Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 31 de janeiro de 2023
AZUL ULTRAMARINO
(ex.: depois de mudar a peça, retrabalho a parte electrónica do sistema)
Discurso de recepção
***
***
SALLES DEFENDE APROVEITAR MOMENTO PARA “PASSAR A BOIADA” E SIMPLIFICAR NORMAS
***
UOL
Compartilhar
23 de mai. de 2020
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aproveitasse o foco da imprensa na cobertura da pandemia do novo coronavírus para aprovar reformas "infralegais" de todos os tipos. Para o ministro, essa seria a hora de "passar a boiada" e simplificar normas "de baciada”.
****************************************
***
Roda Viva | Maria Ressa | 30/01/2023
***
Roda Viva
Transmissão ao vivo realizada há 16 horas #RodaViva
O #RodaViva desta segunda-feira (30) entrevista a escritora e jornalista filipina Maria Angelita Ressa, uma das ganhadoras do prêmio Nobel da Paz em 2021, por seus esforços para defender a liberdade de expressão.
Criadora do maior portal de notícias das Filipinas, o Rappler, Maria Ressa foi a principal opositora à gestão autoritária do então presidente Rodrigo Duterte, que deixou o cargo no ano passado. Foi perseguida, presa e ameaçada de morte em rede nacional.
A bancada de entrevistadores é formada por Adriana Ferreira Silva, jornalista e escritora; Cecília Olliveira, jornalista do Intercept Brasil; Jefferson Barbosa, editor do Perifa Connection; Katia Brembatti, presidente da Abraji; e Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de S.Paulo.
A apresentação do programa é da jornalista Vera Magalhães.
*****************************************************************
***
Bom Dia
Maria Bethânia
Amanheceu, que surpresa
Me reservava a tristeza
Nessa manhã muito fria
Houve algo de anormal
Tua voz habitual
Não ouvi dizer "bom dia"
Teu travesseiro vazio
Provocou-me um arrepio
Levantei-me sem demora
E a ausência dos teus pertences
Me disse, "não te convences
Paciência, ele foi embora"
Nem no frio apartamento
Deixaste um eco, um alento
Da tua voz tão querida
E eu concluí num repente
Que o amor é simplesmente
O ridículo da vida
Num recurso derradeiro
Corri até o banheiro
Pra te encontrar, que ironia
E que erro tu cometeste
Na toalha que esqueceste
Estava escrito "bom dia"
Composição: Aldo Cabral / Herivelto Martins.
***
Nas entrelinhas: Estava em curso o genocídio dos ianomâmis
Publicado em 31/01/2023 - 06:43 Luiz Carlos AzedoAmazônia, Brasília, Comunicação, Ética, Governo, Guerra, Justiça, Meio ambiente, Memória, Militares, Política, Política, Saúde, Violência
Barroso tomou a decisão de mandar investigar a grave situação dos nossos indígenas, como os Ianomâmis, com base nos fatos já comprovados
Não poderia ser diferente, depois da reportagem da jornalista Sônia Bridi na reserva Indígena Ianomâmi, domingo, no Fantástico (TV Globo). O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, ontem, a investigação da possível prática dos crimes de genocídio de indígenas e de desobediência de decisões judiciais por parte de autoridades do governo Jair Bolsonaro.
São imagens chocantes, que equivalem às das crianças do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, cujas fotos me embrulharam o estômago quando lá estive e vi montanhas de cabelo, sapatos, brinquedos, agasalhos, próteses, óculos e outros pertences pessoais que lhes foram tirados. O que mais impressiona é a “racionalidade” com que tudo foi feito, a partir da “banalidade do mal”, como disse a filósofa judia-alemã Hannah Arendt.
O conceito foi cunhado a partir do julgamento em Jerusalém do criminoso de guerra nazista Karl Adolf Eichmann, responsável por ocupar funções na Seção de Assuntos Judaicos do Departamento de Segurança de Berlim. Um dos principais colaboradores de Hitler, acusado pela morte de inúmeros judeus, Eichmann havia fugido para a Argentina, onde foi localizado por agentes israelenses, que o sequestraram e levaram para Jerusalém, onde foi julgado e condenado à morte.
Convidada para assistir ao julgamento, Arendt escreveu um livro. Chegou à conclusão de que Eichmann não era um ser demoníaco, mas um mal constante, que fazia parte da rotina de trabalho dos oficiais nazistas. Eichmann nunca se considerou culpado pelos crimes cometidos, disse que apenas “cumpria ordens, seguindo as leis vigentes naquele período”. Acreditava na sua inocência porque seguia ordens superiores e as leis do Estado nazista.
Na avaliação de Arendt, essa seria a justificativa para a ascensão em regimes totalitários e a banalização da razão e coerência do ser humano. Obcecado por poder e ascensão social, Eichmann faria qualquer coisa pelo reconhecimento social e o sucesso na hierarquia nazista, daí a banalização do mal que praticava. No entendimento de Arendt, a razão pela qual deveria ser punido era principalmente essa. Sua racionalidade não era voltada para o bem comum, mas apenas em seu próprio benefício.
As crianças ianomâmis não foram exterminadas nas câmaras de gás como as crianças judias (1,5 milhão foram mortas no Holocausto), estavam sendo mortas pela fome e falta de assistência médica; as adolescentes e jovens eram exploradas sexualmente em troca de comida. Os ianomâmis estavam sendo exterminados por uma política de Estado. Um livro escrito pelo coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto (Biblioteca do Exército, 1995) sustenta que a existência dos Ianomâmis era uma farsa.
Política de extermínio
A Farsa Ianomâmi disseminou nas Forças Armadas e em alguns setores o medo de perder a soberania em áreas da Amazônia brasileira. Menna Barreto apontava um conluio entre ONGs e forças estrangeiras para “separar do Brasil” o território indígena, “cedê-lo aos fictícios ‘ianomâmis’ e “preparar a dominação futura da Amazônia (…) para a posterior criação de países indígenas independentes, sob a tutela das Nações Unidas”.
O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, quando comandante militar da Amazônia, vocalizou essa tese publicamente, em razão da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol. Todos os órgãos federais, inclusive os destacamentos de fronteira das Forças Armadas, governadores e prefeitos foram coniventes com a situação. Sabia-se que os garimpeiros estavam contaminando os rios, matando e explorando os ianomâmis, em aliança com os traficantes de cocaína.
Havia um centro de comando dessa política de extermínio: o então presidente Jair Bolsonaro, aliado dos garimpeiros, que trocou e escolheu a dedo os principais responsáveis pelos órgãos de fiscalização, controle e repressão de Roraima, com a orientação de deixar os índios à míngua e liberar geral o garimpo ilegal, assim como em outros estados da Amazônia.
Barroso tomou a decisão de mandar investigar a grave situação enfrentada por nossos indígenas, como a Ianomâmi, com base nos fatos já comprovados. De acordo com lei, comete o crime de genocídio a pessoa que age com intenção de destruir, totalmente ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Ordenou, ainda, que o governo atue para garantir a retirada de garimpos ilegais em sete terras indígenas e fixou prazo de 30 dias para que seja apresentado um diagnóstico dessas comunidades, com o respectivo planejamento e cronograma de execução de medidas.
Seu despacho traduziu a banalização do mal: “Quadro gravíssimo e preocupante, sugestivo de absoluta anomia (ausência de regras) no trato da matéria, bem como da prática de múltiplos ilícitos (crimes), com a participação de altas autoridades federais”.
Compartilhe:
**********************
***
Lápis Lazuli verdadeiro (a pedra azul dos egípcios) 50g
***
***
Dalva de Oliveira
***
Bom dia!
- Não há lei que nos permita, presidente!
- Tem gente estranha aqui, agora?
- Não, senhor presidente. Só nós mesmos.
- Num tão gravando não, né.
- Claro que não, Chefe!
- Então, que tão esperando? Façam as pp. das tais leis de que ainda não dispomos!
- Sim senhor Chefe!
“Simples assim, senhores, uns mandam, outros obedecem.”
***
***
Pazuello sobre Bolsonaro: “Um manda e o outro obedece”
***
'É simples assim: um manda e o outro obedece', diz Pazuello ao lado de Bolsonaro
Na véspera, presidente desautorizou ministro da Saúde ao cancelar protocolo para compra de vacina chinesa. Pazuello fez anúncio da compra em reunião com governadores.
Por Guilherme Mazui, G1 — Brasília
22/10/2020 15h02 Atualizado há 2 anos
‘É simples assim: um manda e outro obedece’, diz Pazuello em encontro com Bolsonaro
***
‘É simples assim: um manda e outro obedece’, diz Pazuello em encontro com Bolsonaro
***
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta quinta-feira (22) em uma transmissão ao vivo ao lado do presidente Jair Bolsonaro que "é simples assim: um manda e o outro obedece" (assista no vídeo acima).
Nesta quarta-feira (21), o presidente desautorizou o ministro, ao mandar cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, anunciado no dia anterior por Pazuello em uma reunião com governadores.
A vacina é desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, e pela farmacêutica chinesa Sinovac. Bolsonaro é adversário político do governador paulista, João Doria (PSDB) e vem colocando restrições à compra do imunizante da China.
Depois de pressão interna, o presidente Bolsonaro elogiou o ministro da Saúde
***
Depois de pressão interna, o presidente Bolsonaro elogiou o ministro da Saúde
***
Segundo informou o blog de Valdo Cruz, Bolsonaro sabia da negociação para a compra da vacina, mas voltou atrás após sofrer pressão de apoiadores em redes sociais. O episódio provocou mal-estar entre militares, já que Pazuello é um general da ativa do Exército, de acordo com o blog de Andréia Sadi.
"Não compraremos a vacina da China", escreveu o presidente em uma rede social na manhã desta quarta-feira. À tarde, durante visita a um centro militar da Marinha, em Iperó (SP), afirmou: "O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade."
Andréia Sadi: Desgaste de Pazuello causa mal-estar entre militares
'Guerra das vacinas' só prejudica a população, dizem governadores
Na transmissão desta quinta-feira, Bolsonaro disse a Pazuello, diagnosticado com a Covid-19: "Semana que vem, talvez, com toda certeza, tu volta para o batente aí."
Pazuello, então, respondeu: "Pois é, estão dizendo que não, né? Tamo junto".
Bolsonaro, por sua vez, acrescentou: "Falaram até que a gente tava brigado aqui. Pô, no meio militar é comum acontecer isso aqui, tá certo? É choque das coisas, não teve problema nenhum."
Pazuello, na sequência, declarou: "Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar".
Enquanto Pazuello falava, Bolsonaro ria, colocando a mão sobre o ombro do ministro da Saúde. O presidente, em seguida, disse: "Opa. Tá pintando um clima aqui".
Os dois participaram da transmissão ao vivo sem máscara.
