terça-feira, 24 de setembro de 2024

GRÃO DE AMOR

----------- "Me deixe sim mas só se for pra ir ali e pra voltar" Arnaldo Antunes ------------ ------------- Grão de amor - Marisa Monte e Arnaldo Antunes
---------- "Onde resiste a democracia americana" ------------
----------- Democracia ou bonapartismo: Triunfo e decadência do sufrágio universal Capa comum – 26 outubro 2004 Edição Português por Domenico Losurdo (Autor), Luiz Sérgio Henriques (Tradutor) Obra que trata da reconstrução histórica da luta pela conquista de direitos civis, políticos, econômicos e sociais, com vitórias exaltantes e derrotas desastrosas. Com abordagens da luta pelo sufrágio universal, das origens do bonapartismo entre a América e a França, classes dominantes e subalternas, a democracia, e o século XX, entre a emancipação e a des-emancipação, ou seja, após a conquista de direitos anteriormente não desfrutados, pode se seguir a amargura da perda dos direitos tão arduamente conquistados. -----------
---------- domingo, 22 de setembro de 2024 Luiz Sérgio Henriques - Democracia na América O Estado de S. Paulo As nações democráticas de todo o mundo, entre as quais a nossa, não podem dispensar a presença renovada dos Estados Unidos nas suas fileiras Tão imperfeita quanto qualquer outra, e com certeza a mais assediada internamente, a democracia norte-americana hoje constitui um privilegiado observatório debruçado sobre o drama das sociedades abertas. Não há mais o sentimento de excepcionalismo de outros tempos nem a retórica dos que celebravam orgulhosamente a invicta “cidade no alto da colina”. À direita, políticos conservadores e até muito conservadores, como Ronald Reagan, deram lugar a outros cuja visão sombria enxerga um país cercado de bárbaros. E a simples presença deles ameaçaria substituir a população autóctone racialmente pura ou, no mínimo, envenenarlhe o sangue. Para os reacionários de novo tipo, a cidade na colina, antes gloriosamente inexpugnável, agora se vê também ameaçada por “inimigos internos” que tomaram de assalto as instituições e configuraram um singular “Estado profundo”. Aliás, os tentáculos desse Estado invisível aos não iniciados já teriam se espalhado pela sociedade civil, contaminando as artes, as profissões liberais, a política e a imprensa independente. Toda essa linguagem evoca medos e paranoias dos piores regimes do século passado, e não por acaso o termo “fascismo” voltou a ser empregado até por gente insuspeita de inclinação à esquerda. No entanto, o grosseiro espírito nativista e o apregoado antielitismo convidam-nos antes a descrever o fenômeno como uma espécie de “nacional-populismo” destes tumultuados tempos hipermodernos, sem menosprezar outras tentativas de ajustar palavras e coisas. O fato é que tal nacionalismo populista, oposto ao já passado cosmopolitismo “globalista”, requer o homem forte e o respectivo culto. O “globalismo” de outrora guardava o ingênuo otimismo pelo qual, universalizadas em marcha batida as relações econômicas, mais cedo ou mais tarde a institucionalidade democrática sobreviria como num passe de mágica. O nativismo de agora, particularista e bélico, navega sob o signo da redução da democracia ao seu elemento plebiscitário. Daí a apologia do strongman e o aplauso à sua impaciência com freios e contrapesos da dimensão liberal da democracia. Democracia iliberal, precisamente, foi o singular nome de batismo dado ao tipo de regime cuja implantação se pretende como resposta aos sobressaltos da época. Nascida em 2014, a fórmula é de autoria do político húngaro Viktor Orbán, tornado surpreendentemente um dos estrategistas da direita populista no xadrez internacional. Convenhamos que, sem desrespeitar as excepcionais tradições da mítica Mitteleuropa, de que faz parte saliente a Hungria, só num mundo de ponta-cabeça alguém como Orbán pode estar presente com destaque inusitado na fala do ex-presidente Donald Trump, como esteve durante o recente debate com a vice-presidente Kamala Harris. De fato, paradoxos à parte, Orbán é a óbvia inspiração de Trump para sua giornata particolarissima, o grande dia de ditador que imagina para si. O observatório norte-americano, dizíamos, é um ponto avançado em relação à Europa e mesmo ao Brasil. Lá um dos dois grandes partidos nacionais cruzou, com