Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
ALDEIAS E CIDADES
ALDEÕES E CIDADÃOS
-----------
-----------
------------
These immigrants are the biggest threat to America.
The Lincoln Project
@ProjectLincoln
----------
----------
O colapso ambiental, em realidade e ficção - revista piauí
Criador: Sergio Verissimo
------------
07 - Da minha aldeia
"Da minha aldeia
vejo quanto da terra se pode ver o Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida
é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver."
-------------
------------
/ "sábado, 12 de outubro de 2024
Livro | Paulo Fábio Dantas Neto - ACM(político baiano-nacional)
Livros costumam ter história e destino próprios que fogem à intenção dos autores, e este que o leitor agora tem em mãos não escapa ao aforismo. Digamos, de cara, algo sobre sua origem. Nascido como seguimento de livro publicado em 2006, cujo marco temporal cobre basicamente o “primeiro carlismo”, estamos aqui diante de muito mais do que mera “cronologia” do largo percurso posterior de Antônio Carlos Magalhães nos momentos decisivos da história política do seu estado e do País.
Paulo Fábio, na verdade, continua seu tour de force anterior, retratando a construção lenta e contraditória de um “idioma baiano-nacional”, a marca registrada com que ACM foi além do dialeto local – que, no entanto, permaneceria como substrato e sotaque – e alçou-se a uma condição muito mais alta do que a de mero chefe político provinciano.
Já no primeiro livro delineava-se com nitidez um personagem que reunia em si, num mesmo nó inextricável, a tradição e o moderno, a conservação e a mudança. Agora, neste segundo, por força do período mais extenso de pesquisa, surge um homem e uma circunstância mais complexos do que nós, leigos, normalmente tendemos a considerar.
A virtù do ator e a fortuna que lhe coube estão aqui vivamente dispostos em conjunturas como a da abertura e a do País redemocratizado, a da reforma liberal dos anos noventa e a da ascensão do petismo. O ator sofre golpes tremendos, como a morte do filho e sucessor, e a eles reage, numa sequência impressionante de recuos, refrações e revides, até a consumação do “carlismo” e, por fim, sua continuidade subterrânea na cultura política que ajudou a moldar durante décadas de domínio e direção.
Há em Paulo Fábio empatia e espírito crítico, compreensão de motivos históricos profundos e identificação de pontos problemáticos. A Bahia una e indivisível do “grande carlismo”, a expressar-se numa só língua, terá sido uma aspiração crescentemente incompatível com os requisitos de uma sociedade civil plural e uma sociedade política moderna, agitada pela competição democrática. Nada impede, porém, que aquela aspiração, compreensível em contextos pretéritos, renasça com atores insuspeitos e enredos ainda não escritos. Este livro nos informa, ilustra e adverte contra tal possibilidade – e não se pode desejar para ele nenhum outro destino mais digno e mais fecundo.
*Luiz Sérgio Henriques, Ensaísta, tradutor, um dos organizadores dos Cadernos do cárcere de A. Gramsci" /
--------------
------------
" A revoada (O enterro do diabo)
a-revoadaEm A Revoada, Gabriel García Márquez narra pela primeira vez a história de Macondo – cidade célebre da literatura desde o sucesso de Cem anos de solidão. Num período que vai de 1903 a 1928, três personagens contam a história da aldeia por meio de monólogos interiores: um velho coronel, sua silha Isabel e seu neto. Mas, para García Márquez, o personagem central do livro já aponta para um tema recorrente em sua obra: “Um homem que vive e morre na mais absoluta solidão”. Trata-se de um médico estranho e taciturno, que chegara ao povoado 25 anos antes e cujo cadáver é agora velado pelos parentes.
Gabriel García Márquez tinha 22 anos quando escreveu A Revoada, seu romance de estreia (publicado anteriormente no Brasil como O enterro do diabo). O livro mostra que o autor já era mestre muito antes de ter sua carreira deslanchada. É neste livro que surge o fascinante povo de Macondo – Meme, o Cachorro, Adelaida, Martín, Padre Ángel, com seus dramas e superstições, sonhos e manias – e a fantástica atmosfera da aldeia, os insetos, os cheiros de terra úmida, cenário onde tudo passa como revoada, os dias e as noites, a vida e a morte.