***
***
Vacina: avanços, dúvidas e disputa políticaVacina: avanços, dúvidas e disputa política
O Assunto
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/10/22/e-simples-assim-um-manda-e-o-outro-obedece-diz-pazuello-ao-lado-de-bolsonaro.ghtml
********************************
***
CAPÍTULO PRIMEIRO
DO TÍTULO
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você”.— "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo”.— "Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça”.
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
***********************************************
***
CAPÍTULO PRIMEIRO / ÓBITO DO AUTOR
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que
o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também
contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês
de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca
de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem
anúncios. Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda,
triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que
proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus
senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar
chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que
têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu,
aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo,
tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas
entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe
deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim
que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as
ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego
como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viramme ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha
irmã Sabina, casada com o Cotrim, a filha, — um lírio do vale, — e...
Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira
senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não
parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade, padeceu mais.
Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão,
convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um
solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que
reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o
que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à
cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a
triste senhora mal podia crer na minha extinção.
— “Morto! morto!” dizia consigo.
E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu
desferirem o vôo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das
ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa senhora também voou
por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil...
Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir
aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranqüilamente,
metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos
homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e
o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá
fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte
foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em
diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com
uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia
à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra e
lodo, e coisa nenhuma.
Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a
pneumonia, do que uma idéia grandiosa e útil, a causa da minha
morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou
expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.
********************************************************
***
"Um autor-defunto, resolve da sepultura narrar suas memórias enquanto era vivo (morto-vivo)."
UM ULTRA MARINHO MORTO VIVO DE ORLANDO PLAGIA Medeiros de Albuquerque E CABALA VOTOS PARA ROGÉRIO MARINHO CONTRA PACHECO NO SENADO FEDERAL DA REPÚBICA.
'O que significa ser um “defunto autor”? Machado de Assis exige perspicácia de seu leitor e brinca com a língua portuguesa ao apresentar este insólito personagem. O autor defunto é aquele que faleceu deixando como legado toda a sua obra; o defunto autor torna-se, na brincadeira machadiana, escritor depois de morto.'
JAIR BOLSONARO DE ORLANDO PEDE VOTOS PARA ROGÉRIO MARINHO PARA A PRESIDÊNCIA DO SENADO FEDERAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Bolsonaro reforça apoio a Marinho e pede voto 'contra o PT' no Senado
Nos Estados Unidos, ex-presidente tem ligado para aliados e pedido votos para candidato do PL
28/01/2023 | 15:21
AE
Ex-presidente quer impedir de reeleição na presidência do Senado
***
***
Ex-presidente quer impedir de reeleição na presidência do Senado | Foto: Evaristo Sa / AFP / CP
***
A campanha de Rogério Marinho (PL-RN) ao comando do Senado conta agora com um reforço vindo dos Estados Unidos. Desde sexta-feira, 27, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em Orlando, começou a telefonar para aliados pedindo que votem em Marinho e, principalmente, "contra o PT". As eleições que vão escolher os presidentes da Câmara e do Senado para o biênio 2023-2024 estão marcadas para 1.º de fevereiro.
Foi o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que solicitou a ajuda. Ex-ministro do Desenvolvimento Regional, Marinho vai desafiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que é candidato à reeleição e concorre com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT. Corre por fora o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que se lançou como avulso e é visto como linha auxiliar de Marinho por ser bolsonarista.
A trinca do Centrão, formada por PP, PL e Republicanos, oficializará neste sábado, 28, o bloco pró-Marinho. Os três partidos reúnem 23 senadores de um total de 81. Para ser eleito, o candidato precisa de 41 votos. Como a votação é secreta, todos temem traições.
Diante do favoritismo de Pacheco, aliados de Marinho recorrem nas redes sociais à estratégia do "gabinete do ódio", instalado no Palácio do Planalto durante o governo Bolsonaro, na tentativa de desconstruir o adversário. Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos no dia 30 de dezembro do ano passado e não passou a faixa a Lula. Ainda não se sabe quando ele retornará ao Brasil. A ex-primeira-dama Michelle voltou para Brasília na última quinta-feira, 26. Ela já postou várias mensagens nas redes ao lado de Marinho.
O ex-presidente foi acionado por Valdemar Costa Neto para tentar virar votos de antigos aliados que podem apoiar Pacheco, como Romário (PL-RJ) e Wellington Fagundes (PL-MT). Romário teve dificuldades para ser eleito porque Bolsonaro decidiu apoiar Daniel Silveira (PTB-RJ), ex-deputado cassado por ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Caça às bruxas
Temas como impeachment de ministros do STF, redução da maioridade penal e até a tentativa de golpe no dia 8 têm sido usados na campanha como se a disputa fosse um terceiro turno entre Lula e Bolsonaro. "Não queremos uma caça às bruxas, mas é preciso resgatar a autoridade que o Congresso perdeu", disse Valdemar, sem dirigir ataques diretos ao STF. O senador Girão, porém, admitiu que as candidaturas de oposição a Pacheco querem "enfrentar" o Judiciário. "O restabelecimento da liberdade passa pela análise de pedidos de impeachment de ministros do Supremo. Não vamos segurar isso, não", afirmou.
Enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), só tem como opositor o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) - que lançou candidatura para marcar posição -, Pacheco é alvo no Senado da chamada milícia digital. Foram criadas hashtags como #PachecoNuncaMais e #EleNao. Além disso, circulam posts com as inscrições "PT está fechado com Pacheco" e "Pacheco é Lula". Uma das mensagens pede que senadores não aceitem o "encabrestamento" do STF nem a transformação do Brasil numa "fazenda comunista", um dos bordões do bolsonarismo.
***********************************************
POLÍTICA SENADO BOLSONARO ROGÉRIO MARINHO RODRIGO PACHECO
******************************************************************
***
Discurso de recepção por Múcio Leão
A mensagem de Medeiros de Albuquerque
Não são minhas, Sr. Viriato Correia, e nem vos são endereçadas, as primeiras palavras do discurso com que, investido do mais honroso dos mandatos, vos vou trazer a saudação da Academia.
São as palavras de um morto, e constituem a mais singular das mensagens ainda dirigidas a esta Casa.
Com efeito, Sr. Presidente, V. Ex.a sabe que Medeiros e Albuquerque sempre foi, nos pleitos acadêmicos, o mais veemente partidário da eleição do Sr. Viriato Correia. A Academia acabou de ouvir, entre assombrada e divertida, a história da carta em que ele se propunha a votar depois de morto. Escreveu Medeiros esse documento não muito tempo antes de morrer. Como para lhe dar maior cunho de autenticidade escreveu-o no papel timbrado de A Folha, órgão de que era diretor. A carta diz assim:
***
***
Exmo. Sr. Presidente da Academia Brasileira.
Comunicando a V. Ex.a e aos meus colegas a notícia da minha morte, peço-lhes licença para levantar uma questão: a do voto póstumo.
O Regimento Interno em nenhum dos seus artigos determina que os votos póstumos dos acadêmicos não poderão ser recebidos e apurados. Ora, não é lícito subentender nenhuma restrição de direitos: todo aquele que não está formalmente negado pode, portanto, ser exercido. É disso que me prevaleço, enviando desde já a V. Ex.a o voto para a eleição do meu sucessor.
Note V. Ex.a que meu direito é tanto mais líquido quanto a Academia não deve alegar a morte de qualquer dos seus membros para lhe retirar prerrogativas, se ela é a primeira (lá está a sua bandeira a proclamar) a garantir-lhes a imortalidade.
Poder-se-ia apenas levantar dúvidas sobre a questão do voto por carta, quando alguns dirão que me acho nesta cidade. Mas há nisso um engano, porque, como V. Ex.a sabe, quem morre vai ipso facto para a Cidade dos Mortos.
Assim, nada impede que V. Ex.a consulte, logo que receber esta carta, a Academia sobre a admissão futura dos meus votos. Se, entretanto, ela decidir arbitrariamente pela negativa, peço a V. Ex.a que, desde já, os abra, os leia em sessão e os inutilize.
Apresento a V. Ex.a os meus póstumos cumprimentos.
***
Desta maneira, sob a forma de uma ironia quase macabra, expressava Medeiros e Albuquerque um dos seus grandes desejos, qual o de ver na Academia o maior dos seus amigos literários. Quando ele morreu (contou-nos, agora mesmo, o Sr. Viriato Correia) esta carta foi entregue à presidência da Casa. Tratando-se de um fato inédito, e que só um declarado pendor para o humorismo poderia justificar, é explicável que a estranha missiva nunca tivesse chegado ao conhecimento da Academia. Aprouve-me lê-la, porém, na cópia que Medeiros entregou à própria família. Pareceu-me essa a maneira mais expressiva de associar, desde o começo, o nome daquele nosso glorioso colega à solenidade a que estamos assistindo.
Se ele estivesse ainda conosco, aqui o veríamos, decerto, nesta tribuna, interpretando os sentimentos da Academia na festa de hoje. É, portanto, natural que, pela saudade, o façamos vir à nossa companhia. Que a sua sombra nos seja benévola, a nós ambos, ao grande amigo dele, que ora transpõe estes umbrais, e a mim, que o procuro substituir, sem aquela graça leve, aquele sorriso de demônio amável, aquele saber a um tempo sólido, ornado e pitoresco, dons incomparáveis do seu espírito.
https://www.academia.org.br/academicos/viriato-correia/discurso-de-recepcao
********************************************************************************
****
Viriato Correia
Jornalista
Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho, ou apenas Viriato Correia foi um jornalista, escritor, dramaturgo, teatrólogo e político brasileiro. Wikipédia
Nascimento: 23 de janeiro de 1884, Pirapemas, Maranhão
Falecimento: 10 de abril de 1967, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Formação: Faculdade Nacional de Direito - FND/UFRJ (1907), Faculdade de Direito do Recife
Gênero literário: Romance histórico
Magnum opus: Cazuza
Morte: 10 de abril de 1967 (83 anos); Rio de Janeiro, Guanabara, Brasil
Nome completo: Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
CHÃO DE GIZ
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
***
***
WW - Edição especial | Os poderes de Alexandre de Moraes assustam? - 29/01/2023
***
CNN Brasil
Transmissão ao vivo realizada há 23 horas #CNNBrasil
O tema deste programa é: Os poderes de Alexandre de Moraes assustam?
***************************************************************************
***
Zé Ramalho - Chão de Giz (Ao Vivo 2005) (Clipe Oficial)
***
Por Deus, façam o atual presidente escutar um áudio livro da CF/1988!
***
***
Chão De Giz
Zé Ramalho
***
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentada
No seu calcanhar
Meus vinte anos de boy
That's over, baby!
