Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 6 de setembro de 2021
Conhecimento Científico e Senso Comum
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O que é ciência Carlos Lungarzo Conhecimento Científico Conhecimento Científico e Senso Comum
Todas as pessoas conhecem certos fatos, mesmo sem ter estudado ciência. Um copo de cristal quebra, quando submetido a um forte golpe. A água começa a ferver aos cem graus de temperatura. Uma pessoa, em contato com um cabo de aço ligado a uma fonte de alta tensão, morre. Esses conhecimentos são familiares ao senso comum. Qualquer pessoa ouviu falar neles e tem condições para conferi-los. Mais ainda, a grande maioria poderá explicar por que eles acontecem. O cristal quebra porque é frágil. Os líquidos submetidos a uma fonte de calor começam a ferver a determinadas temperaturas e passam ao estado gasoso. Os metais conduzem a eletricidade. O aço é um metal; então, conduz a eletricidade. Os organismos animais e humanos são sensíveis à eletricidade. Então, uma pessoa submetida a uma forte tensão elétrica morre. Essas são explicações de senso comum. Se as mesmas perguntas tivessem sido formuladas a um físico, talvez as respostas fossem um pouco mais detalhadas. O cristal do copo é constituído por pequenas partículas, ligadas por forças muito fracas. E suficiente um forte golpe vai
eliminar essa ligação e “decompor” o
copo em pedaços. Toda fonte de calor transmite ao corpo aquecido uma dose de energia. A energia contida no calor (energia térmica) é transformada em energia mecânica. Essa energia é absorvida pelas partículas que fazem parte da substância. São as chamadas moléculas. As moléculas, tendo maior energia, tendem a se deslocar com maior velocidade e a se afastar uma das outras.Todos os líquidos podem ferver a determinadas temperaturas. No caso da água, cem graus é, por definição, essa temperatura. A eletricidade é produzida pela relação entre partículas elementares dentro
dos átomos de um corpo. A “corrente elétrica” é transmitida por certos corpos porque eles permitem a passagem de elétrons. O aço é um metal, e os metais são bons condutores. Então, ele transmite a eletricidade desde a fonte de força até a pessoa que segura o cabo. Uma tensão elétrica alta produz perturbações muito graves nas células. Portanto, a pessoa que recebe aquela tensão morre. Observemos que há mais detalhes nas explicações do cientista do que nas explicações do homem da rua. Todavia, nem sempre a diferença entre as duas classes de explicações é tão grande. No caso da fragilidade do cristal, o que o cientista pode acrescentar ao senso comum não é muito, pelo menos, do ponto de vista da física básica. No caso da água e da eletricidade é um pouco mais. Mas essa diferença ainda é significativa. O homem da rua explica certos fatos por meio de conhecimentos que também são do senso comum. O cientista tenta encontrar explicações que sejam mais profundas, que estejam baseadas em conhecimentos mais exatos, mais precisos. Nossos exemplos mostram que a diferença entre senso comum e conhecimento científico não tem sua origem nos fatos ou objetos que as pessoas estudam. A eletricidade, o calor, os fatos sociais, os organismos biológicos interessam aos cientistas, mas também são alvo da preocupação do homem comum. Todos nós, por exemplo, temos curiosidade pela psicologia, sem sermos psicólogos, e pela economia, sem sermos economistas. As características que fixam a fronteira entre o conhecimento científico e o senso comum estão relacionadas com a maneira de conhecer ou de justificar o conhecimento. Quase todos os objetos podem ser pesquisados pela ciência: o homem, a sociedade, os entes biológicos, a estrutura social, a psicologia humana, o inconsciente, a matéria, as substâncias, etc. Muitas propriedades desses objetos são, contudo, também familiares aos não cientistas. O traço que marca a diferença entre o cientista e o não cientista é o processo de obtenção, justificação e transmissão de conhecimento. Embora essa fronteira não seja clara e existam muitos pontos de vista diferentes entre os filósofos da ciência, há um consenso amplo a respeito de certas propriedades que são típicas da atividade científica. O conhecimento cientifico é crítico. Ainda que sua origem seja a experiência, esse conhecimento não fica grudado a ela de modo incondicional. Enquanto o senso comum habitualmente cinge-se aos dados imediatos, ou, então, busca explicações nem sempre profundas, o conhecimento científico procura bases sólidas, justificações claras e exatas. Isso não é possível em todos os casos. A tendência do cientista, porém, é se aproximar gradativamente de fundamentos fortes para seus conhecimentos. O conhecimento científico é, portanto, submetido a uma série de testes, análises, controles que garantam pelo menos
