Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos.
As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
Colaboradores,
Procuradores e Presidentes da República Premiados Com Raquel Dodge, Temer injetou na
Procuradoria um contraponto a Janot Josias
de Souza 28/06/2017 20:59
“Com
a rapidez de um raio, Michel Temer indicou a sucessora do procurador-geral da
República Rodrigo Janot horas depois de receber a lista tríplice com os nomes
mais votados pela corporação. Refugou o primeiro nome da lista, Nicolao Dino.
Conforme previsto aqui, indicou sua preferida: Raquel Dodge, a segunda
colocada. Deve-se a pressa de Temer ao desejo de injetar desde logo no cenário
político a perspectiva de um contraponto à atuação de Janot, que deixará o
cargo em 17 de setembro.” DENÚNCIA CONTRA TEMER GERA
‘EXPECTATIVA E CERTO CONSTRANGIMENTO’. Veja
mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/06/28/com-raquel-dodge-temer-injetou-na-procuradoria-um-contraponto-a-janot/?cmpid=copiaecola Divas e Divãs: Saudades da
República
Feitio de Oração
Compositor: Noel Rosa E Vadico
Quem
acha vive se perdendo
Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que, por infelicidade, meu pobre peito invade
Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha vou mandar
Minha morena prá cantar com satisfação
E com harmonia essa triste melodia
Que é meu samba em feitio de oração
O samba na realidade não vem do morro nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão sentirá que o samba então
Nasce no coração
Aracy de Almeida - Feitio de oração
Marilia Batista - Feitio de oração
Elizeth Cardoso - Feitio de Oração
Clara Nunes - Feitio de Oração
MARIA BETANIA - FEITIO DE ORAÇÃO
Marisa Monte - Feitio de Oração
Maria Rita - Feitio de Oração
Saudades da República
Compositor: Artúlio Reis
Luiz Ayrão
República,
república
Ai que saudades dos meus tempos de república (estribilho 2x)
Chegava de porre no quarto
Cantando chorinho e sambão
Acordava no meio da noite
Fazendo a maior confusão
A camisa que eu mais gostava
Enxugava o chão do corredor
E uma meia da mulher amada
Era lá na cozinha o melhor coador
Estribilho
Livro emprestado não vinha
E o que vinha não ia também
Tomava o dinheiro emprestado
Depois não pagava ninguém
Nota baixa tirava de letra
Na roda de samba e batida
E brigava sem ser carnaval
Se falasse mal da portela querida
Estribilho
Requeijão que mamãe me mandava
Sumia sem nêgo saber
A pelada era de madrugada
Com bola de não sei o quê
Esse tempo agora é passado
Foi um doce de felicidade
Pois agora a barriga burguesa
Atrás de uma mesa chora de saudade
Era
uma vez um homem que possuía belas casas na cidade e no campo, baixelas de ouro
e de prata, móveis requintados e carruagens douradas; mas por infelicidade esse
homem tinha a barba azul: detalhe que o fazia tão feio e tão terrível que não
havia mulher nem moça que não corresse ao vê-lo.
Uma
dama de alta linhagem, sua vizinha, era mãe de duas filhas absolutamente
bonitas. O homem pediu uma delas em casamento, deixando que a vontade materna
fizesse a escolha. Nenhuma das duas o aceitava, e uma passava a indicação para
a outra, pois nenhuma queria aceitar um homem de barba azul. Não lhes era
agradável tampouco a circunstância de ele já ter desposado várias mulheres sem
que ninguém soubesse que fim levaram.
Para
conhecer as moças, Barba-Azul levou-as, juntamente com a mãe e três ou quatro
amigas, e algumas jovens da vizinhança, a uma de suas casas de campo, onde passaram
nada menos que oito dias. E foi então só passeios, caçadas e pescarias, danças
e festins e comidinhas: ninguém dormia, passavam a noite pregando peças umas
nas outras; afinal, tudo transcorreu às mil maravilhas, e a mais nova das
meninas começou a achar que o dono da casa não tinha a barba tão azul assim, e
que era homem de muita dignidade. Assim que voltaram para a cidade, o casamento
foi realizado.
No
fim de um mês, Barba-Azul disse à mulher que tinha de fazer uma viagem de três
semanas, no mínimo, à província, a fim de resolver um negócio importante;
pedia-lhe que se divertisse à vontade durante a sua ausência - mandasse buscar
suas amigas, levasse-as para o campo, se quisesse, comesse do bom e do melhor.
-
Aqui estão as chaves dos guarda-móveis - disse ele -; aqui as da baixela de
ouro e de prata que só se usa nos dias especiais; aqui as dos meus
cofres-fortes onde estão meu ouro e minha prata, as do cofre das minhas jóias,
e aqui a chave de todas as dependências da casa. Esta chavezinha é a chave do
gabinete que fica no extremo da galeria do porão: pode abrir tudo, pode ir
aonde quiser; mas nesse pequeno gabinete, eu a proíbo de entrar, e a proíbo de
tal maneira que, se acontecer de você chegar a abri-lo, não há nada que você
não possa esperar da minha ira.
Ela
prometeu cumprir à risca tudo aquilo que lhe tinha sido ordenado: e ele, depois
de beijá-la, tomou sua carruagem e partiu.
As
vizinhas e as amigas sequer esperaram que as mandassem buscar para ir à
residência da jovem esposa, tão ansiosas estavam para ver todas as riquezas da
casa, pois não haviam ousado ir até lá quando o marido estava presente por
causa da sua barba azul que lhes causava medo. E ei-las sem maior perda de
tempo a percorrer os quartos, os gabinetes, os vestiários, cada um mais bonito
do que o outro. Subiram depois aos guarda-móveis, onde não se cansaram de
admirar a quantidade e a beleza das tapeçarias, dos leitos, dos sofás, dos
guarda-roupas, das mesas e dos espelhos, nos quais a gente se via da cabeça aos
pés, e cujos ornamentos, uns de vidro, outros de prata, ou de prata dourada,
eram os mais belos e magníficos que já se poderiam ter visto. Não se cansavam
de exagerar e invejar a felicidade da amiga, a quem, no entanto, não alegravam
todas essas riquezas, ansiosa que estava para abrir o gabinete do porão.