Trump, a linha que separa a disputa constitucionalmente regulada e o desafio aberto à transmissão pacífica de poder – e o que se sabe é que Trump só aceitará uma eventual segunda derrota se, a seu critério, a competição for justa. A transgressão da fronteira constitucional tornou-se possível quando o Partido Republicano perdeu propriamente a sua característica de partido político para se transformar num movimento populista de massas reunido em torno de um culto. Essa metamorfose, segundo Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, requer uma teoria, e a teoria dos autores é que, no fundo, o Grand Old Party entrincheirou-se na defesa encarniçada de um contingente demográfico prestes a se tornar minoritário. Brancos, cristãos e conservadores do meio rural compõem um núcleo muito coeso, mas com reduzida capacidade expansiva, o que, de resto, explica as muitas derrotas no voto popular nas eleições presidenciais desde 1992. E instituições anacrônicas, como o Colégio Eleitoral, admitem ainda assim uma “tirania da minoria”, o que congela todo e qualquer impulso de mudança dos republicanos e há décadas interrompe a obra comum de aperfeiçoamento incessante da democracia. O insight de Levitsky e Ziblatt, aqui sintetizado de modo extremo, tem o condão de deixar por ora nas mãos de democratas, independentes e republicanos never trumpers a indispensável tarefa de regeneração institucional, para não mencionar as fraturas sociais que se abriram desde a afirmação da reaganomics e sua sombra longa e incômoda. É bom voltar a ouvir falar de uma América do Norte que valoriza o trabalho, a cultura e as classes médias, e que se recusa a entrar para o heterogêneo, mas ameaçador, clube das autocracias. As nações democráticas de todo o mundo, entre as quais a nossa, não podem dispensar a presença renovada dos Estados Unidos nas suas fileiras. Se porventura tal não ocorrer, o horizonte global – e brasileiro – será o de uma luta defensiva ainda mais dura, prolongada e imprevisível." -----------
----------- O artigo de Luiz Sérgio Henriques, publicado em O Estado de S. Paulo, explora a importância das democracias mundiais, incluindo o Brasil, de se manterem alinhadas à renovação da presença dos Estados Unidos como líder das sociedades democráticas. Ele analisa as transformações políticas internas dos EUA, particularmente a ascensão do nacional-populismo sob Donald Trump e suas implicações globais. Principais Ideias: Democracia Americana em Crise: Henriques destaca que, embora a democracia americana enfrente desafios internos, ela ainda serve como um observatório privilegiado para entender as tensões e crises que afetam as sociedades abertas em todo o mundo. Ele aponta que a visão excepcionalista dos EUA, outrora celebrada, tem sido substituída por uma narrativa sombria de ameaças internas e externas, especialmente entre a direita populista. Nacional-populismo e Democracia Iliberal: O autor descreve o surgimento de uma nova forma de nacionalismo populista, oposta ao cosmopolitismo globalista. Esse movimento, representado por figuras como Donald Trump e Viktor Orbán, defende uma forma de democracia iliberal, que busca enfraquecer os mecanismos institucionais de freios e contrapesos em favor de líderes fortes, comprometidos com um "culto" pessoal. Crise do Partido Republicano: Henriques menciona os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, que argumentam que o Partido Republicano se transformou de um partido político tradicional em um movimento populista de massas, focado na defesa de uma identidade demográfica branca, cristã e conservadora. Essa transformação teria corroído a natureza constitucional do partido, ameaçando a continuidade da transmissão pacífica de poder nos EUA. Importância dos EUA para as Democracias Globais: O autor enfatiza que as nações democráticas, incluindo o Brasil, não podem prescindir de uma América renovada e comprometida com os valores democráticos. Se os EUA falharem em regenerar suas instituições e superar as fraturas internas, o impacto será sentido globalmente, colocando em risco a coesão das democracias e intensificando a luta contra regimes autocráticos. O Papel dos EUA para o Brasil e o Mundo: Henriques defende que uma América democrática e estável é crucial para o fortalecimento