Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 29 de dezembro de 2024
"TRÊS SILÊNCIOS"
UM APITO
Epifania, panacéia e balaustrada
Chinfrim
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A Voz do Morro
Zé Keti
Letra
Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei dos terreiros
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem leva a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Mais um samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Pelo samba, vamos cantando
Esta melodia de um Brasil feliz
Composição: Zé Kéti.
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La Grenade
Clara Luciani
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Madeira que Cupim Não Rói
Capiba
Letra
Significado
Traduções
Madeira do rosarinho
Vem a cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original
Não vem pra fazer barulho
Vem só dizer... e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão
E se aqui estamos, cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei que cupim não rói
Composição: Capiba.
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GAMBIARRA
TRANSIÇÃO PELO CENTRO
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A ARENA SE TORNA PDS
O MDB se torna PMDB.
O PP foi abortado.
São fundados:
PTB
PDT
PT
E um PP do Tancredo.
O PP seria um partido que ficaria no meio, entre o PMDB e o PDS.
Seria essa transição pelo centro, mediando a transição de uma elite conservadora, e garantiria que não haveria revanchismo.
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Solness, o construtor eBook Kindle
por Henrik Ibsen (Autor), Leonardo Pinto Silva (Tradutor)
Formato: eBook Kindle
Uma das principais peças do dramaturgo Henrik Ibsen, considerado o pai do realismo no teatro moderno. Suas obras despertaram polêmica em sua época ao propor o debate sobre grandes questões morais da sociedade
Solness, o construtor, peça escrita na última fase da vida do autor, aborda temas como desejos irrealizados, paixões platônicas e crepusculares, a morte e a impotência.
Ibsen foi um dos abalos sísmicos que constituíram o grande terremoto trazido pelo modernismo à cultura ocidental. Nas palavras do crítico Aimar Labaki, autor do posfácio, "para além de uma obra teatral responsável pela fundação do drama moderno, o trabalho de Ibsen criou, na linha de Freud, Darwin, Marx e Einstein, a base do que seria a consciência do homem ocidental no século XX".
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Alguém Me Avisou
Dona Ivone Lara
Letra
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho
Mas eu vim de lá pequenininho
Alguém me avisou pra pisar neste chão devagarinho
Alguém me avisou pra pisar neste chão devagarinho
Eu vim de lá
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho
Mas eu vim de lá pequenininho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Sempre fui obediente
Mas não pude resistir
Foi numa roda de samba
Que eu juntei-me aos bambas pra me distrair
Quando eu voltar à Bahia
Terei muito que contar
Ó, padrinho, não se zangue
Que eu nasci no samba, não posso parar
Foram me chamar (ora, veja você)
Eu estou aqui, o que é que há?
Foram me chamar (ora, veja você)
Eu estou aqui, o que é que há?
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho (oi, oi, oi, oi, oi, oi)
Mas eu vim de lá pequenininho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho
Mas eu vim de lá pequenininho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Sempre fui obediente
Mas não pude resistir
Foi numa roda de samba
Que eu juntei-me aos bambas pra me distrair
Quando eu voltar à Bahia
Terei muito que contar
Ó, padrinho, não se zangue
Que eu nasci no samba, não posso parar
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Composição: Dona Ivone Lara.
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Alguém Me Avisou - Teresa Cristina canta Dona Ivone Lara (Sambabook Lives)
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"Mandaram me chamar, pois alguém queria ter comigo.
Oh, sim. Sou eu construtor.
Oh, é você Hilde? Temia que fossem Aline e o doutor.
Pois saiba que quem o teme são eles!
É assim que você pensa?
Sim, as pessoas dizem que o senhor teme as alturas...que tem medo de subir em andaimes.
Isso é uma outra questão.
Mas é verdade que o senhor tem esse medo?
Sim, é verdade.
Medo de cair no chão e se esborrachar no chão?
Não, não disso.
E medo de que então?
Tenho medo da desforra, Hilde.
Da desforra? (balança a cabeça) Não compreendo.
Sente-se. Para que lhe conte uma história.
Sim, conte-me já!
(Ela senta em um tamborete junto à balaustrada e olha-o com expectativa.)
