quinta-feira, 24 de agosto de 2023

AGOSTO DO PODER

24 DE AGOSTO DE 2023 236º dia do ano. Existem 129 dias restantes em 2023. 34ª Quinta-Feira de 2023. ----------- ---------- O SALÃO QUE GETÚLIO VARGAS FOI VELADO NO PALÁCIO DO CATETE #getuliovargas #catete #historiadobrasil Tá na História ___________________________________________________________________________________ --------------- ------------ "O Guarani" de Carlos Gomes (Abertura)Redução de Orquestra para Piano a 4 mãos: Nicolo Celega. ---------- ___________________________________________________________________________________ A ópera “O Guarani”, criada por Carlos Gomes e baseada no livro homônimo de José de Alencar, foi o primeiro sucesso de uma obra musical brasileira no exterior. Carlos Gomes começou sua composição entre 1867 e 1868, mas ela só foi finalizada mais tarde e teve sua estréia no dia 19 de março de 1870, no Teatro Alla Scalla de Milão, na Itália. ___________________________________________________________________________________ ---------- — Você, Azevedo, parece que não tem educação. Estamos falando em particular e você... — Eu já sei, Zé Alves, que você é o moço mais educado da seção... — Sou sim; minha mãe me educou muito bem. Tocava o Guarani a quatro mãos e fez um grande sucesso, num concerto no Teatro Santa Isabel. O outro observou: — Você já me tinha dito isto; mas não vim ouvir o que estava dizendo. — Então, o que é que você veio fazer aqui? — Vim conhecer o novo colega e pedir fogo. Os dois continuaram a altercar dessa maneira, e eu não via saída alguma para harmonizá-los. Parecia-me que a coisa ia acabar em briga, em pugilato; mas tal não se deu. Repentinamente Alves se foi para um canto, e aquele a quem ele tratara de Azevedo se foi para outro. Fiquei eu só no vão da janela. O CEMITÉRIO DOS VIVOS Lima Barreto 1ª parte – Anotações para O CEMITÉRIO DOS VIVOS 1920 4 de Janeiro O Pavilhão e a Pinel ___________________________________________________________________________________ --------
------------- 29 outubro, 2021 - dramaturgia internacional Uma cena de “Mãe Coragem e seus filhos”, de Bertolt Brecht Nesta quinzena, o Blog traz a seus leitores um trecho da peça “Mãe Coragem e seus filhos”, escrita em 1941 pelo poeta, dramaturgo e homem de teatro alemão Bertolt Brecht (1898-1956), com a colaboração de Margarete Seffin (1908-1941). Brecht é uma das personalidades mais comentadas por Jean-Pierre Sarrazac em “Crítica do teatro I: da utopia ao desencanto”, lançado agora pela Temporal Mãe Coragem e seus filhos tematiza os horrores da Segunda Guerra Mundial e do nazismo, ainda que indiretamente, considerando que a trama se passa durante a série de conflitos europeus conhecida como Guerra dos Trinta Anos (1618-48). A personagem Mãe Coragem é uma vendedora ambulante que acompanha o exército sueco, ofertando produtos de primeira necessidade, e cujo negócio depende da continuidade da mesma guerra que termina, por fim, a levar todos os seus filhos. Fiel a seu projeto de um teatro crítico e anticapitalista, Brecht lança mão nesta peça, assim como em outros trabalhos, de procedimentos épicos que evitam ou problematizam a catarse dramática. Entre eles, os mais notáveis e presentes neste texto são o uso de placas no início das cenas, que apresentam (às vezes em tom irônico) os acontecimentos seguintes, a utilização de canções, que interrompem a sequência dos fatos para comentá-los, e o interesse menos pelos grandes eventos e ações do que pelas suas consequências para os personagens que dificilmente participariam deles. Mãe Coragem e seus filhos estreou em 1941 na cidade de Zurique, no teatro Schauspielhaus, sob direção de Leopold Lindtberg e música de Paul Dessau. No Brasil, a primeira apresentação aconteceu em maio de 1960, no Teatro Cultura Artística, em São Paulo, com tradução de Tatiana Belinky, direção de Alberto D’Aversa e elenco formado por nomes como Lélia Abramo – no papel de Mãe Coragem –, Ruth Escobar, Ubiratan Junior, entre outros. Leia um trecho da peça a seguir. Cena 6 Diante da cidade de Ingolstadt, na Baviera, Mãe Coragem assiste aos funerais de Tilly, general do império, morto em combate. Fala-se de heróis e da duração da guerra. O capelão lamenta que suas habilidades não sejam aproveitadas, e Kattrin ganha os sapatos vermelhos. Ano: 1632. (No interior de uma tenda de mascate) (Vê-se, por trás, um balcão de bebidas. Está chovendo. Ao longe, tambores e música fúnebre. O Capelão e o Escrevente do Regimento jogam damas. Mãe Coragem e Kattrin fazem um balanço das suas mercadorias) Capelão Já está se pondo a caminho o cortejo fúnebre. Mãe Coragem Coitado do General!