Gabriel José García Márquez (Aracataca, 6 de março de 1927 — Cidade do México, 17 de abril de 2014) foi escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano. Considerado um dos autores mais importantes do século XX, foi um dos escritores mais admirados e traduzidos no mundo, com mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas.Foi laureado com o Prémio Internacional Neustadt de Literatura em 1972, e o Nobel de Literatura de 1982 pelo conjunto de sua obra. Sua obra mais famosa é “Cem Anos de Solidão”. " CORRELACIONAR OS TRÊS ARTIGOS SOBRE "A MINHA ALDEIA", "A MINHA CIDADE", E OS ENTERROS DE DIABOS, ASSOCIADOS A MACONDA, BAHIA E "MINHA ALDEIA". ATRIBUIR O TÍTULO "ENTERROS DE DIABOS (REVOADAS)
-------------
------------
Enterros de Diabos (Revoadas)
Os textos que emergem das vozes de seus autores, a poesia de “Da minha aldeia”, as reflexões sobre o legado político de Antônio Carlos Magalhães (ACM) e a narrativa inaugural de Gabriel García Márquez em “A Revoada” entrelaçam-se em um discurso sobre identidade, pertencimento e a complexidade da vida nas comunidades.
A Minha Aldeia e a Minha Cidade
A Aldeia que se ergue na poesia, com a vastidão do Universo ao alcance do olhar do eu-lírico, propõe um contraste à vida urbana. O eu lírico sugere que o tamanho da percepção é mais importante do que as dimensões físicas, e a grandeza da aldeia reside na liberdade de visão e no contato com a natureza. As cidades, em contraposição, são descritas como lugares que restringem a perspectiva e empobrecem a experiência. Essa relação entre o local e o global, o íntimo e o vasto, é uma constante na literatura, que se reflete nas vozes da Bahia, de ACM e de García Márquez.
A Cidade em “A Revoada”, embora não explicitamente mencionada como uma cidade moderna, é um espaço de interações sociais complexas. Macondo, com suas características quase míticas, é ao mesmo tempo uma aldeia e uma cidade em formação, um reflexo das ambivalências da identidade latino-americana. As cidades em ambos os textos são lugares de contradições: enquanto as aldeias oferecem uma conexão mais genuína com o mundo, as cidades simbolizam o progresso e a perda. Assim, o diálogo entre os dois espaços se torna um pano de fundo para a reflexão sobre o ser e o pertencimento.
O Enterro dos Diabos e a Lógica da Política
O Enterro do Diabo que se discute em “A Revoada” introduz um personagem que vive na solidão, simbolizando a luta interna e as tragédias pessoais que permeiam as vidas nas comunidades. Este personagem solitário, que se contrasta com a coletividade da aldeia, provoca a reflexão sobre como a política e as questões sociais se interligam com as experiências individuais. A obra de García Márquez, marcada pelo realismo mágico, revela como os destinos dos personagens se entrelaçam com o ambiente que habitam, criando uma narrativa que dialoga com a história e a cultura do seu tempo.
A Política de ACM, por sua vez, é descrita como uma construção de um "idioma baiano-nacional", onde a figura política transcende sua origem e se torna símbolo de uma luta mais ampla. No entanto, essa política não é isenta de dores, perdas e reveses, como a morte de seu filho, que simboliza a fragilidade da vida e o peso da responsabilidade. A forma como ACM é retratado evoca a necessidade de uma compreensão mais profunda da política local, que é muitas vezes saturada por aspirações históricas e culturais.
A Conexão entre Aldeias e Cidades
As histórias de Macondo, Bahia e as vivências da “minha aldeia” compartilham a temática do retorno ao local, do acolhimento das raízes e da busca pela identidade em um mundo em constante transformação. A resistência à urbanização e à perda do contato com a natureza e a simplicidade da vida rural é um tema recorrente. A luta por preservar a identidade, seja na forma de uma aldeia, de uma cidade ou de uma tradição política, ressoa profundamente em ambas as narrativas.
Conclusão
“Enterros de Diabos (Revoadas)” é, portanto, um título que encapsula a interação entre o eu, o espaço e o outro. Reflete a experiência da vida em comunidade, a solidão do indivíduo e a luta por significado em meio a complexidades históricas e políticas. É um convite à reflexão sobre a riqueza do olhar que se detém sobre a própria aldeia e, ao mesmo tempo, busca o infinito do horizonte.
-----------
"sábado, 12 de outubro de 2024
Livro | Paulo Fábio Dantas Neto - ACM(político baiano-nacional)
Livros costumam ter história e destino próprios que fogem à intenção dos autores, e este que o leitor agora tem em mãos não escapa ao aforismo. Digamos, de cara, algo sobre sua origem. Nascido como seguimento de livro publicado em 2006, cujo marco temporal cobre basicamente o “primeiro carlismo”, estamos aqui diante de muito mais do que mera “cronologia” do largo percurso posterior de Antônio Carlos Magalhães nos momentos decisivos da história política do seu estado e do País.