Freud explica
Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!
compositores: ZE RAMALHO
20 Supersucessos - Zé Ramalho - Vol. II (1999) - Zé Ramalho
Gravadora:
Ano: 1999
Faixa: 16
**********************
***
Art. 2º - Constituição Federal de 1988 - Três poderes
***
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 2º, consagra o Princípio da Separação de Poderes no Estado brasileiro ao dispor que são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
***
***
Moraes nega pedido para suspender posse de deputados bolsonaristas | #SBTNewsnaTV (30/01/23)
***
SBT News
30 de jan. de 2023
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido de suspensão da diplomação de 11 deputados federais bolsonaristas. Eles são suspeitos de estarem envolvidos na invasão aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.
***
“…mais uma casca de banana 🍌 posta pelo grupo lulopetibolsonarista de advogados do autointitulado Grupo Prerrô…”Moraes desguiou de banda e demonstra incompetência dos requerentes. “O problema é o processo.” Zombaria o ex juiz federal da LavaJato se auto referenciando!
***
***
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
Paulo Fábio Dantas Neto* - A solidão paradoxal do presidente
O “paradoxo do isolamento em meio à visibilidade” é uma das questões de Richard Sennett, no livro O declínio do homem público: as tiranias da intimidade (São Paulo, Cia. das Letras, 1988, original de 1974). Uma das passagens elucidativas do paradoxo refere-se à sua introjeção num dado estilo de arquitetura, pelo qual o ambiente construído nos leva a pensar no domínio público como espaço sem sentido:
“Paredes quase inteiramente de vidro, emolduradas por estreitos suportes de aço, fazem com que o interior e o exterior de um edifício se dissolvam, até o menor ponto de diferenciação; essa tecnologia permite (...) o máximo em visibilidade. Mas essas paredes devem ser também barreiras herméticas. (...) embora permeável, também isola as atividades desenroladas no interior do edifício da vida da rua. Nesse conceito de projeto, a estética da visibilidade e o isolamento social se fundem” (Sennett, R. O declínio do homem público, pag. 28).
Uso, metaforicamente, a reflexão de Sennett para iniciar um comentário sobre uma peça de ficção que, na semana que passou, foi motivo de nova fricção no tenso ambiente político nacional. Ela entrou em cartaz através de mais uma fala polêmica do presidente da República, na quarta semana de mandato. Em viagem internacional oficial, Lula afirmou que houve um golpe de estado no Brasil em 2016 e que esse teria sido o marco zero de um processo maligno de destruição da obra benigna dos governos petistas de 2003 até ali. De bate-pronto recebeu dura resposta do ex-presidente Michel Temer, o suposto agente primordial do extermínio que o seu sucessor, Jair Bolsonaro, teria consumado. E, como não poderia deixar de ser, uma sequência de críticas, sem que faltassem também, é claro, aclamações.
Palavras erguidas ostensivamente, como paredes de vidro, permitem expor e ocultar o que se queira, como se verificou durante os últimos quatro longos anos, na política brasileira. Tudo quase sempre fugaz, ligeiro, com a brevidade de um espasmo e a leviandade de um impropério. Tanto que, na mesma semana, cá estava de volta o presidente de intenções pacificadoras, a celebrar um pacto com os 27 governadores e a fazer esforços de apoio à reeleição de Rodrigo Pacheco à Presidência do Senado, ameaçada por uma articulação da direita oposicionista. Dois pontos para Lula e bingo para quem apostou no refluxo da agressão. Foram gestos de contraponto nítido ao estilo e orientação política do seu antecessor e também à impressão deixada pelo ponto perdido por sua conduta no exterior. Há quem considere mais prudente valorizar os contrapontos, relevar o escorregão e suspender a análise. Considero mais razoável qualificá-la melhor, para tentar compreender a partitura que rege o fole.
Enquanto a compreensão ainda escapa, é preciso parar de brincar com palavras assim. Metáfora tem limite. Golpe é coisa séria, como a História do século passado mostra como fato e os acontecimentos do dia 8 reiteraram como ameaça. Usar a palavra em sentido político figurado é dançar ante o desfiladeiro. Pessoas comuns podem achar isso ou aquilo. Em democracias, as impressões e opiniões são livres e, em geral, controversas. O PT usa essa narrativa com objetivo político, pode ser criticado por isso, tendo em vista a responsabilidade política que um partido tem. Mas é tolerável e até compreensível, em tempo de jogo bruto, de consumação do impeachment, prisão de Lula, eleições de 2018. Já nem tanto nas últimas eleições, quando a versão colidia com o fato da frente política que se formou em apoio à candidatura do partido. O próprio Lula repetiu o mantra do golpe algumas vezes na campanha, mobilizando sua galera. Foi estreito, desrespeitoso com aliados, mas, enfim, golpes baixos ocorrem e nessa própria eleição ocorreram bem mais da parte do adversário. Nada justifica, mas com boa vontade algo se explica.
Agora foi diferente. O presidente da República, no exercício do cargo, não pode espalhar opinião partidária como se fosse informação objetiva. Isso é desinformação ainda mais grave se feita na cena internacional. O impeachment é instituto constitucional, normalmente presente em democracias presidencialistas. Aqui - como em todo lugar onde ele existe - é processo de julgamento político do qual o fato jurídico é um dentre outros componentes. Como já se argumentou inúmeras vezes, se o processo fosse só jurídico ocorreria no STF, não no Congresso. Dilma caiu não só pelas pedaladas que deu. Elas sozinhas não produziriam esse efeito. Caiu porque, além das pedaladas, perdeu as condições de governar, seja pela crise econômica marcada por recessão e desemprego galopantes e sem controle, seja pelas relações tempestuosas com o Congresso, seja pela enorme rejeição popular que daí decorreu. Essas foram três condições mais incontornáveis do que as pedaladas. Elas não poderiam ser ignoradas, embora se possa retrospectivamente discutir as respectivas doses de responsabilidade da ex-presidente e de alguns de seus vários adversários pela crise, a tempestade política e a rejeição popular.
Mas golpe, como assim? O impeachment durou mais de duzentos dias, com ampla defesa e à luz do dia. Tudo foi conduzido pela Câmara, depois pelo Senado, como manda a Constituição e nesse último âmbito presidido pelo presidente do STF. Portanto, foi ato constitucional iniciado, concluído e chancelado pelos dois poderes da República aos quais a Constituição confere essa autoridade. O que Lula fez, no discurso para os vizinhos, não foi apenas atingir Michel Temer e o MDB, um partido da base do seu governo. Acusou o Congresso e o STF de terem dado um golpe de Estado. Do ponto de vista institucional é uma acusação muito grave. Decisão tão insólita quanto a de reunir embaixadores para acusar o STF de fraudar as eleições. O discurso não foi apenas politicamente incorreto. É institucionalmente inaceitável.
Contudo, é preciso fazer um esforço para tentar entender a lógica do presidente. Sua trajetória não merece ser simplificada, como se ele fosse um autocrata, ao molde do seu antecessor. O ponto aqui é o do título do artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado hoje: Lula ofendeu Temer, para auê? (O Globo, 29.01.23). Se virmos Lula, a princípio, como mais que apenas um ator solitário, um político de partido envolvido, há décadas, com o jogo interativo da política institucional, é possível seguir, dentre outras, duas trilhas de interpretação, uma ideológica e outra, digamos, de atitude política.
Para seguir a primeira trilha, trago partes publicadas na imprensa de uma palestra de Gilberto Carvalho (ex-Chefe de Gabinete de Lula em seus dois mandatos presidenciais anteriores e Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, sob Dilma Rousseff), proferida no Fórum Social Mundial, no último dia 25.01. Trata-se, como se sabe, de quadro histórico do PT e de pessoa cuja relação com Lula sempre foi marcada por influência e grande confiança pessoal. Sua ausência na equipe do atual governo pode ser objeto de distintas versões, mas se a dele próprio vale algo é bom ler e ouvir o que está no insuspeito site de esquerda Brasil de fato. Afirma perfeita sintonia com o líder e considera ter “feito o sucessor”, com a nomeação de Marco Aurelio Ribeiro (Marcola) para o cargo que antes exerceu (nomeação que anunciou ao site no dia seguinte à eleição de Lula). Versões à parte a essa declaração de presença ausente, sabe-se ainda que se encontra, agora, dedicado a tarefas partidárias de formação política. No foco, renovação de quadros com vistas à sucessão de Lula. Considero razoável pensar nele como quadro expressivo da atualidade do que se pode chamar de lulo-petismo, pois ostenta a condição anfíbia de ter acesso qualificado ao palácio e ao partido. Assim tem relevância a matéria que cobre o FSM (www.brasildefato.com.br/2023/01/25/gilberto-carvalho-espero-que-tenhamos-um-governo-pedagogo).
Diz Carvalho que Precisamos ousar, ter a ambição na seguinte perspectiva: não nascemos para governar o Brasil apenas. (...) não fizemos pouco, fizemos muito, ocorre que algumas limitações, e talvez a falta de ousadia em alguns aspectos, fizeram com que todo esse trabalho fosse destruído em poucos meses com um golpe, e se aprofundou tragicamente no governo Bolsonaro. Nesse diagnóstico do passado, ao qual liga uma ideia de recomeço, estão presentes dois elementos conhecidos do repertório lulo-petista: a crítica a terceiros pelo que teriam feito (“o golpe”) e a autocritica pelo que, por falta de ousadia, os petistas deixaram de fazer (nada do que fizeram entra no balanço crítico). Nesse ponto o raciocínio remete a “alguns aspectos”, não citados. Indeterminação maior tem a mirada ao futuro. A ambição sugerida acena a uma missão de cunho obscuro. Afinal, o que um partido pode ambicionar além de “apenas” governar?
Chegamos ao núcleo do pensamento que pode ser explorado para tentar entender, pela via de interpretação ideológica, por que Lula insiste na versão do golpe, desafiando sua condição presidencial. Em trecho seguinte, Carvalho adiciona pistas que elucidam em parte o que é obscuro, mas deixa no ar novos mistérios: Não vai adiantar termos um governo Lula se daqui a oito, dez anos, sofrermos outro golpe, e pior, sem nenhuma resistência real.(...) a capacidade de destruição que eles têm é trágica e cruel. Assim, para dar perenidade às conquistas sociais, a participação social se torna um aspecto fundamental (...) queremos construir projetos em que os movimentos sociais estejam envolvidos e funcionem como fermento da massa, orientando, discutindo e ganhando para nosso projeto aquelas consciências. Aqui repete-se o proverbial “eles” (os que destroem tudo o que “nós” construímos) mas não fica mais tão obscura a tarefa que vai além de governar, aquela sem a qual o governo “não vai adiantar”. Em leitura bem reduzida do pensador italiano Antônio Gramsci (parece ser nele que Carvalho pensa), tratar-se-ia de construir uma hegemonia numa sociedade civil retratada em “movimentos sociais”. Esses seriam expressões das massas que resistiriam a golpes e sustentariam a democracia, a longo prazo. Falece aí, no democratismo direto, a complexidade sofisticada na qual Gramsci insere sua visão de sociedade civil. A noção de hegemonia, assim esboçada, não dialoga com a perspectiva pluralista, pela qual movimentos contam, mas instituições contam ainda mais. É mesmo pedagógico um terceiro trecho da palestra: (...) espero que tenhamos um governo pedagogo, que construa com o povo a mudança material de vida, mas também a mudança cultural, política e ideológica. Cultura, política e ideologia são télos, não gerúndios. Seus conteúdos, após um virtual êxito do projeto, é assunto mais para alquimistas do que para analistas.