uma “chance” alta de obter
informações verdadeiras e justificadas. Por exemplo: todos sabemos que a dinamite explode quando é submetida à ação do fogo. Ë por isso que ninguém ousa jogar um fósforo aceso num depósito de dinamite. Mas nem todos se perguntam sobre as razões que explicam esse fenômeno. Inclusive os que conhecem as explicações do senso comum só sabem que a dinamite contém certas substâncias responsáveis pela explosão. O químico,no entanto, é capaz de nos explicar com detalhe o que acontece dentro de um explosivo quando ele é submetido à ação do fogo. Pode até nos escrever certas fórmulas que mostram o processo completo: a ação do fogo, seu efeito sobre os componentes químicos, as forças que são liberadas, a intensidade da explosão, etc.O conhecimento científico é organizado. O cientista tenta construir sistemas de conhecimento, embora seus anseios nem sempre possam ser coroados pelo sucesso. Enquanto o senso comum é composto por um conjunto de conhecimentos
“avulsos”, o cientista visa organizar seu conhecimento num
conjunto onde os elementos estejam relacionados de maneira ordenada.O conhecimento científico é prognosticador. Baseado em
certos “princípios”
ou
“leis”, o cientista pode predizer até
mesmo com certeza de que maneira acontecerão certos fatos futuros. Também o homem da rua faz predições: podemos predizer que o verão será quente, que a inflação continuará aumentando, que o sol sairá amanhã, etc. Mas nossas predições são justificadas apenas por analogias do senso comum. O cientista tem razões para afirmar que certos fatos haverão de ocorrer. O conhecimento científico é geral. É conhecimento de conjuntos ou classes de fatos e situações, e não apenas de determinados fatos isolados. O conhecimento de que nosso cabo de aço conduz a eletricidade é individual, mas é justificado pelo conhecimento geral de que todo corpo metálico conduz a eletricidade Um ponto muito importante é o caráter metódico do conhecimento científico.Os filósofos mais tradicionais (os anteriores a 1970, por exemplo) consideravam que uma característica essencial da ciência é o método. Segundo eles, a obtenção doconhecimento específico não é produto de uma sequência de acasos ou situações imprevisíveis. Para obter conhecimento científico devemos orientar nossa atividade e nossa inteligência em consonância com certos padrões de pesquisa, certa noção de ordem, etc. Realmente, ainda hoje, a maioria dos filósofos aceita que a ciência possui um método. Mas esse método nem sempre é único. Enquanto antigamente se pensava
que a ciência constava de um conjunto fixo de regras ou “receitas” para obter
conhecimento, hoje aceitamos que o método depende de muitas condições, inclusive psicológicas, sociais e históricas, entre outras.
Ciência
A ciência é uma parte da cultura dos povos modernos, como a religião, a arte, a literatura, etc. Mas nem sempre a
palavra “ciência” é usada com um único
significado. Frequentemente, entende-se por ciência a atividade científica em geral. Eis alguns exemplos desse uso: sociedade científica, homem de ciência, visão científicada vida, e assim por diante.
Outras vezes, “ciência” tem o significado mais específico de conhecimento
cientifico. Este é o sentido em que pensamos ao qualificarmos de ciência a sociologia, a química ou a linguística. De passagem, deve-se dizer que oconhecimento científico deve ter alguma relevância para a cultura e a sociedade. Assim, embora exista um método para jogar xadrez ou fazer bolos, o conhecimento dessas atividades não é considerado científico.
Ainda, “ciência” é usualmente identificada com o conjunto ou sistema
organizado de conhecimento científico. Este é o caso quando, por exemplo, falamos
que “a mecânica
clássica é uma ciência. Ai estamos sugerindo que as teorias clássicas de mecânica são teorias científicas.