Sentiu-se
tão levada pela curiosidade que, sem pensar que seria uma indelicadeza deixar
as vizinhas sozinhas, desceu até o porão por uma escada estreita e oculta, e
com tamanha precipitação que por duas ou três vezes achou que ia quebrar o
pescoço. Ao chegar à porta do gabinete, deteve-se, lembrando se da proibição
que o marido lhe fizera e considerando que lhe poderia acontecer uma desgraça
por ter sido desobediente; mas a tentação era tão forte que ela não a conseguiu
vencer: segurou a pequena chave e, trêmula, abriu a porta do gabinete.
Nada
viu, a princípio, pois as janelas estavam fechadas; segundos depois começou a
perceber que o assoalho estava todo coberto de sangue coalhado, no qual se
espelhavam os corpos de várias mulheres mortas, corpos presos ao longo das
paredes. (Eram todas as mulheres que Barba-Azul desposara e que, uma a uma,
havia estrangulado.) Pensou que ia morrer de susto, e a chave do gabinete
caiu-lhe da mão assim que a retirara da fechadura. Depois de recobrar um pouco
o ânimo, apanhou a chave, fechou a porta e subiu para o quarto a fim de se
refazer; não o conseguia porém, tão grande lhe era o tumulto.
Ao
perceber que a chave do gabinete estava manchada de sangue, limpou-a duas ou
três vezes, mas o sangue teimava em não desaparecer; lavou-a, esfregou-a com
sabão e pedra-pome; em vão: o sangue permanecia, pois a chave era de fada e não
havia meio de limpá-la totalmente: quando se tirava o sangue de um lado, ele
voltava do outro.
Barba-Azul
retornou de viagem logo nessa mesma noite, e disse haver recebido, no caminho,
cartas com a notícia de que o negócio que o fizera partir acabara de se
realizar, com vantagens para ele. A mulher fez o que pôde para se mostrar
encantada com o inesperado retorno.
No
dia seguinte ele pediu-lhe as chaves, e ela as entregou; mas sua mão tremia
tanto que Barba-Azul adivinhou sem maiores esforços o que havia acontecido.
-
Por que é que a chave do gabinete não está junto com as outras? -
perguntou-lhe.
-
Devo tê-la deixado lá em cima, na minha mesa.
-
Quero a chave aqui e agora, já, já!
Depois
de muitas delongas, a mulher teve de entregá-la. Barba-Azul examinou-a e disse:
-
Por que este sangue na chave?
-
Não sei nada disso - respondeu a pobre criatura, mais pálida do que a morte.
-
Você não sabe de nada - continuou ele -, mas eu sei muito bem: você tentou
entrar no gabinete! Está certo, minha senhora, lá entrará e irá ter o seu lugar
ao lado das que lá encontrou...
Ela
se jogou aos pés do marido, chorando e pedindo-lhe perdão, com todos os sinais
de um arrependimento sincero por não haver sido obediente. Bela e desesperada
como estava, seria capaz de enternecer um rochedo; mas Barba Azul tinha o
coração mais duro do que um rochedo:
-
Tem de morrer, minha senhora, e logo. - Visto que tenho de morrer
-
respondeu ela, fitando-o com os olhos banhados de lágrimas -, dê-me um pouco de
tempo para rezar a Deus.
-
Dou-lhe meio quarto de hora - replicou Barba-Azul - e nem um momento a mais.
Quando ela se viu sozinha, chamou a irmã e disse-lhe:
-
Minha irmã Ana (era este o seu nome), eu te suplico, sobe ao alto da torre para
ver se meus irmãos não vêm; eles me prometeram que viriam me ver hoje e, se os
vir, faz-lhes sinal para que se apressem.
A
irmã Ana subiu para a torre, e a pobre aflita gritava-lhe de vez em quando:
-
Ana, minha irmã, não estás vendo ninguém? E a irmã Ana lhe respondia:
-
Não vejo nada a não ser o sol que brilha e a erva que verdeja.
Enquanto
isso, Barba-Azul, com um grande cutelo na mão, gritava para a esposa com toda a
força:
-
Desce depressa ou eu subirei aí. - Mais um momentinho, por favor -
respondia-lhe a mulher. E, em seguida, baixinho:
-
Ana, minha irmã Ana, não vês ninguém? E a irmã Ana respondia:
-
Não vejo nada a não ser o sol que brilha e a erva que verdeja.
-
Desce depressa - bradava Barba-Azul -, ou eu subirei aí.
-
Já vou - respondeu a mulher. E depois:
-
Ana, minha irmã Ana, não vês ninguém?
-
Só vejo - respondeu a irmã Ana - uma grossa poeira que vem da banda de lá.
-
São meus irmãos?
-
Infelizmente não, minha irmã; é um rebanho de carneiros.
-
Não vais descer? - bradava Barba-Azul.
-
Mais um momento - respondia a mulher. E depois:
-
Ana, minha irmã Ana, não vês ninguém?
-
Vejo - respondeu ela - dois cavaleiros que vêm do lado de cá, mas ainda estão
muito longe... Louvado seja Deus! - exclamou pouco depois. - São meus irmãos;
estou fazendo sinal para eles, tanto quanto me é possível, para que se
apressem.
Barba-Azul
pôs-se a gritar tão alto que a casa estremeceu. A pobre mulher desceu e
jogou-se-lhe aos pés, desgrenhada e em prantos.
-
Isto de nada adianta - disse Barba-Azul. - Você precisa morrer.