Esse tipo de pensamento, que sobrevive ao redor de Lula, parecer ser um dos espantalhos a bloquear a empatia mútua – dramaticamente necessária, neste momento - entre o presidente e as partes da nação que perderam conexão com ele, seja por crise de confiança ou por distanciamento de vontades.
Mas Lula é um animal político que não raciocina exatamente como o Carvalho formador de quadros. Sempre se espera que coloque a ideologia em seu lugar de coadjuvante, como aliás o próprio Carvalho fez, enquanto trabalhou com ele. É de política prática que vive o líder, na qual tem reputação de craque. Nisso reside a esperança dos muitos juízos críticos dos objetivos políticos petistas que se encontram em suspensão, nesse começo de mandato. A segunda via de interpretação da questão proposta por Elio Gaspari é justamente a que busca avaliar se a atitude política do presidente chancela essa esperança.
Lula é experiente em negociações sindicais e foi por essa via que se tornou craque também em política. Parece acreditar que sua experiência será útil e bastante na situação em que se encontra, como foi em situações pregressas. Sempre estica a corda hoje, se percebe haver um acordo marcado para amanhã. Ainda que conciliar seja interesse de ambas as partes, o faz de conta tem serventia imediata. Se precisa da conciliação ele a fará, mas com essa tática barganhará melhor naquilo em que vida sindical e vida política comungam. Na segunda, porém, há mais variáveis em jogo, além de interesses e mesmo esses são mais complexos, pois o Estado, em torno e no âmbito do qual ela transcorre, é um centro de memória mais abrangente e sofisticada. Barganhas desatentas a essa complexidade podem funcionar no imediato, mas ficará a memória ruim dos entreveros e mais cedo ou mais tarde ela cobrará seu preço. A expectativa dos que têm, como ele, experiência de vida na política é que após uma desinteligência virá outra, que afetará outros interesses e valores, distintos dos que estiveram envolvidos na primeira. Só neste janeiro, Lula escalou, num anteontem, a tensão com militares, provocada pela extrema-direita; amainada a crise por prevalência da sua posição institucional, ele retornou, num ontem, à tensão com o “tal do mercado”, alvejando a posição do Banco Central; vieram os bombeiros - o ministro Haddad e seus interlocutores positivos – e, mais uma vez o fogo cedeu. Hoje a pauta é o golpe de 2016 e o alvo é Temer. Por essa gramática atitudinal, tudo ocorre como sempre, com aparência de como nunca. O problema é que em vez de eterno retorno ao ponto em que Lula opera, tem-se uma espiral.
A parte não polarizada do país segue avessa a mitos e querendo tranquilidade no pós-Bolsonaro. Com ela também – e não só com os resilientes eleitores de Bolsonaro, ou do mito que o suceda – a atitude política de Lula, apesar de ser ele o presidente, tende a se desentender. A sua experiência sindical, sobreposta à estatal, conduz Lula a cultivar mais afinidades eletivas com políticos do centrão do que com políticos e partidos de outro tipo de centro, liberal-democrático, ao qual teria que fazer, também, concessões de cunho programático. Murado pela esquerda no plano ideológico, seu pragmatismo sugere a opção de buscar fora do muro aliados fugazes, fisiologicamente caros e politicamente baratos, para relações mais fortuitas, incidentais, que não ponham em risco lealdades originárias. A longo prazo é a solidão política. É a essa hipótese que se chega pelas duas vias aqui percorridas para entender a conduta irrequieta do presidente, que se arrisca ao isolamento para ficar radicalmente visível.
No plano da atitude, Lula tem se inclinado ao conflito. A crítica que se pode fazer a isso não é de princípio, mas política, porque o momento adverso pede paz que, por sua vez, depende de moderação política. Aliás, a busca de moderação só pode ser pela política, num sentido esvaziado de qualquer viés doutrinário, ou mesmo moderadamente prescritivo. Nem paradigmas nem programas acodem porque não estamos no campo da cognição, mas no da atitude estratégica. Claro que crenças e valores sempre guiam, mesmo os políticos mais convictos e contentes com seu pragmatismo. Guiam, porém, conforme as atitudes gerais que escolham adotar. Guiarão para intervenções discretas aqueles e aquelas que veem a política como arte da busca permanente de consensos provisórios, obtidos por aproximação, lidando com variáveis níveis de conflito e sem jamais alcançar um ótimo. Guiarão para intervenções fortes aqueles e aquelas que veem intuitivamente a política como o campo do que em teoria alguns chamam de “o político", de cujo âmbito o conflito amigo/inimigo não poderia ser erradicado, por ser seu elemento constituinte e dinâmico. A política poderia, sim, ambicionar a fundação de mundos novos, perseguindo um ótimo a partir de marcos zero. Parece ser essa a intuição de Lula. Nivelando os outros (“eles”) por baixo, a partir de um “nós” que se aproxima, como ideia, do seu ótimo pessoal, seleciona inimigos e aliados por critérios radicalmente autorreferentes, sem temer ou confiar em quase ninguém.
Enquanto os parceiros “naturais” dessa atitude política de Lula são políticos descartáveis e reciprocamente peritos em descartar parcerias, as crenças ideológicas que vivem ao redor mais próximo do presidente têm caráter hegemônico e potencialmente disruptivo. Ainda que a persona pública de Lula guarde distância delas, não lhes oferece contraponto, nem se aproxima de quem pode oferecê-los, a saber, o campo centrista, liberal-democrático e outra esquerda, mais moderna e positiva, minoritária no PT e fora dele. E por que não o faz? Não se pode saber ao certo, pois o personagem é complexo em sua ambiguidade rebelde à exatidão. Mas quem apostar na veia populista como explicação estará próximo de ganhar o bingo. Assim como quem considerar a pouca atração que forças eleitoralmente menores exercem sobre um ator de vocação plebiscitária que, se nunca foi de pensar a longo prazo, menos o fará agora, aos 77 anos de idade. Por essas razões, uma esquerda de convicções negativas sobre possibilidades e virtudes da política institucional sempre verá na popularidade de Lula estímulo para ambicionar um poder que não teria por seus próprios predicados. O instinto disruptivo poderá fazê-la abandonar o líder só na hipótese dele se tornar um estadista, mais que um agitador de massas ou então na de que ele perca a popularidade. Faltam, como se sabe, a essa esquerda autorreferente, olhos para a totalidade do país, mas também para o suicídio político a que poderá levar sua galinha dos ovos de ouro, por um abuso (mútuo) do hábito da instrumentalização retórica.
O que procurei discutir transcende o tema do “golpe” de 2016, que é uma ficção lateral à pauta do país. Lula parece alimentar essa ficção por um receio difuso de ser impedido, receio sem causa racional aparente. Talvez tenha medo de seu governo descer ao patamar de aprovação do de Dilma Rousseff. Populismo e vitimização de um lado e centrão do outro são suas vacinas. Por isso não desce do palanque, alimenta narrativas sectárias e prefere centrão ao centro. Falta-lhe ter por perto quadros políticos interlocutores que sejam capazes de desviar sua visão do espelho. Ampara-se na intimidade e na assertividade da primeira-dama para se proteger dos leões e evoca os impasses de Dilma Rousseff para espantar as raposas. No fundo sua informalidade passa uma imagem de improviso, ansiedade e fragilidade. Ostenta poder pessoal porque não está seguro de sua autoridade institucional. Isso é o mais preocupante. A expressão que encontro para resumir esse páthos é solidão política. Pode resolver esse problema com visão lateral. A sociedade e o sistema político ainda estão ávidos por apoiar quem lhes traga um pouco de ar. Também – e talvez principalmente - por isso, a solidão do presidente é paradoxal.
Afora a crucial agenda de Chefe de Estado, há a pauta central do país, que se refere aos compromissos do governo que se inicia. Trata-se de cumprir o que de mais abrangente foi prometido na campanha: respeitando as instituições e a democracia, pacificar o país e recuperar sua economia para reverter a devastação social, ambiental e cultural. A conduta do presidente não é tudo, mas conta muito para que tais compromissos abrangentes sejam cumpridos. Ela pode afetar sensivelmente a capacidade do presidente e do seu governo de conservarem o natural poder de agenda que detém. Caso a instabilidade da conduta prossiga, agendas reativas da sociedade e do sistema político tenderão a se impor sobre pautas idiossincráticas do presidente e seu partido. Como ocorreu com as de Bolsonaro e sua turma.
É fato que o eleitorado brasileiro tem se mostrado suscetível ao protagonismo de mitos. Mas as instituições não. Toleram-no até certo ponto, mas lá um dia perdem a paciência e atuam para contê-lo. As eleições estão muito longe. Convém ter em mente o calendário da realidade.
*Cientista político e professor da UFBa
****************************************************
***
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
Antonio Lavareda* - Os ataques e a leniência militar
Ilustríssima / Folha de S. Paulo
[RESUMO] O Brasil sofreu 13 investidas golpistas desde a Independência, entre as quais o ataque aos três Poderes no último dia 8. A ação dos bolsonaristas guarda semelhanças com o levante da AIB (Ação Integralista Brasileira) em 1938. Nesses episódios, os golpistas encontraram a residência e a sede da Presidência desguarnecidas, as forças de segurança demoraram a chegar e houve omissão de setores do Exército. Resta saber se o futuro da nova extrema direita será melhor que o do fascismo tropicalizado dos anos 1930, que entrou em declínio após a Segunda Guerra.
Alguns fenômenos políticos, sobretudo quando inusuais e estrepitosos, ao ocorrerem tornam irresistíveis os exercícios comparativos. É quando a leitura dos fatos os coloca em perspectiva, permitindo identificar singularidades, de um lado, e constantes históricas, de outro.
O 8 de Janeiro, que despertou estupor no mundo, por certo demandará um olhar assim quando as investigações descortinarem toda a sua tessitura, incluindo, além dos vândalos, a autoria intelectual e os apoiadores explícitos e ocultos e esclarecendo como se dava a relação entre os quartéis e os acampados à sua frente.
Nós não temos, que eu saiba, um estudo comparativo suficientemente amplo desses processos de tomada violenta do poder na América Latina, embora o continente seja pródigo deles. Nem mesmo das revoluções havidas —do que, aliás, já reclamava Joaquim Nabuco (1849-1910) em sua releitura do fim trágico do presidente chileno José Manuel Balmaceda— e muito menos no Brasil, onde, desde a Independência, tivemos 13 golpes de Estado, exitosos ou não.