A ciência, considerada como conhecimento, tem forte relação com métodos etécnicas de descoberta, e com fatores sociais e psicológicos. Neste caso, a ciência está mais relacionada com os aspectos externos. Considerada como teoria, sua relação mais importante é com a estrutura lógica e linguística. Todavia, os dois aspectos estão intimamente relacionados. O cientista recorreaos fatos reais para se equipar com conhecimento. A elaboração desse conhecimento produz teorias. Por sua vez, essas teorias são submetidas novamente à realidade para se conferir sua validade. A ciência como teoria e a ciência como processo de conhecimento estão em relação muito estreita, e a tarefa do cientista exige uma interação com as duas. Por exemplo, vou considerar o caso da física que você estudou ou estuda na escola. Considerada como teoria, a ciência física está relacionada com o uso da
linguagem (por exemplo, de termos ou palavras como “massa”, “energia”, etc.),
como emprego de regras lógicas para tirar certas conclusões, a partir de certos supostos, etc. Para conhecer o tempo de queda de um corpo, você deduz usando regras lógicas e fórmulas matemáticas já conhecidas. A formulação linguística exata dessas afirmações torna acessível entender, transformar e aplicar a lei de queda dos corpos. Do ponto de vista do processo de conhecimento, a física depende de nossa percepção direta ou indireta, de aparelhos, de laboratórios, de um grande conjunto de objetos físicos, sociais, institucionais que estão fora do próprio conhecimento. Por exemplo, para calcular diretamente a resistência de certo metal, você deve submetê-lo a certa tensão, medir essa tensão, e assim por diante.
FONTE:CARLOS LUNGARZO
O QUE É CIÊNCIA
EDITORA BRAZILIENSE
Coleção primeiros passos 220
*** *** https://www.academia.edu/8337871/Oque_%C3%A9_Ciencia_-_Carlos_Lungarzo *** ***
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Gramscimanía
Gramscimanía: A questão da ideologia em Gramsci
Em 1954, Dr. Xavier, o médico que tratava de Cândido Portinari descobriu que as tintas tóxicas provocavam alergias em seu paciente e o proibiu de pintar. - “Estou proibido de viver...” disse o artista, que continuou a pintar, com menor frequência. Seu médico aconselhou-o então a escrever.
Muito tóxico - Sérgio Pratahttp://www.sergioprata.com.br › pigmentos › toxicidade
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Brasil de Fato
A questão da ideologia”, de Leandro Konder, é relançado pela | Geral
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A questão da ideologia em Gramsci
Leandro Konder - 2002
O italiano Antonio Gramsci desenvolveu uma interpretação bastante original da filosofia de Marx. Para ele, a perspectiva do pensador alemão era a de um "historicismo absoluto". No essencial, o pensamento de Marx nos desafia - sempre! - a pensar historicamente. E esse desafio nos põe diante tanto de possibilidades magníficas como de dificuldades colossais.
Pesa sobre nós uma tradição negativa, que se fortaleceu muito ao longo dos séculos XVII e XVIII, segundo a qual o "senso comum" é depositário de tesouros de sabedoria. Gramsci admitia que o "senso comum" possuía um caroço de "bom senso", a partir do qual poderia desenvolver o espírito crítico. Advertia, contudo, para o risco de uma superestimação do "senso comum", cujos horizontes, afinal, são inevitavelmente muito limitados. O "senso comum é, em si mesmo, "difuso e incoerente". A percepção da realidade, no âmbito desse campo visual estreito, não poderia deixar de ser- segundo o teórico italiano - drasticamente "empírica", restrita à compreensão imediata, superficial.
Em sua origem, o termo "ideologia" compactuava, implicitamente, com uma valorização exagerada da força da percepção sensorial. Gramsci se referiu ao fato de que o primeiro conceito de ideologia foi elaborado por filósofos franceses vinculados a um "materialismo vulgar", teóricos que pretendiam decompor as idéias até chegarem aos "elementos originais" delas, quer dizer, até chegarem às "sensações", das quais, supostamente, as idéias derivavam. Tratava-se, assim, de uma concepção "fisiológica" da ideologia (GRAMSCI, 1977, p. 453).
Marx e Engels, os "fundadores da filosofia da práxis", submeteram essa concepção a uma crítica vigorosa. Tornaram-se, filosoficamente, os representantes de um pensamento que implicava "uma clara superação" ("un netto superamento") da ideologia (GRAMSCI, 1977, p. 1.491). No entanto, adotaram o termo, conferindo-lhe, naturalmente, um sentido pejorativo.
