terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sentinela?

Eu caçador de mim

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu! Caçador de Mim...

Tenho esperança em ministros do STF, diz Moro
Em São Paulo, o juiz voltou a defender que um condenado seja preso após decisão de segunda instância
Por Giulia Vidale


O juiz Sergio Moro (Heitor Feitosa/VEJA.com)

O juiz federal Sergio Moro afirmou que tem esperanças de que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) serão “sensíveis” ao atual quadro de corrupção do país e irão manter o precedente que garante que condenados sejam presos após decisão da segunda instância, independente de recurso ao próprio STF ou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Tenho um grande respeito pelo STF”, disse Moro durante evento da Casa Hunter, ONG que busca uma vida melhor para pacientes com doenças raras, realizado neste domingo em São Paulo. “Louvo a decisão de 2016 do ministro Teori Zavascki, que foi um passo fundamental para uma mudança mais perceptível no nosso ordenamento jurídico”, afirmou.

Moro falou sobre o assunto quando perguntado sobre as recentes decisões do ministro do STF, Gilmar Mendes, que concedeu habeas corpus a empresários presos após julgamento em segunda instância.
A esposa do juiz, Rosângela Moro, foi homenageada pela Casa Hunter com o prêmio Gente Rara por seu trabalho de destaque em defesa da causa das doenças raras. Moro também participou do evento, com uma palestra sobre corrupção. Durante a exposição, o juiz defendeu a criação de leis mais eficientes, que reduzam as oportunidades para crimes de corrupção, como a redução de cargos de confiança em todas as esferas e instâncias.
Setor privado
Ainda sobre o tema da corrupção, ressaltou a importância de o setor privado resistir ao pagamento de propinas. Para Moro, existem casos em que empresários são extorquidos por políticos, tornando-se vítimas. Porém, lembrou que na maioria dos casos de corrupção investigados pela Lava-Jato, a relação entre políticos e empresários foi de cumplicidade.
Acusações contra Carlos Zucolotto
Durante a sessão de perguntas dos jornalistas, Moro negou as recentes acusações, divulgadas neste domingo pelo jornal Folha de S.Paulo, de que seu amigo íntimo, Carlos Zucolotto, estaria envolvido em negociações paralelas com a força-tarefa da Operação Lava Jato.  “O relato é absolutamente falso”, afirmou, acrescentando que já disse tudo o que tinha a declarar sobre o assunto.
O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, foi quem acusou Zucolotto de intermediar negociações paralelas dele com a Lava Jato. O advogado trabalhista é amigo e padrinho de casamento de Moro e foi sócio de um escritório com sua esposa, Rosângela Moro.
Zucolotto é também defensor do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em ação trabalhista que corre no STJ. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, as conversas de Zucolotto com Tacla Duran envolveriam abrandamento de pena e diminuição da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um acordo de delação premiada. Em troca, segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois. O dinheiro serviria para “cuidar” das pessoas que o ajudariam na negociação, segundo correspondência entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht diz ter em seus arquivos.

Para Moro, Gilmar deveria manter prisão em 2º grau
Em entrevista ao 'Estado', juiz da Lava Jato diz esperar que Supremo sustente a decisão, que, para ele, 'não fere a presunção de inocência'
Fausto Macedo e Ricardo Brandt
28 Agosto 2017 | 18h07


Juiz Sérgio Moro. FOTO: FELIPE RAU/ESTADÃO
O juiz Sérgio Moro disse que seria “lamentável” se o Supremo Tribunal Federal revisse o próprio entendimento de seus ministros, do ano passado, que autoriza prisão de condenados em segundo grau judicial. Para o magistrado da Lava Jato, ‘executar a condenação, no Brasil, após a decisão da Corte de Apelação, não fere a presunção de inocência’.
Na quarta-feira, 23, pela primeira vez desde que a Lava Jato entrou em cena, Moro mandou prender dois condenados que perderam recursos no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região – a Corte de Apelação que pode revisar ou confirmar suas sentenças.
A decisão de Moro, amparada em ordem do tribunal, reacendeu a polêmica sobre as prisões da segunda instância – antes do trânsito em julgado – porque ministros da Corte máxima admitem a possibilidade de rever seu entendimento. Um deles é Gilmar Mendes, que nos últimos dias mandou soltar vários empresários, inclusive Jacob Barata Filho, o ‘rei do ônibus’.