Em
seguida, segurou-a com uma das mãos pelos cabelos e ergueu, com a outra, o
cutelo no ar, a ponto de cortar-lhe a cabeça. A pobre mulher, voltando-se para
ele, rogou-lhe que lhe concedesse um breve momento para se recolher.
-
Não, não - disse ele -, encomenda bem tua alma a Deus.
E,
erguendo mais o braço... Naquele momento, bateram à porta com tanta força que
Barba-Azul parou subitamente. Abriram, e logo se viram entrar dois cavaleiros
que, sacando da espada, correram na direção de Barba-Azul.
Ele
percebeu que eram os irmãos da sua esposa, um deles, dragão e outro,
mosqueteiro, e fugiu sem maior demora, para se salvar; mas os dois irmãos o
perseguiram tão de perto que o alcançaram antes que ele pudesse atingir a
escada externa. Atravessaram-no a fio de espada e o deixaram morto. A pobre
dama estava tão morta quanto o marido, sem maiores forças para levantar-se e
beijar os irmãos.
Revelou-se
que Barba-Azul não tinha herdeiros, razão pela qual sua mulher tornou-se dona
de todos os seus bens. Empregou parte deles no casamento da irmã Ana com um
jovem fidalgo que a amava há muito; outra parte na compra do posto de capitão
para os dois irmãos; e o resto no casamento dela própria com um homem mui
distinto, que lhe fez esquecer o mau tempo que ela passara com Barba-Azul.
MORAL:
Tão plena de encantos a curiosidade!/ Mas custa dores, às vezes prantos... /
Cada instante disso se vêem exemplos claros. / É - perdoe, belo-sexo - um
deleite fugaz, / Mal o gozamos, se desfaz, / E custa sempre muito caro. OUTRA
MORAL: Mesmo alguém ingênuo e tonto, /Dos enigmas da vida sempre alheio, / Logo
percebe que este conto / É um conto do tempo passado. / Já não existe esposo
tão terrível/Nem que exija assim o impossível. .. / O mais ciumento e
insatisfeito / Trata sempre a mulher com tanto jeito / Que, tenha a sua barba
esta ou aquela cor, / É difícil dizer qual dos dois é o senhor. Tradução
de Alves Moreira
CHARLES PERRAULT (1628-1703 |
França)
Um volume publicado anonimamente,
Contes de Ma Mere l'Oie ("Histórias da Mamãe Gansa"), mas de autoria
de um sisudo advogado da arquiteto da época do Rei-Sol chamado Charles
Perrault, tem embalado a infância do mundo todo há pelo menos três séculos.
Quem não ouviu histórias como O Pequeno Polegar, A Gata Borralheira, O
Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas e outras tantas? Muitos especialistas em
literatura infantil já observaram a violência implícita nestas historietas
aparentemente ingênuas. Mas o que talvez nos surpreenda é descobrir num desses
contos, exatamente neste O Barba-Azul, um inegável pioneirismo numa vertente do
policial contemporâneo: a do serial-killer. (No século XX, este conto
"infantil" ainda dialogava com a literatura contemporânea: Anatole
France reviu o "caso criminal" deste estranho personagem em As Sete
Esposas do Barba-Azul. Na sua versão, "o herói" é reabilitado, por
ter sido vítima inocente de suas sete esposas.)
Noconto–título,uma revelaçãosurpreendente:Barba–Azulnãofoiomonstroassassinoquetodosimaginam, mas vítima inocente da perfídia feminina!
AS
SETE ESPOSAS DE BARBA–AZUL
(Segundo
Documentos Autênticos)
CAPÍTULO I
SOBRE O FAMOSO personagem vulgarmente conhecido como o
Barba–Azul têm– se emitido as mais diversas, estranhas e inverídicas
afirmações. Nenhuma talvez é menos defensável que a que faz desse fidalgo
uma personificação do sol. Nela tem insistido de uns quarenta anos para cá
certa escola de mitologia comparada. Ensina esta que as sete esposas do
Barba–Azul seriam auroras, e seus cunhados os dois crepúsculos, o matutino
e o vespertino, como os Discursos, que libertaram Helena, encantada por
Teseu.
Aos que possam ser tentados a aceitar essa versão cabe
lembrar que, em 1817, um douto bibliotecário de Agen, Jean–Baptiste Pérès,
demonstrou de maneira muito especiosa que Napoleão nunca existiu, e que a
história do pretenso grande capitão nada mais é que um mito solar. Em que
pesem as mais engenhosas traças de linguagem, é impossível duvidar que o
Barba–Azul, tanto quanto Napoleão, tenha de fato existido.
Uma teoria não melhor fundamentada consiste em
identificar o Barba–Azul com o Marechal de Rais, enforcado por ato de
justiça sobre uma ponte de Nantes em 26 de outubro de 1440. Sem indagar,
como Salomon Reinach, se o marechal real- mente cometeu todos os crimes
por que o condenaram, ou se suas riquezas, cobiçadas por um príncipe
ganancioso, não terão contribuído para a sua desgraça, nada em sua
história se assemelha ao que sabemos da do Barba–Azul; é o quanto basta
para não os confundirmos fazendo de um e outro uma única figura.
Charles Perrault, que, por volta de 1660, teve o mérito de
compor a primeira biografia desse gentil–homem merecidamente celebrado pelo
fato de se ter casado sete vezes, fez dele um monstro consumado e o mais
perfeito modelo de maldade que já houve na face da Terra. Contudo é
permissível suspeitar, se não a sua boa fé, pelo menos a fidelidade de
suas fontes.