Para Marx e Engels, a ideologia fazia parte da "supra-estrutura", e como tal deveria ser criticamente analisada. As construções supra-estruturais combinam elementos de conhecimento e expressões de pressões prejudiciais à universalidade do conhecimento. A ideologia, na acepção em que Marx e Engels usam a palavra, torna-se, na supra-estrutura, um fator de equívocos, "un elemento di errore", segundo Gramsci (GRAMSCI, 1977, p. 868). E o principal equívoco, aquele que costuma se verificar com maior frequência, é aquele que consiste numa visão "ideológica" da ideologia e que resulta numa desqualificação dos fenômenos ideológicos.
O pensador italiano explicava: "O processo desse erro pode ser facilmente reconstituído. 1) A ideologia é identificada como distinta da estrutura e se afirma que não sào as ideologias que mudam a estrutura, mas, ao contrário, é a estrutura que muda as ideologias: 2) afirma-se que determinada solução política é ´ideológica`, isto é, insuficiente para mudar a estrutura, quando acredita que poderia mudá-la; afirma-se, então, que ela é inútil, estúpida, etc ; 3) passa-se, por fim, a afirmar que toda ideologia é ´pura` aparência, é inútil, estúpida, etc." (GRAMSCI, 1977, p. 868).
Essa desqualificação ilimitada, generalizada, impede a perspectiva comprometida com a superação das distorções ideológicas (a perspectiva de Marx e Engels) de reconhecer concretamente as diferenças significativas que existem no interior do campo da ideologia. E dificulta enormemente ao crítico das limitações da ideologia reconhecer a complexidade dos elementos ideológicos presentes no seu próprio pensamento.
Gramsci propunha uma atenção especial para as diferenças internas da ideologia. Fixava-se, em especial, numa diferença que lhe parecia decisiva: "é preciso distinguir entre ideologias historicamente orgânicas, que são necessárias a uma certa estrutura, e ideologias arbitrárias, racionalizadas, desejadas" (idem, ibidem).
As ideologias "arbitrárias" merecem ser submetidas a uma crítica que, de fato, as desqualifica. As ideologias "historicamente orgânicas", porém, constituem o campo no qual se realizam os avanços da ciência, as conquistas da "objetividade", quer dizer, as vitórias da representação "daquela realidade que é reconhecida por todos os homens, que é independente de qualquer ponto de vista meramente particular ou de grupo" (GRAMSCI, 1977, p. 1.456).
A ciência é um conhecimento que se expande, que se aprofunda e se revê, se corrige, continuamente. Ela também é histórica, não pode pretender situar-se acima da história, não pode pretender escapar às marcas que o fluxo da história, a cada momento, imprime nas suas construções. Por isso, não é razoável tentar promover uma contraposição rígida entre ciência e ideologia. "Na realidade", escreveu Gramsci, "a ciência também é uma supra-estrutura, uma ideologia" (GRAMSCI, l977, p.1.457).
Há alguma diferença entre ciência e ideologia, entre filosofia e ideologia ? Gramsci não consegue ser muito preciso na resposta a essa indagação. Ele diz que a ideologia se torna ciência quando assume a forma de "hipótese científica de caráter educativo energético" e é "verificada (criticada) pelo desenvolvimento real da história" (GRAMSCI, 1977, p. 507). E a filosofia ? Uma distinção é sugerida quando o filósofo afirma: "O progresso é uma ideologia, o vir-a-ser é uma filosofia" (GRAMSCI, 1977, p. 1.335). Contudo, a maior preocupação do autor dos Cadernos do Cárcere é a de evitar que alguma construção cultural ou algum elemento da supra-estrutura sejam destacados da ideologia e concebidos como independentes dela.
A própria "filosofia da práxis" (o marxismo) não pode se pretender imune às vicissitudes da ideologia. Na medida em que está comprometido com um projeto e uma ação de crescente mobilização das classes populares - cuja consciência se move no plano do "senso comum" - compreende-se que o marxismo tenha acabado por se mostrar um tanto impregnado pelos critérios (frequentemente preconceituosos ou supersticiosos) determinados pela percepção das massas. O pensador italiano constatava: "a filosofia da práxis se tornou, ela também, ´preconceito` e ´superstição`" (GRAMSCI, 1977, p. 1.861).
Gramsci, convém ressalvar, não se assustava com essa constatação. Ele estava convencido de que nenhuma força inovadora consegue atuar com eficácia imediata e preservar sua coesão com completa coerência. De fato, a força inovadora "é sempre racionalidade e irracionalidade, arbítrio e necessidade. É ´vida`, quer dizer, tem todas as fraquezas e forças da vida, tem todas as suas contradições e suas antíteses" (GRAMSCI, 1977, p. 1.326).