Eles se distinguem dos movimentos separatistas, como a Confederação do Equador (1824) ou a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Diferem também de outros conflitos como a Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932) e mais ainda dos movimentos revoltosos tenentistas, incluída a Coluna Prestes (1924).
Golpes ou autogolpes implicam o assalto direto aos Poderes e objetivam a ruptura constitucional. Foram de iniciativa palaciana os de 1823 (dissolução da Assembleia Constituinte), 1840 (Golpe da Maioridade), 1891 (Deodoro fecha o Congresso) e 1937 (Estado Novo). O de Marechal Deodoro durou apenas 20 dias.
Todos os demais tiveram como objetivo a destituição ou o impedimento dos então chefes de Estado. Começando pela implantação da República (1889), depois pela Revolução de 1930, que culminou com o golpe militar que depôs Washington Luiz, pela Intentona Comunista (1935), pelo Levante integralista de 1938, pela deposição de Vargas (1945), pelo chamado contragolpe legalista do marechal Lott (1955), pela adoção forçada do parlamentarismo (1961), pelo golpe militar de 1964, que inaugurou a Quinta República, e pelo assalto às sedes dos três Poderes em janeiro de 2023. Golpes e autogolpes vitoriosos foram 70% deles.
Houve movimentos com menor ou maior participação popular, mas a constante irrefutável é a participação de "cidadãos armados", os militares. Nunca foi minimamente plausível subverter o regime sem a sua participação, e o tamanho da adesão dos mesmos sempre foi a principal variável explicativa do êxito ou do fracasso dessas iniciativas.
A breve compilação acima dos eventos anteriores de igual natureza nos permite identificar um único episódio que guarda alguma similaridade com o golpe frustrado do início deste ano: o putsch da AIB (Ação Integralista Brasileira), o fascismo tropicalizado, em 11 de maio de 1938, uma semana após o fechamento da entidade pelo governo Vargas.
Os que atacaram, 85 anos atrás, o Palácio Guanabara, residência presidencial à época, também o encontraram desguarnecido, tal como se deu em Brasília nos prédios do Planalto, Congresso e Supremo, quando horas foram decorridas até que os responsáveis pela segurança enfrentassem os invasores.
Como lembra Lira Neto, no golpe integralista eram poucas dezenas de atiradores, mas não se via inicialmente qualquer mobilização dos milhares de militares acantonados no Rio de Janeiro para sufocar o levante, que era enfrentado na madrugada pelos funcionários do Palácio, alguns militares leais ao presidente e por Vargas e seus familiares empunhando armas.
O tenente Júlio Barbosa, oficial do dia, facilitou a entrada, por um portão lateral, dos invasores chefiados pelo também tenente Severo Fournier. Ele também restringiu propositalmente a munição da tropa incumbida da guarda, que terminou se rendendo aos golpistas.
Mesmo comunicada, a polícia demoraria horas para enviar reforços e foram visíveis as omissões de setores do Exército e da Marinha, cujo prédio também foi ocupado. Os atacantes só foram rechaçados após a chegada decisiva do general Dutra, então ministro da Guerra, cuja presença sinalizou o apoio da cúpula das Forças Armadas ao presidente. A lógica da operação estava desfeita.
O objetivo era eliminar fisicamente o presidente e, no vácuo político, abrir caminho para os militares, entre os quais havia um sem número de simpatizantes do integralismo, tomarem o poder. Suspeitos de envolvimento ou simpatia foram, entre outros, o almirante Guilhem, o general Góis Monteiro, admirador confesso de Hitler, e Filinto Müller, o chefe de polícia famoso pela repressão sanguinária. Mas Vargas, ditador dependente dos aliados militares, não quis esclarecer a participação deles. Anos depois seria deposto por Góis.
Quanto à autoria intelectual, esse papel coube a Plínio Salgado, depois preso e exilado em Portugal. Líder do movimento que chegou a contar com 1,5 milhão de adeptos por todo o Brasil, ele se sentiu traído por Getúlio, que mandara fechar as sedes da AIB, colocando-a na ilegalidade, após ter contado com seu apoio no combate aos comunistas e na criação do Estado Novo. Ou seja, o golpe de 1938 foi urdido por um movimento político, o integralismo, com apoio na sociedade civil e ramificações incontroversas nas Forças Armadas e na polícia do Rio de Janeiro.
A lógica da tentativa de golpe de 2023, mesmo sem tiroteios como seu congênere da Terceira República, foi basicamente a mesma. Visava surpreender e desarticular o sistema político, promovendo um cenário caótico nas sedes dos três Poderes, o qual, transmitido pelas redes sociais e repercutindo nas TVs, obrigaria, no entendimento dos seus idealizadores, a "intervenção militar" reclamada desde a vitória do novo presidente pelos acampamentos à frente dos quartéis, com milhares de radicais que imaginavam ter suas teses acolhidas, interpretando dessa forma a leniência dos chefes militares que admitiram essas concentrações, não o bastante suas faixas e redes sociais afrontarem a Constituição.
Lembrando que a ideia de intervenção no TSE, no último mês do mandato de Bolsonaro, na prática um autogolpe como a famosa minuta do decreto evidenciou, provavelmente foi descartada por insuficiência de adesão das altas patentes.
Os participantes de agora foram extraídos de um movimento antissistema de extrema direita que, ao invadir e destruir os prédios que simbolizam a República, removeram as últimas dúvidas sobre o caráter regressivo de sua liderança, movida pela nostalgia do regime militar de 1964.
O bolsonarismo, no segundo turno do ano passado, aproximou-se da metade da votação presidencial válida, e o partido que o abrigou (PL) logrou eleger a maior bancada da Câmara Federal. Tal como a antiga AIB, tem conexões internacionais —é o capítulo local da nova direita mundial— e se mostrou bem mais enraizado que seu predecessor da primeira metade do século 20.
Em expansão no mundo, o futuro dessa vertente não parece comprometido, como se deu com as ideias fascistas que, após empolgarem porções significativas do Ocidente, entraram em derrocada juntamente com o Eixo na Segunda Guerra. Nadando nessa raia, o integralismo brasileiro declinaria durante o conflito e nunca se recuperou da mancha de 1938. Quando sobreveio a redemocratização, tampouco conseguiria reaver a força original.
Ao disputar finalmente a Presidência, em 1955, Plínio Salgado só alcançou 8,3% dos votos. Somente na região Sul chegou aos dois dígitos (14,2%). Em toda a República do Pós-Guerra, a direita seria representada pela UDN, que terminaria encapsulando o populista Jânio Quadros para finalmente ganhar a eleição de 1960. Plínio continuaria sua caminhada com horizonte mais modesto. Seria deputado por São Paulo, apoiador do golpe militar de 1964 e depois vice-líder da Arena na Câmara dos Deputados.
Não é fácil divisar o futuro do bolsonarismo. Vai depender do aprofundamento das investigações e da eventual responsabilização e inelegibilidade de Bolsonaro, sobre o qual pesam suspeitas de participação no possível autogolpe de dezembro e no golpe de janeiro. Também dependerá do posicionamento que seus líderes —o ex-presidente e parlamentares— venham a adotar.
Para qualquer evento futuro, sempre haverá no mínimo duas rotas possíveis para os personagens, como Churchill nos mostrou escrevendo o perfil de Hitler em 1935.
Prevalecerá a retórica antissistema, baseada no mito da fraude nas urnas? Ou essa página será virada, como aliás já fizeram os governadores desse campo, e o enfrentamento se dará como oposição "normal"?
Na primeira hipótese, o movimento, uma vez inviabilizado legalmente o líder, apresentaria uma candidatura do clã. Perderia certamente densidade eleitoral, deixando de ser competidor efetivo pelo poder nacional.
Já na segunda opção, novos nomes disputariam o espólio bolsonarista, distanciando-se do fantasma do 8 de Janeiro, embora sempre equilibrando-se para contar com as bênçãos do ex-presidente e tentar, assim, manter a hegemonia à direita no espectro ideológico.
*Antonio Lavareda. Doutor em ciência política e professor colaborador da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Presidente de honra da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais)
**********************************************
***
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
Fernando Gabeira - As raízes intelectuais da tragédia ianomâmi
O Globo
A visão negacionista de Bolsonaro, e infelizmente de muitos militares, se articulou com o catequismo evangélico
Os mais novos não se lembram da grande fome na antiga Biafra, que pertenceu à Nigéria. Eram impressionantes as imagens das crianças, com os ossos salientes na pele. Na verdade, uma antevisão da morte, pois assim ficamos quando repousamos para sempre. É difícil aceitar que imagens semelhantes apareçam agora no Norte do Brasil: esquálidas crianças ianomâmis sendo resgatadas às pressas.
Meu primeiro contato com os ianomâmis foi na Suécia, quando estudava antropologia. Era um documentário sobre um povo altivo. Na volta ao Brasil, pude visitar algumas aldeias remotas ianomâmis, na condição de deputado, usando helicópteros do Exército. Naquele momento, o governo Fernando Collor já tinha demarcado os 181 mil quilômetros quadrados do território ianomâmi. Mas sempre houve contestação. A mais simples era esta: não é muita terra para pouca gente? Temos visões diferentes. Nem todas as áreas são para a produção, algumas são apenas sagradas.
O coronel Carlos Alberto Menna Barreto publicou pela Biblioteca do Exército um livro intitulado “A farsa ianomâmi”. Sua tese é que os ianomâmis não existiam como cultura singular, viviam misturados aos outros indígenas. Na visão de Menna Barreto, eles foram inventados pela fotógrafa de origem suíça Claudia Andujar. Como se fosse possível, mesmo para uma fotógrafa excepcional como Claudia, inventar uma cultura, uma religião, um punhado de mitos fundadores. A visão do militar era que houve uma conspiração internacional para demarcar as terras ianomâmi, com ajuda da Survival, entidade voltada para os direitos indígenas, e até mesmo do então príncipe Charles, hoje rei da Inglaterra.
Não foi acidental a resposta de Bolsonaro às denúncias sobre a fome entre os ianomâmis: uma farsa da esquerda. O ex-presidente jamais aceitou a demarcação das terras ianomâmis. Quando deputado, apresentou um projeto para anulá-la. Conseguimos evitar sua aprovação no plenário, depois Almino Afonso e eu o enterramos nas comissões. A história está contada por Lira Neto no Diário do Nordeste e contém fragmentos de nossos discursos.
Bolsonaro chegou a presidente com grande simpatia pelos garimpeiros (ele chegou a pensar em se tornar um deles), com a visão de que os ianomâmis não deveriam ter suas terras e, como os outros indígenas, precisavam se integrar à sociedade nacional. O problema para essa concepção é que temos uma Constituição, e nela está assegurado o direito dos indígenas a suas terras, cultura e religião.
Para dizer a verdade, há muitos anos o grande líder ianomâmi Davi Kopenawa denuncia a destruição de seu povo e da própria floresta. Ele escreveu o livro “A queda do céu” em parceria com o antropólogo Bruce Albert.