das democracias em todo o mundo. O Brasil, como uma das principais democracias do hemisfério sul, também depende de uma relação estreita com os EUA para enfrentar desafios globais, como a ascensão do populismo autoritário e as tensões econômicas internacionais. Sem essa presença americana renovada, o futuro global será marcado por uma luta prolongada e imprevisível pela preservação da democracia. Reflexão: O artigo propõe uma reflexão importante para o Brasil e outras democracias sobre a necessidade de fortalecer laços com os Estados Unidos e outras nações democráticas, em um momento em que a própria democracia americana está sendo testada por tensões internas e o avanço de correntes populistas e autoritárias. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
---------- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta terça-feira (24), em Nova York, na abertura do debate de chefes de Estado e de governo da 79ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). ------------ Leia a íntegra do discurso de Lula na 79ª Assembleia Geral da ONU O presidente foi o 1º a falar na parte destinada a chefes de Estado e de Governo --------------
-------------- O presidente Lula durante discurso na abertura da 79º Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos Reprodução - 24.set.2024 PODER360 ---------- 24.set.2024 (terça-feira) - 11h19 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta 3ª feira (24.set.2024) na abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). O petista está em Nova York, nos Estados Unidos, desde 4ª feira (18.set). Lula fez o seu 9º discurso como chefe de Estado no evento. O presidente foi o 1º a falar na parte destinada a chefes de Estado e de Governo. Além de abordar o tema da fome, Lula incluiu em sua fala a necessidade de solução para a emergência climática e a defesa da reforma das instituições multilaterais, especialmente o Conselho de Segurança da ONU. ----------- -------------- Leia a íntegra do discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU: “Meus cumprimentos ao presidente da Assembleia Geral, Philemon Yang. “E também quero saudar o secretário-geral António Guterres e cada um dos Chefes de Estado e de Governo e delegadas e delegados presentes. “Dirijo-me em particular à delegação palestina, que integra pela primeira vez esta sessão de abertura, mesmo que ainda na condição de membro observador. “E quero saudar a presença do presidente Mahmoud Abbas. “Senhoras e Senhores, “Adotamos anteontem, aqui neste mesmo plenário, o Pacto para o Futuro. “Sua difícil aprovação demonstra o enfraquecimento de nossa capacidade coletiva de negociação e diálogo. “Seu alcance limitado também é a expressão do paradoxo do nosso tempo: andamos em círculos entre compromissos possíveis que levam a resultados insuficientes. “Nem mesmo com a tragédia da COVID-19, fomos capazes de nos unir em torno de um Tratado sobre Pandemias na Organização Mundial da Saúde. “Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional. “Vivemos momento de crescentes angústias, frustrações, tensões e medo. “Testemunhamos alarmante escalada de disputas geopolíticas e de rivalidades estratégicas. “2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. “Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2,4 trilhões de dólares. “Mais de 90 bilhões de dólares foram mobilizados com arsenais nucleares. “Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima. “O que se vê é o aumento das capacidades bélicas. “O uso da força, sem amparo no Direito Internacional, está se tornando a regra. “Presenciamos dois conflitos simultâneos com potencial de se tornarem confrontos generalizados. “Na Ucrânia, é com pesar que vemos a guerra se estender sem perspectiva de paz. “O Brasil condenou de maneira firme a invasão do território ucraniano. “Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. “O recurso a armamentos cada vez mais destrutivos traz à memória os tempos mais sombrios do confronto estéril da Guerra Fria. “Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. “Essa é a mensagem do entendimento de 6 pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades. “Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano. “O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino. “São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria mulheres e crianças. “O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo. “Conflitos esquecidos no Sudão e no Iêmen impõem sofrimento atroz a quase 30 milhões de pessoas. “Este ano, o número dos que necessitam de ajuda humanitária no mundo chegará a 300 milhões. “Em tempos de crescente polarização, expressões como “desglobalização” se tornaram corriqueiras. “Mas é impossível “desplanetizar” nossa vida em comum. “Estamos condenados à interdependência da mudança climática. “O planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos não cumpridos. “Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. “O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global. “2024 caminha para ser o ano mais quente da história moderna. “Furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de mortes e de destruição. “No sul do Brasil tivemos a maior enchente desde 1941. “A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. “Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. “O meu governo não terceiriza responsabilidades nem abdica da sua soberania. “Já fizemos muito, mas sabemos que é preciso fazer mais. “Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental. “Não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo ilegal e com o crime organizado. “Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% no último ano e vamos erradicá-lo até 2030. “Não é mais admissível pensar em soluções para as florestas tropicais sem ouvir os povos indígenas, comunidades tradicionais e todos aqueles que vivem nelas. “Nossa visão de desenvolvimento sustentável está alicerçada no potencial da bioeconomia. “O Brasil sediará a COP-30, em 2025, convicto de que o multilateralismo é o único caminho para superar a urgência climática. “Nossa Contribuição Nacionalmente Determinada (a NDC) será apresentada ainda este ano, em linha com o objetivo de limitar o aumento da temperatura do planeta a um grau e meio. “O Brasil desponta como celeiro de oportunidades neste mundo revolucionado pela transição energética. “Somos hoje um dos países com a matriz energética mais limpa. “90% da nossa eletricidade provêm de fontes renováveis como a biomassa, a hidrelétrica, a solar e a eólica. “Fizemos a opção pelos biocombustíveis há 50 anos, muito antes que a discussão sobre energias alternativas ganhasse tração. “Estamos na vanguarda em outros nichos importantes como o da produção do hidrogênio verde. “É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. “Senhor presidente, “Na América Latina vive-se desde 2014 uma segunda década perdida. “O crescimento médio da região nesse período foi de apenas 0,9%, metade do verificado na década perdida de 1980. “Essa combinação de baixo crescimento e altos níveis de desigualdade resulta em efeitos nefastos sobre a paisagem política. “Tragada por disputas, muitas vezes alheias à região, nossa vocação de cooperação e entendimento se fragiliza. “É injustificado manter Cuba em uma lista unilateral de Estados que supostamente promovem o terrorismo e impor medidas coercitivas unilaterais, que “penalizam indevidamente as populações mais vulneráveis. “No Haiti, é inadiável conjugar ações para restaurar a ordem pública e promover o desenvolvimento. “No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento. “Brasileiras e brasileiros continuarão a derrotar os que tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários. “A democracia precisa responder às legítimas aspirações dos que não aceitam mais a fome, a desigualdade, o desemprego e a violência. “No mundo globalizado não faz sentido recorrer a falsos patriotas e isolacionistas. “Tampouco há esperança no recurso a experiências ultraliberais que apenas agravam as dificuldades de um continente depauperado. “O futuro de nossa região passa, sobretudo, por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação. “Que não se intimida ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei. “A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras. “Elementos essenciais da soberania incluem o direito de legislar, julgar disputas e fazer cumprir as regras dentro de seu território, incluindo o ambiente digital. “O Estado que estamos construindo é sensível às necessidades dos mais vulneráveis sem abdicar de