Em entrevista ao Estado, Moro recorreu a uma personagem da mitologia grega ao destacar que os magistrados não se sentem confortáveis quando seus esforços ficam em vão. “Revisões de decisões judiciais fazem parte do horizonte da profissão. Evidentemente, nenhum juiz gosta de se sentir como se estivesse vivendo o Mito de Sísifo.”
Ao falar sobre o fato de mandar prender e Gilmar mandar soltar, Moro enfatizou. “Não penso que as questões devem ser tratadas a nível pessoal, mas institucional. Respeito o ministro Gilmar Mendes e espero que, ao final, ele, pensando na construção da rule of law, mantenha o precedente que ele mesmo ajudou a construir.”
ESTADÃO: O sr. mandou prender condenados da Lava Jato com base em ordem do TRF-4. Foi a primeira vez que isso ocorreu. O que isso significa na guerra da Lava Jato?
JUIZ SÉRGIO MORO: A Lava Jato não é uma guerra, mas, assim como outros processos anteriores, como a Ação Penal 470 (mensalão), representa uma exceção à impunidade de crimes de poderosos. Foi o próprio TRF4 quem ordenou as prisões, após a confirmação de condenação por crimes de lavagem de cerca de dezoito milhões de reais, tendo por antecedente corrupção. Apenas segui uma ordem, embora com ela concorde integralmente. Significa, na prática, que talvez – e eu dou ênfase ao talvez – a era da impunidade dos barões da corrupção esteja chegando ao fim.
ESTADÃO: Em sua decisão o sr. fala dos ‘processos sem fim’. Como dar um fim nisso?
SÉRGIO MORO: O processo funciona quando o inocente vai para casa e o culpado vai para a prisão, principalmente em crimes graves como homicídio e corrupção. Se isso não ocorre, é uma farsa. A lei processual penal brasileira é muito generosa com recursos. Advogados habilidosos de criminosos poderosos podem explorar as brechas do sistema legal e apresentar recursos sem fim. O remédio é fácil, diminuir as brechas do sistema e os incentivos a recursos protelatórios. Uma forma é permitir a execução imediata de uma condenação por uma Corte de Apelação, que é a lei vigente, e admitir a suspensão dessa execução somente em casos excepcionais, quando for apresentado um recurso a um Tribunal Superior que tenha reais chances de êxito.
ESTADÃO: A quem atribuir o quadro de ‘impunidade de sérias condutas criminais’?
SÉRGIO MORO: O Brasil é uma sociedade profundamente desigual e o nosso sistema processual penal reproduz essas desigualdades, criando privilégios que impedem a efetiva responsabilização de pessoas poderosas por seus crimes. Não é só corrupção, mas até mesmo crimes de sangue, desde que praticados por pessoas poderosas. Em uma democracia liberal, todos devem ser tratados como livres e iguais, inclusive quanto à sua efetiva responsabilização após cometerem um crime.
ESTADÃO: As prisões têm amparo na decisão do Supremo sobre execução de pena a partir do julgamento de segundo grau. A Corte pode mudar o entendimento. O sr. está preocupado?
SÉRGIO MORO: A presunção de inocência é um escudo contra uma punição indevida. Exige que uma condenação criminal seja baseada em prova categórica. Na França e nos Estados Unidos, após o julgamento em primeira instância, já se inicia a execução da pena, com prisão, como regra. Então, executar a condenação, no Brasil, após a decisão da Corte de Apelação, não fere a presunção de inocência. O Supremo adotou esse entendimento em 2016 a partir de um julgamento conduzido pelo ministro Teori Zavascki. Fechou uma grande janela de impunidade e, embora o trabalho do ministro tenha sido notável em outras áreas, penso que foi esse o seu grande legado. Representou uma mudança geral no sentido do fim da impunidade dos poderosos e na construção de um governo de leis no Brasil. Reputo prematura a afirmação de que o Supremo irá reverter o precedente do ministro Teori. Enquanto não houver decisão, ministros podem mudar sua posição e há grandes ministros no Supremo, como, para ficar somente em dois exemplos, o ministro Celso de Mello e a ministra Rosa Weber, que têm demonstrado preocupação com o nível de corrupção descoberto. Com todo o respeito ao Supremo, seria, no entanto, lamentável se isso ocorresse.
ESTADÃO: Ao mesmo tempo em que o sr. manda prender, o ministro Gilmar Mendes manda soltar. O que deve prevalecer?
SÉRGIO MORO: Não penso que as questões devem ser tratadas a nível pessoal, mas institucional. Respeito o ministro Gilmar Mendes e espero que, ao final, ele, pensando na construção da rule of law, mantenha o precedente que ele mesmo ajudou a construir.
ESTADÃO: O sr. se frustra com isso?
SÉRGIO MORO: Revisões de decisões judiciais fazem parte do horizonte da profissão. Evidentemente, nenhum juiz gosta de se sentir como se estivesse vivendo o Mito de Sísifo.
ESTADÃO: Os advogados alegam que prisões em segundo grau violam o pleno direito de defesa.
SÉRGIO MORO: A proteção contra a punição indevida consiste em admitir a suspensão da execução da condenação caso apresentado um recurso plausível a uma Corte Superior. Compreendo que parte da advocacia criminal queira proteger ao máximo os seus clientes, mas o processo penal não serve apenas à proteção do acusado, mas também à proteção da vítima e de toda a sociedade. Tem que se pensar além dos próprios interesses corporativos.

Luiz Fux acusa o Congresso de tentar enfraquecer o Judiciário em reação à Lava-Jato
Em entrevista, ministro do STF defende volta de financiamento de campanha por empresas