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Três Apitos - Noel Rosa
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Gustavo Campos
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14 de ago. de 2010
Violão - Henrique Cazes
Voz - Cristina Buarque
Música
1 músicas
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Tres apitos
Henrique Cazes e Cristina Buarque
Sem tostao...a crise nao e boato
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Em Cabocla, Boanerges (Tony Ramos) perderá feio para Neco (Danton Mello) a eleição para prefeito de Vila da Mata. Humilhado nas urnas, o coronel chegará ao fundo do poço e terá que engolir o orgulho para se aliar aos antigos inimigos e se manter relevante na política.há 2 dias
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MAR, MANJO!
QUE O MAR "MAR" FEITO NÃO FIQUE BEM!
Á, ÉS É Ó!
Nós? Sós!
TRÊS SILÊCIOS: SILVA, FERNANDO E BARROS.
DOIS FEITOS DO MESMO BARRO.
"A POLÍTICA É COMO UMA ROLHA, POR MAIS QUE SE TENTE MANTÊ-LA NO FUNDO DO MAR ELA ELA TEIMA EM SUBIR À SUPERFÍCIE."
"VOCÊ É COMO UM JACARANDÁ: VERGA MAS NÃO QUEBRA."
"AMBOS TEIMOSOS, FEITOS DO MESMO BARRO."
"TRÊS SILÊNCIOS": o silêncio sobre a tortura e os torturadores; o silêncio sobre o apoio da sociedade à ditadura; o silêncio sobre as propostas revolucionárias de esquerda, derrotadas entre 1966 e 1973.
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MAR, MANJO!
Que o mar "mar" feito não fique bem!
Á, ÉS, É Ó!
Nós? Sós!
TRÊS SILÊNCIOS: Silva, Fernando e Barros.
Dois feitos do mesmo barro.
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A política é como uma rolha:
Por mais que se tente mantê-la no fundo do mar, ela teima em subir à superfície.
Você é como um jacarandá:
Verga, mas não quebra.
Ambos teimosos, feitos do mesmo barro.
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TRÊS SILÊNCIOS:
1. O silêncio sobre a tortura e os torturadores.
2. O silêncio sobre o apoio da sociedade à ditadura.
3. O silêncio sobre as propostas revolucionárias de esquerda, derrotadas entre 1966 e 1973.
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"Tudo deve mudar para que tudo fique como está"
"Avaliado no Brasil em 23 de abril de 2018
O Leopardo, única obra de relevância escrita por Giuseppe Tomasi di Lampedusa, é uma narrativa esplendorosa da decadência siciliana com o fim do Reino da Sicília, ocorrido com a unificação Italiana promovida por Garibaldi.
O Choque de Gerações (D. Fabrizio e Tancredi) narram os anseios de manutenção dos privilégios aristocráticos do personagem principal, D. Fabrizio, com os anseios da juventude Republicana que pretende tomar a dianteira no processo político, para lhes garantir novos privilégios nesta Itália que se forma a partir de então.
O relacionamento familiar é profundamente explorado, com reminiscências do próprio Tomasi di Lampedusa, filho do Príncipe de Lampedusa, tendo ele próprio sido uma testemunha ocular do término da aristocracia siciliana e decadência da sociedade local."
Mario Miranda
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A obra-prima de Tomasi di Lampedusa
Salatiel Soares Correia
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Por Salatiel Soares Correia
em Livros
17/09/2022 - 20:49
Nicolau Maquiavel é o que se pode chamar de unanimidade entre os estudiosos da ciência política. Na verdade, com a publicação de seu pequeno grande livro, “O Príncipe”, foi considerado o fundador da ciência política moderna. A obra constitui uma lição de sabedoria sobre como a natureza humana se comporta diante do poder; sobre como as pessoas se revelam em sua essência diante do poder. Os ensinamentos contidos nos escritos do sábio de Florença ilustram o caminho que devem seguir os governantes para manterem seus principados.
O mal deve ser feito de uma só vez, ao passo que o bem deve ser feito aos poucos; deve-se ver a realidade tal como é, não como se deseja que seja; quem governa deve ser temido pelos adversários e amado por quem é o responsável pela sua manutenção no poder — o povo.
São ensinamentos como esses que fizeram de “O Príncipe” uma leitura de cabeceira de vários poderosos pelo mundo afora. Napoleão Bonaparte, ex-imperador da França; ChurchilL, ex-primeiro ministro da Inglaterra e Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República do Brasil e tantos outros que surfaram nas ondas do poder sempre tiveram esse clássico da ciência política bem perto de si.