O que importa não é a ambição irrealista de se preservar contra toda e qualquer "contaminação" por parte das contradições sociais, e sim a firme disposição para uma luta permanente no sentido de superar os elementos "acríticos" da consciência, em ligação com o projeto de revolucionamento da sociedade.
Por seu "caráter tendencial de filosofia de massa", a filosofia da práxis só pode se desenvolver de modo polêmico, em confronto com os nostálgicos do passado ou com os aproveitadores da situação presente. É no conflito que ela se liberta, ou tenta se libertar, "de todo elemento ideológico unilateral e fanático" (GRAMSCI, 1977, p. 1.487).
De acordo com a concepção de Gramsci, por conseguinte, a ideologia tem elementos unilaterais e fanáticos, e tem igualmente elementos de conhecimento rigoroso e até mesmo de ciência. Nesse sentido, a ideologia pode chegar a se identificar com "todo o conjunto das supra-estruturas" (GRAMSCI, 1977, p. 1.320).
Por um lado, pois, a perspectiva do pensador italiano atribui uma importância imensa à ideologia (especialmente às ideologias "historicamente orgânicas"); por outro lado, porém, o materialismo histórico não permite que se acredite ingenuamente no poder das ideologias como tais revolucionarem a sociedade. Gramsci escreveu: "Para Marx as ´ideologias` não são meras ilusões e aparências; são uma realidade objetiva e atuante. Só não são a mola da história" (GRAMSCI, 1977, p. 436).
Segundo o teórico italiano, caberia aos revolucionários agir, atuar praticamente. No entanto, para uma atuação eficaz, eles precisariam superar as "ideologias parciais e falaciosas", através de um processo no qual deveriam se apoiar nas ciências e na filosofia, buscando o máximo de "objetividade" no conhecimento, e encaminhando então, na ação, a realização prática efetiva da "unificação cultural do gênero humano" (GRAMSCI, 1977, p. 1.048).
A busca da ampliação do quadro de referências e o esforço no sentido de alcançar maior universalidade no conhecimento conferem ao confronto supra-estrutural das idéias uma característica muito diversa daquela que se encontra nas batalhas "militares". Na "guerra", o combatente procura atacar os pontos fracos do adversário. Na controvérsia ideológica, entretanto, quando se trata de alcançar uma compreensão mais ampla e mais profunda, cumpre enfrentar o desafio de enfrentar as objeções mais fortes dos interlocutores mais notáveis ("i piu eminenti") na representação do ponto de vista oposto (GRAMSCI, 1977, p. 875).
Em outro fragmento dos Cadernos do Cárcere se pode ler uma advertência metodológica aparentada com a preocupação que se manifestou no trecho acima referido: "Na abordagem dos problemas histórico-críticos, não se deve conceber a discussão científica como um processo judicial, no qual existe um acusado e um promotor que, por obrigação funcional, deve demonstrar que o acusado é culpado e merece ser retirado de circulação" (GRAMSCI, 1977, p. 1.267).
A concepção de ideologia adotada por Gramsci está ligada a uma certa unificação das supra-estruturas em torno dos valores históricos do conhecimento e da cultura. O pensador italiano é, sem dúvida, um materialista; seu materialismo, porém, tem uma feição peculiar: está permanentemente atento para a importância da criatividade do sujeito humano, para o poder inovador dos homens, tal como se expressa nas criações culturais.
Apesar das grandes diferenças, Gramsci tem em comum com Lukács (que ele nunca chegou a ler) um profundo apreço pela cultura como tal. Na análise do autor dos Cadernos do Cárcere, a ideologia conservadora dominante estaria se tornando cada vez mais cética em relação aos valores básicos da cultura, do conhecimento, da teoria em geral, por causa da crise da cultura burguesa, que vem perdendo sua capacidade de exercer uma verdadeira hegemonia sobre a sociedade. "A morte das velhas ideologias" - anotou Gramsci - "se verifica como ceticismo em relação a todas as teorias" (GRAMSCI, 1977, p. 312).
Difunde-se um estado de espírito pragmático, imediatista, utilitário, cínico, que tende a subestimar a riqueza do significado das criações culturais. Generaliza-se uma crise de valores. Em resoluta oposição a essa tendência, o filósofo não hesitava em reivindicar a "honestidade científica" e a "lealdade intelectual" (GRAMSCI, 1977, pp. 1.840 e 1.841).