É possível que ele estivesse prevenido contra o seu
personagem. Não seria o primeiro caso de um cronista ou de um poeta que se
apraz em denegrir as suas pinturas. Se de Tito temos um retrato que parece
lisongeiro, é patente que Tácito, ao contrário, carregou nas tintas ao
compor a imagem de Tibério. Macbeth, a quem a lenda e Shakespeare cumulam
de delitos, foi na verdade um rei justo e pru- dente. É falso que ele
tenha assassinado à traição o velho Duncan. O rei Duncan, moço ainda, foi
derrotado em uma grande batalha, e no dia seguinte achado morto num lugar
chamado Oficina do Armeiro. Ele sim, mandou dar cabo de vários par- entes
de Gruchno, esposa de Macbeth. Este fez prosperar a Escócia; fomentou
o comércio e foi considerado um defensor dos burgueses, um autêntico rei
das cidades. A nobreza dos clãs não lhe perdoou o ter vencido Duncan e
favorecido os artesãos: destruiu–o e infamou–lhe a memória.
Depois de morto, o bom rei Macbeth só se fez conhecido
através dos relatos de seus inimigos. O gênio impingiu–lhes as mentiras na
consciência do mundo. De há muito eu suspeitava ser o Barba–Azul vítima de
uma fatalidade similar. As circunstâncias de sua vida, tais como encontrei
narradas, longe ficaram de satisfazer–me o entendimento e de contentar a
obsessão de lógica e clareza que inces- santemente me consome.
Refletindo nelas, deparei objeções intransponíveis. Havia
exagerado empenho em convencer–me da crueldade do homem para que eu não a
pusesse em dúvida.
Tais premonições não me enganavam. Minha intuição, advinda de
uma certa experiência da natureza humana, logo viria tornar-se em certeza,
alicerçada em provas inconcussas.
Em casa de um canteiro de Saint–Jean–des–Bois descobri
diversos documentos respeitantes ao Barba–Azul; entre outros, seu livro
razão e uma denúncia anônima contra os seus assassinos, à qual, por
motivos que ignoro, nunca foi dado anda- mento.
Esses documentos confirmaram–me na idéia de que ele foi bom e
infeliz, e que sua memória sucumbiu sob calúnias indignas. Desde então,
propus–me como um dever escrever a sua história verdadeira, sem nutrir
maiores ilusões quanto ao sucesso da empresa. Esta tentativa de reabilitação
está fadada, eu sei, ao silêncio e esquecimento. Que pode a verdade fria e
nua contra as pompas esplendentes da mentira?
CAPÍTULO II
PELOS IDOS DE 1650 residia em suas terras, entre Compiègne e
Pierrefonds, um rico gentil–homem chamado Bernard de Montragoux. Seus
ancestrais haviam ocupado os mais altos cargos do reino; ele porém vivia
afastado da Corte, no tranquilo anonimato que velava então tudo que não
recebesse as atenções do rei. Seu castelo de Guillettes abundava em mobílias
preciosas, em baixelas de ouro e prata, em tapeçarias e bordados, que ele
mantinha encerrados nos porões. Não que escondesse os seus tesouros no temor de
estragá–los pelo uso; ao contrário, era pródigo e munificente. Mas naquele
tempo era comum que os fidalgos levassem na província uma existência
sobremodo simples, compartindo a mesa com a famu- lagem e dançando nos
domingos com as raparigas da aldeia. Entretanto, em certas datas,
promoviam esplêndidas festanças, que contrastavam com a mediocridade do
seu dia–a–dia. Assim, cumpria que tivessem de reserva belas alfaias e contenças
em grande quantidade. Era o que fazia o Sr. de Montragoux.
Seu castelo, datando dos tempos góticos, tinha deles a rudez.
Por fora mostrava– se um tanto lôbrego e soturno, com suas grossas torres,
tronchadas quando das comoções que agitaram o reino ao tempo do finado Rei
Luís. O interior oferecia aspectos mais amenos. Os quartos eram decorados
à italiana, e a vasta galeria do andar térreo era repleta de ornatos em
relevo, douraduras e pinturas.
A um extremo dessa galeria havia um pequeno cômodo a que
comumente se chamava a camarinha. É o único nome por que o designa Charles
Perrault. Não será supérfluo acrescentar que era também conhecido como o
quarto das princesas desditosas. Isto porque um artista florentino pintara nas
paredes as trágicas histórias de Dirce, filha do Sol, atada pelos fios de
Antíope aos chifres de um touro, de Níobe chorando sobre o Monte Sípilo os
filhos varados por flechas divinas, e de Prócris recebendo no seio o dardo de
Céfalo. As figuras eram como se fossem vivas, e as lajes de pórfiro que
pavimentavam a peça pareciam tintas do sangue daquelas infelizes. Uma das
portas do aposento dava para o fosso, onde não havia água.
As cavalariças ocupavam uma vasta construção, situada a certa
distância do castelo. Incluíam baias para sessenta cavalos e cocheiras para uma
dúzia de carruagens douradas. Mas o que fazia do castelo de Guillettes uma
morada encantadora eram os bosques e canais que se estendiam nos seus
arredores, e onde se podiam cultivar os prazeres da caça e da pesca.
Muitos moradores do lugar não conheciam o Sr. de Montragoux
senão pela alcunha, Barba–Azul, único nome que lhe dava o povo. Sua barba era
de fato azul, mas não o era senão devido à circunstância de ser negra; era
à força de ser negra que era azul. Não se imagine o Sr. de Montragoux sob
o aspecto monstruoso do tríplice Tifão que se vê em Atenas, a esconder o
riso em sua tripla barba de anil. Estaremos bem mais vizinhos da realidade
se compararmos o senhor de Guillettes a esses atores ou esses padres cujas
faces escanhoadas de fresco apresentam reflexos azulados.
O Sr. de Montragoux não usava a barba em ponta como seu avô
na corte de Henrique II; nem a tinha em leque como o bisavô morto em combate,
em Marignan. Como Turenne, cultivava apenas um bigodinho e uma mosca; suas
faces é que pareciam azuis; mas, não importa o que se tenha dito, esse detalhe
não desfigurava o bom fidalgo, e nada tinha de amedrontador. Apenas o tornava
mais viril, e, se é que lhe emprestava um ar algo feroz, não o prejudicava
aos olhos das mulheres. Bernard de Montragoux era um homem bonito, alto,
espadaúdo, de compleição robusta e presença agradável, posto que rústico e mais
recendendo a mato que a alcovas e salões. Por outro lado, é certo que não
agradava às damas tanto quanto deveria, sendo como era, além de
bem–parecido, rico.