Assim, se, por um lado, ser maquiavélico se relaciona a esperteza, astúcia, a aleivosia e a maldade, por outro, de uma maneira mais ampla, os ensinados de Maquiavel constituem uma lição para políticos no que diz respeito à arte de se manter no poder.
Outro importante aspecto enfatizado pelo sábio florentino em seus escritos se refere a um momento em que uma velha ordem de valores é contestada e as sociedades entram em conflito para que surja uma nova ordem, diferente da antiga. Para ele, “devemos convir que não há coisa mais difícil de se fazer, mais duvidosa de se alcançar, ou mais perigosa de se manejar do que ser o introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos todos aqueles que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a quem as novas instituições beneficiariam”.
Momentos assim são difíceis, não só porque geram instabilidades, mas sobretudo porque, na maioria das vezes, são como um pontapé numa já podre porta. Na maioria das vezes, tais situações exigem derramamento de sangue. É daí que surgem as guerras e as revoluções. A história está aí para nos mostrar que isso é uma verdade. Que o digam os estudiosos da Revolução Francesa, que bem sabem o que ela significou: a nova ordem, alicerçada no poder da razão, veio contestar o poder absoluto e divino da monarquia. Que o digam os pesquisadores da Segunda Guerra Mundial, que mudou o centro do poder da Europa para um novo país: os Estados Unidos.
Vale ainda ressaltar uma última reflexão maquiavélica que nos servirá aos propósitos destes escritos: a de que os príncipes que não percebem os ventos da mudança e não mudam seu modo de proceder têm um destino certo: a ruína.
As reflexões de Nicolau Maquiavel certamente foram úteis para que um conterrâneo seu elaborasse, quase cinco séculos depois, um dos maiores clássicos da literatura universal. Falo de “O Leopardo” (“Gattopardo”), de Tomasi di Lampedusa. O Gattopardo “bigodudo dançando na fachada do palácio, no frontão das igrejas, no alto dos chafarizes, nos azulejos das casas” se constituía no símbolo maior da opulência de uma nobreza que se via ameaçada pela mudança, pelos novos ventos da República. Posto isso, apresentemos primeiramente o autor, para, em seguida, abordarmos o conteúdo de seus seminais escritos.
Tomasi di Lampedusa pertenceu à nobreza italiana. Duque de Parma, príncipe de Lampedusa, lutou na Primeira Guerra Mundial. Viveu a maior parte de sua vida entre Roma e Palermo. Homem de grande cultura, tinha em mente escrever um romance sobre a decadência da nobreza da Sicília, desde os anos 1930, coisa que veio a concretizar-se somente 25 anos depois.
Lampedusa faleceu em 1957 sem conseguir publicar sua obra-prima. Motivo: editoras recusaram sua publicação. Certamente, dessa miopia editorial foi vítima outro grande escritor: Marcel Proust, com seu seminal romance, que se tornou um patrimônio da literatura universal. Trata-se de “Em Busca do Tempo Perdido”. Proust, assim como Lampedusa, teve inicialmente seus escritos recusados por uma grande editora francesa.
Postumamente publicado, o romance de Lampedusa se tornou um imenso sucesso, popularizado pelo gênio do cineasta italiano Luchino Visconti, num filme que ganhou a Palma de Ouro, do festival de Cannes, em 1963: “O Leopardo”. Alain Delon, Burt Lancaster e a bela Claudia Cardinale foram as estrelas desse grande sucesso que foi o romance de Lampedusa nas telas.
Tradição e decadência
Na transição do século 19 para o século 20, a Itália se constituía na época numa série de principados que se rivalizavam entre si, completamente desarticulados de uma unidade nacional. Nesse contexto, era evidente a decadência da nobreza, da mesma forma que se tornava visível a ascensão de uma nova classe, endinheirada, destituída de sangue azul, mas ávida por tê-lo — ou comprá-lo.
Tomasi di Lampedusa
O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa (Companhia das Letras, 384 páginas)
O ambiente em que se desenvolve a narrativa de Lampedusa revela um clima árido e ao mesmo tempo de pouca higiene, expresso em passagens como essas: “Don Fabrício encontrara 13 moscas no copo de granita”, “um pesado cheiro de fezes exalava tanto das ruas quanto do vizinho quarto dos cântaros”. Eis aí o retrato de uma classe em decadência, presa aos valores da tradição.