POR CAROLINA BRÍGIDO
28/08/2017 4:30 / atualizado 28/08/2017 9:12


O ministro Luiz Fux: “Não é a hora de mudar o sistema de governo, o presidencialismo permite controlar os atos do presidente” - Ailton de Freitas / Agência O Globo
BRASÍLIA — Ministro do STF e próximo presidente do TSE a partir de fevereiro de 2018, Luiz Fux acusa o Congresso de tentar enfraquecer o Judiciário em reação à Lava-Jato, repetindo o que foi feito na Itália para anular os efeitos da Operação Mãos Limpas. Fux elogia a força-tarefa da Lava-Jato e, sobre reforma política, defende a volta do financiamento de campanha por empresas, se não forem contratadas pelo governo após a eleição. Leia entrevista.
Alguns juízes dizem que, depois da Operação Lava-Jato, o Congresso Nacional passou a retaliar o Judiciário. O senhor concorda?
O enfraquecimento do Judiciário é uma das fórmulas que se utilizou para fulminar os resultados positivos da Operação Mãos Limpas, na Itália. E parece que isso está acontecendo agora no Brasil, em relação à Operação Lava-Jato. Enquanto nós estamos estudando as melhores formas de combater a corrupção, as melhores formas de investigação, o que se tem feito no Congresso é estudar como se nulificou, na Itália, todos os resultados positivos da Operação Mãos Limpas. Na Itália, começaram a fazer reformas mirabolantes para tirar o foco da Operação Mãos Limpas. Aqui, fizeram o mesmo. Na Itália, começou a haver uma política de enfraquecimento do Poder Judiciário. Aqui, a iniciativa popular propôs medidas anticorrupção, e elas foram substituídas por uma nova lei de crime de abuso de autoridade, inclusive com a criminalização de atos do juiz. Se você comparar, tudo o que se fez na Itália para minimizar os efeitos da Operação Mãos Limpas tem sido feito no Brasil também.
Quais as medidas mais graves que o Congresso tomou até agora?
Em primeiro lugar, transformar as propostas contra a corrupção em lei de abuso de autoridade, para tentar criar uma ameaça legal à atuação dos juízes. Em segundo lugar, é completamente fora da reforma política fixar prazo de mandato para os juízes dos tribunais superiores. Entendo que seja uma estratégia para enfraquecer o Poder Judiciário. Essas mudanças são para tirar o foco do que se está efetivamente apurando, que é a corrupção.
Mandato delimitado para os ministros enfraqueceria o Supremo?
Depende. Se você aplicar o mandato no curso em que o ministro está apurando uma operação grave, evidentemente que enfraquece. Se você respeitar esse prazo de mandato da emenda em diante, acho até uma boa sugestão.
O ministro do Supremo Gilmar Mendes costuma dizer que o Ministério Público Federal exagera nas denúncias na Lava-Jato. O senhor concorda?
A Operação Lava-Jato tem como finalidade passar a limpo o Brasil, e acho que o Ministério Público é quem vai estabelecer o final dessa linha. Queixa-se muito de que a Lava-Jato não termina, mas eu entendo que esses integrantes da força-tarefa sabem até onde eles querem chegar. Eles realizam um trabalho digno de muitos elogios. Sou favorável a essa operação e acho que está sendo levada a efeito com um sentido bastante positivo.
As brigas entre Gilmar Mendes e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a partir da Lava-Jato, atingem a imagem do STF?
Eu entendo que isso é algo de caráter subjetivo, é uma opinião de um componente do colegiado que não atinge o colegiado. Na verdade, ele fala só por si. Eu não quero avaliar esse eventual dissenso entre o ministro e o procurador. Acho que cada um está cumprindo o seu papel de acordo com a sua percepção e a sua consciência.
O senhor acha que o STF deve julgar logo o pedido de Janot para que Gilmar seja impedido de atuar em habeas corpus de empresários com os quais teria relação?
Isso é algo de foro íntimo a ser resolvido de forma regimental. Se não me falha a memória, essa alegação é decidida na presidência. Mas, se tiver que ser levada a plenário, que seja.
Seria melhor julgar o assunto em plenário, de forma pública?
O STF não tem tradição de julgar impedimentos ou suspeições. Normalmente, isso é declarado pelo próprio julgador, por foro íntimo. Agora, no momento em que o tribunal foi instado a decidir isso, a decisão tem que ser tomada necessariamente pelos critérios legais. A lei estabelece casos de impedimento, em que o juiz não pode de maneira alguma funcionar, e casos de suspeição. Se o caso estiver enquadrado em um desses incisos da lei, automaticamente a função do tribunal é aplicar a lei ao caso concreto.
O Supremo tem condições de lidar com o grande volume de processos da Lava-Jato?
Diferentemente da vara de Curitiba, que só julga as ações da Lava-Jato, o STF tem competência múltipla. O juiz de Curitiba (Sergio Moro) profere, no máximo, 30 sentenças condenatórias por mês. O Supremo tem que produzir 90 sentenças judiciais por mês, incluindo direito tributário, meio ambiente, demarcação de terras indígenas... É muito variado. A tramitação das ações penais no Supremo é mais lenta do que em varas especializadas porque o STF não tem só isso para fazer.
Isso deve atrasar a conclusão dos processos da Lava-Jato?
Julgar uma ação penal na turma (com cinco ministros) é mais rápido do que julgar uma ação no plenário (com 11 ministros). Entendo que o Supremo vai dar uma resposta judicial bem mais célere do que daria se submetesse todos os processos da Lava-Jato ao plenário. Nós passamos seis meses julgando mensalão no plenário. Agora agiliza, porque as turmas é que vão julgar.
Os inquéritos abertos a partir da delação da Odebrecht saíram da relatoria do ministro Edson Fachin e foram distribuídos a outros gabinetes, entre eles, o do senhor. Hoje, Fachin tem três juízes auxiliares e outros ministros têm dois. O senhor acha que será necessário pedir reforço na equipe?
Seria uma boa medida, porque há inquirições. Agora que pulverizou (a investigação da Odebrecht entre os ministros), acho que todos deveriam ter também mais um juiz, para ficar com a dedicação mais exclusiva. Eu pretendo pedir mais um, para dar mais agilidade para os processos.
Na semana passada houve polêmica sobre semipresidencialismo e parlamentarismo. O senhor acha que é o momento de mudar o sistema de governo do país?
Efetivamente não é a hora de se mudar o sistema de governo, até porque o presidencialismo permite o controle dos atos do presidente não só pela sociedade, mas pelo Congresso e pelo STF. O presidente pode ser afastado por denúncia de crime, pode sofrer impeachment. E o Brasil é de tradição presidencialista. Não é hora de alterar absolutamente nada. A hora é de manter a nossa tradição política presidencialista sob esse novo enfoque ético e moral, esses novos valores que foram inaugurados com a repugnância de tudo a que nós assistimos aí no cenário político.
Qual a opinião do senhor sobre a proposta do distritão misto?
Esse distritão misto é de uma indecência a toda prova, porque ele é destinado a manter a reeleição de quem já está lá. Transforma uma eleição proporcional em majoritária, tira as vozes das minorias e acaba mantendo um status quo absolutamente indesejável.
O Congresso cogitou criar um fundo bilionário para financiar campanhas eleitorais, mas voltou atrás. O senhor concorda com a proposta?
Para mim, esse fundo é completamente incompatível com o momento de crise econômica nacional. A proposta que eu faria seria permitir a volta do financiamento eleitoral por parte de empresas que tenham a mesma bandeira ideológica do candidato. Por exemplo, um candidato que defende o meio ambiente, ou de determinado setor do mercado financeiro. Esse financiamento se daria num determinado limite. O financiamento seria ideológico, e a empresa doadora ficaria impedida de contratar com o poder público. Isso mostra a lisura do financiamento, como um ato de quem quer ser representado. É o que ocorre com as pessoas físicas: você doa para quem você acha que representa seus ideais.
Empreiteiras poderiam contribuir para campanhas? Qual seria a ideologia das empreiteiras? A Lava-Jato mostrou que muitas priorizam a corrupção.
A proibição da contrapartida evita que haja ilícito praticado a posteriori. Essas empresas poderiam doar dentro do ideal de necessidade de melhoria na infraestrutura do país.
A corrupção não encontraria um caminho? Por exemplo, a empreiteira poderia usar outra empresa como laranja para fazer um contrato com o poder público.
Sinceramente, na forma como se levou adiante a Lava-Jato, dificilmente uma empresa vai querer doar ilicitamente para uma campanha eleitoral para depois ter que comprar, com seu dinheiro, tornozeleiras eletrônicas para seus executivos.
O senhor vai presidir o TSE de fevereiro a agosto de 2018. O senhor acha que a Justiça Eleitoral tem real capacidade para fiscalizar o uso do caixa dois?
A Lava-Jato serviu de exemplo. Nós vamos montar uma estrutura no TSE para, em vez das auditorias e perícias serem realizadas a posteriori, elas serão feitas contemporaneamente à prestação de contas. Isso é importante. Não vamos usar só as forças do tribunal, mas todas as forças da administração pública serão usadas, como a Receita Federal e peritos técnicos.




Petição virtual: impeachment de Gilmar Mendes tem apoio de quase um milhão
Na justificativa para o pedido estão os inúmeros habeas corpus concedidos por Gilmar a poderosos




 Juliana Cipriani/Estado de Minas

Uma petição virtual pedindo o impeachment o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, já tem quase um milhão de assinaturas em apoio à medida. A justificativa para o impedimento são as diversas decisões polêmicas do magistrado, como a de soltar réus na Operação Lava-Jato. 

Até a manhã desta quarta-feira (23/8), o abaixo-assinado contabiliza 786.410 adesões. Faltam 213.590 para chegar à meta de um milhão estabelecida para entregar o pedido ao Senado.


Na justificativa para o impeachment estão os inúmeros habeas corpus concedidos por Gilmar a poderosos, que demonstrariam que ele julga casos com parcialidade. 

O último caso mais polêmico envolvendo o ministro foi o da soltura por duas vezes do réu e empresário Jacob Barata Filho, com quem Gilmar Mendes tem relação pessoal. O magistrado foi padrinho de casamento da filha de Barata e, mesmo assim, não se considerou impedido para julgar um habeas corpus a favor dele. 

Juristas querem impeachment

O impeachment de Gilmar Mendes já foi pedido ao Senado Federal pelo ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles e pelo professor de Direito da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Neves. Junto com outros juristas, eles afirmam que há pelo menos três motivos para Gilmar perder o cargo de ministro do STF. 