A visão negacionista de Bolsonaro, que infelizmente também é a de muitos militares, acabou se articulando com outra: a do catequismo evangélico. O governo destinou R$ 840 milhões a uma entidade evangélica para cuidar dos índios, para tentar atraí-los para a religião branca. A então ministra Damares Alves recusou-se a seguir um projeto no Congresso que obrigava o governo a destinar água potável aos indígenas durante a pandemia. Argumento: eles não foram ouvidos. Como assim? Sempre denunciaram que sua água estava contaminada pelo garimpo.
Algumas vezes denunciei na TV o ataque dos garimpeiros contra os ianomâmis. Entrevistei Júnior Yanomâmi em Brasília, e ele passou esses anos pedindo ajuda. Crianças foram assassinadas, adolescentes se prostituíram, o álcool foi disseminado. Nada disso tocou o governo Bolsonaro. Afinal, a integração à sociedade branca se faria por violência, corrupção e dissolução dos costumes originários.
Os garimpeiros estão associados aos traficantes de drogas e fortemente armados. Não é fácil entrar lá. Um grupo de deputados tentou chegar às aldeias, mas não conseguiu apoio do Exército com seus helicópteros. Toda a história foi construída para que os garimpeiros varressem os ianomâmis do mapa. O Brasil precisa dar numa resposta ao genocídio antes que o próprio mundo a dê. A antecipação fica melhor para nós todos, inclusive para os culpados.
*******************************
***
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
Lygia Maria - Atos e palavras
Folha de S. Paulo
Vandalismo golpista em Brasília deve ser punido com rigor, mas MP que propõe regulação de postagens em redes sociais é temerária
O governo federal está de fato preocupado com o que as pessoas falam nas redes sociais. Além de criar a Procuradoria de Defesa da Democracia da Advocacia Geral da União (AGU), para combater a desinformação contra políticas públicas, o Ministério da Justiça lançou um pacote de medidas antigolpismo, incluindo uma Medida Provisória (MP) que regula postagens em plataformas online.
Após o ataque bolsonarista em Brasília, parece tudo muito louvável, mas devemos ter cuidado com o impulso punitivista que costuma surgir após eventos extremos. Foi assim com o 11 de Setembro. O governo dos EUA implementou normas que infringiram direitos individuais e provocaram prisões ilegítimas.
Apuração da Folha revelou que a MP pretende impedir a disseminação de conteúdo que viole a Lei do Estado Democrático de Direito, como pedir a deposição do governo. Contudo, a lei diz que o crime é "tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça". Ou reescreve-se o texto ou será necessária interpretação bastante elástica para que uma postagem no Twitter que proponha golpe militar seja uma tentativa violenta de ruptura institucional.
A lei do Estado Democrático de Direito é oriunda da Lei de Segurança Nacional, uma excrescência do regime militar, que foi usada tanto por Bolsonaro para intimidar seus críticos quanto pelo STF para punir bolsonaristas como Daniel Silveira.
Assim, parte da esquerda aprecia a medida, mas ignora que, dado o subjetivismo, pode vir a ser alvo dela. Afinal, há quem peça o fim da democracia burguesa e pregue a ditadura do proletariado. Alega-se que tal retórica não tem apoio popular. Mas o vandalismo em Brasília teve? Segundo pesquisa do Datafolha, 93% dos brasileiros são contra; entre quem votou em Bolsonaro, são 86%.
Leis são universais, não podem valer apenas para nossos inimigos. O poder também muda de mãos e nunca se sabe quem baterá o martelo amanhã. Detalhes geralmente esquecidos quando se trata de liberdade de expressão.
************************************************************
***
Audiolivro Constituição Federal do Brasil de 1988
*********************************************************************
domingo, 29 de janeiro de 2023
E AÍ
2041: Como a inteligência artificial vai mudar sua vida nas próximas décadas
***
***
faltavam as fotos
As tais fotografias
E o teu retrato
Retrato em Branco e Preto.
***
Kai-Fu Lee, Chen Qiufan
Globo Livros, 27 de jul. de 2022 - 480 páginas
Resenhas
"No livro 2041, um dos maiores especialistas em inteligência artificial imagina, através de análises e contos no melhor estilo Black Mirror, uma realidade dominada pela tecnologia
Saindo do clichê dos livros teóricos e cheios de conceitos incompreensíveis ao público leigo, Kai-Fu Lee, fundador da Google China e autor do best-seller Inteligência artificial, e Chen Qiufan, um dos grandes nomes do sci-fi, apresentam ao leitor dez contos que mostram de forma divertida concepções que podem se tornar uma realidade até 2041. Ainda que alguns deles pareçam saídos de um filme de ficção científica, outros serão facilmente reconhecidos pelo leitor como parte do seu cotidiano.
Cada conto de Chen Qiufan é acompanhado por uma análise de Kai-Fu Lee sobre como a tecnologia apresentada na trama fará em breve parte de nossas vidas. Os temas vão desde carros sem motoristas e robôs que farão todo o trabalho que consideramos entediante até novas formas de educação e de cuidados com aqueles que estão prestes a partir. Os autores apresentam de maneira simples e direta temas que poderiam, de outro modo, soar complexos, ao mesmo tempo em que refletem sobre como a inteligência artificial já é uma realidade para nós.
2041 demonstra como o mundo pode ser daqui a duas décadas em uma obra dedicada não apenas aos leitores que se interessam por tecnologia, mas também a todos aqueles que desejam ter um vislumbre de como serão os próximos anos."
https://books.google.com.br/books/about/2041.html?hl=pt-BR&id=0d1-EAAAQBAJ&redir_esc=y
**************************
***
Resumo: aprendizados do livro "AI 2041" de Kai-Fu Lee
Fique por dentro das principais lições tiradas do livro "AI 2041 - Ten visions for our future" que aponta as grandes transformações que a inteligência artificial trará para o mundo
Resumo: aprendizados do livro "AI 2041" de Kai-Fu Lee
Capa do livro A1 2041 na mesa (foto: montagem/Zia King/Unsplash)
Por Cristiano Kruel
Kai-fu Lee, o empreendedor e investidor chinês, ex-presidente do Google China e expert em AI utiliza neste livro contos de ficção científica (co-autor Chen Qiufan) para propor uma visão realista da Inteligência Artificial (IA). Ou seja, como ele explica, narrativas de tecnologias que já existem ou que podemos razoavelmente esperar que amadureçam nos próximos 20 anos (motivo do livro se chamar AI 2041).
https://www.startse.com/artigos/resumo-aprendizados-do-livro-ai-2041-de-kai-fu-lee/
***********************************************************************************
***
Lula volta ao poder com a cabeça de Jano
Publicado em 29/01/2023 - 07:30 Luiz Carlos Azedo
Brasília, Comunicação, Congresso, Economia, Eleições, Ética, Governo, Justiça, Lava-Jato, Memória, Militares, Política, Política, Tecnologia, Trabalho, Ucrânia
Enquanto a esquerda brasileira pautou sua atuação na centralidade do trabalho e nos projetos identitários, a direita mais reacionária apropriou-se das redes sociais e das frustrações individuais
Jano (do latim Janus ou Ianus) era um ser mitológico romano com duas cabeças. Simbolizava o passado e o futuro, o dualismo relativo de todas as coisas. No seu templo, as portas ficavam abertas em tempos de guerra e eram fechadas durante a paz. Era o deus tutelar de todos os começos, patrono de todos os finais. O busto Ianus Geminus está no Museu do Vaticano, em Roma. Jano foi escolhido para representar o primeiro mês do ano do calendário romano (janeiro, do latim januarius), pelo imperador Numa Pompílio (715-672 a.C.). Estamos no final do mês de Jano.
O fato de suas faces estarem viradas para lados opostos contribui para a dualidade desse deus, uma representa o novo e a outra, o velho; as transições, o espaço entre dois pontos e o caminho entre os extremos. O filósofo e sociólogo alemão Jüngen Habermas, expoente da famosa Escola de Frankfurt, em novembro de 1984, numa palestra no Parlamento espanhol, invocou a imagem de Jano para falar sobre o caráter inacabado da modernidade.
Habermas dedicou a vida ao estudo da democracia, desenvolveu as teorias do agir comunicativo, da política deliberativa e da esfera pública. Àquela época, estudava a crise do Estado de bem-estar social e o esgotamento das energias utópicas, tema que abordou no seu discurso, intitulado A Nova Obscuridade (Editora Unesp, 2011). Muitas de suas previsões se confirmaram. Houve uma mudança de paradigma da sociedade do trabalho para a sociedade da comunicação, o que explica muito do que está acontecendo no mundo e no Brasil.
Para ele, a razão instrumental desencadeada pelas forças produtivas e a razão funcionalista traduzida nas capacidades de organização e planejamento “deveriam abrir caminho para a vida humana digna, igualitária e ao mesmo tempo libertária”. Essa fora a ilusão da sociedade do trabalho, que hoje se reproduz em relação às novas tecnologias, 40 anos depois. É falsa ideia de que a desregulamentação da internet e dos meios digitais, controlados pelo oligopólio das big techs, seria a redenção humana, a conquista definitiva da liberdade e da democracia.
Enquanto a esquerda brasileira pautou sua atuação na centralidade do trabalho e nos projetos identitários, a direita mais reacionária apropriou-se das redes sociais de comunicação pela internet e das frustrações individuais. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT chegaram ao poder, em 2002, a centralidade do trabalho já estava ultrapassada pela sociedade da comunicação e pela economia do conhecimento. Agora, mais ainda.
Com razão, a filósofa Hannah Arendt, na segunda metade do século passado, dizia que as ideias centradas no trabalho levaram aos totalitarismos. Segundo ela, a condição humana está relacionada ao “labor” (o processo biológico do corpo humano), ao “trabalho” (a criação de objetos e transformação da natureza) e, sobretudo, à “ação” (a única atividade que independe da medição da matéria e se correlaciona com a condição humana da pluralidade). O que determina a condição humana é o agir e o pensar politicamente, daí a necessidade vital do espaço público e das liberdades.
Novas contingências
Entretanto, Lula volta ao poder com a cabeça de Jano. Dispõe de diagnósticos das mudanças em curso, aqui e no mundo, mas ainda não se livrou completamente de dogmas da antiga sociedade industrial, do valor-trabalho na geração de riquezas e do velho nacional-desenvolvimentismo. No seu governo, jovens gestores públicos e velhos militantes políticos também representam as faces de Jano.
Logo após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, que marcaram o colapso do chamado “socialismo real” europeu, Habermas comparou a Europa do fim da Guerra Fria a uma fotografia “descongelada” — aquela de Roosevelt, Stalin e Churchill, em fevereiro de 1945, na Crimeia, quando dividiram o mundo —, como se a história anterior à guerra fosse retomada de onde foi interrompida, na Bósnia, na Sérvia e, agora, diríamos, na Ucrânia. Lula se comporta como mocinho de um filme cujas imagens estiveram congeladas.