Do ponto de vista da história da Itália, estava em andamento no seio da sociedade uma revolução comandada pelo libertador Giuseppe Garibaldi, cujo objetivo, bastante claro, era unificar o Estado italiano. A nova ordem de valores trazia embutida em si práticas eminentemente iluministas, apregoados pela Revolução Francesa. Ou seja: liberdade, igualdade e fraternidade eram os valores que os comandados de Garibaldi defendiam, procurando com isso defender a igualdade de oportunidades para todos. Intencionava a nova ordem unificar da Sicília ao Reino da Sardenha, bem como nomear “alguns ilustres sicilianos como senadores do reino”.
Os novos ventos revolucionários expressavam no fundo uma luta entre a tradição e a modernidade. A tradição, representada por uma nobreza saudosista e arraigada aos seus valores; a modernidade, representada pelos valores liberais da revolução garibaldiana, que os novos ricos endinheirados logo entenderam e apoiaram.
É exatamente essa transição de uma velha ordem para uma nova que se desenrola no romance de Tomasi di Lampedusa. Um ambiente repleto de saudosismo, do velho, que se ia, mas, ao mesmo tempo, da astúcia daqueles que percebiam a necessidade de se adequar à nova ordem de valores, para assim sobreviver aos ventos da mudança. Viviam-se naquela época os tempos que ficaram conhecidos na história daquele país como “Rissorgimento”, que unificou o país até então imerso em pequenos reinos dominados por potências estrangeiras.
O romance em si
Os ventos originados da nova realidade revolucionária chegaram à Sicília especificamente no seio do Palácio Donnafugata, onde habitava uma família símbolo da nobreza decadente e apegada às tradições: os Salinas. Estes, se viram obrigados a lidar com um ambiente de mudanças, em cujo contexto uma nova ordem de valores estava em gestação.
Chefiava o clã o príncipe Fabrício de Salina, marido de Stella, uma mulher de moral quase vitoriana, muito arraigada às tradições. Tais características inerentes à personalidade da esposa de Don Fabrício diretamente refletiram, ao longo dos anos, no relacionamento do casal. Para o marido, a mulher era “prepotente demais, e velha demais também […] tive sete filhos com ela, sete; e nunca vi seu umbigo”.
Inteligente, dotado de espírito científico, Don Fabrício se constituía no símbolo maior daquela nobreza falida, impotente ante as mudanças trazidas pela revolução, com seus efeitos sobre a rígida estrutura social do reino da Sicília. Fabrício era consciente de que a monarquia trazia “os sinais da morte no rosto”. Igual clareza da decadência da nobreza e do surgimento de uma nova ordem em gestação tinha também o personagem mais astuto, no sentido maquiavélico, do romance de Lampedusa: Tancredi, sobrinho de Don Fabrício.
A astúcia de Tancredi o levou a perceber a necessidade de sobrevivência numa nova realidade. “Se nós não estivermos presentes [na revolução], eles aprontam a República. Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude. Fui claro?” Certamente, em torno dessa contradição, se centra o ponto alto da obra seminal de Tomasi de Lampedusa. Uma contradição percebida pelo astuto Tancredi e logo assimilada pela inteligência e racionalidade de Don Fabrício.
Para que tudo mudasse e permanecesse como estava, seria necessário cooptar integrantes da nova classe social. Esta, embora sem os títulos de nobreza dos Salina, detinha algo que eles já há muito não tinham: dinheiro. Dinheiro que possuía Don Calogero Sèdara, um plebeu rude, pai da bela Angélica, ávido por um título de nobreza. Refinada pelo dinheiro do pai, a filha de Don Calogero não deixava em certos momentos de evidenciar traços de sua origem.
A assimilação dessa nova ordem pela nobreza falida é expressa com riqueza de detalhes no momento em que Don Fabrício comenta com a mulher Stella a necessidade do casamento do sobrinho Tancredi com Angélica: “Dinheiro, porém, ela vai ter; dinheiro nosso, em grande parte, mas administrado até bem demais por Don Calogero; e Tancredi precisa muito disso: é um fidalgo, é ambicioso, é gastador”. Em outra passagem, o príncipe enfatiza sua admiração pela astúcia de seu dileto sobrinho. Manifesta essa admiração no momento em que repreende o filho, tonto e cego de ciúmes do brilhantismo do primo, “mas papai, o senhor na certa não pode aprovar: ele foi se juntar com aqueles canalhas que alimentam a desordem na Sicília; isso não se faz”, disse o Duque de Querceta ao pai que, furioso, prontamente lhe respondeu: “Melhor fazer bobagens do que passar o dia inteiro olhando o cocô dos cavalos! Gosto de Tancredi ainda mais do que antes. E, aliás, não são bobagens. Se você puder fazer seus cartões de visita com a inscrição ‘Duque de Querceta’ e se, quando eu me for, herdar algum dinheirinho, será graças a Tancredi e a outros como ele”.
