domingo, 18 de agosto de 2024

A leveza e o peso

----------- Vénus de Urbino (1538) ---------- "No variado jardim dos sorrisos, era um sorriso de todo diferente: o sorriso da superioridade moral satisfeita." QUINTA PARTE A leveza e o ser MILAN KUNDERA ----------- José Casado analisou o cenário da corrida eleitoral de 2024 e os erros dos candidatos à Prefeitura. --------- ----------- José Casado analisa os erros dos candidatos à eleição municipal | Os Três Poderes vejapontocom 18 de ago. de 2024 Assista à íntegra: • O início do ciclo de debates de VEJA ... _________________________________________________________________________________________________________ -----------
---------- "No variado cardápio dos sabores, era um sabor de todo desagradável: o sabor da superioridade do 'chef' insatisfeito." ------------ _________________________________________________________________________________________________________ Este artigo do "Correio Braziliense" de Luiz Carlos Azedo examina a possibilidade histórica de Silvio Santos, o famoso apresentador de TV e empresário, ter participado da primeira eleição direta para a Presidência da República após a redemocratização do Brasil em 1989. A eleição, que acabou sendo vencida por Fernando Collor de Mello, poderia ter tido um desfecho diferente se Silvio Santos tivesse se candidatado, conforme sugerido por Azedo. Pontos Principais do Artigo: Contexto Histórico: Em 1989, após a redemocratização do Brasil, ocorreram as primeiras eleições diretas para a Presidência desde o regime militar. A eleição foi marcada por uma disputa intensa e imprevisível. Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva foram os candidatos principais no segundo turno. Silvio Santos na Política: Silvio Santos, um famoso apresentador de televisão e empresário, sempre havia recusado convites para ingressar na política. No entanto, a eleição de 1989, com o apoio do então presidente José Sarney, foi uma oportunidade tentadora para ele. Apoios e Resistências: Silvio Santos era visto como um "aventureiro" em comparação com políticos tradicionais como Ulysses Guimarães, Mario Covas, Leonel Brizola, entre outros. Tinha o apoio de figuras influentes como Marcondes Gadelha, Hugo Napoleão e Edison Lobão, todos ligados a Sarney. Implicações da Candidatura: A elite paulista temia que a entrada de Silvio Santos na disputa pudesse favorecer candidatos de esquerda. Silvio Santos foi oficialmente candidato pelo PMB, removendo o pastor Armando Corrêa da disputa. Impedimentos e Desfecho: A candidatura de Silvio Santos foi impugnada seis dias antes das eleições devido a irregularidades no registro da candidatura. Fernando Collor acabou vencendo o primeiro turno com 30% dos votos e derrotou Lula no segundo turno com 53% dos votos. Reflexões: Impacto Potencial: A entrada de Silvio Santos na corrida presidencial poderia ter alterado significativamente o panorama político brasileiro. Seu carisma e popularidade como apresentador de TV poderiam ter atraído muitos eleitores, possivelmente mudando o resultado final da eleição. Influência dos Bastidores: A decisão de Silvio Santos de não se candidatar anteriormente e sua subsequente tentativa em 1989 mostram a complexidade e os interesses por trás das campanhas políticas. A articulação para remover sua candidatura revela as estratégias usadas pelos adversários para garantir vantagens eleitorais. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- _________________________________________________________________________________________________________ Este artigo oferece uma perspectiva intrigante sobre como um evento singular na história política do Brasil poderia ter alterado o curso dos acontecimentos, destacando a influência de personalidades midiáticas e os jogos de poder nos bastidores das eleições. _________________________________________________________________________________________________________ ---------- domingo, 18 de agosto de 2024 Luiz Carlos Azedo - Com Silvio Santos candidato, a história seria outra Correio Braziliense O apresentador recusara todos os convites para ingressar na política, mas a eleição direta para a