A conjuntura também mostra as faces de Jano. O que é determinante para o nosso futuro? A retomada do programa de governo de Lula de 20 anos atrás, que cumpriu seu papel em contingências favoráveis? Não é por aí. Lula ganhou as eleições graças à memória popular da bonança de seu governo anterior, mas enfrenta a onda reacionária que hoje varre o mundo e o risco de uma recessão mundial. Logo na primeira semana de mandato, foi surpreendido por uma tentativa de golpe e uma crise militar.
A onda reacionária ainda passa pelo Brasil, como ficou demonstrado em 8 de janeiro. O horizonte econômico é de incertezas, a “contabilidade criativa” da Americanas pode ser a ponta de um iceberg.
O carisma pessoal e as alianças ao centro possibilitaram a vitória eleitoral dramática de Lula no segundo turno. O sucesso do seu novo mandato depende de um programa social-liberal exequível e da preservação da ampla coalizão democrática que se formou, não de um “governo popular” com uma agenda sindical classista.
A centralidade de seu governo está na defesa da democracia, no compromisso com a sustentabilidade e no combate às desigualdades, sem uma visão exclusivista, sectária e revanchista.
Compartilhe:
*************************
***
Loucura
Lupicínio Rodrigues
***
E aí
Eu comecei a cometer a loucura
Era um verdadeiro inferno
Uma tortura
O que eu sofria
Por aquele amor
Milhões de diabinhos martelando
Um pobre coração que agonizando
Já não podia mais de tanta dor
E aí
Eu comecei a cantar verso triste
Os mesmos verso que até hoje existe
Na boca triste de algum sofredor
Como é que existe alguém
Que ainda tem coragem de dizer
Que os meus versos não contêm mensagem
São palavras frias, sem nenhum valor
Ó, Deus! Será que o Senhor não está vendo isto
Então, porque é que o Senhor mandou Cristo
Aqui na Terra semear amor
Se quando se tem alguém
Que ama de verdade
Serve de riso pra Humanidade
É um covarde, um fraco, um sonhador
Se é que hoje tudo está tão diferente
Por que não deixa eu mostrar a essa gente
Que ainda existe o verdadeiro Amor
Faça ela voltar de novo pra meu lado
Eu me sujeito a ser sacrificado
Salve o seu mundo com a minha dor
Composição: Lupicínio Rodrigues.
*********************************************************
***
How will artificial intelligence change our world within twenty years?
A WALL STREET JOURNAL, WASHINGTON POST, AND FINANCIAL TIMES BEST BOOK OF THE YEAR - "This inspired collaboration between a pioneering technologist and a visionary writer of science fiction offers bold and urgent insights."--Yann LeCun, winner of the Turing Award; chief AI scientist, Facebook
"Amazingly entertaining . . . Lee and Chen take us on an immersive trip through the future. . . . Eye-opening."--Mark Cuban
AI will be the defining development of the twenty-first century. Within two decades, aspects of daily human life will be unrecognizable. AI will generate unprecedented wealth, revolutionize medicine and education through human-machine symbiosis, and create brand-new forms of communication and entertainment. In liberating us from routine work, however, AI will also challenge the organizing principles of our economic and social order. Meanwhile, AI will bring new risks in the form of autonomous weapons and smart technology that inherits human bias. AI is at a tipping point, and people need to wake up--both to AI's radiant pathways and its existential perils for life as we know it.
In this provocative, utterly original work, Kai-Fu Lee, the former president of Google China and bestselling author of AI Superpowers, teams up with celebrated novelist Chen Qiufan to imagine our world in 2041 and how it will be shaped by AI. In ten gripping short stories, they introduce readers to an array of eye-opening 2041 settings, such as:
- In San Francisco, the "job reallocation" industry emerges as deep learning AI causes widespread job displacement
- In Tokyo, a music fan is swept up in an immersive form of celebrity worship based on virtual reality and mixed reality
- In Mumbai, a teenage girl rebels when AI's crunching of big data gets in the way of romance
- In Seoul, virtual companions with perfected natural language processing (NLP) skills offer orphaned twins new ways to connect
- In Munich, a rogue scientist draws on quantum computing, computer vision and other AI technologies in a revenge plot that imperils the world
By gazing toward a not-so-distant horizon, AI 2041 offers urgent insights into our collective future--while reminding readers that, ultimately, humankind remains the author of its destiny.
****************************
***
Terra
Caetano Veloso
***
Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Ninguém supõe a morena
Dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema
Mando um abraço prá ti
Pequenina como se eu fosse
O saudoso poeta
E fosses a Paraíba...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu estou apaixonado
Por uma menina terra
Signo de elemneto terra
Do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza
Terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guia...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
De onde nem tempo, nem espaço
Que a força mãe dê coragem
Prá gente te dar carinho
Durante toda a viagem
Que realizas do nada
Através do qual carregas
O nome da tua carne...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Na sacada dos sobrados
Das cenas do Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra!
compositores: Caetano Veloso
álbum
Caetano Veloso - Caetano Veloso
Gravadora: Universal Music International Ltda.
Ano: 2019
Faixa: 13
*****************************
***
CULTURA
As tais fotografias
Confesso que sou um viciado em retratos em branco e preto
POR CARTACAPITAL | 26.02.2016 15H20
Em 1969, quando o homem pisou na lua pela primeira vez, Caetano Veloso estava na cadeia. Foi na prisão que ... Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/cultura/as-tais-fotografias-1/. O conteúdo de CartaCapital está protegido pela legislação brasileira sobre direito autoral. Essa defesa é necessária para manter o jornalismo corajoso e transparente de CartaCapital vivo e acessível a todos
https://www.cartacapital.com.br/cultura/as-tais-fotografias-1/
*******************************************************************
***
Praça Clóvis
Paulo Vanzolini
Na praça Clóvis
Minha carteira foi batida
Tinha vinte e cinco cruzeiros
E o teu retrato
vinte e cinco
Eu, francamente, achei barato
Pra me livrarem
Do meu atraso de vida
Eu já devia ter rasgado
E não podia
Esse retrato cujo olhar
Me maltratava e perseguia
Um dia veio o lanceiro
Naquele aperto da praça
vinte e cinco
Francamente foi de graça
Na praça Clóvis (...)
Composição: Paulo Vanzolinni.
*******************************************************
***
Retrato Em Branco E Preto
Elis Regina
***
Já conheço os passos dessa estrada,
Sei que não vai dar em nada,
Seus segredos sei de cor.
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali, sozinho,
Eu vou ficar tanto pior.
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto, evito tanto
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar?
Com seus mesmos tristes, velhos fatos
Que num álbum de retratos eu teimo em colecionar.
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que eu cansei de conhecer.
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara, ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isto é pecado.
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão.
Vou colecionar mais um soneto,
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração.
compositores: Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque De Hollanda
Elis & Tom (1974) - Elis Regina
Gravadora: Polygram
Ano: 1974
Faixa: 8
***************
***
domingo, 29 de janeiro de 2023
Cristovam Buarque* - Brasil desperta para o genocídio dos yanomamis
Blog do Noblat / Metrópoles
Todos sabiam o que acontecia com os yanomamis, faltavam as fotos
Tanto as imagens de crianças yanomamis famintas quanto aquelas de sobreviventes dos campos de concentração nazistas envergonham os cidadãos, alemães ou brasileiros, surpresos, como se aquela realidade estivesse escondida. No caso alemão, a censura não permitia o conhecimento da realidade, no nosso caso, há décadas a imprensa denuncia, há quatro anos o governo se manifestava sobre o risco de os yanomamis proclamarem uma nação independente do Brasil. Havia estratégia ou ao menos o desejo de que houvesse uma limpeza étnica, para proteger a soberania nacional. Faz parte desta visão negar apoio sanitário, permitir que as terras yanomamis fossem ocupadas e que a água de seus rios contaminada.
Todos sabiam o que acontecia com os yanomamis, faltavam as fotos.
Da mesma forma, todos sabem o genocídio que há séculos se pratica contra os brasileiros pobres ao negar-lhes educação de qualidade. O ser humano tem corpo e mente: o genocídio pode ser com o assassinato de corpos, ou com o impedimento da prática cultural dos povos originários; ou a negação de escola na sociedade moderna, impedindo a vida plena por falta de emprego e renda. Por 350 anos, o Brasil cometeu genocídio contra os negros escravos, ao negar-lhes tudo; a partir de 1888 soltaram as algemas dos corpos, mas não libertaram os negros, nem os pobres brancos: para libertar é preciso ensinar a usar o mapa que orienta o solto na sua caminhada. Não demos o mapa para a vida contemporânea: escrever bem português, falar outros idiomas, ter noção de ciência, arte, história, geografia, conhecer as ferramentas do mundo, dispor de um ou mais ofício.
Desde a abolição da escravatura, estamos cometendo genocídio educacional, deixando os analfabetos e os alfabetizados sem educação necessária, sobrevivendo como se estivessem em uma câmara sem oxigênio, incinerando seus cérebros, no vácuo de conhecimento. Há alguns anos despertamos para o que ocorre na Amazônia, ao vermos florestas queimando, agora, para o genocídio contra os yanomamis: as fotos mostram ossos aflorando nos corpos, mas não mostra o cérebro de cada pessoa que vive sem saber ler.
Uma parte dos brasileiros continua vivendo na ignorância do genocídio cometido ao seu redor, por desrespeito aos povos originários ou negando escola de qualidade para que os brasileiros sem educação substituam os escravos com baixos salários. Faltam fotos mostrando o cérebro de quem não sabe ler e de cada excluído de escola com qualidade. Difícil entender que a foto de escola pública do presente é um retrato do país no futuro.
Por falta de foto, empresários, universitários, políticos e sindicalistas não se chocam com o genocídio educacional. Em grau diferente de maldade, toda criança sem escola de qualidade é um pequeno yanomami, e todos os outros brasileiros somos grandes genocidas. Porque sabemos o que acontece, mas não vemos as fotos do horror. Sabemos da realidade, mas a ignoramos por não a vermos fotografada.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
*****************************************************************
***
Dora Kramer: “Me preocupa a possibilidade de os eleitores deixarem corrupção em 2º plano”
***
"Você tem o meu voto, Dora."
Luiz Megale | Rádio BandNews FM - UOL
Rádio BandNews
1 de set. de 2022
https://www.youtube.com/watch?v=eJ0TauYEu6M
**************************************************
***
Eu sou assim e vou te mostrar
por Heinz Janisch (Autor), & 2 mais
***
*** "O sentido de nossas palavras depende de como as juntamos numa frase, das circunstâncias em que as formulamos e de uma infinidade de fatores adicionais." Niels Bohr CONTRAPONTO A PARTE E O TODO HEISENBERG
[...]