A narrativa introspectiva de Lampedusa consegue extrair de seus personagens sentimentos secretos, tão comuns a nós seres humanos. Sentimentos que muitas vezes procuramos esconder nos subterrâneos de nossa alma.
Uma das filhas do príncipe, Concetta, simboliza no romance a mesma rigidez moral de sua mãe, Stella. Apaixonada por Tancredi, Concetta carrega ao longo da vida a incapacidade de flexibilizar emoções ante o amor não correspondido do primo, que opta por se casar com Angélica. Esta, além de despertar-lhe o desejo de eros, possuía o vil metal, que o falido sobrinho de Don Fabrício não tinha. Para que tudo continuasse como estava, foi preciso que tudo mudasse. Tudo mudar significa a velha ordem aderir aos ditames da nova ordem, representada pela unificação da Itália em torno de um novo centro de poder: Vitor Emanuelle. Nessa nova ordem, a política viria a preponderar sobre a nobreza. Nessa nova ordem, Tancredi mudaria de papel: de nobre, se tornaria político. E assim tudo continuava igual ao que era antes.
Vale enfim ressaltar os temores da igreja com o surgimento de uma nova ordem de valores. Lampedusa o faz na figura do padre Pirrone, que “discursava sobre os futuros e inevitáveis sequestros dos bens eclesiásticos; o fim do suave domínio da abadia nos arredores; o fim das sopas distribuídas durante os duros invernos”.
Os ensinamentos
Um livro, para ser considerado um clássico, tem de necessariamente obedecer a uma condição: de tempos em tempos, tem de suscitar a revisitação, pois seus escritos nunca envelhecem. Os clássicos nos ajudam a entender a vida e suas encruzilhadas. Alçar essas encruzilhadas à luz da razão certamente nos ajuda a viver melhor com nós mesmos e com as outras pessoas — sejam elas iguais ou diferente de nós.
“O Leopardo” (ou “Gattopardo”) é considerado, por essa razão, um clássico da literatura política. Quem o lê e entende a mensagem embutida nos escritos de Lampedusa, termina a leitura maior do que quando iniciou. É nesse sentido que os clássicos, na condição de clássicos, nos levam à reflexão e àquilo que disso resulta: o auto entendimento e a compreensão dos segredos da vida. O que importa na vida, como bem diz Guimarães Rosa, não é o fim nem o começo, mas a travessia que se faz ao longo dela.
Don Fabrício de Salina e seu dileto sobrinho Tancredi viveram esse mundo de mudanças. Perceberam as mudanças e tiveram astúcia para se adequarem a elas. Não se pode dizer o mesmo de Concetta e sua mãe, Stella. A rigidez moral e o apego aos valores da tradição as mantiveram presas às amarras do passado. Os valores do mundo mudaram, e elas não conseguiram dentro delas mesmas, se adequar a uma nova realidade. Stella morreu traída pelo marido, que já não se sentia por ela atraído; Concetta, tal como suas duas irmãs, permaneceu solteira e, no recanto de sua solidão, na velhice, guardava consigo lembranças do passado e de um amor não correspondido.
A vida é assim. O muno é assim. Basta cada um de nós transportar a sábia mensagem contida nos escritos de Lampedusa para o nosso dia a dia. No núcleo familiar, na vida social, nas organizações em que trabalhamos. Temos de conviver com todo tipo de gente: ambiciosos, ingênuos, astutos. Viver melhor passa por esse entendimento do comportamento do ser humano. Aqui, ou em qualquer parte do mundo, é fundamental sabermos como agir nos momentos em que as turbulências chegam. Viver melhor é compreender as mudanças do mundo e a elas se adequar. Nesse sentido, “O Leopardo” nos ajuda a entender os segredos da vida, em que o poder é a força motriz de tudo.