Paulo Fábio, na verdade, continua seu tour de force anterior, retratando a construção lenta e contraditória de um “idioma baiano-nacional”, a marca registrada com que ACM foi além do dialeto local – que, no entanto, permaneceria como substrato e sotaque – e alçou-se a uma condição muito mais alta do que a de mero chefe político provinciano.
Já no primeiro livro delineava-se com nitidez um personagem que reunia em si, num mesmo nó inextricável, a tradição e o moderno, a conservação e a mudança. Agora, neste segundo, por força do período mais extenso de pesquisa, surge um homem e uma circunstância mais complexos do que nós, leigos, normalmente tendemos a considerar.
A virtù do ator e a fortuna que lhe coube estão aqui vivamente dispostos em conjunturas como a da abertura e a do País redemocratizado, a da reforma liberal dos anos noventa e a da ascensão do petismo. O ator sofre golpes tremendos, como a morte do filho e sucessor, e a eles reage, numa sequência impressionante de recuos, refrações e revides, até a consumação do “carlismo” e, por fim, sua continuidade subterrânea na cultura política que ajudou a moldar durante décadas de domínio e direção.
Há em Paulo Fábio empatia e espírito crítico, compreensão de motivos históricos profundos e identificação de pontos problemáticos. A Bahia una e indivisível do “grande carlismo”, a expressar-se numa só língua, terá sido uma aspiração crescentemente incompatível com os requisitos de uma sociedade civil plural e uma sociedade política moderna, agitada pela competição democrática. Nada impede, porém, que aquela aspiração, compreensível em contextos pretéritos, renasça com atores insuspeitos e enredos ainda não escritos. Este livro nos informa, ilustra e adverte contra tal possibilidade – e não se pode desejar para ele nenhum outro destino mais digno e mais fecundo.
*Luiz Sérgio Henriques, Ensaísta, tradutor, um dos organizadores dos Cadernos do cárcere de A. Gramsci"
----------
O artigo sobre o livro de Paulo Fábio Dantas Neto que examina a trajetória política de Antônio Carlos Magalhães (ACM) oferece uma análise histórica densa, cheia de nuances sobre a formação do “idioma baiano-nacional” e os paradoxos da liderança política. Essa análise reflete uma complexidade de forças políticas, culturais e pessoais que moldaram o carlismo e a figura de ACM. Quando associamos essa obra ao romance “A Revoada” de Gabriel García Márquez, observamos uma interessante correlação entre a trajetória de um líder político e o ambiente literário que explora temas como solidão, poder e transitoriedade.
A Conexão entre ACM e o Médico Solitário de "A Revoada"
No primeiro livro de García Márquez, “A Revoada” (ou “O Enterro do Diabo”, na versão brasileira), vemos a história de Macondo, uma cidade fictícia permeada por tensão social e personagens marginalizados. O protagonista, um médico que vive isolado por 25 anos, morre e tem seu corpo velado por parentes. Embora seja um personagem central, ele é também uma metáfora de figuras que, mesmo centrais na comunidade, vivem em total solidão, afetados por sua própria condição.
Essa solidão pode ser associada à figura de ACM no texto de Paulo Fábio Dantas Neto, um líder que acumulou imenso poder, tanto na Bahia quanto no cenário nacional, mas que enfrentou, em seus momentos mais íntimos, tragédias pessoais profundas, como a morte do filho e herdeiro político, Luís Eduardo Magalhães. Assim como o médico solitário de García Márquez, ACM é um personagem cujas conquistas públicas contrastam com uma vida pessoal marcada por perdas devastadoras e pela luta constante com o destino, ou fortuna, que ora lhe era favorável, ora lhe impunha enormes desafios.
Poder e Solidão
Em “A Revoada”, Macondo aparece como uma comunidade onde as tensões sociais são sempre presentes, um microcosmo da América Latina, cujas tragédias e triunfos refletem a complexidade de suas dinâmicas políticas. No mesmo sentido, o carlismo baiano, conforme descrito por Paulo Fábio, também é uma manifestação de uma sociedade local que reflete as contradições mais amplas do Brasil. ACM é visto como alguém que transcendeu sua origem provinciana, criando um “idioma baiano-nacional”, capaz de fazer pontes entre a tradição e a modernidade, entre o local e o nacional.