- Se você dá ao termo "sentido" uma definição tão ampla assim, tudo é possível. Mas nenhum de nós sabe dizer como se usava a palavra "tao". Mesmo assim, já que você está falando dos filósofos chineses e da vida, devo dizer que prefiro a antiga lenda sobre os três sábios que foram solicitados a descrever o sabor do vinagre. Talvez eu deva acrescentar que os chineses chamam o vinagre de "água da vida". O primeiro filósofo disse: "É azedo"; o segundo, "É amargo"; e o terceiro, que não era outro senão Lao-Tsé, disse: "É fresco".
Niels Bohr
CONTRAPONTO
A PARTE E O TODO
HEISENBERG
******************************
***
Diálogos sobre la física atómica
Werner Heisenberg
***
Capítulo 11
Discusiones sobre el lenguaje
(1933)
***
***
Himmelmoos alm fotografías e imágenes de alta resolución - Alamy
***
A la mañana siguiente, el cielo estaba tan azul como el día anterior.
Inmediatamente después de desayunar nos atamos los esquíes y
marchamos por el Himmelmoos-Alm hasta el pequeño lago del
Seeon-Alm; de allí descendimos por un puerto al fondo solitario del
valle situado a espaldas del Gran Traithen, para por detrás alcanzar
la cumbre de la montaña que dominaba nuestro albergue. Al
coronar la cima que desde la cumbre se extiende hacia levante
fuimos por casualidad testigos de un singular fenómeno
meteorológico y óptico. El suave viento que soplaba del norte
empujaba cuesta arriba una fina neblina, la cual aparecía translúcida por efecto del sol allí donde tocaba la cima en que nos
hallábamos. Nuestras sombras se podían reconocer fácilmente sobre
la nube, y cada uno de nosotros veía la silueta de su propia cabeza
rodeada de un claro resplandor en forma de halo brillante. Niels,
que gozaba especialmente con este desusado fenómeno, dijo que ya
había oído hablar antes de este singular hecho óptico. Añadió la
opinión divulgada de que tal vez este resplandor lumínico que
veíamos, habría servido de modelo a los antiguos pintores para
aureolar las cabezas de los santos. «Y tiene, quizá, su porqué—
añadió con un ligero guiño de ojos—el que solamente se pueda ver
este nimbo rodeando la imagen en sombras de la propia cabeza».
Esta observación, naturalmente, despertó gran algazara y dio
ocasión incluso a varias consideraciones autocríticas. Pero
queríamos llegar rápidamente al refugio. Por ello organizamos una
competición de marcha monte abajo. Cuando Félix y yo nos
deslizábamos especialmente satisfechos, tuve otra vez la mala
suerte de provocar un alud relativamente grande al deslizarme por
una loma escarpada. Por fortuna, todos quedamos en la parte
superior al alud, y fuimos llegando, aunque a grandes intervalos,
sanos y salvos al refugio. Mi obligación era ahora preparar la
comida. Niels, que se encontraba algo cansado, se sentó junto a mí
en la cocina, mientras los demás, Félix, Carl Friedrich y Christian,
se tostaban al sol en el tejado. Aproveché la oportunidad para
proseguir la charla comenzada en la cima.
***
***
Cristo en la cruz – Obra de Fra Angelico – Museo de San Marcos
La aureola de Jesús se inscribe generalmente en una cruz de color rojo, con tres brazos visibles que recuerdan a la Trinidad. El cuarto brazo está cubierto por el cuerpo.
https://www.holyart.es/blog/articulos-religiosos/la-aureola-origenes-y-significado/
***
«Tu explicación de la aureola de los santos—dije—es, naturalmente,
muy sugestiva e incluso me siento movido de buena gana a ver en ella una parte de verdad al menos. Pero, con todo, sólo me satisface
a medias, pues en cierta ocasión, en un intercambio de
correspondencia con un positivista muy devoto de la escuela de
Viena, afirmé yo una cosa muy distinta. Me molestaba el hecho de
que los positivistas procedieran como si cada palabra tuviera una
única significación definida, como si no estuviera permitido
emplearla en otro sentido. Le había puesto yo este ejemplo:
entendemos a primera vista lo que se quiere decir cuando alguien
afirma de una persona estimada que la habitación se torna más
luminosa cuando ésta entra en aquélla. Naturalmente, para mí es
indudable que el fotómetro no registraría en ese caso diferencia
alguna de luminosidad. Yo me resistía a tener que tomar la
significación física del vocablo luminoso como la única propia y
hacer valer la otra únicamente como significación figurada. Podría,
en consecuencia, pensar que la experiencia rectamente invocada ha
contribuido también de alguna manera al hallazgo de la aureola de
los santos».
«Por supuesto, también para mí tiene valor esta explicación—replicó
Niels—, pues ambos estamos, sin duda alguna, mucho más de
acuerdo de lo que tú crees. Evidentemente, el lenguaje tiene este
singular carácter oscilante. No sabemos nunca exactamente lo que
significa una palabra, y el sentido de lo que decimos depende de
cómo estén unidas las palabras en la frase, del contexto de la
misma y de otras innumerables circunstancias adyacentes que no
podemos enumerar de manera total. Si lees los escritos del filósofo
americano William James, te encontrarás con que ha descrito todo esto con maravillosa precisión. Explica cómo, al oír cualquier
vocablo, se nos revela ciertamente un sentido que aparece en
nuestra conciencia claramente como el primordial de esa palabra.
Pero al lado de él surgen y se deslizan como en penumbra otras
significaciones; inciden, asimismo, conexiones con otros conceptos,
y las repercusiones se extienden hasta lo inconsciente. Esto ocurre
en el lenguaje ordinario y, sobre todo, en el poético. Pero también
sucede, en cierta medida, en lo que se refiere al lenguaje de las
ciencias naturales. Precisamente la naturaleza nos enseña en la
física atómica, una vez más, hasta dónde llega el ámbito de
aplicación de conceptos que antes nos parecían totalmente
determinados y aproblemáticos. Basta pensar en nociones como las
de lugar y velocidad.
»Sin duda alguna, constituyó un gran descubrimiento de Aristóteles
y de la antigüedad griega el poder idealizar y precisar el lenguaje de
forma que puedan lograrse conclusiones lógicamente concatenadas.
Este lenguaje preciso es mucho más estricto que el lenguaje
ordinario, pero su valor para las ciencias naturales es inestimable.
»Los representantes del positivismo tienen razón cuando acentúan
con intensidad el valor de este tipo de lenguaje y nos advierten
frente al peligro de que el lenguaje pueda convertirse en algo falto de
contenido si abandonamos el campo de las formulaciones
estrictamente lógicas. Pero en este punto han pasado tal vez por alto
que dentro de las ciencias naturales, y en el mejor de los casos, nos
vamos acercando a este ideal, aunque, ciertamente, no lo podamos
alcanzar. En efecto, el mismo lenguaje con que describimos nuestros experimentos contiene nociones cuyo campo de aplicación
no nos es posible determinar con exactitud. Claro está que se podría
decir que los esquemas matemáticos con los que en calidad de
físicos teóricos configuramos la naturaleza, tienen o deben tener
este grado de pureza y rigor lógicos. Mas toda la problemática vuelve
a surgir en el momento en que comparamos los esquemas
matemáticos con la naturaleza. Por lo tanto, en algún momento
hemos de pasar del lenguaje matemático al lenguaje corriente si
pretendemos formular un enunciado sobre la naturaleza, tarea que
es la misión propia de la ciencia natural».
«La crítica de los positivistas, sin embargo—continué yo—, se dirige,
ante todo, a la llamada filosofía académica, y principalmente contra
la metafísica en sus relaciones con la problemática religiosa. En
ésta y en aquélla se habla muchas veces—opinan los positivistas—
de problemas aparentes, que se revelan como inexistentes, cuando
se les somete a un estricto análisis lingüístico. ¿Hasta qué punto te
parece justificada esta crítica?»
«Seguramente tal crítica contiene gran parte de verdad —replicó
Niels—y se puede aprender mucho de ella. Mi objeción contra el
positivismo no procede de que yo sea en esto menos escéptico, sino
de que, por el contrario, temo que esa postura no favorezca
fundamentalmente a las ciencias naturales. Para formularlo en
forma extremada: en la religión se renuncia de antemano a otorgar a
las palabras un sentido unívoco, mientras que en las ciencias
naturales se parte de la esperanza, o también de la ilusión, de que
podrá ser posible algún día dar a las palabras un sentido unívoco.
Pero, repito, se puede aprender mucho de esta crítica de los
positivistas. No alcanzo a ver, por ejemplo, qué puede significar eso
del ‘sentido de la vida’. La palabra sentido tiene que suponer
siempre un enlace entre aquello acerca de cuyo sentido se trata y
otra cosa diferente, como una intención, una idea, un plan. Pero
con el término vida se designa todo, incluso el mundo que vivimos,
y no se halla en ella otra cosa alguna con la que pueda quedar
vinculada».
«Sin embargo, sabemos lo que pensamos—añadí—cuando hablamos
del sentido de la vida. Naturalmente, el sentido de la vida es algo
que depende de nosotros mismos. Yo diría que apuntamos con tal
expresión a la configuración de nuestro propio vivir, con la cual nos
ordenamos dentro del gran contexto causal; quizá es sólo una
imagen, un propósito, una esperanza; pero, en todo caso, algo que
podemos entender bien».
Niels calló pensativo y dijo luego: «No, el sentido de la vida está en
que no tiene sentido decir que la vida no tiene sentido. La apetencia
total por conocer es algo que carece de fondo».
«¿No eres tú, tal vez, demasiado riguroso en este punto con el
lenguaje? Sabes muy bien que los antiguos sabios chinos colocaban
el concepto Tao en la cima de la filosofía, pero Tao se traduce
frecuentemente por sentido. Los sabios chinos seguramente no
hubieran tenido nada que objetar contra la unión de las palabras
Tao y vida».
«Si se emplea la palabra sentido en forma tan general, puede
presentar una perspectiva diferente. Y ninguno de nosotros puede afirmar con seguridad el significado propio de la palabra Tao. Mas,
al hablar de los filósofos chinos y de la vida, me viene a la mente
una de las antiguas leyendas. Se cuenta de tres filósofos que
probaron un sorbo de vinagre —al cual en China se le llama ‘agua
de la vida’—. El primer filósofo dijo: ‘Es agrio’; el segundo, ‘Es
amargo’; pero el tercero, que probablemente era Lao-tse, exclamó:
‘Está fresco’».
http://www.librosmaravillosos.com/dialogossobrelafisicaatomica/pdf/Dialogos_sobre_la_f%C3%ADsica%20atomica_-_Werner_Heisenberg.pdf
*********************************
***
Dr. José Carlos Blat - MP-SP: “Maluf desviou US$ 300 milhões da Prefeitura de São Paulo”
Marco Antonio Villa
https://www.youtube.com/watch?v=cxDJII6UfQA
**********************************************
Assinar:
Postagens (Atom)