Zé Marmita, nas interpretações de
duas ex-operárias de origem bem humilde, como poder-se-á conferir em suas
biografias nos links do post a
seguir.
Essas intérpretes são: Marlene e
Elza Soares.
Nenhuma jamais rechaçou sua origem
modesta e venceram por seus talentos e autenticidade.
Grandes mulheres brasileiras que
nos dão orgulho por estarem à altura das mulheres que mais amamos na vida.
Marlene
| Zé Marmita (HD)
Zé Marmita
Marlene
Quatro
horas da manhã
Sai
de casa o Zé Marmita
Pendurado
na porta do trem
Zé
Marmita vai e vem
Numa
lata, Zé Marmita
Traz
a bóia
Que
ainda sobrou do jantar
Meio-dia
Zé Marmita
Faz
o fogo para comida esquentar
E
o Zé Marmita
Barriga
cheia
Esquece
a vida
Numa
bate-bola de meia
Publicado
em 24 de mai de 2012
Marlene,
"a que canta e samba diferente", em uma de suas mais lembradas
gravações: "Zé Marmita".
O samba, lançado em janeiro de 1953 e sucesso do carnaval daquele ano, tem autoria de Brazinha e Luiz Antonio. Gravado pela Continental, com acompanhamento de Zimbres e Sua Orquestra.
A foto e a cena de Marlene com Luis Delfino ao piano integram o número musical em que é cantada "Lata D'água", do filme "Tudo Azul", de 1952.
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Música
"Zé
Marmita" por Marlene ( • )
Marlene
Vitória
Bonaiutti De Martino
22/11/1922 São Paulo, SP
13/6/2014
Rio de Janeiro, RJ
http://dicionariompb.com.br/marlene/dados-artisticos
Brasinha
Gustavo
Thomás Filho
10/12/1925
Rio de Janeiro, RJ
16/4/1998 Rio de Janeiro, RJ
16/4/1998 Rio de Janeiro, RJ
http://dicionariompb.com.br/brasinha
Luís Antônio
Antônio
de Pádua Vieira da Costa
16/4/1921 Rio de Janeiro, RJ
1/12/1996 Rio de Janeiro, RJ
http://dicionariompb.com.br/luis-antonio/dados-artisticos
Inveja da marmita
É
de cobiça, em par com um fio de baba no precipício da gengiva
Normalmente
(e com justiça) associada à rotina do trabalhador que acorda às quatro da manhã
com o canto do galo e leva, cozinhada de véspera, sua panelinha para a fábrica
à espera do apito da hora do almoço; ou ao duro batente dos peões na construção
civil — a marmita é uma instituição que vem, através do tempo e do vaivém das
crises cíclicas, se democratizando e atingindo não só assalariados e
profissionais liberais de classe média, mas mesmo empresários modernos e
autônomos em geral, sobretudo os que se preocupam com a qualidade de sua dieta.
Não
só isso: o objeto, que tradicionalmente podia ser um pote ou uma embalagem metálica,
às vezes improvisada (e que passou a incluir o plástico, bem menos charmoso,
com o advento do tupperware), chegou ao topo da pirâmide e se gourmetizou, como
está na moda dizer. Se nos bazares e nos sites de venda o preço da marmita
tradicional varia de R$ 7 (a quadradinha) a R$ 15 (a redonda, clássica, com as
travas laterais), em certos shoppings da Zona Sul marmitas com design assinado
podem ser vendidas a até R$ 300. A proliferação do micro-ondas em empresas
permite que os mais afortunados esquentem o rango em três minutos, quando,
antigamente, era preciso haver um forno ou se contar com a boa vontade do
cozinheiro da chefia para não ter que encarar boia fria.
A
marmita de verdade, no entanto, é aquela fugaz, que se vê no meio da rua,
consumida, com afoiteza, no meio-fio, às onze horas da manhã, e que inspiram,
no passante, uma inveja inconfessável que não se deve confundir com a inveja do
vizinho: aquele ser que tem hora para esvaziar sua latinha é visto pelos
andarilhos como um tipo de príncipe. Seu rancho é único, não se encontra em
nenhum restaurante ou lanchonete das redondezas, nem a milhares de quilômetros.