As criações dos sujeitos humanos no nível supra-estrutural não se deixam reduzir a explicações sociológicas (e Gramsci critica duramente a redução do marxismo a uma "sociologia", que o russo Bukhárin teria tentado fazer). Não se pode ignorar a autonomia - relativa, mas insuprimível - que se manifesta na criação cultural, nas opções ideológicas.
Gramsci exemplificava com um episódio extraído da história da Igreja: "Na discussão entre Roma e Bizâncio sobre a proveniência do Espírito Santo, seria ridículo procurar na estrutura do Oriente europeu a afirmação de que o Espíto Santo provém somente do Pai e na estrutura do Ocidente a afirmação de que ele provém do Pai e do Filho. A existência e o conflito das duas igrejas dependem da estrutura de toda a história, mas no caso elas puseram questões que são princípio de distinção e de coesão interna para cada uma delas. Podia acontecer, contudo, que qualquer uma das duas igrejas tivesse afirmado o que a outra afirmou; o princípio de diferenciação e conflito continuaria a ser o mesmo. E é esse problema da distinção e do contraste que constitui o problema histórico e não a bandeira casual empunhada por cada uma das partes" (GRAMSCI, 1977, p. 873).
As representações não se deixam reduzir às condições em que se encontravam seus criadores no momento em que as criaram. E também não devem ser consideradas imutáveis na forma que assumiram na cabeça das pessoas que as adotaram.
Por isso, Gramsci não abandonava, em momento algum, sua convicção de que as representações, as idéias, as formas da sensibilidade, os preconceitos, as superstições, mas também os sistemas filosóficos e as teorias científicas precisavam sempre ser pensados historicamente, do ângulo do "historicismo absoluto".
O sujeito humano existe intervindo no mundo, sendo constituído pelo movimento da história e, simultaneamente, constituindo esse movimento. Mesmo quando amplos setores da população de um país ficam reduzidos a uma situação de miséria material e espiritual, mergulhados nas formas mais empobrecidas e limitadas do "senso comum", não se deve perder de vista o fato de que eles continuam a ser integrados por sujeitos humanos.
Lidando com sujeitos humanos, é impossível eliminar totalmente de modo irreversível a margem de opções que as pessoas são levadas a preservar e anseiam por ampliar. Nos Cadernos do Cárcere se lê a observaçào feita a respeito da situação intelectual do "homem do povo", que não sabe contra-argumentar em face de um "adversário ideologicamente superior", não consegue sustentar e desenvolver suas próprias razões, mas nem por isso adere ao ponto de vista do outro, porque se identifica solidariamente com o grupo a que pertence e se recorda de ter ouvido alguém desse grupo formular razões convincentes que iam numa direção diferente da que está sendo seguida pelo seu contraditor. "Não recorda os argumentos, concretamente, não poderia repeti-los, mas sabe que existem, porque já lhes ouviu a convincente esposição" (GRAMSCI, 1977, p. 1.391).
A história pressupõe, então, não só a ação dos líderes e a atuação dos de "cima", mas também a ineliminável possibilidade da intervenção ativa e consciente dos de "baixo". Fortalecer essa intervenção era a meta, o ideal do pensador italiano. Sua perspectiva revolucionária o incitava a tentar contribuir para a criação de organizações capazes de atuar num sentido político-pedagógico, capazes de ajudar a população a tornar mais críticas suas atividades já existentes. Sua intenção era a de mobilizar o maior número possível de pessoas para a realização de um programa que resultasse num aumento da liberdade e numa diminuição da coerção, na sociedade.
Bibliografia
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. Edição crítica do Instituto Gramsci, org. Valentino Gerratana. Turim: Einaudi, 1977.
Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.
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Cadernos do cárcere - vol. 1
De Antonio Gramsci
5/5 (1 avaliação)
643 páginas
10 horas
Descrição
Primeiro volume dos Cadernos do cárcere, textos escritos por Antonio Gramsci enquanto esteve preso na Itália, no período ditatorial. Este primeiro volume é dividido em duas partes. Na primeira, está a "Introdução ao estudo da filosofia", que traz o Caderno 11 e os Cadernos Miscelâneos, no qual se discutem principalmente temas filosóficos e, em particular, a "filosofia da práxis". A segunda parte é "A filosofia de Benedetto Croce" que traz notas sistemáticas sobre tal filosofia, designação que lhe serve de título geral, como também um bom número de apontamentos esparsos sobre teoria econômica (com títulos como "Breves notas de economia", "Pontos de meditação para o estudo da economia" etc.), entre outros tópicos.