A razão disso era a sua timidez; a timidez e não a barba. As
mulheres exerciam sobre ele uma atração irresistível e inspiravam–lhe um
terror insuperável. Ele as temia tanto quanto as amava. Esta a raiz e
causa inicial de todas as suas desventuras. Encontrando uma mulher pela
primeira vez, preferiria morrer a dirigir–lhe a palavra, e, por muito que
a apetecesse, mantinha–se diante dela em silêncio revirava de modo
apavorante. Essa timidez o expunha a toda sorte de aflições. O pior é que
o impedia de ligar–se em comércio honesto com mulheres recatadas
e modestas, e o punha a mercê dos avanços das mais desenvoltas e
atrevidas.
Foi esta a desgraça da sua vida.
Órfão desde a mais tenra idade, depois de enjeitar por causa
dessa espécie de vergonha e de pavor, que não era capaz de dominar, os partidos
vantajosos e grandemente honrosos que se lhe deparavam, desposou uma certa
senhorita Colette Passage, estabelecida de pouco no lugar depois de haver ganho
algum dinheiro fazendo dançar um urso em cidades e aldeias do reino.
Apaixonou–se por ela com todas as suas forças e com todas as veras de sua
alma. Justiça seja feita, ela não era destituída de encantos, viçosa como
era, os peitos opulentos, a tez ainda fresca, posto que crestada pelo ar livre.
A princípio ela sentiu–se surpresa e satisfeita de ver–se transformada em
dama de alto bordo; seu coração, que não era mau, deixava–se tocar pelos
desvelos de um marido de tão elevada senhoria e de tão vigorosa
compleição, que se mostrava com ela o mais dócil dos criados e o
mais enamorado dos amantes.
Mas, ao cabo de alguns meses, sentiu falta de suas antigas
andanças. Cercada de riquezas, cumulada de amor e de cuidados, não
encontrava outro prazer que o de ir
visitar o companheiro de sua vida ambulatória no porão onde ele
languescia, uma corrente ao pescoço e uma argola no focinho, e beijá–lo na
testa chorando. O Sr. de Montragoux, vendo–a tristonha, tornava–se
igualmente macambúzio, e sua tristeza só fazia aumentar a da parceira. Os
carinhos e atenções de que ele a cumulava mortificavam a coitada.
Certa manhã, ao despertar, o Sr. de Montragoux não encontrou Colette ao
seu lado. Em vão procurou–a por todo o castelo. A porta do quarto das
princesas desditosas estava aberta. Fora por ali que ela passara para
ganhar os campos com seu urso. A dor do Barba–Azul foi de cortar o
coração. Malgrado os incontáveis emissários enviados à sua busca, nunca
mais se soube de Colette Passage.
O Sr. de Montragoux ainda lhe chorava a perda quando, numa festa da
aldeia, lhe aconteceu dançar com Jeanne de Ia Cloche, filha do tenente
criminal de Com- piègne, por quem se encantou. Pediu–lhe a mão e a obteve
incontinenti. Ela gostava de vinho e bebia em demasia. Esse gosto aumentou a um
ponto tal que ao fim de poucos meses ela ganhara toda a aparência de um
odre. E o pior era que o odre, enfurecido, andava todo o tempo a tropeçar
pelos salões e escadarias, a gritar, a praguejar, a soluçar e a vomitar
vinho e impropérios sobre tudo que encontrava. O Sr. de Montragoux
quedava–se transido de horror e desgosto. Mas em seguida reunia a sua
coragem e se esforçava, com não menos firmeza que paciência, por curar a esposa
daquele vício repulsivo. Rogos, súplicas, exortações, ameaças, todos os
meios possíveis experimentou. Tudo em vão. Recusava–lhe o vinho da adega;
ela o obtinha alhures e se embebedava ainda mais abominavelmente.
Para tirar–lhe o gosto da bebida, ele deitou–lhe erva–dos–gatos nas
garrafas.
Ela achou que ele a queria envenenar, saltou sobre ele e cravou–lhe três
polegadas de uma faca de cozinha no abdome. Ele escapou por pouco de
morrer, mas nem isso o arredou da sua brandura costumeira. "Ela mais
merece pena que censura", dizia.
Um dia em que alguém esquecera aberta a porta do quarto das princesas
desdi- tosas, Jeanne de Ia Cloche, desarvorada como sempre, entrou nele,
e, vendo as figuras pintadas nas paredes em atitudes sofredoras e em vias de
render a alma, tomou–as por mulheres de verdade e fugiu espavorida pelos
campos a esgoelar: "Assassinos!"
Ouvindo o Barba–Azul que a chamava e corria em seu encalço, atirou–se,
louca de terror, numa lagoa, e afogou–se. Coisa difícil de crer e no
entanto verdadeira, o esposo afligiu–se com sua morte, tão compassiva era sua
alma.
Seis
semanas depois desse acidente, casou discretamente com Gigonne, filha
de um seu rendeiro, Traignel. Ela andava de tamancos e trescalava a
cebola. Era uma moça bonita, tirante o fato de que tinha um olho vesgo e
mancava de uma perna. Tão pronto se viu casada, a guardadora de gansos,
mordida por uma insana ambição, só sonhava com novas grandezas e novos
esplendores.
Nunca achava os seus vestidos de brocado suficientemente
ricos, seus colares de pérolas suficientemente belos, seus rubis
suficientemente grandes, suas carruagens suficientemente douradas, suas terras,
seus bosques e seus lagos suficientemente vastos.