Não tem preço. Foi preparado pela mãe, pelo pai, pela mulher, ou por ele mesmo,
ao soar de um rádio de pilhas ou da televisão. Tem um tempero “de casa”. Aquele
bife em pedaços foi frito em insofismável refogado de manteiga com cebolas e
misturado ao feijão e ao arroz com um carinho que chef nenhum dispensará na
cozinha do Olympe ou do Fasano. Seu cheiro é o da fumaça clássica de desenho animado
que faz os famintos flutuarem na direção de emanações celestes.
Aquele
ensopadinho, não duvidem, esteve num panelão, curtido por duas noites, noites
de avó aflita. Aquele macarrão com salsicha tem a alma insaciada de fomes
ancestrais. Um gosto “de outro tempo”, como dizem os imigrantes. Portanto, não
se enganem quando virem alguém, seja um pobre coitado, seja um triste burguês,
passar por esse trabalhador e ouvi-lo oferecer “servido”?, e o passante disser,
com uma lágrima pendente: “Bom apetite.” Essa lágrima não é de comoção. Não,
não é. É de cobiça, em par com um fio de baba no precipício da gengiva. Seu
desejo verdadeiro e profundo é o de avançar sobre o operário, arrancar-lhe a
marmita ainda cheia e sair correndo às gargalhadas como um simples ladrão de
folhetim.
Pois
a comida de marmita é, sempre, a mais gostosa, a mais ajeitadinha, a mais
sincera. Com a bênção de mãos cuidadosas e apaixonadas, ela passou por uma
viagem de trem e duas de ônibus, mas ficou ali dentro, protegida, ganhando em
profundidade de sabor, impregnando-se do tempero, ansiosa, por assim dizer,
para ser redescoberta e ter suas propriedades usufruídas com o deleite daquele
que merece o néctar metafísico da refeição honrada, embora circunstancialmente
frugal. A inveja da marmita, portanto, não é só a de seu conteúdo químico, de
seus sabores, consistências e aromas, mas do amor de que aquele ser chibatado
de labuta partilha com alguém, e que faz daquela porção uma receita de fórmula
mágica e poderes intangíveis.
Nas
empresas mais modernas e cujos assalariados trabalham em condições melhores, a
inveja da quentinha é mais uma inveja “entre iguais”, apesar das diferenças de
renda mensal. Os preços altos das cantinas e refeitórios, ainda mais em tempos
de crise, aumentam a incidência de marmitas com as mais variadas receitas, às
vezes preparadas e congeladas com planejada antecedência, para todo o mês.
“Hmmm, camarão com chuchu, hem”?, dirá o gerente de RH à moça do caixa da
contabilidade. No ambiente mais fechado dessas empresas, a fórmula do
“servido?”, oferta retórica, que ficaria feio aceitar na rua, não existe. O
risco de a moça magra ver uma porção do seu camarão com chuchu tungada por um
sujeito barrigudo sem noção é considerável. Daí muita gente escolher os
momentos em que não há fila no micro-ondas, mudar os horários das refeições,
usar todo o tipo de disfarces e subterfúgios.
Por
exemplo, vigiar o micro-ondas de longe, como se não fosse seu, retirar a
marmita furtivamente na hora do apito e embrenhar-se por atalhos nas escadas e corredores.
Ou fugir à rua e juntar-se aos marmiteiros tradicionais para comer na paz à
qual todo cidadão que paga suas contas e trabalha honestamente tem sagrado
direito.
Arnaldo
Bloch
http://oglobo.globo.com/cultura/inveja-da-marmita-20543982
Pot
pourri 3 - Elza Soares
Publicado
em 7 de jan de 2015
Bonde
De São Januário / Zé Marmita / O Trem Atrasou / Sapato de Pobre
(Ataulpho Alves e Wilson Batista / Brasinha e Luiz Antônio / Arthur Villarinho, Estanislau Silva e Paquito / Jota Júnior e Luiz Antônio)
(Ataulpho Alves e Wilson Batista / Brasinha e Luiz Antônio / Arthur Villarinho, Estanislau Silva e Paquito / Jota Júnior e Luiz Antônio)
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ELZA
MILTINHO
e
SAMBA
Zé
Marmita
Miltinho
Quatro
horas da manhã,
Sai de casa o Zé Marmita,
Pendurado na porta do trem,
Zé Marmita vai e vem.
Numa lata, Zé Marmita,
Traz a bóia,
Que ainda sobrou do jantar,
Meio-dia Zé Marmita,
Faz o fogo para comida esquentar,
E o Zé Marmita,
Barriga cheia,
Esquece a vida,
Numa bate-bola de meia.