Presidência, com apoio de Sarney, era muito tentadora A história poderia ter sido outra na primeira eleição direta para presidente da República após a redemocratização, que elegeu Fernando Collor de Mello, numa disputa de segundo turno com outro candidato que surpreendeu os políticos da época, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quem poderia ter mudado esse curso? O apresentador e empresário Silvio Santos, fundador e dono SBT, que faleceu na madrugada deste sábado, em São Paulo, aos 93 anos. Seu nome de batismo era Senor Abravanel. O “dono do Baú da Felicidade” era considerado um aventureiro diante de figuras como Ulysses Guimarães (PMDB), Mario Covas (PSDB0, Leonel Brizola (PDT), Paulo Maluf (PDS) e Aureliano Chaves (PFL). Ma non troppo. Tinha um padrinho poderoso, o ex-presidente José Sarney, que havia virado vidraça na campanha eleitoral, porque ninguém o defendia. Outros candidatos também confrontavam Sarney: Afonso Camargo (PTB), Afif Domingos (PL), Celso Brant (PMN), Fernando Gabeira (PV), Roberto Freire (PCB) e Ronaldo Caiado (PSD). E o histriônico Eneas (PRONA), que se destacou entre os desconhecidos. Sílvio Santos foi uma cartada de última hora, articulada pelo deputado Marcondes Gadelha, que seria seu vice, e mais dois cardeais do PFL muito ligados a Sarney: Hugo Napoleão e Edison Lobao. Os três aliados do presidente da República à época quase conseguiram remover a candidatura de Aureliano Chaves, mas faltou combinar com o empresário Antônio Ermírio de Moraes, que prometeu financiar a campanha do ex-vice-presidente. Aureliano Chaves havia sido vice do presidente João Batista Figueiredo, o general que deixou o Palácio do Planalto pela garagem, sem passar a faixa para Sarney. Político mineiro, fora um dos que insurgira contra a candidatura de Paulo Maluf na antiga Arena, para apoiar Tancredo Neves no colégio eleitoral. A elite paulista temia que a entrada em cena de Sílvio Santos favorecesse os candidatos de esquerda. Com os votos concentrados, Collor estaria no segundo turno. Silvio Santos foi obrigado a buscar um partido pequeno, o PMB, que removeu da disputa o pastor Armando Corrêa. Também faltou combinar com o jornalista Roberto Marinho, dono do maior grupo de comunicação do país, que apoiava aquele que viria a vencer o pleito: Collor de Mello, que se notabilizara no governo de Alagoas como “caçador de marajás”. Filho do senador Arnon de Mello, sócio do dono da rede Globo em Alagoas, Collor candidatou-se por um pequeno partido, o PRN, e fez sua campanha tendo como alvo o governo Sarney. Caiu nas graças de Marinho porque defendia a abertura da economia e as privatizações, além de herdar os antigos laços comerciais com o amigo de seu pai. Marinho era o principal fiador de sua candidatura. A candidatura de Silvio Santos foi oficializada duas semanas antes da eleição, no dia 31 de outubro de 1989. De pronto, se tornou uma alternativa para derrotar os dois candidatos de esquerda, Lula e Brizola, diante do fato de as candidaturas de Ulysses e Covas não terem emplacado. O primeiro foi “cristianizado” pelo governador de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB); o segundo, era líder de um partido ainda em formação, o PSDB. Populismo de centro Collor já liderava a disputa, mas não teve apoio da mesma elite política que mais tarde viria a se articular com os jovens cara-pintadas da campanha do impeachment, que o levou à renúncia. Sílvio Santos nunca exercera um cargo político, porém, era um empresário competente e sabia se movimentar nos bastidores do poder. Só com a popularidade de apresentador de tevê não teria construído seu império de comunicação. Foi durante o regime militar que Sílvio Santos obteve autorização para operar canais de TV no Rio, São Paulo, Porto Alegre e Belém, e formar o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. O programa “Semana do Presidente”, criado em 1981, para divulgar as ações do governo Figueiredo, agora divulgava as ações do presidente Sarney. Até então, Silvio Santos recusara todos os convites para ingressar na política, mas a eleição direta para a Presidência, com apoio de Sarney, era muito tentadora. Marconde Ferraz