Barba–Azul, que nunca tivera ambições, sofria com as vistas
altas da esposa. Não sabendo, em sua ingenuidade, se o errado era pensar
grandiosamente como ela ou comedidamente como ele, recriminava–se quase
por uma mediania de temperamento que contrariava as altívolas aspirações da
mulher; e, cheio de incerteza, ora a exortava a desfrutar com parcimônia
os bens deste mundo, ora se aguçava em perseguir a fortuna beirando
precipícios. Ele era circunspecto, mas o amor conjugal prevalecia sobre a
circunspeção. Gigonne só pensava em se mostrar nas altas rodas, em
fazer–se receber na Corte e em ser amante do rei. Não logrando seus
intentos, foi–se definhando de despeito e contraiu uma icterícia de
que acabou por morrer. Barba–Azul, inconsolável, erigiu–lhe um esplêndido
jazigo.
Desalentado por tão pertinaz fatalidade, ter–se–ia
talvez o nosso bom fidalgo abstido de escolher mais outra esposa; mas foi
escolhido para esposo por certa senhorita Blanche de Gibeaumex, filha de um
oficial de cavalaria que só tinha uma orelha e dizia ter perdido a outra a
serviço do rei. Tinha ela um espírito arguto, de que se serviu para
enganar o marido. Enganou–o com todos os fidalgos da redondeza.
Punha nisso tanta esperteza que o enganava em seu próprio castelo
e quase nas suas ventas sem que ele o percebesse. O pobre Barba–Azul
farejava alguma coisa, mas não sabia o quê. Para infelicidade dela,
empregando toda a sua lábia para enganar o marido, ela não se dava igual
cautela em enganar os amantes, isto é, em ocultar–lhes que os enganava uns
com os outros. Um dia foi surpreendida, no quarto das princesas desditosas
com um gentil–homem a quem concedia os seus favores, por um gentil–homem a
quem os concedera antes, e que, num rompante de ciúme, a trespassou com
sua espada. Algumas horas mais tarde a mal– aventurada dama foi encontrada
morta por um serviçal da casa, e o horror que aquela câmara inspirava
cresceu.
Inteirado de um só golpe da sua abundante desonra e do
trágico fim da mulher, não se consolou o pobre Barba–Azul deste segundo
infortúnio em atenção ao primeiro. Amava Blanche de Gibeaumex com singular
ardor e ainda mais estremecidamente do que amara Jeanne de Ia Cloche,
Gigonne Traignel ou mesmo Colette Passage. À notícia de que ela o tinha
traído com constância e de que nunca mais voltaria a traí–lo, experimentou
uma dor e um desespero que, longe de se aplacarem, dia a dia redobravam de
intensão. O sofrimento tornou–se intolerável, e ele adoeceu de uma doença
que fez temer por seus dias.
Os médicos, tendo tentado inutilmente diversos tratamentos,
declararam–lhe que o único remédio apropriado ao seu mal era tomar uma
jovem esposa. Então ele pensou em sua priminha Angèle de La Garandine, que
estava certo ser–lhe–ia concedida de bom grado, visto não ter fortuna. O
que o encorajava a tomá–la por mulher era ser ela tida por simples e
desprovida de instrução. Tendo sido enganado por uma mulher inteligente, uma
imbecil dava–lhe segurança. Assim desposou a menina de La Garandine, e logo se
deu conta da falácia de suas previsões. Angèle era doce, Angèle era boa, Angèle
o amava; por si mesma não se inclinava ao mal; mas qualquer um, por menos
pícaro que fosse, a ele a induzia facilmente a qualquer hora. Bastava que
lhe dissessem: "Faz isso ou o bicho– papão te pega; entra aqui ou o
lobisomem te come"; ou então: "Fecha os olhos e toma este
remedinho"; e de pronto a inocente fazia a vontade dos maganos
que queriam dela o que era muito natural quererem, pois ela era apetitosa.
O Sr. de Montragoux, enganado e ultrajado pela idiota tanto
ou mais do que o fora por Blanche de Gibeaumex, tinha ainda por cima a má
sorte de sabê–lo, pois Angèle era suficientemente ingênua para nada lhe
esconder. Dizia–lhe: "Meu senhor, disseram–me isto; fizeram–me isto;
pegaram–me isto; eu vi aquilo; ouvi aquiloutro."
E, com a sua ingenuidade, infligia ao pobre fidalgo tormentos
indescritíveis.
Ele os sofria com equanimidade. Entretanto acontecia–lhe às
vezes dizer à débil mental: "És uma perua!" e pespegar–lhe uns
tabefes. Esses tabefes começaram a valer–lhe uma reputação de crueldade
que não mais se extinguiria. Um frade mendicante, passando por Guillettes
enquanto o Sr. de Montragoux caçava galinholas, encontrou Madame Angèle a coser
um vestido de boneca. Percebendo que ela era tão simplória quanto bela,
carregou–a consigo em seu jumento, fazendo– lhe crer que o anjo Gabriel a
esperava num esconso do bosque para regalar–lhe ligas de pérolas.
Acredita–se que tenha sido devorada pelos lobos, pois nunca mais foi
vista.
Depois de tão funesta experiência, como pôde o Barba–Azul
resolver–se a contrair novo consórcio? Impossível compreendê–lo, não se
soubesse o poder que exerce um belo par de olhos sobre um coração
bem–conformado. Num castelo vizinho que costumava freqüentar, o honrado
gentil–homem conheceu uma jovem órfã de estremecidamente do que amara
Jeanne de la Cloche, Gigonne Traignel ou mesmo Colette Passage. À notícia
de que ela o tinha traído com constância e de que nunca mais voltaria a
traí–lo, experimentou uma dor e um desespero que, longe de se aplacarem,
dia a dia redobravam de intensão. O sofrimento tornou–se intolerável, e
ele adoeceu de uma doença que fez temer por seus dias.