Entre as razões está o fato de ele ter participado de atividade político-partidária. Eles citam ainda o abuso de autoridade por parte de Gilmar e o fato de ele atuar em casos nos quais deveria se declarar impedido. 

No pedido, os juristas citam a gravação de uma conversa com o senador Aécio Neves (PSDB) na qual o tucano pedia que o magistrado intercedesse junto a parlamentares a favor do projeto de abuso de autoridade.

Senado precisa analisar

Ao comentar os pedidos de impedimento, Gilmar chegou a dizer que o momento era politizado. 

O senado não deu andamento aos pedidos de impeachment contra o ministro. A pressão popular é para que o assunto seja analisado.









Referências

http://veja.abril.com.br/brasil/tenho-esperanca-em-ministros-do-stf-diz-moro/
http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/moro-gilmar-e-o-mito-de-sisifo/

https://oglobo.globo.com/brasil/luiz-fux-acusa-congresso-de-tentar-enfraquecer-judiciario-em-reacao-lava-jato-21754511
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/08/23/internas_polbraeco,620119/impeachment-de-gilmar-mendes-tem-apoio-de-quase-um-milhao.shtml

domingo, 27 de agosto de 2017

O ARROMBADOR APOSENTADO


Matéria Especial: Profissão Sapateiro

O passado e o futuro de uma das profissões mais antigas da humanidade



“Vovó não me faça perguntas que eu não quero responder.” Netinho Precoce


Esta é a porta que guarda o santuário de ouro






15. O ARROMBADOR APOSENTADO
O. HENRY (1862-1910 | Estados Unidos)

William Sidney Porter, mais conhecido como 0. Henry, é, até hoje, um dos contistas mais estimados do leitor americano. Terno e lírico, com suas Páginas da Vida (título de um filme baseado nas suas histórias), mas sobretudo humorista, Henry também escreveu contos sobre o submundo do Oeste e de Nova York de sua época. Tinha conhecimento de causa: chegou a ser preso por um desfalque, quando trabalhava num banco. Preso, depois de ter fugido, é claro. Experiência que o levou a muitos personagens e a muitas histórias. Como a deste arrombador aposentado e a do assassino "cheio de bazófia", que vamos em seguida conhecer.

Um guarda veio até a sapataria da prisão, onde Jimmy Valentine, como sempre assíduo ao trabalho, costurava sapatos, e o escoltou até a administração. Ali, o diretor entregou-lhe o indulto que o governador assinara naquela manhã. Ele cumprira quase dez meses de uma sentença de quatro anos. Não pensara em ficar ali mais três meses. Quando um homem, que tem do lado de fora tantos amigos como Jimmy Valentine, "entra em cana", quase não vale a pena cortar lhe os cabelos.

- Bem, Valentine - disse o diretor -, você vai sair amanhã. Tome jeito e faça alguma coisa de sua vida. No fundo, você não é uma má pessoa. Pare de arrombar cofres e viva dentro da lei.

- Eu? - disse Jimmy surpreso. - Mas nunca arrombei um cofre em toda a minha vida.

- Ah, não! - o diretor riu. - Claro que não. Mas deixe ver, como é mesmo que você foi condenado por aquele trabalho em Springfield? Foi por que não conseguiu provar um álibi para não comprometer uma amiga da mais alta sociedade? Ou foi só o caso de um júri preconceituoso e bitolado que não foi com a sua cara? É sempre uma coisa ou outra que acontece com vocês "inocentes".

- Eu, diretor? - disse Jimmy, no seu candor exemplar. - Como? Se nunca estive em Springfield?

- Escolte-o de volta, Cronin - sorriu o diretor -, e arranje roupas de rua para ele. Pode abrir a sua cela às sete da manhã e leve-o até o registro. Pense bem no meu conselho, Valentine.

Pós sete e um quarto da manhã seguinte, Jimmy estava de volta ao escritório do diretor. Vestia um terno malfeito, roupas prontas e uns sapatos que rangiam, fornecidos pelo Estado a seus hóspedes compulsórios na hora da dispensa. Um funcionário entregou a ele um bilhete de trem e uma nota de cinco dólares, com o que a sociedade esperava que ele se reabilitasse, tornando-se um cidadão próspero e honesto. O diretor lhe deu um charuto e apertou sua mão. No livro de saídas foi anotado: "Valentine, 9762 - Indultado pelo governador." E Jimmy Valentine saiu para o sol.

Sem dar atenção aos pássaros que cantavam, às árvores verdes balançando seus ramos ao vento, nem ao perfume das flores, Jimmy foi direto para um restaurante. Ali provou a primeira das doces alegrias da liberdade na forma de uma galinha ensopada e uma garrafa de vinho branco, seguida por um charuto, um pouco melhor do que aquele que lhe dera o diretor. Dali andou com calma até a estação. Jogou uma moeda no chapéu de um cego que estava na porta e tomou seu trem. Três horas de viagem o levaram a uma cidadezinha perto dos limites do estado. Foi ao café de um certo Mike Dolan e apertou a mão de Mike, que estava sozinho atrás do balcão.

- Desculpe se não pôde ser antes, Jimmy, meu garoto - disse Mike. - Mas tivemos o contratempo daquele protesto de Springfield, e o governador quase volta atrás. Tudo bem?

- Tudo - disse Jimmy. - Você está com minha chave?

Pegou a chave e subiu para o andar de cima, onde abriu a porta do quarto dos fundos. Tudo permanecia como deixara. No chão ainda estava um botão de Ben Price, que fora arrancado do colarinho do eminente detetive, quando subjugaram Jimmy para prendê-lo. Puxando uma cama de armar, Jimmy fez escorregar um painel da parede e tirou dali uma mala coberta de poeira. Abriu-a e contemplou com amor o mais perfeito jogo de ferramentas de arrombador de todo o Leste. Um jogo completo, feito de um aço especialmente temperado, o que havia de mais moderno em brocas, gazuas, tenazes, braçadeiras, pés-de-cabra e puas, mais duas ou três novidades inventadas pelo próprio Jimmy, e que eram o seu orgulho. Gastara mais de novecentos dólares para mandar fazê-las em. .. Bem, onde fazem estas coisas para a profissão.

Meia hora mais tarde, Jimmy desceu e passou pelo café. Vestia agora roupas elegantes e bem cortadas e levava na mão sua mala limpa e sem poeira.

- Alguma coisa em mira? - perguntou Mike Dolan, bem-humorado.

- Eu? - perguntou Jimmy com espanto. Não estou entendendo. Sou o representante comercial das "Indústrias Reunidas de Fechaduras & Dobradiças SA", de Nova York.

A declaração deliciou de tal modo a Mike, que Jimmy foi obrigado a tomar um milk-shake com ele. Nunca bebia "destilados".