No entanto, assim como o médico de Macondo, ACM também viveu em uma espécie de isolamento. Sua figura carrega a solidão de um líder que, embora tenha moldado a cultura política de uma região e de um país, também enfrentou resistências internas e externas, especialmente no período pós-ditadura, quando o Brasil passou por reformas políticas e econômicas que desafiaram antigos paradigmas de poder. A solidão de ACM, como a do médico de García Márquez, é a solidão de quem, ao mesmo tempo, lidera e sofre as consequências das transformações que provoca.
A Revoada: Ciclo de Vida e Morte
A metáfora da revoada — o ciclo de vida e morte que marca a obra de García Márquez — também pode ser aplicada à trajetória de ACM e ao carlismo. No romance, o movimento dos personagens e a passagem do tempo são como uma revoada de pássaros, simbolizando a transitoriedade da vida e a inevitável chegada da morte. No caso de ACM, o artigo sugere que, apesar da morte física e simbólica do líder, o carlismo continua de forma subterrânea, como um legado que persiste nas camadas mais profundas da cultura política baiana.
O enterro do diabo em “A Revoada” evoca uma tentativa de enterrar um passado sombrio, assim como a morte de ACM marca o fim de um ciclo político, mas que, por sua vez, não é completamente sepultado. O carlismo, enquanto expressão política, continua a assombrar e a influenciar, mesmo em tempos de maior pluralidade democrática. O livro de Paulo Fábio Dantas Neto adverte para a possibilidade de que esse legado, compreensível em contextos anteriores, possa renascer com novos atores e novas circunstâncias, assim como as tensões de Macondo continuam a reverberar após o enterro do diabo.
Aspirações Incompatíveis e a Realidade da Pluralidade
A ascensão de ACM e a sua tentativa de consolidar a Bahia sob uma única voz política, expressa no artigo como a "Bahia una e indivisível do grande carlismo", traz uma aspiração que se tornaria cada vez mais incompatível com a modernidade democrática e a diversidade da sociedade civil. Essa ideia dialoga com a narrativa de Macondo, onde as tentativas de controle e dominação acabam frustradas por forças maiores, como o tempo e a inevitabilidade da mudança.
No universo de García Márquez, os personagens estão sujeitos às leis da natureza, do destino, e de forças invisíveis que moldam suas vidas. Do mesmo modo, ACM, apesar de seu poder, era vulnerável às mudanças do cenário político brasileiro e internacional, como a ascensão do petismo, a redemocratização e as reformas liberais dos anos 90. Mesmo sendo um ator central, ele era parte de um movimento maior, onde sua "fortuna" oscilava conforme os ventos políticos mudavam.
Conclusão
A análise do livro sobre ACM e o carlismo traça paralelos profundos com a narrativa de García Márquez em “A Revoada”. Ambos os textos exploram a solidão e o isolamento de figuras de poder, a relação entre o individual e o coletivo, e o ciclo de vida e morte que perpassa tanto as comunidades quanto os indivíduos que as compõem. Enquanto ACM representa o "diabo" que, apesar de morto, continua a influenciar a política baiana e brasileira, Macondo simboliza a aldeia cujos fantasmas do passado nunca desaparecem completamente.
O funeral do diabo e o enterramento de ACM são eventos simbólicos que não representam o fim de suas influências, mas, sim, a transformação dessas forças em algo mais duradouro e subterrâneo, que continua a moldar a sociedade, seja em forma de memória política, seja em forma de tradição cultural. Assim como em Macondo, na Bahia, a história é um ciclo de revoadas, de mortes e renascimentos.
_________________________________________________________________________________________________________
----------
"ALDEIAS E CIDADES", ALDEÕES E CIDADÃOS
A oposição entre aldeias e cidades, bem como entre aldeões e cidadãos, evoca reflexões profundas sobre as diferenças de vivência, perspectiva e identidade que marcam esses dois espaços e seus habitantes. Tanto na literatura quanto na realidade social, esses dois universos revelam tensões, contradições e significados simbólicos. Podemos explorar essa dualidade em diferentes camadas: a espacial, a psicológica, a política e a cultural.
Aldeias e Cidades: Espaço e Perspectiva
Aldeias são frequentemente associadas a espaços de tranquilidade, proximidade com a natureza e uma vida mais simples e direta. No poema "Da minha aldeia", a aldeia é um lugar de grandeza espiritual, onde o eu-lírico se sente parte do universo, porque o horizonte e a vastidão do mundo são diretamente acessíveis aos seus olhos. Aqui, a grandeza não está no tamanho físico do espaço, mas na liberdade de percepção que ele proporciona.