*** *** https://pt.scribd.com/book/485305310/Cadernos-do-carcere-vol-1 *** ***
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Unicornio (tradução)
Silvio Rodriguez
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Unicornio
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Meu unicórnio azul, eu perdi, ontem
deixou pastagem e desapareceu
Qualquer informação que eu pagar bem
As flores esquerda
não quero falar de mim
Meu azul unicórnio
perdi, ontem
Eu não sei se eu era
não sei se eles perderam
e eu não tenho mais
um unicórnio azul
Se alguém sabe dele
peço informações
cem mil ou um milhão
vou pagar
Meu azul unicórnio
perdi ontem
esquerda
Meu unicórnio e eu
fez amizade
um pouco de amor
um pouco de verdade
Com seu chifre índigo
pesca para uma canção
saber compartilhar
era sua vocação
Meu azul unicórnio
perdi, ontem
e pode parecer
talvez uma obsessão
mas eu tenho mais
um unicórnio azul
e ainda teve dois
Eu só quero um
Qualquer informação
pagar
Meu azul unicórnio
perdi ontem
esquerda
Unicornio
Mi unicornio azul ayer se me perdió,
pastando lo dejé y desapareció.
Cualquier información bien la voy a pagar.
Las flores que dejó
no me han querido hablar.
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
no sé si se me fue,
no sé si se extravió,
y yo no tengo más
que un unicornio azul.
Si alguien sabe de él,
le ruego información,
cien mil o un millón
yo pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Mi unicornio y yo
hicimos amistad,
un poco con amor,
un poco con verdad.
Con su cuerno de añil
pescaba una canción,
saberla compartir
era su vocación.
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
y puede parecer
acaso una obsesión,
pero no tengo más
que un unicornio azul
y aunque tuviera dos
yo solo quiero aquél.
Cualquier información
la pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
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*** *** https://www.vagalume.com.br/silvio-rodriguez/unicornio-traducao.html *** ***
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CNN Séries Originais explora os desafios dos inventores brasileiros
Foto: CNN Brasil
Da CNN, em São Paulo
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O Universo da TV
CNN Séries Originais estreia a série "Unicórnios do Brasil"
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CNN Séries Originais "Unicórnios do Brasil" chega ao terceiro episódio
Por
Anderson Ramos
quarta-feira, julho 28, 2021
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Divulgação
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No terceiro e último episódio da série Unicórnios do Brasil, que vai ao ar esta quinta-feira (29.07), às 22h30min, o CNN Séries Originais fala sobre o Sucesso.
A produção ouviu alguns nomes do meio para responder a questões como: Afinal, neste ecossistema empreendedor, o que é obter sucesso? É chegar ao título de Unicórnio ou tem outros caminhos? "Acho que a questão do unicórnio é muito mais consequência do que uma meta", é o que afirma Paulo Veras, cofundador da 99táxi.
A Fauna empreendedora dá nome a outros tipos de empresa além de Unicórnios."A gente quer ser considerada como zebra porque as zebras trabalham em grupo né, ela se ajudam mutuamente", explica o cofundador da Firgun, Fabio Takara.
Já Victor Loyola, cofundador da Consiga Mais, afirma que nunca teve o intuito de ser unicornio. "Nosso desejo nunca foi ser um unicórnio, mas um camelo. Então e qual a diferença da startup? O Camelo é um animal que sobrevive aos mais inóspitos ambientes".
O Brasil já tem quase 14 mil startups, que empregam cerca de 50 mil pessoas, sendo que dessas startups, 1100 estão no ramo das finanças, que é um dos nichos de maior sucesso no Brasil. Inclusive é no ramo das fintechs que há a maior startup do Brasil, avaliada em 25 bilhões de dólares, cerca de 100 bilhões de reais.
"Todo mundo ficava meio olhando e não tinha coragem. Era aquela coisa que foi assim: Poxa, vamos desafiar esse setor? É, vamos desafiar esse setor.", relembra a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira.
Muito além do nicho das fintechs, especialistas indicam: o Brasil tem se tornado um país de cada vez mais sucesso no ecossistema das startups.