… Vinte e dois pares de meias… Dizem que ele foi morto por azar: caiu um nevoeiro, e foi por isso. O General ainda chamou um Regimento, com ordens de lutar até o último homem; depois voltou atrás, mas, com o nevoeiro, o cavalo perdeu a direção, e ele foi parar bem na linha de frente, no meio da batalha. Levou um tiro… E agora, só quatro lanternas? (Vem do fundo um assobio, e ela vai ao balcão) É uma vergonha, vocês aqui não irem ao enterro do seu General morto! (Serve as bebidas) Escrevente Não deviam ter pago o pessoal antes do enterro: agora todo mundo está bebendo, em vez de acompanhar o funeral. Capelão (Ao escrevente) E o senhor também não devia ir? Escrevente Foi por causa da chuva que eu não fui. Mãe Coragem O seu caso é bem outro: não queria molhar seu uniforme! Ouvi dizer que iam mandar tocar os sinos, na hora do funeral, mas depois descobriram que as igrejas tinham sido arrasadas por ordens dele; e assim o coitado do General não vai ouvir nenhum sino tocar quando estiver sendo baixado à cova. Em vez dos sinos, estão querendo dar três tiros de canhão, para o enterro não ficar muito sem graça… Só de correias, ele tinha dezessete! Vozes (Do balcão) Ei, dona, uma pinga! Mãe Coragem O dinheiro na frente! Também não vão entrar na minha tenda com essas botas cheias de lama! Bebam lá fora, com chuva ou sem chuva! (Ao Escrevente) Aqui só entra gente graduada. Ouvi dizer que o General, ultimamente, andava preocupado; parece que houve motim no Segundo Regimento, porque ele não mandou pagar os soldos, dizendo que esta era uma guerra santa e deviam fazer tudo de graça… (Marcha fúnebre. Todos olham para o fundo) Capelão Agora estão desfilando diante do ilustre defunto. Mãe Coragem Os generais e imperadores me dão pena: esse talvez estivesse pensando que fazia uma coisa extraordinária, que no futuro as pessoas comentariam, e que ele iria ter um monumento: a conquista do mundo, por exemplo, é grande coisa para um general, e ele não deve achar outra melhor. No fim, ele se esfalfa e não dá nada certo, por causa das pessoas ordinárias, que talvez com um copo de cerveja e boa companhia já se deem por muito satisfeitas, sem nenhuma ambição mais elevada. Os mais bonitos planos têm falhado por causa da mesquinharia das pessoas a quem caberia pô-los em prática, e os imperadores não podem fazer nada: ficam na dependência do povo e dos soldados, seja onde for. Tenho razão ou não? Capelão (Rindo) Mãe Coragem, eu lhe dou toda razão, menos quanto aos soldados: eles fazem o que podem. Nesses dois que estão aí fora, por exemplo, bebendo a sua cachaça na chuva, eu seria capaz de confiar uns cem anos seguidos, fazendo uma guerra depois da outra, e até duas guerras ao mesmo tempo, se necessário fosse: e eu não tenho a formação de um general! Mãe Coragem O Senhor não estará querendo dizer que a guerra vai acabar? Capelão Por que o General morreu? Não seja tão infantil! Existem dúzias de outros iguais a ele: herói é o que não falta. Mãe Coragem Não é à toa que eu estou lhe perguntando: é que eu estou pensando se devo ou não comprar mercadorias, que agora andam baratas… Mas, se essa guerra acabar, talvez eu tenha de pôr tudo fora. Capelão Sei que a senhora está falando a sério. Há sempre alguns que andam por aí dizendo: “A guerra tem de acabar!”. Mas eu lhe digo: não há nenhum sinal de que essa guerra acabe. Naturalmente é possível que haja uma pequena trégua. Talvez a guerra precise de um descanso, ou talvez possa, por assim dizer, sofrer um acidente: disso não está livre, porque nada é perfeito neste mundo. Uma guerra perfeita, da qual se possa dizer que não há nada mais a acrescentar, talvez não exista nunca: de repente pode ver-se em dificuldades, por algum imprevisto, pois não há homem que possa pensar em tudo. Às vezes é uma coisa insignificante que põe tudo a perder, e depois é preciso fazer tudo para tirar a guerra do atoleiro! Mas os imperadores, reis e papas sempre dão uma ajudazinha à guerra, quando há necessidade; ela, portanto, não deve recear nada de grave, e ainda tem pela frente uma longa vida. Soldado (Cantando em frente ao balcão) Aguardente, taberneira, Que não há tempo a perder: Um cavaleiro do Imperador Tem muito que combater! Um duplo, que hoje é dia de festa! Mãe Coragem Se eu ao menos pudesse acreditar… Capelão Pois pense bem: o que é que pode ser contra a guerra? Soldado (Cantando ao fundo) Traga as mamas, taberneira, Que não há tempo a perder: Na Morávia, um cavaleiro Tem muito que combater! Escrevente (De súbito) E a paz, o que vai ser dela? Eu sou lá da