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Governo Sarney, a Constituinte, militares e mais com Fernando Limongi e Leonardo Weller | A Hora
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Transmitido ao vivo em 27 de dez. de 2024 A HORA COM TOLEDO E THAIS BILENKY
Nesta edição especial do A Hora, José Roberto de Toledo e Thais Bilenky entrevistam Fernando Limongi e Leonardo Weller, autores do livro Democracia negociada: política partidária no Brasil da Nova República.
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A HORA COM TOLEDO E THAIS BILENKY
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RODA VIVA | MARCELO RUBENS PAIVA | 23/12/2024
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Transmitido ao vivo em 23 de dez. de 2024 Roda Viva
O Roda Viva entrevista o escritor Marcelo Rubens Paiva.
Autor de “Ainda Estou Aqui”, Marcelo fala sobre a obra que deu origem ao filme de
Walter Salles Júnior e também sobre a sua vida.
Nesta edição, participam da bancada de entrevistadores: Adriana Ferreira Silva,
jornalista e escritora; Leonardo Cruz, editor-executivo no Jornal O Estado de S.
Paulo; Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S. Paulo e do Canal Meio;
Eduardo Graça, repórter especial de O Globo e Tom Farias, jornalista e escritor.
Com apresentação de Vera Magalhães, as ilustrações em tempo real são de
Luciano Veronezi.
Assista à íntegra:
#TVCultura #RodaViva #MarceloRubensPaiva #AindaEstouAqui #Brasil
Pessoas mencionadas
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Walter Salles
Marcelo Rubens Paiva
Fernanda Torres
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questões vultosas I
Os imperdoáveis
São eles. Serão eles?
Fernando de Barros e Silva | Edição 219, Dezembro 2024
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Éantiga a intenção de Bolsonaro de assassinar presidentes e matar junto com eles a democracia. Em 1999, durante entrevista ao programa Câmera Aberta, da Band, ele já dizia: “Através do voto você não vai mudar nada neste país. Nada, absolutamente nada. Você só vai mudar quando infelizmente nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil. Começando com o FHC. Não deixar ele ir para fora, não; matando! Se vão morrer alguns inocentes, tudo bem, em tudo quanto é guerra morre inocente.”
O trecho é conhecido, mas ganha novos contornos à luz das revelações que constam do relatório final da Polícia Federal, um catatau de quase novecentas páginas esmiuçando a engrenagem do golpe de Estado que foi tramado em várias frentes por Bolsonaro e sua gangue antes, durante e sobretudo depois das eleições presidenciais, quando as urnas consagraram a vitória de Lula. (Leia a cronologia das ações golpistas aqui.)
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
Fernando de Barros e Silva
Fernando de Barros e Silva
É repórter da piauí
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A Noite Estrelada
Pintura de Vincent van Gogh
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"O passado que não passa.
Os não perdoáveis
Ainda são eles.
Ainda serão eles?"
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Los Desastres de la Guerra, conhecido em português como Os Desastres da Guerra, é uma série de 82 gravuras do pintor espanhol Francisco de Goya, realizada entre 1810 e 1815. O horror da guerra é amostrado especialmente cru e penetrante nesta série.
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Imagine um cenário onde a paleta viva e inquieta de Van Gogh se entrelaça com as sombras e silhuetas grotescas de Goya.
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"O Leopardo", o Brasil e a Persistência do Passado: Reflexões Sobre Mudança e Imobilidade
A frase célebre de “O Leopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa — "Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude" —, ecoa como um leitmotiv histórico-cultural no Brasil. Essa máxima ressoa nas transições de poder político e nos movimentos de transformação aparente que perpetuam estruturas enraizadas.
Nos vídeos e artigos submetidos, a dialética entre mudança e continuidade é tangível. O debate conduzido por Fernando Limongi e Leonardo Weller no podcast "A Hora" revela as intricadas negociações políticas que consolidaram a Nova República. Sarney, Tancredo, Funaro e outros ícones transitam entre o desejo de renovação e a manutenção de interesses prévios. Esse ciclo de "mudanças negociadas" não só define, mas limita o alcance de reformas democráticas no Brasil.
No mesmo compasso, a entrevista com Marcelo Rubens Paiva no "Roda Viva" remete à memória coletiva e à importância de revisitar o passado, como faz o autor em suas narrativas biográficas. A obra "Ainda Estou Aqui" conecta histórias familiares ao trauma político, revelando o quanto o Brasil é marcado pelo espectro de injustiças não resolvidas. A lembrança, aqui, é não apenas um dever moral, mas uma ferramenta para resistir à repetição de tragédias.