Os médicos, tendo tentado inutilmente diversos tratamentos,
declararam–lhe que o único remédio apropriado ao seu mal era tomar uma
jovem esposa. Então ele pensou em sua priminha Angèle de La Garandine, que
estava certo ser–lhe–ia concedida de bom grado, visto não ter fortuna. O
que o encorajava a tomá–la por mulher era ser ela tida por simples e
desprovida de instrução. Tendo sido enganado por uma mulher inteligente, uma
imbecil dava–lhe segurança. Assim desposou a menina de La Garandine, e logo se
deu conta da falácia de suas previsões. Angèle era doce, Angèle era boa, Angèle
o amava; por si mesma não se inclinava ao mal; mas qualquer um, por menos
pícaro que fosse, a ele a induzia facilmente a qualquer hora. Bastava que
lhe dissessem: "Faz isso ou o bicho– papão te pega; entra aqui ou o
lobisomem te come"; ou então: "Fecha os olhos e toma este
remedinho"; e de pronto a inocente fazia a vontade dos maganos
que queriam dela o que era muito natural quererem, pois ela era apetitosa.
O Sr. de Montragoux, enganado e ultrajado pela idiota tanto
ou mais do que o fora por Blanche de Gibeaumex, tinha ainda por cima a má
sorte de sabê–lo, pois Angèle era suficientemente ingênua para nada lhe
esconder. Dizia–lhe: "Meu senhor, disseram–me isto; fizeram–me isto;
pegaram–me isto; eu vi aquilo; ouvi aquiloutro."
E, com a sua ingenuidade, infligia ao pobre fidalgo tormentos
indescritíveis.
Ele os sofria com equanimidade. Entretanto acontecia–lhe às
vezes dizer à débil mental: "És uma perua!" e pespegar–lhe uns
tabefes. Esses tabefes começaram a valer–lhe uma reputação de crueldade
que não mais se extinguiria. Um frade mendicante, passando por Guillettes
enquanto o Sr. de Montragoux caçava galinholas, encontrou Madame Angèle a coser
um vestido de boneca. Percebendo que ela era tão simplória quanto bela,
carregou–a consigo em seu jumento, fazendo– lhe crer que o anjo Gabriel a
esperava num esconso do bosque para regalar–lhe ligas de pérolas.
Acredita–se que tenha sido devorada pelos lobos, pois nunca mais foi
vista.
Depois de tão funesta experiência, como pôde o Barba–Azul
resolver–se a contrair novo consórcio? Impossível compreendê–lo, não se
soubesse o poder que exerce um belo par de olhos sobre um coração
bem–conformado. Num castelo vizinho que costumava freqüentar, o honrado
gentil–homem conheceu uma jovem órfã de nobre nascimento chamada Alix de
Pontalcin, que, despojada de todos os seus bens por um tutor desonesto, só
pensava em recolher–se a um convento. Amigos prestadios intervieram para
convencê–la a mudar essa resolução e aceitar a mão do Sr. de Montragoux.
Ela era maravilhosamente bela. Barba–Azul, que antecipara fruir em seus
braços uma ventura infinita, teve uma vez mais frustradas as
suas esperanças, desta vez sofrendo um desencanto que, em virtude da sua natureza, ser–lhe–ia
ainda mais sensível que todas as contrariedades que amargara em
seus conúbios precedentes. Alix de Pontalcin recusou–se obstinadamente a
tornar real- idade aquela conjunção, a que no entanto anuíra.
Embalde o Sr. de Montragoux a instava a tornar–se sua esposa;
ela resistia às súplicas, às lágrimas, às objurgações, furtava–se às mais
tímidas carícias do marido, e corria a trancar–se no quarto das princesas
desditosas, onde se mantinha só e inacessível por noites a fio. Nunca se
soube a razão de uma resistência tão contrária às leis humanas e divinas.
Houve quem a atribuísse ao fato de o Sr. de Montragoux ter a
barba azul, mas o que há pouco dissemos a respeito da sua barba torna tal
suposição pouco plausível. Assim como assim, é um assunto sobre o qual é
difícil logicar. O pobre esposo suportava os mais atrozes sofrimentos. Para
esquecê–los, caçava com fúria, estropiando cavalos, cães e batedores. Mas, de
volta ao seu castelo, estrompado, extenuado, bastava a visão da menina
Pontalcin para renovar–lhe ao mesmo tempo as forças e os tormentos. Por
fim, não mais se agüentando, solicitou a Roma a anulação daquele casamento
que não passara de uma farsa, e a obteve segundo a lei canônica e mercê de um
bom presente ao Santo Padre. Se de Montragoux despachou a Srta. Pontalcin com
as marcas do respeito devido a uma mulher e sem quebrar-lhe uma bengala nos
lombos, é que tinha ânimo forte, um grande coração, e era senhor de si
mesmo como o era do castelo de Guillettes. Mas jurou que jamais outra mulher
poria os pés nos seus domínios.
Melhor teria feito mantendo–se fiel a essa jura!
Prefácio
Quando um artista ou pensador cria uma obra de impacto, não é
de se esperar que as reações fiquem no meio–termo. Anatole France
(1844–1924), céptico e ironista, foi um demolidor de convenções e
preconceitos, ainda que a ironia nele seja sempre amável e o ceticismo tocado
de ternura. É natural portanto que, desde quando alcançou notoriedade,
tenha sido simultaneamente exaltado como mestre incom- parável e execrado
como um ofensor da fé e pregoeiro da depravação. Mesmo hoje, quando a
distância no tempo e o afrouxamento de tabus propicia julga- mentos mais
serenos, seus conceitos são de molde a suscitar opiniões as
mais desencontradas.
Entretanto, clareza, sutileza, harmonia, um apuro formal
raras vezes igualado, são virtudes da sua pena que ninguém nunca pôde
contestar. Ernest Saillière provavelmente tem razão quando observa que o Prêmio
Nobel de Literatura (1921) "sem dúvida nenhuma foi conferido ao artista
mais que ao pensador".