Boêmia, e bem que gostaria de voltar para casa. Capelão Ah, gostaria? Pois é, a paz! Que será dos buracos, depois que o queijo todo for comido? Soldado (Cantando ao fundo) Vamos logo, camarada, Que não há tempo a esbanjar: Eu sou da cavalaria É preciso aproveitar! A bênção, padre, depressa, Que não há tempo a perder: Um cavaleiro do Imperador, Por ele deve morrer! Escrevente Não se pode viver muito tempo sem paz. Capelão Eu poderia dizer que na guerra também há paz: a guerra tem os seus pontos pacíficos, e atende a todas as necessidades, inclusive as da paz, para compensar, do contrário ela não se aguentaria. Na guerra a gente pode dar uma cagada, como se fosse na paz mais profunda: e, entre uma batalha e outra, sempre há lugar para uma cervejinha; e, mesmo em plena ofensiva, sempre se pode tirar um cochilo com a cabeça em cima do cotovelo, o que na trincheira não é difícil. Na hora de um assalto não se pode ficar jogando cartas: mas isso ninguém faz também, em plena paz, na hora de trabalhar na lavoura. E, depois da vitória, há uma porção de possibilidades. Você pode ficar sem uma perna e começar a fazer muito escândalo, como se fosse uma coisa extraordinária; depois você se acalma, ou lhe dão um pileque e aí você se vê pulando novamente, e a guerra nada perde, nem antes nem depois. E quem vai impedir você de procriar, no meio da maior carnificina, atrás de um paiol ou em qualquer outro lugar, sem precisar esperar tanto tempo? Depois a guerra pega os seus filhotes e pode começar tudo outra vez. A guerra tem sempre uma solução, não seja por isso! E, sendo assim, por que haveria de acabar? (Kattrin parou o que estava fazendo, e olha fixamente o Capelão) Mãe Coragem Então vou comprar as mercadorias. Confio no senhor. (Kattrin atira de repente ao chão um cesto de garrafas e sai correndo) Kattrin! (Ri). Ai, meu Jesus, ela vive esperando pela paz! Eu disse que, quando vier a paz, ela vai ter um homem! (Sai correndo atrás de Kattrin) Escrevente (Pondo-se de pé) Ganhei, enquanto o senhor conversava: pode ir pagando! Mãe Coragem (Voltando com Kattrin) Tome juízo! A guerra ainda vai continuar por algum tempo, e nós ainda podemos ganhar algum dinheiro: depois a paz vai ser ainda mais bonita! Você vai à cidade, a menos de dez minutos daqui, e apanha as coisas no Leão de Ouro, só as de mais valor; as outras nós vamos buscar mais tarde com a carroça. Já está tudo combinado: o senhor Escrevente vai com você, fazendo companhia. A maior parte do pessoal está no enterro do General: com você, nada pode acontecer. Vá direitinho, e não se deixe roubar: pense no seu enxoval! (Kattrin amarra um lenço na cabeça e sai com o Escrevente) Capelão Entrega a sua filha assim ao Escrevente? Mãe Coragem Ela não é tão bonita assim para estragar a carreira de um homem. Capelão O jeito de a senhora tratar dos seus negócios e ir sempre em frente é uma coisa que eu admiro muito: entendo muito bem por que lhe deram o apelido de Coragem. Mãe Coragem Quem é pobre, precisa ter coragem, senão está perdido. Até para sair da cama cedo, e aguentar o rojão! Para lavrar um alqueire de terra, em plena guerra! E ainda pôr mais crianças no mundo, é prova de coragem: porque não há nenhuma perspectiva. Os pobres têm de ser carrascos uns dos outros, e se matarem reciprocamente, para depois se olharem cara a cara: então precisam ter muita coragem. Suportar um imperador e um papa é sinal de uma coragem tremenda, e isso custa a própria vida deles! (Senta-se, tira do bolso um pequeno cachimbo, e começa a fumar) O senhor bem que podia rachar um pouquinho de lenha… Capelão (Despe contrafeito a jaqueta e prepara-se para rachar lenha) Eu, na verdade, sou pastor de almas, não sou lenhador. Mãe Coragem Alma eu não tenho; mas a lenha me faz falta. * Trecho extraído de Bertolt Brecht, Mãe Coragem e seus filhos. In. Teatro completo: em 12 volumes. Tradução de Geir Campos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. ___________________________________________________________________________________ ------------