defendia a tese de que o apresentador seria um “populista de centro”, contra um populista de direita e outro de esquerda. Quem mais se sentiu ameaçado foi Collor de Mello, que agora enfrentava um segundo colocado que lhe tirava votos e não dois concorrentes que disputavam votos entre si, como acontecia com Lula e Brizola. A operação para remover Silvio Santos foi articulada pelo tesoureiro da campanha de Collor, PC Farias, e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, então funcionário da Xerox do Brasil, que descobriu irregularidades no registro da candidatura. O PMB não havia realizado as convenções estaduais exigidas pela legislação eleitoral. Foi um ovo de Colombo: seis dias antes das eleições, por 7 votos a 0, a candidatura de Silvio Santos foi impugnada. Collor obteve no primeiro turno 30% dos votos, quase o dobro de votos do segundo colocado, Lula. No segundo, venceu o petista por 53% a 46%. _________________________________________________________________________________________________________ ---------- ----------- "No variado jardim dos Regimes, era um Regime de todo desagradável: o jardim da superioridade insatisfeita." ---------- Venezuela: Lula tentou preservar condição de mediador, mas fixou regras, analisa professor --------- UOL 16 de ago. de 2024 #UOLNewsManhã #corte O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (16) que discorda de nota do PT que reconheceu eleição de Nicolás Maduro na eleição da Venezuela. "Partido não é governo", disse ele. A declaração foi em entrevista à Rádio Gaúcha. #UOLNewsManhã #corte _________________________________________________________________________________________________________ José Casado analisa os erros dos candidatos à eleição municipal (via @casado_oficial ) #OsTrêsPoderes é transmitido ao vivo toda sexta-feira, às 12h, nas redes sociais de VEJA. Confira a íntegra da última edição do programa: https://youtube.com/watch?v=-w6OAst-grE 8:00 AM · 18 de ago de 2024 _________________________________________________________________________________________________________ -----------
------------ "Mas ninguém pensou em pedir demissão, e pouco depois Tomas, que havia recebido um aperto de mão ainda mais forte do que da última vez, ao ponto de ficar roxa, teve que deixar o hospital." ----------- domingo, 18 de agosto de 2024 Elio Gaspari - O STF decidiu ser vidraça ------------ O artigo de Elio Gaspari, publicado em O Globo em 18 de agosto de 2024, aborda várias questões atuais e passadas envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF) e a política brasileira. Aqui está um resumo e análise dos principais pontos do texto: Resumo dos Principais Pontos: Críticas à Conduta do STF: Contexto Histórico: Em 2013, Gilmar Mendes criticou a postura do juiz Sérgio Moro, considerando-o excessivo em sua atuação na Lava-Jato. Esta crítica é contrastada com a situação atual do STF, que, segundo o artigo, se tornou uma “vidraça” ao se envolver em questões controversas e parecer estar agindo fora dos ritos judiciais. O Caso Silvio Santos: Tentativa de Candidatura: O artigo menciona que Silvio Santos, com o apoio de José Sarney, tentou se candidatar à presidência em 1989, mas sua candidatura foi impugnada pouco antes da eleição. Se tivesse sido candidato, poderia ter alterado o resultado da eleição que elegeu Fernando Collor. Transparência e Defesa do STF: Mensagens e Impropriedades: Reportagens revelaram conversas entre servidores do STF e do TSE, que indicavam uma possível manipulação dos processos eleitorais. Alexandre Moraes foi criticado por suas ações e decisões, mas recebeu apoio robusto dos colegas do STF e outros políticos, que alegaram que a oposição estava tentando enfraquecer o Judiciário. Política Atual: Impunidade e Blindagem: Gaspari critica a forma como tanto o STF quanto a Lava-Jato foram blindados, o que, na visão do autor, enfraqueceu o combate à corrupção e às mentiras políticas. Ele também menciona que possíveis movimentos para remover ministros do STF, como Alexandre Moraes, são improváveis no curto prazo. Candidaturas e Políticas Locais: Candidatura de Tabata Amaral: O artigo observa que a jovem deputada