Uma semana depois que "Valentine, 9762" fora posto em liberdade, arrombaram um cofre, com elegância e maestria, em Richmond, Indiana, sem nenhuma pista que indicasse o autor do trabalho. Míseros oitocentos dólares foi tudo o que levaram. Duas semanas depois disso, em1.ogansport, um cofre com um patenteado e avançado sistema antifurto fora aberto como se fosse um queijo, ao som de mil e quinhentos dólares em espécie; títulos e metais não foram tocados. Aquilo começou a despertar o interesse dos "pega-ladrões". Então, foi a vez de um velho cofre de banco, em Jefferson City, entrar em atividade e lançar pela cratera uma erupção de papel moeda no valor de cinco mil dólares. As perdas agora eram grandes o bastante para levar o problema a um profissional do nível de Ben Price. Comparando dados, encontrou-se uma extraordinária semelhança nos métodos. Ben Price investigou os locais e foi ouvido dizendo:

- Têm a assinatura de "Dandy" Jimmy Valentine. Ele já voltou ao trabalho. Olhem para este cilindro de combinações, arrancado como se fosse um rabanete em terra fofa. Só ele tem ferramentas capazes de fazer isto. E vejam com que limpeza o trabalho foi feito. Jimmy nunca precisa de mais de um furo. Sim, acho que quero ter uma conversa com o Mr. Valentine. Da próxima vez, ele completará sua sentença, sem nenhuma história de indulto, nem liberdade condicional.

Ben Price conhecia os hábitos de Jimmy. Estudara-os quando trabalhara no caso de Springfield: distância entre os trabalhos, rapidez na fuga, nenhum cúmplice e um fraco pela boa sociedade - hábitos que o fizeram escapar com sucesso da retribuição devida. Espalhou-se que Ben Price estava no rastro do arrombador, e outros proprietários de cofres sentiram-se mais tranquilos.

Uma tarde, Jimmy Valentine e sua mala desceram da conexão postal, em Elmore, uma cidadezinha a oito quilômetros da estrada de ferro, no interior do Arkansas. Jimmy, parecendo um atlético universitário do último ano de volta ao lar, caminhou pela calçada até o hotel.

Uma jovem atravessou a rua e passou por ele na esquina, entrando por uma porta sobre a qual estava escrito "Banco de Elmore". Jimmy olhou em seus olhos, esqueceu quem era, e transformou-se em outro homem. Ela baixou os olhos e corou de leve. Jovens com a aparência e o estilo de Jimmy eram escassos em Elmore.

Jimmy encontrou um menino bem à vontade nos degraus do banco, como se fosse um dos acionistas, e começou a indagar sobre a cidade, alimentando a conversa com algumas moedas de dez centavos. Daí a pouco, a garota saiu do banco, ignorando com um ar de superioridade o rapaz com a mala, e seguiu seu caminho.

- Aquela moça não é a Srta. Polly Simpson? - perguntou Jimmy, manipulando a resposta.

- Não! - disse o menino. - É Annabel Adams, o pai dela é o dono do banco. Que é que você veio fazer em Elmore? A corrente do seu relógio é de ouro? Quero comprar um buldogue. Vai me dar mais uma moeda?

Jimmy foi para o Hotel Planters e alugou um quarto como Ralph D. Spencer. Encostado no balcão da portaria, deu ao atendente alguns dados biográficos. Disse que estava em Elmore procurando um local para estabelecer um negócio. Quantas sapatarias havia na cidade? Pensava em abrir uma sapataria. Será que havia espaço para mais uma?

O rapaz estava impressionado com as roupas e com os modos de Jimmy. Considerava-se, ele mesmo, um modelo de elegância para a juventude local, mas agora, vendo Jimmy, percebia as próprias limitações. Enquanto tentava se instruir na forma em que Jimmy administrava suas cartas, concedia cordialmente as informações.

Sim, havia muito espaço no negócio de sapatos. Na verdade, não havia uma sapataria na cidade, o armazém local vendia alguns calçados. Esperava que o Sr. Spencer decidisse se estabelecer em Elmore. O comércio, em qualquer ramo, era bom, as pessoas em Elmore eram sociáveis, e a cidade, agradável de se viver.

O Sr. Spencer pensava em passar uns dias ali e estudar a situação. Não, não era necessário chamar o menino, levaria ele mesmo a mala até seu quarto, era muito pesada.

Ralph Spencer - fênix surgido das cinzas de Jimmy Valentine, cinzas resultantes de um súbito ataque de paixão - se fixou em Elmore. Abriu sua sapataria, conseguiu uma boa clientela, e prosperou.

Socialmente era também um sucesso. Fez vários amigos e realizou o que desejava seu coração. Conheceu Annabel Adams, cativado cada vez mais por seu charme.

Depois de um ano, a situação do Sr. Ralph Spencer era a seguinte: conseguira o respeito de toda a comunidade, sua sapataria florescia, e ele e Annabel estavam noivos e se casariam em duas semanas. Adams, o típico banqueiro do interior, trabalhador e desconfiado, aprovava o casamento. O orgulho que inspirava em Annabel era quase tão grande quanto o amor que a moça sentia por ele. Era já como um membro da família, tanto na casa do Sr. Adams, quanto na casa da irmã casada de Annabel.

Um dia Jimmy sentou-se para escrever esta carta, que enviou ao endereço de confiança de um de seus velhos amigos em St. Louis:

Meu velho,

Queria encontrá-lo no local do Sullivan, em Little Rock, na próxima quarta-feira, às nove horas da noite. Preciso que você resolva algumas pequenas coisas para mim, e também quero dar-lhe de presente meu jogo de ferramentas. Sei que você as apreciará - não poderia fazer outras iguais nem com mil dólares. Billy, eu me aposentei do velho negócio, há um ano. Tenho uma boa loja, uma vida honesta, e vou me casar daqui a duas semanas com a melhor garota do mundo. Esta é a única vida, Billy - a vida honesta. Não tocaria no dinheiro de outra pessoa agora, nem por um milhão de dólares. Depois do casamento, penso vender meu negócio e ir para o Oeste, onde serão menores as chances de ver meu passado se levantar contra mim. Billy, ela acredita em mim e não a decepcionaria por nada no mundo. Não deixe de estar no Sully, quarta-feira, porque preciso vê-lo. Levarei as ferramentas.

Seu velho amigo, Jimmy

Na segunda-feira à noite, depois que Jimmy escrevera esta carta, Ben Price entrou sem chamar atenção em Elmore num carro alugado. Girou pela cidade e, na sua maneira discreta, descobriu o que queria saber. Da drogaria, em frente à Sapataria Spencer, Price pôde ver bem o rosto de Ralph D. Spencer.

- Vai se casar com a filha do banqueiro, não é mesmo, Jimmy ? - disse Price a si mesmo. - Não sei não.

Na manhã seguinte, Jimmy tomou o café da manhã na casa dos Adams. Ia a Little Rock, naquela manhã, para encomendar seu terno de casamento e comprar um presente para Annabel. Seria a primeira vez que deixaria a cidade desde que viera para Elmore. Um ano já se passara desde seu último "trabalho", e achava que já podia se aventurar no mundo lá fora.