------------ “O sucesso não é o final; o fracasso não é fatal. O que conta é a coragem para seguir em frente.”Winston Churchill ------------ É HORA DE OS CIVIS TEREM CORAGEM “A República deve ser agraciada com silêncio dos militares.” Essa é a conclusão de alguém que, por ofício, ouve o que os militares dizem e pensam. Francisco Carlos Teixeira da Silva é historiador. Por mais de 15 anos, tentou ensinar a novatos e veteranos a verdadeira história do Brasil. Encontrou a resistência de uma corporação que tem sua própria versão da história, que lhes atribui a missão de fundar a nação e protegê-la de inimigos, inclusive imaginários, internos. Tudo pelo filtro de uma elite conservadora, agrária e patrimonialista. Chico, como pede para ser chamado, foi assessor do Ministério da Defesa no segundo governo Dilma. Chegou a fazer uma proposta de reforma do ensino militar, discutida, em partes, com Darcy Ribeiro, com quem trabalhou. No currículo, haveria leitura obrigatória de 10 livros da literatura sobre a realidade brasileira, de Érico Veríssimo a José Lins do Rego, passando por Machado de Assis e Graciliano Ramos. “Não dá para formar oficiais que sejam bons funcionários públicos e guerreiros só com matemática binária”, ele acredita. Mas Chico encontrou uma oposição arrasadora — dentro da estrutura militar, mas também entre civis. ___________________________________________________________________________________ ----------
------------ O Dia Em Que Getúlio Matou Allende E Outras Novelas Do Poder Tavares, Flavio ------------ Livro O Dia Em Que Getulio Matou Allende E Outras Novelas Do Poder Um encontro casual do jovem estudante Flávio com Salvador Allende, na China em 1954, logo após o suicídio de Getúlio Vargas, é um dos casos de O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas de poder. Nele, a História recente do poder é contada na sua realidade crua e irônica, na forma de novelas do dia-a-dia, sem a solene fantasia da política. A face oculta da vida pública aparece com suas intimidades, falcatruas, dramas ou alegrias e a relação homem-mulher (escondida pelos biombos do poder) surge como parte da política. Flávio Tavares conta as profundezas do que viveu, viu e ouviu como jornalista político, nos centros do poder, durante os anos 1950 e 1960, e os personagens surgem nus, com a alma e as entranhas à vista. As histórias íntimas de Getúlio marcam o itinerário do suicídio. Em seguida, o marechal Lott, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart surgem em meio a paixões secretas, negociatas, traições ou afetos. E os escuros labirintos do poder se iluminam, mostrando os segredos do golpe militar de 1964 e por que Jango decidiu não resistir. Tudo se completa com narrações sobre Stalin, Perón ou De Gaulle e com uma história que Che Guevara contou ao autor em 1961, presságio do seu destino trágico de seis anos depois. Frida Kahlo encerra o ciclo, num relato de amor e fanatismo. Um livro para saborear as ilusões do poder. Documentos secretos da embaixada norte-americana ou diálogos inéditos entre Kennedy e Jango revelam aspectos novos da presença dos EUA no golpe de Estado no Brasil. E os relatos sobre figuras estrangeiras — Che Guevara, Perón, De Gaulle, Stalin — ou a mágica narrativa sobre Frida Kahlo compõem uma visão ainda mais profunda do encanto e da fragilidade do poder. No seu livro anterior, Memórias do esquecimento, Flávio deu um testemunho poético e cru das prisões da ditadura. Agora, testemunha o que viu ou ouviu na política e, em ritmo de novela, mostra que nenhum reino vale muito mais do que um cavalo. Ficha Técnica do Livro Veja abaixo alguns detalhes e características deste livro. Aproveite para indicar ou não indicar a obra, ajudando assim toda a comunidade leitora. Autor(es) Flavio Tavares Editora Record Idioma Português ____________________________________________________________________________________ --------------
----------- Livro Agosto Rubem Fonseca ----------- 1º de agosto de 1954, Rio de Janeiro, capital da República. Um empresário é assassinado e outro crime é planejado na sede do governo federal. O atentado frustrado contra o jornalista Carlos Lacerda, opositor de Getúlio Vargas, causará uma das maiores reviravoltas da história do Brasil. Um dos maiores sucessos de crítica de Rubem Fonseca, Agosto nos questiona: em que medida a história de uma pessoa e a história de um país se determinam, se diferenciam e se assemelham? Ao misturar com maestria história e ficção, o autor encontra a resposta: a boa literatura. ___________________________________________________________________________________ ----------