Mais sobre os primeiros episódios:
O episódio 1 chamado de “A Ideia” acompanhou diferentes projetos que exemplificam cada uma das etapas desde a idealização de uma startup até que ela se consolide no mercado e vire o tão desejado “unicórnio” - que é o nome que se dá às companhias avaliadas pelo mercado em, pelo menos, 1 bilhão de dólares. No Brasil, inclusive, há 12 delas.
Já o episódio 2 “O Caminho” explorou o trajeto percorrido por muitas startups rumo ao sucesso. Uma jornada que envolve aportes milionários para estruturar os negócios, tudo da perspectiva interna com depoimentos de investidores e empreendedores. Até junho de 2021, por exemplo, as startups brasileiras receberam quase 20 bilhões de reais de investimentos. Tal volume já é maior que tudo o que foi investido em 2020.
Saiba mais no site www.cnnbrasil.com.br e nos perfis @cnnbrasil nas redes sociais.
CNN Séries Originais estreia a série "Unicórnios do Brasil" - 3 episódios
1°. Episódio “A Ideia” - 15.07
2°. Episódio “O Caminho” - 22.07
3°. Episódio “O Sucesso” - 29.07
*Todas as quintas, às 22h30min.
*** *** https://www.ouniversodatv.com/2021/07/cnn-series-originais-unicornios-do.html *** ***
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CNN Séries Originais "Unicórnios do Brasil" chega ao terceiro episódio
Por
Anderson Ramos
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quarta-feira, julho 28, 2021
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No terceiro e último episódio da série Unicórnios do Brasil, que vai ao ar esta quinta-feira (29.07), às 22h30min, o CNN Séries Originais fala sobre o Sucesso.
A produção ouviu alguns nomes do meio para responder a questões como: Afinal, neste ecossistema empreendedor, o que é obter sucesso? É chegar ao título de Unicórnio ou tem outros caminhos? "Acho que a questão do unicórnio é muito mais consequência do que uma meta", é o que afirma Paulo Veras, cofundador da 99táxi.
A Fauna empreendedora dá nome a outros tipos de empresa além de Unicórnios."A gente quer ser considerada como zebra porque as zebras trabalham em grupo né, ela se ajudam mutuamente", explica o cofundador da Firgun, Fabio Takara.
Já Victor Loyola, cofundador da Consiga Mais, afirma que nunca teve o intuito de ser unicornio. "Nosso desejo nunca foi ser um unicórnio, mas um camelo. Então e qual a diferença da startup? O Camelo é um animal que sobrevive aos mais inóspitos ambientes".
O Brasil já tem quase 14 mil startups, que empregam cerca de 50 mil pessoas, sendo que dessas startups, 1100 estão no ramo das finanças, que é um dos nichos de maior sucesso no Brasil. Inclusive é no ramo das fintechs que há a maior startup do Brasil, avaliada em 25 bilhões de dólares, cerca de 100 bilhões de reais.
"Todo mundo ficava meio olhando e não tinha coragem. Era aquela coisa que foi assim: Poxa, vamos desafiar esse setor? É, vamos desafiar esse setor.", relembra a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira.
Muito além do nicho das fintechs, especialistas indicam: o Brasil tem se tornado um país de cada vez mais sucesso no ecossistema das startups.
Mais sobre os primeiros episódios:
O episódio 1 chamado de “A Ideia” acompanhou diferentes projetos que exemplificam cada uma das etapas desde a idealização de uma startup até que ela se consolide no mercado e vire o tão desejado “unicórnio” - que é o nome que se dá às companhias avaliadas pelo mercado em, pelo menos, 1 bilhão de dólares. No Brasil, inclusive, há 12 delas.
Já o episódio 2 “O Caminho” explorou o trajeto percorrido por muitas startups rumo ao sucesso. Uma jornada que envolve aportes milionários para estruturar os negócios, tudo da perspectiva interna com depoimentos de investidores e empreendedores. Até junho de 2021, por exemplo, as startups brasileiras receberam quase 20 bilhões de reais de investimentos. Tal volume já é maior que tudo o que foi investido em 2020.
Saiba mais no site www.cnnbrasil.com.br e nos perfis @cnnbrasil nas redes sociais.
CNN Séries Originais estreia a série "Unicórnios do Brasil" - 3 episódios
1°. Episódio “A Ideia” - 15.07
2°. Episódio “O Caminho” - 22.07
3°. Episódio “O Sucesso” - 29.07
*Todas as quintas, às 22h30min.
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Anderson Ramos
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