Depois do café, foram para o centro juntos, num grande grupo familiar - o Sr. Adams, Annabel, Jimmy e a irmã casada de Annabel com suas duas filhas pequenas, de cinco e nove anos. Foram até o hotel, onde Jimmy ainda vivia, e ele subiu a seu quarto para pegar sua mala. Depois foram para o banco. Lá estava a charrete com o cavalo de Jimmy e Dolph Gibson, que ia levá-lo até a estação de trem.

Entraram todos na sala do banco, de teto alto sustentado por vigas de carvalho -Jimmy inclusive, o futuro genro de Adams era bem-vindo em toda parte. Os funcionários se mostraram felizes em ver e cumprimentar o elegante e simpático jovem que ia se casar com a senhorita Annabel. Jimmy pousou sua mala no chão, e Annabel, transbordante de felicidade e alegria, brincando, colocou na cabeça o chapéu do noivo e pegou sua mala.

- Não fico bem de vendedor? - disse Annabel. - Meu Deus, Ralph, como isto pesa! Parece cheia de barras de ouro.

- Uma quantidade de ferros para sola, que vieram por engano - disse Jimmy com presença de espírito. - Vou devolvê-los, e levando comigo não gasto com o frete. Estou ficando econômico.

O Banco de Elmore havia colocado um cofre novo, e o Sr. Adams, que estava muito orgulhoso, quis mostrá-lo a todos. Não era grande, mas era a última palavra em segurança, com uma porta que se fechava com três trancas, acionadas simultaneamente por uma única maçaneta, e funcionava com um mecanismo de tempo. O Sr. Adams explicou seu funcionamento ao Sr. Spencer, que, embora não parecesse entender muito bem da coisa, mostrava um gentil interesse. As duas meninas, May e Agatha, estavam encantadas com o metal polido, o relógio e os mecanismos engraçados.

Enquanto estavam nisto, Ben Price, que entrara no banco pouco depois deles, apoiara os cotovelos no balcão, e olhava a cena por entre as barras. Dissera ao caixa que não desejava nada, estava apenas esperando por um conhecido.

De repente as mulheres gritaram. Sem que os adultos percebessem, May, a menina de nove anos, de brincadeira, trancara Agatha no cofre. Depois disto, fechara a maçaneta e girara o cilindro de combinações, como vira seu avô fazer. O velho banqueiro correu para a maçaneta e tentou mexê-Ia.

- A porta não pode ser aberta - gemeu. - O relógio ainda não foi ajustado, nem a combinação foi registrada.
A mãe de Agatha começou a gritar de novo, histérica.

- Quietos! - disse o Sr. Adams, levantando a mão tremula. - Fiquem todos quietos. Agatha! - gritou o mais alto que pôde. - Ouça o vovô - durante o silêncio que se seguiu, ouviram a menina se debatendo em pânico no escuro interior do cofre.

- Minha querida! - gritou a mãe. - Ela vai morrer de medo. Abram esta porta! Arrombem! Vocês, homens, não podem fazer nada?

- A pessoa capaz de abri-lo, mais próxima daqui, está em Little Rock - disse o Sr. Adams em voz trêmula. - Meu Deus, Spencer, que é que nós vamos fazer? A menina não pode esperar muito tempo, não existe ar suficiente lá dentro; além do mais, terá convulsões de medo.

A mãe de Agatha, desesperada, começou a esmurrar a porta; alguém sem pensar sugeriu dinamite. Annabel olhou para Jimmy com seus olhos grandes e cheios de angústia, mas onde ainda não havia desespero. Uma mulher sempre acha que nada é impossível para o homem que adora.

- Você não pode fazer alguma coisa, Ralph? Por favor, tente.

Ele a olhou com um estranho sorriso nos lábios, um sorriso suave que estava também em seus olhos.

- Annabel, dê para mim a rosa que está usando.

Mal acreditando no que ouvira, Annabel soltou do alfinete o botão que levava no peito do vestido. Jimmy colocou a flor no bolso do colete, tirou o paletó e arregaçou as mangas. Naquele momento, morria Ralph D. Spencer, e Jimmy Valentine tomava seu lugar.

- Afastem-se da porta, todos vocês - ordenou curto.

Colocou sua mala na mesa e a abriu. Daquele momento em diante, parecia inconsciente da presença de qualquer outra pessoa. Alinhou com rapidez e ordem seus instrumentos, estranhos e brilhantes, enquanto assoviava para si mesmo como fazia sempre que trabalhava. Num profundo silêncio, os outros o observavam como enfeitiçados.

Em um minuto, sua broca comia o metal da porta. Em dez minutos - quebrando seu próprio recorde -, a porta estava aberta.

Agatha, quase desmaiando, mas salva, foi recolhida pelos braços da mãe.

Jimmy Valentine vestiu seu paletó e caminhou para a porta. Enquanto ia embora, pensou ouvir de longe uma voz que um dia conhecera chamar "Ralph!". Mas não hesitou.

Na porta, um homem grande apareceu no seu caminho.

- Olá, Ben! - disse Jimmy, ainda com seu estranho sorriso. - Finalmente me encontrou. Vamos embora, não acho que faça mais nenhuma diferença agora.

Mas aí, Ben Price teve uma atitude muito inesperada.

- Desculpe, mas acho que está enganado, senhor Spencer - disse ele. - Não creio que já nos conheçamos. Aquele parece que é seu carro que está lhe esperando.

E Ben Price deu-lhe as costas e caminhou devagar pela rua.

Tradução de Octávio Marcondes


A Retrieved Reformation by O. Henry


"Uma mulher pensa que o homem que ama pode de alguma forma  fazer qualquer coisa."

"A woman thinks that the man she loves can somehow do anything."