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---------- 29 de setembro de 1908 - morre Machado de Assis. ------------ "Machado de Assis, cujo livro de cabeceira afirmou certa vez ser o Eclesiastes, dispensou a extrema-unção sugerida por algumas das bondosas pessoas amigas que o acompanhavam, sofrendo com as terríveis dores do doente, na sala contígua, a agonia do moribundo em seu leito de morte. Isso ocorreu no quarto ao lado de sua casa no Cosme Velho." ___________________________________________________________________________________ -------------- É HORA DE OS CIVIS TEREM CORAGEM Para Francisco Teixeira da Silva, vivemos um momento único da história em que a política pode conduzir, com autoridade, os militares e sua visão salvacionista e patrimonialista de volta à caserna Flávia Tavares – Meio, 23/08/23 “A República deve ser agraciada com silêncio dos militares.” Essa é a conclusão de alguém que, por ofício, ouve o que os militares dizem e pensam. Francisco Carlos Teixeira da Silva é historiador. Por mais de 15 anos, tentou ensinar a novatos e veteranos a verdadeira história do Brasil. Encontrou a resistência de uma corporação que tem sua própria versão da história, que lhes atribui a missão de fundar a nação e protegê-la de inimigos, inclusive imaginários, internos. Tudo pelo filtro de uma elite conservadora, agrária e patrimonialista. Chico, como pede para ser chamado, foi assessor do Ministério da Defesa no segundo governo Dilma. Chegou a fazer uma proposta de reforma do ensino militar, discutida, em partes, com Darcy Ribeiro, com quem trabalhou. No currículo, haveria leitura obrigatória de 10 livros da literatura sobre a realidade brasileira, de Érico Veríssimo a José Lins do Rego, passando por Machado de Assis e Graciliano Ramos. “Não dá para formar oficiais que sejam bons funcionários públicos e guerreiros só com matemática binária”, ele acredita. Mas Chico encontrou uma oposição arrasadora — dentro da estrutura militar, mas também entre civis. A tutela dos militares sobre os civis é secular, não começa pós-ditadura. Também não se agrava com a Comissão Nacional da Verdade, defende Chico. Ela é retroalimentada por militares que conservam sua mentalidade salvacionista nas academias. E por civis que recorrem às Forças Armadas para resolver seus problemas eventualmente. Conduzi-los de volta à caserna é um esforço que demanda coragem e autoridade. Mas, se houve na história um momento propício, é o atual. Professor titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ, crédito que Chico mais se orgulha de ter por ter sido conquistado em concurso público, ele também ensinou na Escola de Guerra Naval (EGN), na Escola de Comando do Estado-Maior do Exército (Eceme) e na Escola Superior de Guerra (ESG). Conversa intensamente com oficiais, principalmente os “legalistas”. Diz-se respeitado nessa interlocução, mesmo com entrevistas e artigos frequentes em que descreve a visão de mundo equivocada dos militares brasileiros. Chico defende que é hora de civilizar o debate político brasileiro, no sentido de deixá-lo exclusivamente civil. “O Brasil não conseguiu institucionalizar uma relação com os militares que seja segura para a democracia.” Confira os principais trechos da entrevista.] MEIO - O general Tomás Paiva, comandante do Exército, fala, em seu comunicado, que o Exército é uma “instituição coesa”. Então, é possível analisar Exército e Forças Armadas como uma instituição, sem fulanizar? MEIO - É desses mitos históricos que nasce a pretensão das Forças Armadas de ser um “poder moderador”? No Império, existia o poder Legislativo, no Parlamento; o Judiciário, nos tribunais; e o Executivo era exercido pelo primeiro-ministro, que no Brasil se chamava ministro do Império. Havia também um quarto poder, era o poder moderador, que residia no imperador e era muito forte, porque ele podia nomear governadores, dava títulos de nobreza — uma forma de fazer política — e dissolvia e convocava o Parlamento e as eleições. Esse quarto poder não foi recepcionado em nenhuma Constituição. Os militares entendem que eles são os herdeiros do poder moderador. E que podem intervir na política republicana para restaurar princípios morais, principalmente na questão da corrupção, e ordenar as instituições a trabalhar nesse sentido de ordem e progresso. A segunda marca profunda na mentalidade militar, também ruim para a a vida republicana, é aquela que vem depois da Segunda Guerra, das relações com o Exército americano e da Guerra Fria: a ideia da existência de um inimigo interno. Não o combate a inimigos em fronteiras, que seria a função precípua das Forças Armadas. Dada a formação conservadora, mantida pelas escolas e academias militares, esse inimigo interno é sempre visto em qualquer movimento com características de promoção e avanço social. Já foi o anarquismo, o comunismo, o varguismo, o trabalhismo, o social-desenvolvimentismo e agora é o petismo ou o bolivarianismo. MEIO - Renomeado de comunismo. Isso. Esses dois mitos deles, como fundadores da República e da nação e como os únicos capazes de combater o inimigo interno, fazem com que eles