Por outro lado, as cidades representam complexidade e progresso, mas também limitação. As grandes construções, o crescimento urbano e o ritmo acelerado da vida restringem a visão e a experiência, como o poema descreve: "Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave". Cidades muitas vezes significam riqueza material, oportunidades e diversidade, mas podem trazer consigo a perda de conexão com o mundo natural e a vida mais simples que as aldeias oferecem. Essa oposição ressalta o fato de que, em muitos contextos, o progresso urbano pode significar alienação e isolamento.
Aldeões e Cidadãos: Identidade e Pertencimento
Os aldeões, dentro dessa lógica, são vistos como aqueles que mantêm uma conexão mais direta com a terra, com os ritmos naturais e com a tradição. Eles pertencem a um espaço onde o sentido de comunidade é mais tangível e as relações humanas, mais próximas. Há uma autenticidade no modo de vida aldeão, que muitas vezes é percebida como uma alternativa à vida urbana, onde os indivíduos podem se sentir perdidos em meio à multidão.
Já os cidadãos são os habitantes das cidades, inseridos em um contexto de maior complexidade social e cultural, mas também de maior fragmentação. Nas cidades, a multiplicidade de pessoas e interesses faz com que as relações sejam mais mediadas por instituições e estruturas, e a própria noção de identidade é mais fluida. Ao contrário dos aldeões, que muitas vezes têm uma identidade fortemente ligada ao lugar, os cidadãos podem se sentir desconectados, pois as cidades podem apagar a singularidade de seus habitantes.
Política e Poder: A Cidade como Centro
Na esfera política, as cidades historicamente representam o centro do poder, da economia e da cultura. As grandes decisões, os centros administrativos e as revoluções muitas vezes acontecem nas cidades. No contexto da obra sobre Antônio Carlos Magalhães (ACM), o líder baiano é alguém que transcendeu o papel de chefe político provinciano, criando um “idioma baiano-nacional” que refletia essa fusão entre o local (a Bahia) e o nacional (a política brasileira como um todo). ACM, como líder, precisava equilibrar as necessidades do estado (Bahia) com as demandas de uma sociedade política mais ampla e diversa.
Por outro lado, as aldeias tendem a ser vistas como o lugar das tradições, da preservação do passado e de uma vida que escapa às pressões políticas e econômicas maiores. A liderança política, como a de ACM, envolve a negociação entre esses dois mundos: um, voltado para a manutenção do controle e do poder local; e o outro, aberto às transformações impostas pelas mudanças sociais e políticas do país.
A Revoada: Aldeões em Transição
Na literatura de Gabriel García Márquez, em especial em "A Revoada", a aldeia de Macondo é um reflexo de uma sociedade em transição, uma comunidade pequena que se vê cada vez mais imersa em questões universais de poder, solidão e morte. Embora Macondo seja uma aldeia em formação, ela já carrega em si as sementes das tensões que surgem nas cidades. Os personagens vivem à mercê dos ciclos da natureza e da história, e embora pareçam estar isolados, são impactados por forças maiores, vindas de fora, como o capital estrangeiro e a modernização.
Macondo é, de certa forma, uma metáfora para a transição da aldeia para a cidade, do local para o global. Seus habitantes, aldeões no início, são lentamente transformados pelos ventos de mudança, que chegam à pequena comunidade na forma de fábricas e novas estruturas de poder. Nesse sentido, o contraste entre aldeões e cidadãos fica diluído à medida que ambos são sujeitos às mesmas forças que moldam o destino das grandes cidades.
Aldeias e Cidades: Memória e Progresso
Aldeias muitas vezes carregam a função de preservação da memória coletiva. Elas simbolizam um espaço de resistência ao tempo, onde as tradições e histórias passadas continuam a viver, mesmo que de forma idealizada. Já as cidades, por estarem em constante transformação, são vistas como locais de progresso, onde a memória frequentemente cede lugar ao futuro. Essa tensão é central tanto na vida política de figuras como ACM quanto na literatura de García Márquez, que vê as aldeias como pontos de origem, mas não como destinos finais.
Conclusão
A dualidade entre aldeias e cidades, aldeões e cidadãos, revela mais do que diferenças físicas ou geográficas. Ela expõe visões de mundo contrastantes: a simplicidade e autenticidade da aldeia versus a complexidade e alienação da cidade; a preservação da memória versus o avanço do progresso; o poder centralizado na cidade contra as tradições mantidas nas aldeias.
Tanto na política quanto na literatura, esses dois espaços e seus habitantes estão em um constante diálogo. Enquanto as cidades moldam as nações e definem seus rumos, as aldeias preservam o que há de mais genuíno e fundamental no ser humano – sua conexão com a terra, com os outros e consigo mesmo. É nesse contraste que se encontram as tensões centrais da modernidade.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário