie de "judicialização" do processo por parte da base do governo.
Na
Câmara, onde a admissibilidade foi aprovada, o relator Jovair Arantes (PTB-GO)
faz referência à Lava Jato, o que causou protesto por parte dos aliados de
Dilma. Arantes não usou o escândalo para pedir a abertura do processo de
impeachment, mas sugeriu que o Senado pudesse abordar e aprofundar o tema, o
que não foi acatado pelo relatório de Anastasia nesta etapa do processo.
O
parecer de Anastasia foi lido nesta tarde e será votado na comissão na próxima
sexta (6). Um dia antes, quinta (5), o advogado-geral da União, José Eduardo
Cardozo, deve comparecer ao Senado para defender a presidente do documento do
senador tucano.
Como
já ocorreu em outras sessões, senadores governistas e de oposição bateram boca
e a sessão foi suspensa por um minuto.
Ao
chegar para a reunião da comissão, Anastasia foi assediado por alguns
parlamentares que pediram para tirar selfies com ele, como o senador Magno
Malta (PR-ES).
A
bancada do governo reafirmou, por meio dos senadores Gleisi Hoffmman (PT-PR) e
Lindbergh Farias (PT-RJ), sua posição contra a atuação de Anastasia pelo fato
de ele pertencer ao PSDB, partido interessado no impeachment de Dilma.
"Tivemos aqui uma acusação partidarizada. Vamos questionar até o final a
presença de um senador do PSDB na relatoria", disse Lindbergh.
O
líder da bancada tucana, Cássio Cunha Lima (PB), e outros senadores de oposição
reagiram às críticas. "Esse teatro todo é para aparecer na televisão.
Agora vai ouvir quieto e sentadinho aí", disse Ricardo Ferraço (PSDB-ES) a
Lindbergh Farias. "O senador Anastasia tem as condições políticas e
institucionais de ser o relator", ressaltou o tucano.
O
PSDB ficou com a relatoria por questão de proporcionalidade de bloco partidário
no colegiado.
O
clima é de derrota para o governo dentro da comissão. Apenas cinco dos seus 21
titulares são contra a abertura do processo de impeachment. Os trabalhos do
colegiado começaram na semana passada - desde então, foram ouvidos os autores
da denúncia, a defesa de Dilma e especialistas a favor e contra o impeachment.
Depois
da votação na sexta, o caso vai ao plenário do Senado, em sessão prevista para
o dia 11, uma quarta-feira. São necessários os votos da maioria simples dos
presentes para que o processo seja aceito. No momento, ao menos 51 dos 81 senadores
já se manifestaram favoráveis.
Confirmado
esse resultado, Dilma será afastada por até 180 dias, período em que será
julgada pelos senadores e o vice Michel Teme assumirá interinamente. Nesta
etapa, exige-se o mínimo de 54 votos para que ela seja afastada
definitivamente. No caso, pelo menos 42 declararam até agora votos neste
sentido.
Manifestação
Enquanto
Anastasia lê seu relatório, um grupo de cerca de 30 pessoas do Comitê
Pró-Democracia realizou uma manifestação contrária ao impeachment na porta da
comissão especial. Com palavras de ordem, o manifestantes acusaram o tucano de
ser "golpista" e disseram não aceitar um "governo ilegítimo que
não tem voto", em referência à possibilidade de o vice-presidente Michel
Temer assumir a presidência caso Dilma seja afastada do cargo.
O
grupo participou de uma audiência pública sobre democracia e direitos humanos
na Comissão de Direitos Humanos do Senado no início da tarde. Enquanto se
deslocavam para a saída do Congresso, o deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) passou
pelo ato e gritou "Fora PT, Fora Dilma". A provocação foi
imediatamente rechaçada pelo grupo, que cercou o parlamentar e também o acusou
de ser golpista.
Os
senadores Fátima Bezerra (PT-RN) e Lindbergh Farias (PT-RJ) foram ao encontro
dos manifestantes para agradecer pelo apoio. "Como já era esperado,
estamos diante de uma fraude jurídica e uma farsa política porque o PSDB,
através do seu relator, apresenta voto pelo impeachment", disse Fátima.
Leia aqui a íntegra do relatório de Anastasia
quinta-feira,
5 de maio de 2016
Por
Vandson Lima, Thiago Resende e Fábio Pupo
– Valor Econômico
BRASÍLIA
- Apontando indícios "robustos" de fraude fiscal e rechaçando a tese
de que um golpe de Estado esteja em curso, o senador Antonio Anastasia
(PSDB-MG) apresentou ontem à comissão especial do impeachment seu parecer a
favor do prosseguimento da denúncia contra a presidente da República, Dilma Rousseff.
O
relatório será discutido hoje e votado amanhã pelo colegiado. Depois irá a voto
no plenário na quarta-feira, dia 11, quando os senadores poderão, se admitirem
a denúncia por maioria simples, afastar a presidente do cargo por até 180 dias.
O
documento se limita a implicar Dilma pelos dois fatos apresentados na acusação
encaminhada pela Câmara dos Deputados. A primeira é a abertura de créditos
suplementares, por meio de decretos assinados pela presidente entre julho e
agosto de 2015, sem aval do Congresso Nacional; a outra são os repasses feitos
com atraso pelo Tesouro Nacional ao Banco do Brasil para subsídio de juros
referentes ao Plano Safra em 2015.
O
parecer é claro em delimitar a denúncia a esses dois pontos, podendo os
senadores alterar a tipificação dos crimes, mas não acrescentar novas
acusações. Havia dúvidas se Anastasia deixaria alguma brecha ou mesmo incluiria
de pronto novos fatos - como possíveis ilegalidades cometidas na gestão da
Petrobras ou as pedaladas fiscais de 2014, que constavam na denúncia original.
Anastasia
sublinhou que "dado o contexto, merece destaque o fato de que o exercício
de 2015 foi marcado pela repetição, senão aprofundamento, de situações críticas
verificadas em 2014" no campo fiscal, sem, no entanto, adentrar a questão.
O relatório sequer faz referências à Operação Lava-Jato, justamente para se
ater às possíveis ilegalidades relativas a 2015.
O
tucano refutou o argumento da defesa de Dilma de que o processo deveria ser
anulado por ter sido deflagrado como "vingança e retaliação" do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Não é demais lembrar que a
autorização emanada da Câmara não é um ato pessoal do deputado, mas sim do
plenário", que autorizou a abertura de processo de impeachment com mais de
dois terços dos votos, disse o tucano. Anastasia frisou também que a decisão de
Cunha fez um "recorte substancial" comemorado pela defesa de Dilma,
ao acatar apenas as denúncias que tratavam de fatos ocorridos em 2015 - atual
mandato da presidente.
Para
o senador, as acusações "revelam contexto que pode demonstrar desvio de
finalidade em favor de interesses políticos partidários, na medida em que, em
contexto eleitoral, sonegaram informações à sociedade brasileira, a constituir
pano de fundo relevante para apuração dos fatos praticados em 2015".
Anastasia pontuou que "a partir do exame dessas operações [...], não é
razoável supor que a presidente não soubesse que uma dívida da ordem de R$ 50
bilhões junto a bancos públicos pairava na atmosfera fiscal da União, até mesmo
porque esse endividamento foi utilizado como forma de financiamento de
políticas públicas prioritárias. Não se trata, portanto, de 'pedir impeachment
porque alguém rouba um grampeador', como afirmou o Advogado-Geral da União
perante este colegiado", lembrou.
Para
Anastasia, a possibilidade jurídica de julgamento político é a razão de ser da
previsão dos crimes de responsabilidade. "Presidencialismo sem
possibilidade de impeachment é monarquia absoluta, é ditadura, por isso que o
mecanismo foi previsto em todas as nossas Constituições, e inclusive já
utilizado sem traumas institucionais", escreveu.
Anastasia
argumentou que o impeachment é um mecanismo de "controle e repressão de
delitos presidenciais"; e que não se trata de contrastar o mandato da
presidente Dilma "com índices críticos de impopularidade; com o sentimento
de rejeição, latente ou explícito, que se alastra em redes sociais irosas ou
moderadas; com eventuais condutas veiculadas em áudios e delações".
"Aqui, não aduzirei inverdades, não admitirei construções jurídicas
fraudulentas", frisou no parecer.
Ele
rechaçou ainda a alegação da defesa de que era necessário aguardar emissão de
parecer prévio da prestação de contas de 2015 pelo Tribunal de Contas da União
(TCU). "Não é condição de procedibilidade para se admitir, processar e
julgar o crime de responsabilidade na esfera jurídico-política", afirma.
Senador
do PT, Lindbergh Farias (RJ) disse que a menção a anos anteriores será
judicialmente contestada. A ala governista da Casa foi após a sessão para uma
reunião com Cardozo para definir a "estratégia jurídica" de reação ao
relatório.
Antes
da leitura, Lindbergh voltou a levantar possível suspeição de Anastasia por
editar 55 decretos de crédito suplementar em Minas Gerais quando era
governador. "Se fosse pelos decretos de crédito, não teríamos mais
governador no país. Isso é cinismo", disse. O senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES) chamou a fala do petista de "teatro patético". Anastasia se
defendeu, argumentando que a lei estadual mineira - ao contrário da lei federal
- autoriza os decretos. "O Estado tem mais flexibilidade", afirmou.
Do
lado de fora da comissão, um grupo de 40 manifestantes protestou. Eles
carregavam cartazes com as inscrições "Temer traidor",
"Anastasia pedalador" e ainda chamaram o eventual novo governo do
vice-presidente de ilegítimo. O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) interferiu no
protesto e começou a gritar palavras contra o governo e contra Dilma. Os
manifestantes, então, se voltaram em meia-lua contra o parlamentar e o chamaram
em coro de "golpista".
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