tenham uma visão sistêmica, para além dos indivíduos, sobre as relações deles, militares, com a política. Insisto no “para além dos indivíduos”. Nesta semana, escrevi um pequeno texto sobre o tenente-coronel Mauro Cid, que foi meu aluno na Eceme, e vários oficiais — eu converso com eles o tempo todo — disseram: “professor, não podemos falar em Forças Armadas ou Exército a partir de um indivíduo”. Esses são os que não estão cerrando fileiras em torno de Mauro Cid e tudo que ele fez e representa. São legalistas. Mas você vê que tem um problema de que qualquer crítica às Forças Armadas aparece como uma crítica pessoal. Os militares não conseguem lidar com o fato de que não estamos preocupados com o general ou coronel tal. Estamos preocupados com o que permite que o coronel ou o general assumam um papel tão decisivo na República. MEIO - Essa mentalidade que o senhor descreveu é repassada tanto na formação quanto na atividade militar. A maioria dos professores nas academias são militares? Há espaço para alterar essas percepções? Tanto na Escola de Guerra Naval como na Eceme, no Rio, já há uma maioria de professores civis, de alto nível, vindos por concurso público, sem nenhum pressuposto ideológico, e que orientam e dão aulas para militares. O programa de pós-graduação em assuntos marítimos da EGN e o programa de assuntos militares da Eceme são conduzidos largamente por professores civis. E as bancas de concurso foram formadas por professores advindos das universidades. Esse foi um momento único no segundo governo Lula, em que se deu uma ventilação nessas escolas. MEIO - Como é a receptividade dos militares com professores civis, especialmente de Humanas, que têm a pecha de serem de esquerda? Olha, a universidade brasileira, nos anos 1980 e 1990, teve uma mutação ideológica muito grande. Os grupos que eram dominantemente marxistas dos anos 1960 e que fizeram oposição ao regime ditatorial foram convertidos, transformados em grupos pós-estruturalistas — isso imaginando que o Marxismo é uma forma de pensamento estruturalista. Principalmente, com o impacto de pensadores como Michel Foucault, eles alteraram a percepção tradicionalmente marxista, de esquerda. Isso é um pé de página, mas, de fato, os professores de História, Sociologia e Filosofia, para os militares, carregam um certo cartaz de “perigo”. Isso não se deve a um desvio ou uma postura de esquerda ou direita, mas sim porque trabalhamos com temas que são deixados de lado, sofrem apagamento. Um exemplo: esse mesmo Exército que cultua Guararapes não faz qualquer menção, em nenhuma escola militar, não tem um regimento, um batalhão chamado Zumbi. Ora, o primeiro pedaço de território nacional que se torna independente, tanto de Portugal quanto dos holandeses, foi o quilombo dos Palmares. Esse reconhecimento das raízes populares, multiétnicas, o papel dos povos indígenas, negros, o problema da escravidão, nada disso é colocado. É um absurdo histórico que não haja um regimento Zumbi dos Palmares. MEIO - O que isso revela do conceito de heroísmo dos militares? É um pensamento da elite branca dominante proprietária de terras. Não é à toa que toda vez que se fala em reforma agrária, eles ficam desesperados. Mesmo a maioria absoluta dos militares não sendo proprietários de terra, eles incorporaram a ideologia da elite agrária do país. O MST, para eles, é o principal transtorno à vida democrática do Brasil, e o MST sequer é um movimento socialista. É um movimento católico, cristão, radical, cooperativista, que aumenta a propriedade privada e a distribui, não acaba com a propriedade privada. Mas é difícil para eles entenderem. A formação militar é essencialmente na matemática tradicional. Isso foi muito bem representado uma vez com o general Mourão falando da televisão. Ele começou a ditar equações, fórmulas matemáticas para dar conta de uma situação social. Essa visão matemática é totalmente binária. Não ajuda a pensar a complexidade da sociedade brasileira. Mas os militares imaginam que são os únicos que conhecem a sociedade brasileira, porque já serviram em Benjamin Constant, no Oiapoque, em Tabatinga. Sem perceber que indo com essa visão, com essas lentes profundamente elitistas, eles só confirmam o que já queriam ver. Além dessa ideia salvacionista, de que são os únicos que não são corruptos, eles têm também uma imagem da história do Brasil sustentada numa visão elitista, patrimonialista e agrarista da sociedade brasileira. MEIO - Corporativista também? Toda vez que há uma reação da sociedade civil para eles voltarem à caserna, eles condicionam o movimento a