O artigo de Fernando de Barros e Silva, por sua vez, nos confronta com uma persistência ainda mais corrosiva: o retorno de discursos autoritários e ameaças explícitas à democracia. Jair Bolsonaro, em declarações incendiárias, simboliza a continuidade de uma lógica política de eliminação — herança do regime militar —, que ressurge de forma adaptada, mas intacta em essência. A cronologia dos atos golpistas, detalhada no relatório da Polícia Federal, reforça a urgência de reconhecer que o passado não é um capítulo encerrado, mas uma força ativa no presente.
Ao integrar essas análises e relatos, a questão central emerge: mudança real ou ilusória? A frase final do artigo — "Os não perdoáveis. Ainda são eles? Ainda serão eles?" — é emblemática. Evoca o peso da responsabilidade histórica e a necessidade de enfrentar as raízes da desigualdade e do autoritarismo.
Concluímos que o Brasil vive uma eterna encruzilhada entre o desejo de transformação e a inércia estrutural. Para que "tudo mude", não basta alterar as formas; é preciso questionar o conteúdo, confrontar os legados históricos e abrir espaço para uma ruptura efetiva. Afinal, como nos lembra a máxima: nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que muda é progresso.
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Para refletir o momento político e social brasileiro no limiar de 2025, marcado por uma contínua tensão entre democracia e autoritarismo, a canção "Apesar de Você" de Chico Buarque (1970) oferece um paralelo poderoso. Apesar de ter sido composta em outro contexto de repressão — o regime militar —, suas palavras ressoam na atualidade ao expressar resistência, ironia e esperança em tempos difíceis.
Enquanto "Je ne t'aime plus" de Christophe traduz o desencanto e a ruptura íntima, "Apesar de Você" amplia esse sentimento ao campo coletivo, com uma mensagem que desafia o autoritarismo e afirma a inevitabilidade do retorno da liberdade.
Segue um trecho emblemático de "Apesar de Você", que conecta os contextos de 1964 e o Brasil contemporâneo:
"Hoje você é quem manda, falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda falando de lado
E olhando pro chão"
Essa música encapsula o espírito de resistência e o anseio por justiça que ainda ecoam, especialmente após eventos como o 8 de janeiro de 2023. É uma lembrança de que o Brasil já superou tragédias antes e que, "apesar de você", o amanhã pode ser de renovação.
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Uma canção contemporânea que dialoga com o espírito de resistência e crítica social presente em "Apesar de Você" é "La Grenade" de Clara Luciani (2018). Essa música francesa é um manifesto poderoso de autoafirmação e resistência, com uma intensidade que ecoa o enfrentamento de sistemas opressivos, mesmo que de maneira mais individual e simbólica.
Trecho de "La Grenade":
"Tiens, voilà, sous mon sein, la grenade
Sous mon sein, là, regarde
Sous mon sein, y'a la grenade
Tiens, voilà, sous mon sein, la grenade"
A letra emprega a metáfora da "granada" para expressar força, determinação e a iminência de uma mudança explosiva. Assim como "Apesar de Você", a canção de Clara Luciani sugere que aqueles que tentam subjugar os outros encontrarão resistência e enfrentarão consequências.
Diálogo com o contexto:
Enquanto Chico Buarque canta sobre a resistência coletiva frente à repressão ditatorial, Clara Luciani aborda a força individual como símbolo de empoderamento e insubordinação.
Ambas as canções compartilham a mensagem de que a liberdade e a dignidade não podem ser permanentemente suprimidas.
Assim, "La Grenade" é um hino contemporâneo de luta e afirmação que, embora enraizado no contexto pessoal, ressoa amplamente com os desafios sociais e políticos de nosso tempo.
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Nega Dina
Zé Keti
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A Dina subiu o morro do Pinto
Pra me procurar
Não me encontrando, foi ao morro da Favela
Com a filha da Estela
Pra me perturbar
Mas eu estava lá no morro de São Carlos
Quando ela chegou
Fazendo um escândalo, fazendo quizumba
Dizendo que levou
Meu nome pra macumba
Só porque faz uma semana
Que não deixo uma grana
Pra nossa despesa
Ela pensa que minha vida é uma beleza
Eu dou duro no baralho
Pra poder comer
A minha vida não é mole, não
Entro em cana toda hora sem apelação
Eu já ando assustado, sem paradeiro
Sou um marginal brasileiro
Composição: Zé Kéti.
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