Tabata Amaral está buscando se destacar na corrida para a prefeitura de São Paulo, especialmente após debates que não foram muito convincentes. Desenvolvimentos no CNJ e Justiça: Facilidades Judiciais: O CNJ, sob a liderança de Luiz Felipe Salomão, está implementando medidas para simplificar procedimentos judiciais e melhorar a eficiência, como a facilitação de divórcios e a criação de um aplicativo para doação de órgãos. Questões de Segurança Pública: Milícias em São Paulo: Gaspari critica o prefeito Ricardo Nunes por aparentemente ignorar a presença de milícias em São Paulo, comparando a situação com a falta de reconhecimento de eventos históricos como a ida à lua. Análise: Crítica ao STF e à Lava-Jato: Gaspari destaca um sentimento de desapontamento com o STF, sugerindo que o tribunal perdeu sua imparcialidade e agora se envolve em questões controversas, o que pode minar a confiança pública no Judiciário. Esta crítica é ampliada ao comparar a atual situação com a conduta do STF e da Lava-Jato no passado. Impacto da Política e da Justiça: O artigo explora como as ações e decisões de figuras importantes no passado e no presente moldam a política brasileira e o sistema judicial. A tentativa de Silvio Santos e os processos atuais de Alexandre Moraes são exemplos de como a política e o poder podem influenciar a justiça e a percepção pública. Propostas de Reformas e Iniciativas: A descrição das reformas propostas pelo CNJ é apresentada como um esforço positivo para desobstruir a justiça e facilitar a vida dos cidadãos, contrastando com o clima de ineficácia percebido em outras áreas do governo e da política. Realidade das Milícias: A crítica ao prefeito e à situação das milícias em São Paulo ressalta um problema significativo de segurança pública que, segundo o autor, está sendo ignorado pelas autoridades. Gaspari apresenta um panorama complexo da política e da justiça no Brasil, destacando tanto as falhas percebidas quanto as possíveis melhorias, refletindo uma visão crítica sobre como o poder e a política interagem no cenário nacional. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
---------- O Julgamento de Páris (Cranach) – Wikipédia, a enciclopédia livre ----------- ------------- domingo, 18 de agosto de 2024 Elio Gaspari - O STF decidiu ser vidraça O Globo Faz tempo, o juiz Sergio Moro ainda não era um campeão nacional com a Lava-Jato, que encarnaria as aspirações gerais, encarcerando empreiteiros larápios. Julgava-se um habeas corpus, e o ministro Gilmar Mendes disse o seguinte: “O juiz é órgão de controle no processo criminal. Tem uma função específica. Ele não é sócio do Ministério Público e, muito menos, membro da Polícia Federal.” Isso aconteceu em maio de 2013. Gilmar condenava o comportamento de Moro. Num exercício de passadologia, imagine-se que Gilmar e dezenas de advogados que criticavam a conduta de Moro tivessem prevalecido. Os excessos da Lava-Jato teriam sido contidos. O juiz de Curitiba ficaria no seu quadrado e não viria a ser ministro de Bolsonaro. O Ministério Público teria calçado as sandálias da humildade e tudo correria dentro da normalidade e dos ritos judiciais. Se as coisas tivessem corrido assim, 11 anos depois, o Supremo Tribunal Federal não viria a anular penas impostas a delatores confessos. A Lava-Jato não terminaria como terminou. Passaram-se 11 anos da fala de Gilmar e, com outras características, a onipotência reapareceu. Os repórteres Fábio Serapião e Glenn Greenwald expuseram mensagens trocadas em 2022 por dois servidores (um deles lotado no gabinete de Alexandre Moraes). Fora dos ritos judiciais, combinavam ações do TSE para abastecer processos do STF. Iam de combate à divulgação de notícias falsas, a ameaças contra Moraes. Coisa de partidários de Jair Bolsonaro. As impropriedades não saíram do texto dos repórteres, mas sobretudo de falas do juiz Airton Vieira, assessor de Moraes no Supremo. Por exemplo: “Formalmente, se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada, digamos assim. Como um juiz instrutor do Supremo manda (um pedido) para alguém lotado no TSE e esse alguém, sem mais nem menos, obedece e manda um relatório, entendeu? Ficaria