A Retrieved Reformation by O. Henry

We present the short story "A Retrieved Reformation," by O. Henry. The story was originally adapted and recorded by the U.S. Department of State.
In the prison shoe-shop, Jimmy Valentine was busily at work making shoes. A prison officer came into the shop, and led Jimmy to the prison office. There Jimmy was given an important paper. It said that he was free.
Jimmy took the paper without showing much pleasure or interest. He had been sent to prison to stay for four years. He had been there for ten months. But he had expected to stay only three months. Jimmy Valentine had many friends outside the prison. A man with so many friends does not expect to stay in prison long.
“Valentine,” said the chief prison officer, “you’ll go out tomorrow morning. This is your chance. Make a man of yourself. You’re not a bad fellow at heart. Stop breaking safes open, and live a better life.”
“Me?” said Jimmy in surprise. “I never broke open a safe in my life.”
“Oh, no,” the chief prison officer laughed. “Never. Let’s see. How did you happen to get sent to prison for opening that safe in Springfield? Was it because you didn’t want to tell where you really were? Perhaps because you were with some lady, and you didn’t want to tell her name? Or was it because the judge didn’t like you? You men always have a reason like that. You never go to prison because you broke open a safe.”
“Me?” Jimmy said. His face still showed surprise. “I was never in Springfield in my life.”
“Take him away,” said the chief prison officer. “Get him the clothes he needs for going outside. Bring him here again at seven in the morning. And think about what I said, Valentine.”
At a quarter past seven on the next morning, Jimmy stood again in the office. He had on some new clothes that did not fit him, and a pair of new shoes that hurt his feet. These are the usual clothes given to a prisoner when he leaves the prison.
Next they gave him money to pay for his trip on a train to the city near the prison. They gave him five dollars more. The five dollars were supposed to help him become a better man.
Then the chief prison officer put out his hand for a handshake. That was the end of Valentine, Prisoner 9762. Mr. James Valentine walked out into the sunshine.
He did not listen to the song of the birds or look at the green trees or smell the flowers. He went straight to a restaurant. There he tasted the first sweet joys of being free. He had a good dinner. After that he went to the train station. He gave some money to a blind man who sat there, asking for money, and then he got on the train.
Three hours later he got off the train in a small town. Here he went to the restaurant of Mike Dolan.
Mike Dolan was alone there. After shaking hands he said, “I’m sorry we couldn’t do it sooner, Jimmy my boy. But there was that safe in Springfield, too. It wasn’t easy. Feeling all right?”
“Fine,” said Jimmy. “Is my room waiting for me?”
He went up and opened the door of a room at the back of the house. Everything was as he had left it. It was here they had found Jimmy, when they took him to prison. There on the floor was a small piece of cloth. It had been torn from the coat of the cop, as Jimmy was fighting to escape.
There was a bed against the wall. Jimmy pulled the bed toward the middle of the room. The wall behind it looked like any wall, but now Jimmy found and opened a small door in it. From this opening he pulled out a dust-covered bag.
He opened this and looked lovingly at the tools for breaking open a safe. No finer tools could be found any place. They were complete; everything needed was here. They had been made of a special material, in the necessary sizes and shapes. Jimmy had planned them himself, and he was very proud of them.
It had cost him over nine hundred dollars to have these tools made at a place where they make such things for men who work at the job of safe-breaking.
In half an hour Jimmy went downstairs and through the restaurant. He was now dressed in good clothes that fitted him well. He carried his dusted and cleaned bag.
“Do you have everything planned?” asked Mike Dolan.
“Me?” asked Jimmy as if surprised. “I don’t understand. I work for the New York Famous Bread and Cake Makers Company. And I sell the best bread and cake in the country.”
Mike enjoyed these words so much that Jimmy had to take a drink with him. Jimmy had some milk. He never drank anything stronger.
A week after Valentine, 9762, left the prison, a safe was broken open in Richmond, Indiana. No one knew who did it. Eight hundred dollars were taken.
Two weeks after that, a safe in Logansport was opened. It was a new kind of safe; it had been made, they said, so strong that no one could break it open. But someone did, and took fifteen hundred dollars.
Then a safe in Jefferson City was opened. Five thousand dollars were taken. This loss was a big one. Ben Price was a cop who worked on such important matters, and now he began to work on this.
He went to Richmond, Indiana, and to Logansport, to see how the safe-breaking had been done in those places. He was heard to say: “I can see that Jim Valentine has been here. He is in business again. Look at the way he opened this one. Everything easy, everything clean. He is the only man who has the tools to do it. And he is the only man who knows how to use tools like this. Yes, I want Mr. Valentine. Next time he goes to prison, he’s going to stay there until his time is finished.”
Ben Price knew how Jimmy worked. Jimmy would go from one city to another far away. He always worked alone. He always left quickly when he was finished. He enjoyed being with nice people. For all these reasons, it was not easy to catch Mr. Valentine.
People with safes full of money were glad to hear that Ben Price was at work trying to catch Mr. Valentine.
One afternoon Jimmy Valentine and his bag arrived in a small town named Elmore. Jimmy, looking as young as a college boy, walked down the street toward the hotel.
A young lady walked across the street, passed him at the corner, and entered a door. Over the door was the sign, “The Elmore Bank.” Jimmy Valentine looked into her eyes, forgetting at once what he was. He became another man. She looked away, and brighter color came into her face. Young men like Jimmy did not appear often in Elmore.
Jimmy saw a boy near the bank door, and began to ask questions about the town. After a time the young lady came out and went on her way. She seemed not to see Jimmy as she passed him
“Isn’t that young lady Polly Simpson?” asked Jimmy.
“No,” said the boy. “She’s Annabel Adams. Her father owns this bank.”
Jimmy went to the hotel, where he said his name was Ralph D. Spencer. He got a room there. He told the hotel man he had come to Elmore to go into business. How was the shoe business? Was there already a good shoe-shop?
The man thought that Jimmy’s clothes and manners were fine. He was happy to talk to him.
Yes, Elmore needed a good shoe-shop. There was no shop that sold just shoes. Shoes were sold in the big shops that sold everything. All business in Elmore was good. He hoped Mr. Spencer would decide to stay in Elmore. It was a pleasant town to live in and the people were friendly.
Mr. Spencer said he would stay in the town a few days and learn something about it. No, he said, he himself would carry his bag up to his room. He didn’t want a boy to take it. It was very heavy.
Mr. Ralph Spencer remained in Elmore. He started a shoe-shop. Business was good.
Also he made many friends. And he was successful with the wish of his heart. He met Annabel Adams. He liked her better every day.
At the end of a year everyone in Elmore liked Mr. Ralph Spencer. His shoe-shop was doing very good business. And he and Annabel were going to be married in two weeks. Mr. Adams, the small-town banker, liked Spencer. Annabel was very proud of him. He seemed already to belong to the Adams family.
One day Jimmy sat down in his room to write this letter, which he sent to one of his old friends:
Dear Old Friend: I want you to meet me at Sullivan’s place next week, on the evening of the 10th. I want to give you my tools. I know you’ll be glad to have them. You couldn’t buy them for a thousand dollars. I finished with the old business—a year ago. I have a nice shop. I’m living a better life, and I’m going to marry the best girl on earth two weeks from now. It’s the only life—I wouldn’t ever again touch another man’s money. After I marry, I’m going to go further west, where I’ll never see anyone who knew me in my old life. I tell you, she’s a wonderful girl. She trusts me.
Your old friend, Jimmy.
On the Monday night after Jimmy sent this letter, Ben Price arrived quietly in Elmore. He moved slowly about the town in his quiet way, and he learned all that he wanted to know. Standing inside a shop, he watched Ralph D. Spencer walk by.
“You’re going to marry the banker’s daughter, are you, Jimmy?” said Ben to himself. “I don’t feel sure about that!”
The next morning Jimmy was at the Adams home. He was going to a nearby city that day to buy new clothes for the wedding. He was also going to buy a gift for Annabel. It would be his first trip out of Elmore. It was more than a year now since he had done any safe-breaking.
Most of the Adams family went to the bank together that morning. There were Mr. Adams, Annabel, Jimmy, and Annabel’s married sister with her two little girls, aged five and nine. They passed Jimmy’s hotel, and Jimmy ran up to his room and brought along his bag. Then they went to the bank.
All went inside—Jimmy, too, for he was one of the family. Everyone in the bank was glad to see the good-looking, nice young man who was going to marry Annabel. Jimmy put down his bag.
Annabel, laughing, put Jimmy’s hat on her head and picked up the bag.
“How do I look?” she asked. “Ralph, how heavy this bag is! It feels full of gold.”
“It’s full of some things I don’t need in my shop,” Jimmy said. “I’m taking them to the city, to the place where they came from. That saves me the cost of sending them. I’m going to be a married man. I must learn to save money.”
The Elmore bank had a new safe. Mr. Adams was very proud of it, and he wanted everyone to see it. It was as large as a small room, and it had a very special door. The door was controlled by a clock. Using the clock, the banker planned the time when the door should open. At other times no one, not even the banker himself, could open it. He explained about it to Mr. Spencer. Mr. Spencer seemed interested but he did not seem to understand very easily. The two children, May and Agatha, enjoyed seeing the shining heavy door, with all its special parts.
While they were busy like this, Ben Price entered the bank and looked around. He told a young man who worked there that he had not come on business; he was waiting for a man.
Suddenly there was a cry from the women. They had not been watching the children. May, the nine-year-old girl, had playfully but firmly closed the door of the safe. And Agatha was inside.
The old banker tried to open the door. He pulled at it for a moment. “The door can’t be opened,” he cried. “And the clock—I hadn’t started it yet.”
Agatha’s mother cried out again.
“Quiet!” said Mr. Adams, raising a shaking hand. “All be quiet for a moment. Agatha!” he called as loudly as he could. “Listen to me.” They could hear, but not clearly, the sound of the child’s voice. In the darkness inside the safe, she was wild with fear.
“My baby!” her mother cried. “She will die of fear! Open the door! Break it open! Can’t you men do something?”
“There isn’t a man nearer than the city who can open that door,” said Mr. Adams, in a shaking voice. “My God! Spencer, what shall we do? That child—she can’t live long in there. There isn’t enough air. And the fear will kill her.”
Agatha’s mother, wild too now, beat on the door with her hands. Annabel turned to Jimmy, her large eyes full of pain, but with some hope, too. A woman thinks that the man she loves can somehow do anything.
“Can’t you do something, Ralph? Try, won’t you?”
He looked at her with a strange soft smile on his lips and in his eyes.
“Annabel,” he said, “give me that flower you are wearing, will you?”
She could not believe that she had really heard him. But she put the flower in his hand. Jimmy took it and put it where he could not lose it. Then he pulled off his coat. With that act, Ralph D. Spencer passed away and Jimmy Valentine took his place.
“Stand away from the door, all of you,” he commanded.
He put his bag on the table, and opened it flat. From that time on, he seemed not to know that anyone else was near. Quickly he laid the shining strange tools on the table. The others watched as if they had lost the power to move.
In a minute Jimmy was at work on the door. In ten minutes— faster than he had ever done it before—he had the door open.
Agatha was taken into her mother’s arms.
Jimmy Valentine put on his coat, picked up the flower and walked toward the front door. As he went he thought he heard a voice call, “Ralph!” He did not stop.
At the door a big man stood in his way.
“Hello, Ben!” said Jimmy, still with his strange smile. “You’re here at last, are you? Let’s go. I don’t care, now.”
And then Ben Price acted rather strangely.
“I guess you’re wrong about this, Mr. Spencer,” he said. “I don’t believe I know you, do I?”
And Ben Price turned and walked slowly down the street.
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Words in This Story
shop – n. a building or room where goods and services are sold or worked on
safe(s) – n. a strong metal box with a lock that is used to store money or valuable things
coat – n. an outer piece of clothing that can be long or short and that is worn to keep warm or dry
cop – n. a person whose job is to enforce laws, investigate crimes, and make arrests
lovingly – adv. done in a way that shows love
proud – adj. very happy and pleased because of something you have done, something you own or someone you know or are related to
cake – n. a sweet baked food made from a mixture of flour, sugar, and other ingredients
corner – n. the place where two streets or roads meet