O
fato é que tanto pela arte como pela reflexão o autor de Tais, de O Lírio
Ver- melho, da História Contemporânea, de A Ilha dos Pinguins e de A
Revolta dos Anjos, o criador de personagens como Bergeret e o Abade
Coignard, marcou uma época e conquistou um lugar permanente nas letras do
mundo. Já em 1913 o crítico Victor Giraud, escrevendo Revue dês Deux Mondes, classificava Anatole como "o escritor
francês que, desde Renan, mais influência exerceu, não somente na França
como no estrangeiro, sobre o maior número de espíritos". Passados quase sessenta anos de sua
morte, ele nada perdeu em atualidade. Quando muito, se hoje fosse vivo,
o "pessimista alegre", como ele mesmo se descreveu, seria mais
pessimista e menos alegre.
Sem
arrolar-se entre as suas obras magnas, As Sete Esposas de Barba–Azul,
uma coleção de contos, é uma excelente amostra da personalidade
literária multifacetada de Anatole France. São versões burlescas – alteradas,
retocadas ou ampliadas – de fábulas universalmente conhecidas, além de outros
contos mais
curtos. Escritas em idade já provecta (1909), talvez não sejam muito mais que um "divertissement", mas
há nelas laivos de tristeza (reflexo, há quem diga, de
amarguras da vida pessoal do autor), não faltando inclusive o ceticismo
aplicado ao próprio ceticismo (veja–se o terceiro conto, um acréscimo apócrifo
à história da Bela
Adormecida, História da Duquesa De Cicogne e do Sr. De Boulingrin). No
conto-título, uma revelação surpreendente: Barba Azul não foi o monstro
assassino que todos imaginam, mas vítima inocente da perfídia feminina!
O
Milagre de São Nicolau demonstra, entre outras coisas, as más consequências de
uma educação demasiado tolerante. A camisa de um homem feliz para curar-se. O
motivo é aproveitado para alongadas reflexões sobre a (in) felicidade humana.
Além
desses, fazem parte dessa antologia os seguintes contos: Putois, O Procurador
da Judeia, O Ovo Vermelho, O Milagre da Pega, O Cristo do Mar, Baltazar, O
Jogral de Nossa Senhora e o famoso conto gótico A Missa das Sombras.
João Guilherme Linke Câmera de segurança flagra a ação
de um pedófilo atacando menina de 11 anos A
menina foi atacada em frente da sua casa quando voltava da escola ao ser
abordada pelo o suspeito Hora
Da Notícia Especialista
em Brasil Revisado
por Edimarcio Augusto Monteiro Publicado: 22
junho 2017
Garota de 11 anos é atacada na
frente de casa (Foto: Captura de vídeo) Algemado
e de cabeça baixa, Fernando Rodrigues, de 25 anos, tenta se explicar em uma
delegacia. O crime aconteceu no começo desta semana em Interlagos, bairro de
São Paulo. Ele foi preso em flagrante por #abusar sexualmente de
uma menina de apenas 11 anos. As imagens mostram um ataque chocante, registro
de uma ação de um pedófilo, que agiu em plena a luz do dia em frente à casa da
vítima, uma #garota indefesa. "Eu
não tenho nem palavras para falar, eu só queria estar no lugar da minha
filha". O relato é da mãe da vítima que não quer se identificar. As
imagens mostram um carro preto se aproximando da casa, o motorista estaciona e
desce do veiculo. O
homem está bem vestido, olha em volta, e finge procurar algum problema na roda do
carro. Tudo
faz parte de um plano que o acusado já tinha planejado.
"Acreditamos que ele conhecia a rotina, ele já vinha observando a minha
filha, e como ela vinha junto de uma colega ele esperou o momento certo para
atacar. Infelizmente, ele conseguiu pegar ela sozinha", conta a mãe da
estudante. Como
tudo aconteceu As
imagens mostram a garota de 11 anos caminhando pela a rua em direção a sua
casa. Ela estava voltando da escola. O homem se aproxima e faz uma pergunta,
ela se afasta, mas o suspeito insiste e se mantém próximo. Ele aguardava o
momento de descuido da menor para agir. Veja no vídeo abaixo:
"Ele
chegou e perguntou se ela conhecia uma Sabrina, ela apenas acenou com a cabeça.
Aí ele perguntou se ela conhecia a Camila, então ela disse que não",
relata a mãe da adolescente. Quando
a menina abre o portão na intenção de se afastar do homem, é surpreendida. O
suspeito a segura e empurra para dentro da casa, ele fecha a porta e começam os
abusos. O
abuso aconteceu em um pequeno espaço entre o portão e a porta que dá acesso a
casa da garota. Fernando, a todo momento perguntava para a vítima, se havia alguém
em casa ou se alguém iria chegar. Ela
muito nervosa dizia que apenas a mãe dela deveria chegar a qualquer momento, na
tentativa de fazer com que o estuprador fosse embora. Apesar de muito nervosa,
ela tentava pedir para que ele parasse com os abusos. O acusado não atendia aos
pedido e a todo momento olhava pelo o portão para ver se alguém se aproximava. A
fuga também é registrada. Logo que sai, o suspeito entra no carro, e a vítima
aparece apavorada. Mesmo atordoada, ela tenta pedir ajuda, mas o criminoso a
chama para mais uma ameaça e exige que ela não chame ajuda. Em seguida, dá a
partida no carro e foge. A
ação de Fernando foi bastante rápida e não durou mais que cinco minutos. Mas o
que ele não contava era que tudo que fazia, a chegada, a abordagem a vítima e a
fuga, era registrado por câmeras de seguranças da casa onde a menor mora. Foram
essas imagens que ajudaram a família e a polícia a encontrar o acusado. Fernando
Rodrigues, de 25 anos, foi preso em flagrante em seu local de trabalho, onde
ele fazia de conta que nada tinha acontecido. #Pedofilo