chato.” Ficou chato. Moraes blindou-se e defendeu as condutas. Nos dias seguintes, o ministro foi defendido pelo presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, por Gilmar Mendes e Cármen Lúcia, mais o procurador-geral Paulo Gonet. Como era de se esperar, entraram no bloco ministros de Lula. A defesa de Moraes assemelhou-se a uma carga dos elefantes cartagineses. Todos exaltaram as reais virtudes do ministro, a que se deve a normalidade da eleição de 2022. (Se Alexandre Moraes não tivesse ameaçado prender Silvinei Vasques, sua Polícia Rodoviária continuaria bloqueando eleitores no Nordeste.) Barroso disse que fabricava-se uma “tempestade fictícia”. Gilmar foi além satanizando intenções: “A censura que tem sido dirigida ao ministro Alexandre, na sua grande maioria, parte de setores que buscam enfraquecer a atuação do Judiciário e, em última análise, fragilizar o próprio Estado democrático de Direito”. Sem dúvida, mas, como era o caso dos empreiteiros de 2013, lhes é garantido o respeito aos ritos do Judiciário. Foi exemplar a fala de Cármen Lúcia, atual presidente do TSE. Elogiou Moraes e seu papel na última eleição, e deixou uma lição: “Todas as condutas dos presidentes devem ser formais para garantir a liberdade do eleitor”. (Uma boa parte dos ministros do STF ficou em silêncio, mas essa é outra história.) O Supremo virou vidraça. Mete-se onde não deve e uma maioria apertada de seus ministros enfeitam farofas internacionais levando escoltas para o circuito Elizabeth Arden. Outro bloco defende qualquer conduta dos colegas. Esse é o jogo jogado, mas é um mau jogo. O combate à corrupção perdeu vigor pela onipotência da República de Curitiba e da blindagem que lhes foi dada, inclusive pela imprensa. O combate às mentiras e às armações do bolsonarismo perdeu com a blindagem dada a Alexandre de Moraes. A cadeira de Alexandre Os bolsominions podem tirar o cavalo da pista. Circular abaixo-assinados ou apresentar projetos de impedimento do ministro Alexandre de Moraes servem para fazer espuma, mas irão para as gavetas. Essa realidade poderá mudar com a eleição de 2026. A bancada bolsonarista tem hoje pelo menos 13 senadores. Se essa bancada conseguir crescer, é quase certo que um ministro do Supremo vá para a guilhotina. Mesmo assim, Moraes não está na frente da fila. A chance de Tabata O baixo nível do primeiro debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo levantou a bola para Tabata Amaral. Depois de ter buscado alianças em campo minado a candidatura da jovem deputada patinava. Kamala Harris cresceu Os debates de Kamala Harris com Donald Trump poderão mudar a posição do republicano de favorito a azarão. Isso está acontecendo porque ela começa a encarnar um movimento, algo maior que uma candidatura. No início de 2008, Vernon Jordan (1935-2021), destacado militante dos direitos civis, apoiava a candidatura de Hillary Clinton. Ela era sua amiga de 30 anos, e foi Jordan quem convenceu Hillary Rodham a assinar como Clinton. Passados uns meses, Jordan foi para a campanha do senador Barack Obama e explicou “É duro disputar contra um movimento.” Vidas facilitadas O ministro Luiz Felipe Salomão deixará a Corregedoria Nacional de Justiça com boas notícias. Terça-feira o Conselho Nacional de Justiça poderá decidir a passagem para os três mil cartórios do país de inventários quando houver testamento registrado e consenso entre os herdeiros. Mais: os divórcios consensuais também passarão para os cartórios, ficando na Justiça o arbitramento de alimentos e a regulamentação da convivência familiar. De um lado, facilita-se a vida dos cidadãos. De outro, desobstruem-se os congestionamentos na Justiça. Noutra iniciativa, o CNJ já criou um aplicativo de celular que autoriza a doação de órgãos. Na primeira semana de existência o programa quintuplicou o número de potenciais doadores. Dois programas destinados ao andar de baixo já deram os seguintes resultados: Foram emitidas cerca de 70 mil certidões de idade para quem vive na rua. Isso abriu-lhes o caminho para buscar benefícios sociais. Neste ano, foram emitidos em torno de 200 mil títulos de propriedade, a custo zero. Esse programa começou na comunidade de Heliópolis (SP). Olhando-se para o andar de baixo, é fácil fazer as coisas, basta trabalhar. Nunes e as milícias O prefeito Ricardo Nunes disse que desconhece que haja milícias atuando em São Paulo. Talvez ele desconheça também que Neil Armstrong foi à lua. Ele deveria ouvir o jornalista Octavio Guedes, que não se cansa de lembrar a influência do crime organizado em São Paulo, deixada de lado porque o Rio virou saco de pancadas; todas justas. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