Projeto "Arrombador"


Figura 2 – Visualização de cofre para o jogo Jimmy Valentine.


Abaixo se encontra o Artigo entregue à banca.


Artigo do desenvolvimento do jogo “Jimmy Valentine”

“Jimmy Valentine” game development article



São Paulo Universidade Anhembi Morumbi Curso: Design de Games

Período Letivo: 1º Semestre de 2010 Semestre: 3º Turma: DES-GA-NA3 

Resumo

Por meio de discussões e tentativas para unir uma forma de programação e arte visual de acordo com o tema extraído em sua íntegra de um conto, foram incorporados elementos que poderiam se adequar ao mesmo tempo para as duas mídias por meio de adaptação dos mesmos. Estabelecendo assim relações diretas entre um e outro, transmitindo o teor da narrativa explorada, transitando da mídia bibliográfica para a digital, em forma de um objeto interativo, jogo. O objetivo essencial do projeto é o de confeccionar um produto de lazer visado para indivíduos que joguem casualmente. O resultado obtido foi uma peça que possui os mínimos requisitos para ser divulgada ao público em questão, de forma compreensível e clara.

Palavras-Chaves: Adaptação. Jogo. Objetivo. Resultado. Transição de Mídia.







Abstract

By arguments and attempts to unite a way of programming and visual art related to the theme extracted as a whole from a tale, elements which could be adequate to both media by adaption were incorporated. Establishing direct relations with one another, consecutively transmitting the essence of the explored story, transiting from the bibliographical media to the digital one, in the form of an interactive object, game. The essential objective of this project is of making a leisure product aimed to those who play casually. The result reached was a piece of art that possesses the minimum requirements to be revealed to the public mentioned, in a comprehensive and clear way.

Keywords: Adaptation. Game. Objective. Result. Media Transition.

Referências

http://www.portalbrumado.com.br/materia-especial-profissao-sapateiro-
http://projetoarrombador.blogspot.com.br/2010/06/o-artigo.html?m=1
http://www.ricardosetti.com/o-segredo-do-cofre-forte-mais-seguro-do-mundo/
file:///D:/Usu%C3%A1rio/Downloads/Os%20100%20Melhores%20Contos%20de%20Crime%20e%20Mist%C3%A9rio%20da%20Literatura%20Universal%20-%20Fl%C3%A1vio%20Moreira%20Da%20Costa.pdf
https://learningenglish.voanews.com/a/a-retrieved-reformation-o-henry/3427783.html