recursos, investimentos e benefícios. Militares, quando juram a bandeira e se incorporam, têm a obrigação de morrer pelo país. Isso cria uma excepcionalidade na função militar. Além disso, eles vão morar, durante a sua juventude, enquanto estão se formando, num quartel. Depois, como tenentes, onde forem alocados. Como capitães, por mais 10 anos, vivem como num deserto — essa é a patente em que se prova se o sujeito vai prosseguir ou não. Pense naquele capitão que nunca conseguiu passar de capitão, reclamava de falta de dinheiro, das condições de trabalho... Como capitães, eles estão colocados em lugares precários, normalmente já estão casados e as famílias são obrigadas a ir junto, os filhos crescem trocando de escola a cada dois anos. Decididamente, é um trabalho diferenciado, com exigências físicas, inclusive. Eles entendem que isso merece uma remuneração diferenciada. Agora, eles escolheram isso. Quando você escolhe, assume o ônus e o bônus de qualquer profissão. É necessário que haja essa diferenciação de aposentadoria integral, mais cedo, e quando se explica isso, a população em geral concorda com benefícios diferenciados, que deviam se estender aos policiais. Mas isso não quer dizer, de maneira alguma, que eles tenham uma superioridade de cidadania em relação aos civis. Não tem como transformar isso numa outra cidadania, na qual eles tenham todo um sistema de moradia, de alimentação, de saúde, de salários que vão se acumulando, a ponto de, no final do governo passado, haver generais recebendo R$ 300 mil por mês. MEIO - Mesmo porque os militares não estão enfrentando risco de morte. Sim, desde 1943 o Brasil não vai à guerra. Esse exército começou a ser burocratizado e a promover uma série de atividades que são totalmente diferentes do fim precípuo de um exército, que é o combate. Felizmente, não combatemos desde a envio da FEB para a Itália há 80 anos. Eles começaram a substituir isso por funções públicas, civis, acumulando emolumentos, salários, cargos. Hoje, o exército consome a maior parte do seu orçamento em custeio, não em pesquisa, armamento ou modernização. Chegou ao ponto de, nos governos Lula 1 e 2 e Dilma, juntar a formação militar específica a MBAs de Finanças, Empreendedorismo e Administração, dados pela Fundação Getúlio Vargas, contratada pelo Exército. Isso aumentou a ideia de privatização das Forças Armadas em direção à gestão da coisa pública, como se o país fosse uma empresa, com os princípios hiper liberais vigentes nesses MBAs. E criou um soldado que hoje não é formado visando a luta, mas visando a gestão, a administração. MEIO - Além de instituição coesa, o general Paiva diz que o Exército está em estado de “permanente prontidão”. Se não há combate, que prontidão seria essa? Isso deveria ser perguntado ao general. Até onde eu saiba, o Brasil não tem nenhuma disputa, nenhuma ameaça imediata ao seu território. A integridade territorial e a manutenção de soberania deveriam ser as duas funções precípuas das Forças Armadas, elas estão descritas na Constituição. Por que estamos em permanente prontidão? Por causa do inimigo interno? Quem tem de manter a ordem interna são as polícias: a Federal e as polícias estaduais, civis e militares. Esse é o grande debate do artigo 142 da Constituição, que foi muito mal redigido. Foi uma exigência dos militares no processo de transição junto à Constituinte de 1988. Ali, havia pelo menos 40 assessores militares no nível de coronel impondo sua visão. Existem duas formas de transição de ditadura para a democracia. Uma das formas clássicas é quando a ditadura entra em colapso. Foi o caso da Argentina após a guerra das Malvinas; de Portugal depois da guerra colonial; da Grécia depois da guerra em Chipre. Existem outros casos em que a ditadura ainda é forte e pretende guiar a transição. É o que chamamos de transição pactuada ou tutelada. Foi o caso do Chile, que não consegue sair da Constituição do Pinochet até hoje; da Espanha; e é o caso do Brasil. Não conseguimos impor uma visão puramente civilista na Constituição de 1988. Uma das pessoas que participou da comissão que redigiu artigo 142 foi o então futuro presidente FHC. Mas, ao longo de seu governo, ele fez duas leis complementares ao artigo 142, que alteram inteiramente seu funcionamento. MEIO - De que maneira? A lei complementar diz claramente que a Garantia da Lei e da Ordem só pode ser feita a pedido de um governador, do ministro da Justiça e autorizada pelo presidente. Não há, de maneira alguma, uma forma de um general ou um comandante de área ou região militar tomarem iniciativas. Eles não podem, porque são mandados, não mandam. Isso está claro nas leis complementares ao artigo 142, que ninguém lê. Ficam só naquele texto inicial, vencido, mas que causa esse mal-estar de intervenção ou tutela permanente da República pelos militares. Eles continuaram pensando com essa ideia de que são os garantes, para usar uma expressão diplomática. Não são. Isso é Polícia Federal que faz, como está fazendo agora. Nós vivemos um momento divisor de águas. Eu não sei, sinceramente, se os políticos, inclusive o núcleo político do governo atual, entenderam isso. É um momento em que podemos dar um basta a essa história mais do que secular de tutela da República pelos militares. Ou podemos fazer o que vários políticos, como José Múcio, querem: virar a página da história. Mas vai ser virar as páginas de uma história que não foi escrita ainda. MEIO - Como civis podem impor essa autoridade aos militares? Os militares foram os grandes responsáveis pela proclamação da República em 1889, mas não foram os únicos. Havia uma história republicana anterior. É só lembrar de Tiradentes, Frei Caneca, Garibaldi, todos esses republicanistas que lutaram pela república. Eram civis. Falar que a República é um fato militar é desconhecer a história. Depois de 1889, tivemos guerra civil até mais ou menos 1910. Em 1922, recomeça eh agitação militar com o movimento tenentista; temos a Revolução de 1930; o golpe de Estado de 1937; o golpe de 1945; o levante em 1954 que leva ao suicídio de Vargas; o levante contra Juscelino Kubitschek, em 1956; a oposição à posse legal de João Goulart em 1961; e o golpe de 1964. Vou parar por aí, mas dentro da própria ditadura teve, em 1977, a tentativa de golpe do Silvio Frota e do hoje General Augusto Heleno, então capitão, contra Geisel. Eles contra eles. É uma história já muito saturada. Ela precisa ser encerrada. Encerrar essa história implica em que os militares não sejam trazidos para a política — nem através de eleições. É muito bem colocado o projeto de lei do deputado Zarattini (PT-SP), que fala que todos os militares que participaram de vida política, com cargo administrativo civil, devem ir automaticamente para a reserva. Essa coisa de se apresentar como capitão fulano, general sicrano, acaba de vez. MEIO - E os militares que já estão nas funções civis? Uma medida que foi fundamental no dia 8 de janeiro, e eu prezo que aí se acertou enormemente, principalmente pela ação do ministro Flávio Dino, do jornalista Ricardo Capelli e do jurista Wadih Damous, foi negar controlar aquela desordem com uma GLO. Mais que isso: nomear, pela primeira vez na história da República, um interventor civil, que foi o próprio Capelli — um jornalista. Ele colocou ordem, começou os inquéritos, as prisões e quando tivemos a crise no GSI ele novamente foi interventor. Mas aí voltou-se atrás. Em vez de nomear um civil para o GSI, voltou-se a nomear um militar. Temos que civilizar esse debate. Civilizar no sentido de deixar civil mesmo. O apagamento, o deixar para lá, não é uma resposta. Tem que dizer aos militares que eles podem perder seus salários, suas casas, seus benefícios. Eles não estão decididos a perder isso. O presidente francês, Emmanuel Macron, foi eleito sem ter nenhuma experiência militar. Na sua posse, o chefe do Estado-maior fez uma declaração ruim, dizendo que o Macron nada sabia de assuntos militares. O primeiro ato do Macron foi a exoneração do general. “Quem fala pela França sou eu, quem foi eleito fui eu, os senhores não falam pelo país, se falarem serão punidos” — essa clareza é fundamental. O mesmo aconteceu com o Pedro Sánchez, o presidente do conselho de governo da Espanha. O general Paiva não tem de vir a público definir o papel do Exército, falar em prontidão, falar que o Exército é coeso ou democrático. Isso está na Constituição. Por que ele tem de lembrar seus comandados? Alguém questionou? Se sim, tem de ser punido. O melhor ruído que os militares podem fazer numa república democrática é o silêncio. ___________________________________________________________________________________ ----------- ----------- Carlos Gomes - O Guarani por Marco Antonio Bernardo (piano) ---------- Instituto Carlos Gomes Abertura da Ópera "O Guarani" executada pelo pianista Marco Antonio Bernardo. O Guarani (1870), Ópera do Maestro Antônio Carlos Gomes, baseada no romance brasileiro O Guarani, escrito por José de Alencar. O "libreto" foi escrito por Antonio Scalvini e D'Carlo Ormeville. ___________________________________________________________________________________

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