---------- O peso e a leveza de viver A leveza intensifica a sensação de liberdade, mas não cria vínculos; o sonho é do terreno da leveza, mas sua concretização exige o peso. É possível escolher entre o peso e a leveza? POR Margot Cardoso 22/9/2021 7 min de leitura O peso e a leveza de viver Simoningate | IStock Neste artigo: Bola de sabão Leve ou pesado? Aleveza intensifica a sensação de liberdade, mas não cria vínculos; o sonho é do terreno da leveza, mas sua concretização exige o peso. É possível escolher entre o peso e a leveza? Por conta de um seminário na margem sul do Tejo, cruzei a Praça do Comércio durante toda a semana. Saía do barco, atravessava a praça e avançava sob o arco da rua Augusta, oficialmente a porta de entrada da cidade. O mesmo trajeto que, durante séculos, fizeram todos aqueles que chegavam a Lisboa por mar. Apesar da repetição, o trajeto nunca foi monótono. Houve dias em que senti uma leveza extrema: a belíssima arquitetura tingida de amarelo com suas torres e esculturas que abraça o campo de visão; o histórico café Martinho da Arcada, frequentado por Fernando Pessoa; o quiosque de licor de ginja; as esplanadas dos cafés; o clima de festa no rosto dos turistas… Não é só leveza Em outros dias, fui soterrada pelo peso da história da praça. Foi nela que registrou-se, em 1640, o fim do domínio espanhol, assinalado com a morte do secretário de estado — o infeliz foi atirado da janela do palácio para a praça. Esse mesmo cenário foi transformado em escombros pelo terremoto de 1755. O Palácio Real e sua biblioteca de 70 mil volumes, documentos históricos e centenas de obras de arte — entre as quais pinturas de Ticiano e Rubens — foram completamente destruídos. Nessa mesma praça, em 1908, o rei D. Carlos e o seu filho foram assassinados. A mesma praça, dois estados: peso e leveza. As duas faces da vida na visão do filósofo grego Parmênides que via o mundo como pares opostos: o ser e o não ser, o quente e o frio, o peso e a leveza. Apesar da pertinência, Parmênides tinha preferência pela leveza, porque ela tinha mais chances de trazer a liberdade. peso e a leveza Crédito: João Reguengos | Unsplash Sem amarras Desde a descoberta dessa condição, a disputa entre o peso e a leveza tem sido acirrada. No passado, o domínio tecno-econômico consagrou os equipamentos robustos e pesados como os melhores. Uma pegada que ainda conservamos na linguagem. Ainda — e penso que não será por muito tempo — dizemos que alguém “é de peso” (tem prestígio), mas também já afirmamos que alguém “é um peso” para a família (um fardo). Porém, hoje, muito mais do que qualquer outra época, a leveza ganhou importância máxima. Nunca a leveza criou tantas espectativas, desejos e obsessões. Nunca fez comprar e vender tanto. Ela tornou-se um valor, um ideal a ser perseguido, quase uma virtude. A demanda é ser leve, viver de forma solta, sem o peso de amarras. A recomendação é simplificar a vida, viajar com pouca bagagem e eliminar tudo que nos aproxime da terra firme. Todos clamam pela leveza e suas variações. No campo pessoal, há o elogio a magreza, as dietas detox, a desaceleração, a busca do zen, do mindfullness, do minimalismo. A arquitetura e a arte materializam a leveza em linhas sóbrias e materiais finos. Não é mais tecnologia, agora é nanotecnologia que oferece equipamentos cada vez menores e com o mínimo de peso. Sem as amarras de fios, o wireless, são quase etéreos. Por todos os lados, a ordem é desmaterializar. Mais do que dinheiro e felicidade, a escolha do corpo e do espírito é pela mala menos pesada. E exige-se do outro que ele “pegue leve”. Nietzsche identificou a preferência: “o que é bom é leve, tudo o que é divino corre sobre pés delicados”. peso leveza Crédito Fredrik Solli Wandem | Unsplash Bola de sabão E qual é o problema? A ironia. Com todo esse arsenal de leveza, a cada dia, a vida parece mais pesada e difícil de suportar. Dizendo melhor: a busca da leveza é pesada e estamos caminhando em círculos: buscamos a leveza, encontramos o peso e, por isso, aumentamos ainda mais a nossa sede pela leveza. O primeiro que alertou para esse fracasso foi o teórico da hipermodernidade Gilles Lipovetsky. Para ele, a leveza do digital é uma ilusão. Você pode discordar ou pelo menos considerar um exagero. Afinal, não é óbvia a leveza do mundo digital. As demoradas correspondências, entregues pelo carteiro, deram lugar a mensagens instantâneas para qualquer lugar do planeta. E melhor: nada das eternas cartas empoeiradas guardadas no fundo do baú e o peso de ser cobrado no futuro por promessas escritas e o confronto de provas concretas. Agora, pode-se trocar mensagens e fotos que se autodestroem, segundos depois de serem lidos. Tudo como uma magia etérea, um sopro de ar. O peso da leveza E isso não é bom? É. O problema é que essa “leveza” traz junto o peso da ditadura das respostas imediatas (“Visualizou e não responde? Por quê?”). Alguns podem dizer que a tecnologia em si não é má, basta saber usá-la. Ok. Você quer usufruir da leveza de não ser incomodado com mensagens. Não dá. A eficiência da tecnologia trouxe a impossibilidade de se distanciar, de se ausentar. Lembra o clássico “Qualquer dia eu desapareço!”? Impossível. Você pode ir para os confins do mundo, qualquer lugar tem wi-fi. A tecnologia traz a leveza da existência nômade, o “meu escritório é o mundo”, mas também é mensageira da vida em fluxo tenso, do “zero atraso” e da sensação de estar “enterrado no trabalho”. peso leveza Crédito: Peter Crorkan | Unsplash Leve ou pesado? É. Mas a tecnologia trouxe quantidade, leveza e agilidade para a principal busca humana: o outro. Será? Os aplicativos de relacionamentos proporcionam muitos encontros — sem compromisso. Sim, mas eles não eliminam o peso da insegurança e o medo da rejeição. A tecnologia oferece um cardápio de pessoas à escolha, mas não elimina o peso das expectativas e os sonhos de amor, nem as frustrações que daí decorrem. Ela oferece a leveza das delícias da experimentação, mas também o peso de não ser aceito e o pesadelo do abandono. E, por fim, o hedonismo ligeiro dos sites de namoro a exibir catálogos de pessoas, não retirou um milímetro da importância da exclusividade. E por que é assim? Porque não existe nada leve ou pesado. Não há como experimentar a leveza doce do amor por um filho, sem o peso do dever de educa-lo. A existência etérea da borboleta carrega o peso da memória da lagarta. Eles não são contraditórios, são faces da mesma moeda, se alternam e se encontram. São parte da diversidade necessária para o equilíbrio da vida. Milan Kundera no maravilhoso livro A Insustentável Leveza do Ser — que não posso deixar de citar — personifica essa união nos personagens Teresa (peso) e Thomas (leveza). Leveza traz capacidade para sonhar E mesmo que fosse possível escolher. Qual dos dois é o melhor? A leveza intensifica a sensação de liberdade, mas também traz a insignificância e a dispersão. Ela não carrega malas, mas também não cria vínculos. O peso vem quando nos relacionamos, mas só nos relacionamos quando a leveza permite que sejamos tocados. O peso nos puxa para a terra, diminui a nossa agilidade, mas é esse mesmo peso que pavimenta o caminho da leveza de se rever e de se perder naqueles que amamos. A leveza traz a capacidade para o sonho, mas é no peso que encontramos o sentido da vida. MARGOT CARDOSO é jornalista e pós-graduada em filosofia. Mora em Portugal há 18 anos, mas não perdeu seu adorável sotaque paulistano. Nesta coluna, semanalmente, conta histórias de vida e experiências sempre à luz dos grandes pensadores. https://vidasimples.co/colunista/o-peso-e-a-leveza-de-viver/ _________________________________________________________________________________________________________

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