fundamentos macroeconômicos sadios. “A falsa oposição entre Estado e mercado foi abandonada pelas nações desenvolvidas, que voltaram a praticar políticas industriais ativas e forte regulação da economia doméstica. “Na área de Inteligência Artificial, vivenciamos a consolidação de assimetrias que levam a um verdadeiro oligopólio do saber. “Avança a concentração sem precedentes nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países. “Interessa-nos uma Inteligência Artificial emancipadora, que também tenha a cara do Sul Global e que fortaleça a diversidade cultural. “Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. “E, sobretudo, que seja ferramenta para a paz, não para a guerra. “Necessitamos de uma governança intergovernamental da inteligência artificial, em que todos os Estados tenham assento. “Senhor presidente, “As condições para acesso a recursos financeiros seguem proibitivas para a maioria dos países de renda média e baixa. “O fardo da dívida limita o espaço fiscal para investir em saúde e educação, reduzir as desigualdades e enfrentar a mudança do clima. “Países da África tomam empréstimo a taxas até 8 vezes maiores do que a Alemanha e 4 vezes maior que os Estados Unidos. “É um Plano Marshall às avessas, em que os mais pobres financiam os mais ricos. “Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção do FMI e do Banco Mundial não haverá mudança efetiva. “Enquanto os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ficam para trás, as 150 maiores empresas do mundo obtiveram, juntas, lucro de 1,8 trilhão de dólares nos últimos 2 anos. “A fortuna dos 5 principais bilionários mais que dobrou desde o início desta década, ao passo que 60% da humanidade ficou mais pobre. “Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora. “Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido na cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global. “Os dados divulgados há 2 meses pela FAO sobre o estado da insegurança alimentar no mundo são estarrecedores. “O número de pessoas passando fome ao redor do planeta aumentou em mais de 152 milhões desde 2019. “Isso significa que 9% da população mundial (733 milhões de pessoas) estão subnutridas. “O problema é especialmente grave na África e na Ásia, mas ele também persiste em partes da América Latina. “Mulheres e meninas são a maioria das pessoas em situação de fome no mundo. “Pandemias, conflitos armados, eventos climáticos e subsídios agrícolas dos países ricos ampliam o alcance desse flagelo. “Mas a fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. “Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la. “O que falta é criar condições de acesso aos alimentos. “Este é o compromisso mais urgente do meu governo: acabar com a fome no Brasil, como fizemos em 2014. “Só em 2023, retiramos 24 milhões e 400 mil pessoas da condição de insegurança alimentar severa. “A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que lançaremos no Rio de Janeiro em novembro, nasce dessa vontade política e desse espírito de solidariedade. “Ela será um dos principais resultados da presidência brasileira do G20 e está aberta a todos os países do mundo. “Todos os que queiram se somar a esse esforço coletivo são bem-vindos. “Senhor presidente, senhoras e senhores, “Prestes a completar 80 anos, a Carta das Nações Unidas nunca passou por uma reforma abrangente. “Apenas quatro emendas foram aprovadas, todas elas entre 1965 e 1973. “A versão atual da Carta não trata de alguns dos desafios mais prementes da humanidade. “Na fundação da ONU, éramos 51 países. Hoje somos 193. “Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos e funcionamento. “Inexiste equilíbrio de gênero no exercício das mais altas funções. O cargo de Secretário-Geral jamais foi ocupado por uma mulher. “Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século 21 com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada. “É hora de reagir com vigor a essa situação, restituindo à Organização as prerrogativas que decorrem da sua condição de foro universal. “Não bastam ajustes pontuais. “Precisamos contemplar uma ampla revisão da Carta. “Sua reforma deve compreender os seguintes objetivos: a transformação do Conselho Econômico e Social no principal foro para o tratamento do desenvolvimento sustentável e do combate à mudança climática, com capacidade real de inspirar as instituições financeiras. a revitalização do papel da Assembleia Geral, inclusive em temas de paz e segurança internacionais. o fortalecimento da Comissão de Consolidação da Paz. a reforma do Conselho de Segurança, com foco em sua composição, métodos de trabalho e direito de veto, de modo a torná-lo mais eficaz e representativo das realidades contemporâneas. “A exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial. “Vamos promover essa discussão de forma transparente em consultas no G77, no G20, no Brics e na Celac, no Caricom, entre tantos outros espaços. “Não tenho ilusões sobre a complexidade de uma reforma como essa, que enfrentará interesses cristalizados de manutenção do status quo. “Exigirá enorme esforço de negociação. Mas essa é a nossa responsabilidade. “Não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança global. “A vontade da maioria pode persuadir os que se apegam às expressões cruas dos mecanismos do poder. “Neste plenário ecoam as aspirações da humanidade. “Aqui travamos os grandes debates do mundo. “Neste foro buscamos as respostas para os problemas que afligem o planeta. “Recai sobre a Assembleia Geral, expressão maior do multilateralismo, a missão de pavimentar o caminho para o futuro. Muito obrigado.” autores PODER360 https://www.poder360.com.br/poder-governo/leia-a-integra-do-discurso-de-lula-na-79a-assembleia-geral-da-onu/ _________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------ Joe Biden, no seu último discurso perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas enquanto presidente dos Estados Unidos da América Mike Segar - Reuters ----------- Mundo atualizado 24 Setembro 2024, 19:03 "As coisas podem melhorar". O último discurso de Joe Biden na ONU por Graça Andrade Ramos - RTP Joe Biden, no seu último discurso perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas enquanto presidente dos Estados Unidos da América Ouvir O presidente dos Estados Unidos falou pela última vez perante os líderes mundiais reunidos em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, para a 79ª Assembleia Geral. Joe Biden, que tem dado mostras de grande fragilidade e desconcentração nos últimos meses, centrou o discurso em apelos à unidade e à paz, especificamente no Médio Oriente e na Ucrânia, lembrando aos presentes que os líderes não podem "reagir com desespero". Além de uma despedida, o discurso foi pretexto para um recapitular de décadas de ação política e uma oportunidade para apelar à confiança no futuro. Biden não fugiu contudo aos dois grandes temas que centram a preocupação mundial e da sua Administração. Os riscos de um conflito generalizado no Médio Oriente, que tem estado a centrar as alocuções da maioria dos líderes, foi um dos pontos altos do seu discurso. Viver "um inferno" Biden recordou, com palavras de lamento, de solidariedade e de crítica, o sofrimento gerado pela guerra, em Israel e em Gaza. E apontou um culpado. "Ninguém pediu esta guerra iniciada pelo Hamas", frisou o presidente norte-americano, antes de desejar ao povo palestiniano do enclave um futuro livre da influência do grupo islamita apoiado pelo Irão, e cujo maior objetivo é destruir Israel. "O mundo não pode esquecer o que sucedeu a 7 de outubro" de 2023, avisou ainda Biden, lembrando o cortejo de assassínios e atos de terror inflingidos nesse dia a milhares de civis israelitas. O mundo "tem a responsabilidade de fazer com que tal nunca se repita", afirmou. ------------ ------------- Media player poster frame00:00 01:05 Joe Biden mencionou as centenas de mortos civis causadas pelo ataque do Hamas a Israel há 11 meses e as dezenas de pessoas sequestradas então. "Encontrei-me com as famílias desses reféns. Lamentei com elas", referiu. "Estão a viver um inferno". Mas a resposta israelita para destruir o Hamas em Gaza, tem igualmente semeado sofrimento atroz, sublinhou. "Também os civis inocentes em Gaza estão a viver um inferno. Milhares e milhares mortos, incluindo trabalhadores humanitários. Demasiadas famílias deslocadas, amontoadas em tendas, perante uma situação humanitária terrível", referiu Biden. O presidente norte-americano procurou apesar de tudo palavras de encorajamento, ao falar do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, tão discutido e tão adiado. "Chegou a hora para as partes concluírem os termos, fazer regressar a casa os reféns e garantir a segurança para Israel e Gaza livre do roteiro do Hamas, aliviar o sofrimento em Gaza e por fim a esta guerra", concluiu Biden. Putin "falhou" O discurso de Biden serviu igualmente para lembrar o peso da liderança mundial dos EUA, na defesa do direito internacional e do respeito pela soberania dos povos. Apesar de estar de saída e de não poder comprometer a próxima Administração, venha ela a ser democrata ou republicana, Joe Biden prometeu prosseguir com o apoio à Ucrânia até à vitória na sua guerra contra a invasão russa instigada pelo governo do presidente Vladimir Putin. "Os nossos aliados e parceiros NATO e mais de 50 nações ergueram-se" contra a Rússia, lembrou o presidente dos EUA, recuperando o repúdio pelas operações russas iniciadas há mais de dois anos. "Mais importante, o povo ucraniano ergueu-se", sublinhou. "As boas notícias são que a guerra de Putin falhou, assim como o seu objetivo fulcral", defendeu ainda Biden. "Ele pretendeu destruir a Ucrânia, mas a Ucrânia continua livre. Pretendeu enfraquecer a NATO, mas a NATO está maior, mais forte, mais unida do que nunca, com dois novos membros, a Finlândia e a Suécia". "Mas não podemos baixar os braços", alertou igualmente, num recado tanto aos restantes líderes mundiais como aos Estados Unidos, que poderão eleger em novembro um novo presidente, Donald Trump, que poderá diminuir ou até retirar o apoio norte-americano a Kiev. "Tenho esperança" A esperança foi a tónica do último discurso de um político com uma carreira de mais de cinco décadas. Recordando os diversos conflitos a que assistiu, e especificamente a guerra do Vietname, que dominou o início da sua vida política há meio século e que acabou em reconciliação, Biden deixou uma mensagem de confiança. "As coisas podem melhorar", afirmou. "Nunca nos devemos esquecer disso. Tenho assistido a isso ao longo da minha carreira". Joe Biden explicou que, graças a essa experiência, entre outras que testemunhou na sua longa carreira, confia que o mundo será capaz de ultrapassar mais um período difícil, como o atual, marcado pela multiplicidade e complexidade de crises sucessivas. "Enquanto líderes, não nos podemos dar ao luxo" de "reagir com desespero" perante as dificuldades que o mundo vive, lembrou. "Talvez por tudo o que vivi e tudo o que fizemos juntos aos logo de décadas, tenho esperança", acrescentou. "Sei que existem caminhos de progresso". O presidente norte-americano aproveitou também para defender a democracia e para lembrar os seus pares que “algumas coisas são mais importantes do que manter-se no poder”, dando como exemplo a sua própria renúncia à reeleição. "Apesar de amar o meu trabalho, amo mais o meu país", explicou. "É o nosso povo que mais importa", acrescentou Joe Biden, dirigindo-se aos restantes líderes sobre a importância de refrearem as suas ambições pessoais. “Nunca se esqueçam, estamos aqui para servir o povo, não o inverso”, sublinhou o presidente daquela que é considerada a maior democracia do planeta. "Porque o futuro, o futuro, será ganho por aqueles que libertarem o pleno potencial do seu povo para respirar livremente, para pensar livremente, para inovar, para educar, para viver e amar às claras, sem medo", acrescentou. "Essa é a alma da democracia. Não pertence a nenhum país", rematou. Também a urgência do combate às alterações climáticas, a eliminação do flagelo da fome mundial e os desafios das novas tecnologias, incluindo a Inteligência Artificial, foram tópicos do discurso de Joe Biden, que enalteceu os esforços da sua Administração nestes temas. "Temos a responsabilidade de preparar os nossos cidadãos para o futuro", aconselhou, prevendo para a próxima década mais mudanças tecnológicas "do que nos últimos 50 anos", apontando tanto os benefícios como os riscos da IA. "Nada é certo sobre a forma como irá evoluir ou como será utilizada", advertiu. https://www.rtp.pt/noticias/mundo/as-coisas-podem-melhorar-o-ultimo-discurso-de-joe-biden-na-onu_n1602233 _________________________________________________________________________________________________________

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